O ESTADO DE S.PAULO - 13/07
O programa de governo Dilma Rousseff 2014 é uma peça publicitária, com forte dose de ficção. Um dos tópicos, intitulado Os 12 anos que transformaram o Brasil, é constrangedor. Ali, a mentira parece adquirir status de verdade histórica.
O que primeiro choca é a incongruência entre o título do programa (Mais mudanças, mais futuro) e o conteúdo proposto. Era de esperar que, com resultados tão pífios - reconhecidos não apenas por analistas econômicos, mas, como as pesquisas têm indicado, pela população em geral, que já percebeu qual é a qualidade do atual governo -, o leitor do programa se deparasse com algo diferente do que viu nos últimos anos. Mas o que lá está é mais do mesmo, com a reedição de "programas" pontuais e desconexos, sem uma visão ampla do que o Brasil precisa. Vê-se logo que é um programa feito pró-forma, em que o País é um simples acessório.
Furtando-se de analisar os seus anos de governo - o que seria mais honesto -, sempre que pode Dilma inclui os oito anos de Lula nas suas comparações. Disso resultam afirmações que se chocam com a verdade. Por exemplo, "ao final de três mandatos, todos os indicadores do período são positivos e sempre muito melhores do que os vigentes em 2002". Haja criatividade nos números para tamanha miopia!
Em relação ao seu calcanhar de aquiles - a inflação -, não tendo o que apresentar, usa bravatas pouco convincentes. "Entendemos o poder devastador da inflação (...) e por isso jamais transigiríamos ou transigiremos com um elemento da política econômica com esse potencial desorganizador da vida das pessoas e da economia". Se de fato Dilma entendeu o poder devastador da inflação, seus anos de governo são um exercício explícito de má-fé. O que ela de fato compreendeu foi o efeito político da inflação, daí a manipulação de números e os preços e tarifas administrados.
Há passagens que são a mais deslavada mentira. "Os governos do PT assumiram a histórica tarefa de investir na infraestrutura logística brasileira. (...) O Brasil dos governos do PT e de seus aliados ficará marcado como o período da história recente com mais entregas de grandes obras de infraestrutura." Será uma piada de mau gosto? Se há um setor onde existe uma distância abissal entre o que o País necessita - e o governo prometeu - e a administração petista entregou, este é o da infraestrutura. É dessa forma que a Mãe do PAC vê os resultados pífios do seu mandato?
No programa, renova-se a "profissão de fé do PT" no seu modelo de desenvolvimento. Informa que ele está assentado em dois pilares - a solidez econômica e a amplitude das políticas sociais - e que ganhará no próximo governo um terceiro sustentáculo: a competitividade produtiva. Infelizmente, não houve, como afirma o documento, "defesa intransigente da solidez macroeconômica". É fato de domínio público. Sobre as políticas sociais, também é conhecido como o PT entende o seu maior trunfo: repasse de verba, sem acompanhamento de resultados efetivos. "Social", para o governo atual, é sinônimo de voto. Na sua lógica, se deu voto, houve transformação social. E o terceiro pilar é algo de que o PT pouco entende, como já se viu. No máximo, sabe dar incentivos pontuais, de alcance duvidoso, sem uma política de governo séria e responsável, que garanta a confiança no ambiente dos negócios.
Para aparecer bem na foto, o PT não tem escrúpulos de editar a imagem real. No programa, afirma-se que "a tarefa de combater a extrema pobreza (...) foi superada". Confundem o título de programa social, "Brasil sem Miséria", com a realidade vivida. Afronta a sensibilidade humana fazer campanha eleitoral ignorando a realidade de tantos brasileiros e brasileiras que ainda vivem em condições sub-humanas.
Não foi o PT quem inventou certa "flexibilidade" nos programas de governo. Já existia antes dele. Mas o atual governo pôs em outro patamar o nível de descaramento. Eleições merecem respeito, porque o cidadão merece respeito. Há limites até mesmo para o que se põe no papel, ainda que na ética petista tudo aquilo que o mantenha no poder seja visto como legítimo. O Brasil merece outra ética, outra política.
domingo, julho 13, 2014
Xingamentos e a estratégia do ressentimento - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 13/07
Insultos à presidente são inaceitáveis, e esperamos que não ocorram hoje. Mas Lula e outros petistas vêm cultivando o “nós contra eles” há muito tempo
Duas grandes perguntas envolvem a final que será disputada nesta tarde, no Maracanã – o grande templo do futebol mundial em que a seleção brasileira nem botou os pés, por arrogância da organização –, entre Alemanha e Argentina. A primeira é óbvia e interessa a todo o mundo: quem conquistará a Copa mais uma vez? A segunda diz mais respeito aos brasileiros: a presidente Dilma Rousseff, que já garantiu sua presença e deve entregar a taça ao capitão da equipe vencedora, será recebida com a mesma hostilidade que enfrentou em São Paulo, no dia da abertura da Copa?
Se a vaia até faz parte do jogo, xingamentos como o que Dilma ouviu na Arena Corinthians são inaceitáveis, indignos de uma sociedade que se pretende civilizada. Não há justificativa para esse tipo de atitude e esperamos sinceramente que o episódio não se repita hoje. Mas nem por isso deixaremos de lembrar que tal reação é fruto de um ambiente cultivado, em grande parte, por diversos membros do PT, inclusive por seu grande líder, o ex-presidente Lula, que se mostrou escandalizado com os insultos a Dilma apesar de ele ter feito o mesmo contra Itamar Franco em 1993.
A própria reação ao caso do Itaquerão mostrou como funciona o modus operandi dessas pessoas. Chefões do partido e até comentaristas esportivos alinhados com sua ideologia recorreram a clivagens de gênero, socioeconômicas e até raciais para condenar o ato. Em vez de dizer o óbvio e o certo – que o insulto é um desrespeito atroz, independentemente de quem o profere e de quem o recebe –, o discurso predominante condenava a “elite branca” que estaria no estádio e seria a responsável pelos xingamentos.
Ricos contra pobres, brancos contra negros, homens contra mulheres, em resumo, “nós contra eles” – a estratégia de fomentar o ressentimento é clássica. O próprio Lula, que mesmo na presidência não tinha exatamente o vocabulário polido que agora cobra dos demais, disse inúmeras vezes que os ricos não desejavam a prosperidade dos pobres. “As pessoas não estão perdendo nada, só não querem que os pobres cheguem igual a eles”, afirmou a militantes negros em 2007; “Eles se incomodam. Eles preferiam um avião vazio, com meia dúzia de ricos”, afirmou dias atrás, comentando os insultos a Dilma. A presidente, aliás, aprendeu bem a lição do mentor e rebateu os xingamentos com um vídeo no qual afirmava que o Brasil “é um país em que mulheres, negros, jovens e crianças, a maioria mais pobre, passaram a ter direitos que sempre foram negados. É isso que vaiam e xingam. É isso que não suportam”.
Além do vitimismo e do estímulo ao ressentimento, até a agressão física já fez parte do cardápio dos líderes petistas. “Eles têm de apanhar nas ruas e nas urnas”, gritava José Dirceu a grevistas em 2000 – o agora mensaleiro condenado se referia aos tucanos paulistas. O governador Mario Covas, dias depois, seria agredido com paus, pedras e laranjas ao tentar entrar na Secretaria de Estado da Educação, que tinha sua entrada bloqueada por professores em greve. “Covas sentou em cima de um formigueiro”, foi a reação de Lula à agressão, comprovando não só que o clima agressivo vem sendo cultivado há muito tempo, mas também que a indignação de Lula é seletiva, dependendo do alvo do ataque.
A mistura entre esporte e política não é exclusiva desta ou daquela corrente ideológica. As ditaduras argentina e brasileira se aproveitaram do futebol, e os regimes totalitários de Cuba, da Cortina de Ferro e da China sempre usaram o sucesso de seus atletas como ferramenta de propaganda do socialismo. Dilma quis embarcar na campanha do hexa, posou para fotos imitando Neymar e organizou até um chat com internautas sobre a Copa, tentando colar sua imagem a um evento que se tornou a “Copa das Copas” não por fatores políticos, mas pelo desempenho das seleções em campo e pela festa das torcidas. No bate-papo, chegou a igualar o pessimismo com a organização da Copa ao pessimismo com a economia. Claro, não é por isso, e nem pelo histórico lulopetista de fomentar a divisão, que se deve xingar a presidente da República. Mas posar de vítima inocente diante da grosseria alheia nada mais é que cinismo.
Insultos à presidente são inaceitáveis, e esperamos que não ocorram hoje. Mas Lula e outros petistas vêm cultivando o “nós contra eles” há muito tempo
Duas grandes perguntas envolvem a final que será disputada nesta tarde, no Maracanã – o grande templo do futebol mundial em que a seleção brasileira nem botou os pés, por arrogância da organização –, entre Alemanha e Argentina. A primeira é óbvia e interessa a todo o mundo: quem conquistará a Copa mais uma vez? A segunda diz mais respeito aos brasileiros: a presidente Dilma Rousseff, que já garantiu sua presença e deve entregar a taça ao capitão da equipe vencedora, será recebida com a mesma hostilidade que enfrentou em São Paulo, no dia da abertura da Copa?
Se a vaia até faz parte do jogo, xingamentos como o que Dilma ouviu na Arena Corinthians são inaceitáveis, indignos de uma sociedade que se pretende civilizada. Não há justificativa para esse tipo de atitude e esperamos sinceramente que o episódio não se repita hoje. Mas nem por isso deixaremos de lembrar que tal reação é fruto de um ambiente cultivado, em grande parte, por diversos membros do PT, inclusive por seu grande líder, o ex-presidente Lula, que se mostrou escandalizado com os insultos a Dilma apesar de ele ter feito o mesmo contra Itamar Franco em 1993.
A própria reação ao caso do Itaquerão mostrou como funciona o modus operandi dessas pessoas. Chefões do partido e até comentaristas esportivos alinhados com sua ideologia recorreram a clivagens de gênero, socioeconômicas e até raciais para condenar o ato. Em vez de dizer o óbvio e o certo – que o insulto é um desrespeito atroz, independentemente de quem o profere e de quem o recebe –, o discurso predominante condenava a “elite branca” que estaria no estádio e seria a responsável pelos xingamentos.
Ricos contra pobres, brancos contra negros, homens contra mulheres, em resumo, “nós contra eles” – a estratégia de fomentar o ressentimento é clássica. O próprio Lula, que mesmo na presidência não tinha exatamente o vocabulário polido que agora cobra dos demais, disse inúmeras vezes que os ricos não desejavam a prosperidade dos pobres. “As pessoas não estão perdendo nada, só não querem que os pobres cheguem igual a eles”, afirmou a militantes negros em 2007; “Eles se incomodam. Eles preferiam um avião vazio, com meia dúzia de ricos”, afirmou dias atrás, comentando os insultos a Dilma. A presidente, aliás, aprendeu bem a lição do mentor e rebateu os xingamentos com um vídeo no qual afirmava que o Brasil “é um país em que mulheres, negros, jovens e crianças, a maioria mais pobre, passaram a ter direitos que sempre foram negados. É isso que vaiam e xingam. É isso que não suportam”.
Além do vitimismo e do estímulo ao ressentimento, até a agressão física já fez parte do cardápio dos líderes petistas. “Eles têm de apanhar nas ruas e nas urnas”, gritava José Dirceu a grevistas em 2000 – o agora mensaleiro condenado se referia aos tucanos paulistas. O governador Mario Covas, dias depois, seria agredido com paus, pedras e laranjas ao tentar entrar na Secretaria de Estado da Educação, que tinha sua entrada bloqueada por professores em greve. “Covas sentou em cima de um formigueiro”, foi a reação de Lula à agressão, comprovando não só que o clima agressivo vem sendo cultivado há muito tempo, mas também que a indignação de Lula é seletiva, dependendo do alvo do ataque.
A mistura entre esporte e política não é exclusiva desta ou daquela corrente ideológica. As ditaduras argentina e brasileira se aproveitaram do futebol, e os regimes totalitários de Cuba, da Cortina de Ferro e da China sempre usaram o sucesso de seus atletas como ferramenta de propaganda do socialismo. Dilma quis embarcar na campanha do hexa, posou para fotos imitando Neymar e organizou até um chat com internautas sobre a Copa, tentando colar sua imagem a um evento que se tornou a “Copa das Copas” não por fatores políticos, mas pelo desempenho das seleções em campo e pela festa das torcidas. No bate-papo, chegou a igualar o pessimismo com a organização da Copa ao pessimismo com a economia. Claro, não é por isso, e nem pelo histórico lulopetista de fomentar a divisão, que se deve xingar a presidente da República. Mas posar de vítima inocente diante da grosseria alheia nada mais é que cinismo.
Um país mais seguro - EDITORIAL ZERO HORA
ZERO HORA - 13/07
De todas as lições deixadas pela Copa do Mundo para o Brasil, talvez a principal seja a consciência de que podemos, sim, atenuar o maior fator de rejeição estrangeira ao nosso país e de incômodo para os próprios brasileiros, que é a insegurança das grandes cidades. O Plano de Segurança Pública da Copa, que custou ao governo federal pouco mais de R$ 1 bilhão com compra de equipamentos e custeio, funcionou satisfatoriamente mesmo com a movimentação extraordinária de pessoas em torno dos jogos. Os centros de comando e controle, com o sistema imageamento aéreo e plataformas de observação, instalados em nove capitais, ficam como um legado na área de segurança, assim como a integração entre a polícia federal e as polícias estaduais.
O Brasil encerra a Copa com a convicção de que podemos reduzir a sensação de insegurança, mesmo que nem todos os problemas tenham sido resolvidos. O saldo é tão satisfatório que os próprios brasileiros concederam a essa área algumas das melhores notas dos serviços avaliados durante a Copa, inclusive sob o ponto de vista de jornalistas e visitantes estrangeiros. O país superou as melhores expectativas, como resultado de um esforço reconhecido desde as primeiras providências. Merece reconhecimento a capacidade de articulação da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos, do Ministério da Justiça, que pôs em funcionamento nas 12 cidades sedes o Sistema Integrado de Comando e Controle.
Combinaram-se, para o êxito da empreitada, os investimentos em tecnologia, em treinamento e integração das polícias, em todas as esferas. Brasileiros e turistas, além das delegações participantes, puderam experimentar o sentimento de que estavam de fato mais protegidos não só contra o crime organizado, mas contra ameaças cotidianas. As grandes cidades ficaram mais seguras, durante um mês, também pelo reforço operacional de policiais militares deslocados de comunidades interioranas, e o país foi apresentado a outra surpresa _ mesmo assim, não houve aumento de criminalidade nas regiões menos guarnecidas.
Não se espera que, após a Copa, se mantenha a mesma estrutura excepcionalmente montada para um evento com particularidades únicas. Mas muitas das referências de tecnologia, inteligência e pessoal devem ser aproveitadas pelo governo federal e pelos Estados. O país não pode desperdiçar o aprendizado de mais de 160 mil profissionais da segurança e da defesa civil. Aprendemos com especialistas de outros países e com as trocas entre o pessoal das polícias nacionais. O Brasil que se saiu bem com a segurança da Copa deve repetir o feito na Olimpíada de 2016. Até lá, terá de provar que as estruturas e as práticas de segurança são de fato um dos legados duradouros do Mundial.
De todas as lições deixadas pela Copa do Mundo para o Brasil, talvez a principal seja a consciência de que podemos, sim, atenuar o maior fator de rejeição estrangeira ao nosso país e de incômodo para os próprios brasileiros, que é a insegurança das grandes cidades. O Plano de Segurança Pública da Copa, que custou ao governo federal pouco mais de R$ 1 bilhão com compra de equipamentos e custeio, funcionou satisfatoriamente mesmo com a movimentação extraordinária de pessoas em torno dos jogos. Os centros de comando e controle, com o sistema imageamento aéreo e plataformas de observação, instalados em nove capitais, ficam como um legado na área de segurança, assim como a integração entre a polícia federal e as polícias estaduais.
O Brasil encerra a Copa com a convicção de que podemos reduzir a sensação de insegurança, mesmo que nem todos os problemas tenham sido resolvidos. O saldo é tão satisfatório que os próprios brasileiros concederam a essa área algumas das melhores notas dos serviços avaliados durante a Copa, inclusive sob o ponto de vista de jornalistas e visitantes estrangeiros. O país superou as melhores expectativas, como resultado de um esforço reconhecido desde as primeiras providências. Merece reconhecimento a capacidade de articulação da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos, do Ministério da Justiça, que pôs em funcionamento nas 12 cidades sedes o Sistema Integrado de Comando e Controle.
Combinaram-se, para o êxito da empreitada, os investimentos em tecnologia, em treinamento e integração das polícias, em todas as esferas. Brasileiros e turistas, além das delegações participantes, puderam experimentar o sentimento de que estavam de fato mais protegidos não só contra o crime organizado, mas contra ameaças cotidianas. As grandes cidades ficaram mais seguras, durante um mês, também pelo reforço operacional de policiais militares deslocados de comunidades interioranas, e o país foi apresentado a outra surpresa _ mesmo assim, não houve aumento de criminalidade nas regiões menos guarnecidas.
Não se espera que, após a Copa, se mantenha a mesma estrutura excepcionalmente montada para um evento com particularidades únicas. Mas muitas das referências de tecnologia, inteligência e pessoal devem ser aproveitadas pelo governo federal e pelos Estados. O país não pode desperdiçar o aprendizado de mais de 160 mil profissionais da segurança e da defesa civil. Aprendemos com especialistas de outros países e com as trocas entre o pessoal das polícias nacionais. O Brasil que se saiu bem com a segurança da Copa deve repetir o feito na Olimpíada de 2016. Até lá, terá de provar que as estruturas e as práticas de segurança são de fato um dos legados duradouros do Mundial.
O Brasil mostrou a sua cara - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 13/07
A Copa foi um sucesso naquilo que dependeu do futebol e do povo brasileiro, alegre, hospitaleiro, acostumado com a diversidade, fatores que cativaram os estrangeiros
Hoje chega ao fim uma jornada de sete anos, iniciada quando o Brasil venceu a disputa para sediar a Copa de 2014. Foi uma viagem cheia de percalços, com altos e baixos, e um desfecho muito ruim para o futebol brasileiro. A seleção não chegou ao hexa, e assim não pôde exorcizar 1950 no mesmo Maracanã da derrota histórica de há 64 anos. E os sete gols sofridos na semifinal com a Alemanha ficarão como dolorosa marca nos cem anos de seleção brasileira. O estádio, renovado, coloca, porém, no currículo a honra de passar a ser o segundo do mundo, ao lado do mexicano Asteca, a servir de palco por duas vezes a uma final de Copa. Adicione-se, ainda, a qualquer balanço de saldos do evento a enorme exposição que teve o Brasil nos meios de comunicação globais, ajuda incalculável na atração de viajantes. Vai caber à indústria do turismo cativá-los.
No muito que se disse sobre a catastrófica derrota da seleção no Mineirão, identificaram-se entre as raízes da humilhação imposta pelo time alemão algumas facetas observadas na comissão técnica, mas que também fazem parte da vida pública brasileira: a arrogância, a empáfia, o ufanismo, a autossuficiência. O projeto da Copa começou com alguma contaminação desses ingredientes. O então presidente Lula, lembre-se, desejava um número de cidades-sede superior às 12 do projeto final. E ficou provado que se a Copa de 2014 tivesse se limitado a menos estados, com melhores condições de infraestrutura, o custo final para o contribuinte teria ficado menor, sem que o evento perdesse o brilho que teve. Além de haver uma quantidade menor de obras, um flanco vulnerável da Copa, como se confirmou.
Animal político, Lula pode ter percebido as oportunidades que o torneio daria, em ano eleitoral, para que ele desfilasse ao lado da candidata à reeleição Dilma Rousseff em estádios novos ou reformados. Mas, antes, precisava eleger a ministra em 2010. Conseguiu. Trapaças da vida real não o deixaram dar o fecho neste plano de rara antevisão política. A inflação, a impopularidade em alta, as vaias impediram-no. E, no fim, a própria derrota da seleção, e da maneira como ocorreu, foi tremendo gol contra os planos de marquetagem político-eleitoral.
Mas a Copa foi um sucesso. Naquilo que dependeu do futebol e do povo brasileiro. Houve ótimos jogos, com alta média de gols — infelizmente, com a colaboração da defesa brasileira no jogo com a Alemanha — e, para injetar mais emoção, seleções sem maior tradição brilharam, como Costa Rica, duro adversário da forte Holanda nas quartas de final. Foi derrotada apenas nos pênaltis. A Colômbia, com folha corrida no esporte, terminou sendo difícil adversário do Brasil na disputa por uma vaga na semifinal. O Chile, com tradição, outro obstáculo à seleção brasileira, veio com a melhor seleção das últimas Copas. Perdeu nos pênaltis, mas quase eliminou o Brasil, também nas quartas, no último minuto da prorrogação. Ficou a percepção de que a emigração de atletas de todos os continentes para a Europa, o mais forte centro mundial do futebol, tende a nivelar a qualidade dos jogadores do ponto de vista do condicionamento físico, conhecimento de táticas, etc — africanos, asiáticos, de onde sejam.
O sucesso da Copa também foi devido à simpatia e hospitalidade dos brasileiros. O estrangeiro é recebido com alegria por uma cultura que gosta da diversidade — ela própria fermentada na miscigenação. As Fan Fests espalhadas pelas cidades-sede viraram caldeirões de confraternização.
Foi assim desde o começo. E os grupos minoritários radicais, donos da palavra de ordem “não vai ter Copa”, logo perceberam que o melhor seria recolher as faixas e guardar capuzes e máscaras.
