domingo, outubro 18, 2009

LUIZ FELIPE LAMPREIA

As dificuldades da política externa de Obama

O GLOBO - 18/10/09


O presidente Barack Obama teve até aqui mais êxito em reposicionar o prestígio mundial dos Estados Unidos — tão abalado pelos desastres do governo Bush — do que em resolver os grandes desafios de sua agenda internacional.

Está em curso naquele país um grande debate, dentro do governo e na sociedade em geral, sobre os rumos da política externa dos Estados Unidos. A lista dos problemas mais prementes é enorme: as guerras no Afeganistão e no Iraque, a querela nuclear com o Irã, a segurança do Paquistão, a tensão com Israel e o conflito desse país com os árabes, para só citar os mais visíveis.

Em nenhum dos casos há progressos visíveis na direção desejada pelo presidente Obama. Isto já leva desde a fortes críticas no Congresso até a duras sátiras em programas humorísticos de alta audiência.

É certamente injusto fazer as cobranças agressivas que a direita americana já apresenta. Estratégias de política externa, sobretudo se representam uma mudança sensível de orientação, não podem geralmente dar frutos a curto prazo. Desenrolamse gradualmente por serem movimentos complexos, que exigem cuidadosa preparação do terreno, movimentação de várias peças e abertura de diversos diálogos. Uma política externa responsável requer um tempo lento e não deve ter como principal alvo a arquibancada.

Há pelo menos três desafios muito importantes na agenda de Obama.

Tome-se o Afeganistão, um país secularmente difícil de controlar, militar e politicamente, onde os Estados Unidos e seus aliados da Otan enfrentam um quadro em deterioração. É a questão mais discutida no Congresso e na mídia do país. As baixas nas tropas aumentaram, a eleição presidencial foi altamente contestada e não conferiu legitimidade ao presidente Karzai, os talibãs parecem ter o dom da ubiquidade, atacando como fantasmas.

Em razão disso, existe em Washington um questionamento crescente sobre a viabilidade de uma solução militar que seja politicamente aceitável. A própria relevância do Afeganistão é posta em causa, até mesmo como refúgio para a Al Qaeda.

Muitos alegam que esse país nem sequer é uma base ideal para os terroristas por seu isolamento e infraestrutura precária, o que retiraria força de um dos principais argumentos para a presença militar americana. Muito se discute a respeito do impacto desse conflito sobre o Paquistão, um país muito mais importante, até porque é uma potência nuclear. O general McChrystal , comandante militar, teve a atitude insólita de fazer publicamente um pronunciamento enfático, solicitando um aumento expressivo no contingente americano no Afeganistão, assunto sobre o qual o presidente Obama está deliberando, enquanto o vice-presidente Biden advoga abertamente um plano para reduzir o número de tropas. Os Estados Unidos têm cada vez menos estômago para intervenções militares alémmar, as amargas lições do Vietnã e do Iraque estão em todas as mentes ainda que não sejam mencionadas. Mas retirar-se agora rapidamente do Afeganistão seria uma vitória para os fundamentalistas que os Estados Unidos não podem conceder.

Veja-se o caso do Irã, país com o qual as relações americanas são muito difíceis desde o advento do regime dos aiatolás, quando houve a invasão e o sequestro prolongado dos diplomatas dos Estados Unidos. Até bem pouco o caminho para um enfrentamento militar parecia inexorável. A revelação da existência de uma planta secreta de enriquecimento nas imediações de Qom levou a um verdadeiro ultimato de Obama, Brown e Sarkozi. Mas Teerã respondeu com surpreendente rapidez e boa vontade em abrir as instalações à inspeção internacional, talvez refletindo as fraturas que a recente controvérsia das eleições presidenciais provocaram no regime. Se houver de fato o passo complementar anunciado, que seria o envio do urânio já levemente enriquecido do Irã para a França ou para a Rússia, os peritos dizem que isto significaria parar o relógio na corrida para uma bomba atômica iraniana.

Confirmando-se este cenário favorável, Obama terá tido uma vitória adiando uma confrontação e tranquilizando Israel que, compreensivelmente, considera uma arma nuclear iraniana uma ameaça existencial.

Resta contudo por confirmar a disposição cooperativa do Irã, nos próximos meses. No momento esta é uma pausa positiva, mas ainda não uma situação consolidada.

Em terceiro lugar, figura a perpétua questão da paz no Oriente Médio.

Barack Obama decidiu começar pressionando Israel pela completa interrupção das colonizações judaicas na margem ocidental do Jordão. Embora este seja certamente um tema fundamental da agenda da paz, a repercussão em Israel foi no sentido de considerar que o presidente americano não é o melhor amigo do país, enquanto que o primeiro-ministro de direita, Benjamim Netanyhau, viu sua popularidade subir muito. Este quadro não favorece a retomada do processo de paz, pois, sem ter a segurança do apoio decisivo dos Estados Unidos, os israelenses não se disporão a engajar-se. Somado isto à profunda divisão entre o Fatah mais moderado e o Hamas radical, nada indica que o governo Obama pode reativar as negociações.

Em outras frentes, porém, houve um progresso razoável. A decisão de interromper o programa de mísseis anti-balísticos na vizinhança da Rússia já contribuiu para distender as relações bilaterais entre as duas maiores potências nucleares do mundo.

Pela primeira vez em muitos anos, há um diálogo direto com a Coréia do Norte e uma maior ênfase chinesa na contenção dos arroubos belicistas de Pyongyang. Estes são pontos para Obama.

LUIZ FELIPE LAMPREIA é ex-ministro das Relações Exteriores.

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ALBERT FISHLOW

O retorno do desacoplamento

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/10/09


Reservas cambiais elevadas são um dos motivos para o desempenho superior dos países em desenvolvimento

O CONCEITO de desacoplamento voltou. A ideia emergiu originalmente quando a crise econômica e financeira nos países desenvolvidos ganhou força, no começo do 2008. A agonia que eles sofriam parecia ser seu problema, consequência de um apego exagerado aos lucros privados. Os países em desenvolvimento, já responsáveis por 30% da produção industrial mundial, poderiam sobreviver confortavelmente, e o fariam, por meio da expansão do comércio Sul-Sul.
Essa percepção se atenuou após o colapso do Lehman Brothers. A crise se universalizou, afetando a todos. Os preços das commodities caíram rapidamente. O comércio internacional despencou. O investimento estrangeiro começou a sumir.
Felizmente houve uma maciça resposta governamental nas principais economias. Isso evitou a desaceleração continuada e cumulativa, cuja profundidade teria reproduzido a tragédia dos anos 1930. Mas a recessão foi severa, e a recuperação nos países desenvolvidos não tem a velocidade que seria desejável. Altos índices de desemprego, grandes deficit fiscais e consumo tépido não sinalizam um rápido retorno aos níveis de crescimento do passado.
Os países em desenvolvimento, em linhas gerais, passaram pela crise em condições muito melhores. Embora apenas China e Índia devam exibir expansão significativa em 2009, as recentes projeções do FMI para 2010 indicam taxa futura de crescimento de 5,1% nos países em desenvolvimento, ante 1,3% para os desenvolvidos. Em médio prazo, em 2014, essa distância só se ampliará. O comércio internacional também está se recuperando, mas se expande mais rápido nos países em desenvolvimento. Assim, será que a ideia original sobre o desacoplamento continua a ser um percurso válido que deveria ser seguido?
Isso seria um erro. Um dos motivos para o desempenho superior que os países em desenvolvimento exibiram recentemente são as reservas cambiais muito mais altas que eles apresentam, como resultado de superavit comerciais e de investimento estrangeiro direto. Isso certamente se aplica aos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China). Por isso, eles ficaram muito menos sujeitos à variabilidade das taxas de câmbio, e puderam estimular seus mercados internos. As reservas de que dispunham resultavam primordialmente do comércio entre Norte e Sul, e não de intercâmbios Sul-Sul.
A mudança tecnológica, acompanhada pelo investimento, continua a ser a base para avanços permanentes de padrão de vida. E os países podem ficar excluídos de avanços científicos básicos caso redefinam de forma estreita a sua comunidade mundial. China e Índia compreenderam esse princípio. Seus índices elevados de avanço anual estão associados a uma participação mais larga no comércio mundial.
Um processo continuado, e delicado, de reestruturação da economia mundial terá de acontecer nos próximos anos. Os EUA já não podem absorver de forma ilimitada, como vinham fazendo, as exportações das economias que obtêm superavit em conta-corrente, a exemplo de China, Alemanha e Japão.
Agora, com o enfraquecimento do dólar, a China se beneficiou igualmente nos mercados mundiais. Os EUA (e o Brasil) terão de poupar mais domesticamente, enquanto a China precisará consumir mais. Os juros e a inflação precisam continuar baixos, enquanto as dívidas públicas muito ampliadas dos países desenvolvidos são absorvidas.
É fácil compreender por que o Nobel de Economia agora está sendo concedido a cientistas políticos.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

ALBERT FISHLOW, 73, é professor emérito da Universidade Columbia e da Universidade Berkeley. Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna.

