terça-feira, outubro 06, 2009

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

O supercartola ganhou um habeas corpus do novo amigo de infância

6 de outubro de 2009

Até o fim de setembro, o presidente da República e o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro foram cordiais companheiros de campanha eleitoral. Em Copenhague, Lula e Carlos Nuzman souberam que são amigos de infância desde o começo de outubro. O maior governante de todos os tempos descobriu que nasceram na mesma rua e berraram no mesmo berçário. O supercartola descobriu que nadaram na mesma enxurrada. Uma revelação desse calibre, ainda mais na terceira idade, decididamente não tem preço.

Ou tem, desconfiaram os ouvintes do programa radiofônico semanal estrelado por Lula. Primeiro, Nuzman foi presenteado com o mapa que mostra todos os caminhos, trilhas e picadas que conduzem aos pódios. ”Nós vamos ter que trabalhar muito as escolas e vamos ter que envolver os empresários para que comecem a adotar e preparar atletas”, começou a lição do professor que ignora se taekwondo é um esporte ou o nome do presidente da Coreia do Sul. ”Nós temos que aprender com outros países que já fizeram Olimpíadas, para que a gente chegue ao ano da Olimpíada muito mais preparados, com muito mais atletas inscritos e muito mais atletas com possibilidade para ganhar medalha de ouro”, terminou.

O pajé do COB fingiu enxergar uma luminosa política esportiva na discurseira do cacique do Planalto, produzida pelo cruzamento da ignorância com a soberba. Gostou mais ainda do trecho seguinte. ”Nós temos que nos perguntar não quanto o Brasil vai gastar, mas quanto o Brasil vai ganhar com a realização das Olimpíadas”, reincidiu o avalista de desperdícios criminosos. ”Não considero gasto, considero investimento”. Se o perdão vale para 2016, vale para 2007, compreendeu Nuzman.

Colérico com um repórter interessado em saber como evitar a reprise em escala amazônica das bandalheiras dos Jogos Pan-americanos, o anfitrião da festa bancada pelos pagadores de impostos sacou do coldre o habeas corpus emitido pelo Primeiro Magistrado. ”O Pan foi feito numa transparência absoluta”, viajou. ”O presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Roger, a comissão de avaliação da entidade e os eleitores votaram por escrito que o Pan foi a razão maior, junto com os três níveis de governo, da vitória olímpica”.

Para azar de Nuzman, Jacques Roger não usa toga e o COI não é o Supremo Tribunal Federal. Se os estrangeiros pouco se importam com monumentos à irresponsabilidade erguidos em outras paragens, o Tribunal de Contas da União continua à espera de explicações plausíveis para a assombrosa procissão de despesas sem destino conhecido, notas superfaturadas em até 1.000% e transações suspeitíssimas. O preço combinado não chegava a R$ 400 mil. A conta ficou em mais de R$ 4 bilhões. Que fim levou a montanha de dinheiro?

Só se interessam por essas miudezas quem sofre de ciúme do Rio ou é inimigo da pátria vitoriosa, desdenhou Nuzman. ”Se alguém no Brasil não está satisfeito com isso, ficou triste ou torceu contra, vai ter de chorar por sete anos como testemunha do maior sucesso da vida pública esportiva do país, vai ter de se amargurar pela eternidade”, caprichou no tom sarcástico. “Àqueles que não gostaram, um abraço”.

O abraço pôs um ponto final na conversa, mas não encerra o caso de polícia. Ninguém está insatisfeito nem deprimido com a escolha do Rio. Meio mundo está descontente é com a cartolagem, além de aflito com tantos bilhões ao alcance da mão dos reincidentes. O Brasil que pensa não vai torcer contra os atletas brasileiros. Só torce pelo fim da impunidade. Espera que a polícia aja. E exige que a Justiça faça o que deve.

VINÍCIUS TORRES FREIRE

O troco para o FMI e o real forte

Folha de S. Paulo - 06/10/2009


Reservas crescem e sobra até algum para o Fundo; mesmo assim, real é a moeda que mais se valoriza em relação ao dólar


US$ 10 BILHÕES virou troco para o Brasil. É o dinheiro que o país vai emprestar ao FMI, dinheiro empilhado nas reservas internacionais, mantidas pelo Banco Central. Como o Brasil faz dívida em reais a fim de comprar reservas, o custo de manter reservas é muito alto. Grosso modo, é a diferença entre a taxa de juros pela qual o governo se endivida em reais (pelo menos 8,75% ao ano) e a taxa de juros que recebe pelas reservas, hoje em dia quase nada. No caso do empréstimo para o FMI, essa taxa é de 0,25% ao ano. Trata-se, pois, de um seguro muito caro. Para que o seguro? Para momentos como a explosão da crise de 2008, quando o capital se paralisa de medo, e o país só conta consigo mesmo para rolar seus compromissos financeiros externos. Ou para mostrar ao mercado que o país tem como pagar seus compromissos, evitando assim que o capital dito "estrangeiro" fuja e/ou que as taxas de juros para o país aumentem. As reservas do Brasil equivalem a US$ 225 bilhões. Qual é o volume de reservas necessário para que o seguro seja "seguro"? Mistério. Ou, talvez, a pergunta seja retórica. Tem entrado muito investimento estrangeiro, especialmente em ações e o dito "produtivo". O Banco Central compra quase todas as "sobras". Mesmo assim, o dólar valia ontem R$ 1,76, mais ou menos no mesmo preço da semana anterior à da quebradeira em Wall Street, inaugurada em 15 de setembro de 2008 (mesmo com o BC comprando à larga, o dólar foi à casa do R$ 1,60 em agosto de 2008). Há economistas para quem o BC poderia deixar o real se valorizar até o "ponto de equilíbrio", parando com a compra de reservas. Em tese, em algum momento, o real ficaria tão forte que haveria expectativa de que uma desvalorização ou estabilidade seria mais provável que uma valorização adicional. Um sinal disso seria a alta forte e rápida do deficit em transações correntes (compraríamos ainda mais bens e serviços do exterior que venderíamos), por exemplo. Talvez tais eventos desestimulassem entradas adicionais de moeda forte e valorizações extras do real. Como ninguém sabe onde ocorre o "equilíbrio", se é que ocorre, nem se pode ocorrer antes de danos graves à produção nacional, muitos economistas consideram que não é prudente testar a dureza do chão se jogando de cabeça. O real é a moeda que mais se valoriza, entre as relevantes. Está barato especular (a taxa de juros no mundo rico é zero ou menos que isso). BCs e governos do mundo rico despejaram dinheiro nas economias a fim de conter a crise, mas não há muito onde investir e o risco diminuiu muito: sobra capital. Como somos sinodependentes e a China se recuperou bem, entram dólares pelo comércio externo brasileiro, o que ajudou a atenuar a crise brasileira. Então, parecemos uma boa oportunidade para o capital sobrante: temos juros altos, tínhamos ações baratas, a economia se recuperou mais cedo, a moeda se valoriza. Tão cedo o Brasil não vai deixar de se tornar centro de reciclagem dos dólares sobrantes no planeta -a não ser na hipótese de novo colapso. Emprestar ou não um troco para o FMI é assunto menor, em termos financeiros. O problema é o que fazer do agora crônico real forte.

