sábado, setembro 12, 2009

AUGUSTO NUNES

veja on-line

O assassino chamado Clemente era da Paz no sobrenome

12 de setembro de 2009

Ele chegou da rua no começo da noite, hasteou-se diante do irmão mais velho sentado na poltrona da sala, esperou a pausa na leitura do jornal e recitou: “Fiz a minha opção político-ideológica definitiva. Sou marxista-leninista.” Desconcertou-se ao notar que a expressão do primogênito exibia a placidez de quem ouvira o caçula avisar que estava de saída para tomar algumas no bar da esquina.

“Você já leu muita coisa sobre isso?”, perguntou em tom displicente o alvo da notícia formidável. “Li o necessário”, mentiu naquele outubro de 1968 o estudante de 19 anos que, em janeiro, trocara a cidade interiorana pelo Rio para cursar a Faculdade Nacional de Direito. “Não vai mais piorar a imagem do Brasil no Exterior?”, quis saber o irmão com um sorriso de Mona Lisa.

Pelo projeto original, a faculdade era só a primeira escala na trajetória que o levaria ao Instituto Rio Branco, depois ao Itamaraty e, se Deus ajudasse, à embaixada do Brasil em Paris. Com cara de ofendido, avisou que não queria nada com a aristocracia decadente, nem com a burguesia emergente. “O dever de um revolucionário é fazer a revolução e não tenho dúvidas sobre o que devo fazer na vida”, resumiu.

“Que bom!”, ouviu. “Tudo o que eu queria era ter menos de 20 anos e nenhuma dúvida. Estou com 25 e cheio delas”. Ambos em silêncio, só o caçula escutou o estrondo das interrogações soterrando o poço de certezas inaugurado horas antes. As 19 palavras induziram o revolucionário de 19 anos a passar quatro ou cinco dias flagelando-se com perguntas. As respostas o aconselharam, no fim de 1969, a recusar a adesão à luta armada. Só por isso não enveredou pela trilha à beira do penhasco.

Quem começasse a percorrê-la, constatou-se na virada da década, teria de avançar até a chegada - ainda que não houvesse chegada. Quem tentasse desviar-se do caminho ou propor mudanças de rota estaria exposto aos castigos reservados pelo código penal da luta armada aos traidores, vacilantes ou desertores. Os julgamentos eram sempre sumários e os jovens, assombrosamente severos.

Márcio Leite de Toledo tinha 19 anos quando foi enviado a Cuba pela Aliança Libertadora Nacional, para fazer um curso de guerrilha. Ao voltar em 1970, tornou-se um dos cinco integrantes da Coordenação Nacional da ALN. Também com 19 anos, lá já estava Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz. Em outubro, durante uma reunião clandestina, o quinteto de generais soube do assassinato de Joaquim Câmara Ferreira, que em novembro do ano anterior substituíra o chefe supremo Carlos Marighela, fuzilado numa rua de São Paulo. Márcio propôs uma pausa na guerra antes que fossem todos exterminados.

Não era a primeira vez que divergia dos companheiros, lembrou Carlos Eugênio. Desconfiado, decidiu que algo havia por trás daquilo. Em duas horas, convenceu-se de que o dissidente estava prestes a traí-los e entregar à polícia o muito que sabia. Em dois dias, convenceu o restante da cúpula a subscrever a dedução. Com o endosso dos companheiros, montou o tribunal revolucionário, propôs a sentença de morte e ajudou a executá-la.

Convidado para uma reunião de rotina com os carrascos, Márcio saiu para o encontro com a morte, no centro de São Paulo, no fim da tarde de 23 de março de 1971. Antes de sair do apartamento onde se escondia, o condenado escreveu que “nada o impediria de continuar combatendo”. Não podia imaginar que seria impedido por oito tiros.

O assassino hoje sessentão admite que o crime foi “um erro”, mas não se arrepende do que fez. Na guerra, explica o justiceiro, coisas assim acontecem. Depois do crime, ele se tornou muito respeitado pelos companheiros, que o conheciam pelo codinome talvez sugerido pelo Paz do sobrenome: Clemente.

Neste fim de semana, o ministro Tarso Genro voltou a defender a revisão da Lei da Anistia. Os parentes de Márcio Leite de Toledo, que vivem em Bauru, esperam que seja efetivamente ampla, geral e irrestrita. Tarso divide o Brasil dos anos 70 entre comparsas da ditadura e heróis da resistência, Como nunca abriu a boca sobre o caso, não se sabe se o jovem assassinado figura na ala dos sergios fleurys ou no bloco dos cesares battistis. Carlos Eugênio é companheiro, claro. Tem todos os atributos necessários para envelhecer em sossego numa assessoria especial do Ministério da Justiça.

FERNANDO RODRIGUES

Um conceito inexistente

FOLHA DE S. PAULO - 12/09/09

BRASÍLIA - A discussão sobre liberar ou não a internet durante o período eleitoral em 2010 tem no seu DNA um componente relevante: a inexistência do conceito de liberdade de expressão como um valor inegociável na sociedade brasileira. Aliás, esse é um traço característico dos latino-americanos.

Há notícias sobre restrições recentes à mídia na Venezuela, Nicarágua, Equador, Bolívia e Argentina. No Brasil, o Congresso embarca na mesma canoa. Deseja interferir sobre o conteúdo da internet.

O pretexto é garantir tratamento isonômico aos candidatos em 2010. Alguns senadores pretendem padronizar o modo de produção em portais, sites e blogs. A obsessão é com endereços comerciais de grande audiência, como UOL, Terra e G1, por exemplo.

Sem uma regra, argumenta um dos relatores do projeto no Senado, Eduardo Azeredo (PSDB-MG), "portais de notícia, diferentemente do que acontece com os jornais", podem dar "tratamento privilegiado a determinados candidatos".

O senador mineiro quer nos "portais noticiosos" um procedimento semelhante ao imposto ao rádio e à TV. Debates, só com o número mínimo de candidatos estipulado em lei.

Preocupado em não melindrar seus eleitores, Azeredo afirma estar mantendo "a livre manifestação do pensamento" em "blogs, redes sociais, sites de interação e de mensagens instantâneas".

Mas blogs, mesmo os particulares, não existem sozinhos no espaço. Estão hospedados muitas vezes nos mesmos portais noticiosos alvo da possível censura. A regra proposta equivale a uma lei obrigando pedestres a não conversarem em um dos lados da calçada.