MERCADO ABERTO

"Governo deve mexer primeiro nos compulsórios"

CRISTINA FRIAS

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/10/09


"Acho possível que o governo mexa nos compulsórios antes que nos juros." A afirmação é de Antonio Quintella, presidente do Credit Suisse no Brasil. O mais provável é que ocorra uma lenta recuperação da atividade econômica, segundo o presidente do banco, mas que ela se acelere ao longo dos próximos anos.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida na sede do banco, em São Paulo, por Quintella, que disse nunca ter estado tão animado com as perspectivas para o país quanto atualmente.

MERCADO DOMÉSTICO
Os Fundos Soberanos e as grandes empresas querem estar no Brasil. É extraordinário ver esse movimento. O mercado doméstico é um mercado relevante e diversificado.

MEIRELLES
Não obstante as críticas sobre os juros altos, o trabalho do Banco Central foi bem feito. A saída do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em algum momento, não muda o posicionamento do BC. A motivação para mudar a orientação da política econômica não parece provável. Por que a gente optaria por um ambiente de inflação muito mais alto?

REGULAÇÃO
Dificilmente, o sistema financeiro vai voltar a operar com a alavancagem com que operou nos últimos anos. Nem os reguladores, nem a administração, nem os acionistas das grandes instituições financeiras vão permitir de novo um ambiente em que os bancos concentrem muito risco e que se volte a operar com a alavancagem desses últimos anos

PETRÓLEO 1
Escritórios de advocacia já se movimentam para estudar os aspectos jurídicos do pré-sal e responder às demandas de empresas interessadas em investir na exploração. O Demarest e Almeida criou grupo especial para o tema. O Lefosse, que opera em parceria com a banca inglesa Linklaters, transferiu ao Brasil um de seus especialistas em projetos de energia.

PETRÓLEO 2
Por enquanto, as dúvidas envolvem principalmente a unitização (compartilhamento das reservas de petróleo entre duas áreas de concessão distintas), diz José Virgílio Enei, do Machado, Meyer, Sendacz e Opice. "Questões contratuais e tributárias são foco. Mas enquanto nada se resolve, investimentos estão represados", diz Lauro Celidonio, do Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr e Quiroga.

ENDEREÇO 1
A seguradora Porto Seguro e a empresa mineira de TI Winparts estão em disputa judicial por conta de uma sequência de erros na contratação do seguro da fábrica em Varginha (MG), de acordo com a Winparts. Em vez de assegurar a unidade nova, a apólice garantia a proteção contra um prédio antigo da empresa, falha que passou despercebida durante a assinatura do contrato.

ENDEREÇO 2
A instalação da Winparts foi danificada por um incêndio no ano passado e o erro foi percebido quando a empresa acionou o sinistro, de R$ 3,5 milhões. Em julho, a companhia entrou na Justiça para cobrar uma indenização da seguradora. A Porto Seguro confirma o caso, mas diz que apenas se pronunciará sobre o assunto quando for tomada uma decisão judicialREGULAÇÃO
Dificilmente, o sistema financeiro vai voltar a operar com a alavancagem com que operou nos últimos anos. Nem os reguladores, nem a administração, nem os acionistas das grandes instituições financeiras vão permitir de novo um ambiente em que os bancos concentrem muito risco e que se volte a operar com a alavancagem desses últimos anos.

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GAUDÊNCIO TORQUATO

Uma arena de raposas

O ESTADO DE SÃO PAULO - 18/10/09


No pátio da Igreja do Bonfim, vestida de branco, como manda o Candomblé, numa sexta-feira consagrada a Oxalá, a ministra Dilma Rousseff foi cercada por mães, filhas e filhos de santo, antes de entrar no templo para assistir à missa. Impregnando-se do sincretismo religioso da Bahia, agradeceu ao Senhor do Bonfim a cura do câncer linfático, recebeu abraços e bilhetes com pedidos pessoais, tomou um banho de folhas, beijou a imagem do santo e ganhou vivas do padre. Em Aparecida, o governador José Serra, do púlpito da catedral, pregou sobre o futuro de amor, paz, justiça e solidariedade, dizendo que o Brasil precisa de governantes íntegros, "que sirvam ao povo, em vez de se servirem do povo". Em Belém, às vésperas do Círio de Nazaré, evento que reuniu cerca de 2 milhões de pessoas, Ciro Gomes desancou a era FHC, detendo-se na figura de Serra, que considera "ameaça para o Brasil". Exageros à parte, as performances dos três pré-candidatos à Presidência, nos últimos dias, constituem um ensaio da semântica e da estética a que seremos submetidos em 2010.

Não se quer dizer que a peregrinação pelos templos será destaque na agenda que os contendores começam a cumprir, mesmo sabendo que o único nome já definido como candidato é o da evangélica Marina Silva, cujos hábitos parecem cultivar reserva quanto ao uso da palavra diante de multidões acesas pela chama da fé. Por ocasião das preces dos seus prováveis rivais, a senadora recebia um prêmio internacional pela militância ambientalista, tema que deve ser o norte de sua campanha. É correto, porém, supor que - sejam quais forem os candidatos - igrejas, templos e fiéis deverão figurar na estética eleitoral, seja para arrefecer a contundência dos atores, seja para agarrar o voto fechado de eleitores que escolhem por afinidade religiosa. Se a movimentação pré-eleitoral já começou, haja vista o empenho de possíveis candidatos, começam a aflorar dúvidas, dentre as quais algumas despertam atenção: qual será o diferencial entre os candidatos? Biografias serão elemento de diferenciação? Estilos pessoais estarão em jogo? É pouco para ganhar campanha. O eleitor quer saber o que pensam.

Se o ponto de partida para avaliar cada um for sua origem política, pode-se dizer que Serra e Dilma, por terem enveredado pela esquerda e sido perseguidos pela ditadura, conservam certo parentesco na linhagem ideológica. O governador foi do PMDB, antes de participar da criação do PSDB, e a ministra atravessou o PDT, experimentando o socialismo moreno de Leonel Brizola, antes de chegar ao PT, partido que, na composição original, tinha exércitos de militantes de tradição bolchevique, sindicalistas, intelectuais e comunidades eclesiais de base. Já o PSDB reparte, hoje, com outras siglas o escopo social-democrata que inspirou sua criação. O PSB, pela formação esdrúxula - Luiza Erundina, de um lado, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, de outro, e Ciro Gomes no meio -, terá dificuldades de explicar a via socialista. Na verdade, a cor mais nítida é mesmo o verde do PV de Marina, cujo escopo é a sustentabilidade ambiental, politicamente correto e sem o verniz radical que matizou as siglas antes da queda do último bastião da guerra fria, o Muro de Berlim, em 8 de novembro de 1989.

O arco ideológico poderá ser manipulado pelo PT e adjacências para distinguir a concepção de Estado da era Lula da da era FHC. Sua campanha deverá bater na tecla de um "projeto desenvolvimentista e social" contra o "ideário neoliberal e o apetite privatista" do tucanato. Sinal disso é o esforço do petismo para desprivatizar a mineradora Vale, a segunda maior empresa brasileira, usando para tanto o controle sobre os fundos de pensão. Dilma segurará a língua para evitar que seu pensamento amedronte classes médias e parcelas de setores produtivos. Se o confronto trilhar essa linha, a campanha tucana poderá acusar "o modo petista de governar", enxergando nele o resgate do patrimonialismo, além da tentativa do petismo de entronizar uma nova classe na máquina estatal. Referência disso seria a República sindicalista, comandada pelas centrais sindicais. A bagunça do MST também pode aparecer em pano de fundo. Como se aduz, o modelo de gestão daria munição à oposição para esgarçar o cenário confortável que será desenhado pela situação, com destaque para os seguintes elementos: política econômica e fiscal austera, o "maior programa de distribuição de renda e riquezas de todos os tempos", liquidação da dívida externa, inflação baixa e juros de um dígito, impulso aos movimentos sociais, alta credibilidade externa, programa pulverizado de obras, avaliação positiva do mandatário, etc.