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CELSO MING

O jogo deles

O ESTADO DE SÃO PAULO - 06/10/09



O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, está propondo que os países emergentes deixem de formar reservas externas (veja o Confira) e, em vez disso, contribuam para uma espécie de caixa comum administrado pelo próprio Fundo, para que possam a ele recorrer em caso de necessidade.

O FMI partiu do princípio de que terá de agir não só para mudar o jogo no mundo, mas, também, para sobreviver.

Até agora, os emergentes atuaram como grandes fornecedores dos Estados Unidos. Essa situação permitia que fizessem enormes reservas externas, que foram aplicadas em títulos do Tesouro americano. Na prática, os países emergentes, especialmente a China, estão financiando o consumo dos Estados Unidos que, por sua vez, importam produtos industrializados e também commodities (petróleo) deles.

Esse arranjo global produziu distorções. A maior delas foi a criação nos Estados Unidos de dois megadéficits: o orçamentário, que neste ano vai para US$ 1,8 trilhão; e o comercial, em torno de US$ 800 bilhões anuais.

O Fundo se propôs a desmontar esse mecanismo. Por isso, já prevê que os americanos terão não só de importar menos, mas, também, de voltar a exportar, o que significa que os emergentes terão de importar mais dos americanos. Como isso vai mexer com o esquema que permite a formação de reservas e, portanto, com a capacidade de resistir a crises, a ideia do FMI é centralizar a operação. Em vez de cada um ter seu próprio corpo de bombeiros, o FMI se encarregaria de montar, com recursos de todos, um sistema de ataque ao fogo que ficasse disponível para quem precisasse.

O ministro Guido Mantega observa que não adianta contribuir para o pool de reservas se o Fundo continuar a fazer exigências draconianas para liberar os recursos. Mas as objeções à proposta do FMI são mais amplas.

Os emergentes, entre os quais China, Brasil, Índia e Rússia, não amontoam reservas só para se proteger das crises. Nem a China precisa desses US$ 2 trilhões nem o Brasil precisa de US$ 230 bilhões para se prevenir contra um tsunami econômico.

A China vem fazendo reservas para continuar financiando o consumo nos Estados Unidos. E o Brasil vem, sim, formando as suas para blindar a economia contra crises, mas não só para isso. Também o faz para impedir a forte valorização do real.

Outros países superavitários no comércio, como Chile, Arábia Saudita, Cingapura e Noruega, têm usado suas reservas para formar fundos soberanos cuja função é investir no exterior, seja para dar cobertura às despesas públicas em tempos de vacas magras, seja para apoiar investimentos externos de suas empresas.

Pela forma como estão sendo formatadas as propostas, o FMI parece menos empenhado em contra-atacar os males econômicos do mundo do que em resolver dois problemas: o dos Estados Unidos, que pouco fazem para sanear seus dois megadéficits, e o do próprio FMI, que perdeu relevância e tenta mudar suas funções para sobreviver.

Isso parece pouco para os administradores do Fundo. Eles querem se tornar uma espécie de banco central global que se encarregue não só de ser emprestador de última instância para governos, mas também de ser uma espécie de supervisor-geral do sistema financeiro global.

FERNANDO VAZ

Importância do PSA

O Globo - 06/10/2009


Poucos exames na história da medicina tiveram tanta repercussão na sociedade como a descoberta do antígeno específico da próstata — em inglês, PSA, Prostatic Specific Antigen — e modificaram tanto a prática de uma especialidade como a sua utilização em larga escala na prática clínica.

Na verdade, o PSA é certamente o melhor marcador já empregado na oncologia humana e uma das ferramentas mais poderosas de que dispõe a urologia moderna. Mas... como toda ferramenta poderosa, se utilizado indevidamente, pode produzir mais danos do que benefícios e fazer mais mal do que bem. É preciso manter em mente que, como qualquer exame, ele é apenas um indicador e a sua utilidade será tanto maior quanto maior for o conhecimento, a experiência clínica e, por que não dizer, o bom senso do médico que o está utilizando.

Vejo muitos pacientes, às vezes casais de idade, com lágrimas nos olhos, atormentados por um exame de sangue que revelou um nível elevado de PSA, mas que não terá o menor significado na vida daquele indivíduo, e que a rigor não precisaria ser valorizado.

O médico precisa ter sempre em mente a real utilidade do exame solicitado ou trazido pelo paciente. A meu ver as principais utilidades da dosagem do PSA são as seguintes: Primeiro de tudo, avaliar e acompanhar a eficiência de um tratamento para câncer de próstata ao qual um paciente foi ou está sendo submetido. A variação dos níveis de PSA permitirá ao clínico modificar ou introduzir novos tratamentos, de acordo com a necessidade clínica, ou mesmo suspender por algum tempo ou para o resto da vida do paciente terapias com efeitos colaterais. Isso sem contar o fato de que em alguns casos a simples combinação de dosagem do PSA com o exame clínico poderá retardar por anos o início de um tratamento que terá um efeito adverso na qualidade de vida de um homem maduro ou idoso.

Outra utilidade, não tão precisa mas já comprovada, é o acompanhamento de pacientes acometidos de lesões benignas da próstata e a previsão de sua evolução.

Acompanhando as variações do antígeno, às vezes é possível prever quais os pacientes que evoluirão para a retenção da urina e instituir algum tipo de tratamento antes que isto ocorra.