O Congresso tem uma chance rara de recuperar parte de sua credibilidade se liberar a web na semana que vem. Se prevalecer a restrição, deputados e senadores atrelam de uma vez suas imagens ao passado e à velha forma de fazer política.

LEVANDO VARA

BRASÍLIA - DF

A opção de Ciro

Luiz Carlos Azedo

CORREIO BRAZILINSE - 12/12/09

Apesar do suspense que mantém sobre o assunto, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) terá de mudar seu domicílio eleitoral para São Paulo (ou outro estado) se quiser disputar a Presidência da República. Como seu irmão, o governador Cid Gomes (PSB), tentará se reeleger ao cargo, a única opção eleitoral de Ciro no Ceará é a reeleição à Câmara dos Deputados, para onde não quer voltar. Está na Constituição, no Inciso V do Parágrafo 14, que irmão de governador não pode ser candidato, exceto à reeleição ao cargo que já ocupa.

A propósito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desistiu de transformar a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na candidata única do governo, mas não perdeu a perspectiva de uma eleição plebiscitária. Por isso, passou a tratar Ciro Gomes e Marina Silva (PV) como candidatos da base governista. Com relação a Ciro, não tem a menor dúvida disso; quanto à Marina, nem tanto, pois a ex-petista é uma candidata anti-Dilma.

Gesto

A pedido do GDF, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva antecipou a sanção do projeto que batiza de Rodovia Juscelino Kubitschek o trecho da BR-040 entre Brasília e Petrópolis (RJ) para coincidir com o aniversário de JK, que completaria 107 anos hoje. O prazo para sanção expirava apenas em 23 de setembro.

Encalhe

Desde 15 de julho, a Comissão Mista de Orçamento não vota projetos de créditos enviados pelo Executivo. A paralisia na Congresso no segundo semestre fez acumular 34 projetos que alteram a destinação de recursos do Orçamento de 2009, que só poderão ser aplicados depois de aprovados. A quantia parada é de R$ 6,7 bilhões.

Prejuízo

O líder do PSDB, José Aníbal, ainda não digeriu a formação das comissões especiais para discutir o pré-sal, das quais foram excluídos os tucanos e os democratas. O tucano paulista contabiliza a retirada do pedido de urgência para votação dos projetos como uma vitória da oposição, mas sabe que a questão de fundo - a adoção do regime misto, com o novo sistema de partilhano pré-sal - é uma batalha perdida para os que querem manter intocável o marco regulatório aprovado no governo Fernando Henrique Cardoso, cujo ex-genro, David Zylbersztajn, é o pai.

Racha

O líder do PPS, Fernando Coruja, rebateu as críticas dos aliados ao fato de ter apoiado a indicação do deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP) para presidir uma das comissões especiais do petróleo, a que vai discutir a capitalização da Petrobras. Segundo ele, o PPS sempre defendeu a empresa e não encampa as posições do líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), que são ultraliberais.

NO CAFEZINHO

Heterodoxo/ A rodada de propostas aberta no programa F-X2 depois de o governo avisar que "abrirá negociações" com a França para a compra do Dassault Rafale, na prática, é uma etapa não prevista na concorrência. As Bafo (Best and Final Offer) - sigla para Proposta Final e Definitiva, em inglês - haviam sido remetidas à Força Aérea pelas três empresas concorrentes, no fim de junho.

Indecisos/ A dois meses das eleições, os advogados de Brasília ainda estão indecisos sobre a definição do presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Pesquisa encomendada à Opine pela chapa Questão de Ordem mostra que 62,6% da categoria não têm candidato definido. Na sondagem espontânea, a liderança é de Franciso Caputo Neto (Questão de Ordem), com 14% das intenções de voto. Ele é seguido por Ibaneis Rocha (Unidos pela Ordem), com 7,1%, e Esdras Dantas (Ordem na Casa), com 4,1%. A eleição será em 16 de novembro.

Intenção/ Pré-candidato ao governo da Bahia, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima,encomendou a primeira pesquisa do PMDB sobre a sucessão ao Palácio de Ondina. Nas sondagens já levadas a público pelos concorrentes, o peemedebista tem aparecido em terceiro, atrás do ex-governador Paulo Souto (DEM) e do governador Jaques Wagner (PT).

Welcome/ Sem conseguir convencer o Itamaraty a liberar turistas americanos do visto, já que o órgão não abre mão da reciprocidade com os Estados Unidos, o governo decidiu investir na flexibilização das normas de ingresso no país. A proposta prevê estender a duração do visto de cinco para 10 anos e aumentar o número de consulados brasileiros no exterior.

PANORAMA

REVISTA VEJA
Panorama

Holofote


Felipe Patury

Toffoli X Badin

Sergio Lima/Folha Imagem

Azedou a relação do advogado-geral da União, José Antonio Toffoli, com o presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Arthur Badin. O motivo é a defesa do Cade em processos judiciais. Toffoli alega que essa tarefa cabe a ele. Badin quer que ela fique a cargo do procurador-geral do Cade, Gilvandro Araújo. A situação anda tão ruim que, na semana passada, Toffoli deu um chá de cadeira de mais de uma hora em Badin, atendeu-o de pé e disse a assessores que não quer mais falar com o colega de governo. Badin trava outra disputa com o Banco Central. Ele defende que o Cade analise a fusão do Itaú com o Unibanco. O BC argumenta que envolver o Cade nesse tipo de decisão coloca em risco o sistema financeiro.

Rio 40 graus

Mastrangelo Reino/Folha Imagem


A CSN, a siderúrgica mais valiosa das Américas, é comandada de São Paulo porBenjamin Steinbruch, mas sua sede fica no Rio. Steinbruch pretendia corrigir essa distorção neste mês. Para isso, preparou um pacote de bondades, como o aumento de compras de fornecedores fluminenses. Supôs que essas medidas ajudariam a tornar mais palatável sua decisão. Nada disso. O governador Sérgio Cabral subiu pelas paredes. Seus assessores ameaçaram apertar a fiscalização sobre a empresa. A CSN adiou o plano.