No meio de campo, a bola será dividida entre questões pontuais, como visões sobre matéria econômica (políticas monetária e fiscal); reformas nos campos político, previdenciário e tributário; defesa da rede social e/ou forma de torná-la mais forte. Se for candidato, Ciro Gomes tentará quebrar a polarização entre PT e PSDB. Terá pouco tempo para isso. A forma de fazê-lo é atirar para todos os lados, arte em que é mestre. A munição provém de um ideário genérico, no qual entram coisas do tipo corrida para tirar o País do atraso tecnológico; expandir a poupança interna; investir pesadamente em educação; "integrar Estado, iniciativa privada e academia, em arranjos políticos sem preconceitos e caricaturas do passado". E Aécio Neves? Se entrar no páreo no lugar de Serra, Ciro garante que desiste. Nesse painel, Marina Silva, pela defesa do meio ambiente, deverá ser a mais diferente, seja pela rusticidade da feição amazônica, seja pela expressão suave e com sabor de floresta. Há quem aposte em alavancas de apoio, como o filme Lula, o Filho do Brasil, de Luiz Carlos Barreto, a ser visto por milhões, que, ao produzir cascatas de emoção, funcionaria como ímã eleitoral. Balela. Não dará liga. Luiz Inácio já tentou seguidas vezes passar seu carisma para outros. Que ficaram a ver navios.

No mais, é esperar por uma arena sem leões furiosos, mas com raposas matreiras.

*Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político

HUGO DE ZELA MARTÍNEZ

Canhões ou manteiga

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/10/09


Enfrentamos uma escalada de gastos em armamentos que facilmente pode nos conduzir a uma corrida armamentista na região

O DILEMA entre gastar em armamentos ou em atividades para o desenvolvimento, proposto como a opção entre comprar canhões ou manteiga pelo Nobel de Economia Paul Samuelson, está sendo discutido na nossa América.
E o está porque, inegavelmente, enfrentamos uma escalada de gastos em armamentos que facilmente pode nos conduzir a uma corrida armamentista -uma corrida cuja existência todos negam, mas, se continuarem os incrementos dos fundos destinados à chamada "defesa", ela começará inevitavelmente.
Essa preocupação, que se sustenta em cifras contundentes, motivou a iniciativa do presidente do Peru, Alan Garcia, no sentido de apresentar, há pouco mais de um mês, aos países integrantes do Mercosul, na reunião dos chanceleres e ministros da Defesa em Quito, uma proposta composta de três elementos fundamentais.
O primeiro é um acordo para formar uma força de defesa contra eventuais ameaças extrarregionais; o segundo visa à possibilidade de existir uma força de intermediação dos países do Mercosul para atuar em conflitos que se produzam na área; o terceiro consiste em um pacto de não agressão entre os países-membros.
Antes de entrar em maiores detalhes da proposta, vale a pena nos determos nos motivos que a originaram. Revisemos as cifras que nosso presidente menciona.
Nos últimos cinco anos, desde que a Unasul foi criada, seus membros destinaram US$ 156 bilhões a gastos militares. Nesse mesmo período, adquiram-se cerca de US$ 23 bilhões em novos armamentos, aviões e embarcações navais. As nossas Forças Armadas agrupam um número aproximado de 1,5 milhão de pessoas, entre oficiais, tropas, serviços de inteligência e atividades conexas.
Estamos numa progressão acelerada de gastos militares: em 2005, foram US$ 26,9 bilhões; em 2006, US$ 29 bilhões; em 2007, US$ 32 bilhões; em 2008, US$ 34 bilhões; neste ano, podemos chegar a US$ 38 bilhões.
Como se vê, é preocupante esse nível de gastos, embora se queira justificá-lo como indispensável, argumentando que há a necessidade de se proteger contra perigos internos e externos, que se devem defender os nossos recursos de ameaças e que, por último, o armamento deve ser reposto para não cair na obsolescência.
Isso é verdade: existe a necessidade de manter uma capacidade de defesa adequada e razoável, e o Peru assim o entende. Não queremos cair numa falsa dicotomia que alguns propõem no sentido de que se deve optar entre uma coisa e outra, entendendo que a proposta apresentada pelo Peru significa descuidar da defesa dos países.
Não existe, do nosso ponto de vista, incompatibilidade entre manter um nível adequado de defesa e colocar em prática iniciativas como a formulada, para fazer o gasto mais transparente, para homologar a informação, para estabelecer no futuro um mecanismo de limitação de armas, para estabelecer mecanismos de fomento à confiança entre os nossos países.
Não estamos propondo uma sucessão de desarmes unilaterais. Pelo contrário, estamos dizendo os nossos vizinhos mais próximos, àqueles com os quais compartilhamos o futuro, que seria sensato discutir coletivamente esses temas que são vitais para o nosso desenvolvimento. Precisamente, colocamos uma discussão que leva em consideração todos os aspectos que preocupam a todos.
Temos sugerido que essa discussão tenha lugar, pelo menos num primeiro momento, no Conselho da Defesa da Unasul, cuja criação foi fortemente apoiada pelo Brasil, que é o foro em que estamos todos representados precisamente pelos titulares da Defesa, encarregados do tratamento desses temas em cada um de nossos países e, portanto, os expertos que mais os conhecem.
Em suma, se pensarmos que existe a possibilidade de agressões extrarregionais, sugerimos uma força de defesa comum, que poupará custos e nos dará maior capacidade de ação.
Se pensarmos em um conflito intrarregional, que chegue ao lamentável extremo de enfrentamento armado, propomos que sejam forças regionais de intermediação da Unasul que ajudem os países a se reconciliarem.
E, se pensarmos que a causa fundamental para o crescimento do gasto militar é a ameaça de agressão por parte de algum país da região, comprometamo-nos a que essa agressão não aconteça em nenhum cenário por meio de um pacto de não agressão.
Atuemos conjuntamente para eliminar as causas do gasto excessivo em armamento.
Os nossos povos agradecer-nos-ão.

HUGO DE ZELA MARTÍNEZ é o embaixador do Peru no Brasil. Foi embaixador do Peru na Argentina.

CALÇAS NA MÃO


BRASÍLIA - DF

A estratégia de Lula

Luiz Carlos Azedo

CORREIO BRAZILIENSE - 18/10/09


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva corre contra o tempo. Sabe que esse é o recurso mais escasso de seu governo. Acumula forças em todas as áreas, mas não pode parar a rotação da Terra, não tem como espichar o seu mandato, nem concorrer à reeleição. Precisa traduzir seu enorme prestígio popular em transferência de votos para a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), cuja candidatura foi ameaçada pelo ex-ministro Ciro Gomes (PSB), que pretende concorrer ao Palácio do Planalto pela terceira vez, e pela dissidência da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (PV).

Bem-sucedido no combate à recessão, por causa da crise mundial, no plano político, o presidente Lula perdeu um ano dos quatro que tinha para viabilizar a continuidade do seu projeto de poder. Vive o drama de ter acertado a mão em quase tudo, até na escolha do Rio para sede das Olimpíadas de 2016, mas ainda não tem a confirmação de que acertou no nome do sucessor. Desprezou a candidatura de Ciro e sequer percebeu a de Marina. Optou por Dilma, em quem aposta os oito anos de mandato, que larga em desvantagem eleitoral. Enquanto o governador de São Paulo, José Serra, e Ciro Gomes liderarem as pesquisas, a estratégia de Lula só pode ser carregar Dilma Rousseff nos ombros, até que o povo o faça. É simples assim.

