terça-feira, setembro 22, 2009

AUGUSTO NUNES

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Terminada a montagem do plano destinado a devolver o companheiro Manuel Zelaya ao gabinete presidencial, o comando da Tríplice Aliança combinou o que faria cada integrante na invasão de Honduras. A mesada do estadista desempregado e as despesas da família continuariam sob o patrocínio da Venezuela. O apoio logístico para o deslocamento entre a fronteira e Tegucigalpa seria garantido pela vizinha Nicaragua. Casa, cama e comida ficariam por conta do Brasil.

Distribuídos os encargos, os generais Hugo Chávez, Daniel Ortega e Lula decidiram o que ocorreria depois da instalação de Zelaya na embaixada brasileira. Multidões de patriotas exigiriam nas ruas a imediata rendição dos golpistas e a restituição das chaves do palácio ao grande líder popular. Todas as nações do planeta celebrariam a bravura do governo brasileiro. Acuados, os usurpadores primeiro tentariam destruir a embaixada. Minutos mais tarde, rechaçados por voluntários da pátria, estariam cruzando o Caribe a nado na direção de Miami. E Zelaya festejaria a segunda posse acenando o chapéu branco ao lado da trinca de estrategistas.

Faltou combinar com os hondurenhos. Os combatentes que se animaram a sair de casa produziram manifestações parecidas com procissão de cidade interiorana em dia útil. Muitas nações acharam que o Brasil agiu direito, mas se limitaram a pedir ao governo interino que voltasse para casa. Não foram atendidas. Em vez de atacar a embaixada, o presidente em exercício determinou o corte da luz, da água e do telefone.

Só então o chanceler Celso Amorim lembrou que o Brasil decidiu faz mais de 50 dias não reconhecer o novo governo ─ e não se pode conversar com algo que nem existe. Se há queixas a fazer, portanto, devem ser encaminhadas ao quarto onde o presidente de verdade dorme durante a noite ou ao sofá onde cochila durante o dia (ao lado de uma bandeira de Honduras). é provável que os funcionários do prédio achem mais sensato recorrer à ONU ou ao bispo de Tegucigalpa. Enquanto o Itamaraty contempla o beco em que se meteu, o hóspede, ciente de que não preside coisa alguma há muito tempo, já deve estar reclamando do serviço da estalagem. Não lhe parece à altura da afamada hospitalidade brasileira.

Deveria ter sido uma irretocável operação político-militar. Por enquanto, parece a ária mais bisonha de uma Ópera dos Malandros.

ELIANE CANTANHÊDE

Não precisa exagerar


Folha de S. Paulo - 22/09/2009

Tudo bem que o advogado José Antônio Dias Toffoli tenha só 41 anos (faz 42 em novembro), pois a idade mínima para ministros do Supremo é 35. Mas, cá para nós, é um ponto a menos, já que ele pode ficar uns 30 anos no mesmo cargo, governo atrás de governo, como ocorre com Marco Aurélio Mello, indicado por Collor.

Tudo bem que Toffoli não tenha currículo brilhante, já que há bons profissionais com pouca densidade acadêmica em várias áreas. Mas, cá para nós, é um ponto a menos ele não ter mestrado nem doutorado, já que foi indicado não para um cargo qualquer, mas para o Supremo, cérebro e alma da defesa da Constituição brasileira.
Tudo bem que Toffoli levou pau para juiz já faz muito tempo, na década de 1990. Mas, cá para nós, é um ponto a menos ele virar ministro da mais alta Corte tendo sido incapaz de ser juiz estadual -não em um, mas em dois concursos.
Tudo bem que Toffoli seja camarada do Lula e do Zé Dirceu, advogado do PT em eleições e advogado-geral da União do governo amigo.
Mas, cá para nós, é um ponto a menos que sua ligação com o partido seja seu grande talento e maior trunfo. Ainda mais porque o mais eletrizante processo tramitando no Supremo é o do "mensalão", que pega petistas de jeito.
E tudo bem que Toffoli tenha duas condenações em primeira instância no Amapá, aparentemente por receber do Estado para defender a pessoa física do então governador. Afinal, condenações assim sempre podem ser, e estão sendo, revistas. Mas, cá para nós, é um ponto a menos, além de a questão poder parar no STF. Toffoli julgando Toffoli.
Diminuindo daqui e dali, o que justifica Toffoli ser nomeado para a oitava vaga (do total de 11) do STF na era Lula? Será que o Brasil não tem ninguém mais maduro, com sólido currículo, que não tenha tomado bomba para juiz, que seja mais do que só ligado ao PT e que não tenha condenação nenhuma?