O PT de olho em Chalita

Niels Andreas/AE


Em dez dias, o vereador paulistano Gabriel Chalita se muda de mala e cuia do PSDB para o PSB, que lhe prometeu legenda para disputar o Senado. Parece um fato pequeno, mas não é. O Planalto acompanha essa movimentação. Os assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva depositam enormes esperanças em Chalita. Acreditam que, ao tê-lo como aliado, terão mais chances de reeleger o combalido senador Aloizio Mercadante. Supõem também que o vereador dará mais peso ao frágil palanque paulista da candidata à sucessão de Lula, Dilma Rousseff. Sonhavam até com a possibilidade de Chalita ser seguido por seu amigo Geraldo Alckmin, provável candidato tucano a governador. Chalita bem que tentou levá-lo, mas não conseguiu.

Mal de saúde

Marcelo Elias/Gazeta do Povo


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem o hábito de passar recados a seus ministros falando mal deles para outros interlocutores. A vítima da vez é José Gomes Temporão, da Saúde. Em conversas com os caciques do PMDB, Lula responsabilizou-o pela rejeição no Senado, em 2007, da manutenção da CPMF. Disse que Temporão é bom na TV, mas ruim na execução. Por isso, vai se envolver na batalha para criar o tributo, agora batizado de Contribuição Social para a Saúde.

Novas regras para minerar

Givaldo Barbosa/Ag. O Globo


Vem aí um novo código de mineração. Em vigor há quarenta anos, o atual está defasado. Suas leis permitiram que se formasse um mercado negro de alvarás de lavra. Hoje, o governo concede esses títulos a qualquer pessoa, sem que ela precise ser capaz de explorar a área requerida. A nova legislação exigirá que os pretendentes provem que têm como investir na mineração. O prazo máximo para pesquisa também deve cair de sete para três anos. Mais: as licenças deixarão de ser concedidas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral. Serão uma prerrogativa do ministro de Minas e Energia. O titular da pasta, Edison Lobão, abrirá o projeto a consulta pública em outubro.

O namorado de Madonna estreia como VJ

Nelson Antonie/AP


O modelo Jesus Luz, namorado da cantora Madonna, quer trocar de profissão e ingressar no mundo da música. Com a ajuda dela, já fez um curso de DJ e se apresentou no mês passado em uma boate paulistana. Dará o próximo passo rumo à sua nova carreira em 1º de outubro, quando apresentará o VMB-2009, o prêmio anual da MTV. Jesus disse "amém" para o canal de música na semana passada - e não cobrou cachê pelo primeiro trabalho como VJ. Seu parceiro de palco ainda não está definido. A MTV prefere uma mulher. Quem sabe uma loiraça, para lembrar a namorada famosa do modelo.

MERVAL PEREIRA

Defesa reforçada

O GLOBO - 12/09/09

Na esteira das negociações para a compra de material bélico com o compromisso de transferência de tecnologia, o Ministério da Defesa está preparando um conjunto de medidas que mudará praticamente todo o arcabouço jurídico do sistema de defesa nacional, plano que foi apresentado às lideranças partidárias na semana passada. O deputado Raul Jungmann, membro da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa da Câmara, considera que “estamos tendo a maior mudança em meio século, talvez um século, dentro da estrutura de defesa e das Forças Armadas

Mudará a estrutura do próprio Ministério da Defesa, com a criação do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, sob controle do Ministro da Defesa, o que não acontecia antes. Na definição de Jungmann, “o impasse foi rompido e o nervo do poder, que permanecia fora do Ministério da Defesa, agora vem para dentro”.

Os diversos projetos de lei que compõem a reformulação do sistema de segurança darão condições para a criação de um complexo industrial-militar, com mudanças na lei das licitações, criando um regime especial para a indústria bélica e mexendo na participação do capital, com o país voltando a ter sociedade em empresas de material bélico, com direito a “golden share”.

Por isso a ênfase que o governo está dando à transferência de tecnologia nos contratos que está negociando, tanto com a França — com a compra dos submarinos, inclusive um nuclear, já fechada — quanto com os Estados Unidos e a Suécia no caso dos caças, que devem acabar mesmo sendo os Rafale franceses.

Expedito Bastos, pesquisador de assuntos militares da Universidade Federal de Juiz de Fora, lembra que “no passado, não muito remoto, guardadas as devidas proporções, fizemos algo parecido em outras áreas, e nossa indústria de material de defesa teve um breve auge e uma grande agonia, e não aprendemos muito com aquele passado, até porque não aprendemos ainda a copiar”.

Já Clóvis Brigagão, diretor do Centro de Estudos das Américas da Universidade Candido Mendes, lembra que haver transferência de tecnologia importa mais se houver transferência desse conhecimento para o uso civil, “coisa que não ocorreu durante o regime militar, com a indústria militar criada; nada foi transferido daquela indústria militar para o uso civil”.

O deputado Raul Jungmann considera que essas mudanças estruturais, que chegarão ao Congresso na forma de diversos projetos de lei, complementarão a grande mudança institucional acontecida no governo Fernando Henrique, que foi a criação do Ministério da Defesa.

Na sua visão, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, está “substantivando o cargo”, que até o momento é um vazio em termos de poder real.

Para Jungmann, a origem desta mudança está na crise aeroportuária, no chamado “apagão aéreo”, quando houve uma quebra de hierarquia com a autorização para que o Ministério do Planejamento negociasse diretamente com os controladores de voo, contornando a autoridade do chefe da Aeronáutica, brigadeiro Junito Saito.

“Naquele instante Lula chama o Jobim para assumir o Ministério da Defesa, e ele começa a trabalhar sobre a institucionalização da estrutura do ministério, de comum acordo com os militares”, analisa Jungmann.

Entre os projetos, está sendo criada uma segunda frota, que vai para a fronteira na Amazônia; serão remanejados todos os contingentes aerotransportados para o centro do país, com as brigadas de ação rápida; mudará o decreto de guerra, que é de 1980; e haverá um tratamento especial para o preparo e emprego das Forças Armadas em situação de paz e a garantia de lei e de ordem.

A atuação das Forças Armadas no combate ao crime organizado nos centros urbanos é um dos temas mais delicados da segurança nacional, e um dos primeiros que o ministro Nelson Jobim classificou como prioritário ao assumir o cargo.

A nova estrutura legal que permita a atuação eficaz dos militares nos conflitos internos, as chamadas “guerras assimétricas” do Estado contra organizações criminosas, tem que ser cuidadosamente montada, e o exemplo é a atuação bem-sucedida do Exército brasileiro no comando da Força de Paz da ONU no Haiti, onde conseguiu retomar o controle de territórios que eram dominados por gangues paramilitares.