Vale

As críticas do presidente Lula à direção da Vale atiçaram parlamentares contra a empresa, principalmente nas bancadas de Minas e do Pará. A mineradora passou a sofrer ataques da tribuna da Câmara e as críticas da oposição à interferência do governo na empresa politizaram ainda mais a questão. Segundo o deputado Arnaldo Jardim (foto), do PPS-SP, as divergências entre o governo e a mineradora — cujo presidente, Roger Agnelli, está na berlinda — estão sendo infladas por motivações político-eleitorais, que “fogem à racionalidade dos interesses nacionais, do mundo das commodities e dos negócios com minérios e siderurgia”.


Pajelança

O PMDB fará uma grande reunião de seus caciques na próxima quarta-feira para mandar a seguinte mensagem ao público interno da legenda, uma aguerrida militância que vive às turras com o PT: está com a candidatura de Dilma e não abre. É que no sábado serão realizadas as convenções que elegerão os novos diretórios municipais e a cúpula da legenda quer esvaziar o discurso de prefeitos e vereadores do PMDB contrários à aliança. Alguns caciques questionam a pressa.


Pré-Sal

O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (foto), relator da comissão especial que discute o projeto de criação do Fundo Social para partilha dos royalties do petróleo da camada pré-sal, busca uma solução salomônica para a divisão dos recursos destinados a Educação, Ciência e Tecnologia, Cultura e combate à pobreza. A ideia é regionalizar o fundo, estabelecendo percentuais de distribuição de acordo com os indicadores de arrecadação e pobreza de cada região. Assim, o Norte e o Nordeste serão mais contemplados do que o Sul Maravilha. Detalhe: os recursos a serem distribuídos serão os rendimentos das aplicações do fundo, e não a arrecadação propriamente dita.


Goiabeiras

A enrolada obra do Aeroporto de Goiabeiras, em Vitória, ganhou novo capítulo. O
Ministério Público Federal no Espírito Santo instaurou inquérito civil para investigar deficiências no projeto que comprometeriam as condições de segurança da nova pista do terminal, a ser construída. Em 2006, o Tribunal de Contas da União (TCU) havia encontrado sobrepreço na ampliação do aeroporto no valor de R$ 37 milhões


Inquilino/ O escritório do Ministério das Relações Exteriores em São Paulo terá novo endereço. Está de mudança para um edifício às margens da Marginal Pinheiros, com 10 vagas na garagem. Pelos próximos dois anos, o aluguel será de R$ 24 mil.

Menção/ A rede social da Câmara dos Deputados, conhecida como e-democracia, ganhou destaque no boletim Transparency and Government, do governo dos Estados Unidos. A publicação trata de iniciativas para estimular a participação de cidadãos no governo e no processo legislativo. O e-democracia tem duas comunidades destinadas a debater mudanças climáticas e o Estatuto da Juventude.

Trava/ A base aliada na Câmara dos Deputados terá de manter a pauta livre de medidas provisórias para a votação do marco regulatório do pré-sal, depois de 10 de novembro. Análise jurídica feita pela Mesa Diretora da Casa concluiu que as MPs trancam votações tanto nas sessões ordinárias quanto nas extraordinárias. Ou seja, a janela aberta pelo presidente Michel Temer (PMDB-SP) se manterá fechada.

Pantanal/ O PMDB de Mato Grosso do Sul ameaça apoiar a candidatura presidencial do PSDB caso o ex-governador Zeca do PT insista em se lançar contra a reeleição do governador André Puccineli (PMDB). O recado foi dado ao presidente licenciado do PMDB, deputado Michel Temer (SP), em jantar que reuniu 38 deputados peemedebistas, na quarta-feira, a maioria de estados onde há entraves para uma aliança com o PT.

Xerife/ Chefe da Interpol no Brasil, o delegado federal Jorge Barbosa Pontes foi eleito membro do comitê executivo da instituição encarregada do combate aos crimes transnacionais. O policial ganhou prestígio internacional com as operações Carrossel, que prendeu pedófilos em diversos países, Oxóssi e Nautilus, que investigaram crimes ambientais.

Verde

Em campanha pelo desmatamento zero da Amazônia, em oposição à meta do governo de reduzir em 80% a devastação, o PV enviará a senadora Marina Silva (AC) encabeçando a delegação verde na Conferência do Clima de Copenhague, em 7 de dezembro.

VINÍCIUS TORRES FREIRE

O grande leilão de vento

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/10/09


Energia eólica deixa de ser exotismo e entra no mercado, com o 1º leilão de eletricidade de vento, no final do ano

VENTO CERTIFICADO e aerogeradores são expressões ainda tão exóticas como a ideia de carros elétricos comerciais. Os carros recarregados em tomadas, porém, estão menos próximos do que a energia eólica no Brasil (hoje apenas 0,4% da matriz energética do país).
Em novembro ou dezembro próximos deve ocorrer o primeiro leilão competitivo de eletricidade produzida pela ação dos ventos sobre pás de aerogeradores, as pás de moinho modernas.
Para o leilão foram apresentados 441 projetos de cerca de uma centena de empreendedores, parques capazes de gerar mais de 13 mil MW, o equivalente a uma Itaipu -a maior hidrelétrica brasileira. A eletricidade dos ventos entra nos fios a partir de julho de 2012, mas não serão nem de longe 13 mil MW. Além do mais, até agora, o MWh da energia eólica custa R$ 250, o dobro da eletricidade de hidrelétricas vendida em leilões como o do ano passado (é a tarifa do Proinfa, o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia). Gente do setor acredita que o governo pode contratar cerca de mil MW (o que triplicaria o parque eólico no país). A China está fazendo 15 vezes mais. O governo não adianta quanto deve contratar.
Maurício Tolmasquin, presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética, acredita que os MWh podem ficar abaixo de R$ 200, dada a concorrência (nas térmicas, o preço tem ficado em torno de R$ 150). O custo extra é pago por todos os consumidores. De resto, há incentivos fiscais, entre outros. Por que então ventos?
Tolmasquin avalia que a energia eólica não é nem a solução para o abastecimento brasileiro, visão de muitos "verdes", nem mais o exotismo ineficiente criticado por puristas de mercado e conservadores. Diz que ainda é uma fonte de energia cara, de produção por demais inconstante, além de demandar investimentos pesados em transmissão, dados os locais distantes onde pode ser produzida. As regiões de maior potencial no Brasil são o litoral que vai do Amapá ao Rio Grande do Norte, a costa gaúcha, oeste de Paraná e Santa Catarina, norte de Minas Gerais e interior da Bahia. Cerca de 72% da potência dos empreendimentos cadastrados para o leilão está no Nordeste (36% do total no Rio Grande do Norte e 21% no Ceará).
Mas o custo da energia eólica fica relativamente menor quando se leva em conta a complementaridade com as hidrelétricas. No Nordeste, venta mais nas estações secas, quando se gasta a eletricidade armazenada na forma de água dos reservatórios, e o custo da eletricidade sobe no mercado livre. Além de o vento economizar água, pode poupar o país de ligar as térmicas poluidoras.
O custo da energia eólica depende da despesa em equipamentos. Tende a cair com o aumento da escala de produção. O incentivo à energia eólica é também uma espécie de programa de política industrial para um setor que vai crescer muito. Apesar de importar componentes, a indústria brasileira monta todos os equipamentos (e até exporta pás de aerogeradores). Tolmasquin observa também que o custo pode cair devido a melhorias tecnológicas. Aerogeradores mais altos podem ser mais eficientes -e eles estão crescendo.

COMIDA RICA EM CARBOIDRATOS


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PANORAMA POLÍTICO

Missão Quércia

ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 18/10/09

O PSDB decidiu sacrificar a candidatura à reeleição da governadora Yeda Crusius (RS) para tentar melhorar seu desempenho nas eleições presidenciais. Os tucanos querem apoiar o candidato do PMDB. A proposta do PSDB foi feita sexta-feira, em São Paulo, ao ex-governador gaúcho Germano Rigotto. O emissário de José Serra foi o presidente do PMDB paulista, Orestes Quércia.

O marqueteiro do Serra pisou na bola

É grande o mal-estar na oposição com a entrevista, ao jornal “Valor”, do marqueteiro tucano Luiz González. O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e o ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM) estão tiriricas com declarações que consideram arrogantes, grosseiras e equivocadas sobre a derrota de Geraldo Alckmin em 2006 e a natureza do embate eleitoral de 2010. Ele se deu tão mal que o DEM tirou de suas mãos o programa em rede nacional de TV que vai ao ar em 29 de outubro. A tarefa foi entregue ao baiano Adriano Gheres. Em 2006, ele trabalhou na equipe de João Santana na campanha de Lula.