A imprensa estrangeira, antes cética, passou a registrar a boa qualidade do evento. Simon Kuper, da revista do jornal inglês “Financial Times”, escreveu um artigo sob o título “Porque o Brasil já ganhou”. Veterano em Copas, Simon lembrou que antes de sair para a viagem recebeu o conselho da mulher: “Não vá ser morto”. Registrou saber das altas taxas de homicídio no país, mas saudou a segurança nas áreas em que transitavam os visitantes. “Esta é uma Copa sem medo”. Kuper gostou do que viu, de Manaus a Copacabana. Na Copa de 2002, recorda que, no Japão, todos eram bem educados. E no Brasil, mesmo o policial “afaga amigavelmente suas costas quando você passa”, se você for “um estrangeiro branco, de classe média”. Para ele, esta foi a melhor das sete Copas em que trabalhou, desde 1990. Deu certo, portanto, o plano de contingência montado pelos governos para criar seguras zonas de exclusão em estádios, adjacências e áreas de circulação de visitantes, Fan Fests, vizinhanças e bairros turísticos. Decisão correta.
Porém, a outra face de medidas como esta é que o Brasil, diante das deficiências que tem, as quais não consegue resolver — mesmo, no caso da Copa, com sete anos para equacioná-las — precisa se valer de grandes planos de emergência. Eles sempre são necessários em qualquer país do mundo, mesmo o desenvolvido, mas a diferença está na dimensão. A segurança continua precária? Exército nas ruas durante o evento. Virou registro histórico o carro de combate Urutu estacionado à frente da subida da Rocinha na Rio-92. Passado o evento, o tanque foi embora e os traficantes voltaram à rotina de violência.
Os aeroportos também foram uma surpresa positiva. O índice de atrasos chegou a 7,3%, contra 8,3%, em todo 2013, nos países da União Europeia. Também aqui, funcionou a improvisação, porque, diante de tamanha demora na passagem da administração de grandes aeroportos à iniciativa privada, por obtusidade ideológica, a saída, em vários casos, foi também o jeitinho — terminais improvisados, etc.
Já tinha sido previsto que não haveria maiores dificuldades nos estádios, apesar dos atrasos. Elas estariam fora deles. Dados do próprio Ministério do Planejamento: apenas 24 das 70 obras de mobilidade urbana financiadas com recursos federais ficaram prontas. Ou seja, só 30%. Grande parte do legado para a população ainda está pelo caminho.
Mais soluções “meia boca” para contornar o obstáculo: decretar feriado nas cidades-sede em dia de jogo. Com menos veículos e pessoas nas ruas, a falta de estrutura de transporte público condizente faz menos estragos. O Brasil mostrou a sua cara: festeiro, alegre e hospitaleiro, mas incompetente em planejamento, administração de custos — sem falar em superfaturamentos, outro esporte nacional — e em gerenciamento de obras. Resta uma tênue esperança de que alguma lição tenha sido aprendida com vistas às Olimpíadas do Rio, daqui a dois anos. Mas o tempo é curto.
Criou-se, durante um mês, uma espécie de Brasil da fantasia: segurança extrema, feriados, menos dias de trabalho. A Copa, indiscutivelmente, foi um sucesso. Mas, a partir de amanhã, volta a dura realidade do cotidiano.
A Copa foi um sucesso naquilo que dependeu do futebol e do povo brasileiro, alegre, hospitaleiro, acostumado com a diversidade, fatores que cativaram os estrangeiros
Hoje chega ao fim uma jornada de sete anos, iniciada quando o Brasil venceu a disputa para sediar a Copa de 2014. Foi uma viagem cheia de percalços, com altos e baixos, e um desfecho muito ruim para o futebol brasileiro. A seleção não chegou ao hexa, e assim não pôde exorcizar 1950 no mesmo Maracanã da derrota histórica de há 64 anos. E os sete gols sofridos na semifinal com a Alemanha ficarão como dolorosa marca nos cem anos de seleção brasileira. O estádio, renovado, coloca, porém, no currículo a honra de passar a ser o segundo do mundo, ao lado do mexicano Asteca, a servir de palco por duas vezes a uma final de Copa. Adicione-se, ainda, a qualquer balanço de saldos do evento a enorme exposição que teve o Brasil nos meios de comunicação globais, ajuda incalculável na atração de viajantes. Vai caber à indústria do turismo cativá-los.
No muito que se disse sobre a catastrófica derrota da seleção no Mineirão, identificaram-se entre as raízes da humilhação imposta pelo time alemão algumas facetas observadas na comissão técnica, mas que também fazem parte da vida pública brasileira: a arrogância, a empáfia, o ufanismo, a autossuficiência. O projeto da Copa começou com alguma contaminação desses ingredientes. O então presidente Lula, lembre-se, desejava um número de cidades-sede superior às 12 do projeto final. E ficou provado que se a Copa de 2014 tivesse se limitado a menos estados, com melhores condições de infraestrutura, o custo final para o contribuinte teria ficado menor, sem que o evento perdesse o brilho que teve. Além de haver uma quantidade menor de obras, um flanco vulnerável da Copa, como se confirmou.
Animal político, Lula pode ter percebido as oportunidades que o torneio daria, em ano eleitoral, para que ele desfilasse ao lado da candidata à reeleição Dilma Rousseff em estádios novos ou reformados. Mas, antes, precisava eleger a ministra em 2010. Conseguiu. Trapaças da vida real não o deixaram dar o fecho neste plano de rara antevisão política. A inflação, a impopularidade em alta, as vaias impediram-no. E, no fim, a própria derrota da seleção, e da maneira como ocorreu, foi tremendo gol contra os planos de marquetagem político-eleitoral.
Mas a Copa foi um sucesso. Naquilo que dependeu do futebol e do povo brasileiro. Houve ótimos jogos, com alta média de gols — infelizmente, com a colaboração da defesa brasileira no jogo com a Alemanha — e, para injetar mais emoção, seleções sem maior tradição brilharam, como Costa Rica, duro adversário da forte Holanda nas quartas de final. Foi derrotada apenas nos pênaltis. A Colômbia, com folha corrida no esporte, terminou sendo difícil adversário do Brasil na disputa por uma vaga na semifinal. O Chile, com tradição, outro obstáculo à seleção brasileira, veio com a melhor seleção das últimas Copas. Perdeu nos pênaltis, mas quase eliminou o Brasil, também nas quartas, no último minuto da prorrogação. Ficou a percepção de que a emigração de atletas de todos os continentes para a Europa, o mais forte centro mundial do futebol, tende a nivelar a qualidade dos jogadores do ponto de vista do condicionamento físico, conhecimento de táticas, etc — africanos, asiáticos, de onde sejam.
O sucesso da Copa também foi devido à simpatia e hospitalidade dos brasileiros. O estrangeiro é recebido com alegria por uma cultura que gosta da diversidade — ela própria fermentada na miscigenação. As Fan Fests espalhadas pelas cidades-sede viraram caldeirões de confraternização.
Foi assim desde o começo. E os grupos minoritários radicais, donos da palavra de ordem “não vai ter Copa”, logo perceberam que o melhor seria recolher as faixas e guardar capuzes e máscaras.
A imprensa estrangeira, antes cética, passou a registrar a boa qualidade do evento. Simon Kuper, da revista do jornal inglês “Financial Times”, escreveu um artigo sob o título “Porque o Brasil já ganhou”. Veterano em Copas, Simon lembrou que antes de sair para a viagem recebeu o conselho da mulher: “Não vá ser morto”. Registrou saber das altas taxas de homicídio no país, mas saudou a segurança nas áreas em que transitavam os visitantes. “Esta é uma Copa sem medo”. Kuper gostou do que viu, de Manaus a Copacabana. Na Copa de 2002, recorda que, no Japão, todos eram bem educados. E no Brasil, mesmo o policial “afaga amigavelmente suas costas quando você passa”, se você for “um estrangeiro branco, de classe média”. Para ele, esta foi a melhor das sete Copas em que trabalhou, desde 1990. Deu certo, portanto, o plano de contingência montado pelos governos para criar seguras zonas de exclusão em estádios, adjacências e áreas de circulação de visitantes, Fan Fests, vizinhanças e bairros turísticos. Decisão correta.
Porém, a outra face de medidas como esta é que o Brasil, diante das deficiências que tem, as quais não consegue resolver — mesmo, no caso da Copa, com sete anos para equacioná-las — precisa se valer de grandes planos de emergência. Eles sempre são necessários em qualquer país do mundo, mesmo o desenvolvido, mas a diferença está na dimensão. A segurança continua precária? Exército nas ruas durante o evento. Virou registro histórico o carro de combate Urutu estacionado à frente da subida da Rocinha na Rio-92. Passado o evento, o tanque foi embora e os traficantes voltaram à rotina de violência.
Os aeroportos também foram uma surpresa positiva. O índice de atrasos chegou a 7,3%, contra 8,3%, em todo 2013, nos países da União Europeia. Também aqui, funcionou a improvisação, porque, diante de tamanha demora na passagem da administração de grandes aeroportos à iniciativa privada, por obtusidade ideológica, a saída, em vários casos, foi também o jeitinho — terminais improvisados, etc.
Já tinha sido previsto que não haveria maiores dificuldades nos estádios, apesar dos atrasos. Elas estariam fora deles. Dados do próprio Ministério do Planejamento: apenas 24 das 70 obras de mobilidade urbana financiadas com recursos federais ficaram prontas. Ou seja, só 30%. Grande parte do legado para a população ainda está pelo caminho.
Mais soluções “meia boca” para contornar o obstáculo: decretar feriado nas cidades-sede em dia de jogo. Com menos veículos e pessoas nas ruas, a falta de estrutura de transporte público condizente faz menos estragos. O Brasil mostrou a sua cara: festeiro, alegre e hospitaleiro, mas incompetente em planejamento, administração de custos — sem falar em superfaturamentos, outro esporte nacional — e em gerenciamento de obras. Resta uma tênue esperança de que alguma lição tenha sido aprendida com vistas às Olimpíadas do Rio, daqui a dois anos. Mas o tempo é curto.
Criou-se, durante um mês, uma espécie de Brasil da fantasia: segurança extrema, feriados, menos dias de trabalho. A Copa, indiscutivelmente, foi um sucesso. Mas, a partir de amanhã, volta a dura realidade do cotidiano.
Hora de virar o jogo - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 13/07
Fracasso da seleção é uma oportunidade para refletir sobre o atraso do futebol brasileiro e lançar novas bases para o esporte
A Copa do Mundo chega hoje a seu ápice, com a disputa do título pelas equipes da Argentina e da Alemanha. São dois adversários de tradição no futebol, que já se encontraram em outras duas finais: em 1986, no México, os sul-americanos triunfaram; em 1990, na Itália, a vitória foi dos europeus.
Aos brasileiros, que viram se frustrar o sonho de vencer um Mundial em seu país, cabe reconhecer os méritos dos finalistas e encerrar a festa como os bons anfitriões que têm sido desde o início.
Com os reparos que sempre se podem fazer, não há dúvida de que a Copa foi bem-sucedida; ficará nos anais da história como uma das mais emocionantes e surpreendentes já realizadas.
Embora tenha conquistado um lugar entre os quatro melhores, a campanha da seleção brasileira deixou muito a desejar. Como admitiu o craque Neymar, em nenhum momento o Brasil teve em campo um desempenho à altura de suas glórias futebolísticas.
A derrocada, que se consumou nos 7 a 1 para a Alemanha e se reforçou nos 3 a 0 para a Holanda, oferece oportunidade para a reflexão e a ação. Será uma lástima se o futebol brasileiro não conseguir extrair daí lições que o levem a superar suas precariedades estruturais, a começar pelo caráter amadorístico, patrimonialista e, não raro, corrupto de sua gestão.
Durante décadas, a administração do esporte mais popular do país assumiu um perfil quase extrativista: entidades e dirigentes voltavam-se à exploração da admirável capacidade do Brasil de produzir talentos futebolísticos.
Jovens das classes populares acorriam em massa aos clubes. Tratava-se apenas de peneirá-los para descobrir as pedras mais valiosas, que logo atrairiam multidões aos estádios e surpreenderiam o mundo com sua inventividade.
Mas o país mudou; as condições socioeconômicas que propiciavam essa realidade já não existem. Ao mesmo tempo, o planejamento e a gestão do futebol na Europa avançaram de maneira notável. A globalização do esporte levou o velho continente a contar com os melhores atletas do mundo e a conviver com excelência inédita.
O Brasil logo se conformou com o papel subdesenvolvido de exportador de matéria-prima. Seu futebol, internamente, viu-se condenado à indigência, ao endividamento e ao desinteresse dos torcedores.
Já há alguns anos, contudo, pressões modernizadoras se fazem sentir em setores da imprensa, em iniciativas de alguns clubes, em áreas restritas da política e, por fim, entre os principais artífices do espetáculo --os jogadores.
O surgimento do Bom Senso Futebol Clube, associação que congrega atletas interessados no aperfeiçoamento da gestão do esporte, é sem dúvida um sinal auspicioso.
Tais movimentos, contudo, têm esbarrado num conluio de dirigentes --a começar pelos que comandam a poderosa CBF-- com políticos e parlamentares que formam a chamada "bancada da bola". Trata-se de frente empenhada em defender o status quo.
É o status quo, todavia, que está em xeque depois do vexame diante da Alemanha. Enfraquecidas as correntes retrógradas, abre-se a melhor oportunidade em décadas para um esforço modernizador.
Há a perspectiva, por exemplo, de serem aprovados instrumentos legais que induzam à responsabilidade fiscal do futebol. O endividamento de clubes com o poder público surge, mais uma vez, como chance de exigir contrapartidas.
Não faz sentido, porém, perdoar tais débitos. Estima-se que girem na casa de R$ 4 bilhões, mas o descalabro é tal que nem se conhece a cifra exata. Vale lembrar, ademais, que programas de recuperação fiscal, como o que se discute no Congresso, já foram lançados --e descumpridos-- no passado.
Se é verdade, por outro lado, que o futebol tem inegável dimensão pública e que a CBF explora as cores da bandeira brasileira e o sentimento de nação --que não são bens privados--, nem por isso faria sentido apoiar uma intervenção estatal nesse esporte.
O caminho é outro. Passou da hora de os compromissos com a modernidade serem assumidos por aqueles que respondem pela maior fatia da sustentação financeira da atividade: os grandes patrocinadores e a Rede Globo. Basta dizer que os recursos da TV equivalem a 40% da receita dos clubes --além da divulgação de suas marcas.
Só uma reação em conjunto, congregando os interessados na criação de bases sustentáveis e racionais para o futebol, poderá mudar o quadro atual, que beneficia apenas uma casta de dirigentes.
A Alemanha deu mais que uma lição de futebol. Aquele país soube orquestrar um plano para formar jovens talentos e fortalecer seus clubes. Um programa como o que lá foi implementado poderia --e deveria-- ser adaptado ao Brasil. É preciso mudar. E a hora é essa.
Fracasso da seleção é uma oportunidade para refletir sobre o atraso do futebol brasileiro e lançar novas bases para o esporte
A Copa do Mundo chega hoje a seu ápice, com a disputa do título pelas equipes da Argentina e da Alemanha. São dois adversários de tradição no futebol, que já se encontraram em outras duas finais: em 1986, no México, os sul-americanos triunfaram; em 1990, na Itália, a vitória foi dos europeus.
Aos brasileiros, que viram se frustrar o sonho de vencer um Mundial em seu país, cabe reconhecer os méritos dos finalistas e encerrar a festa como os bons anfitriões que têm sido desde o início.
Com os reparos que sempre se podem fazer, não há dúvida de que a Copa foi bem-sucedida; ficará nos anais da história como uma das mais emocionantes e surpreendentes já realizadas.
Embora tenha conquistado um lugar entre os quatro melhores, a campanha da seleção brasileira deixou muito a desejar. Como admitiu o craque Neymar, em nenhum momento o Brasil teve em campo um desempenho à altura de suas glórias futebolísticas.
A derrocada, que se consumou nos 7 a 1 para a Alemanha e se reforçou nos 3 a 0 para a Holanda, oferece oportunidade para a reflexão e a ação. Será uma lástima se o futebol brasileiro não conseguir extrair daí lições que o levem a superar suas precariedades estruturais, a começar pelo caráter amadorístico, patrimonialista e, não raro, corrupto de sua gestão.
Durante décadas, a administração do esporte mais popular do país assumiu um perfil quase extrativista: entidades e dirigentes voltavam-se à exploração da admirável capacidade do Brasil de produzir talentos futebolísticos.
Jovens das classes populares acorriam em massa aos clubes. Tratava-se apenas de peneirá-los para descobrir as pedras mais valiosas, que logo atrairiam multidões aos estádios e surpreenderiam o mundo com sua inventividade.
Mas o país mudou; as condições socioeconômicas que propiciavam essa realidade já não existem. Ao mesmo tempo, o planejamento e a gestão do futebol na Europa avançaram de maneira notável. A globalização do esporte levou o velho continente a contar com os melhores atletas do mundo e a conviver com excelência inédita.
O Brasil logo se conformou com o papel subdesenvolvido de exportador de matéria-prima. Seu futebol, internamente, viu-se condenado à indigência, ao endividamento e ao desinteresse dos torcedores.
Já há alguns anos, contudo, pressões modernizadoras se fazem sentir em setores da imprensa, em iniciativas de alguns clubes, em áreas restritas da política e, por fim, entre os principais artífices do espetáculo --os jogadores.
O surgimento do Bom Senso Futebol Clube, associação que congrega atletas interessados no aperfeiçoamento da gestão do esporte, é sem dúvida um sinal auspicioso.
Tais movimentos, contudo, têm esbarrado num conluio de dirigentes --a começar pelos que comandam a poderosa CBF-- com políticos e parlamentares que formam a chamada "bancada da bola". Trata-se de frente empenhada em defender o status quo.
É o status quo, todavia, que está em xeque depois do vexame diante da Alemanha. Enfraquecidas as correntes retrógradas, abre-se a melhor oportunidade em décadas para um esforço modernizador.
Há a perspectiva, por exemplo, de serem aprovados instrumentos legais que induzam à responsabilidade fiscal do futebol. O endividamento de clubes com o poder público surge, mais uma vez, como chance de exigir contrapartidas.
Não faz sentido, porém, perdoar tais débitos. Estima-se que girem na casa de R$ 4 bilhões, mas o descalabro é tal que nem se conhece a cifra exata. Vale lembrar, ademais, que programas de recuperação fiscal, como o que se discute no Congresso, já foram lançados --e descumpridos-- no passado.
Se é verdade, por outro lado, que o futebol tem inegável dimensão pública e que a CBF explora as cores da bandeira brasileira e o sentimento de nação --que não são bens privados--, nem por isso faria sentido apoiar uma intervenção estatal nesse esporte.
O caminho é outro. Passou da hora de os compromissos com a modernidade serem assumidos por aqueles que respondem pela maior fatia da sustentação financeira da atividade: os grandes patrocinadores e a Rede Globo. Basta dizer que os recursos da TV equivalem a 40% da receita dos clubes --além da divulgação de suas marcas.
Só uma reação em conjunto, congregando os interessados na criação de bases sustentáveis e racionais para o futebol, poderá mudar o quadro atual, que beneficia apenas uma casta de dirigentes.
A Alemanha deu mais que uma lição de futebol. Aquele país soube orquestrar um plano para formar jovens talentos e fortalecer seus clubes. Um programa como o que lá foi implementado poderia --e deveria-- ser adaptado ao Brasil. É preciso mudar. E a hora é essa.
O que quer mesmo Boulos? - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 13/07
O perfil de Guilherme Boulos e a entrevista em que ele avança algumas de suas ideias, publicados pelo Estado (6/7), dão uma ideia mais precisa do que é e do que pretende o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), do qual é o coordenador nacional. Ele se transformou na vedete dos chamados movimentos sociais, depois de comandar numerosas e bem-sucedidas invasões - ou ocupações, como pretende - de terrenos na capital paulista. E o que se fica sabendo não é animador. Ao contrário, tem tudo para alimentar a inquietação que suas ações vêm suscitando.
Não são apenas os números que mostram a força que Boulos e seu movimento adquiriram. Presente em sete Estados, o MTST reúne hoje cerca de 50 mil famílias, 20 mil das quais em São Paulo. Jovem ainda, com 32 anos, Boulos - oriundo da classe média, formado em filosofia pela Universidade de São Paulo e que diz viver de seu salário de professor - já pode se vangloriar de ter dobrado à sua vontade e à de seu movimento tanto a presidente Dilma Rousseff como o governador Geraldo Alckmin, o prefeito Fernando Haddad e a maioria da Câmara Municipal de São Paulo.
Cada um em sua esfera de competência, todos estão colaborando para legalizar as invasões do MTST, dentro dos termos impostos por Boulos. Sem falar nas seguidas manifestações dos sem-teto, que - diante de uma polícia cheia de dedos, por ordem de governantes temerosos de serem acusados de repressores por cumprir seu dever de manter a ordem pública - paralisam ruas e avenidas, com reflexos no trânsito já caótico de vastas áreas da capital paulista. Manifestações que tiveram seu ponto "alto", se se pode dizer assim, com o cerco do edifício da Câmara, durante sete dias, para obrigá-la a aprovar a transformação das áreas invadidas em Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis) para a construção nelas de moradias populares.
Que há um sério problema habitacional no País, não apenas ninguém contesta, como todos acham que o poder público deve ajudar a resolvê-lo. Prova disso é que os governos federal, estaduais e de vários municípios, em especial das grandes cidades, mantêm programas habitacionais há muito tempo. O que o MTST quer não é dar sua colaboração. É impor sua vontade, invadindo terrenos escolhidos a dedo para conseguir a maior visibilidade possível a suas ações e para obrigar os governos a dar prioridade à construção de moradias neles. As quais devem ser distribuídas a seus militantes, furando a extensa fila de quem já está à espera de sua casa nos programas oficiais.