Uma das reclamações recorrentes dos comandantes militares é que os políticos, ao chamarem publicamente o Exército para ajudar no combate ao crime organizado, não tratam de questões fundamentais de ordem legal para proteger os soldados brasileiros que participem de ações urbanas.

Na nova legislação, os militares que atuarem na garantia da lei e da ordem em tempo de paz serão julgados pelas leis militares. No acordo do Haiti com a ONU estão incluídos “privilégios” da tropa, que na verdade são garantias dos militares para desenvolver suas atividades.

Ao contrário, no Brasil, o Exército não tem até hoje amparo legal para atuar nessas operações. Segundo os comandantes militares, se não for dado “poder de polícia” às Forças Armadas, os soldados correrão o risco de uma condenação por causa de uma operação.

Esse “poder de polícia” será dado ao Exército, nas ações de fronteira; à Marinha, no patrulhamento interno e das águas jurisdicionais brasileiras; e à Aeronáutica, no trabalho de patrulhamento, que já tem o reforço da Lei do Abate.

O deputado Raul Jungmann saúda essas mudanças, mas lembra que o país não está equipado institucionalmente para lidar com grandes compras de material bélico como as que estão acontecendo agora: “Sem institucionalização, ficamos como agora: come-se uma moqueca e de sobremesa levamse 36 aviões”, ironiza, referindose à provável compra pelo Brasil dos aviões franceses.
(Continua amanhã)

O NU NA ARTE

William Blake

Raphael Warns Adam and Eve, détail, 1808

WALTER CENEVIA

Mercosul em silêncio

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/09/09

OS EVENTOS das últimas semanas, envolvendo as Américas Central e do Sul, mostram as dificuldades do estabelecimento de uma linha razoavelmente unitária dos países envolvidos, no campo da política, da economia e mesmo do direito. Daí a ideia deste comentário, que também toma por mote uma tese de doutorado defendida por Marcilio Toscano Franca Filho, na Universidade de Coimbra (Portugal), publicada em livro (420 páginas) da editora portuguesa Almedina.
O escritor autodefine, no prefácio, o objeto visado, ou seja "as consequências jurídicas do silêncio do legislador nacional", ao se omitir na tarefa do aperfeiçoamento do progresso da integração nacional. Anota mais que, no Mercosul, "hoje não há ruído maior que o silêncio do legislador nacional". À omissão referida se acrescentam as tendências do Executivo, repartidas pelo critério das relações pessoais do presidente da República.
Marcilio teve como orientador o professor Rui Moura Ramos, que conhece bem o Brasil. A monografia sustenta que a integração econômica é um dos instrumentos destinados à inserção regional e global de nosso país, para a formação de "laços mais firmes e estáveis" em nosso espaço continental.
A cidadania brasileira e seus atuadores do direito têm o dever, na crise, que vai da saúde financeira à saúde do ser humano, de verificar os efeitos favoráveis que podem advir da formação de sólidos blocos regionais, com meios jurídicos aptos a permitir a proximidade das posições diversas, diante de contrapartes mais aparelhadas de recursos. Em termos de saúde do ser humano o drama atual da influenza A demonstra o distanciamento e o silêncio dos parceiros.
A monografia merece atenção, pois o suporte legislativo de nosso país, em termos de Mercosul, depois dos impulsos iniciais, não resultou em progresso tão rápido quanto seria de esperar. Afinal, vivemos a caminhada do Mercosul com a boa experiência anterior da Europa.
As dificuldades do Velho Mundo foram sempre maiores que as nossas, até pelos efeitos remanescentes dos conflitos, ao longo dos séculos. O parágrafo único do artigo 4º da Constituição parece letra morta ao afirmar a busca da integração em todos os níveis, para a comunidade dos povos da América Latina.
Para superar a predominância de interesses uninacionais, é necessária a determinação de normas jurídicas imponíveis a todos os signatários, presentes e futuros, do Tratado do Mercosul.
Afinal, no sentido oposto, a omissão do legislador "pressupõe uma exigência superior ou anterior de atuação legislativa positiva -é um não fazer aquilo a que se estava juridicamente obrigado".
No dizer de Franca Filho, os Estados integrados ao Mercosul têm "o dever e a obrigação de não frustrar sua aplicação, comprometendo-se sim a concretizar todos os objetivos neles prescritos". Vai a ponto de dizer que a omissão de "diretrizes mercosulinas constituiu um ato ilícito do legislador brasileiro".
Voltado predominantemente para a Europa e para os Estados Unidos, o Brasil vem desenvolvendo atividade jurídico-legislativa muito política, pouco jurídica e quase nada legislativamente equilibrada, sem afastar o perfil "imperialista" que tem parecido predominante nos dos governantes nacionais.

J. R. GUZZO

REVISTA VEJA
J.R. Guzzo

No quarto escuro

"Seria provavelmente um pouco mais fácil compreender
para onde o Brasil está indo se fosse possível conhecer
um pouco mais da ficha psicológica do presidente"

Raramente, ou nunca, se ouve falar de presidentes da República, primeiros-ministros ou outros tops de linha da vida pública que vão regularmente ao psicanalista – ou ao psiquiatra, psicólogo, psicoterapeuta, como se queira. Por que será? Não haveria nada de mau se fossem. Afinal, são seres humanos como quaisquer outros; como quaisquer outros, têm uma cabeça e os problemas que vêm dentro dela. O fato de ocuparem o topo da cadeia alimentar do mundo político, em suma, não os livra da sentença que o compositor Caetano Veloso tornou célebre: "De perto, ninguém é normal". Pensando bem, deveriam recorrer a esse tipo de assistência até mais que os cidadãos comuns, pois faz parte de sua atividade tomar decisões que podem afetar todo mundo, e muitas vezes o que decidem é o resultado do que têm lá no fundo de sua personalidade.