“O PSDB tem que acordar para a vida. Não dá mais para adiar a escolha do candidato a presidente. Deixar para março é para perder a eleição”
— Antonio Carlos Magalhães Neto, deputado federal (DEM-BA)

QUEDA DE BRAÇO. Os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Edison Lobão (Minas e Energia) querem reduzir de 25% para 20% a mistura de álcool na gasolina. O objetivo é aumentar a oferta de álcool e forçar a redução do preço. O ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) é contra.
Ele alega que a alta no preço se deve às chuvas em São Paulo, mas Dilma e Lobão desconfiam de má-fé das distribuidoras.

Superpoderes

O projeto que o governo enviará ao Congresso reestruturando o Ministério da Defesa, além de dar autonomia para o ministro escolher os comandantes das Forças, dará ao titular da pasta a prerrogativa de promover oficiais a generais.

Caravana

Depois de levar o presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff, o ministro Geddel Vieira Lima (Integração) agora vai convidar os líderes partidários da Câmara para vistoriar as obras de transposição do Rio São Francisco.

Útil ao agradável

O setor têxtil procurou o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) para capacitar profissionalmente beneficiários do Bolsa Família. O governo federal vai subsidiar a compra de uniformes escolares para alunos da rede pública, o que aumentará a demanda por matériaprima e abrirá postos de trabalho. Em ano eleitoral, os uniformes terão logotipo do governo federal.

Congresso e aborto

Pesquisa que está sendo lançada pelo Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), com 321 parlamentares brasileiros, mostra que 57% defendem que a legislação sobre aborto permaneça como está, permitindo a prática somente em caso de estupro ou de risco para a mãe; 18% são a favor da descriminalização total; 15% são contra a interrupção da gravidez em qualquer caso; 8% não se posicionaram, e 1% acha que a legislação pode ser ampliada em alguns casos.

O PMDB do Rio encomendou ao instituto UP pesquisa estadual sobre as eleições presidenciais. Deu José Serra, 27%; Ciro Gomes, 22%; Dilma Rousseff, 15%; e, Marina Silva, 11%.

DIVISÃO NO PMDB. O governador Luiz Henrique (SC) quer apoiar Raimundo Colombo (DEM) para sua sucessão. O ex-vice-governador Eduardo Moreira quer candidatura própria.

RELATOR da lei que acabou com o monopólio estatal de resseguro, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ) diz que a União não pode passar o controle acionário do IRB para o Banco do Brasil sem licitação.

ILIMAR FRANCO com Fernanda Krakovics, sucursais e correspondentes

JAIME PINSKY

Yoani Sánchez no Brasil

CORREIO BRAZILIENSE - 18/10/09


A informática criou a ilusão de que basta montar e manter um blog para sermos lidos. A simples proliferação desses diários eletrônicos é prova de suas possibilidades, mas, por outro lado, a comprovação de seus limites. Frequentemente recebemos e-mails ou telefonemas com convites para visitarmos blogs que não passam de conjuntos desarticulados de frases de senso comum, senão piegas, comentários superficiais, recortes de jornais e fotos que não interessam a ninguém. Todavia, temos blogs de muito boa qualidade, alguns dos quais se tornaram referência. É o caso de Generación Y, o blog de Yoani Sánchez.

Yoani coloca seus posts em um dos blogs mais visitados do mundo, com vários milhões de acessos mensais. Ela mora em Cuba, com seu marido Reinaldo Escobar e seu filho adolescente Teo. Nos seus posts ela conta como é a vida cotidiana na ilha, talvez com certo amargor, mas não sem boa dose de humor. Sua escrita é de muita qualidade, daí a ideia de publicarmos, na forma de livro, uma coleção de seus textos para termos uma noção do que está acontecendo com as pessoas reais na Cuba de hoje. Pelo menos sob a óptica de Yoani. Pedimos a ela que selecionasse número representativo de posts e escrevesse uma apresentação especialmente para o leitor brasileiro, coisa que ela fez com presteza. Traduzimos cuidadosamente os textos, fizemos uma apresentação, agregamos um posfácio e convidamos a autora para vir ao lançamento do livro que denominamos De Cuba, com carinho. De Cuba, simples tradução do site que abriga o seu blog. Com carinho, pois é esse o sentimento que temos para com os habitantes daquela linda ilha.

Ao saber que Yoani não foi autorizada a viajar para o exterior pelas autoridades cubanas, nem mesmo para receber os prêmios que ganhou, ou para fazer palestras em universidades, entramos em contato com o senador Eduardo Suplicy para que ele, como membro destacado do partido do governo no Brasil e como amigo de Cuba, nos ajudasse a viabilizar a vinda de Yoani ao Brasil. (Não há nada de estranho em um autor ser convidado para divulgar seu livro. Estranho é ele não receber a autorização do seu governo para essa viagem).

O senador inicialmente se dispôs a fazer um convite, desde que a editora lhe enviasse uma carta assegurando que pagaria as despesas da autora. Fizemos isso. Em seguida, ele nos ligou dizendo que preferia antes entrar em contato informal com o sr. Alejandro Diaz Palácio, diplomata responsável pela Embaixada Cubana. Já na embaixada, Suplicy nos ligou novamente, dizendo que estava com o encarregado de negócios ao seu lado e que ele queria falar comigo. Fiquei animado, pois como velho amigo de Cuba (que já visitei três vezes, uma das quais na qualidade de historiador convidado pelo governo cubano), ingenuamente achei que receberíamos o apoio do diplomata à nossa demanda.

Na verdade, a conversa começou mal. O representante do governo cubano disse não ver muito sentido em “convidar essa senhora, que ninguém conhece”, quando ele se dispunha a listar autores cubanos mais adequados para publicação no Brasil. Fiquei chocado e respondi que, em nosso país, quem decide o que é publicado numa editora é um conselho editorial e não representantes de governos estrangeiros. O sr. Alejandro disse que, nesse caso, ele nada poderia fazer, e que deveríamos entrar com o pedido no consulado de São Paulo e não na embaixada em Brasília.

Mesmo tendo a desagradável sensação de estarmos sendo enrolados sob pretextos burocráticos, a editora entrou com o pedido. Só uma semana depois recebemos e-mail do cônsul Carlos Trejo Sosa dizendo que deveríamos registrar em cartório o pedido, depois receber alguns carimbos do Itamaraty, para então voltar a encaminhá-lo ao consulado. Fizemos tudo isso (mais duas semanas...). Aí recebemos a informação de que teríamos que começar tudo de novo. O pedido da editora não valia mais. Eu deveria fazê-lo em meu nome, indo pessoalmente ao cartório etc. Ora, o convite é da editora que publicou o livro, não meu, pessoa física. Nitidamente esgotaram-se os trâmites normais. Mas não as tratativas para trazer Yoani.

O senador Suplicy está empenhado na vinda dela. O senador Demóstenes Torres aprovou na Comissão de Justiça do Senado, e o presidente da casa José Sarney encaminhou à embaixada cubana, convite para uma audiência pública de Yoani naquela casa legislativa. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso intercedeu para que a escritora possa vir ao Brasil. Temos esperança de que isso ainda aconteça.

De Cuba, com carinho pode ser lido como um belo livro de história. História cotidiana de quem vive o dia a dia da ilha, sofre com a decadência da economia cubana, mas ama seu país. Alguém que não deseja que conquistas obtidas nas últimas décadas sejam jogadas fora, mas acha que o regime envelheceu com seus dirigentes. Yoani se dispõe a discutir suas ideias. Não é o melhor que pode acontecer para fortalecer a relação entre dois povos tão amigos?