GOSTOSA

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ANCELMO GÓIS

MENINA MÃE

O GLOBO - 22/09/09

Um estudo do Ministério da Saúde indica que a quantidade de adolescentes grávidas no Brasil pode estar diminuindo.
É que o número de partos realizados na rede pública em meninas entre 10 e 19 anos caiu uns 30% nos últimos 10 anos. Veja só. Em 2008, foram feitos 485 mil partos, contra 699 mil procedimentos realizados em 1998.
ALIÁS...
Até outubro, o governo vai distribuir quatro milhões de cadernetas para prevenção da saúde dos adolescentes.
Terá informações sobre saúde sexual e reprodutiva, alimentação, puberdade e drogas.
VACINA EM DEZEMBRO
A Sanofi-Aventis, em parceria com o Instituto Butantan, promete entregar em dezembro as primeiras doses da vacina contra a gripe suína.
PETIÇÃO VIRTUAL
Circula na internet um abaixo-assinado contra a indicação de José Antônio Toffoli ao STF.
Está num site americano (PetitionOnline) e, ontem, era o sexto manifesto mais acessado da página. Às 21 horas, eram exatas 1.801 assinaturas virtuais.
LULA NA COPA
Lula vai jantar com os membros do Comitê Executivo da Fifa, dia 29 agora, no Rio.
Pela primeira vez o comitê se reúne no Brasil.
MEXIDA
O novo presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, tem promovido uma troca de cadeiras na cúpula do bancão.
MORAR BEM
Gisele Bündchen, a nossa supermodelo, é uma das vítimas da crise imobiliária americana.
Segundo o New York Times, ela tentou vender por US$ 10,9 milhões uma cobertura triplex, perto do Rio Hudson. Só conseguiu US$ 4,5 milhões. Tadinha.
SORRISO DE CONDICIONAL
Chamou a atenção do pessoal do CNJ que inspecionou, semana passada, a 1ª Vara de Família de Petrópolis, no Rio, uma sentença de 1977, num processo de desquite:
“Já dizem que se casamento fosse coisa boa não precisaria de testemunha. O Brocardo se confirma quando D. Fulana aqui comparece com testemunhas para obter o descasamento. Enrolou-se o Sicrano não deixando paixão, tanto que
a Autora ostenta sorriso de livramento condicional.”
JORGE SEGURO
O advogado gente boa Jorge Hilário Gouvêa Vieira foi eleito presidente da Confederação Nacional de Seguros. Ele presidiu o Instituto de Resseguros do Brasil de 1985 a 1987.
RAP DO BAFÔMETRO
O compositor e cantor Gabriel o Pensador foi parado na blitz da Lei Seca, outro dia. Os fiscais o reconheceram e pediram um rap do bafômetro.
Ele não foi pego pelo bafo, mas por atraso de IPVA.
ÔNIBUS LACRADO
A juíza Márcia Cunha, da 2ª Vara Empresarial do Rio, mandou ontem a Viação Oeste Ocidental lacrar os ônibus que servem à linha 397 (Campo Grande-Praça Tiradentes) e fazer novas vistorias nos veículos.
É que dia 18, devido ao péssimo estado da frota, um dos carros da empresa fez mais uma vítima ao atropelar uma adolescente na Av. Presidente Vargas, no Centro do Rio de Janeiro.

ARNALDO JABOR

Devo pedir champanhe ou cianureto?

O GLOBO - 22/09/09

O grande Cole Porter tem uma letra de música que diz: "Questões conflitantes rondam minha cabeça/devo pedir cianureto ou champanha?"

Sinto-me assim, como articulista. Para que escrever? Nada adianta nada. Ando em crise, como vejo nos desenhos do excepcional Angeli, gênio da HQ. E como meu trabalho é ver o mal do mundo, um dia a depressão bate. Não aguento mais ver a cara do Lula de boné, dançando xaxado pelo pré-sal; não aguento mais ver o Sarney mandando no país, transformando-nos num grande "Maranhão", com o PT no bolso do jaquetão de teflon, enquanto comunistas, tucanistas e fascistas discutem para ver quem é mais de "esquerda" ou de "direita", com o Estado loteado entre pelegos sem emprego e um governo regressista nos jogando de marcha a ré para os anos 40; não dá mais para ouvir quantos campos de futebol foram destruídos por mês na Amazônia, quando ninguém jamais consegue impedir as queimadas na região, enquanto ecochatos correm nus na Europa, fazendo ridículos protestos contra o efeito estufa; passo mal quando vejo a cara dos oportunistas do MST, com a bênção da Pastoral da Terra, liderando pobres diabos para a "revolução" contra o capitalismo; não aguento secretários de Segurança falando em "forças-tarefas" diante de presídios que nem conseguem bloquear celulares; não suporto a polêmica nacionalismo pelego X liberalismo tucano de hímen complacente; tenho enjoo com vagabundos inúteis falando em "utopias", bispos dizendo bobagens sobre economia, acadêmicos rancorosos decepcionados, mas secretamente apaixonados pela velha esquerda.