Basta olhar um pouco mais o comportamento dessa gente toda para constatar que o assunto deveria merecer atenção maior do que a que geralmente recebe. O ex-presidente George W. Bush, por exemplo, dava a impressão de ser uma pessoa claramente necessitada de algum tipo de ajuda psicológica profissional. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, cuja hiperatividade é tão comentada, parece ser outro caso interessante. Ninguém acharia estranho, também, se cruzasse na antessala do analista com Hugo Chávez, Silvio Berlusconi ou Muamar Kadafi. E esse cidadão que era presidente de Honduras e vive perturbando a paciência de meio mundo para recuperar o emprego que perdeu? O homem não aparece, nunca, sem aquele chapéu; é esquisito.

E por aqui? Por aqui temos o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua própria personalidade. Cada caso é um caso, claro. Ninguém está dizendo, pelo amor de Deus, que os nomes citados se equivalem, ou têm os mesmos problemas. Trata-se, simplesmente, de observar que o presidente da República também está sujeito às diversas complicações que povoam o quarto escuro onde funciona a mente dos homens. Ou seja, não dá para entender apenas através da política o que ele diz e faz; certas coisas só mesmo o psicanalista pode explicar, e ainda assim não é sempre que consegue. O fato é que seria provavelmente um pouco mais fácil compreender para onde o Brasil está indo se fosse possível conhecer um pouco mais da ficha psicológica do presidente. Que problema poderia haver nisso? Psicanálise, é verdade, é vista como coisa de classe média alta; mas Lula é da classe média alta, pelo menos. Também é certo que custa caro, mas isso não seria problema para quem já tem direito a Airbus particular, cartão de crédito corporativo e plano médico pago pelo Erário; duas boas sessões de cinquenta minutos por semana não iriam destruir o orçamento da União. Falta de tempo para deitar no divã? Não seria por aí, certamente.

Os ganhos, em compensação, poderiam ser bem interessantes. Um profissional das ciências ligadas à mente talvez ajudasse a entender, por exemplo, por que o presidente praticamente não consegue dizer um "bom dia" sem falar mal de seus opositores, reais ou imaginários, sobretudo se fizeram parte do governo que o antecedeu. De onde vem tanto rancor? Não é normal. Mesmo quando está comemorando alguma coisa boa, real ou imaginária, Lula sempre encontra um jeito de sair de pau para cima de alguém; dá a impressão de que só fica satisfeito, mesmo, quando agride, critica ou faz pouco de quem coloca na sua lista de adversários. É um problema, porque esse tipo de distúrbio, quando vem de cima, parece transmissível; ministros de estado, principalmente se são candidatos à sucessão presidencial, aliados e bajuladores em geral adquirem com facilidade os mesmos sintomas. E a soberba, então? Seria difícil encontrar, na vida pública brasileira, alguém tão convencido quanto Lula da sua própria superioridade; acha que cabe a ele ou a seu governo, sem a menor dúvida, tudo o que existe ou pode existir de bom neste mundo, da descoberta do pré-sal à invenção do ovo frito. Como já observou o poeta Ferreira Gullar, é um dos grandes mistérios da nossa história saber como o Brasil conseguiu sobreviver sem Lula durante os primeiros 502 anos de sua existência. Os psicanalistas também teriam um trabalhão para determinar por que o presidente fica tão bravo, o tempo todo, com os que têm ideias diferentes das dele em questões de governo; são acusados de ser inimigos do Brasil, dos pobres, da justiça, do progresso e dos Dez Mandamentos. Na melhor das hipóteses, como ocorreu há pouco, são chamados por Lula de "imbecis".

Cabeça a estudar, sem dúvida.

GOSTOSA


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ARI CUNHA

Contra jornais

CORREIO BRAZILIENSE - 12/09/09


Pior não poderia ser a perseguição ativa contra o jornal El Clarín, de Buenos Aires. Avalanche composta por 200 fiscais da Receita invadiu a sede do maior jornal portenho. Não surgiu a razão de nada disso. Há comentários de que se trata de reação do governo Christina Kirchner. É que os invasores não portavam ordem judicial com autorização. O movimento parece que foi mesmo para intimidar jornal e jornalistas. A Receita nega que tenha autorizado a ação. Para ter ideia, a empresa emprega 15 mil profissionais, dos quais 1.500 trabalham no jornal. A repercussão internacional foi a pior para a Argentina. É que o país condenou ditadores e volta a fazer o mesmo que faziam. Quando um país toma o caminho da democracia e liberdade, dá pena constatar o retrocesso.

A frase que não foi pronunciada

“Eu não minto. O que faço é ficção com a boca.”
  • Discussão durante gravação de programa eleitoral.

  • Preços alterados

    »
    Atendendo a pedido do governo Lula da Silva, comerciantes no Brasil não deixam de lado o poder de criatividade. É simples. O peso pode baixar. Frutas que eram vendidas por caixas sobem de cotação e baixam de qualidade. Conforme o item, fica melhor vender por unidade ou peso, e ambos serão vantajosos ao vendedor. Há sempre saída para o comerciante ganhar. De um lado ou de outro.

    Tóxico reage com violência

    »
    Presos de cidades de Mato Grosso e São Paulo estão sendo transferidos para presídios de segurança máxima em outros estados. O fato motivou reação dos traficantes que perderam contato com os colegas. O resultado são tumultos nas cidades como demonstração da unidade entre traficantes.

    Assentamentos

    »
    Muitas localidades do Distrito Federal estão sendo invadidas em desrespeito à segurança de áreas protegidas. Comunidades deslancham esgotos em estado perigoso a céu aberto. Governo do DF adota posição de indenização aos moradores infratores. Mudam para novo endereço, financiam transporte e premiam com gratificações, reduzindo impostos. O assunto está parecendo propaganda eleitoral.

    Oligarquia maranhense

    »
    Estado pobre e sofredor é o Maranhão. Primeiro foi o período de Vitorino Freire. Era dono do povo e dos votos. Um dia José Sarney venceu. Assumiu os mesmos poderes. Igualmente, não desejou sair. Atualmente, mesmo com o prestígio do presidente Lula, faz e nomeia quem bem deseja. Apenas, um dia, de tanto ir ao córrego, o cântaro poderá se quebrar.

    Caso sério

    »
    CPI da Pedofilia está no Pará. A equipe da comissão se informa sobre casos que aconteceram em Altamira, Curralinho e Itaituba. Testemunhas e acusados serão ouvidos. O desembargador Rômulo Ferreira Nunes resume a situação aos parlamentares. Essa CPI não tem nada de pizza.