Segundo Boulos, isso de furar a fila é "uma falsa polêmica, porque 90% dos que ocupam (terrenos) fazem parte do 1 milhão que está na fila". Falsa e enganosa é a explicação. O fato de 90% dos ocupantes fazerem parte da fila não significa que ela está sendo respeitada - e não está. A verdade é que para Boulos a fila não vale, porque é determinada por critérios políticos. Supondo que isso seja verdade, é o caso de perguntar: e a fila elaborada pelo MTST para os terrenos invadidos, notoriamente com base no critério da militância, não é política? E os restantes 10% que ele mesmo reconhece não estarem na fila, de onde vêm?
Mas tudo isso é "uma falsa polêmica", para usar sua expressão, porque - é esse o ponto fundamental da entrevista - "o MTST não é um movimento de moradia". Vejam só como as palavras - a referência aos sem-teto - podem ser enganadoras. É o que, então? "É um projeto de acumulação de forças para mudança social." Boulos, de acordo com seu perfil traçado pelo repórter Pablo Pereira, "se diz um marxista com a missão de acumular forças políticas para a revolução socialista".
É um direito seu. Mas os que não pensam assim têm igualmente o direito de saber se a pretendida revolução socialista de Boulos inclui a rejeição das liberdades e leis "burguesas", como indica a forma como ele e seus companheiros se comportam. O jogo tem de ser claro. Se Boulos rejeita o Estado de Direito vigente, não socialista, o que quer pôr no seu lugar? Alguém acredita que a maioria dos brasileiros aceita a revolução socialista? Já que ele teve um vislumbre de sinceridade, deve ir até o fim.
O perfil de Guilherme Boulos e a entrevista em que ele avança algumas de suas ideias, publicados pelo Estado (6/7), dão uma ideia mais precisa do que é e do que pretende o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), do qual é o coordenador nacional. Ele se transformou na vedete dos chamados movimentos sociais, depois de comandar numerosas e bem-sucedidas invasões - ou ocupações, como pretende - de terrenos na capital paulista. E o que se fica sabendo não é animador. Ao contrário, tem tudo para alimentar a inquietação que suas ações vêm suscitando.
Não são apenas os números que mostram a força que Boulos e seu movimento adquiriram. Presente em sete Estados, o MTST reúne hoje cerca de 50 mil famílias, 20 mil das quais em São Paulo. Jovem ainda, com 32 anos, Boulos - oriundo da classe média, formado em filosofia pela Universidade de São Paulo e que diz viver de seu salário de professor - já pode se vangloriar de ter dobrado à sua vontade e à de seu movimento tanto a presidente Dilma Rousseff como o governador Geraldo Alckmin, o prefeito Fernando Haddad e a maioria da Câmara Municipal de São Paulo.
Cada um em sua esfera de competência, todos estão colaborando para legalizar as invasões do MTST, dentro dos termos impostos por Boulos. Sem falar nas seguidas manifestações dos sem-teto, que - diante de uma polícia cheia de dedos, por ordem de governantes temerosos de serem acusados de repressores por cumprir seu dever de manter a ordem pública - paralisam ruas e avenidas, com reflexos no trânsito já caótico de vastas áreas da capital paulista. Manifestações que tiveram seu ponto "alto", se se pode dizer assim, com o cerco do edifício da Câmara, durante sete dias, para obrigá-la a aprovar a transformação das áreas invadidas em Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis) para a construção nelas de moradias populares.
Que há um sério problema habitacional no País, não apenas ninguém contesta, como todos acham que o poder público deve ajudar a resolvê-lo. Prova disso é que os governos federal, estaduais e de vários municípios, em especial das grandes cidades, mantêm programas habitacionais há muito tempo. O que o MTST quer não é dar sua colaboração. É impor sua vontade, invadindo terrenos escolhidos a dedo para conseguir a maior visibilidade possível a suas ações e para obrigar os governos a dar prioridade à construção de moradias neles. As quais devem ser distribuídas a seus militantes, furando a extensa fila de quem já está à espera de sua casa nos programas oficiais.
Segundo Boulos, isso de furar a fila é "uma falsa polêmica, porque 90% dos que ocupam (terrenos) fazem parte do 1 milhão que está na fila". Falsa e enganosa é a explicação. O fato de 90% dos ocupantes fazerem parte da fila não significa que ela está sendo respeitada - e não está. A verdade é que para Boulos a fila não vale, porque é determinada por critérios políticos. Supondo que isso seja verdade, é o caso de perguntar: e a fila elaborada pelo MTST para os terrenos invadidos, notoriamente com base no critério da militância, não é política? E os restantes 10% que ele mesmo reconhece não estarem na fila, de onde vêm?
Mas tudo isso é "uma falsa polêmica", para usar sua expressão, porque - é esse o ponto fundamental da entrevista - "o MTST não é um movimento de moradia". Vejam só como as palavras - a referência aos sem-teto - podem ser enganadoras. É o que, então? "É um projeto de acumulação de forças para mudança social." Boulos, de acordo com seu perfil traçado pelo repórter Pablo Pereira, "se diz um marxista com a missão de acumular forças políticas para a revolução socialista".
É um direito seu. Mas os que não pensam assim têm igualmente o direito de saber se a pretendida revolução socialista de Boulos inclui a rejeição das liberdades e leis "burguesas", como indica a forma como ele e seus companheiros se comportam. O jogo tem de ser claro. Se Boulos rejeita o Estado de Direito vigente, não socialista, o que quer pôr no seu lugar? Alguém acredita que a maioria dos brasileiros aceita a revolução socialista? Já que ele teve um vislumbre de sinceridade, deve ir até o fim.
Bons ventos vêm do Brics - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 13/07
As expectativas em torno da reunião de cúpula do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), esta semana, em Fortaleza, são de resultados bastante mais produtivos do que protocolares, o que, por si, é bom sinal. E o grupo demonstra ousadia. Vai anunciar oficialmente a criação de um banco de desenvolvimento e de um fundo de divisas com aportes iniciais totais de, respectivamente, US$ 50 bilhões e US$ 100 bilhões.
Mais: não se trata de blá-blá-blá. Certamente vai levar algum tempo até que as duas instituições passem pelo crivo dos parlamentos, tenham os acordos internacionais ratificados e virem realidade, mas as bases estão criadas depois de tão exaustivas quanto persistentes reuniões, num claro sinal da disposição conjunta de avançar. O prazo para começar a operar está previsto num horizonte de dois anos: nem tão curto que pareça irresponsável ou ilusório nem tão longo que passe a sensação de inalcançável.
Outro aceno importante a observar é que os estados membros se mostram abertos a outros países. Não por acaso, da capital cearense, os presidentes virão a Brasília, onde se encontrarão com colegas de países da América do Sul. Além disso, banco e fundo são lançados não para atender com exclusividade o Brics, mas como alternativa ao mundo em desenvolvimento, hoje dependente do Banco Mundial (Bird) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), historicamente comandados pelos Estados Unidos e pela Europa.
Aliás, outro acerto é fundar as instituições sem a pretensão de substituir as duas principais criações de Bretton Woods, grande acordo econômico mundial costurado no pós-Segunda Guerra pelos países aliados, vencedores do nazifascismo. Ou seja, quando o planeta insiste em seguir uma ordem ultrapassada, pré-globalização, o Brics oferece algo novo, sem a dimensão dos originais, mas também - ao menos teoricamente - sem a aspiração de concorrer com eles. Oxalá a anunciada intenção se confirme e as instituições surjam com viés global, livres de dirigismos ideológicos.
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul são realidades sociais, políticas, econômicas e culturais diversas. Essa, a maior pedra apontada pelos céticos como obstáculo intransponível à união dos cinco países num objetivo comum. O argumento, sem dúvida, é respeitável. Mas, por essa mesma razão, a curta caminhada até aqui é êxito inconteste. Cada uma a seu modo, são potências mundiais, duas delas (Rússia e China), inclusive, com poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
De resto, a União Europeia também se faz na soma de diferenças. E há lições a tirar de lá, como o esforço conjunto em prol dos menores e as associações com outros países. O Brics pode inspirar-se e ir além, transformando o potencial multiplicador das cinco economias no eixo de novo padrão de desenvolvimento, sobretudo, sustentável. E se o banco vem aí para financiar infraestrutura, é bom cuidar de priorizar igualmente - senão principalmente - a educação.
Mais: não se trata de blá-blá-blá. Certamente vai levar algum tempo até que as duas instituições passem pelo crivo dos parlamentos, tenham os acordos internacionais ratificados e virem realidade, mas as bases estão criadas depois de tão exaustivas quanto persistentes reuniões, num claro sinal da disposição conjunta de avançar. O prazo para começar a operar está previsto num horizonte de dois anos: nem tão curto que pareça irresponsável ou ilusório nem tão longo que passe a sensação de inalcançável.
Outro aceno importante a observar é que os estados membros se mostram abertos a outros países. Não por acaso, da capital cearense, os presidentes virão a Brasília, onde se encontrarão com colegas de países da América do Sul. Além disso, banco e fundo são lançados não para atender com exclusividade o Brics, mas como alternativa ao mundo em desenvolvimento, hoje dependente do Banco Mundial (Bird) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), historicamente comandados pelos Estados Unidos e pela Europa.
Aliás, outro acerto é fundar as instituições sem a pretensão de substituir as duas principais criações de Bretton Woods, grande acordo econômico mundial costurado no pós-Segunda Guerra pelos países aliados, vencedores do nazifascismo. Ou seja, quando o planeta insiste em seguir uma ordem ultrapassada, pré-globalização, o Brics oferece algo novo, sem a dimensão dos originais, mas também - ao menos teoricamente - sem a aspiração de concorrer com eles. Oxalá a anunciada intenção se confirme e as instituições surjam com viés global, livres de dirigismos ideológicos.
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul são realidades sociais, políticas, econômicas e culturais diversas. Essa, a maior pedra apontada pelos céticos como obstáculo intransponível à união dos cinco países num objetivo comum. O argumento, sem dúvida, é respeitável. Mas, por essa mesma razão, a curta caminhada até aqui é êxito inconteste. Cada uma a seu modo, são potências mundiais, duas delas (Rússia e China), inclusive, com poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
De resto, a União Europeia também se faz na soma de diferenças. E há lições a tirar de lá, como o esforço conjunto em prol dos menores e as associações com outros países. O Brics pode inspirar-se e ir além, transformando o potencial multiplicador das cinco economias no eixo de novo padrão de desenvolvimento, sobretudo, sustentável. E se o banco vem aí para financiar infraestrutura, é bom cuidar de priorizar igualmente - senão principalmente - a educação.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“O País não precisa da criação de uma Futebras”
Aécio Neves (PSDB) sobre a ameaça oportunista do governo de “intervir” no futebol
NORDESTE PRESSIONA PELA VAGA DE JOAQUIM
Um carioca, um paulista e um gaúcho são os mais comentados para ocupar a vaga do atual presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, que irá “pendurar a toga” no início de agosto após 11 anos de magistratura. No entanto, as bancadas federais de deputados e senadores dos nove estados do Nordeste estão lutando para que o escolhido de Dilma para o cargo seja um conterrâneo.
SEM NORDESTINO
Após a aposentadoria do sergipano Carlos Ayres Britto, o Nordeste deixou de ser representado no STF, a mais Alta Corte do País.
MAIORIA DO SUL
A dupla Lula/Dilma, que comanda o País desde 2003, já nomeou para o STF 12 ministros, a maioria de Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul.
PRIMEIRA FILA
Os mais citados para o STF são o carioca Benedito Gonçalves, ministro do STJ, e o paulista José Eduardo Cardozo, atual ministro da Justiça.
COTADOS
O gaúcho Luis Adams, chefe da AGU, o carioca Luis Felipe Salomão e a gaúcha Nancy Andrigui, ministros do STJ, são cotados para o STF.
CARTAS MARCADAS
As regras para a eleição na Confederação Nacional do Comércio (CNC) contêm detalhes pitorescos. Segundo o artigo 6º do seu Regulamento Eleitoral, eventuais impugnações às chapas ou candidatos serão decididas por ninguém menos do que o próprio Antônio de Oliveira Santos, que há 34 anos se agarra à presidência da entidade como carrapato, e concorre ao seu 10º mandato consecutivo.
CHAPA 2
Único rival de Antônio Santos nos últimos 30 anos, Orlando Diniz será impugnado pela chapa de Antônio Santos, que também será o julgador.
PORTEIRA ESCANCARADA
Após abrir a porteira para haitianos, o governo se vê diante de novo surto migratório: são esperados até 1.000 “refugiados” de Gana.
NEM AÍ
Alheio à coleção de pedidos de impugnação à sua candidatura, José Roberto Arruda (PR) segue fazendo comícios diários em Brasília.
QUE DILMA?
Nas bandeiras de propaganda de Armando Monteiro (PTB), candidato ao governo de Pernambuco, somente usando lente de aumento para conseguir enxergar o nome de Dilma. E olha lá.
TOMA LÁ, DÁ CÁ
O presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB), planeja colocar em pauta a indicação de Bruno Dantas ao TCU quando o Senado marcar a sabatina do desembargador potiguar Luiz Alberto Gurgel Faria para o STJ. Dantas é apadrinhado de Renan Calheiros, presidente do Senado.
RIQUINHO
É o senador Delcídio Amaral, em Mato Grosso do Sul, o candidato petista a governador mais rico a enfrentar as urnas em outubro. Ele declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 3,381 milhões.
POBRINHO
Quando estender a mão ao eleitor, o candidato do PT ao governo do Rio, Lindbergh Farias, corre o risco de ganhar um trocado. Ele jurou à Justiça Eleitoral possuir patrimônio avaliado em apenas R$ 189 mil.
POLE POSITION
A campanha de Renan Filho (PMDB) ao governo de Alagoas, tocada pelo marqueteiro gaúcho Adriano Gheres, tem sido elogiada pela qualidade no visual e conteúdo. E Renan começou a disputa na pole position.
SENADOR TILDEN
Com a decisão de Aécio Neves de se licenciar do Senado para se dedicar à campanha, assumirá o segundo suplente, Tilden Santiago (PSB), ex-petista que marcou época como embaixador do Brasil em Havana. O 1º suplente, Elmiro Alves do Nascimento, é candidato a deputado.
EM DÍVIDA
Além de apoiar Wilma de Faria (PSB), candidata ao Senado, Henrique Alves espera apoio de Eduardo Campos porque acha que ajudou a aprovar, na Câmara, a indicação da mãe dele, Ana Arraes, ao TCU.
SUSTENTABILIDADE
A construtora MRV plantou mais de 13 mil árvores. Só no Rio foram mais de 4.300. Atingiu 43% da meta para o Ano da Sustentabilidade: plantar 120 mil árvores em 2014, diz seu presidente, Rubens Menin.
VAI DE ÔNIBUS?
Na declaração de bens à Justiça Eleitoral do candidato Helder Barbalho (PMDB), filho do milionário Jader Barbalho, não consta nem um carro.
PODER SEM PUDOR
SENADOR INTERROMPIDO
O cabeludo Wellington Salgado era senador pelo PMDB-MG e naquele dia saiu às pressas do banheiro para ajudar o governo a assegurar o quorum da Comissão de Orçamento. Chegando ao plenário, reclamou de Heráclito Fortes (PFL-PI), que tentava obstruir a sessão. Língua afiada, o então senador Heráclito não perdoou:
- O senador Wellington Salgado reclamou que saiu correndo do banheiro. Agora, pode retornar ao interrompido...
Aécio Neves (PSDB) sobre a ameaça oportunista do governo de “intervir” no futebol
NORDESTE PRESSIONA PELA VAGA DE JOAQUIM
Um carioca, um paulista e um gaúcho são os mais comentados para ocupar a vaga do atual presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, que irá “pendurar a toga” no início de agosto após 11 anos de magistratura. No entanto, as bancadas federais de deputados e senadores dos nove estados do Nordeste estão lutando para que o escolhido de Dilma para o cargo seja um conterrâneo.
SEM NORDESTINO
Após a aposentadoria do sergipano Carlos Ayres Britto, o Nordeste deixou de ser representado no STF, a mais Alta Corte do País.
MAIORIA DO SUL
A dupla Lula/Dilma, que comanda o País desde 2003, já nomeou para o STF 12 ministros, a maioria de Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul.
PRIMEIRA FILA
Os mais citados para o STF são o carioca Benedito Gonçalves, ministro do STJ, e o paulista José Eduardo Cardozo, atual ministro da Justiça.
COTADOS
O gaúcho Luis Adams, chefe da AGU, o carioca Luis Felipe Salomão e a gaúcha Nancy Andrigui, ministros do STJ, são cotados para o STF.
CARTAS MARCADAS
As regras para a eleição na Confederação Nacional do Comércio (CNC) contêm detalhes pitorescos. Segundo o artigo 6º do seu Regulamento Eleitoral, eventuais impugnações às chapas ou candidatos serão decididas por ninguém menos do que o próprio Antônio de Oliveira Santos, que há 34 anos se agarra à presidência da entidade como carrapato, e concorre ao seu 10º mandato consecutivo.
CHAPA 2
Único rival de Antônio Santos nos últimos 30 anos, Orlando Diniz será impugnado pela chapa de Antônio Santos, que também será o julgador.
PORTEIRA ESCANCARADA
Após abrir a porteira para haitianos, o governo se vê diante de novo surto migratório: são esperados até 1.000 “refugiados” de Gana.
NEM AÍ
Alheio à coleção de pedidos de impugnação à sua candidatura, José Roberto Arruda (PR) segue fazendo comícios diários em Brasília.
QUE DILMA?
Nas bandeiras de propaganda de Armando Monteiro (PTB), candidato ao governo de Pernambuco, somente usando lente de aumento para conseguir enxergar o nome de Dilma. E olha lá.
TOMA LÁ, DÁ CÁ
O presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB), planeja colocar em pauta a indicação de Bruno Dantas ao TCU quando o Senado marcar a sabatina do desembargador potiguar Luiz Alberto Gurgel Faria para o STJ. Dantas é apadrinhado de Renan Calheiros, presidente do Senado.
RIQUINHO
É o senador Delcídio Amaral, em Mato Grosso do Sul, o candidato petista a governador mais rico a enfrentar as urnas em outubro. Ele declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 3,381 milhões.
POBRINHO
Quando estender a mão ao eleitor, o candidato do PT ao governo do Rio, Lindbergh Farias, corre o risco de ganhar um trocado. Ele jurou à Justiça Eleitoral possuir patrimônio avaliado em apenas R$ 189 mil.
POLE POSITION
A campanha de Renan Filho (PMDB) ao governo de Alagoas, tocada pelo marqueteiro gaúcho Adriano Gheres, tem sido elogiada pela qualidade no visual e conteúdo. E Renan começou a disputa na pole position.
SENADOR TILDEN
Com a decisão de Aécio Neves de se licenciar do Senado para se dedicar à campanha, assumirá o segundo suplente, Tilden Santiago (PSB), ex-petista que marcou época como embaixador do Brasil em Havana. O 1º suplente, Elmiro Alves do Nascimento, é candidato a deputado.
EM DÍVIDA
Além de apoiar Wilma de Faria (PSB), candidata ao Senado, Henrique Alves espera apoio de Eduardo Campos porque acha que ajudou a aprovar, na Câmara, a indicação da mãe dele, Ana Arraes, ao TCU.
SUSTENTABILIDADE
A construtora MRV plantou mais de 13 mil árvores. Só no Rio foram mais de 4.300. Atingiu 43% da meta para o Ano da Sustentabilidade: plantar 120 mil árvores em 2014, diz seu presidente, Rubens Menin.
VAI DE ÔNIBUS?
Na declaração de bens à Justiça Eleitoral do candidato Helder Barbalho (PMDB), filho do milionário Jader Barbalho, não consta nem um carro.
PODER SEM PUDOR
SENADOR INTERROMPIDO
O cabeludo Wellington Salgado era senador pelo PMDB-MG e naquele dia saiu às pressas do banheiro para ajudar o governo a assegurar o quorum da Comissão de Orçamento. Chegando ao plenário, reclamou de Heráclito Fortes (PFL-PI), que tentava obstruir a sessão. Língua afiada, o então senador Heráclito não perdoou:
- O senador Wellington Salgado reclamou que saiu correndo do banheiro. Agora, pode retornar ao interrompido...
sábado, julho 12, 2014
A razão do MTST - DEMÉTRIO MAGNOLI
FOLHA DE SP - 12/07
O mercado gera segregação: reserva os melhores lugares às classes altas e expulsa os pobres para a periferia
A inspiração está estampada na sigla: o MTST quer ser o MST das cidades. O paralelo certo, porém, é com o MST das origens, três décadas atrás, quando o impulso do capitalismo agrário brasileiro produzia uma massa de trabalhadores destituídos no campo. De lá para cá, o chão social do MST desmoronou, sob os golpes do êxodo rural e dos programas de assentamentos dos governos FHC e Lula. Enquanto isso, alastrava-se nas metrópoles e cidades médias uma crise que atingiu seu paroxismo nos últimos anos. O tempo da reforma agrária distributivista passou na janela, e só o MST não viu. Mas a emergência do MTST sinaliza a necessidade de uma reforma urbana radical, que não pode ser mascarada pelos programas de construção de moradias populares.
O metro quadrado de um imóvel antigo no centro expandido de São Paulo vale mais que o de um apartamento novo no anel periférico da metrópole. A propriedade imobiliária urbana é uma mercadoria singular, pois seu valor decorre, essencialmente, da localização --ou seja, do grau de acesso que oferece aos bens e serviços da cidade. No seu funcionamento normal, o mercado imobiliário gera segregação urbana, reservando as melhores localizações às classes de alta renda e expulsando os pobres para as periferias. O MTST nasceu numa conjuntura de exacerbação desse movimento segregador.