Finalmente, a dosagem do PSA sérico pode ser utilizada em uma população para determinar quem está em risco de desenvolver (ou já tem ) um tumor da próstata que ameaça a sua vida. E é justamente nesta situação que tal dosagem deve ser utilizada com o maior critério possível, e todos — médicos generalistas, pacientes e urologistas — devem agir com extremo bom senso. É, por assim dizer, inexorável que, vivendo o bastante, todos os homens desenvolverão o câncer na próstata, cataratas, surdez, problemas na coluna e outros males. Mas só uma minoria irá necessitar de tratamento curativo dessa doença. Esses tratamentos, mesmo quando bem feitos, podem influir negativamente na qualidade de vida das pessoas.

Por outro lado, uma vez submetidos a uma biópsia prostática e com o diagnóstico de câncer nas mãos, muito poucos homens são capazes de não se desesperar e tentar retirar ou eliminar o mais brevemente possível as “células malignas”da sua próstata, seja por cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou outros métodos disponíveis, que às vezes são friamente apresentados pelos seus médicos.

Na minha opinião, primeiro não é preciso biopsiar todos os homens que apresentam níveis elevados de PSA, e depois, mesmo quando confirmado o diagnóstico, muitos não necessitam de tratamento algum ou só precisam de um tratamento pouco agressivo que lhes permita terminar a vida em paz, como fariam se soubessem que têm cataratas, hipertensão, diabetes ou outras doenças próprias da idade.

Não há, na minha mente, e na dos que se dedicam a tratar pacientes com câncer na próstata, dúvidas de que a dosagem do PSA como método de avaliação de indivíduos do sexo masculino na idade em que surge esse câncer salva vidas e é um excelente exame. Essa doença, contudo, aparece sob várias formas, com diferentes graus de agressividade e evolução e estes fatos têm obrigatoriamente que ser levados em conta por quem os trata.

O meu conselho final aos homens é: escolham um médico competente, em quem confiem, e deixem que ele decida se é necessário dosar o seu PSA, fazer uma biópsia da sua próstata e principalmente se é preciso tratar e como tratar um resultado positivo. Vocês viverão melhor e sofrerão menos. E como em todos os campos da medicina, nada substitui a experiência

A REALIDADE


MERVAL PEREIRA

Revitalizar o Rio


O Globo - 06/10/2009


A característica vocação do Rio de Janeiro como cidade de serviços, especialmente nas áreas de esporte, entretenimento, cultura, mídia e lazer, pode ser medida em números pelos dados de emprego do Ministério do Trabalho de 2008. Apesar de, para o total das atividades econômicas, a cidade de São Paulo apresentar o dobro de empregos da cidade do Rio — cerca de 4,5 milhões contra 2,1 milhões —, nas áreas mencionadas o emprego na cidade do Rio de Janeiro é basicamente igual ao da cidade de São Paulo: 38.682 contra 44.508.

Esses setores representam 1,8% dos empregos da cidade do Rio, o maior percentual de todas as grandes capitais, enquanto para São Paulo representam apenas 1%. Além das Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016, o Rio receberá os Jogos Mundiais Militares em 2011, a Copa das Confederações em 2013, a Copa do Mundo em 2014.

O economista Mauro Osório, especialista em planejamento urbano e professor da UFRJ, considera que a visibilidade internacional que uma cidade adquire quando escolhida como sede das Olimpíadas “fica particularmente potencializada no Rio, por sua história”.

Quando o Império resolve transferir a capital de Salvador para o Rio, segundo Osório, a decisão já é fruto “não só da maior proximidade com Minas Gerais e do ciclo do ouro, mas, também, da história de centro nacional que o Rio construía”.

Com a vinda da família real, consolida-se o que o historiador de arte e ex-prefeito de Roma Giulio Argan denomina de Cidade Capital.

De acordo com Argan, todo país do mundo tem uma cidade que é sua referência internacional.

No caso dos EUA, é Nova York, e não Washington. No Brasil, até hoje, é o Rio, e não São Paulo, “apesar da potencialidade econômica paulista”. Osório lembra que “o mundo atual opera com a imagem. Apenas no dia do resultado da disputa pela sede das Olimpíadas, em torno de 1 bilhão de pessoas assistiram ao evento através da mídia internacional.

Isso também reforça a importância de o Rio receber eventos internacionais, por sua plasticidade”.

Estamos, portanto, ressalta Osório, diante de uma rara oportunidade histórica de a cidade, a Região Metropolitana e Estado do Rio “reverterem a trajetória de decadência ocorrida desde a mudança da capital para Brasília, nos anos 1960”.

Para o aproveitamento dessa oportunidade, no entanto, o professor considera fundamentais dois fatores: o adequado desenho de estratégias e o controle público.

Ele lembra que Barcelona “se apropriou adequadamente em uma série de aspectos das possibilidades trazidas pelos Jogos Olímpicos devido à forte cultura regionalista catalã, que favorece a reflexão e o olhar regional”.

Já o Rio tem uma história que é o contrário disso, lamenta Osório, que costuma dizer que os cariocas “mais provincianos” pensam o Brasil e os “mais cosmopolitas” pensam o mundo.

Isso faz com que, segundo ele, mesmo após 50 anos da mudança da capital — que se completam no ano que vem —, “até hoje tenhamos uma rarefeita reflexão regional e, por conseguinte, incorremos em importantes equívocos no desenho de prioridades e estratégias”.

Essa ausência de uma cultura e olhar regional tem nos levado a erros de diagnóstico e de estratégias.

Ele considera que a conquista dos eventos esportivos, ao lado do bom momento da economia brasileira, dos investimentos previstos para a nossa região, da parceria entre as esferas de governo e do início de uma reestruturação do setor público em nossa região, “podem facilitar que realizemos, pela primeira vez desde a mudança da capital, a discussão e o desenho de estratégias integradas para a cidade e Região Metropolitana, e não apenas, por exemplo, uma política para a Barra da Tijuca”.

Mauro Osório é um dos vários estudiosos do Rio que consideram que a Vila Olímpica deve ser instalada na área portuária da cidade, em vez de localizá-la na Barra.

“Isso porque os principais ícones da cidade do Rio de Janeiro estão no espaço entre o Centro e a Zona Sul, como o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar”.

