quarta-feira, junho 10, 2009

DIOGO MAINARDI - PODCAST

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PODCAST
Diogo Mainardi

10 de junho de 2009

Texto integral
Obama e a Wikipédia

Barack Obama, durante a campanha eleitoral, era o candidato do Blackberry. Ele imediatamente se transformou, depois de ser eleito, no presidente do teleprompter. Agora ele é o profeta da Wikipédia.

Em seu discurso no Cairo, Barack Obama fez um resumo histórico do islamismo. Assim como ocorre na Wikipédia, ele se concentrou em generalidades. Assim como ocorre na Wikipédia, ele eliminou todos os argumentos mais controvertidos, mantendo apenas os que poderiam obter o consenso da platéia. A mensagem era simples: os Estados Unidos renunciaram à ideia de impor certos comportamentos aos países do Oriente Médio. Barack Obama, com suas generalidades e com seus argumentos consensuais, com seu pragmatismo e com seu ecumenismo moral, rejeita as hierarquias de valores. Para ele, um modelo é tão válido quanto qualquer outro. Um costume tem de ser tão respeitado quanto qualquer outro. Um regime é tão legítimo quanto qualquer outro. Barack Obama é uma espécie de Henry Kissinger para ginasianos politicamente corretos.

Christopher Hitchens analisou um dos pontos mais abjetos do discurso de Barack Obama: aquele em que ele igualou o Ocidente e o Oriente no tratamento reservado às mulheres. Se por um lado Barack Obama censurou os abusos contra as mulheres em países islâmicos (aplausos da plateia), por outro lado ele censurou os países ocidentais que, em suas escolas públicas, proibiram o uso de véu por parte das alunas muçulmanas (ainda mais aplausos da plateia). Barack Obama acredita que o Ocidente tem de respeitar essas práticas ancestrais, por mais arbitrárias, primitivas e brutais que elas possam parecer. O que dizer então da infibulação? Vale o mesmo critério aplicado para o véu? O Ocidente, em nome da tolerância religiosa, tem de admitir a mutilação genital das meninas islâmicas, desde que seja prescrita por um mulá degenerado na periferia de Paris ou de Roma? Por que sim? Por que não?

Esse relativismo moral de Barack Obama, que costuma ser apresentado como um reflexo de seu cosmopolitismo e de sua origem miscigenada, provoca risos na plateia islâmica, segundo Christopher Hitchens. A revista "American Spectator" chamou a política externa de Barack Obama de freudiana: "Remova o medo do inimigo e sua hostilidade cessará". Mas a realidade é mais feroz do que isso. Não basta aplicar os métodos de Dale Carnagie para fazer amigos e influenciar pessoas. Os conflitos no Oriente Médio não vão acabar quando as partes chegarem a um consenso, trabalhando coletivamente, de igual para igual, a fim de esclarecer os mal-entendidos, como na Wikipédia. Os conflitos vão acabar quando as melhores idéias se impuserem às piores.

AUGUSTO NUNES

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SEÇÃO » Direto ao Ponto

A Petrobras já está privatizada

10 de junho de 2009

O presidente Lula ficou muito irritado com a instauração da CPI da Petrobras. Depois de ter feito o possível para interromper a gestação, agora faz o possível para matá-la no berço. Baseado no critério do prontuário, entregou a Renan Calheiros o comando do grupo de extermínio montado para o justiçamento. O senador do PMDB alagoano é especialista no assassinato de boas idéias e diplomado com louvor na escolinha que ensina a delinquir em liberdade.

O presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, ficou muito irritado com a instauração da CPI da Petrobras. Copiando o palavrório do chefe, o pré-candidato a senador pelo PT da Bahia qualificou de “inimigos da pátria” os partidários da devassa na empresa, o que promove a defensores da nação em perigo os que tentam manter fechada a caixa preta. Gente como Renan Calheiros, Ideli Salvatti ou Romero Jucá, por exemplo.

O ministro Edison Lobão, governista seja qual for o governo, ficou muito irritado com a instauração da CPI da Petrobras. Alegou que iluminar os porões de uma empresa que é a cara do país espanta clientes, fornecedores e possíveis parceiros. A chiadeira de Lobão é tanta e tão inconvincente que vai acabar espantando os clientes, fornecedores e possíveis parceiros que restarem.

Os modernos pelegos ficaram muito irritados com a instauração da CPI da Petrobras. Dirigentes da CUT e da Central Sindical convocaram manifestações e improvisaram comícios para berrar que o petróleo é nosso. Eviscerar a estatal sob suspeita “pode gerar desemprego”, fantasiaram.

Tudo somado, e embora a CPI nem tenha ainda saído do papel, ficou mais difícil acusar os partidos de oposição, a elite golpista, os paulistas quatrocentões, os capitalistas selvagens e os loiros de olhos azuis de tramarem nas sombras a privatização da Petrobrás. A empresa já foi privatizada ─ sem licitação. O novo dono é o PT, que arrendou parte do latifúndio à base alugada.

GOSTOSA


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MERVAL PEREIRA

Uma outa amazônia

O GLOBO - 10/06/09

O ministro Mangabeira Unger, do Planejamento Estratégico, tem sido alvo, nos últimos dias, de ataques dos ambientalistas devido à medida provisória 458, que regulariza a posse de terra na Amazônia e é vista como nociva à preservação ambiental. Ele diz que a primeira coisa que compreendeu quando assumiu a condução do Plano da Amazônia Sustentável (PAS) - o que, aliás, provocou um mal-estar com a então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e apressou sua saída do governo - foi que "nada na Amazônia vai avançar, nenhum aspecto do desenvolvimento sustentável includente, se não resolvermos o problema da terra".

Na definição de Mangabeira Unger, a Amazônia tem sido até agora "um caos fundiário", onde menos de 4% das terras em mãos de particulares têm a sua situação jurídica esclarecida. Enquanto persistir esta situação, diz ele, a pilhagem será mais atraente do que a preservação ou a produção.