Jaime Pinsky Historiador, professor titular da Unicamp, diretor da Editora Contexto

GOSTOSAS


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PAINEL DA FOLHA

Turma do trator

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/10/09

Com maioria para aprovar mudanças na legislação ambiental, via comissão do Código Florestal, a bancada ruralista na Câmara pressiona o governo a adiar por 120 dias o prazo final para regularização de terras no país, fixado em 11 de dezembro. Se não for atendida, promete avançar sobre tema caro aos ambientalistas: demarcação de áreas indígenas e quilombolas.
No primeiro caso, será aprovado projeto de Aldo Rebelo (PC do B-SP), também relator da comissão, transferindo ao Congresso a tarefa de demarcar, hoje do Executivo. Sobre a esperada grita dos ambientalistas, Moacir Micheletto (PMDB-PR), presidente da comissão, diz: "Tem que respeitar a maioria. Não é nossa culpa se eles não elegeram mais deputados".


Música. A parcela mais conservadora da equipe econômica estima que o Brasil fechará 2009 com o desemprego mais baixo da história.

Bate pronto. Petistas levaram a Dilma Rousseff a sugestão de montar desde já uma "sala de situação" para responder a noticiário negativo sobre a candidata na mídia tradicional e na blogosfera.

Tapete vermelho. A nova propaganda do metrô de São Paulo na TV, by Duda Mendonça, termina com cena idêntica à do filme "Quem quer Ser um Milionário?", vencedor do Oscar deste ano.

Coreografia. Dono da conta de publicidade do metrô, Duda, que em 2002 fez a campanha de Lula e em 2005 foi engolido pelo mensalão, encarregou emissários de levar a José Serra suas ideias sobre 2010. Chegou a se encontrar com o governador, mas a aproximação não avançou. Foi quando começou a dizer na praça que quer distância de eleições no ano que vem.

Nos olhos... Em público, Aloizio Mercadante é só elogios à perspectiva de Ciro Gomes (PSB) disputar o governo de São Paulo. Mas, nas discussões internas do PT, tem sido dos mais refratários à ideia.

...dos outros. Empenhado em se reeleger senador, Mercadante sabe que passará aperto se o número do candidato ao governo não for o 13, e sim o 40 de Gabriel Chalita.

Tipo exportação. Sem alarde, a base de José Serra na Assembleia aprovou emenda que altera a Constituição estadual liberando empresas públicas para fazer propaganda fora de São Paulo, a título de "fomento do turismo".

Panos quentes. Assessora especial de Lula, Clara Ant disparou telefonemas para líderes de entidades judaicas na tentativa de aplacar as manifestações de protesto contra a visita ao Brasil, em novembro, do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.

Taxa de sucesso. Deputados de Minas lideram a pressão pela inclusão no Orçamento de dinheiro para ressarcir os Estados pela isenção de ICMS aos exportadores. Dizem ter recebido do governo Aécio Neves (PSDB) a promessa de que parte dos recursos será usada em obras nas suas respectivas bases.

Em tempo. O Planalto, que de início havia mandado o Orçamento ao Congresso sem nenhum tostão para esse fim, concordou em incluir R$ 3,9 bi. Os Estados querem mais.

Pista. O TCU identificou pagamento indevido em obra na BR-101, no trecho entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. O tribunal determinou que o Dnit, órgão do Ministério dos Transportes, recupere o dinheiro. Foram R$ 87,4 mil, em valores de 2007.

Chuveiro. Pesquisa realizada pelo Ipespe em Tocantins aponta o neopetista Vanderlei Luxemburgo em quinto lugar numa eventual disputa por cadeira no Senado. Mais da metade dos entrevistados pelo instituto declarou que não votaria no técnico do Santos "de jeito nenhum".

com SILVIO NAVARRO e FÁBIO ZANINI

Tiroteio

"Dilma pode ter o apoio de alguns integrantes da bancada. Isso é natural. Mas do PTB como um todo ela não terá."
Do presidente do partido, ROBERTO JEFFERSON , sobre a reunião que senadores petebistas como Gim Argello e Fernando Collor estão organizando com a ministra da Casa Civil, candidata do PT ao Planalto.

Contraponto

Pedaço de mim

Num trecho do recém-lançado "Dossiê Gabeira", extensa entrevista transformada em livro pelo jornalista Geneton Moraes Neto, o deputado federal conta que tinha uma forte ligação de amizade com Luiz Eduardo Magalhães, morto em 1998 aos 43 anos.
Quando o baiano presidiu a Câmara, no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, Gabeira era o único representante do Partido Verde na Casa, o que o tornava alvo frequente de brincadeiras dos colegas.
-E como se manifesta a bancada do PV, deputado Fernando Gabeira?- perguntava Luís Eduardo, em tom irônico, durante as votações.
Gabeira devolvia na mesma moeda:
-Ainda não sei. Sou uma pessoa um pouco dividida...

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Futuro tecnológico

O GLOBO - 18/10/09


Olho para o monitor à minha frente e lembro como, faz tão pouco tempo, eu estaria diante de uma pilha de laudas em branco, ajeitando pelo menos duas delas na máquina de escrever, com uma folha de papel-carbono ensanduichada entre elas. Os erros eram apagados com uma sucessão de xis e as emendas feitas laboriosamente a caneta, resultando disso um texto imundo e desfavoravelmente comparável a um papiro deteriorado. Dicionário era na base do levantamento de peso e da lupa de leitura e descobrir se o nome de um sujeito era com q ou com k às vezes demandava até pesquisa telefônica. E, depois de escrever a matéria, ainda se tinha de enfiá-la num malote e rezar para que chegasse a tempo.

Hoje acho que teria dificuldade em encontrar papel-carbono para comprar, a juventude nem sabe o que é máquina de escrever, os dicionários, enciclopédias e até papiros deteriorados estão a um par de cliques de distância e tudo, de textos a ilustrações, se manda por via eletrônica. Claro, ninguém ou quase ninguém tem saudade dos velhos tempos trabalhosos, até porque não adianta e quem não gostar pode descer do bonde. E minha situação não é diferente, mas de vez em quando fico pensando em certos progressos e cá me acorrem algumas dúvidas.

Uma das vantagens atuais em que mais se fala é a possibilidade de trabalhar em casa que agora muita gente tem, em vez de se engravatar, pegar transporte ou se estressar de carro e comparecer a um escritório todos os dias. Há cada vez mais felizardos que trabalham de bermuda, sem camisa e até à beira de uma piscina, almoçam comidinha caseira e econômica, estão na vida que pediram a Deus. Mas acho que, se, em certos casos, isso é verdade, em outros nem tanto, pelo menos a longo prazo. Será que é melhor mesmo não conviver mais com colegas, não participar do bom e do educativamente chato que a convivência diária no trabalho enseja? Será que podemos mesmo dispensar, sem grande prejuízo, as amizades feitas assim, a experiência e o conhecimento que assim nos adviriam? E, se essa prática dá certo no trabalho, por que não dará na escola? Os estudantes teriam aulas pela internet, com diversas vantagens sobre o sistema atual, dispendioso e cheio de riscos, ocasionados até mesmo pela convivência com colegas violentos ou inconvenientes.

Não tenho tanta certeza dessas vantagens, como acho que pelo menos alguns de vocês também não têm. Sei de gente que dedica todas as suas horas vagas à internet, no sem-número de grupos de que se pode participar. Assim mesmo, não sobra tempo para responder à enxurrada diária de e-mails e mensagens variadas. O contato pessoal direto, já ameaçado pelo medo que temos de sair (embora também tenhamos medo de ficar em casa, a vida é dura), se torna, para a turma mais radical, um risco desnecessário, uma coisa até meio passée, quando dispomos de recursos como os programas de conversa e as webcams. Tudo muito certo, tudo muito bom, mas me incluo no time dos que acham que, nesse passo, vamos nos resignar de vez a viver em tocas e morder, se por acaso toparmos inesperadamente, um semelhante. Esse progresso para mim é retrocesso.

Assim como, do ponto de vista do leitor, tenho certeza de que encontrarei companheiros de ideal, em relação a esse negócio de máquina de ler livros, dos quais aquele em que mais se fala é o já famoso Kindle. Para quem não gosta de livros e apenas os usa porque precisa e não pode evitar, com certeza terá utilidade. Para quem tem necessidade de ler notícias apressadamente, também. E, enfim, quebrará o galho de uma porção de gente, em áreas que nem podem ser bem previstas agora.