Na economia de mercado, os centros expandidos das metrópoles experimentam uma tendência à gentrificação, ou seja, ao "enobrecimento" social. A expansão recente da economia brasileira e, em particular, do setor de serviços, acelerou esse movimento, que se expressa na valorização em ritmo especulativo dos preços dos imóveis e dos aluguéis. No Rio de Janeiro, a gentrificação é temperada pelo "colchão" de favelas da zona sul, que surgiu pelos caprichos da geografia e da história. Em São Paulo, a gentrificação não encontra obstáculos, difundindo-se do centro expandido para a zona leste e as franjas exteriores da zona oeste. O MTST não inventou os sem-teto, apenas conferiu-lhes visibilidade política.
Os dirigentes do MTST professam uma crença básica anticapitalista. Se conhecessem as cidades do socialismo, talvez mudassem de ideia: na URSS, na Alemanha Oriental e em Cuba, a tendência à segregação urbana somou-se à dilapidação inclemente das infraestruturas e residências, cristalizando cenários desoladores. O MTST almeja apropriar-se do comando dos programas de moradia social, como forma de estabelecer controle político sobre os próprios sem-teto. Contudo, só um cego pode negar que o movimento tem raízes reais e toca numa ferida aberta. Além disso, é um equívoco confundi-lo com o MPL: o MTST expele os "black blocs" de suas manifestações e dirige demandas legítimas ao poder público.
Todos (exceto os fanáticos do livre mercado) concordam que as cidades não podem ser moldadas exclusivamente pelas leis do mercado. O poder público opera na configuração das cidades por diversos instrumentos, especialmente por meio dos planos diretores. O problema é que, em São Paulo como nas demais grandes cidades do país, sucessivos planos diretores (inclusive este último) curvaram-se às forças do mercado imobiliário, reforçando o campo magnético da segregação urbana. Não é preciso aderir aos dogmas anticapitalistas do MTST para saudar a desarrumação que ele provocou no debate sobre o futuro de São Paulo.
No campo, os assentamentos só conseguiram esvaziar a demanda de reforma agrária porque as cidades funcionaram como válvulas de escape para massas de destituídos. Evidentemente, não existem válvulas de escape para os sem-teto, que se reproduzem em escala ampliada no compasso da inflação dos preços dos imóveis urbanos. Reforma urbana significa a reserva de vastas áreas destinadas à moradia social nos arredores dos centros expandidos das metrópoles. É hora de encará-la.
O mercado gera segregação: reserva os melhores lugares às classes altas e expulsa os pobres para a periferia
A inspiração está estampada na sigla: o MTST quer ser o MST das cidades. O paralelo certo, porém, é com o MST das origens, três décadas atrás, quando o impulso do capitalismo agrário brasileiro produzia uma massa de trabalhadores destituídos no campo. De lá para cá, o chão social do MST desmoronou, sob os golpes do êxodo rural e dos programas de assentamentos dos governos FHC e Lula. Enquanto isso, alastrava-se nas metrópoles e cidades médias uma crise que atingiu seu paroxismo nos últimos anos. O tempo da reforma agrária distributivista passou na janela, e só o MST não viu. Mas a emergência do MTST sinaliza a necessidade de uma reforma urbana radical, que não pode ser mascarada pelos programas de construção de moradias populares.
O metro quadrado de um imóvel antigo no centro expandido de São Paulo vale mais que o de um apartamento novo no anel periférico da metrópole. A propriedade imobiliária urbana é uma mercadoria singular, pois seu valor decorre, essencialmente, da localização --ou seja, do grau de acesso que oferece aos bens e serviços da cidade. No seu funcionamento normal, o mercado imobiliário gera segregação urbana, reservando as melhores localizações às classes de alta renda e expulsando os pobres para as periferias. O MTST nasceu numa conjuntura de exacerbação desse movimento segregador.
Na economia de mercado, os centros expandidos das metrópoles experimentam uma tendência à gentrificação, ou seja, ao "enobrecimento" social. A expansão recente da economia brasileira e, em particular, do setor de serviços, acelerou esse movimento, que se expressa na valorização em ritmo especulativo dos preços dos imóveis e dos aluguéis. No Rio de Janeiro, a gentrificação é temperada pelo "colchão" de favelas da zona sul, que surgiu pelos caprichos da geografia e da história. Em São Paulo, a gentrificação não encontra obstáculos, difundindo-se do centro expandido para a zona leste e as franjas exteriores da zona oeste. O MTST não inventou os sem-teto, apenas conferiu-lhes visibilidade política.
Os dirigentes do MTST professam uma crença básica anticapitalista. Se conhecessem as cidades do socialismo, talvez mudassem de ideia: na URSS, na Alemanha Oriental e em Cuba, a tendência à segregação urbana somou-se à dilapidação inclemente das infraestruturas e residências, cristalizando cenários desoladores. O MTST almeja apropriar-se do comando dos programas de moradia social, como forma de estabelecer controle político sobre os próprios sem-teto. Contudo, só um cego pode negar que o movimento tem raízes reais e toca numa ferida aberta. Além disso, é um equívoco confundi-lo com o MPL: o MTST expele os "black blocs" de suas manifestações e dirige demandas legítimas ao poder público.
Todos (exceto os fanáticos do livre mercado) concordam que as cidades não podem ser moldadas exclusivamente pelas leis do mercado. O poder público opera na configuração das cidades por diversos instrumentos, especialmente por meio dos planos diretores. O problema é que, em São Paulo como nas demais grandes cidades do país, sucessivos planos diretores (inclusive este último) curvaram-se às forças do mercado imobiliário, reforçando o campo magnético da segregação urbana. Não é preciso aderir aos dogmas anticapitalistas do MTST para saudar a desarrumação que ele provocou no debate sobre o futuro de São Paulo.
No campo, os assentamentos só conseguiram esvaziar a demanda de reforma agrária porque as cidades funcionaram como válvulas de escape para massas de destituídos. Evidentemente, não existem válvulas de escape para os sem-teto, que se reproduzem em escala ampliada no compasso da inflação dos preços dos imóveis urbanos. Reforma urbana significa a reserva de vastas áreas destinadas à moradia social nos arredores dos centros expandidos das metrópoles. É hora de encará-la.
Custo da bagunça - CRISTOVAM BUARQUE
O GLOBO - 12/07
Alianças são feitas sem respeito às identidades
A democracia brasileira é uma bagunça, tanto no funcionamento do aparelho do Estado (relações entre os Três Poderes e pequenas repúblicas cartoriais envolvidas no exercício da atividade administrativa no dia a dia) quanto no processo eleitoral propriamente dito. A última semana desnudou a vergonhosa realidade desta bagunça: alianças feitas sem respeito às identidades ideológicas ou éticas entre os candidatos de uma mesma coligação. Como em toda bagunça, o eleitor fica desconsolado e o aparelho do Estado, caótico.
Esta bagunça de casamentos imorais em grupos sem identidade, que foi chamada de “orgia” e “suruba”, respectivamente, pelo prefeito Eduardo Paes e pelo deputado Alfredo Sirkis, tem outro demonstrativo vergonhoso no custo das campanhas. Somente Dilma e Aécio preveem gastar R$ 588 milhões. Somando os demais presidenciáveis, o custo será de R$ 870 milhões.
Em 2010, as eleições a todos os cargos custaram R$ 3,23 bilhões, cerca de 11vezes mais do que os gastos dos presidenciáveis de então. Mantida a mesma proporção, em 2014 os gastos serão de R$ 9,7 bilhões, equivalentes ao pagamento de piso salarial para cem mil professores ao longo de quatro anos. Nenhum regime pode ser considerado democrático se cada voto custa tão caro, os professores tão pouco, e os candidatos precisam ser ricos ou comprometidos com ricos financiadores de suas campanhas ou as duas coisas.
O maior custo, porém, não é financeiro, é o caos político e administrativo que está esgotando o atual modelo de democracia brasileira, desmoralizando e emperrando o funcionamento do setor público. Apesar disso, ainda não vimos qualquer dos candidatos à Presidência propondo reforma eleitoral que reduza este custo.
Com três medidas seria possível fazer a redução dos custos, tanto financeiros quanto políticos.
A proibição de alianças no primeiro turno levaria ao fim do comércio de tempo para os programas eleitorais. Esta medida reduziria o número de partidos e a consequente reorganização deles com base em identidade e substância de ideias e valores morais.
A utilização do horário eleitoral para transmitir debates e falas diretas dos candidatos, sem qualquer manipulação marqueteira que, a custos altíssimos, busca enganar o eleitor e vender o candidato como se fosse mercadoria. Sem caros marketings, o custo seria menor e a qualidade da democracia maior ao colocar os candidatos se enfrentando e olhando nos olhos dos eleitores, sem a parafernália usada para iludir.
Limitar os gastos eleitorais para cada candidato não poder gastar mais do que um determinado pequeno valor proporcional ao número de eleitores de sua circunscrição. Isto seria facilitado pela adoção de um sistema distrital misto, em que alguns dos deputados e vereadores representam apenas distritos, e não todo o estado.
As três medidas, entre outras, não deverão ser adotadas porque os candidatos que buscam a reeleição se beneficiam da bagunça, enquanto outros sonham em entrar nela.
Alianças são feitas sem respeito às identidades
A democracia brasileira é uma bagunça, tanto no funcionamento do aparelho do Estado (relações entre os Três Poderes e pequenas repúblicas cartoriais envolvidas no exercício da atividade administrativa no dia a dia) quanto no processo eleitoral propriamente dito. A última semana desnudou a vergonhosa realidade desta bagunça: alianças feitas sem respeito às identidades ideológicas ou éticas entre os candidatos de uma mesma coligação. Como em toda bagunça, o eleitor fica desconsolado e o aparelho do Estado, caótico.
Esta bagunça de casamentos imorais em grupos sem identidade, que foi chamada de “orgia” e “suruba”, respectivamente, pelo prefeito Eduardo Paes e pelo deputado Alfredo Sirkis, tem outro demonstrativo vergonhoso no custo das campanhas. Somente Dilma e Aécio preveem gastar R$ 588 milhões. Somando os demais presidenciáveis, o custo será de R$ 870 milhões.
Em 2010, as eleições a todos os cargos custaram R$ 3,23 bilhões, cerca de 11vezes mais do que os gastos dos presidenciáveis de então. Mantida a mesma proporção, em 2014 os gastos serão de R$ 9,7 bilhões, equivalentes ao pagamento de piso salarial para cem mil professores ao longo de quatro anos. Nenhum regime pode ser considerado democrático se cada voto custa tão caro, os professores tão pouco, e os candidatos precisam ser ricos ou comprometidos com ricos financiadores de suas campanhas ou as duas coisas.
O maior custo, porém, não é financeiro, é o caos político e administrativo que está esgotando o atual modelo de democracia brasileira, desmoralizando e emperrando o funcionamento do setor público. Apesar disso, ainda não vimos qualquer dos candidatos à Presidência propondo reforma eleitoral que reduza este custo.
Com três medidas seria possível fazer a redução dos custos, tanto financeiros quanto políticos.
A proibição de alianças no primeiro turno levaria ao fim do comércio de tempo para os programas eleitorais. Esta medida reduziria o número de partidos e a consequente reorganização deles com base em identidade e substância de ideias e valores morais.
A utilização do horário eleitoral para transmitir debates e falas diretas dos candidatos, sem qualquer manipulação marqueteira que, a custos altíssimos, busca enganar o eleitor e vender o candidato como se fosse mercadoria. Sem caros marketings, o custo seria menor e a qualidade da democracia maior ao colocar os candidatos se enfrentando e olhando nos olhos dos eleitores, sem a parafernália usada para iludir.
Limitar os gastos eleitorais para cada candidato não poder gastar mais do que um determinado pequeno valor proporcional ao número de eleitores de sua circunscrição. Isto seria facilitado pela adoção de um sistema distrital misto, em que alguns dos deputados e vereadores representam apenas distritos, e não todo o estado.
As três medidas, entre outras, não deverão ser adotadas porque os candidatos que buscam a reeleição se beneficiam da bagunça, enquanto outros sonham em entrar nela.
Intervenção no futebol é a novidade diante da crise - ROLF KUNTZ
O ESTADÃO - 12/07
Estamos salvos. O México superou o Brasil como maior produtor latino-americano de veículos, no primeiro semestre, a maior parte da indústria continua em crise - e demitindo - e a corrente de comércio encolhe, mas o governo promete consertar o futebol. A ideia é intervir na atividade, impor novos padrões de gestão aos clubes e até impedir a exportação de jovens craques, segundo anunciou na quinta-feira o ministro do Esporte, Aldo Rebelo. "Não podemos continuar exportando jogadores que são a maior atração do futebol brasileiro", disse no mesmo dia a presidente Dilma Rousseff. Para a presidente e sua trupe, a derrota por 7 a 1 deve ser um desastre muito maior que a devastação econômica dos últimos anos - uma mistura de estagnação industrial, inflação elevada, contas públicas em deterioração e contas externas esburacadas. Nos 12 meses até maio, o déficit em conta corrente chegou a US$ 81,85 bilhões, 3,61% do produto interno bruto (PIB) estimado, e as condições de financiamento têm piorado. Podem ficar mais desfavoráveis com o fim dos estímulos monetários americanos, previsto para outubro, mas nada parece tão grave, para o governo, quanto o fracasso no futebol.
Ah, dirão os otimistas, esse comentário é injusto, até porque um novo pacote econômico e financeiro foi lançado na mesma quinta-feira, com a publicação da Medida Provisória (MP) 651. Mas a novidade é pouca, na parte econômica, e as principais medidas já foram testadas nos últimos anos, com escasso resultado.
A desoneração da folha de pessoal, concedida a 56 setores e contrabalançada por outra forma de tributação, pouco afetou os custos. A maior parte das empresas continua com problemas na gestão de pessoal. Sem disposição para reformar de fato o sistema previdenciário, o governo continua adotando remendos. Temporária até agora, a mudança deve tornar-se permanente, mas nem por isso o remendo deixa de ser remendo. Não se resolve o problema das empresas nem se arruma a Previdência.
O Reintegra, agora com alíquotas variáveis de 0,1% a 3%, definíveis a cada ano, permite a recuperação parcial dos impostos pagos na cadeia produtiva. Neste ano, o benefício será de 0,3%. A variação anual prejudicará o planejamento dos exportadores e, no balanço geral, os brasileiros continuarão em desvantagem diante dos estrangeiros. Além disso, a política federal é inócua em relação a um dos principais problemas - a dificuldade de acesso aos créditos do ICMS, o tributo estadual sobre circulação de mercadorias e serviços. Aceito pelos empresários na falta de algo mais sério, o Reintegra também é um remendo.
Em quase 12 anos, a administração petista foi incapaz de formular e de negociar uma revisão ambiciosa e eficaz do sistema tributário. Em vez disso, têm tramitado no Congresso propostas voltadas para o atraso, favoráveis à perpetuação da guerra fiscal e à desmoralização definitiva do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz). Aprovado o fim da unanimidade para aprovação de incentivos, estará preparado o campo para uma guerra mais intensa entre regiões e entre Estados - e para mais distorções, é claro, das decisões sobre investimentos privados.
A mudança do Refis, o programa de parcelamento de débitos fiscais, é mais um mimo aos sonegadores e mais um esforço para juntar migalhas e chegar mais perto da meta de superávit primário. Os pagamentos iniciais de quem entrar no programa serão reduzidos. Por exemplo: para os devedores de até R$ 1 milhão, a prestação inicial cairá de 10% para 5%. Haverá facilidades decrescentes para débitos até R$ 20 milhões. Acima desse valor, a entrada será de 20%. Além disso, empresas já inscritas no parcelamento poderão ter descontos se anteciparem a quitação de 30% da dívida restante. Com os novos estímulos, a previsão de receita do Refis para 2014 sobe de R$ 12,5 bilhões para R$ 15 bilhões. Outros R$ 2 bilhões, primeira parcela de um total de R$ 15 bilhões, já estão garantidos: serão pagos pela Petrobrás pela transferência, sem licitação, de quatro áreas do pré-sal. Todo esse dinheiro, somado aos bônus de concessões de infraestrutura e aos dividendos mais gordos extraídos das estatais, tornará mais fácil fechar as contas. Nem pensar em austeridade, especialmente em ano de eleições. Além do mais, é preciso levar em conta o peso de outros mimos tributários, como a prorrogação do desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o setor automobilístico. Também para compensar essa bondade seletiva será preciso juntar trocados aqui e ali.
É difícil dizer se o governo insiste nessas medidas por teimosia, firmeza de princípio ou incapacidade total de perceber os fatos, mesmo retratados em números oficiais - como a estagnação dos três anos anteriores e a perspectiva de crescimento abaixo de 2% em 2014 e de novo fiasco em 2015. Com a indústria incapaz de competir, o Brasil só continuou salvo de um desastre cambial, neste ano, graças ao superávit comercial de US$ 49,11 bilhões acumulado pelo agronegócio entre janeiro e junho - mesmo com preços em queda. Reservas cambiais acima de US$ 370 bilhões dão segurança temporária contra choques externos. Mas segurança de fato no balanço de pagamentos só se alcança por meio de competição nos mercados de bens e serviços. Nesse jogo, só o chamado setor primário tem obtido resultados. Se protecionismo e favores seletivos substituíssem poder de competição, a Argentina jamais teria chegado a um passo de um segundo calote. Afinal, teve 13 anos, desde o fim de 2001, para investir e ganhar eficiência. Mas o governo desperdiçou o tempo com besteiras intermináveis, como barreiras à exportação de alimentos para maquiar a inflação. No Brasil já se cometeu bobagem parecida com o couro, para favorecer a indústria de sapatos. A próxima asneira poderá ser o entrave à exportação de jogadores. Haverá quem aplauda.
Estamos salvos. O México superou o Brasil como maior produtor latino-americano de veículos, no primeiro semestre, a maior parte da indústria continua em crise - e demitindo - e a corrente de comércio encolhe, mas o governo promete consertar o futebol. A ideia é intervir na atividade, impor novos padrões de gestão aos clubes e até impedir a exportação de jovens craques, segundo anunciou na quinta-feira o ministro do Esporte, Aldo Rebelo. "Não podemos continuar exportando jogadores que são a maior atração do futebol brasileiro", disse no mesmo dia a presidente Dilma Rousseff. Para a presidente e sua trupe, a derrota por 7 a 1 deve ser um desastre muito maior que a devastação econômica dos últimos anos - uma mistura de estagnação industrial, inflação elevada, contas públicas em deterioração e contas externas esburacadas. Nos 12 meses até maio, o déficit em conta corrente chegou a US$ 81,85 bilhões, 3,61% do produto interno bruto (PIB) estimado, e as condições de financiamento têm piorado. Podem ficar mais desfavoráveis com o fim dos estímulos monetários americanos, previsto para outubro, mas nada parece tão grave, para o governo, quanto o fracasso no futebol.
Ah, dirão os otimistas, esse comentário é injusto, até porque um novo pacote econômico e financeiro foi lançado na mesma quinta-feira, com a publicação da Medida Provisória (MP) 651. Mas a novidade é pouca, na parte econômica, e as principais medidas já foram testadas nos últimos anos, com escasso resultado.
A desoneração da folha de pessoal, concedida a 56 setores e contrabalançada por outra forma de tributação, pouco afetou os custos. A maior parte das empresas continua com problemas na gestão de pessoal. Sem disposição para reformar de fato o sistema previdenciário, o governo continua adotando remendos. Temporária até agora, a mudança deve tornar-se permanente, mas nem por isso o remendo deixa de ser remendo. Não se resolve o problema das empresas nem se arruma a Previdência.
O Reintegra, agora com alíquotas variáveis de 0,1% a 3%, definíveis a cada ano, permite a recuperação parcial dos impostos pagos na cadeia produtiva. Neste ano, o benefício será de 0,3%. A variação anual prejudicará o planejamento dos exportadores e, no balanço geral, os brasileiros continuarão em desvantagem diante dos estrangeiros. Além disso, a política federal é inócua em relação a um dos principais problemas - a dificuldade de acesso aos créditos do ICMS, o tributo estadual sobre circulação de mercadorias e serviços. Aceito pelos empresários na falta de algo mais sério, o Reintegra também é um remendo.
Em quase 12 anos, a administração petista foi incapaz de formular e de negociar uma revisão ambiciosa e eficaz do sistema tributário. Em vez disso, têm tramitado no Congresso propostas voltadas para o atraso, favoráveis à perpetuação da guerra fiscal e à desmoralização definitiva do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz). Aprovado o fim da unanimidade para aprovação de incentivos, estará preparado o campo para uma guerra mais intensa entre regiões e entre Estados - e para mais distorções, é claro, das decisões sobre investimentos privados.
A mudança do Refis, o programa de parcelamento de débitos fiscais, é mais um mimo aos sonegadores e mais um esforço para juntar migalhas e chegar mais perto da meta de superávit primário. Os pagamentos iniciais de quem entrar no programa serão reduzidos. Por exemplo: para os devedores de até R$ 1 milhão, a prestação inicial cairá de 10% para 5%. Haverá facilidades decrescentes para débitos até R$ 20 milhões. Acima desse valor, a entrada será de 20%. Além disso, empresas já inscritas no parcelamento poderão ter descontos se anteciparem a quitação de 30% da dívida restante. Com os novos estímulos, a previsão de receita do Refis para 2014 sobe de R$ 12,5 bilhões para R$ 15 bilhões. Outros R$ 2 bilhões, primeira parcela de um total de R$ 15 bilhões, já estão garantidos: serão pagos pela Petrobrás pela transferência, sem licitação, de quatro áreas do pré-sal. Todo esse dinheiro, somado aos bônus de concessões de infraestrutura e aos dividendos mais gordos extraídos das estatais, tornará mais fácil fechar as contas. Nem pensar em austeridade, especialmente em ano de eleições. Além do mais, é preciso levar em conta o peso de outros mimos tributários, como a prorrogação do desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o setor automobilístico. Também para compensar essa bondade seletiva será preciso juntar trocados aqui e ali.