"Fico alarmado com o grande número de distorções que surgiu no debate nas últimas semanas.

Dizer que a regularização favorece ou legitima a grilagem é um absurdo", reclama, afirmando que, com a MP, "vamos poder regularizar a situação de 500 mil famílias urbanas e 400 mil famílias rurais. Essa é a população que construiu a Amazônia, que está construindo a Amazônia".

Mangabeira Unger diz que chamá-los de grileiros é o mesmo que chamar de grileiros os que ocuparam e construíram os Estados Unidos ou a Austrália. "A grilagem é conduzida na Amazônia por máfias que se aproveitam justamente da falta de regularização, e que atuam acobertadas pela neblina dessa confusão fundiária que só a regularização pode liquidar", diz o ministro.

Dizer que a regularização favoreceria o desmatamento é outra distorção, reclama, afirmando que a situação "é exatamente o oposto".

Segundo ele, a falta de segurança jurídica "cria condições propícias a uma atitude curtoprazista e predatória. Só com a regularização é que o posseiro ou o produtor vai poder ter um projeto de longo prazo, ter acesso a ajuda técnica, a crédito regular, e vai ter condições objetivas de desenvolver um projeto em sua posse".

A regularização não é uma condição suficiente para superar uma disposição predatória, adverte, mas "é necessária". Nos planos de Mangabeira Unger, temos que iniciar uma grande dinâmica, que começa pela regularização ambiental baseada no zoneamento ecológico e econômico; no soerguimento da indústria extrativista madeireira ou não, "que não seja apenas uma atividade de cunho e escala artesanal".

Na Amazônia do Cerrado, temos que recuperar as áreas degradadas. Unger diz que grande parte do território brasileiro hoje é pastagem degradada, e que, se recuperássemos uma pequena parte disso, "poderíamos triplicar nossa produção sem tocar em uma única árvore". No projeto estratégico traçado, o objetivo é "tirar a Amazônia do isolamento, criando estradas vicinais necessárias à população, e dar um choque de educação e ciência. Mas tudo isso começa na regularização fundiária".

Mangabeira Unger diz que nesse debate houve, "entre muitos absurdos, a tentativa de excluir da regularização qualquer posse onde haja trabalho assalariado. Isso é como querer decretar a morte do capitalismo".

O ministro diz que o debate demonstrou "como a Amazônia funciona como uma fantasia ideológica, onde os ressentimentos contra o mundo moderno, o arcaísmo de certa esquerda, resultam em uma conta a ser paga pela Amazônia".

A ideia de que possamos construir um modelo de desenvolvimento sustentável includente, numa área que representa 61% do território nacional, proibindo o trabalho assalariado e a presença de pessoas jurídicas "é absurda, um escândalo", ressalta.

A organização do crescimento socialmente includente é um ponto comum nos Brics, grupo de países emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China, cujos chefes de Estado se reunirão pela primeira vez na próxima semana, na Rússia.

Mangabeira participou de uma reunião preparatória, em Moscou, e ressalta que nessa reunião a China colocou na mesa a questão da mudança climática. Os chineses são muito sensíveis a que a temática não evolua como um constrangimento sobre os grandes países emergentes.

"A mudança do clima não deve ser vista como uma limitação imposta a nós; nós é que devemos liderar essa agenda, compreendendo que o desenvolvimento dessas novas tecnologias, inclusive dos agrocombustíveis como energias renováveis, cria novos setores da economia".

Na reunião de Moscou houve uma discussão sobre a cooperação entre os Brics nesse campo, com três focos. O primeiro é a criação de um mercado mundial de agrocombustíveis, para transformá-los em commodities. "Para isso, é preciso que mais países participem da produção, não pode ser um quase duopólio, como é hoje nos Estados Unidos e no Brasil", lembra Unger.

Em segundo lugar, o interesse no desenvolvimento de agrocombustíveis de segunda e terceira geração, lembrando que a tendência do avanço científico será diminuir a importância da geografia.

Por outro lado, lembra o ministro, é muito importante para nós que não aconteça com o etanol o que aconteceu com a borracha no século passado, superada pela evolução tecnológica.

"A única maneira de nos resguardarmos desse perigo é estarmos nós mesmos na vanguarda tecnológica". O terceiro foco é a possível colaboração com os países mais pobres, como os africanos, onde o biodiesel poderia ter um impacto altamente benéfico.

ELIO GASPARI

Uma patrulha ideológico-rodoviária


Folha de S. Paulo - 10/06/2009


Vamos cassar Castello Branco porque foi um ditador, mas e o que fazemos com a avenida Presidente Vargas?