Mas, para quem gosta de ler, como eu e vocês (se não gostassem, não estariam lendo isto aqui, achariam coisa melhor para fazer sem muita dificuldade), as trapizongas que estão criando para se ler já chegam causando perplexidade por uma razão elementar, que não pode deixar de ter ocorrido a quem quer que haja pensado um pouquinho sobre o assunto. Antes dessa tremenda invenção, qualquer um podia pegar um livro e lê-lo, tendo como equipamento indispensável, no máximo, uns óculos. De agora em diante, se a moda pegar, isso acabará sendo inviável. Escapa-me à compreensão o progresso contido num livro que requer um aparelho - e não tão baratinho assim - para ser lido, quando hoje não se precisa de nada, basta saber ler.

E já vêm aí os vooks, Deus nos valha. Os vooks são livros que também incluem outros elementos, tais como depoimentos de voz, barulhos, clipes de vídeo, peças musicais e assim por diante. Nesse caso, por que não ir logo ao cinema ou assistir a um DVD? Para que descrever cenas ou relatar episódios, se eles podem ser mostrados com o mínimo de intermediação possível? Por que escrever um livro - indagação, no meu caso pessoal, algo inquietante - e não fazer logo um filme, com todos esses elementos, que a palavra escrita não dá?

Claro, alguma coisa não tem sido bem pensada, nessa história toda. Há quem argumente que, progresso ou não, é a realidade e esta aponta na direção da obsolescência do livro . A fundamentação principal, segundo a qual o livro dá muito trabalho ao leitor, tem como derradeira consequência lógica a de que, no futuro, o que hoje se consegue com a leitura se conseguirá sem esforço, por meio de uma injeçãozinha ou da implantação de um chip no cérebro. Quanto ao trabalho, principalmente mental, que o livro dá ao leitor, pergunta-se: a ideia não era essa? Com certeza não chegarei até lá, mas antevejo o dia em que o livro impresso será apresentado como a última novidade.

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ELIANE CANTANHÊDE

Ao sabor dos ventos de campanha

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/10/09



BRASÍLIA - Aperte o cinto porque o piloto sumiu! Aliás, o piloto, o copiloto, a tripulação inteira voa por aí em campanha aberta, deixando Brasília entregue... Entregue a quem mesmo?
O presidente Lula viaja tanto ou mais pelo mundo do que "Fernando Viajando Cardoso", lembra? E passa três dias "fiscalizando" as obras de transposição do rio São Francisco, enquanto tira fotos pescando com a candidata Dilma.
Aliás, Dilma também viaja por aí, enquanto a Casa Civil fica por aqui, em Brasília, com os atos e programas do governo em segundo plano.
Além deles, o ministro Tarso Genro assume a campanha no Rio Grande do Sul e até o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, é candidato a alguma coisa, não se sabe exatamente ao quê.
Já há ministros reclamando. Desses ministros chatos, de áreas técnicas, que têm de tomar decisões, assinar atos, tocar o bonde -e não os aviões- adiante. Cadê o Lula? Não está. Cadê a Dilma? Não está. E aí, o que fazer? Fácil: chama o bispo!
Tudo pela campanha, até um recuo atrás do outro. Num dia, o governo diz que pretende taxar a poupança. Dá uma confusão danada, aí recua. No outro, o repórter Leonardo Sousa descobre a mutreta de empurrar com a barriga a devolução do IR da classe média para compensar a queda de arrecadação. Dá uma confusão danada, aí recua.
Nessa campanha descarada, todo recuo vale. Até na Vale mesmo, uma empresa privada. Antes, Lula falava mal da Vale, Dilma cobrava a companhia, ambos deixavam claro que, se dependesse do Planalto, a permanência de Roger Agnelli na presidência estava por um fio. Até que o megaempresário Eike Batista entregou o jogo: que tal botar no lugar do técnico Agnelli o político Sérgio Rosa, do PT?
Deu no que deu: uma confusão danada. Aí, todo mundo recuou, ficou o dito pelo não dito, e Agnelli ganhou sobrevida. Mas só "no momento", como bem disse Eike.

ANCELMO GÓIS

O DOMINGO

O GLOBO - 18/10/09

É de Élida Muniz, 20 anos, esta lindeza de mulata que se prepara para entrar na nova fase da novela “Malhação”, da TV Globo, em novembro. A atriz será a recatada Tati, modelo iniciante e uma das meninas mais populares do colégio. Tati sofrerá com paixões arrebatadoras.
Para compor a personagem, Élida perdeu alguns quilos e encaracolou ainda mais os cabelos. Nem precisava

‘El hijo de Brasil’

O filme “Lula, o filho do Brasil” deve seguir carreira no exterior, na carona do prestígio internacional do presidente.
A Argentina, onde uma pesquisa concluiu que, se Lula fosse filho de lá, seria eleito presidente com 52%, deve ser a primeira parada.

Aliás...

O filme pode marcar a estreia de uma nova distribuidora, voltada ao mercado latino, com sede em Buenos Aires.
A empresa deve ser uma sociedade entre Luiz Carlos Barreto e o argentino Eduardo Constantini Filho, que já investe em filmes brasileiros.

Lá doeu

Aécio Neves, que esteve outro dia na Itália, ficou impressionado com o fato de os três ministros com quem conversou terem abordado o mesmo tema.
Todos manifestaram desconforto com a decisão do governo brasileiro de conceder status de refugiado político ao ex-terrorista Cesare Battisti.

Tá chegando lá

Ainda faltam uns R$ 8 bi para o patrimônio da Previ, fundo de pensão do BB, chegar aos R$ 138 bi que tinha antes da crise.

No tempo da vaselina

Quarta, algumas senhorinhas que foram ao show “Divinas divas”, na Sala Baden Powell, estranharam um “kit seguro”, até com camisinha, dado na porta.
Uma vovó, ao abrir o kit, que incluía um pirulito, perguntou à amiga a utilidade do gel lubrificante.
“Acho que é para passar no cabelo”, disse, inocente. Né não, vovó. É para... deixa pra lá.

Nelson Mandela

As editoras brasileiras estão numa acirrada disputa na feira de livro de Frankfurt pelos direitos aqui do livro “Conversations with myself”, os diários de Nelson Mandela.
O leilão deve chegar a uns US$ 100 mil.

Alô, é da Anac?

A Anac soube que algumas companhias têm impedido os passageiros de usar iPhone, BlackBerry e outros celulares modernosos nos voos, e atribuem a proibição à agência reguladora.
Mas o veto é delas próprias.

É que...

Estes celulares têm um modo “avião” ou “voo” que mantém o aparelho ligado, mas sem linha para não interferir na aeronave.
Neste modo, é possível escrever textos, ouvir música, jogar etc. durante o voo. Exceto na decolagem e no pouso.

Varão cansado

Do ítalo-americano Michael Stefano, 40 anos, estrela do cinema pornô mundial, num papo que o canal de saliência Sex Hot vai pôr no ar no lançamento do site clubesexyhot.com.br, terça: — Hoje, só transo cinco vezes por semana. A gente vai ficando velho. Pelo cansaço, devo me aposentar em cinco anos...

A praia de Jéssica

Outro dia, ao fechar a compra de uma mansão por R$ 4,5 milhões no Condomínio Disegno, à beira da Apa de Marapendi, no Rio, um empresário do setor de tecnologia impôs sua condição.
Exigiu a construção na sala de uma praia artificial para Jéssica, sua... tartaruga de estimação.

Banco imobiliário

O velho prédio da LBV na Avenida Venezuela, no Rio, que já abrigou a Rádio Tupi, foi vendido a um grupo ligado às Lojas Americanas por R$ 6 milhões.

Cena carioca

Será que vai longe (que bom!) o tempo em que PM fazia exercício na rua, cantando refrões de guerra ao tráfico? Terça, por volta das 9h30m, uma tropa passou num cooper pela Rua Cardoso Júnior, em Laranjeiras, puxando os seguintes versos antigos: — Eu quero me casar/Mas não acho ninguém/Casar com mulher gorda não convém, não convém...

‘P... velhas’

A antiga sede do finado jornal “Última Hora”, na Rua Sotero dos Reis 62, no Rio, virou, acredite, um prostíbulo. A velha redação e outras dependências foram divididas em tabiques para as sessões de saliência.
Quem descobriu foi o coleguinha Benício Medeiros numa visita sentimental ao prédio da falecida “UH” para escrever o livro “A rotativa parou — os últimos dias da ‘Última Hora’ de Samuel Wainer”, que lança dia 4 agora.