Além disso, Mauro Osório entende que essa iniciativa poderia consolidar uma política de revitalização do Centro, como ocorreu em Barcelona. Um foco maior no Centro e na área portuária “pode permitir maior adensamento e dinamização das regiões centrais e suburbanas do Rio”.

Ele considera também que “tão importante quanto é aproveitar essa oportunidade para trabalhar a retomada da autoestima da população em nossa região e o desenho de uma política metropolitana”.

Por que não, com base nas Olimpíadas, começarmos a pensar uma política de massificação e diversificação dos esportes?, pergunta Osório. Em resposta, ele imagina começarmos a pensar uma política metropolitana que pode ter uma de suas ênfases no estímulo e massificação do esporte nas cidades periféricas ao Rio de Janeiro e em nossos subúrbios e Zona Oeste.

Também acha que deveria ser aproveitado esse momento “de forte e correto aporte de recursos federais” para traçarmos não apenas o metrô para a Barra, mas uma política de transporte de massa em toda a Região Metropolitana.

O prefeito Eduardo Paes, confrontado com todas essas demandas da sociedade, diz que se preocupa com a percepção de que, com a vinda das Olimpíadas para o Rio, todos os nossos problemas estarão resolvidos.

Mas garante que não limitará as políticas públicas a garantir a realização organizada e pacífica dos Jogos, e pretende que a cidade se beneficie de maneira permanente das mudanças estruturais que virão com sua realização, especialmente na parte de segurança pública, com o aprofundamento da política de urbanização das favelas e na revitalização de suas áreas degradadas

CHUTE NOS OVOS

SAÚDE MASCULINA

Polêmica na prevenção do câncer de próstata

O GLOBO ON-LINE

Novos estudos divulgados na última semana reacenderam a polêmica sobre a prevenção e o diagnóstico de câncer de próstata, mostra reportagem de Antônio Marinho no GLOBO deste domingo. Segundo as pesquisas, duas delas publicadas na revista "British Medical Journal" (BMJ), não existem provas convincentes de que o rastreamento com dosagem de PSA no sangue (o antígeno específico da próstata, um marcador da doença) reduza o índice de mortes pelo câncer. Outro artigo, na revista "Arquivos de Medicina Interna", da Associação Americana de Medicina, afirma que os homens não participam das decisões a respeito desse assunto e são desinformados sobre os riscos e benefícios de exames como toque retal e PSA. Para os autores dos artigos, é preciso discutir mais com os pacientes os critérios para diagnosticar a doença.

Exames não mostraram, até o momento, sucesso em reduzir a mortalidade

Já no ano passado, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) dissera não existir base sólida científica para recomendar o toque retal e o PSA. Para o instituto, esses exames não mostraram, até o momento, sucesso em reduzir a mortalidade, ou seja, não vale a pena recomendá-los como uma política de saúde pública para homens sem sintomas. E levam a muitas cirurgias desnecessárias, com prejuízos financeiros e à qualidade de vida. É o que pensa a maioria dos países. Isso porque o toque retal só detecta tumores em fase avançada e não se tem certeza do impacto do PSA na diminuição do número de óbitos. Diante dos novos estudos, o Inca mantém sua posição, a mesma da OMS.

Nos Estados Unidos, a maioria dos homens acima de 50 anos faz PSA. Porém, especialistas afirmam que esta prática é controversa, devido às incertezas dos benefícios e aos conhecidos riscos dos tratamentos. A decisão a respeito de submeter ao screening, dizem os pesquisadores, deveria levar em conta a opinião dos pacientes, algo que nem sempre acontece.

Nos estudos na "BMJ", os autores comentam que o teste de PSA não pode, por exemplo, identificar um tumor letal. Num deles, pesquisadores suecos da Universidade de Umea usaram os resultados dos testes de PSA de 540 homens diagnosticados com câncer de próstata investigados anos antes do diagnóstico e de um grupo de 1.034 saudáveis. Eles descobriram que o teste de PSA não foi decisivo como método de triagem. No outro, cientistas americanos de diversos centros, incluindo as universidades de Harvard e Boston, chegaram à mesma conclusão, e citam o excesso de falsos positivos. Nessa edição a revista britânica publicou um editorial que não aconselha o PSA.

Nenhum país do mundo indica toque retal como método de triagem

Também um estudo, mês passado, na revista do Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos, confirmou que o rastreamento de rotina para câncer de próstata resultou em mais de um milhão de americanos diagnosticados com tumores que poderiam não ter evoluído. A conclusão é que é necessário investigar melhor biomarcadores para detectar a doença antes de indicá-los.

Na revisão de exames de PSA, pesquisadores americanos afirmam que os dados sobre danos e benefícios desses exames ainda são insuficientes para sustentar a triagem populacional. Acrescentam que os custos financeiros e psicológicos de resultados falso-positivos, o excesso de diagnósticos e de tratamentos de próstata devem ser avaliados com maior precisão. Todas as opções implicam algum dano, como incontinência e disfunção erétil.

O Inca segue o que recomendam os artigos indexados. O que não significa que o paciente deve deixar de discutir com o seu médico a necessidade dos testes.

- Uma coisa é a consulta com seu médico, no qual ele sugere ou não o PSA, o toque retal e biópsia. Outra é aplicar isso como política pública, como se faz com a mamografia e o exame de Papanicolau. Nenhum país do mundo indica toque retal como método de triagem populacional. Ele faz parte do exame físico - diz José Eduardo Couto Castro, coordenador geral de assistência do Inca.

No Brasil, o número de casos novos de câncer de próstata é de 49.530 (estimativa de 2008, segundo o Inca). Depois dos tumores de pele, ele é o mais comum em todas as regiões do país entre os homens.

GOSTOSA

BRASÍLIA - DF

Orçamento olímpico


Correio Braziliense - 06/10/2009



O governo pretende rever o Orçamento de 2010 — assim como a Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2010-2011 — para incluir os gastos com as obras das Olimpíadas de 2016, que precisam ser iniciadas o mais rápido possível. O relator da Comissão Mista de Orçamento, deputado Geraldo Magela (PT-DF), que já está em dificuldades por causa das emendas individuais dos parlamentares, terá que administrar o novo quebra-cabeças do remanejamento de verbas. Cada deputado terá direito a R$ 10 milhões, mas querem mais R$ 4 milhões.