UM DEPUTADO estadual paulista apresentou um projeto de lei que poderá abrir o caminho para a cassação de nomes de ruas, avenidas e estradas. A rodovia Castello Branco, que liga São Paulo ao oeste do Estado, seria renomeada, trocando-se o nome do marechal eleito pelo Congresso depois da deposição de João Goulart pelo de um baluarte da democracia, como d. Helder Câmara, por exemplo. A designação de logradouros passaria pela peneira de um Conselho de Direitos Humanos.
O projeto dificilmente será aprovado. Se virar lei, não haverá de funcionar, a menos que se consiga uma justificativa politicamente correta para as ruas e avenidas que homenageiam escravocratas do Império. Mesmo assim, ele tem a virtude de provocar um bom debate, daqueles em que se entra com uma certeza e sai-se melhor, com algumas dúvidas.
Tudo bem, o marechal Castello Branco, titular de uma ditadura envergonhada, presidiu o país de 1964 a 1967 e, pelos crimes praticados em seu governo, não poderia ser nome de rodovia. E o que se vai fazer com as avenidas Presidente Vargas espalhadas por todo o Brasil? A ditadura de Castello durou três anos. A de Getúlio Vargas, oito.
Nesse caso, não se poderia mexer nos nomes dados às ruas? Aí surge o problema da rua Sérgio Fleury, localizada na cidade de São Carlos. O chefe dos janízaros (civis) da ditadura, sócio-fundador do Esquadrão da Morte, foi homenageado em 1980 pela Câmara Municipal da cidade. Há um mês, a mesma Câmara, por unanimidade, cassou a denominação e uma pesquisa informa que 75% dos moradores apoiam a mudança.
Às vezes esses troca-trocas acabam em palhaçada. Em 1897, a imprensa que cobria o terceiro ataque ao Arraial de Canudos contou, emocionada, a história do cabo Roque, que morreu protegendo o corpo do comandante da expedição. Rebatizaram com seu nome a travessa do Ouvidor, até que o cabo Roque apareceu no Rio, vivo. Em outros casos, as paixões prevalecem e acabam confundidas com a paisagem. Raros são os cariocas que se dão conta de uma dissonância quando chegam à praça Tiradentes.
Lá está a linda estátua equestre de d. Pedro 1º, neto da maluca Maria, em cujo reinado enforcaram o alferes. A praça chamava-se "Constituição", e o nome foi trocado nas celebrações do golpe republicano. Obrigaram o neto a ocupar o chão de uma vítima da avó.
Quando os moradores de uma rua declaram-se ofendidos pelo nome que meia dúzia de vereadores lhes impuseram, é razoável que o pleito seja atendido. Fora daí, a história ao país pertence. Não há como fugir dela sem o recurso ao autoritarismo político.
Em Montgomery, capital do Alabama e da confederação rebelde durante a Guerra da Secessão, há um cruzamento que resolve controvérsias desse tipo. Passada a Guerra Civil, os brancos se acertaram e impuseram aos negros um regime de segregação. Nessa nova harmonia, deu-se a uma avenida da cidade o nome de Jefferson Davis, presidente do Sul rebelado. Passou o tempo e uma comerciária negra recusou-se a dar o lugar para um branco num ônibus da cidade. Foi presa, desencadeou um boicote e o mundo soube da existência de um pastor chamado Martin Luther King. Ela se chamava Rosa Parks e morreu em 2005. Uma das avenidas de Montgomery recebeu o seu nome. Ela cruza a Jeff Davis, criando quatro gloriosas esquinas.

O IDIOTA


MÍRIAM LEITÃO

Negativo festejado

O GLOBO - 10/06/09

As previsões dos economistas erraram o alvo. A queda do PIB não foi tão forte, foi melhor do que a melhor projeção. Mas é difícil comemorar um resultado que mostra que o país não só encolheu pelo segundo trimestre seguido, como os investimentos despencaram, sinalizando que a recuperação terá menos fôlego. A verdade sobre os números é que a economia brasileira está em recessão.

A boa notícia - relativa, porque, afinal, o numero é negativo - é que neste momento os economistas estão revendo para melhor seus números com as previsões para o ano de 2009. Quem achava que o número do PIB seria negativo, está diminuindo a queda. Quem apostava em crescimento zero, como a MB Associados, acha agora que zero pode ser o piso, aumentando a chance de um resultado positivo, ainda que bem baixo.

O que está segurando a economia é o mercado doméstico, já que a exportação caiu muito e o investimento também. Nada que elimine o fato de que o Brasil entrou em recessão.

A definição de manual é que recessão acontece após dois trimestres seguidos de encolhimento do PIB. Mas existem outros critérios. Esquecendo todas as medidas arbitradas por economistas, o fato é que a economia brasileira no primeiro trimestre do ano produziu menos; teve uma queda de 14% no investimento em relação ao começo do ano passado; importou e exportou 16% menos; as empresas deixaram parte de suas fábricas ociosas; arquivaram planos de investimento e de contratação; há temores de aumento do desemprego. Isso tudo mostra um quadro recessivo, seja qual for a convenção ou o termômetro.

Da perspectiva do governo, o que é importante é que as medidas que tomou para mitigar os efeitos da crise externa funcionaram, tanto que o resultado do PIB pegou os economistas, acostumados a fazer previsões, de surpresa, com uma realidade menos negativa.

A grande pergunta agora é: o que vai acontecer no segundo trimestre? Para o ministro Guido Mantega haverá recuperação, ainda que pequena. O trimestre, segundo algumas previsões, será positivo quando comparado ao primeiro trimestre do ano, mas negativo em relação ao mesmo período do ano passado. Já foram divulgados os dados da produção industrial de abril e o número foi fortemente negativo: -14,8%. As primeiras estimativas de maio indicam outro número com forte queda.

Para alguns economistas, pior do que o resultado de ontem é a história que os números contam por dentro. Eles mostram que o governo continua ampliando os gastos - nada mal se as despesas que aumentam não fossem principalmente de pessoal e de custeio - enquanto os investimentos despencam.

Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, acha que o importante é que a qualidade do desempenho da economia piorou, porque apesar de bem sucedida, a tentativa do governo de manter o consumo e o investimento "colapsou", e isso fez com que a taxa de investimento que havia subido em 2008 para 18%, voltasse a cair para a média de 2001 a 2007: 16%.

O Banco Fator lembra que a queda de 1,8% no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período do ano anterior significa a primeira retração em bases anuais desde o quarto trimestre de 2001. Também quer dizer a queda mais forte, nessa mesma base de comparação, desde 1998. As reduções das importações e das exportações são as mais intensas desde o início da série histórica, em 1996.

De acordo com estimativa do economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio, e da Opus Gestão de Recursos, o resultado melhor que o esperado dificilmente fará com que a economia brasileira termine o ano no positivo. Depois de acumular queda de 4,4% nos dois últimos trimestres, o nível de atividade teria que crescer 1,7% em cada um dos próximos três trimestres para fechar o ano estável, ou seja, com crescimento zero. Olhando para a série histórica do IBGE, não há nenhum resultado tão bom quanto esse nos últimos dez anos, segundo José Márcio.