    Poder

    »
    Honduras e Brasil estão com as relações diplomáticas em estado de atenção. Os acordos entre os dois países são desde gestão urbana e saúde à agricultura. As cifras em comércio chegam a US$ 250 milhões. O presidente Lula anuncia que não reconhecerá presidente eleito por novo sufrágio. Zelaya quer apoio para permanecer no poder.

    Grandes olhos

    »
    Sem estardalhaço, o governo chinês prepara o mercado financeiro para a participação estrangeira na Bolsa de Xangai. As multinacionais estão atentas. O passo será seguro já que as notícias são de que Hong Kong estuda a mudança há 30 anos.

    Invasão

    »
    Há liberdade para os candidatos enviarem correspondência aos eleitores. Os envelopes normalmente são rasgados. Se quiser saber sobre o político, a plataforma, a iniciativa deve partir de quem navega. O que seria bom na terça-feira é o senador Eduardo Azeredo discutir para a nova lei eleitoral a proibição sumária de spam em e-mail, torpedos em celular ou qualquer tipo de invasão de privacidade do eleitor.

    Detalhes

    »
    A que ponto chegamos. Milhares de habitantes do Brasil conseguiram assinar um documento para impedir a candidatura do ficha-suja. Agora há um impasse no texto da reforma eleitoral. Quem decidirá e como será o critério para definir o ficha-suja. O senador Mercadante quer clareza porque, se o item continuar vago, pode gerar dúvidas e arbitrariedade.



    História de Brasília

    Nós já dissemos aqui que a função do jornalista não é ser delator, por isso o deputado Aluísio Nonô falou na Câmara. Agora, a prova do que eu falava está na primeira página do segundo caderno do Diário de Notícias de ontem, que provavelmente servirá de orientação aos membros do Congresso. (Publicado em 8/2/1961)

    COISAS DA POLÍTICA

    Lula corre em círculo sem sair do lugar


    Villas-Bôas Corrêa

    JORNAL DO BRASIL - 12/09/09

    O presidente Lula necessita consultar um pai de santo da sua confiança ou uma cartomante que leia o futuro nas cartas encardidas do seu baralho. Alguma praga de petista insatisfeito com a marginalização do partido que não dá um pio sobre os entendimentos políticos no Congresso ou ainda não engoliu o caroço da escolha da ministra Dilma Rousseff para candidata à sua sucessão, quando o partido foi o último a saber, está embaraçando seu esquema político,
    Neste setembro que não deixará saudades, repetiu-se a tragédia que em novembro do ano passado maltratou os estados sulinos com uma devastação que deixou milhares de famílias desabrigadas e perderam tudo, absolutamente tudo, salvando a vida e a roupa do corpo; destruiu pontes, estradas descuidadas, que ficaram intransitáveis, e mobilizou o país numa corrente de solidariedade que lotou aviões com a doação de roupas, remédios, água potável, cobertores, lençóis, comida enlatada.
    A lenta recuperação burocrática mal terminava os seus remendos, quando a tragédia se repete no bis do caiporismo da ventania das tempestades, que voltam a castigar Santa Catarina e áreas do Rio Grande do Sul, do Paraná e de São Paulo. Como as secas nordestinas, as tempestades de fim de ano já podem ser consideradas como um fenômeno sazonal, a ser previsto com antecedência para a programação do socorro de urgência, que poupa vida e atenua a sensação de desamparo da população.
    O presidente Lula, com a ministra Dilma, devem percorrer as áreas mais castigadas, para levar às vítimas a solidariedade do governo e o compromisso de socorro, que é o dever do homem público.
    Em Santa Catarina, o governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) decretou estado de calamidade pública em 64 municípios mais atingidos pelos três tornados e temporais na noite de segunda-feira.
    Quando o azar chega em duplicata, os santos devem ser invocados. O presidente Lula desabou da euforia com a compra, sem consulta à FAB, dos 36 aviões de caça Rafale, no amistoso bate-papo com o presidente da França, Nicolas Sarkozy, em sua visita ao Brasil, com a reação dos Estados Unidos, que alegam estar a Embraer em negociações sigilosas para vender aviões às Forças Armadas Americanas. Insiste a embaixada ame ricana que a Boeing fará nova oferta para a venda dos caças.
    Embaraçado nos fios da precipitação, Lula apelou para a ironia, com jeito de deboche: “Daqui a pouco vou receber os caças de graça”.
    O ministro das Forças Armadas, Nelson Jobim, que adora falar em nome do governo, avisa ao mundo que “este assunto será encerrado até o fim do ano”. Em faixa própria, cuidando dos seus interesses eleitorais, os deputados aprovaram o reajuste salarial de 8,88% para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Não é nada, não é nada, são vencimentos de R$ 26.723,13 até fevereiro, data para o novo reajuste, A toga cuida do conforto da família, completado pela penca de mordomias: mansões, carros de luxo e muitos penduricalhos.
    Para acertar com a Câmara a tramitação dos quatro projetos de lei que tratam da exploração da camada pré-sal, Lula retirou o pedido de urgência. Um bom acordo que interessa aos dois lados. Mas, nos tempos das vacas gordas, Lula não negociava com o Congresso da roubalheira do Senado: dava ordens à sua maioria, muito bem lubrificada com ministérios, autarquias, mordomias, vantagens e demais agrados sonantes.
    Mas são os tropeços da rotina, mais ou menos severos. E a óbvia prioridade obsessiva de Lula é a sua sucessão, com a eleição da ministra Dilma Rousseff, candidata da sua exclusiva escolha. Dois imprevistos embaçam a nitidez do seu esquema. O primeiro, o câncer linfático, tratado com sessões de quimioterapia, já concluído com sucesso e a garantia de 90% de cura e os 10% da cautela dos médicos. Dona Dilma tirou alguns dias de férias para retomar a campanha, acompanhando o presidente nas visita às obras do PAC e da construção do milhão de residências do Minha Casa Minha Vida.
    E a ex-ministra do Meio Ambiente, senadora Marina Silva (AC), fundadora do PT, que se desligou do partido para ingressar no Partido Verde, com a candidatura lançada à Presidência da República, é ainda uma incógnita a ser decifrada pelas próximas pesquisas das tendências de voto.

    GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO



    RUTH DE AQUINO

    REVISTA ÉPOCA
    O circo de horror da Fórmula 1
    RUTH DE AQUINO
    Revista Época
    RUTH DE AQUINO
    é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
    raquino@edglobo.com.br

    O que leva um jovem talentoso de 24 anos, filho de tricampeão mundial de F-1, a arriscar a própria vida e a de outros batendo de propósito num muro durante uma corrida? Medo de perder o emprego. Insegurança. Até a confissão de Nelsinho Piquet, esperava-se que tudo não passasse de cortina de fumaça num circo alimentado de muita grana, fofocas, traições e espionagens. Sob pressão da Renault, “em estado mental frágil”, Nelsinho arriscou tudo e perdeu tudo no GP de Cingapura de 2008.

    É coisa de bandido. História de máfia. Tanto que o depoimento de Nelsinho foi chamado de “delação premiada”. Ao denunciar a Renault, Nelsinho em tese não pode ser punido. Estaria jogando a última cartada para não perder sua licença. Seu argumento é que estaria tentando “assegurar a justiça e legalidade do campeonato”.

    Se for verdade o juramento oficial de Nelsinho Piquet – e, hoje, é difícil colocar sua versão em dúvida – , o piloto brasileiro derrapou e bateu sob orientação de seu “manager” e diretor da Renault, Flavio Briatore, e do diretor técnico, Pat Symonds. O objetivo era favorecer o bicampeão mundial Fernando Alonso, seu colega de escuderia. Com a obstrução na pista e a entrada do carro de segurança, Alonso pulou do 19o lugar para o quinto e acabou vencendo a corrida. Incidentes assim beneficiam quem acaba de parar nos boxes para reabastecer. Alonso tinha enchido o tanque duas voltas antes.

    “O senhor Symonds me puxou para um canto tranquilo e, usando um mapa, apontou-me para a curva exata onde eu deveria bater”, disse Nelsinho no depoimento para a Federação Internacional de Automobilismo (FIA). Tudo teria sido planejado de forma meticulosa, como um crime quase perfeito. A reunião com Briatore, antes da corrida, teria acontecido num momento em que ele cozinhava Nelsinho, não garantia a renovação de seu contrato com a Renault nem o autorizava a negociar com outras equipes.

    Então, Nelsinho, nascido em julho de 1985 na romântica Heidelberg, Alemanha, fez o impensável. Imaturidade? Irresponsabilidade? Espírito de equipe? Ambição? Por que simplesmente não se recusou a fazer o que lhe pediam? Poderia ter se ferido ou ferido outros. Será que consultou o pai? Piquet não teria permitido. Soube depois.

    Imaturo? Irresponsável? Ambicioso? Por que Nelsinho Piquet
    não se recusou a bater o carro?

    Foi o pai quem convenceu o filho a contar toda a história. Nelsinho Piquet foi demitido pela Renault em julho. Teria denunciado Briatore, a quem considera seu “carrasco”, se tivesse continuado na Renault? A cadeia de erros de Nelsinho não torna menos criminoso o pedido do grisalho Briatore, hoje uma celebridade do jet set internacional que se esbalda em iates, cercado de beldades como a atual mulher, Elisabetta. Nelsinho fez sua “declaração de verdade” à FIA no dia 30 de julho. Faltam as provas irrefutáveis. A Renault está processando Nelsinho.

    As reações de outros pilotos também dizem muito sobre eles. Fernando Alonso, o beneficiado: “Estou muito surpreso com tudo isso (será?) . Mas essa investigação não afeta o sabor daquela vitória (deveria afetar...) . É um sabor muito bom, dos melhores”. E Rubinho Barrichello? “Vejo como uma falta de esportividade muito grande. Alguém que tenha a capacidade de fazer isso não merece estar no esporte.” Uhmmm... Não foi Rubinho quem tirou o pé do acelerador de sua Ferrari e freou vergonhosamente, a metros da bandeirada final do GP da Áustria, em 2002, para o alemão Michael Schumacher ultrapassar e ganhar a corrida, por ordem do chefão da escuderia? É isso que Rubinho chama de esportividade?

    Não tem santo ali. O maior campeão de todos os tempos (Schumacher) foi acusado de jogar seu carro contra Damon Hill, em 1994, e Jacques Villeneuve, em 1997. Na primeira, apesar da revolta de muitos, comemorou o título pela Benetton. Em 1997, na Ferrari, foi punido pela FIA com a perda do título de vice-campeão.

    O circo de horrores da F-1 serve de alerta a quem faz tramoias em nome da empresa, do chefe, do partido, do poder ou de si mesmo. Para não perder a boquinha, perde o juízo. Um dia acaba expulso do picadeiro. Quando colocamos a dignidade pessoal em jogo, os palhaços somos nós.

    EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO

    Abuso e intimidação

    FOLHA DE SÃO PAULO - 12/09/09


    Governo Kirchner segue padrão latino-americano ao invadir, numa falsa operação fiscal, o maior jornal de oposição

    NO MESMO DIA em que noticiava mais uma irregularidade do governo Kirchner, desta vez num órgão subordinado ao fisco, o jornal argentino "Clarín" se viu invadido por um batalhão de cerca de 200 funcionários da Receita Federal.
    Não estavam lá, evidentemente, para examinar as contas do principal órgão de imprensa da Argentina: um trabalho técnico de fiscalização não exigiria, sem dúvida, mais do que cinco auditores qualificados.
    Estavam lá na tentativa primária de intimidar um jornal oposicionista. A
    Folha, que sofreu truculência equivalente nos primeiros dias do governo Collor -quando policiais federais ocuparam seu prédio sob o mesmo pretexto-, conhece bem o tipo de mentalidade por trás desse gênero de operações.
    Ao contrário do que acontece nos casos clássicos de golpes militares latino-americanos, nenhum regime fascista surge pronto do dia para a noite.
    Atos isolados de baderna, manifestações "espontâneas" de depredação e vandalismo, discursos ameaçadores que mais ou menos se desmentem em seguida, supostos "erros administrativos" dos escalões inferiores -é com esse tipo de ensaio que se vão testando as reais resistências do sistema democrático à investida autoritária.
    Na pior das hipóteses, os mandatários da aventura podem sempre declinar de qualquer responsabilidade pelo que aconteceu; um capanga de menor envergadura será repreendido, o auxiliar de terceira linha será convidado a deixar seu posto, e tudo em tese volta ao normal.
    Na hipótese de sucesso, a escalada continua. É o caso do venezuelano Hugo Chávez, que das mais variadas formas vai sufocando a democracia em seu país, e aperta o cerco -também com medidas de cunho supostamente administrativo- contra os meios de comunicação.
    Decerto os índices de popularidade do governo argentino não lhe propiciam os lances de autoconfiança "bolivariana" registrados no norte do continente.
    Mesmo assim, o desrespeito à liberdade de expressão é endêmico na América Latina.
    Jornais são invadidos, em regimes formalmente democráticos. Bravatas e repreensões veladas fazem parte do discurso de quase todo governante. O direito à crítica parece ser visto como um ato de abuso e injustiça contra supostos benfeitores do povo.
    Mesmo em algumas instâncias judiciais, a censura prévia é considerada forma legítima de controlar um órgão de comunicação. Haja vista o caso do jornal "O Estado de S. Paulo", há mais de um mês impedido de publicar notícias sobre alguns negócios da família Sarney.
    Encarado de modo pessoal, familiar e caudilhesco, o poder não se conforma com a revelação das inúmeras irregularidades e abusos com os quais se perpetua. A boa notícia é que na América Latina ainda há jornais que tampouco se conformam com o estado de submissão e oficialismo a que querem reduzi-los.