Para capitalizar a conquista dos maiores eventos no calendário esportivo mundial, o governo lançará o PAC do Esporte, no primeiro trimestre de 2010. O programa será uma compilação de investimentos na formação de atletas e de obras do PAC relacionadas à infraestrutura da Copa do Mundo de 2014, dos Jogos Olímpicos de 2016 e dos Jogos Mundiais Militares de 2011, os dois últimos sediados no Rio de Janeiro. É claro, a garota propaganda de tudo isso será a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Extra


Para viabilizar as Olimpíadas, o Senado aprovou a toque de caixa e o presidente em exercício José Alencar sancionou, em 1º de outubro, o Ato Olímpico, uma legislação específica com os encargos do governo federal exigidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Foi publicado numa edição extra do Diário Oficial, momentos antes da reunião do COI. Com a lei, o Brasil terá a obrigação de combater a pirataria e adotar a legislação antidoping.

Vila


Antes da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, o primeiro teste do Brasil como sede de megaeventos esportivos serão os V Jogos Mundiais Militares, em 2011, no Rio de Janeiro. A olimpíada militar tem gastos de R$ 580 milhões previstos no Orçamento de 2010, a maior parte para a construção de uma vila olímpica que não deve ser aproveitada em 2016. Custará
R$ 300 milhões

Eletrobrás



A Comissão de Minas e Energia da Câmara realiza seminário, hoje, sobre renovação de concessões do setor elétrico, que em sua maioria vencerão em 2015. Participam dos debates o ministro de Minas Energia, Edison Lobão (foto), e do presidente da Aneel, Nelson Hubner. O governo quer transformar a Eletrobrás numa potência energética na América Latina.

Cartórios

A Associação dos Notários e Registradores do Brasil estima que mais de mil cartórios de pequenos municípios brasileiros poderão fechar se a PEC dos Cartórios (nº 471/05) não for aprovada, privando pequenas cidades de serviços básicos, como reconhecimento de firma ou um simples registro de nascimento. O assunto será discutido amanhã em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. O lobby dos cartórios é fortíssimo. Quer evitar que a função de tabelião passe a ser ocupada apenas por concurso.

Pirajá

Virou borrasca a eleição da nova comodoria do Iate Clube de Brasília, hoje, das 11h às 21h, na qual duas chapas se digladiam, uma da situação (Orgulho de ser Iate), encabeçada por Gilson Machado da Luz, e outra de oposição (União e Transparência), liderada por Mário Sérgio da Costa Ramos. Para resumir a ópera, a turma da náutica quer assumir o comando do clube, depois de 16 anos de hegemonia dos tenistas. O comodoro Édson Carvalho de Mendonça deixa o cargo desgastado por causa do último leilão de títulos patrimoniais do Iate (custam R$ 42mil), que foi anulado pelo Conselho Deliberativo por supostas irregularidades na venda de 12 títulos excluídos do edital.

Direto/ A Delta Air Lines anunciará amanhã o voo Brasília-Atlanta (EUA), sem conexão. O vice-presidente para América Latina e Caribe da empresa, Christophe Didier, e o vice-governador Paulo Octávio fecharam o acordo para viabilizar a nova rota.

Satélite/ Apeado da presidência do PSC do Distrito Federal para a acomodação de aliados do ex-governador Joaquim Roriz, Egmar Tavares assinou a ficha de filiação ao PTdoB. Apesar da destituição, Tavares mantém-se num partido da órbita de Roriz.

Desnorteados/ Nem os partidos conseguiram acompanhar o troca-troca promovido pelos deputados federais. A assessoria do PSDB, por exemplo, procurou ontem o PPS para confirmar se o deputado Geraldo Thadeu (SP) realmente havia deixado a legenda para se filiar aos tucanos.

Estrogonofe/ O ministro da Educação, Fernando Haddad, atordoado com o cancelamento do Enem, não conseguia distinguir leite condensado de creme de leite, domingo, quando foi às compras num mercadinho do Lago Sul. Foi preciso a ajuda de um funcionário para salvar o filé mignon da receita de pudim.

Expediente


O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) baixou resolução obrigando servidores do Judiciário a cumprir jornada de trabalho de 40 horas semanais. Para o diretor da OAB Nacional, Ophir Cavalcante Junior, a medida é salutar. “Precisamos acabar com a cultura reinante no Judiciário.”

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Marina


Folha de S. Paulo - 06/10/2009

Além de ter óbvio apelo ecológico, a candidatura presidencial de Marina Silva parece contar com uma espécie de combustível ético, como se viesse galvanizar uma insatisfação difusa de setores da sociedade diante das extravagâncias patrocinadas pela turma de Lula em nome do pragmatismo.

Marina seria uma representante da energia limpa contra a fuligem produzida pela política petista, da farra do mensalão à defesa de Sarney e sua camarilha. É sobre o desmatamento moral promovido pelo lulismo que o mantra do desenvolvimento sustentável encontra terreno propício para vicejar.
Fernando Gabeira resumiu isso numa frase: a senadora poderá ser a depositária do "voto do sonho". Há em torno dela, de fato, certa aura de rousseaunismo, o mito do bom selvagem que se ergue contra a marcha cega do progresso e seu cortejo de injustiças. Lula, a seu modo, ocupou esse lugar simbólico um dia.
Bastaria evocar essa memória para manter reservas em relação à nova utopia ecoética que nasce de mais uma costela do PT. Além do mais, e sem trocadilhos, o PV não é nenhuma flor que se cheire. Seu comportamento, muitas vezes, é mais próprio das legendas nanicas de aluguel do que daquelas minorias aguerridas que defendem a unhas a sua trincheira ideológica.
Não parece ser nem entre os povos da floresta nem na massa de espoliados a quem Lula dá de comer que Marina tende a colher seus frutos. A reparação histórica que ela vocaliza é música que toca nos bares da Vila Madalena ou no Baixo Gávea, seduzindo parte da classe média progressista e sensível.
Que a candidata dessa esquerda órfã de ideais seja também uma evangélica com restrições ao aborto e à pesquisa com células-tronco soa como um sintoma gritante de uma época confusa, em que progresso e regressão social andam misturados. Não é à toa que Marina procure se manter equidistante de PT e PSDB, esses inimigos que são dela e entre si tão diferentes, mas tão iguais.