- Raras vezes o PIB brasileiro cresceu acima de 1,7%. Então é muito difícil que a economia termine o ano no positivo. O fundamental no comportamento da atividade será o mercado de trabalho. O que ainda está sustentando a economia é o consumo. Então se o mercado de trabalho piorar, o consumo também será atingido - afirmou Camargo.

Luis Otávio Leal, do banco ABC Brasil, ressalta que a queda do investimento também provoca uma redução do PIB potencial do país, ou seja, aquilo que a economia é capaz de crescer sem gerar inflação.

- O PIB potencial sairá desta crise caindo de 5% para 4%. Isso quer dizer que se a economia brasileira crescer acima dessa taxa, haverá pressões inflacionárias e o Banco Central será obrigado a subir juros para frear a atividade - explicou.

Não que os economistas estejam procurando o lado ruim da boa notícia, ou que o governo esteja comemorando a má notícia, mas o resumo do resultado é que o PIB do primeiro trimestre não foi tão ruim quanto os economistas haviam previsto, nem tão bom quanto avaliou o governo. Recessão é recessão, e isso não é bom.

VAI RODAR?


SÔNIA RACY

O vai da valsa do IPI


O Estado de S. Paulo - 10/06/2009

Guido Mantega fez as montadoras sorrirem de lado a lado. Em seminário esta semana no Rio, afirmou não ser intenção do governo Lula estender a redução do IPI para compra de automóveis novos.

Mas isto não seria motivo de gritaria para os fabricantes de veículos? Não exatamente. No começo de janeiro, Mantega anunciou que a taxa menor do IPI seria prorrogada, o que fez com que as montadoras tivessem um "ataque de nervos". O "anúncio" teve efeito reverso, provocando a paralisação dos negócios. E Mantega acabou por se desdizer.

Agora, o ministro fez o contrário. Como garantir que não vai mudar de ideia?

Fugitivo do grampo
Sergio Guerra, presidente do PSDB, está trocando de celular toda semana. Descobriu grampo em sua linha.

Pré Copa I
Aécio Neves escolheu Antonio Anastasia para coordenador das "Copas" no Estado. O plural é porque Minas está priorizando a Copa das Confederações, torneio-aperitivo da Fifa feito um ano antes da Copa do Mundo.

Pré-Copa II
E apesar do otimismo oficial, Aécio acredita que a favorita para receber o jogo de abertura é... Brasília.

Blog solitário
Falta apoio a José Sérgio Gabrielli na sua nova investida contra a mídia. Aloizio Mercadante, em jantar na casa de Michel Temer, se comprometeu a fazer a Petrobrás mudar de ideia na sua atitude de divulgar antes, em seu blog, as perguntas que recebe para entrevistas.

Ao seu lado, Franklin Martins praticamente endossou: "A empresa tem todo o direito de divulgar as perguntas, mas não antes da publicação da reportagem."

Marcha à ré
Tem razão Paulo Bernardo, que ontem se preocupava com a queda violenta do investimento, divulgada pelo IBGE. Afinal, em 2008, houve crescimento de 14%.

Gripe do arco-íris
De olho na Parada Gay, o Ministério da Saúde está distribuindo 1 milhão de folders bilíngues sobre a gripe suína nos aeroportos e rodoviárias do Rio e São Paulo.

Esperam-se 200 mil estrangeiros na Paulista, domingo.

Lula tem medo de voar
Lula admitiu: tem medo das alturas, mesmo sabendo que o Aerolula é seguro e que recebe boa manutenção da Aeronáutica. "Confesso que estou com uma certa paúra", avisou, em jantar anteontem, na casa de Michel Temer, para os participantes da IV Conferência Legislativa sobre Liberdade de Imprensa. "Acho que vou mandar mudar a rota para Genebra", brincou, sobre a viagem que fará semana que vem.

Mas foi sua única brincadeira sobre o assunto. O presidente revelou que tem falado com Nicolas Sarkozy sobre o acidente do Airbus - "só esta semana, duas vezes" - e elogiou o "trabalho dignificante" da Marinha no caso.

Lula garantiu que o novo PIB, que confirmou a recessão técnica, não o preocupa: segundo ele, já há sinais de que a economia voltou a decolar. Repetindo Guido Mantega e Henrique Meirelles, garantiu que os índices refletem um período anterior - e, portanto, são defasados. E reiterou sua profissão de fé no sistema de câmbio flutuante.

Outro de seus temas foram as cassações de governadores, que no modo atual não lhe agradam: "Cassar alguém meses antes do fim do mandato, para ele voltar daí a pouco, em nova eleição?" Ao seu lado, o presidente do STJ, César Asfor, concordava: "Ou bem há motivos para cassação, e a ela corresponde a perda dos direitos políticos, ou não há motivo para cassar."

O presidente também não gosta da ideia de uma Constituinte exclusiva para a reforma política: "Quanto mais se protela, mais se abre espaço para essas teses."

Gilmar Mendes e José Sarney, também presentes, viviam momentos opostos. Enquanto o presidente do STF era festejado por criticar os julgamentos feitos com base no clamor público, o do Senado mantinha-se mais reservado, dentro da sala, sem circular pela ampla área externa onde a conversa fervia.

"Está frio lá fora", dizia Sarney, que não escondeu a satisfação pelo êxito da cirurgia de Roseana.