Tremo ao ver a República tratada no passado, nostalgias de tortura, indenizações para moleques, heranças malditas, ossadas do Araguaia e nenhuma reforma no Estado paralítico e patrimonialista; não tolero mais a falta de imaginação ideológica dos homens de bem, comparada com a imaginação dos canalhas, o que nos leva à retórica de impossibilidades como nosso destino fatal, e vejo que a única coisa que acontece é que não acontece nada, apesar dos bilhões em propaganda para acharmos que algo acontece.

Não aturo essa dúvida ridícula que assola a reflexão política: paralisia X voluntarismo, processo X solução, continuidade X ruptura; deprimo quando vejo a militância dos ignorantes, a burrice com fome de sentido, tenho engulhos ao ver a mísera liberdade como produto de mercado, êxtases volúveis de "clubbers" e punks de butique, descolados dentro de um chiqueirinho de irrelevâncias, buscando ideais como a bunda perfeita, bundas ambiciosas, querendo subir na vida, bundas com vida própria, mais importantes que suas donas; odeio recordes sexuais, próteses de silicone, pênis voadores, sucesso sem trabalho, a troca do mérito pela fama; não suporto mais anúncio de cerveja com louras burras, detesto bingo, "pitbulls", balas perdidas, suspense sobre espetáculo de crescimento que só acontece na mídia; abomino mulheres divididas entre a piranhagem e a peruice. Onde está a delicadeza do erotismo clássico, a poética do êxtase?

Repugnam-me os sorrisos luminosos de celebridades bregas, passos-de-ganso de manequim, notícias sobre quem come quem; horroriza-me sermos um bando de patetas de consumo, crianças brincando num shopping, enquanto os homens-bomba explodem no oriente e ocidente, enquanto desovam cadáveres na faixa de Gaza e em Ramos, com ônibus em fogo no Jacarezinho e Heliópolis, museus superfaturados evocando retorcidos bombardeios em vez de hospitais e escolas, espaços culturais sem arte alguma para botar dentro, a não ser sinistras instalações com sangue de porco ou latinhas de cocô de artistas picaretas vestidos de "contemporâneos".

Não aguento chuvas em São Paulo e desabamentos no Rio, enquanto a Igreja Universal constrói templos de mármore com dinheiro arrancado dos pobres, e Sonia Hernandez, a perua de Cristo do Renascer, reza de mãos dadas com Dilma Rousseff de olhos fechados, orando pelos ideais de Zé Dirceu.

Enquanto isso, formigueiros de fiéis bárbaros no Islã recitam o Corão com os rabos para cima antes de pilotar caminhões-bomba, xiitas sangrando, sunitas chorando, tudo no tão mal começado século XXI; não aguento ver que a pior violência é nosso convívio cético com a violência, o mal banalizado e o bem como um charme burguês; não quero mais ouvir falar de "globalização", enquanto meninos miseráveis fazem malabarismo nos sinais de trânsito, cariocas de porre falando de política e paulistas de porre falando de mercado, festas de celebridades com cascata de camarão, matéria paga com casais em bodas de prata.

Lula com outro boné, políticos se defendendo de roubalheira, falando em "honra ilibada", "conselho de ética arquivado", suplentes cabeludos e suplentes carecas ocultando os crimes, anúncios de celulares que fazem de tudo, até "boquete"; dá-me repulsa ver mulheres-bomba tirando foto com os filhinhos antes de explodir e subir aos céus dos imbecis; odeio o prazer suicida com que falamos sem agir sobre o derretimento das calotas polares, polêmicas sobre casamento gay, racismo pedindo leis contra o racismo; odeio a pedofilia perdoada na Igreja, vomito ao ver aquele rato do Irã falando que não houve Holocausto, sorrindo ao lado do Chávez, cercados pelas caras barbudas de boçal sabedoria de aiatolás; repugnam-me as bochechas da presidente Cristina Kirchner destruindo a Argentina, Maluf negando nossa existência, Pimenta das Neves rebolando em cima dos buracos do Código Penal; confrange-me o papa rezando contra a violência com seus olhinhos violentos; não suporto cúpulas do G-20 lamentando a miséria para nada; tenho medo de tudo, inclusive da minha renitente depressão; estou de saco cheio de mim mesmo, dessa minha esperançazinha démodé e iluminista de articulista do "bem", impotente diante do cinismo vencedor de criminosos políticos.
Daí, faço minha a dúvida de Cole Porter: devo pedir ao garçom uma pílula de cianureto ou uma "flûte" de champanhe rosé?

TERCA NOS JORNAIS

- Globo: Governo antecipa campanha e ministros somem de Brasília

- Folha: Zelaya volta e se refugia na embaixada brasileira

- Estadão: Santander lidera volta das ofertas de ações

- JB: 32 milhões melhoram de vida

- Correio: Diminui a população de ricos em Brasília

- Valor: BNDES defende processo de consolidação na siderurgia

- Estado de Minas: Temporal alaga, destrói e deixa a cidade em trevas

- Jornal do Commercio: Receita vai abrir concurso