É difícil dizer se o governo insiste nessas medidas por teimosia, firmeza de princípio ou incapacidade total de perceber os fatos, mesmo retratados em números oficiais - como a estagnação dos três anos anteriores e a perspectiva de crescimento abaixo de 2% em 2014 e de novo fiasco em 2015. Com a indústria incapaz de competir, o Brasil só continuou salvo de um desastre cambial, neste ano, graças ao superávit comercial de US$ 49,11 bilhões acumulado pelo agronegócio entre janeiro e junho - mesmo com preços em queda. Reservas cambiais acima de US$ 370 bilhões dão segurança temporária contra choques externos. Mas segurança de fato no balanço de pagamentos só se alcança por meio de competição nos mercados de bens e serviços. Nesse jogo, só o chamado setor primário tem obtido resultados. Se protecionismo e favores seletivos substituíssem poder de competição, a Argentina jamais teria chegado a um passo de um segundo calote. Afinal, teve 13 anos, desde o fim de 2001, para investir e ganhar eficiência. Mas o governo desperdiçou o tempo com besteiras intermináveis, como barreiras à exportação de alimentos para maquiar a inflação. No Brasil já se cometeu bobagem parecida com o couro, para favorecer a indústria de sapatos. A próxima asneira poderá ser o entrave à exportação de jogadores. Haverá quem aplauda.
A força da propaganda - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 12/07
A maior força da campanha de reeleição da presidente Dilma acaba de ser transformada em números pelo Tribunal Superior Eleitoral(TSE), que definiu o tempo de televisão e rádio na propaganda eleitoral de cada um dos candidatos, baseado nas alianças partidárias e no tamanho de cada bancada no Congresso.
Ela terá não apenas quase o dobro de tempo que a soma dos dois principais candidatos de oposição, Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB, como, nas inserções de 30 segundos somadas, terá nada menos que 123 minutos espalhados pela programação de cada emissora de canal aberto do Brasil nos 45 dias da campanha eleitoral.
O volume de publicidade é equivalente, segundo especialistas, ao lançamento de um modelo novo de carro para consumo popular. Com o aumento da audiência das novas mídias e dos canais fechados de televisão que não passam a campanha eleitoral, os especialistas acreditam que a propaganda nos canais abertos de rádio e televisão tende a ter sua importância relativizada, embora continue exigindo um gasto importante.
O histórico recente mostra que a audiência desses programas é grande no início da campanha, depois decresce e volta a subir na reta final. Nesse ambiente novo, crescem de importância as inserções no meio da programação normal. Para o analista Jairo Nicolau, cientista político especialista em análises eleitorais, um tempo de televisão básico entre 5 e 8 minutos é suficiente para uma boa campanha eleitoral, e se não for muito bem feito, um tempo excessivo como o da candidata Dilma Rousseff pode se transformar em uma problema na campanha.
Ele cita o ocorrido com Ulysses Guimarães, que em 1989 tinha "um latifúndio" de tempo de televisão e teve uma votação pífia. Da mesma maneira, na última eleição presidencial a ex-ministra Marina Silva teve pouco mais de 1 minuto e chegou e terceiro lugar com cerca de 20 milhões de votos.
Nicolau considera que o mais prejudicado será o candidato Campos, da Coligação "Unidos pelo Brasil", que terá apenas 1 minuto e 49 segundos, quase o mesmo tempo que a então candidata do PV à Presidência e hoje sua vice Marina Silva teve em 2010: 1 minuto e 26 segundos. Ela, ressalta Jairo Nicolau, era conhecida do eleitorado, o que não acontece com Campos.
Aécio terá 50 minutos de inserções e Campos terá 22 minutos. Com a divulgação do tempo que corresponderá a cada um dos candidatos à Presidência da República este ano, ficou patenteada, pois, a enorme vantagem que a presidente Dilma terá nos 45 dias de propaganda oficial de rádio e televisão que começam em meados de agosto.
A coligação "Com A Força do Povo", formada por 8 partidos, terá 11 minutos e 48 segundos, poucos segundos a mais do que teve em 2010, devido à adesão do PSD, terceira maior bancada da Câmara, que contrabalançou com sobras a dissidência do PSB e do PTB que compunham a aliança original.
Já a chapa "Muda Brasil", de Aécio, ficou com 4 minutos e 31 segundos, bem menos em relação à campanha presidencial de 2010, quando José Serra teve com sete minutos e 18 segundos. Aécio terá também menos inserções do que tiveram Serra e Geraldo Alckmin quando candidatos.
A coligação que apoia o candidato do PSDB perdeu o PPS, que se bandeou para Campos, e sofreu com a redução de suas bancadas, especialmente do DEM, que foi desidratada com a criação do PSD.
O candidato do PSC, Pastor Everaldo, que aparece com 4% nas pesquisas, terá 1 minuto e 8 segundos, o que pode representar, paradoxalmente, um reforço à sua candidatura, já que ele é inteiramente desconhecido do eleitorado fora do círculo da Assembleia de Deus e pode ampliar sua penetração. O cálculo de seus coordenadores é de que ele tem fôlego para chegar a 10% dos votos, o que o tornaria uma peça fundamental para a disputa do segundo turno.
Nessa parte decisiva da campanha eleitoral, portanto, a presidente Dilma sai em vantagem, até ampliando seu tempo de propaganda eleitoral, enquanto seus adversários têm problemas, notadamente o candidato tucano Aécio, que viu reduzido seu tempo de rádio e televisão, mas, sobretudo, o das inserções publicitárias.
Resta a ele acreditar que as dissidências nos partidos da base aliada compensarão na propaganda paralela a vantagem que a presidente Dilma tem na propaganda oficial.
Ela terá não apenas quase o dobro de tempo que a soma dos dois principais candidatos de oposição, Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB, como, nas inserções de 30 segundos somadas, terá nada menos que 123 minutos espalhados pela programação de cada emissora de canal aberto do Brasil nos 45 dias da campanha eleitoral.
O volume de publicidade é equivalente, segundo especialistas, ao lançamento de um modelo novo de carro para consumo popular. Com o aumento da audiência das novas mídias e dos canais fechados de televisão que não passam a campanha eleitoral, os especialistas acreditam que a propaganda nos canais abertos de rádio e televisão tende a ter sua importância relativizada, embora continue exigindo um gasto importante.
O histórico recente mostra que a audiência desses programas é grande no início da campanha, depois decresce e volta a subir na reta final. Nesse ambiente novo, crescem de importância as inserções no meio da programação normal. Para o analista Jairo Nicolau, cientista político especialista em análises eleitorais, um tempo de televisão básico entre 5 e 8 minutos é suficiente para uma boa campanha eleitoral, e se não for muito bem feito, um tempo excessivo como o da candidata Dilma Rousseff pode se transformar em uma problema na campanha.
Ele cita o ocorrido com Ulysses Guimarães, que em 1989 tinha "um latifúndio" de tempo de televisão e teve uma votação pífia. Da mesma maneira, na última eleição presidencial a ex-ministra Marina Silva teve pouco mais de 1 minuto e chegou e terceiro lugar com cerca de 20 milhões de votos.
Nicolau considera que o mais prejudicado será o candidato Campos, da Coligação "Unidos pelo Brasil", que terá apenas 1 minuto e 49 segundos, quase o mesmo tempo que a então candidata do PV à Presidência e hoje sua vice Marina Silva teve em 2010: 1 minuto e 26 segundos. Ela, ressalta Jairo Nicolau, era conhecida do eleitorado, o que não acontece com Campos.
Aécio terá 50 minutos de inserções e Campos terá 22 minutos. Com a divulgação do tempo que corresponderá a cada um dos candidatos à Presidência da República este ano, ficou patenteada, pois, a enorme vantagem que a presidente Dilma terá nos 45 dias de propaganda oficial de rádio e televisão que começam em meados de agosto.
A coligação "Com A Força do Povo", formada por 8 partidos, terá 11 minutos e 48 segundos, poucos segundos a mais do que teve em 2010, devido à adesão do PSD, terceira maior bancada da Câmara, que contrabalançou com sobras a dissidência do PSB e do PTB que compunham a aliança original.
Já a chapa "Muda Brasil", de Aécio, ficou com 4 minutos e 31 segundos, bem menos em relação à campanha presidencial de 2010, quando José Serra teve com sete minutos e 18 segundos. Aécio terá também menos inserções do que tiveram Serra e Geraldo Alckmin quando candidatos.
A coligação que apoia o candidato do PSDB perdeu o PPS, que se bandeou para Campos, e sofreu com a redução de suas bancadas, especialmente do DEM, que foi desidratada com a criação do PSD.
O candidato do PSC, Pastor Everaldo, que aparece com 4% nas pesquisas, terá 1 minuto e 8 segundos, o que pode representar, paradoxalmente, um reforço à sua candidatura, já que ele é inteiramente desconhecido do eleitorado fora do círculo da Assembleia de Deus e pode ampliar sua penetração. O cálculo de seus coordenadores é de que ele tem fôlego para chegar a 10% dos votos, o que o tornaria uma peça fundamental para a disputa do segundo turno.
Nessa parte decisiva da campanha eleitoral, portanto, a presidente Dilma sai em vantagem, até ampliando seu tempo de propaganda eleitoral, enquanto seus adversários têm problemas, notadamente o candidato tucano Aécio, que viu reduzido seu tempo de rádio e televisão, mas, sobretudo, o das inserções publicitárias.
Resta a ele acreditar que as dissidências nos partidos da base aliada compensarão na propaganda paralela a vantagem que a presidente Dilma tem na propaganda oficial.
Populismo no futebol - FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 12/07
BRASÍLIA - Dilma Rousseff quer uma "renovação" do futebol. Seu ministro do Esporte, Aldo Rebelo, falou, depois recuou, sobre "intervenção indireta" na gestão desse esporte. Um site bancado pelo PT afirmou que a CBF é responsável pela "desorganização" do futebol brasileiro.
Os maiores responsáveis pela bagunça do futebol brasileiro são os governantes sucessivos que passam a mão na cabeça de dirigentes de clubes inescrupulosos e incompetentes.
Os cerca de 300 times de futebol no Brasil devem cerca de R$ 4 bilhões. A cifra é de 2012. Pode ser muito maior agora. Um projeto de lei apoiado pelo Planalto pretende dar um desconto e refinanciar esses débitos por um prazo de 25 anos.
A contrapartida seria exigir dos times o pagamento em dia de suas contas, punindo com o rebaixamento os que atrasarem as prestações ou os salários de atletas. Vai funcionar? Difícil. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) teria de aceitar tal procedimento --retirar pontos de um clube no Campeonato Brasileiro quando ocorrer o calote de dívida.
A Fifa, órgão que comanda o futebol mundial, não aceita a intervenção de governos nas regras de campeonatos organizados por entidades associadas, como a CBF. Ou seja, não tem saída dentro dessa proposta populista agora abraçada pelo Palácio do Planalto. A chance de sair só o perdão das dívidas sem nada em troca é enorme.
A solução real é dolorosa: executar judicialmente essa dívida de R$ 4 bilhões. Muitos clubes vão falir. Grandes da Série A do Campeonato Brasileiro podem fechar as portas. O Brasil ficará melhor. Será pedagógico. Quem sobrar terá de pedir ajuda aos seus sócios. Serão cobrados a ter uma gestão mais profissional. Afinal, trata-se de uma atividade privada.
Falar em renovação do futebol em época de Copa do Mundo e sinalizar com um perdão de dívidas bilionárias é populismo. Esse é o caminho com o qual Dilma está flertando.
BRASÍLIA - Dilma Rousseff quer uma "renovação" do futebol. Seu ministro do Esporte, Aldo Rebelo, falou, depois recuou, sobre "intervenção indireta" na gestão desse esporte. Um site bancado pelo PT afirmou que a CBF é responsável pela "desorganização" do futebol brasileiro.
Os maiores responsáveis pela bagunça do futebol brasileiro são os governantes sucessivos que passam a mão na cabeça de dirigentes de clubes inescrupulosos e incompetentes.
Os cerca de 300 times de futebol no Brasil devem cerca de R$ 4 bilhões. A cifra é de 2012. Pode ser muito maior agora. Um projeto de lei apoiado pelo Planalto pretende dar um desconto e refinanciar esses débitos por um prazo de 25 anos.
A contrapartida seria exigir dos times o pagamento em dia de suas contas, punindo com o rebaixamento os que atrasarem as prestações ou os salários de atletas. Vai funcionar? Difícil. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) teria de aceitar tal procedimento --retirar pontos de um clube no Campeonato Brasileiro quando ocorrer o calote de dívida.
A Fifa, órgão que comanda o futebol mundial, não aceita a intervenção de governos nas regras de campeonatos organizados por entidades associadas, como a CBF. Ou seja, não tem saída dentro dessa proposta populista agora abraçada pelo Palácio do Planalto. A chance de sair só o perdão das dívidas sem nada em troca é enorme.
A solução real é dolorosa: executar judicialmente essa dívida de R$ 4 bilhões. Muitos clubes vão falir. Grandes da Série A do Campeonato Brasileiro podem fechar as portas. O Brasil ficará melhor. Será pedagógico. Quem sobrar terá de pedir ajuda aos seus sócios. Serão cobrados a ter uma gestão mais profissional. Afinal, trata-se de uma atividade privada.
Falar em renovação do futebol em época de Copa do Mundo e sinalizar com um perdão de dívidas bilionárias é populismo. Esse é o caminho com o qual Dilma está flertando.
A Queda da Bastilha - ALBERTO DINES
GAZETA DO POVO - 12/07
Um ano e um mês depois, outro espanto, segundo assombro, reprise de perplexidade. Agora o estupor é amplo, geral, irrestrito. Repete-se o apagão de junho de 2013, desta vez acima de classes, partidos e poderes – rigorosamente federal.
Saiu dos telões e telinhas, dos gramados, do banco da comissão técnica e espalha-se pelas ruas, está nos ônibus ainda incólumes, no metrô apinhado, nos elevadores, botecos, gabinetes, povoados e metrópoles, shoppings e grotões, na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios, palácios, plenários, corredores, lavatórios.
Um país em estado de coma – autoinduzido –, prostrado, apático, frustrado, melancolizado, passivo, exangue, desidratado. Uma colossal ressaca sem libações, endógena, sugere apenas desabafos. O divã tornou-se gênero de primeira necessidade. Uma catarse seria recomendável, porém sem narrador como reviver, purgar e superar o pesadelo? Piadas e gozações mostram-se insuficientes, também a indignação. Teve Copa e não houve prazer. Teve arruaça e nada mudou.
O legado maior será impalpável, abstrato e acabamento demorado. Porém consistente: a nação-criança vai tornar-se adulta, crescer. Já é hora de entender a diferença entre fé e esperança, entre crença e convicção. Perceber que o caminho faz-se ao caminhar (como escreveu o espanhol Antonio Machado).
Um planeta arredondado pelas identidades e aflições encontrou no futebol uma espécie de unidade, coesão, o único substituto válido para as guerras e conflitos, exercício de vencer ou perder, sem sangue nem mortes. Futebol não se joga com os pés, joga-se com o coração. Impossível retroceder: a audiência estimada para os 64 jogos da Copa será de 3 bilhões de espectadores nos quatro cantos do mundo. Talvez seja o maior pedaço do mundo dentro do mundo.
Neste domingo, a partir das 16 horas (horário de Brasília), mesmo os guerreiros que se matam na Faixa de Gaza, Síria, Iraque, Sudão e Ucrânia darão um jeito de dar uma espiada no que se passa na catedral do Maracanã. Talvez até esperem antes de apertar gatilhos ou acionar mísseis para ver a bola rolando no gramado, redes balançando, adversários exaustos trocando camisas suadas e chorando lágrimas iguais – sempre salgadas. O futebol é um milagre, obra de engenharia humana que não pode ser desperdiçada.
No 225.º aniversário da Queda da Bastilha, 14 de julho, nosso primeiro dia verdadeiramente útil depois da longa fieira de feriados, o velho regime futebolístico, decadente e corrupto, deve ser demolido, drasticamente substituído.
Ouvimos a Marselhesa diversas vezes nesta Copa: Le jour de gloire est arrivé, chegou o dia de glória. Acabou a lombeira, a inação, o nhenhenhém, a inútil caça de culpados. O que acontecer no Brasil influenciará decisivamente o panorama futebolístico mundial. O Brasil poderá ganhar esta parada, este hexa só depende de nós. Todos.
Um ano e um mês depois, outro espanto, segundo assombro, reprise de perplexidade. Agora o estupor é amplo, geral, irrestrito. Repete-se o apagão de junho de 2013, desta vez acima de classes, partidos e poderes – rigorosamente federal.
Saiu dos telões e telinhas, dos gramados, do banco da comissão técnica e espalha-se pelas ruas, está nos ônibus ainda incólumes, no metrô apinhado, nos elevadores, botecos, gabinetes, povoados e metrópoles, shoppings e grotões, na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios, palácios, plenários, corredores, lavatórios.
Um país em estado de coma – autoinduzido –, prostrado, apático, frustrado, melancolizado, passivo, exangue, desidratado. Uma colossal ressaca sem libações, endógena, sugere apenas desabafos. O divã tornou-se gênero de primeira necessidade. Uma catarse seria recomendável, porém sem narrador como reviver, purgar e superar o pesadelo? Piadas e gozações mostram-se insuficientes, também a indignação. Teve Copa e não houve prazer. Teve arruaça e nada mudou.
O legado maior será impalpável, abstrato e acabamento demorado. Porém consistente: a nação-criança vai tornar-se adulta, crescer. Já é hora de entender a diferença entre fé e esperança, entre crença e convicção. Perceber que o caminho faz-se ao caminhar (como escreveu o espanhol Antonio Machado).
Um planeta arredondado pelas identidades e aflições encontrou no futebol uma espécie de unidade, coesão, o único substituto válido para as guerras e conflitos, exercício de vencer ou perder, sem sangue nem mortes. Futebol não se joga com os pés, joga-se com o coração. Impossível retroceder: a audiência estimada para os 64 jogos da Copa será de 3 bilhões de espectadores nos quatro cantos do mundo. Talvez seja o maior pedaço do mundo dentro do mundo.
Neste domingo, a partir das 16 horas (horário de Brasília), mesmo os guerreiros que se matam na Faixa de Gaza, Síria, Iraque, Sudão e Ucrânia darão um jeito de dar uma espiada no que se passa na catedral do Maracanã. Talvez até esperem antes de apertar gatilhos ou acionar mísseis para ver a bola rolando no gramado, redes balançando, adversários exaustos trocando camisas suadas e chorando lágrimas iguais – sempre salgadas. O futebol é um milagre, obra de engenharia humana que não pode ser desperdiçada.
No 225.º aniversário da Queda da Bastilha, 14 de julho, nosso primeiro dia verdadeiramente útil depois da longa fieira de feriados, o velho regime futebolístico, decadente e corrupto, deve ser demolido, drasticamente substituído.
Ouvimos a Marselhesa diversas vezes nesta Copa: Le jour de gloire est arrivé, chegou o dia de glória. Acabou a lombeira, a inação, o nhenhenhém, a inútil caça de culpados. O que acontecer no Brasil influenciará decisivamente o panorama futebolístico mundial. O Brasil poderá ganhar esta parada, este hexa só depende de nós. Todos.
Pelos hermanos alemães - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 12/07
Alguém devia pedir à psicóloga para, com jeito, comunicar ao técnico o que de fato aconteceu, não na sua cabeça pós-choque traumático, mas na realidade
Espero que nossos hermanos alemães vençam amanhã, eles que foram tão solidários conosco na adversidade, quase se desculpando pelo massacre e preocupados apenas em “jogar um futebol sério, decente”, como disse Muller. Imagina se os argentinos seriam capazes de um nobre gesto como esse. Até sobre nossa derrota estão tripudiando como se a vitória fosse deles. Sei que contam com a torcida do Papa, mas Deus é brasileiro e vai compensar de alguma maneira o abandono a que nos relegou em Belo Horizonte. Continuo elaborando o nosso luto, já que a ficha ainda não caiu totalmente. Nem a do Felipão. Ao fazer um balanço do seu trabalho, ele parecia estar sob efeito do apagão que tomou conta dos jogadores. Foi patética aquela dupla de contentes que formou com Parreira, tentando tapar o sol com elogios ao passado, como se isso bastasse para apagar o presente. Enquanto a imprensa do Brasil e do mundo classificava de humilhante e vergonhosa a nossa derrota, o treinador lamentava os “seis minutos de pane geral”, mas comemorava o fato de termos chegado à semifinal. Alguém devia pedir à psicóloga para, com jeito, comunicar ao técnico o que de fato aconteceu, não na sua cabeça pós-choque traumático, mas na realidade.
Foi preciso Neymar para corrigir o autoengano de Scolari. Ao retornar à concentração, o garoto de 22 anos deu uma entrevista em que revelou um nível de maturidade que faltou aos dirigentes. Elogiou os companheiros, chorou ao lembrar que por dois centímetros poderia ter ficado para sempre numa cadeira de rodas, se disse orgulhoso de participar da equipe, mas não deixou de admitir com todas as letras o que Felipão não viu: o fracasso geral. “Erramos, deixamos a desejar, não fizemos uma boa campanha. Não demonstramos nosso melhor futebol. Apresentamos um futebol regular, por isso chegamos às semifinais, mas não mostramos o futebol brasileiro, que é superior.”
Hoje, a seleção se despede da Copa. Em várias ocasiões, os jogadores reconheceram o apoio que sempre receberam da torcida. David Luiz resumiu esse sentimento quando depois da derrota lamentou aos prantos a decepção causada ao povo brasileiro. Foi muito bonito, mas acho que a melhor maneira de transformar a gratidão em ação é seguir o exemplo dos argelinos, que doaram o prêmio de R$ 20 milhões às crianças pobres de Gaza. “Elas precisam mais do que nós”, justificou o capitão do time. Se os nossos craques resolvessem distribuir os R$ 48 milhões que vão receber para instituições que cuidam da infância carente, a torcida com certeza iria aplaudir. E até, quem sabe, perdoar o vexame.