ARI CUNHA

Espírito brasileiro


Correio Braziliense - 10/06/2009


Embaixador Jerônimo Moscardo, presidente da Fundação Alexandre de Gusmão, reuniu no Mercado Municipal de Jorge Ferreira homens de valor intelectual. Conversando com Carlos Lessa, senti o espírito de Pernambuco naquele homem rápido no pensamento e vasto nas explanações. Experiência de vida, conhecimentos da humanidade. A conversa começou pelo lado de lá. E expressou o pensamento. O espírito do Nordeste brasileiro mantém unidade no pensamento do Brasil. Enraizado na profundeza do seu pensar, falou sobre a Feira do Nordeste no Rio, em São Cristóvão. Espírito internacionalista não interfere na exatidão de comportamento nordestino. Mesmo a influência estrangeira não atinge o que vem do chão outrora ressequido e agora inundado. O falar, o improviso, a métrica perfeita nos versos cadenciados e a rima quando esquecida, substituída por mungido que não se entende, mas se compreende. A sugestão de Carlos Lessa é reportagem que mostre aos jornais associados o Nordeste se espalhando pelo Brasil como água de chuva. Ainda tive tempo de sugerir um caderno de turismo sobre o assunto para nossos jornais. Falta a aquiescência dos editores, que decidem sobre o que se faz nos Diários Associados.


A frase que não foi pronunciada

“Só temos consciência do silêncio quando estamos no meio do barulho.”
José Dirceu pensando em reverter sentença do Supremo, mas desconfiando que a coisa vai ficar como está. Justiça sabe quando pune.


Fumo
Fumar pode ser bom para quem pita. Houve época em que havia cadeiras nos aviões para os fumantes. O primeiro 707 da Boeing foi desmontado para revisão de todas as peças. Estranho o que foi encontrado no filtro do ar. Estava tão doentemente enfumaçado que a empresa o mandou para a Universidade de Chicago, onde foram feitos exames. Condenavam o fumo a bordo. Hoje a proibição é muito mais extensiva.

Indisciplina
O jogador Kleber, do Cruzeiro, disse que deseja sair do Brasil. É perseguido por juízes e acossado pelos colegas. Vai ser difícil sair do país. Kleber é jogador indisciplinado e não tem amigos nem entre os colegas. Diz que só aceita juízes da Fifa. Mas está longe desse merecimento, pelo comportamento extravagante.

Beirute
Francisco Marinho começou no Beirute como garçom. Não tem nada de conhecimento do Oriente, a não ser a cozinha que domina. O tempo passa e Chiquinho do Beirute se abanca nos domínios de um dos mais movimentados lugares de Brasília. Um dia almocei com César Yazigi. Nos Estados Unidos, retribuiu a gentileza. Almoçamos no Beirute de Nova York, que tem o mesmo carisma do Beirute cearense do DF.

Forças Armadas
Pouca gente sabia da habilidade das Forças Armadas brasileiras em suas atuações no coração dos países. Está sendo sucesso mundial o trabalho no caso do desastre da Air France. Poucos conheciam a aptidão e controle de aviões, nos ares internacionais. Ao contrário, nada se passa no ar que não seja do conhecimento das Forças Armadas brasileiras a qualquer hora do dia e da noite.

95 anos
João Pereira dos Santos completou 95 anos de idade. Foi dos primeiros motoristas oficiais a chegar ao Distrito Federal. Na companhia da esposa, Terezinha Lucas Evangelista Pereira, reuniu os amigos num churrasco que marcou a tarde de sábado. Ainda hoje Pereira trabalha no Ministério da Justiça, onde recebeu homenagens inclusive do presidente Lula da Silva.

Batalhões
Ministros Nelson Jobim e Mangabeira Unger preveem a criação de 28 novos batalhões de fronteira na Amazônia e terras indígenas. A preocupação da Estratégia Nacional de Defesa tem os planos dos ministros citados. A fronteira com a Colômbia, por causa das Forças Armadas Revolucionárias, é o alvo das providências brasileiras.

Pecados sociais
Quando o presidente Lula estava na Índia, recebeu estandarte com os sete pecados sociais citados por Gandhi nos estudos filosóficos. São estes: política sem princípio, riqueza sem trabalho, prazer sem consciência, conhecimento sem caráter, comércio sem moralidade, ciência sem humanidade e devoção sem sacrifício.

História de Brasília

Empossado o sr. Jânio Quadros, resta, agora, um elogio às autoridades encarregadas do policiamento. Todas as facilidades foram dadas para que os jornalistas cumprissem sua missão, não havendo um único incidente que tenha desmerecido o brilho da festa. Isso provou, também, que os jornalistas não provocam tanta desordem no cumprimento de seu dever, como tinha sido julgado até então. (Publicado em 1/2/1961)

EU NA FOTO


ELA ESTAVA COM SAUDADE
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CELSO MING

Menos ruim


O Estado de S. Paulo - 10/06/2009
Até mesmo o governo federal, que tem melhores condições de saber o que vai pelas Contas Nacionais, parece ter-se preparado para enfrentar números do PIB bem mais terríveis. Mas respirou aliviado com o que saiu dos computadores do IBGE.

Foi uma surpresa tão expressiva que parece necessário dizer ao mercado que, apesar dos festejos, o PIB do primeiro trimestre do ano (queda de 0,8% sobre o PIB do último trimestre de 2008) é negativo e causou destruição de renda e de produção.

O número mais impressionante, e também negativo, foi a brutal queda dos investimentos, tecnicamente conhecidos como Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Foi uma retração de 12,6% em comparação com o que houve no último trimestre do ano passado e uma queda de 14,0% em 12 meses. Demonstra que, em outubro ou novembro, quando percebeu que seus negócios estavam mergulhados na crise global, o empresário brasileiro suspendeu quase automaticamente os projetos de expansão de suas atividades. O primeiro trimestre deste ano foi o período em que grandes decisões foram adiadas.

A reação dos comentaristas diante da queda do PIB muito mais amena do que a esperada foi concluir que a recuperação será rápida, tão rápida a ponto de garantir, ao longo de todo este ano, crescimento positivo do PIB, talvez da ordem de 1% ao ano. Se isso acontecer, beleza. O Brasil estará entre as cinco economias relevantes que mais terão crescido no mundo em 2009.