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CLÁUDIO SOARES LOPES

Perigo para a sociedade

O GLOBO - 06/10/09


A fuga do traficante Polegar trouxe polêmica para o meio jurídico e causou apreensão social. Isto porque, ao atingir certo patamar de cumprimento de pena que o autorizou passar para o regime aberto, que permite ao preso sair para trabalhar de dia com a obrigação de se recolher à noite, ele não retornou ao estabelecimento penal.

A possibilidade de progressão de regime para condenados por crimes hediondos está prevista em lei, e é consequência do entendimento do STF, que passou a defender que o regime integralmente fechado é inconstitucional.

Assim, como nossa corte jurisdicional máxima não admite que um condenado cumpra toda a pena em regime mais severo, resta interpretar a norma vigente para se tentar impedir que condenados perigosos possam ter direito a um regime prisional brando.

É fundamental que os juízes sejam mais rigorosos, exigindo comprovação efetiva de trabalho e determinando a realização de exame criminológico por profissionais competentes da área psiquiátrica que atestem com alguma segurança a possibilidade de o egresso do sistema penal não voltar a delinquir, cumprindo assim a lei — que nunca deixou de exigir o requisito subjetivo para que condenados perigosos possam obter algum benefício legal.

Importante também a reflexão por parte do legislador visando à alteração da Lei de Execuções Penais, objetivando prever outros requisitos que não somente o lapso temporal de cumprimento de pena, de modo que condenados por crimes graves deixem de cumprir rapidamente as sanções que lhes foram aplicadas, dando-se efetividade a uma das finalidades da pena, que é servir de freio aos que pretendem transgredir a lei, e evitando controvérsias doutrinárias e jurisprudenciais desnecessárias. A individualização da pena, princípio consagrado na Constituição, deve também balizar o julgamento dos magistrados na hora de decidir a liberdade de condenados perigosos, que são diferenciados dos demais, em especial quando mesmo encarcerados continuam a integrar organizações criminosas e a cometer ilícitos.

Resta esperar que o Executivo Federal cumpra a regra prevista na Lei dos Crimes Hediondos e invista na construção de presídios federais para abrigar presos e condenados perigosos longe dos estados onde praticaram os delitos, não apenas nas hipóteses em que se faça necessária a imposição de um regime disciplinar diferenciado, mas em qualquer situação que exija o seu afastamento da região de origem, em nome da paz social, bem jurídico superior ao interesse individual.

CLÁUDIO SOARES LOPES é procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro

FAUSTO MARTIN DE SANCTIS

Anistia a crimes de evasão de divisas

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/10/09


A anistia sugerida não beneficiaria nem enalteceria a sociedade, a não ser os que apostaram num caminho fácil e covarde

UM PROJETO de lei aprovado pela Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados, a ser votado em plenário, com solicitação do deputado José Mentor (PT-SP) para que a Comissão de Constituição e Justiça não o analise, e um outro projeto de lei, este do senador Delcídio Amaral (PT-MS), que seguirá diretamente à Câmara sem passar pelo Senado, permitem a repatriação de valores no exterior mediante o pagamento de 10% a 15% a título de tributação, anistiando o crime de evasão de divisas e de sonegação fiscal.
Tal medida não se aplicaria aos valores fruto de tráfico de drogas, terrorismo, pornografia infantil, corrupção e outros. Além disso, há previsão de registro na Receita Federal com a garantia do anonimato.
Qualquer medida desse porte exige intensa discussão com a sociedade. A anistia constitui verdadeiro esquecimento jurídico de uma ou mais infrações penais e só deve ser admitida em casos excepcionais.
A justificativa econômica apresentada (o retorno ao país de bilhões de dólares) em hipótese alguma legitima a medida. Ao contrário, subverte valores indispensáveis à comunidade e permite a seus filhos menos probos a oportunidade de contribuir com valores ilícitos e de maneira desigual.
A questão econômica ganha realce num país que historicamente defende preceitos universais, até mesmo em oposição a países tidos como imperialistas.
A anistia, dado seu alcance, retroage para apagar até o crime cometido no passado, extinguindo sua punibilidade, ainda que exista sentença penal condenatória irrecorrível.
Assim, mesmo que alguém esteja condenado definitivamente, será alcançado pela medida. Sua importância é tal que a Constituição Federal determina que somente o Congresso Nacional possui atribuição para sua concessão.
Dizer que ela não se destina a valores decorrentes de graves crimes parece constituir mero pretexto diante do ultraje às pessoas de bem. Como poderá a autoridade prever que tais quantias não são fruto de graves delitos, inclusive hediondos, cuja concessão de anistia é vedada pela Constituição Federal?
Surpreende a tentativa de aprovação sem debate efetivo, prejudicando os que não investiram no exterior suas economias e apostaram no país, em respeito às leis nacionais.
Pagar tributos é o custo de viver em uma sociedade civilizada. A não legitimidade da medida parece indiscutível, pois ela privilegia os mais abastados que, por motivo exclusivamente pessoal e de risco, aplicaram seus recursos fora do Brasil, ocultando-os das autoridades brasileiras.
A garantia de anonimato mostraria excessiva preocupação. Em outras palavras, como num passa-moleque, os valores retirados da sociedade são "legitimamente" devolvidos. Trata-se de aplicação inconteste do princípio da desigualdade.
Que dizer a nossos filhos que este país, que se diz democrático, faz com que as pessoas honestas sintam-se envergonhadas pelos que driblam sistematicamente a lei e sempre obtêm os beneplácitos estatais, cujo aparato parece estar constituído, paradoxalmente, para assegurar o direito de minorias abastadas?
O pleno exercício das liberdades públicas requer, de um Estado verdadeiramente de Direito, a efetivação de valores supremos, como a igualdade e a justiça. Será que a tal anistia não comprometeria a obediência cívica, estimulando a repulsa às instituições democráticas?
Esta terra há de merecer de seus representantes conduta que corresponda à nobreza de seu povo. Não se pode invocar determinada medida que salvaguarde um momento ou um grupo pequeno e seleto, o que pode comprometer o modelo social eleito.
Tratar abrupta medida com a naturalidade com que vem sendo apresentada, como mais um mecanismo legítimo, não resiste a uma análise adequada, uma vez que se apresenta com embasamento puramente econômico, insuficiente, até porque a lei, a expressão real de um povo, deve se constituir em medida que aperfeiçoe a sociedade em que vivemos.
A anistia sugerida não beneficiaria nem enalteceria a sociedade, a não ser os que apostaram num caminho fácil e covarde.
A quem realmente deseja regularizar situação ilícita bastaria realizar espontaneamente o retorno de seus valores, admitindo erros do passado, caso em que não faltará boa vontade dos órgãos estatais para equacionar da melhor forma sua situação. O direito ao arrependimento não estaria, nunca, inviabilizado.
Nenhuma ordem jurídica pode se sustentar se confiscados direitos democráticos básicos como a igualdade e a justiça social.