Alguém devia pedir à psicóloga para, com jeito, comunicar ao técnico o que de fato aconteceu, não na sua cabeça pós-choque traumático, mas na realidade
Espero que nossos hermanos alemães vençam amanhã, eles que foram tão solidários conosco na adversidade, quase se desculpando pelo massacre e preocupados apenas em “jogar um futebol sério, decente”, como disse Muller. Imagina se os argentinos seriam capazes de um nobre gesto como esse. Até sobre nossa derrota estão tripudiando como se a vitória fosse deles. Sei que contam com a torcida do Papa, mas Deus é brasileiro e vai compensar de alguma maneira o abandono a que nos relegou em Belo Horizonte. Continuo elaborando o nosso luto, já que a ficha ainda não caiu totalmente. Nem a do Felipão. Ao fazer um balanço do seu trabalho, ele parecia estar sob efeito do apagão que tomou conta dos jogadores. Foi patética aquela dupla de contentes que formou com Parreira, tentando tapar o sol com elogios ao passado, como se isso bastasse para apagar o presente. Enquanto a imprensa do Brasil e do mundo classificava de humilhante e vergonhosa a nossa derrota, o treinador lamentava os “seis minutos de pane geral”, mas comemorava o fato de termos chegado à semifinal. Alguém devia pedir à psicóloga para, com jeito, comunicar ao técnico o que de fato aconteceu, não na sua cabeça pós-choque traumático, mas na realidade.
Foi preciso Neymar para corrigir o autoengano de Scolari. Ao retornar à concentração, o garoto de 22 anos deu uma entrevista em que revelou um nível de maturidade que faltou aos dirigentes. Elogiou os companheiros, chorou ao lembrar que por dois centímetros poderia ter ficado para sempre numa cadeira de rodas, se disse orgulhoso de participar da equipe, mas não deixou de admitir com todas as letras o que Felipão não viu: o fracasso geral. “Erramos, deixamos a desejar, não fizemos uma boa campanha. Não demonstramos nosso melhor futebol. Apresentamos um futebol regular, por isso chegamos às semifinais, mas não mostramos o futebol brasileiro, que é superior.”
Hoje, a seleção se despede da Copa. Em várias ocasiões, os jogadores reconheceram o apoio que sempre receberam da torcida. David Luiz resumiu esse sentimento quando depois da derrota lamentou aos prantos a decepção causada ao povo brasileiro. Foi muito bonito, mas acho que a melhor maneira de transformar a gratidão em ação é seguir o exemplo dos argelinos, que doaram o prêmio de R$ 20 milhões às crianças pobres de Gaza. “Elas precisam mais do que nós”, justificou o capitão do time. Se os nossos craques resolvessem distribuir os R$ 48 milhões que vão receber para instituições que cuidam da infância carente, a torcida com certeza iria aplaudir. E até, quem sabe, perdoar o vexame.
Volta à normalidade nos EUA muda quadro econômico - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 12/07
O Brasil não terá mais facilidade para conviver com déficits públicos elevados, desequilíbrio forte nas contas externas e inflação fora dos padrões internacionais
O Federal Reserve, banco central americano, avalia que a economia dos Estados Unidos está próxima da normalidade. Já em outubro, o Fed, como é conhecido no mundo financeiro, deve suspender os últimos estímulos monetários, deixando de recomprar títulos do Tesouro dos EUA em poder do mercado local, e que hoje equivalem a uma “injeção” mensal da ordem de US$ 10 bilhões em circulação.
Para o tamanho da economia americana, esse valor pode ser considerado um estímulo residual, mas as autoridades monetárias resolveram mantê-lo apenas para que os mercados fossem se ajustando gradualmente, sem sobressaltos. Além disso, desde 2008, US$ 4 trilhões já foram mobilizados no resgate da economia americana. Vale observar que o sistema financeiro americano esteve à beira do colapso depois da crise de 2008, com renomadas instituições conseguindo se salvar somente em face dos estímulos monetários que foram criados pelo Fed.
Em um segundo estágio, que deve se iniciar em março ou abril do ano que vem, o banco central americano começará a elevar as taxas básicas de juros para patamares compatíveis com uma economia que se normalizou. Atualmente, esses juros são insignificantes (entre zero e 0,25% ao ano), exatamente para que houvesse uma recuperação do sistema financeiro e do mercado de crédito, abalados pelo estouro da bolha imobiliária, e que se espalhou pelo mercado de consumo em geral, fazendo com que a crise se estendesse até a indústria automobilística.
Esse ambiente que se aproxima da normalidade tende a reabrir espaço para exportações de países como o Brasil, mas, por outro lado, tornará mais intensa a disputa por recursos financeiros e investimentos. Os pretendentes a governar o Brasil a partir de 2015 devem estar atentos a essa mudança. Não será tão fácil conviver com déficits públicos nominais elevados, desequilíbrios crescentes na conta corrente do balanço de pagamentos e nem com uma inflação doméstica que destoa dos patamares que vigoram nos principais mercados no exterior.
O Brasil precisa voltar aos pilares que pavimentaram a recuperação da economia após os choques da década de 1990 e do início dos anos 2000. Isso significa prosseguir com reformas que assegurem a solvência do país no médio e longo prazos, em termos financeiros, mas que também propiciem condições para que as diferentes cadeias produtivas ganhem competitividade. Aumentar o investimento em infraestrutura, inovação e avanços tecnológicos, juntamente com mais qualificação de profissionais, é um desafio do conjunto da sociedade, o que inclui a adoção de política públicas corretas.
O que não não se pode é ignorar o quadro que está se formando no mercado global a partir da recuperação dos Estados Unidos.
O Brasil não terá mais facilidade para conviver com déficits públicos elevados, desequilíbrio forte nas contas externas e inflação fora dos padrões internacionais
O Federal Reserve, banco central americano, avalia que a economia dos Estados Unidos está próxima da normalidade. Já em outubro, o Fed, como é conhecido no mundo financeiro, deve suspender os últimos estímulos monetários, deixando de recomprar títulos do Tesouro dos EUA em poder do mercado local, e que hoje equivalem a uma “injeção” mensal da ordem de US$ 10 bilhões em circulação.
Para o tamanho da economia americana, esse valor pode ser considerado um estímulo residual, mas as autoridades monetárias resolveram mantê-lo apenas para que os mercados fossem se ajustando gradualmente, sem sobressaltos. Além disso, desde 2008, US$ 4 trilhões já foram mobilizados no resgate da economia americana. Vale observar que o sistema financeiro americano esteve à beira do colapso depois da crise de 2008, com renomadas instituições conseguindo se salvar somente em face dos estímulos monetários que foram criados pelo Fed.
Em um segundo estágio, que deve se iniciar em março ou abril do ano que vem, o banco central americano começará a elevar as taxas básicas de juros para patamares compatíveis com uma economia que se normalizou. Atualmente, esses juros são insignificantes (entre zero e 0,25% ao ano), exatamente para que houvesse uma recuperação do sistema financeiro e do mercado de crédito, abalados pelo estouro da bolha imobiliária, e que se espalhou pelo mercado de consumo em geral, fazendo com que a crise se estendesse até a indústria automobilística.
Esse ambiente que se aproxima da normalidade tende a reabrir espaço para exportações de países como o Brasil, mas, por outro lado, tornará mais intensa a disputa por recursos financeiros e investimentos. Os pretendentes a governar o Brasil a partir de 2015 devem estar atentos a essa mudança. Não será tão fácil conviver com déficits públicos nominais elevados, desequilíbrios crescentes na conta corrente do balanço de pagamentos e nem com uma inflação doméstica que destoa dos patamares que vigoram nos principais mercados no exterior.
O Brasil precisa voltar aos pilares que pavimentaram a recuperação da economia após os choques da década de 1990 e do início dos anos 2000. Isso significa prosseguir com reformas que assegurem a solvência do país no médio e longo prazos, em termos financeiros, mas que também propiciem condições para que as diferentes cadeias produtivas ganhem competitividade. Aumentar o investimento em infraestrutura, inovação e avanços tecnológicos, juntamente com mais qualificação de profissionais, é um desafio do conjunto da sociedade, o que inclui a adoção de política públicas corretas.
O que não não se pode é ignorar o quadro que está se formando no mercado global a partir da recuperação dos Estados Unidos.
A estatização do futebol - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 12/07
Ficaria melhor na Dilma Bolada - a falsa página da presidente nas redes sociais - do que na CNN, onde apareceu na quinta-feira, o que provavelmente foi o mais tosco chutão da chefe do governo nestes três anos e meio no Planalto. Numa entrevista gravada no dia seguinte à catástrofe do Mineirão, ao defender uma "renovação" do futebol brasileiro, Dilma disse que "o Brasil não pode mais continuar exportando jogador". E, para deixar claro que o "não pode" seria uma proibição pura e simples, ela emendou de bico: "Um país, com essa paixão pelo futebol, tem todo o direito de ter seus jogadores aqui e não tê-los exportados".
Em um surto provocado por uma mistura tóxica de oportunismo - para que o pó da derrota em campo não se deposite sobre o projeto da reeleição - e conhecido vezo autoritário, Dilma falou como quem quer cassar o direito constitucional dos brasileiros de ir e vir, dentro ou para além das fronteiras nacionais, como se o Brasil fosse uma Cuba ou Coreia do Norte. Para justificar a enormidade, deu uma pisada na bola de envergonhar um perna de pau. "Exportar jogador", caraminholou, "significa não ter a maior atração para os estádios ficarem cheios." Revelou involuntariamente, portanto, saber muito bem que boa parte ou o grosso dos US$ 4 bilhões despejados na construção e reforma das arenas da Copa serviu apenas para legar ao País uma manada de elefantes brancos.
Aprisionar os nossos jovens mais promissores - como se isso fosse possível - absolveria, nos descontos, a megalomania dos governos petistas de mostrar ao mundo o que o Brasil, sob a sua iluminada condução, é capaz de fazer. Pura má-fé. O fato singelo é que, no mundo globalizado, assim como profissionais de outras áreas, jogadores migram para países onde o seu trabalho se inscreve em um negócio extraordinariamente bem-sucedido. Ali podem ganhar em um mês o que aqui levariam anos. Isso porque a estrutura do futebol brasileiro é sabidamente arcaica, corrupta e falida. O povo não esperou a seleção ser goleada para desprezar os cartolas que enfeudam clubes, associações e, claro, a CBF.
Faz uma eternidade que essa estrutura precisa ser "renovada", como Dilma parece ter descoberto. Mas não a submetendo à tutela estatal, como prega o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, do PC do B. Invocando nada menos do que o interesse da Pátria, ele defende uma "intervenção indireta" (sic) numa atividade da qual a própria lei (no caso, a Lei Pelé, promulgada em 1998) aparta o poder público. Para começar, como ele deveria saber, a Fifa proíbe a intromissão de governos nas federações nacionais. Agora mesmo a Nigéria foi suspensa por ter o governo removido dirigentes de sua entidade futebolística. De resto, a promiscuidade entre autoridades e cartolas multiplicaria os focos de corrupção, sem modernizar o esporte.
O Estado pode, sim, impor aos clubes uma série de condições para rolar as suas intermináveis dívidas com o erário, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) faz com os governos que lhe pedem socorro. O projeto da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, pronto para ser votado na Câmara, condiciona o acesso dos clubes ao crédito oficial à arrumação de suas finanças, reforma administrativa e pagamento em dia dos salários de seus contratados. O Estado também pode - e deve - controlar a migração de menores de 18 anos. Embora a Fifa proíba que sejam importados por clubes estrangeiros, estes driblam a barreira contratando formalmente um de seus parentes. Como no gramado, bastam regras e juízes que punam os transgressores.
No mais, que o Brasil aprenda com o que os dirigentes e jogadores alemães fizeram para renovar o futebol nacional depois da sua vexatória eliminação da Eurocopa em 2004. Como relatou o repórter Jamil Chade no Estado de quinta-feira, eles traçaram e foram fiéis a um plano de renovação de quadros, no qual investiriam ao longo do tempo US$ 1 bilhão. Minguaram as contratações de estrangeiros em benefício do talento local. Os ingressos foram congelados. Ainda assim, o campeonato alemão é o mais rentável da Europa. Os clubes são prósperos. O Bayern de Munique tem 11 times completos - fora a equipe principal. E o Estado não teve nada com isso.
Ficaria melhor na Dilma Bolada - a falsa página da presidente nas redes sociais - do que na CNN, onde apareceu na quinta-feira, o que provavelmente foi o mais tosco chutão da chefe do governo nestes três anos e meio no Planalto. Numa entrevista gravada no dia seguinte à catástrofe do Mineirão, ao defender uma "renovação" do futebol brasileiro, Dilma disse que "o Brasil não pode mais continuar exportando jogador". E, para deixar claro que o "não pode" seria uma proibição pura e simples, ela emendou de bico: "Um país, com essa paixão pelo futebol, tem todo o direito de ter seus jogadores aqui e não tê-los exportados".
Em um surto provocado por uma mistura tóxica de oportunismo - para que o pó da derrota em campo não se deposite sobre o projeto da reeleição - e conhecido vezo autoritário, Dilma falou como quem quer cassar o direito constitucional dos brasileiros de ir e vir, dentro ou para além das fronteiras nacionais, como se o Brasil fosse uma Cuba ou Coreia do Norte. Para justificar a enormidade, deu uma pisada na bola de envergonhar um perna de pau. "Exportar jogador", caraminholou, "significa não ter a maior atração para os estádios ficarem cheios." Revelou involuntariamente, portanto, saber muito bem que boa parte ou o grosso dos US$ 4 bilhões despejados na construção e reforma das arenas da Copa serviu apenas para legar ao País uma manada de elefantes brancos.
Aprisionar os nossos jovens mais promissores - como se isso fosse possível - absolveria, nos descontos, a megalomania dos governos petistas de mostrar ao mundo o que o Brasil, sob a sua iluminada condução, é capaz de fazer. Pura má-fé. O fato singelo é que, no mundo globalizado, assim como profissionais de outras áreas, jogadores migram para países onde o seu trabalho se inscreve em um negócio extraordinariamente bem-sucedido. Ali podem ganhar em um mês o que aqui levariam anos. Isso porque a estrutura do futebol brasileiro é sabidamente arcaica, corrupta e falida. O povo não esperou a seleção ser goleada para desprezar os cartolas que enfeudam clubes, associações e, claro, a CBF.
Faz uma eternidade que essa estrutura precisa ser "renovada", como Dilma parece ter descoberto. Mas não a submetendo à tutela estatal, como prega o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, do PC do B. Invocando nada menos do que o interesse da Pátria, ele defende uma "intervenção indireta" (sic) numa atividade da qual a própria lei (no caso, a Lei Pelé, promulgada em 1998) aparta o poder público. Para começar, como ele deveria saber, a Fifa proíbe a intromissão de governos nas federações nacionais. Agora mesmo a Nigéria foi suspensa por ter o governo removido dirigentes de sua entidade futebolística. De resto, a promiscuidade entre autoridades e cartolas multiplicaria os focos de corrupção, sem modernizar o esporte.
O Estado pode, sim, impor aos clubes uma série de condições para rolar as suas intermináveis dívidas com o erário, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) faz com os governos que lhe pedem socorro. O projeto da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, pronto para ser votado na Câmara, condiciona o acesso dos clubes ao crédito oficial à arrumação de suas finanças, reforma administrativa e pagamento em dia dos salários de seus contratados. O Estado também pode - e deve - controlar a migração de menores de 18 anos. Embora a Fifa proíba que sejam importados por clubes estrangeiros, estes driblam a barreira contratando formalmente um de seus parentes. Como no gramado, bastam regras e juízes que punam os transgressores.
No mais, que o Brasil aprenda com o que os dirigentes e jogadores alemães fizeram para renovar o futebol nacional depois da sua vexatória eliminação da Eurocopa em 2004. Como relatou o repórter Jamil Chade no Estado de quinta-feira, eles traçaram e foram fiéis a um plano de renovação de quadros, no qual investiriam ao longo do tempo US$ 1 bilhão. Minguaram as contratações de estrangeiros em benefício do talento local. Os ingressos foram congelados. Ainda assim, o campeonato alemão é o mais rentável da Europa. Os clubes são prósperos. O Bayern de Munique tem 11 times completos - fora a equipe principal. E o Estado não teve nada com isso.
Palpite infeliz no futebol - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 12/07
A serenidade precisa voltar à cabeça de quem, no governo, se sente pressionado a dar respostas ao fiasco da Seleção Brasileira na semifinal da Copa da Mundo. É natural que o impensável placar de 7 x 1 tenha abalado o humor de todos. Também é razoável esperar que os marqueteiros de plantão se preocupem em descolar a imagem do governo e da presidente candidata à reeleição desse grande fracasso.
Mas, passadas mais de 48 horas da tragédia do Mineirão, o festival de declarações dos dirigentes da Seleção, do ministro do Esporte e até da própria presidente Dilma Rousseff trouxe na quinta-feira mais motivos de preocupação para os brasileiros do que de tranquilidade quanto ao futuro da grande paixão nacional.
Demonstrando incompreensível (ou falsa) falta de preocupação com o deprimente espetáculo servido à torcida na grama do estádio mineiro, Felipão e Parreira, falando na quarta-feira pelo comando da Seleção, insistiram em minimizar o acontecido. Para eles, tudo não passou de um apagão de seis minutos, e o trabalho realizado com o time estava no rumo certo. Foi inevitável a comparação com as previsões do ministro Guido Mantega, da Fazenda, para o crescimento do PIB nos últimos anos.
No dia seguinte, foi divulgada entrevista da presidente Dilma à rede de TV norte-americana CNN, em que a Copa foi focalizada. Talvez por conhecer pouco da matéria, ela sugeriu que o país deveria evitar a exportação de craques. Foi a resposta que encontrou para a previsível pergunta sobre a utilidade futura de várias arenas construídas em cidades que não têm times em condição de disputar o campeonato nacional. "Exportar jogadores significa que estamos abrindo mão de nossa principal atração, que pode ajudar a lotar os estádios", disse Dilma.
Ainda na quinta-feira, o ministro Aldo Rebelo, com a preocupação de separar o governo da entidade máxima do futebol nacional, a CBF, defendeu mudanças na gestão desse esporte no país. E, pior, advogou mais protagonismo do governo no processo, já que verbas públicas são repassadas ao setor. Não houve como não entender isso como proposta de aumentar o poder do Estado no futebol, mesmo que com a boa intenção de melhorar a gestão dos clubes.
Se Felipão e Parreira foram criticados por arrogância, ao ministro e à presidente não faltou uma chuva de farpas. Ela, por usar de premissa inconsistente ao sugerir a limitação do direito dos jovens talentos de partir para o mundo, em fuga das ainda duras limitações de nosso país. Ele, por alimentar a fantasia de que o governo, que tem sido incapaz de atender às elementares obrigações com a educação, a saúde, os transportes e a administração das contas públicas, dará jeito na trapalhada acumulada em décadas de patrimonialismo, nepotismo e omissões nas entidades do futebol.
Ontem, o ministro garantiu que não pretende nomear dirigentes esportivos. Mas o alerta para esse risco não deve ser desligado. Conhecida a vocação intervencionista do governo, ninguém pode imaginar qual será o próximo placar de um futuro Brasil x Alemanha, caso esse perigo venha a se confirmar.
Mas, passadas mais de 48 horas da tragédia do Mineirão, o festival de declarações dos dirigentes da Seleção, do ministro do Esporte e até da própria presidente Dilma Rousseff trouxe na quinta-feira mais motivos de preocupação para os brasileiros do que de tranquilidade quanto ao futuro da grande paixão nacional.
Demonstrando incompreensível (ou falsa) falta de preocupação com o deprimente espetáculo servido à torcida na grama do estádio mineiro, Felipão e Parreira, falando na quarta-feira pelo comando da Seleção, insistiram em minimizar o acontecido. Para eles, tudo não passou de um apagão de seis minutos, e o trabalho realizado com o time estava no rumo certo. Foi inevitável a comparação com as previsões do ministro Guido Mantega, da Fazenda, para o crescimento do PIB nos últimos anos.
No dia seguinte, foi divulgada entrevista da presidente Dilma à rede de TV norte-americana CNN, em que a Copa foi focalizada. Talvez por conhecer pouco da matéria, ela sugeriu que o país deveria evitar a exportação de craques. Foi a resposta que encontrou para a previsível pergunta sobre a utilidade futura de várias arenas construídas em cidades que não têm times em condição de disputar o campeonato nacional. "Exportar jogadores significa que estamos abrindo mão de nossa principal atração, que pode ajudar a lotar os estádios", disse Dilma.
Ainda na quinta-feira, o ministro Aldo Rebelo, com a preocupação de separar o governo da entidade máxima do futebol nacional, a CBF, defendeu mudanças na gestão desse esporte no país. E, pior, advogou mais protagonismo do governo no processo, já que verbas públicas são repassadas ao setor. Não houve como não entender isso como proposta de aumentar o poder do Estado no futebol, mesmo que com a boa intenção de melhorar a gestão dos clubes.
Se Felipão e Parreira foram criticados por arrogância, ao ministro e à presidente não faltou uma chuva de farpas. Ela, por usar de premissa inconsistente ao sugerir a limitação do direito dos jovens talentos de partir para o mundo, em fuga das ainda duras limitações de nosso país. Ele, por alimentar a fantasia de que o governo, que tem sido incapaz de atender às elementares obrigações com a educação, a saúde, os transportes e a administração das contas públicas, dará jeito na trapalhada acumulada em décadas de patrimonialismo, nepotismo e omissões nas entidades do futebol.