Mas três fatores podem contrariar essa expectativa, embora não necessariamente a contrariem. O primeiro é o fato inegável de que boa parte desse efeito menos ruim foi obtida graças à adoção de políticas contracíclicas. Entre elas estão a redução do superávit primário (de 4,23% para 3,06% do PIB); o reajuste generoso do salário mínimo e do salário dos funcionários públicos; o reforço do Bolsa-Família de R$ 11,8 bilhões para R$ 12,1 bilhões; as novas linhas de crédito para bancos, empresas e exportadores, concedidas pelo Banco Central, pelo BNDES e pelos bancos estatais; o novo plano habitacional; e a forte renúncia fiscal, concentrada em redução ou eliminação do IPI, especialmente na venda de veículos e aparelhos domésticos.

Parte desse arsenal anticíclico, principalmente a redução de impostos, teve como efeito a antecipação de compras por parte do consumidor. Quem aproveitou as vantagens e antecipou a troca do carro ou da geladeira tão cedo não voltará às compras. E isso significa que parcela da recuperação futura não mais vai acontecer, porque já aconteceu.

O segundo fator são os limites da capacidade de endividamento do consumidor. O crédito ainda tem muito o que crescer, mas vem se expandindo mais rapidamente do que a renda nestes tempos de maior desemprego e contenção dos salários. Ou seja, parte do mercado futuro está comprometida com o aumento do endividamento da classe média.

Finalmente, não se sabe como vai se comportar a economia global. Um dos temas dos atuais debates é se o gráfico que representa a recuperação terá forma de V, de U ou de W. Se for de W, haverá novo tombo mundial e o desempenho dos próximos meses da economia brasileira poderá ficar aquém do desejado.

Mas, por enquanto, é melhor apostar em que o pior já passou.



Confira

Ficou faltando - A redução dos preços do óleo diesel, em aproximadamente 9,6% na bomba de combustíveis, é fator importante na diminuição de custos de produção no País.

Mas não foi completa. Pelos cálculos do especialista Walter De Vitto, da Tendências Consultoria, os preços poderiam cair bem mais, independentemente da garfada produzida pelo aumento dos impostos embutidos nos preços (especialmente da Cide).

Os preços da gasolina ainda estão 13,5% mais altos no Brasil do que no mercado do Golfo Americano. No caso do diesel, a diferença é maior, de 20,8%.

BRASÍLIA - DF

Vanguarda do terceiro mandato


Correio Braziliense - 10/06/2009

Se engana quem pensa que o deputado federal Jackson Barreto (PDT-SE) está sozinho na proposta de emenda à Constituição que faculta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o direito de disputar o terceiro mandato, prerrogativa que seria estendida aos atuais governadores e prefeitos. Parlamentar experiente, da safra de oposicionistas que articularam a candidatura de Tancredo Neves no colégio eleitoral quando a campanha das Diretas Já parecia imbatível, Jackson joga de comum acordo com alguns dos integrantes do alto clero da Câmara dos Deputados.

Um deles é o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), para quem o establishment nacional estaria a favor da reeleição do presidente Lula. Outro, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), que vem defendendo enfaticamente o terceiro mandato nas discussões internas do PMDB. O ex-ministro das Comunicações Eunício de Oliveira (PMDB-CE) completa o estado-maior da “terceira via”. Avaliam que é preciso ter uma alternativa para 2010, caso a quimioterapia do linfoma da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), acabe inviabilizando sua candidatura à sucessão de Lula.


A grande esfinge é o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), que reluta em arquivar o projeto de emenda constitucional derrubado pela retirada de assinaturas da oposição e reapresentado por Barreto, supostamente sem amparo regimental. Cotado para ser o vice de Dilma, se o presidente Lula for candidato outra vez, seus colegas avaliam que Temer talvez aceite o sacrifício.


Trovão

O presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, está preocupado com a instalação da CPI da Conta de Luz na Câmara dos Deputados. Articulada pelo vice-líder do governo Ricardo Barros (PP-PR e o deputado Dudu da Fonte (PP-PE), a comissão teve o apoio de mais de 200 deputados, apesar dos esforços do líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS), para barrá-la.

Tradução

A declaração do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, de que o PDT mineiro está com o governador Aécio Neves é cifrada. Significa que a legenda fecha com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para a Presidência da República, e não apoia o candidato tucano ao Palácio da Liberdade. O PDT namora o senador Hélio Costa (PMDB), atual líder nas pesquisas de intenção de voto.

Bizu

Corre-corre de advogados e prefeitos no salão verde da Câmara dos Deputados para modificar a PEC dos Precatórios(dívidas impostas a administrações públicas por decisões judiciais), que voltou do Senado para aprovação final pelos deputados. O relator na Comissão de Constituição e Justiça, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pretende alterar o índice de correção dos precatórios e a ordem cronológica dos pagamentos. A emenda cria um regime especial de pagamento, por 15 anos. O estoque de precatórios soma R$ 100 bilhões, que podem ser usados para abater e pagar dívidas com a União, os estados e municípios. Fundos de pensão norte-americanos já compraram a maior parte desses títulos, que estavam rendendo mais do que a caderneta de poupança e os fundos de investimento.

Micou

Subiu no telhado a criação da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco). O último encontro entre Executivo, Banco do Brasil e parlamentares envolvidos na negociação foi em fevereiro. O prazo de transição para que o BB repasse a gestão dos R$ 11 bilhões do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO) para a agência de fomento integrada à Sudeco é a razão do impasse. Os parlamentares querem 15 anos para a mudança; o Executivo, bate o pé em 25 anos.