    GOSTOSAS


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    PAINEL DA FOLHA

    Cabeça feita

    RENATA LO PRETE

    FOLHA DE SÃO PAULO - 12/09/09

    Quem conhece o modo de Lula funcionar vê efeito bumerangue na pressão difusa de ministros do STF e explícita do titular da Defesa, Nelson Jobim, contra a ida de José Antonio Toffoli para a Corte. Os insistentes reparos ao currículo do advogado-geral da União teriam apenas fortalecido a inclinação favorável do presidente. Assim como gostou de ter posto o primeiro negro no Supremo, Lula aprecia a ideia de ser o responsável pela indicação de um ministro de 41 anos.
    Mais: após resistir ao pesado lobby do PT contra a escolha de Roberto Gurgel para a Procuradoria Geral da República, o presidente se sentiria em plenas condições de ignorar a resistência antipetista a Toffoli.




    Veteranos. Ari Pargendler e Gilson Dipp, dois nomes do STJ que frequentam a lista de cotados para a vaga aberta no Supremo, estão a poucas semanas de completar 65 anos, idade limite para ingresso na Corte. Carlos Alberto Direito, que morreu no início do mês, foi indicado nessa situação.

    Monotemático. Celso Amorim foi surpreendido pela inusual presença de jornalistas suecos durante entrevista ontem no Rio. O assunto era um só: a novela da compra dos caças. O chanceler fez ginástica verbal para dar uma satisfação sem se comprometer com nenhum desfecho.

    Esquece. Para os líderes aliados, é ilusório achar que a Câmara não vai meter a colher no debate sobre a redistribuição geográfica dos royalties do pré-sal. "Vai sair daqui uma mudança na participação especial", adverte um dos cardeais da Casa.

    Pessoa jurídica. Constrangidos com a farra da emenda que amplia o número de vereadores no país, os deputados encontraram um jeito de reduzir a farra sem se comprometer: o destaque retirando a retroatividade do texto será feito pela CCJ, e não por um parlamentar.

    Lacrado. A crise no Senado arrefeceu, mas segue o fechamento da Casa a visitantes. No Sete de Setembro, quando estava programado um protesto pelo "fora, Sarney", o Senado voltou a pressionar a Câmara, sem sucesso, para também interromper a visitação.

    Bombou. Só na Independência, a Câmara recebeu 2.575 visitantes. Um grupo de advogados protestou por ter sido barrado no Senado, e o peemedebista Pedro Simon (RS) foi à tribuna cobrar de Sarney a reabertura da Casa.

    Embaixada. Para evitar conflito diplomático, Aécio Neves chamou José Serra para inaugurar, na segunda, o Espaço Minas Gerais em SP.

    Espelho. A pedido do ministro Hélio Costa (Comunicações), o correligionário Orestes Quércia aproveitou visita a Minas para telefonar a Newton Cardoso, tentando pacificar o PMDB local. Ouviu do outro lado da linha: "Eu sou como você aqui em Minas!".

    Orla. A pré-candidata Marina Silva (PV) vai liderar uma "caminhada pelo clima", dia 27, à beira da praia no Rio.

    Tenho dito. Embora reconheça que participou de "conversa ligeira" sobre filiação ao PV, o ex-governador Fleury Filho diz que não pretende disputar cargo em 2010. "Exceto, talvez, o de deputado federal." E declara seus votos: "Meu candidato a governador é Aloysio Nunes Ferreira, que foi meu vice. E meu candidato a presidente é José Serra".

    Encerrado. O juiz da 19ª Vara Cível, Davi Capelatto, condenou Rui Vicentini a indenizar os petistas Valdemir Garreta e Silvio Pereira em R$ 20 mil por calúnia e difamação. Trata-se de ação movida na esteira da acusação, feita por Vicentini, de que os dois teriam oferecido dinheiro em troca do apoio do PPS à candidatura da então prefeita Marta Suplicy à reeleição em 2004. Não cabe mais recurso.

    com VERA MAGALHÃES e SILVIO NAVARRO

    Tiroteio

    Este é mesmo um governo de aloprados. Havia a brigada terrestre. No episódio dos caças, entrou em ação o esquadrão aéreo. E o piloto é o presidente.

    Do deputado VIC PIRES (DEM-PA), sobre o aparente recuo do governo depois de Lula ter anunciado inesperadamente, durante a visita de Nicolas Sarkozy, que estava definida a compra de caças franceses.

    Contraponto

    Fora de concurso Flexa Ribeiro (PSDB-PA) se prolongava num discurso na tribuna do Senado, na quarta-feira passada. Mão Santa (PMDB-PI), que presidia a sessão, advertia seguidamente o colega para que encerrasse a fala. Como o tucano ignorasse os apelos, o peemedebista provocou:
    -Vou sugerir a criação de um curso chamado "The End", para ensinar os senadores a terminar discursos.
    Ele mesmo assíduo na tribuna, Mão Santa continuou:
    -E os primeiros alunos do curso serão Flexa Ribeiro, Valter Pereira e Eduardo Suplicy!
    Ao que um senador, sentado em seu lugar, murmurou:
    -Mas e o Arthur Virgílio, é caso perdido?