Aliás...

Faz sentido. Nas redações, é comum se chamar jornalista veterano de “p... velha”.

Duda Mendonça do Império Romano

A campanha presidencial de 2010 está nas ruas e, com ela, o bloco dos marqueteiros políticos, gente que promete fazer do limão uma limonada.
Quem foi o primeiro Duda Mendonça da humanidade? O super-historiador José Murilo de Carvalho desconfia que foi Quinto Túlio Cícero, irmão mais novo do famoso Marco Túlio Cícero.
Quando Marco se candidatou a cônsul, no ano de 64 a.C., recebeu do irmão uns conselhos para a campanha eleitoral.
Para ganhar o povo, o candidato deveria, entre outras coisas, chamar os eleitores pelo nome, prestarlhes favores, cobrar os favores feitos, fingir que possuía qualidades que não tinha, adaptar-se às opiniões de cada um, não ter vergonha de adular nem de fingir amizades, prometer o que não podia cumprir etc.
— Não prometer fazer o de que não se é capaz é próprio de um homem bom. Prometer é próprio de um bom candidato — ensinava Quinto.
De lá para cá... deixa pra lá.

RIO2016

Zero pobre em 2016

Com base na Pnad, o economista André Urani fez umas contas e concluiu que, entre 2003 e 2008, caiu de 3 milhões para 2 milhões o número de pobres na Região Metropolitana do Rio: — Que tal estabelecer a meta zero pobre nos Jogos de 2016? Em tempo: por este critério, pobre é aquele que tem renda domiciliar per capita de até R$ 215.

ZONA FRANCA

Rosane Araújo lança o “Manual do pequeno atleta”, quarta, na Travessa do Shopping Leblon, às 19h.

Começa dia 23 “Encontro com Clarice”, com Ester Jablonski, no Casarão de Austregésilo.

A chef Cris Leite lançou o blog www.chefcrisleite.com.

Dom Orani Tempesta celebra hoje, às 10h, missa na Igreja Santa Teresa de Jesus, a convite do padre Silmar.

O cirurgião plástico Altamiro Rocha Oliveira será homenageado pelo Hospital da Lagoa.

O Festival de Jazz de Rio das Ostras agora integra o calendário turístico do estado como evento oficial.

“Caçadores de dinossauros”, de Laura Velho, ganhou o prêmio de melhor montagem do Festival de Filmes de Aventura e Turismo.

COM ANA CLÁUDIA GUIMARÃES, MARCEU VIEIRA, AYDANO ANDRÉ MOTTA E BERNARDO DE LA PEÑA

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MÍRIAM LEITÃO

Tudo no clima

O GLOBO - 18/10/09


Cape Farewell faz eventos culturais ligados à mudança climática. Futerra é uma agência de marketing sobre o tema. IPPR é um centro de estudos com várias pesquisas sobre o problema. The Climate Group, criado por Tony Blair, identifica negócios na área. The Carbon Trust dá selo de qualidade de baixo carbono. Na casa do príncipe Charles se organiza um fundo de proteção de florestas tropicais.

Os negócios, empresas, instituições ligados à mudança climática em Londres estão em todas as áreas, e ao visitá-las, não ouvi falar em crise econômica. O diretor de Cape Farewell, David Buckland, me contou que sua agenda está lotada até 2011.

O grupo se define como “um centro de resposta cultural” ao risco da mudança climática.

Com um ar de rebelde eterno, usando pantufas cor de laranja, numa enorme sala de trabalho com paredes cobertas por cartazes de eventos, David conta que põe juntos para pensar, como numa expedição ao Ártico, cientistas e artistas. Desses encontros saem exposições, produções musicais, peças de teatros, programas de rádio, festival de filmes.

— Este não é um problema científico apenas. É político, econômico, social. É o maior problema que a humanidade enfrenta e eu convoco os artistas ao trabalho — diz.

Solitaire Towsand era atriz e traz a vivacidade do palco para o mundo dos negócios.

Criou a Futerra em 2001, que hoje já é uma multinacional. É uma empresa especializada em comunicação da mudança climática. Tem negócios em vários países e ensina empresas, órgãos governamentais e instituições a passar de forma viva e convincente a mensagem da mudança climática. Em estudos com psicólogos e sociólogos em grupos focais, identificou resistências ao tema. Razão? Ninguém quer ouvir falar do fim do mundo: — Pode falar da tragédia, mas prometa o céu primeiro.

Dê ao ouvinte a visão de como pode ser o futuro. Mostre que a Humanidade já mudou várias vezes, ela pode mudar. A narrativa tem que ser diferente. Os especialistas falam em derretimento de gelo, elevação do nível do mar, e tragédias que vão acontecer em 30 anos. Ninguém quer saber. As pessoas não têm empatia por um bloco de gelo.

Tem por pessoas, por animais.

O sonho mobiliza. Por isso, é preciso primeiro mostrar o sonho e mostrar que o estilo de vida sustentável é mais elegante e desejável — explicou ela.

Dimitri Zenghelis chegou pedalando sua bicicleta, trocou o tênis por sapato, e veio para um almoço comigo.

Ele é economista-chefe da Cisco Systems e foi contratado pelos trabalhos em mudança climática que desenvolve no grupo de Nicholas Stern e na London School of Economics.

— Londres é a capital da mudança climática — me disse ele.

Se não é, parece. Na semana que passei em Londres, vi uma sucessão de negócios e iniciativas que estão surgindo debaixo do guarda-chuva da mudança climática. Para Dimitri, a mudança climática é uma questão econômica.

O Institute for Public Policy Research (IPPR) é considerado o melhor think tank (centro de estudos) do Reino Unido. Nos últimos tempos, ele tem se concentrado em estudos relacionados à área de mudança climática, como pesquisas com consumidores, projeções sobre criação de emprego verde, estudos de problemas sociais como migração em massa.

Andrew Pendletton, coordenador da Rede de Mudança Climática, contou que em suas pesquisas, tem sido detectado que o cidadão comum se preocupa com o tema, mas não apoia certas políticas para combatê-las.

Uma é a transferência de recursos para outros países.

O Carbon Trust é uma instituição criada por fundos governamentais e privados e que presta uma série de serviços para acelerar a transição da economia para um padrão de baixo carbono. Se alguns desses serviços parecem abstratos, outros são bem concretos.

Um dos participantes da diretoria chegou com uma grande bolsa para a reunião.

Abriu e foi tirando embalagens de leite, de suco de laranja, de batata frita e enfileirando em cima da mesa.

O que elas tinham em comum? O selo do Carbon Trust que exibe o cálculo de quanto cada produto emitiu de carbono e como estava compensando.

Essa é a nova informação que o consumidor procura nas embalagens.

No The Climate Group, criado por Tony Blair, fala-se de negócios. Eles identificam oportunidades que surgem na nova era do baixo carbono e fazem as ligações entre quem está interessado em negócios como eficiência energética, novas fontes de energia, construção de prédios sustentáveis. Eles montam as redes entre empresas, cidades e governos interessados nessas soluções.

Na Clarence House, casa do Príncipe Charles, funciona outro projeto de enorme dimensão.

É o The Prince’s Rainforests Project, projeto da Floresta Tropical que projeta transferir recursos em volumes gigantescos: de 15 a 25 bilhões de euros para países que preservem as matas.

O fundo ainda está sendo formatado, mas o endereço não podia ser mais real. Uma escada em caracol leva ao terceiro andar onde conversei com o diretor executivo do projeto, Tony Juniper.

A ideia não é emprestar recursos, mas transferi-los para países por serviços prestados pela conservação, através de mecanismos financeiros que podem ser o REDD (Redução de Emissão por Desmatamento Evitado) ou outros. Recentemente, o príncipe Charles se reuniu com 35 países para avançar no projeto.

A Clarence House tem perto de 200 anos e é vizinha do Palácio St. James, de 500 anos. Com o sólido alicerce desse passado, se discute a proteção do futuro do Planeta.

Tudo a partir do pedaço da Terra onde estamos.

O Brasil tem a maior floresta tropical do mundo, e como ouvi insistentemente por lá: pode e deve ter papel de liderança na luta contra a ameaça que paira sobre a Terra.

COM ALVARO GRIBEL