No cafezinho


Namoro/ O PT baiano ofereceu uma das duas vagas ao Senado, no acordo para reeleger o governador Jaques Wagner, ao conselheiro Otto Alencar, do Tribunal de Contas do Estado (TCE), que tem até março para se filiar a um partido político. A oferta começa a minar a relação do PT com aliados da esquerda. A deputada Lídice da Mata (foto), do PSB, que desistira da eleição municipal para apoiar os petistas, procurou o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), na semana passada, em busca de uma vaga.

Resistência/ Apesar das pressões da bancada federal, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Faria, não jogou a toalha na disputa pela vaga de candidato do PT ao governo do Rio de Janeiro. Seu principal aliado é o ex-deputado Vladimir Palmeira, que defende a candidatura própria e até hoje não engoliu o acordo da cúpula do PT com o ex-governador Anthony Garotinho nas eleições de 1998. Obrigado a desistir da candidatura a governador do Rio de Janeiro, Palmeira virou um eterno dissidente da cúpula petista.

Emplacou/ O líder do PPS, Fernando Coruja (SC), conseguiu que a Mesa da Câmara acolhesse questão de ordem impedindo a inclusão de matérias estranhas ao conteúdo das medidas provisórias por seus relatores. Todas as emendas parlamentares com contrabandos casuístas, segundo a decisão, serão rejeitadas sem discussão.

Sobrou/ O senador Almeida Lima (PMDB-SE), integrante da tropa de choque do governo no Senado, sobrou na política de alianças do governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), para as eleições de 2010. As vagas de candidato ao Senado estão reservadas para o senador Antônio Carlos Valadares (PSB) e o deputado Jackson Barreto (PDT). O prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PCdoB), fechou com a composição.

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RUY CASTRO

Álbuns de família

FOLHA DE SÃO PAULO - 10/06/09

RIO DE JANEIRO - Na imprensa do passado -aliás, nem tão passado; até outro dia era assim, pelo menos nos jornais populares-, valia tudo para capturar uma ou mais fotos de um morto em desastre importante. O primeiro passo era entrevistar a mulher e os filhos da vítima e pedir emprestado o álbum de família. A mulher, compreensivelmente, relutava. O repórter prometia devolvê-lo, voltava para o jornal com o troféu e, arrancadas as fotos que interessavam, o álbum se perdia nos desvãos da redação.
Caso a família se recusasse a emprestar, a ordem era roubar o porta-retrato sobre a cômoda. Assim, garantia-se a foto e se impedia que a concorrência a tivesse. Como a maioria dessas fotos era de estúdio, posada, tipo retrato para passaporte, os mortos costumavam ter um ar solene e oficial. A imprensa era cruel.
Hoje, não é mais necessário ferir uma família surrupiando-lhe as fotos do ente querido. Basta saber o nome do indigitado. Se ele é importante o suficiente para sair no jornal, sua foto estará no Google ou em algum "site de relacionamento". E nem precisa ser famoso. A quantidade de imagens circulando pelo ciberespaço é abundante e, com dois ou três cliques, está ao alcance de qualquer diretor de arte.
Ao contrário dos mortos do passado, sempre de colarinho e pescoço duros, quase que posando para o medalhão do próprio jazigo, os de hoje estão disponíveis em cores, felizes, fotografados em alguma ocasião festiva. Protagonizam momentos que eles quiseram partilhar com os amigos. São essas as fotos que agora ilustram as reportagens sobre as grandes catástrofes.
São essas as fotos das vítimas da queda do Airbus da Air France que a imprensa tem dado. Doem mais porque, nelas, as pessoas estão radiantes de despreocupação e de confiança no futuro.

COISAS DA POLÍTICA

A imprensa e o poder Getúlio Bittencourt

Mauro Santayana

JORNAL DO BRASIL - 10/06/09

O título desta coluna talvez tivesse sido mais correto se a conjunção fosse substituída pelo verbo: a imprensa é poder. Para o bem – e para o mal. Quando nos referimos à atividade, reduzindo-a ao termo imposto pelo uso, não nos limitamos ao papel impresso, mas à comunicação. As coisas só passam a ser quando comunicadas, como as geriátricas farras de Berlusconi e seus comparsas, nessa tentativa inútil de buscar a vida que se esvai na vida que aflora no corpo de adolescentes. Há muitas décadas – e muitas vezes sem razão – as discussões se encerravam com a sentença definitiva: "Deu no jornal". Mesmo quando o jornal mentia, era difícil recuperar a verdade: a primeira versão sempre prevalecia sobre os desmentidos. Grandes reputações se desfizeram – e se desfazem – diante da irresponsabilidade de um repórter, da negligência de seus chefes e da linha editorial dos jornais.

Coincidem, nestes dias, a polêmica em torno da política de comunicação da Petrobras e o 40º aniversário de O Pasquim, o irreverente e ousado semanário carioca, que abrigou a resistência intelectual do Rio de Janeiro contra a ditadura militar. Ao falar em O Pasquim, não podemos esquecer o semanário mineiro Binômio, que o antecedeu, e cuja redação foi destruída pela violência militar poucas semanas antes do golpe de 1964. Se fôssemos de episódio em episódio de violência contra a imprensa, chegaríamos às lutas pela independência, a Cipriano Barata e ao assassinato de Líbero Badaró – isso apenas na História do Brasil. Ai dos povos se não houvesse jornalistas dispostos a morrer na defesa da liberdade – e da verdade.

O presidente Lula, ao longo de seu mandato, se tem queixado algumas vezes da imprensa, como lembra, ao mostrar as contingências do poder, Wilson Figueiredo. Algumas vezes, não lhe faltam razões. É natural que os governantes se incomodem com a imprensa, porque com ela disputam o poder sobre o cotidiano e sobre a posteridade. Raymond Williams vai ao exagero de dizer que os meios de comunicação não refletem a realidade, mas, sim, fazem a realidade. Com seu sense of humour, Chesterton afirmou que o jornalismo, de modo geral, consiste em dizer "que Lorde Jones morreu, às pessoas que jamais souberam que Lorde Jones viveu". E Lorde Jones passa a viver.