FAUSTO MARTIN DE SANCTIS é juiz federal titular da 6ª Vara Federal Criminal em São Paulo, especializada em crimes financeiros e em lavagem de dinheiro.

GOSTOSA


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JANIO DE FREITAS

Problemas armados

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/10/09


AS PREFERÊNCIAS do governo brasileiro na compra de submarinos, já fechada, e na escolha de aviões de caça incidem em empresas com embaraços, inclusive judiciais, capazes de reflexos negativos no cumprimento, longo nos dois casos, dos contratos pelos fornecedores estrangeiros.
A inglesa BAE Systems, que está sob investigação na Inglaterra, apontada como parte ativa de grandes fraudes de corrupção em vendas para o exterior (situação citada por Clóvis Rossi na Folha de sábado), esteve referida aqui no início dos artigos sobre os negócios do armamentismo brasileiro. Ao tratar do avião cuja proposta consta ser a mais vantajosa, contra a pré-decisão voluntária de Lula pelo caro Rafale francês, o caça sueco Gripen NG foi identificado como produto do consórcio Saab-BAE-Volvo.
O lobby da Saab cuidou até de levar jornalistas brasileiros para conhecer a Suécia e o avião (sabe-se que nossos jornalistas são muito capacitados para analisar aviões de combate). Mas, por algum motivo não esclarecido, a BAE e a Volvo estão sistematicamente ausentes do noticiário. Não só o proveniente dos representantes da Saab, mas também o noticiário originado no Ministério da Defesa.
A gravidade e a dimensão financeira das práticas sob investigação na Inglaterra, a par da legislação e da sempre presente luta no Parlamento, sugerem que a possível incriminação da BAE lhe crie vários problemas. E, pelo mesmo motivo, com eventuais reflexos de efeito imprevisível em negócios futuros ou em curso.
Os pequenos submarinos comprados pelo Brasil, os Scorpène que deslocam 1.700 toneladas, foram criados como projeto militar franco-espanhol. Nele se uniram a indústria espanhola Navantia e a francesa DCNS, fusão do estaleiro estatal DCN com o setor naval do conglomerado Thales, privado.
Já quando era considerada a compra brasileira de um grupo de submarinos e de tecnologia, sendo o Scorpène um dos candidatos, a DCNS apresentou na França uma ação judicial contra a Navantia, para dissolver a sociedade. Acusou a sócia de usar em um submarino só espanhol características do Scorpène, ao que a Navantia respondeu ser o novo S-80 bem maior, com deslocamento de 2.300 toneladas. Logo aparecia explicação melhor para a ação da DCNS, que reagiria à preferência dos espanhóis por dar ao S-80 o sistema de defesa produzido pela norte-americana Lockheed-Martin, em lugar do sistema fabricado por sua associada francesa. Mas uma outra interpretação começa pelo encaminhamento, feito por Nicolas Sarkozy junto a Lula, da venda de um grupo de Scorpène ao Brasil.
Detentora do correspondente a 35% na fabricação do Scorpène até o início do confronto societário, em março a Navantia já deixava clara a disposição de lutar em todas as instâncias pelo que considere direitos seus. Os submarinos comprados pelo Brasil estão, portanto, em meio a uma disputa capaz de prolongar-se para além de entendimentos preliminares com eventual inclusão de brasileiros.

ARI CUNHA

Veículo mata mais que doença

CORREIO BRAZILIENSE - 06/10/09


O ministro José Gomes Temporão pediu a auxiliares pesquisa sobre o número de pessoas mortas no trânsito. Foram anotadas 35 mil. Verificando número, na União Europeia são 50 mil os atingidos. Em 2010 a previsão é para 25 mil. Este ano já são 30 mil. Lá o número diminui porque o trabalho de controle é real. Vê-se a diminuição dos veículos. É conjunto de países que vive em ordem. Morre-se muito nas estradas do Brasil pelo desleixo com que são feitas as pistas. Nem todo o asfalto é igual. Precisaremos fazer visitas ao estrangeiro. Assim saberíamos as causas, na maioria por imprudência ou abuso de velocidade sem cintos de segurança. Crianças morrem nos dentes de cachorros afoitos ou compram dezenas de críticos.


A frase que não foi pronunciada

“A única maneira de ter amigos é ser amigo.”
Outra conversa na coxia da política.

Pastelão
Com a prisão dos culpados pela divulgação antecipada da prova do Enem, será esclarecida a razão de se ter escolhido um órgão de imprensa como primeiro contato do criminoso.

Farc
Nada ainda sobre o empresário Vicente Vieira, sequestrado pelas Farc. O Ministério das Relações Exteriores tenta há semanas resolver o assunto com o governo de Chávez, mas sem sucesso.

Constituição
Tão novinha e com tantas propostas de emenda. Mais de mil na Câmara e mais de 400 no Senado. Comemora 21 anos a Constituição brasileira.

Eles
Ainda sobre a nossa Constituição, há a proposta de reduzir para 60 o número de artigos. Só para ilustrar, a Constituição norte-americana tem 222 anos, sete artigos, 27 emendas e começa com a frase: nós, o povo.

Fazer valer
Estrela do Senado nesta semana será o marco regulatório do pré-sal. O debate na Comissão de Infraestrutura vai concentrar-se na distribuição dos recursos.

Será?
Anote esta cifra: R$ 30 bilhões. É a previsão do deputado Chico Alencar para as despesas com as Olimpíadas de 2016. A Câmara e o Senado querem criar um conselho para monitorar as obras e os investimentos.

Esperança
Se a proposta do deputado federal Pepe Vargas passar, o reajuste dos benefícios prividenciários será acima do salário mínimo. Foi só mudar o cálculo do benefício para prever o aumento.

Farsul
Paralela à guerra entre produtores e ecologistas no Congresso, há uma preocupação: quem vai assumir a Federação da Agricultura do RS? Essa nomeação é crucial na questão dos índices de produtividade e Código Florestal.