Ontem, o ministro garantiu que não pretende nomear dirigentes esportivos. Mas o alerta para esse risco não deve ser desligado. Conhecida a vocação intervencionista do governo, ninguém pode imaginar qual será o próximo placar de um futuro Brasil x Alemanha, caso esse perigo venha a se confirmar.
Goleados na sala de aula - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 12/07
Nossos futuros professores se preparam pouco para enfrentar os tablados escolares; quando formados, carecem de educação continuada que aprimore as práticas de ensino
A frase “os professores brasileiros não sabem ensinar” soa grosseira, autoritária, um acinte. Em todo momento, neste imenso país, alguém está ensinando a alguém as primeiras letras, lições de Geografia, questões de Gramática, problemas de Matemática. Cumpre-se a cada dia o sacerdócio e o ofício de ensinar, goste-se ou não dessas expressões. Mas sobram evidências de que temos problemas a resolver quando o assunto é como os conteúdos são ensinados em sala de aula. Não é questão da hora, mas vale relembrar.
Os cursos de licenciatura têm – tradicionalmente – mais horas teóricas que práticas. Na graduação em Pedagogia, em 3,2 mil horas de aula, apenas algo próximo de 400 são numa classe. Conta simples, conclusão imediata. Uma vez no mercado de trabalho, o professor, não raro recém-formado, é tragado pelo tablado. Ganha de imediato uma, duas, três turmas nas quais vai exercer o ensino. Sem preparo, ou repete os modelos que recebeu quando era aluno ou se lança numa experimentação que nem sempre resulta em ganho para os estudantes.
Em certo sentido, tem sempre um grupo de alunos pagando a conta pelo treinamento do professor, feito a fórceps ou debaixo de água fervendo, como se queira. Tendemos a achar essa conta algo natural, justa, tamanha a devoção que temos pelo que é informal, instantâneo, espontâneo, um futebol emotivo que pode terminar em 7 a 1. Mas o tempo – e as estatísticas – têm mostrado que o setor de ensino não faz um bom negócio em perpetuar essa cultura.
Relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indica que o Brasil dorme em maus lençóis. As faculdades são teóricas em demasia – muitas vezes para suprir as falhas do ensino médio –, e a formação continuada oferecida aos professores tem o mesmo cacoete. Sem uma quantidade razoável de cursos customizados – voltados para o “como se faz” –, o país perde terreno para nações que se ocupam da “prática de ensino”. Não se trata de um “palavrão”, um lesa-debate crítico, mas da garantia de que o conhecimento será dividido.
Entre os países que abraçaram, sem preconceito, o chão de fábrica da sala de aula estão Finlândia, Cingapura e Coreia do Sul. Não são culturas escolares homogêneas, diga-se, mas as três nações alcançam bons resultados no teste internacional Pisa. O assunto deixa muitos educadores nos cascos, posto que se questiona a viva voz a supremacia do Pisa nas análises escolares, como se fosse palavra divina. Não é. Mas o Pisa tampouco deve ir para a fogueira.
Um estudo lançado no início de julho confirma as impressões da OCDE e os resultados do Pisa. Formação continuada de professores no Brasil – do Instituto Ayrton Senna, em parceria com o Boston Consulting Group (BCG) – entrevistou 2,7 mil profissionais de educação e apontou que apenas 2% dos professores são tutelados por mestres mais experientes antes de ganharem uma regência. Sim – eles sentem necessidade de pistas sobre como lecionar de maneira mais adequada. Dizem que os muitos cursos que fazem pouco ajudam a lidar com a transmissão de conteúdos. Também reclamam falta de tempo para estudar. E que a formação recebida nas faculdades contempla pouco a realidade escolar.
Acenam, por fim, uma última problemática – a altíssima rotatividade escolar, verdadeiro pesadelo para eles e para os educandos. A situação já tinha sido explicitada nas pesquisas da Prova Brasil 2011: quase 30% dos professores tinham dois anos na escola em que estavam lotados. Cerca de metade tinha menos de 15 anos de profissão. Apenas 14% vinham de uma carreira no mesmo lugar. É consenso na educação de que há uma relação íntima entre ensino e permanência do professor na escola.
O quadro não é positivo: professores muito jovens, rodando de sala em sala, destituídos de modelos, afundados nos desafios do ensino. Com todas essas evidências, resta clamar por uma reviravolta. Faz sentido aquela piada de que nossas escolas seguem um modelo do século 19, os professores pensam como se estivessem no século 20 e os alunos são do século 21. Pode-se argumentar do quanto é saudável a convivência desses três modelos. Mas se tornou indefensável ignorar que bons exercícios, resolução de problemas, experiências, formas de pesquisa e um sem-número de técnicas bem aplicadas têm poder de levar a escola a cumprir seu destino, ensinando a pesquisar e garantindo o conteúdo para que o aluno siga adiante.
Nossos futuros professores se preparam pouco para enfrentar os tablados escolares; quando formados, carecem de educação continuada que aprimore as práticas de ensino
A frase “os professores brasileiros não sabem ensinar” soa grosseira, autoritária, um acinte. Em todo momento, neste imenso país, alguém está ensinando a alguém as primeiras letras, lições de Geografia, questões de Gramática, problemas de Matemática. Cumpre-se a cada dia o sacerdócio e o ofício de ensinar, goste-se ou não dessas expressões. Mas sobram evidências de que temos problemas a resolver quando o assunto é como os conteúdos são ensinados em sala de aula. Não é questão da hora, mas vale relembrar.
Os cursos de licenciatura têm – tradicionalmente – mais horas teóricas que práticas. Na graduação em Pedagogia, em 3,2 mil horas de aula, apenas algo próximo de 400 são numa classe. Conta simples, conclusão imediata. Uma vez no mercado de trabalho, o professor, não raro recém-formado, é tragado pelo tablado. Ganha de imediato uma, duas, três turmas nas quais vai exercer o ensino. Sem preparo, ou repete os modelos que recebeu quando era aluno ou se lança numa experimentação que nem sempre resulta em ganho para os estudantes.
Em certo sentido, tem sempre um grupo de alunos pagando a conta pelo treinamento do professor, feito a fórceps ou debaixo de água fervendo, como se queira. Tendemos a achar essa conta algo natural, justa, tamanha a devoção que temos pelo que é informal, instantâneo, espontâneo, um futebol emotivo que pode terminar em 7 a 1. Mas o tempo – e as estatísticas – têm mostrado que o setor de ensino não faz um bom negócio em perpetuar essa cultura.
Relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indica que o Brasil dorme em maus lençóis. As faculdades são teóricas em demasia – muitas vezes para suprir as falhas do ensino médio –, e a formação continuada oferecida aos professores tem o mesmo cacoete. Sem uma quantidade razoável de cursos customizados – voltados para o “como se faz” –, o país perde terreno para nações que se ocupam da “prática de ensino”. Não se trata de um “palavrão”, um lesa-debate crítico, mas da garantia de que o conhecimento será dividido.
Entre os países que abraçaram, sem preconceito, o chão de fábrica da sala de aula estão Finlândia, Cingapura e Coreia do Sul. Não são culturas escolares homogêneas, diga-se, mas as três nações alcançam bons resultados no teste internacional Pisa. O assunto deixa muitos educadores nos cascos, posto que se questiona a viva voz a supremacia do Pisa nas análises escolares, como se fosse palavra divina. Não é. Mas o Pisa tampouco deve ir para a fogueira.
Um estudo lançado no início de julho confirma as impressões da OCDE e os resultados do Pisa. Formação continuada de professores no Brasil – do Instituto Ayrton Senna, em parceria com o Boston Consulting Group (BCG) – entrevistou 2,7 mil profissionais de educação e apontou que apenas 2% dos professores são tutelados por mestres mais experientes antes de ganharem uma regência. Sim – eles sentem necessidade de pistas sobre como lecionar de maneira mais adequada. Dizem que os muitos cursos que fazem pouco ajudam a lidar com a transmissão de conteúdos. Também reclamam falta de tempo para estudar. E que a formação recebida nas faculdades contempla pouco a realidade escolar.
Acenam, por fim, uma última problemática – a altíssima rotatividade escolar, verdadeiro pesadelo para eles e para os educandos. A situação já tinha sido explicitada nas pesquisas da Prova Brasil 2011: quase 30% dos professores tinham dois anos na escola em que estavam lotados. Cerca de metade tinha menos de 15 anos de profissão. Apenas 14% vinham de uma carreira no mesmo lugar. É consenso na educação de que há uma relação íntima entre ensino e permanência do professor na escola.
O quadro não é positivo: professores muito jovens, rodando de sala em sala, destituídos de modelos, afundados nos desafios do ensino. Com todas essas evidências, resta clamar por uma reviravolta. Faz sentido aquela piada de que nossas escolas seguem um modelo do século 19, os professores pensam como se estivessem no século 20 e os alunos são do século 21. Pode-se argumentar do quanto é saudável a convivência desses três modelos. Mas se tornou indefensável ignorar que bons exercícios, resolução de problemas, experiências, formas de pesquisa e um sem-número de técnicas bem aplicadas têm poder de levar a escola a cumprir seu destino, ensinando a pesquisar e garantindo o conteúdo para que o aluno siga adiante.
Estagnação sem futuro - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 12/07
Economia reduz ritmo de crescimento sem que sejam feitos, como contrapartida, ajustes necessários à retomada de ciclo ascendente
O governo baixou nos últimos dias o que parece ser uma derradeira compilação de medidas de estímulo econômico, paliativos de curto prazo que se destinam a evitar acidentes maiores na rota de declínio cada vez mais pronunciado.
Encerram-se assim quase quatro anos de agitação infrutífera, de ativismo que não deu rumo salutar à economia. Um pacote de remendos costurados em uma medida provisória resume a obra desta administração: uma crise latente disfarçada, de modo a evitar estremecimento maior até o ano que vem.
Mais desalentador, o crescimento definha enquanto outros indicadores apontam esgotamento da capacidade de o país avançar.
As estimativas de aumento do PIB para este ano encolhem para 1%, no melhor dos casos. A inflação, por sua vez, flutua em torno de 6,5%, sinal tanto de excesso de gastos públicos e privados como de descrédito quanto à desaceleração dos preços.
O deficit externo não baixa do nível desconfortável de 3,6% do PIB, o maior em 12 anos. Trata-se de outro indicador de demanda excessiva que pode ser financiada no exterior, mas até certo ponto. O país atingiu ou está perto de atingir o limite de gastos dessa natureza.
O deficit público --o excesso de gastos do governo em relação a sua receita-- está no patamar mais alto em cinco anos.
Verdade que o desemprego decresceu de modo significativo, estabilizando-se em níveis historicamente baixos. Mas é uma economia de diminuta produtividade. Próxima do pleno emprego, ocupando a oferta de trabalho disponível, não produz mais: não cresce.
Em resumo, trata-se de uma economia com limitações evidentes de se expandir no curto prazo e que, ademais, dissipa energia sem progresso, em desequilíbrio constante.
Seria compreensível e aceitável, quando não inevitável, um crescimento pequeno devido a correções cíclicas, a um programa de reformas difíceis ou ao impacto de um desarranjo mundial.
Infelizmente, as providências necessárias a fim de administrar tais situações têm seu custo. Mas, se levadas a bom termo, carreiam bônus, a oportunidade de retomada, ao menos de entrada em um novo ciclo ascendente.
Não há propósito nem sentido na presente desaceleração, entretanto. A economia quase estagnada chegará a 2015 ainda com uma carga de problemas para descartar, o que custará, no mínimo, mais aquele ano de crescimento.
Economia reduz ritmo de crescimento sem que sejam feitos, como contrapartida, ajustes necessários à retomada de ciclo ascendente
O governo baixou nos últimos dias o que parece ser uma derradeira compilação de medidas de estímulo econômico, paliativos de curto prazo que se destinam a evitar acidentes maiores na rota de declínio cada vez mais pronunciado.
Encerram-se assim quase quatro anos de agitação infrutífera, de ativismo que não deu rumo salutar à economia. Um pacote de remendos costurados em uma medida provisória resume a obra desta administração: uma crise latente disfarçada, de modo a evitar estremecimento maior até o ano que vem.
Mais desalentador, o crescimento definha enquanto outros indicadores apontam esgotamento da capacidade de o país avançar.
As estimativas de aumento do PIB para este ano encolhem para 1%, no melhor dos casos. A inflação, por sua vez, flutua em torno de 6,5%, sinal tanto de excesso de gastos públicos e privados como de descrédito quanto à desaceleração dos preços.
O deficit externo não baixa do nível desconfortável de 3,6% do PIB, o maior em 12 anos. Trata-se de outro indicador de demanda excessiva que pode ser financiada no exterior, mas até certo ponto. O país atingiu ou está perto de atingir o limite de gastos dessa natureza.
O deficit público --o excesso de gastos do governo em relação a sua receita-- está no patamar mais alto em cinco anos.
Verdade que o desemprego decresceu de modo significativo, estabilizando-se em níveis historicamente baixos. Mas é uma economia de diminuta produtividade. Próxima do pleno emprego, ocupando a oferta de trabalho disponível, não produz mais: não cresce.
Em resumo, trata-se de uma economia com limitações evidentes de se expandir no curto prazo e que, ademais, dissipa energia sem progresso, em desequilíbrio constante.
Seria compreensível e aceitável, quando não inevitável, um crescimento pequeno devido a correções cíclicas, a um programa de reformas difíceis ou ao impacto de um desarranjo mundial.
Infelizmente, as providências necessárias a fim de administrar tais situações têm seu custo. Mas, se levadas a bom termo, carreiam bônus, a oportunidade de retomada, ao menos de entrada em um novo ciclo ascendente.
Não há propósito nem sentido na presente desaceleração, entretanto. A economia quase estagnada chegará a 2015 ainda com uma carga de problemas para descartar, o que custará, no mínimo, mais aquele ano de crescimento.
Brics se reúne em momento de baixa - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 12/07
Criação de um banco de desenvolvimento e de fundo para enfrentar problemas no balanço de pagamentos são passos concretos do bloco
Os líderes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) terão nova oportunidade terça-feira, em Fortaleza, de fazer do grupo mais do que uma sigla. Dois itens da pauta podem tornar isto realidade: a criação do Arranjo Contingente de Reservas, com US$ 100 bilhões para ajudar países membros com problemas no balanço de pagamentos, um FMI do grupo; e um banco de desenvolvimento, com capital de US$ 50 bilhões, para financiar projetos sustentáveis de infraestrutura.
A reunião de Fortaleza ocorre num momento em que o Brics — acrônimo usado pela primeira vez há 12 anos pelo economista inglês Jim O’Neill, do Goldman Sachs, para designar grandes países emergentes em rápido desenvolvimento — não ostenta o brilho do passado. Em todos, o crescimento arrefeceu em alguma medida, um reflexo, para alguns, ainda das turbulências mundiais, embora os Estados Unidos já deem sinais de recuperação com uma certa consistência. No caso do Brasil, as causas são internas. Mesmo a China, na delicada manobra de troca de indutor de expansão, dos investimentos para o consumo, viu seu ritmo de crescimento ficar no patamar dos 7%, abaixo dos 9% a 10% de passado recente. Já que foram reunidos numa sigla por O’Neill, esses países decidiram fazer por onde. O objetivo era unificar o discurso em meio à grave crise financeira que o mundo atravessava. A primeira reunião foi em 2009, em Yekaterinburgo (Rússia), e a última, no ano passado em Durban, África do Sul. Há, evidentemente, dificuldades para se chegar a uma agenda comum entre países tão díspares — econômica, cultural e politicamente. Inclusive porque há interesses conflitantes entre Brasil, China e Índia, como ficou atestado no fracasso da Rodada de Doha, em 2008, em Genebra, criada para e liberalização do comércio internacional.
Os percalços não impedem que esses países se aproximem e falem em conjunto. Naturalmente, em contraposição aos EUA e, às vezes, à União Europeia. Foi este aspecto, aliás, que chamou a atenção da diplomacia companheira: participar de um eixo internacional forte contra “o Norte”. Pois a marca da política externa lulopetista foi ressuscitar, de forma anacrônica, a visão Sul-Sul. Com isto o país se viu capturado na armadilha de um Mercosul em esvaziamento, enquanto o governo se mostrava blasé diante do maior mercado consumidor do mundo (EUA). São vários os equívocos da política externa lulopetista. Um deles, achar que o Brics seria antiamericanista, sem considerar que a saúde financeira da China depende dos EUA. Mas o Brics é importante fórum para o Planalto, na hora em que o país enfrenta percalços, com risco de estagflação, e por ter sua importância diminuída no mundo à medida que aceita com passividade o atoleiro em que a crise argentina o coloca. Quanto mais não seja, permitirá a Dilma o convívio com os líderes presentes — o chinês XI Jiping, o russo Vladimir Putin, o sul-africano Jacob Zuma e, ainda, conhecer o premier Narendra
Criação de um banco de desenvolvimento e de fundo para enfrentar problemas no balanço de pagamentos são passos concretos do bloco
Os líderes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) terão nova oportunidade terça-feira, em Fortaleza, de fazer do grupo mais do que uma sigla. Dois itens da pauta podem tornar isto realidade: a criação do Arranjo Contingente de Reservas, com US$ 100 bilhões para ajudar países membros com problemas no balanço de pagamentos, um FMI do grupo; e um banco de desenvolvimento, com capital de US$ 50 bilhões, para financiar projetos sustentáveis de infraestrutura.
A reunião de Fortaleza ocorre num momento em que o Brics — acrônimo usado pela primeira vez há 12 anos pelo economista inglês Jim O’Neill, do Goldman Sachs, para designar grandes países emergentes em rápido desenvolvimento — não ostenta o brilho do passado. Em todos, o crescimento arrefeceu em alguma medida, um reflexo, para alguns, ainda das turbulências mundiais, embora os Estados Unidos já deem sinais de recuperação com uma certa consistência. No caso do Brasil, as causas são internas. Mesmo a China, na delicada manobra de troca de indutor de expansão, dos investimentos para o consumo, viu seu ritmo de crescimento ficar no patamar dos 7%, abaixo dos 9% a 10% de passado recente. Já que foram reunidos numa sigla por O’Neill, esses países decidiram fazer por onde. O objetivo era unificar o discurso em meio à grave crise financeira que o mundo atravessava. A primeira reunião foi em 2009, em Yekaterinburgo (Rússia), e a última, no ano passado em Durban, África do Sul. Há, evidentemente, dificuldades para se chegar a uma agenda comum entre países tão díspares — econômica, cultural e politicamente. Inclusive porque há interesses conflitantes entre Brasil, China e Índia, como ficou atestado no fracasso da Rodada de Doha, em 2008, em Genebra, criada para e liberalização do comércio internacional.
Os percalços não impedem que esses países se aproximem e falem em conjunto. Naturalmente, em contraposição aos EUA e, às vezes, à União Europeia. Foi este aspecto, aliás, que chamou a atenção da diplomacia companheira: participar de um eixo internacional forte contra “o Norte”. Pois a marca da política externa lulopetista foi ressuscitar, de forma anacrônica, a visão Sul-Sul. Com isto o país se viu capturado na armadilha de um Mercosul em esvaziamento, enquanto o governo se mostrava blasé diante do maior mercado consumidor do mundo (EUA). São vários os equívocos da política externa lulopetista. Um deles, achar que o Brics seria antiamericanista, sem considerar que a saúde financeira da China depende dos EUA. Mas o Brics é importante fórum para o Planalto, na hora em que o país enfrenta percalços, com risco de estagflação, e por ter sua importância diminuída no mundo à medida que aceita com passividade o atoleiro em que a crise argentina o coloca. Quanto mais não seja, permitirá a Dilma o convívio com os líderes presentes — o chinês XI Jiping, o russo Vladimir Putin, o sul-africano Jacob Zuma e, ainda, conhecer o premier Narendra
O vale-tudo pelo tempo de TV - EDITORIAL ZERO HORA
ZERO HORA - 12/07
Com a divulgação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da estimativa de tempo de rádio e televisão para cada candidato à Presidência da República, fica escancarado para a população o principal motivo de alianças esdrúxulas entre agremiações políticas. Os dois candidatos melhor situados nas pesquisas eleitorais contam, cada um, com o apoio de nove legendas, algumas sem qualquer expressão política, que parecem existir apenas para negociar a propaganda dita gratuita em rádio e televisão. E de gratuita não tem nada, pois o contribuinte paga a compensação pelo espaço utilizado pelos candidatos e partidos para o proselitismo eleitoral. Trata-se, sem dúvida, de uma das maiores deformações da política nacional.
Num país de dimensões continentais como o Brasil, é natural que haja uma disputa acirrada pelos espaços em emissoras de rádio e televisão. O inadmissível é que a estratégia passe longe dos interesses políticos e envolva um verdadeiro vale-tudo. Isso faz com que representantes de partidos de pouca ou nenhuma expressão insistam em permanecer na disputa, mesmo sem contar com qualquer chance de vitória. O objetivo é aproveitar ao máximo o direito a pelo menos alguns segundos adicionais no horário político obrigatório. Numa campanha eleitoral, o tempo de rádio e televisão transforma-se numa moeda de troca valiosa, levando candidatos a se comprometerem em retribuir favores depois de eleitos.
Na prática, isso faz com que, entre os dois pretendentes à Presidência da República mais citados hoje nas pesquisas presidenciais, um tenha o dobro do tempo de exposição do segundo colocado. Ambos ficam com mais da metade do tempo de veiculação. O restante é dividido entre os demais, sendo que alguns dispõem de apenas alguns segundos. Por mais que a distribuição baseie-se em parâmetros objetivos _ o tamanho das bancadas dos partidos de cada coligação no Congresso _, o resultado evidencia mais um dos tantos elementos de desequilíbrio na disputa.
Um dos problemas dessa deformação é que a conta das campanhas eletrônicas, mais elevada a cada eleição, é bancada de forma direta ou indireta pelos próprios eleitores. O inadmissível, porém, é que o verdadeiro balcão montado para negociar tempo de rádio e televisão esteja preocupado não com os interesses dos eleitores, mas com os dos próprios políticos.