O poder da imprensa é sempre bem exercido na informação, a mais neutra possível, dos fatos (embora isso seja muito difícil) e na opinião, absolutamente livre, manifestada pelos cidadãos que ocupam os meios de comunicação, jornalistas, ou não. Em nossos dias, o melhor espaço dos jornais tem sido o dedicado às cartas dos leitores. O presidente, homem de inteligência poderosa, sabe que deve muito de sua ascensão social e política à imprensa, que acompanhou, com simpatia, as suas atividades em tempos duros.

A atual direção da Petrobras tem o direito de divulgar, pela internet, textos que a promovam e defendam a companhia, como qualquer outra empresa mercantil. Mas não o de considerar desnecessária a atuação da imprensa. A Petrobras tem deveres especiais para com o Brasil e seu povo, e a sua grandeza não se faz apenas com os elogios que recebe, mas, também e, sobretudo, com as críticas. Ela não se pode conduzir como se fosse empresa comum, constituída por capitalistas, a fim de explorar um bem nacional e distribuir os lucros aos acionistas. Seu compromisso para com o Brasil exige que se disponha a esclarecer dúvidas sobre suas atividades até mesmo à CPI do Senado, criada apenas para tentar a desestabilização do governo, com fim eleitoral.

Sem liberdade de imprensa, sucumbem todas as liberdades. A imprensa faz parte dos poderes democráticos, conforme reconheceu Edmund Burke, no auge da luta de John Wilkes, o grande tribuno e panfletário inglês, paladino da liberdade de imprensa, que se insurgira contra os desatinos do reinado de George III. Coube a Burke, ao apontar os jornalistas que cobriam a Câmara dos Comuns, dizer, pela primeira vez, que ali se encontrava o quarto – e mais importante – dos poderes políticos.

Getúlio Bittencourt morreu sábado, aos 58 anos. Ele gostava de contar que iniciara a carreira em jornal que eu dirigira em Governador Valadares, o Diário do Rio Doce. Não tive o privilégio de conhecê-lo então – só fundei o jornal e logo o deixei – mas o de, anos depois, ter sido seu companheiro na Folha. Era desses homens que sabem marcar o seu tempo.

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INFORME JB

Entra em pauta a nova minirreforma

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 10/06/09

Reunidos ontem à noite no gabinete da presidência da Câmara, representantes de todos os partidos debruçaram-se sobre um anteprojeto pedido por Michel Temer e tocado por Flávio Dino (PCdoB-MA), com a colaboração da turma. Trata-se da nova minirreforma eleitoral – já que a reforma política não sairá – que vai a plenário, espera-se para hoje ou semana que vem, em consenso. O texto preliminar, de 10 páginas, ao qual o Informe teve acesso, não traz grandes novidades. É uma reforma mais para o eleitor. E dá um aperto no TSE: acrescentam ao artigo 16 da Lei 9.504/97 a determinação de que, antes da eleição, o tribunal julgue "todos os pedidos de registro de candidatos, inclusive os impugnados".

Morde... ...assopra

Outros pontos do anteprojeto que será levado a votação: proibida a pintura de propaganda em bens particulares – leia-se pichação ou pintura em muros, paredes, cercas. Isso aparece como nova redação no item A do artigo 37.

No item B, diz o anteprojeto que "independe de obtenção de licença municipal e autorização da Justiça Eleitoral" a propaganda com faixas, cartazes, placas, desde que não excedam 4 m².

Cai o boneco

Fica proibida a veiculação de propaganda em "árvores e jardins em áreas públicas"; e ainda a "colocação de bonecos, cartazes e cavaletes" nas ruas.

Os sem-camisa

O eleitor, ou cabo eleitoral, não poderá mais usar camisa de propaganda no dia da votação. Só broches ou adesivos.

Os sem-palanque

O candidato a qualquer cargo fica proibido de subir em palanque de inaugurações de obras nos três meses que antecedem o pleito.

Os sem-rede

Até o fechamento desta edição, os deputados aprovaram tudo, exceto o ponto sobre a divulgação de campanha pela internet, rádio e TV. Um artigo diz que não será crime a aparição ampla e irrestrita, desde que não peçam votos. Eles querem debater regras mais claras para isso.

Bahia azulou

Conforme a coluna adiantou há dois meses, o PSDB fechou coalizão com o DEM da Bahia, com Paulo Souto para o governo.

Novo colete

Durante a assinatura de um convênio entre o CNJ e o Meio Ambiente, o conselheiro Técio Lins e Silva perguntou ao ministro Carlos Minc se estava usando o "colete à prova de balas".

Três poderes

Há anos, um jantar na residência oficial da Câmara não reunia à mesa os três poderes, como na segunda: Lula, Temer, José Sarney, Gilmar Mendes (STF), Asfor Rocha (STJ) e Ayres Britto (TSE).

Sr. Sorriso

À beira da piscina, o sisudo Mendes era todo sorrisos numa roda de deputados.

A dois

Chamou a atenção de todos o momento a dois, num canto do jardim, de José Múcio e o senador Renan Calheiros.

DEM na base

O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) bailou sozinho em meio a dezenas de governistas.

Bom menino

Mesmo com feriado amanhã, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), vice-líder do Governo na Câmara, vai ficar de plantão em Brasília até domingo.

No degrau

José Eduardo Dutra e Renan Calheiros tiveram reunião ontem. Na escada do Salão Azul.

Cozinha aberta

Presidente da Comissão de Segurança Alimentar da Alerj, Alice Tamborindeguy lança na terça campanha Cumpra-se para lei de Jorge Bittar, quando vereador, autorizando os clientes a visitarem as cozinhas dos restaurantes.