Conquista
Toma a frente na questão dos cartórios o deputado Ivan Valente. A Câmara tem um projeto pronto para votação que isenta a nomeação por concurso. Segundo o deputado, não se pode jogar no lixo uma conquista republicana.


História de Brasília

Quem vem do Hotel de Turismo e passa pelo Palácio da Alvorada vê uma enorme vassoura plantada à entrada da residência presidencial. Foi um anônimo, o autor da proeza, para deixar sempre presente à lembrança do presidente a razão de sua vitória. (Publicado em 10/2/1961)

MAIS IMPOSTO

LUIZ GARCIA

Nível Barcelona

O GLOBO - 06/10/09


Pelo que se viu nas ruas, pelo que se leu, viu e ouviu na mídia, estamos todos, em rara unanimidade, cheios de alegria e esperanças com a escolha do Rio para sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Como era natural, inevitável.

Antes que me esqueça, Olimpíada não é, em senso estrito, outro nome para a festa: designa apenas o período de quatro anos entre os jogos.

Mas o uso manda mais que os dicionários e, se todo mundo disser que vamos ter uma olimpíada no Rio, podemos ficar tranquilos que é isso mesmo que acontecerá.

Há dois precedentes: a Copa do Mundo de 1950, para a qual foi construído o Maracanã, e, outro dia mesmo, os Jogos Pan-Americanos.

Nestes, não fizemos feio no papel de donos da casa. Inclusive na festa de encerramento, bonita no gramado e sensacional na arquibancada, principalmente quando o povão deixou claro que a festa era sua e não da tribuna de honra.

Há diferença considerável entre jogos olímpicos e Copa: nos jogos não existe país vencedor. O ranking de medalhas é feito pela mídia, e na verdade contraria a própria natureza da festa, que não nasceu para ser uma disputa entre países. Mas ele existe, e todo mundo lhe dá enorme importância.

Se vale o exemplo do Pan, não é exagero dizer que temos perfeitas condições de fazer uma bela festa. Inclusive porque, no nível de estado e município, a competência é — talvez seja melhor dizer que parece ser — bem maior hoje do que então. Quer dizer, podemos ter razoável esperança de que faremos uma festa bonita e que, depois que as visitas forem embora, sobrará muita coisa boa e bem feita para os donos da casa. Principalmente em termos de transportes públicos e moradia. Bem diferente do que aconteceu no Pan, portanto.

Governador e prefeito podem ter certeza de que sua competência será julgada nas duas áreas: e o julgamento realmente definitivo da opinião pública, é bom repetir, será sobre mudanças na vida e na face do Rio.

O carioca não abre mão: senhores, façam Jogos Olímpicos que impressionem todo mundo e embasbaquem depois o planeta mostrando a beleza em que se transformou a sede da festa. Nível Barcelona, no mínimo.

BENJAMIN STEINBRUCH

Cidade Maravilhosa

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/10/09


PARABÉNS , Rio de Janeiro! Parabéns, Brasil! Devemos comemorar muito a escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016. Até os mais ferrenhos antinacionalistas devem admitir que foi um orgulho para os brasileiros a vitória do Rio na disputa contra cidades do porte de Chicago, Tóquio e Madri.
A escolha do Comitê Olímpico Internacional abre um grande desafio ao espírito empreendedor brasileiro. Nos próximos sete anos, será preciso trabalhar muito, não só na realização de obras mas também na rigorosa fiscalização do uso de recursos bilionários, para comprovar aquilo que o presidente Lula disse no momento de euforia: "O Brasil deixou de ser um país de segunda classe".
Deixo de lado o tema olímpico, porém, para voltar a um assunto que também tem a ver com essa história de país de segunda classe. Há muitos anos vem sendo praticada no Brasil uma política de juros diferenciada daquela dos países de primeira classe.
Comportamentos ortodoxos e medrosos, sob pretexto de impedir a volta da inflação, levaram o país a quebrar recordes olímpicos em matéria de taxas de juros nominais e reais. Com isso, o Brasil deixou de aproveitar os melhores momentos de expansão da economia mundial nas últimas décadas, mantendo índices modestos de crescimento quando comparados com os de outros emergentes, como China, Índia e Rússia.
Quando explodiu a crise global, em setembro de ano passado, o país demorou muito para iniciar a redução dos juros. Em dezembro, o Fed já havia cortado a taxa nos EUA em 50%, de 2% para 1% ao ano. Até o ortodoxo BC europeu havia feito corte de 4,25% para 2,5%, mas a economia brasileira ainda tinha de suportar incríveis 13,75%. Só em janeiro o Banco Central começou a baixar a Selic, até chegar aos atuais 8,75%, ainda uma marca olímpica em tempos de juros negativos.
Pela primeira vez o país passou a conviver com juros básicos de um dígito. Mas nem bem a economia começou tirar o nariz da água e já está de volta o alarido sobre o risco de superaquecimento da atividade, numa atitude que o secretário da Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, chamou corretamente de "terrorismo fiscal para forçar uma expectativa de subida dos juros".
O superaquecimento temido é uma expansão do PIB entre 4% e 5% em 2010. Segundo o mercado "terrorista", esse nível exigiria uma elevação progressiva da taxa básica de juros a partir do primeiro semestre de 2010 para até 12%. Isso evitaria uma explosão inflacionária.
O governo brasileiro aumentou seus gastos e abriu mão de receitas de impostos para estimular a economia. Foi uma atitude correta e responsável, como fizeram todos os governos do mundo, diante da ameaça recessiva advinda da crise global. Uma parte desse estímulo fiscal deverá ser aos poucos retirada à medida que a economia reage -o IPI sobre veículos, por exemplo, já foi parcialmente reinstituído. O pretexto do risco inflacionário, porém, não justifica a imposição de travas que impedirão um crescimento continuado da economia e do emprego.
O próprio mercado prevê que a inflação ficará comportada dentro de meta de 4,5% em 2010. Além disso, pode-se aceitar até mesmo uma taxa maior do que essa, tendo em vista a tolerância já prevista na política de metas de inflação, de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
O que não se pode admitir é que, no período pós-crise, outra vez predominem políticas conservadoras que têm mantido o Brasil entre os países de segunda classe em matéria de crescimento econômico.

GOSTOSAS


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