Com a divulgação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da estimativa de tempo de rádio e televisão para cada candidato à Presidência da República, fica escancarado para a população o principal motivo de alianças esdrúxulas entre agremiações políticas. Os dois candidatos melhor situados nas pesquisas eleitorais contam, cada um, com o apoio de nove legendas, algumas sem qualquer expressão política, que parecem existir apenas para negociar a propaganda dita gratuita em rádio e televisão. E de gratuita não tem nada, pois o contribuinte paga a compensação pelo espaço utilizado pelos candidatos e partidos para o proselitismo eleitoral. Trata-se, sem dúvida, de uma das maiores deformações da política nacional.
Num país de dimensões continentais como o Brasil, é natural que haja uma disputa acirrada pelos espaços em emissoras de rádio e televisão. O inadmissível é que a estratégia passe longe dos interesses políticos e envolva um verdadeiro vale-tudo. Isso faz com que representantes de partidos de pouca ou nenhuma expressão insistam em permanecer na disputa, mesmo sem contar com qualquer chance de vitória. O objetivo é aproveitar ao máximo o direito a pelo menos alguns segundos adicionais no horário político obrigatório. Numa campanha eleitoral, o tempo de rádio e televisão transforma-se numa moeda de troca valiosa, levando candidatos a se comprometerem em retribuir favores depois de eleitos.
Na prática, isso faz com que, entre os dois pretendentes à Presidência da República mais citados hoje nas pesquisas presidenciais, um tenha o dobro do tempo de exposição do segundo colocado. Ambos ficam com mais da metade do tempo de veiculação. O restante é dividido entre os demais, sendo que alguns dispõem de apenas alguns segundos. Por mais que a distribuição baseie-se em parâmetros objetivos _ o tamanho das bancadas dos partidos de cada coligação no Congresso _, o resultado evidencia mais um dos tantos elementos de desequilíbrio na disputa.
Um dos problemas dessa deformação é que a conta das campanhas eletrônicas, mais elevada a cada eleição, é bancada de forma direta ou indireta pelos próprios eleitores. O inadmissível, porém, é que o verdadeiro balcão montado para negociar tempo de rádio e televisão esteja preocupado não com os interesses dos eleitores, mas com os dos próprios políticos.
Câmbio, o alvo errado - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 12/07
Controlar a inflação tem sido o principal objetivo da política de câmbio - um jogo arriscado, segundo economistas das mais importantes consultorias. Há cerca de um ano o Banco Central (BC) tem procurado impedir a valorização do dólar no mercado brasileiro e a consequente contaminação dos preços internos. Políticas desse tipo, quando mantidas por muito tempo, barateiam as importações, encarecem as exportações, estimulam os gastos no exterior e prejudicam as contas externas - no caso do Brasil, já em condições bem precárias pelo menos desde o ano passado. Com suas intervenções o BC conseguiu mais que frear a valorização da moeda americana. Do começo de janeiro até a última sexta-feira a cotação do dólar caiu 5,98%, tornando mais complicada a situação do industrial brasileiro, já pressionado pela alta dos salários e de outros custos de produção.
A decisão de agir para conter o câmbio foi tomada há cerca de um ano, quando o dólar disparou em todo o mundo. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) havia anunciado, para breve, uma diminuição gradual dos estímulos à recuperação da economia americana. A emissão de moeda seria reduzida e, portanto, a oferta de dólares cresceria mais lentamente. Os mercados anteciparam a valorização e o Brasil foi um dos emergentes mais afetados pela nova onda. O consequente aumento dos preços de importação logo foi incluído pela autoridade monetária na lista dos desafios urgentes.
Para enfrentar esse problema, o BC tem atuado no mercado cambial por meio de operações de swap, equivalentes à venda de dólares no mercado futuro. A autoridade monetária intervém no câmbio, normalmente, para impedir grandes oscilações em prazo muito curto, em geral perturbadoras. Mas a ação iniciada há cerca de um ano, como resposta à mudança na política americana, teve claramente um objetivo mais estrito - impedir ou, no mínimo, limitar o efeito inflacionário da valorização da moeda americana.
Ao manter essa estratégia por longo tempo, o BC assumiu o risco de prejudicar as contas externas. O câmbio é só um dos fatores de competitividade. Nos países mais eficientes, nem é o mais importante. Pesam muito mais a produtividade da mão de obra, a capacidade de inovação, a qualidade da produção, a tributação bem calibrada e a eficiência da infraestrutura. O Brasil perde em todos esses quesitos. Por isso, o câmbio tem uma importância excepcional para os empresários brasileiros. Os mais afetados são em geral os da indústria de transformação.
A excessiva dependência do câmbio para competir internacionalmente é com certeza uma distorção, mas outras igualmente importantes afetam a política econômica. Afinal, por que o BC tem de dar tanta importância ao dólar em sua política anti-inflacionária? Em outros países, a estabilidade de preços é garantida por outros fatores, em geral mais importantes que o câmbio.
O manejo responsável das finanças públicas é um desses fatores. Em países com melhor tradição no campo fiscal as contas públicas têm menor impacto inflacionário que no Brasil. As autoridades brasileiras têm sido incapazes de controlar a própria gastança e de usar com sabedoria os incentivos fiscais e as políticas de rendas. Têm pouca credibilidade e suas intervenções na formação dos preços em geral são desastrosas.
Sem contar de fato com a contribuição do governo, o BC tem de cuidar sozinho da inflação. Seu principal instrumento, a política de juros, parece estar congelado. Será uma surpresa se houver nova alta neste ano ou, pelo menos, antes das eleições. Isso aumenta a importância da intervenção no câmbio, embora o resultado seja modesto, em termos de contenção dos preços, e o custo para as contas externas possa ser elevado.
Um dos pressupostos para a manutenção dos juros em 11%, segundo o BC, é uma taxa de R$ 2,25 por dólar no fim do ano. Há cinco semanas o mercado sustenta a projeção de R$ 2,40, indicando claramente a percepção de um grave desajuste. O desajuste maior, obviamente, está na política econômica, mas este muito dificilmente será eliminado neste ano ou no próximo.
Controlar a inflação tem sido o principal objetivo da política de câmbio - um jogo arriscado, segundo economistas das mais importantes consultorias. Há cerca de um ano o Banco Central (BC) tem procurado impedir a valorização do dólar no mercado brasileiro e a consequente contaminação dos preços internos. Políticas desse tipo, quando mantidas por muito tempo, barateiam as importações, encarecem as exportações, estimulam os gastos no exterior e prejudicam as contas externas - no caso do Brasil, já em condições bem precárias pelo menos desde o ano passado. Com suas intervenções o BC conseguiu mais que frear a valorização da moeda americana. Do começo de janeiro até a última sexta-feira a cotação do dólar caiu 5,98%, tornando mais complicada a situação do industrial brasileiro, já pressionado pela alta dos salários e de outros custos de produção.
A decisão de agir para conter o câmbio foi tomada há cerca de um ano, quando o dólar disparou em todo o mundo. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) havia anunciado, para breve, uma diminuição gradual dos estímulos à recuperação da economia americana. A emissão de moeda seria reduzida e, portanto, a oferta de dólares cresceria mais lentamente. Os mercados anteciparam a valorização e o Brasil foi um dos emergentes mais afetados pela nova onda. O consequente aumento dos preços de importação logo foi incluído pela autoridade monetária na lista dos desafios urgentes.
Para enfrentar esse problema, o BC tem atuado no mercado cambial por meio de operações de swap, equivalentes à venda de dólares no mercado futuro. A autoridade monetária intervém no câmbio, normalmente, para impedir grandes oscilações em prazo muito curto, em geral perturbadoras. Mas a ação iniciada há cerca de um ano, como resposta à mudança na política americana, teve claramente um objetivo mais estrito - impedir ou, no mínimo, limitar o efeito inflacionário da valorização da moeda americana.
Ao manter essa estratégia por longo tempo, o BC assumiu o risco de prejudicar as contas externas. O câmbio é só um dos fatores de competitividade. Nos países mais eficientes, nem é o mais importante. Pesam muito mais a produtividade da mão de obra, a capacidade de inovação, a qualidade da produção, a tributação bem calibrada e a eficiência da infraestrutura. O Brasil perde em todos esses quesitos. Por isso, o câmbio tem uma importância excepcional para os empresários brasileiros. Os mais afetados são em geral os da indústria de transformação.
A excessiva dependência do câmbio para competir internacionalmente é com certeza uma distorção, mas outras igualmente importantes afetam a política econômica. Afinal, por que o BC tem de dar tanta importância ao dólar em sua política anti-inflacionária? Em outros países, a estabilidade de preços é garantida por outros fatores, em geral mais importantes que o câmbio.
O manejo responsável das finanças públicas é um desses fatores. Em países com melhor tradição no campo fiscal as contas públicas têm menor impacto inflacionário que no Brasil. As autoridades brasileiras têm sido incapazes de controlar a própria gastança e de usar com sabedoria os incentivos fiscais e as políticas de rendas. Têm pouca credibilidade e suas intervenções na formação dos preços em geral são desastrosas.
Sem contar de fato com a contribuição do governo, o BC tem de cuidar sozinho da inflação. Seu principal instrumento, a política de juros, parece estar congelado. Será uma surpresa se houver nova alta neste ano ou, pelo menos, antes das eleições. Isso aumenta a importância da intervenção no câmbio, embora o resultado seja modesto, em termos de contenção dos preços, e o custo para as contas externas possa ser elevado.
Um dos pressupostos para a manutenção dos juros em 11%, segundo o BC, é uma taxa de R$ 2,25 por dólar no fim do ano. Há cinco semanas o mercado sustenta a projeção de R$ 2,40, indicando claramente a percepção de um grave desajuste. O desajuste maior, obviamente, está na política econômica, mas este muito dificilmente será eliminado neste ano ou no próximo.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“Quero sair da Copa sem perder nenhum jogo”
Louis Van Gaal, técnico holandês, que enfrenta hoje a traumatizada Seleção Brasileira
RIO RECEBE MAIS DE 600 JATOS PARA FINAL DA COPA
O Planalto contabilizou a chegada de mais de 600 jatos executivos neste fim de semana ao Rio de Janeiro, para a final da Copa do Mundo no Maracanã, onde a seleção alemã enfrentará a Argentina. Os ministros Aldo Rebelo (Esportes), Moreira Franco (Aviação Civil) e José Cardozo (Justiça) estão
em intensa operação desde sexta-feira (11) para garantir, de forma integrada, que tudo corra bem na final do Mundial.
ALEMÃES CONFIANTES
Em uma demonstração de força, a chanceler alemã, Angela Merkel, chegará no Brasil no maior Boeing operado pela Lufthansa.
PALANQUE
Romário (PSB-RJ) planeja usar o fracasso do Brasil na Copa para tentar turbinar, com suas críticas, a candidatura ao Senado, no Rio.
BENS
O governador do DF, Agnelo Queiroz, declarou à Justiça Eleitoral que é dono de dois automóveis e paga prestações de três consórcios.
PERSONAL TRAINER
O presidente do Senado, Renan Calheiros, que já ajeitou a cabeleira, agora terá de frequentar academia: a pança já atrapalha a silhueta.
STF AGILIZA OS PROCESSOS CONTRA PARLAMENTARES
O Supremo Tribunal Federal resolveu “estimular” o Congresso a acabar com o tal foro privilegiado, ao retirar do plenário e passar às turmas o julgamento dos processos contra parlamentares, que congestionam a pauta. As turmas só têm 5 ministros e suas sessões não são exibidas na TV Justiça, têm uma dinâmica bem mais ágil, por isso as decisões sairão rapidamente. E rapidez nunca interessa a políticos processados.
CAUSA E CONSEQUÊNCIA
Como o STF anda com a mão mais pesada no julgamento de políticos, logo o Congresso vai votar projetos acabando com o foro privilegiado.
NÃO PODEM RECORRER
Foro privilegiado livra parlamentares de ações na primeira instância, mas eles encaram decisões irrecorríveis do Supremo Tribunal Federal.
OS AUTORES
A mudança do julgamento de políticos para as turmas foi obra dos dois ministros novatos do STF: Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki.
QUÓRUM DIFÍCIL
O presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB), vai ter trabalho para conseguir quórum na quinta-feira (17), véspera do recesso parlamentar, para o pronunciamento do presidente da China, Xi Jinping, no Plenário.
CONFRONTO
Dos candidatos ao governo gaúcho, o deputado Vieira da Cunha (PDT) até agora foi o que mais subiu o tom contra o governador Tarso Genro (PT) e o governo Dilma, do qual o PDT faz parte.
PROMOÇÃO
O candidato ao Senado pelo Ceará, Mauro Benevides Filho, informou à Justiça Eleitoral que detém apenas um sexto de uma bela casa na valorizada QI-5 do Lago sul, em Brasília, no valor de apenas R$ 28 mil. Mas certamente não venderia sua parte por menos de R$ 1,5 milhão.
A PONTE
Com o senador José Agripino (DEM-RN) coordenando a campanha, o presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG) deverá subir no palanque do dilmista juramentado Henrique Alves (PMDB), no Rio Grande do Norte.
TRATOR NA ESPLANADA
Em vez de automóvel, candidato do PT a senador no Pará, Paulo Rocha, preferiu declarar à Justiça Eleitoral a propriedade de um trator. E R$ 131 mil pagos ao consórcio de uma casa, jamais entregue.
IRRITAÇÃO
Lula tem reclamado muito de atitudes de Dilma, como a de inviabilizar, no Amazonas, a candidatura ao Senado de Francisco Praciano, na chapa de Eduardo Braga (PMDB), que ela detesta.
QUEM VAI GOVERNAR?
O PSDB solicitou ao Tribunal Superior Eleitoral a decisão, na íntegra, da Advocacia-Geral da União (AGU) que autorizou a presidente Dilma a fazer campanha durante a semana e em horário comercial.
PRECONCEITO
Em Natal, o candidato a presidente Eduardo Campos (PSB) disse que é hora de parar de chamar o Nordeste de curral eleitoral. “É uma agressão e é preconceito que me fere”, afirmou.
PADRÃO DILMA
Após dizer no início da Copa que seu governo é “padrão Felipão”, Dilma não abriu a agenda para receber a Seleção, neste sábado.
PODER SEM PUDOR
OBJETIVIDADE
Ernani Sátiro era governador da Paraíba e iria receber um prefeito do interior. Advertido pelo chefe de gabinete de que era preciso ir direto ao assunto porque o governador era muito objetivo, o prefeito foi logo dizendo:
- Vim tratar de dois assuntos. Eu sei que o senhor é objetivo e prático...
O governador Ernani Sátiro o interrompeu:
- Muito bem, amigo velho, diga então qual o segundo assunto.
Louis Van Gaal, técnico holandês, que enfrenta hoje a traumatizada Seleção Brasileira
RIO RECEBE MAIS DE 600 JATOS PARA FINAL DA COPA
O Planalto contabilizou a chegada de mais de 600 jatos executivos neste fim de semana ao Rio de Janeiro, para a final da Copa do Mundo no Maracanã, onde a seleção alemã enfrentará a Argentina. Os ministros Aldo Rebelo (Esportes), Moreira Franco (Aviação Civil) e José Cardozo (Justiça) estão
em intensa operação desde sexta-feira (11) para garantir, de forma integrada, que tudo corra bem na final do Mundial.
ALEMÃES CONFIANTES
Em uma demonstração de força, a chanceler alemã, Angela Merkel, chegará no Brasil no maior Boeing operado pela Lufthansa.
PALANQUE
Romário (PSB-RJ) planeja usar o fracasso do Brasil na Copa para tentar turbinar, com suas críticas, a candidatura ao Senado, no Rio.
BENS
O governador do DF, Agnelo Queiroz, declarou à Justiça Eleitoral que é dono de dois automóveis e paga prestações de três consórcios.
PERSONAL TRAINER
O presidente do Senado, Renan Calheiros, que já ajeitou a cabeleira, agora terá de frequentar academia: a pança já atrapalha a silhueta.
STF AGILIZA OS PROCESSOS CONTRA PARLAMENTARES
O Supremo Tribunal Federal resolveu “estimular” o Congresso a acabar com o tal foro privilegiado, ao retirar do plenário e passar às turmas o julgamento dos processos contra parlamentares, que congestionam a pauta. As turmas só têm 5 ministros e suas sessões não são exibidas na TV Justiça, têm uma dinâmica bem mais ágil, por isso as decisões sairão rapidamente. E rapidez nunca interessa a políticos processados.
CAUSA E CONSEQUÊNCIA
Como o STF anda com a mão mais pesada no julgamento de políticos, logo o Congresso vai votar projetos acabando com o foro privilegiado.
NÃO PODEM RECORRER
Foro privilegiado livra parlamentares de ações na primeira instância, mas eles encaram decisões irrecorríveis do Supremo Tribunal Federal.
OS AUTORES
A mudança do julgamento de políticos para as turmas foi obra dos dois ministros novatos do STF: Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki.
QUÓRUM DIFÍCIL
O presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB), vai ter trabalho para conseguir quórum na quinta-feira (17), véspera do recesso parlamentar, para o pronunciamento do presidente da China, Xi Jinping, no Plenário.
CONFRONTO
Dos candidatos ao governo gaúcho, o deputado Vieira da Cunha (PDT) até agora foi o que mais subiu o tom contra o governador Tarso Genro (PT) e o governo Dilma, do qual o PDT faz parte.
PROMOÇÃO
O candidato ao Senado pelo Ceará, Mauro Benevides Filho, informou à Justiça Eleitoral que detém apenas um sexto de uma bela casa na valorizada QI-5 do Lago sul, em Brasília, no valor de apenas R$ 28 mil. Mas certamente não venderia sua parte por menos de R$ 1,5 milhão.
A PONTE
Com o senador José Agripino (DEM-RN) coordenando a campanha, o presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG) deverá subir no palanque do dilmista juramentado Henrique Alves (PMDB), no Rio Grande do Norte.
TRATOR NA ESPLANADA
Em vez de automóvel, candidato do PT a senador no Pará, Paulo Rocha, preferiu declarar à Justiça Eleitoral a propriedade de um trator. E R$ 131 mil pagos ao consórcio de uma casa, jamais entregue.
IRRITAÇÃO
Lula tem reclamado muito de atitudes de Dilma, como a de inviabilizar, no Amazonas, a candidatura ao Senado de Francisco Praciano, na chapa de Eduardo Braga (PMDB), que ela detesta.
QUEM VAI GOVERNAR?
O PSDB solicitou ao Tribunal Superior Eleitoral a decisão, na íntegra, da Advocacia-Geral da União (AGU) que autorizou a presidente Dilma a fazer campanha durante a semana e em horário comercial.
PRECONCEITO
Em Natal, o candidato a presidente Eduardo Campos (PSB) disse que é hora de parar de chamar o Nordeste de curral eleitoral. “É uma agressão e é preconceito que me fere”, afirmou.
PADRÃO DILMA
Após dizer no início da Copa que seu governo é “padrão Felipão”, Dilma não abriu a agenda para receber a Seleção, neste sábado.
PODER SEM PUDOR
OBJETIVIDADE
Ernani Sátiro era governador da Paraíba e iria receber um prefeito do interior. Advertido pelo chefe de gabinete de que era preciso ir direto ao assunto porque o governador era muito objetivo, o prefeito foi logo dizendo:
- Vim tratar de dois assuntos. Eu sei que o senhor é objetivo e prático...
O governador Ernani Sátiro o interrompeu:
- Muito bem, amigo velho, diga então qual o segundo assunto.
sexta-feira, julho 11, 2014
Dilma x Dilma - EDUARDO GIANNETTI
FOLHA DE SP - 11/07
O passado não pode ser mudado --é lenha calcinada. O futuro será o que fizermos dele --é promessa de combustão. Daí que todas as nossas escolhas na vida prática, como ensina George Shackle, "se dão sempre entre pensamentos, pois será sempre tarde demais para escolher sobre os fatos".
O início formal da campanha convida a refletir sobre o caminho trilhado e as opções em jogo. Ao término do mandato, há duas formas básicas de se avaliar um governo.
A primeira é interna: o governo realizou o que se propôs a fazer? Trata-se de medir a gestão por sua própria régua: o hiato entre propósitos declarados e resultados obtidos. Já a avaliação externa questiona o teor da visão estratégica --ou a falta dela-- que norteou a ação do governo. O exame recai sobre o projeto perseguido: a pertinência dos valores e prioridades revelados pelas políticas implementadas.
Como o espaço é exíguo, atenho-me neste artigo a uma avaliação interna do governo Dilma na área de atuação em que o hiato entre o almejado e o obtido foi mais gritante --a economia.
Três grandes paradoxos marcam a atual gestão.
Dilma elegeu-se e governou sob o signo da aceleração do crescimento. Ultrapassado o impacto da crise global, a intenção era dar sequência à vigorosa recuperação de 2010 e superar os 4% de média anual dos governos Lula. Apesar de todo o empenho sincero --e em boa parte por causa dele, na medida em que a adoção de uma pletora de medidas "ad hoc" gerou grave incerteza sobre as regras da economia-- o resultado foi justamente o contrário do pretendido.
O governo Dilma encerra o mandato com a menor taxa de crescimento de toda a era republicana, excetuados os governos Floriano Peixoto e Collor. No acumulado de 2011 a 2014, nosso crescimento deverá ficar em 61% do verificado na América Latina.
O segundo paradoxo decorre do voluntarismo na política monetária. Movido pela intenção louvável de reduzir o custo dos investimentos, o governo Dilma fez da queda da taxa Selic sua grande bandeira. Só que em vez de criar condições reais para isso, forçou uma redução prematura e viu a inflação extrapolar o teto da meta.
Deu no que deu: o Brasil volta a ostentar a maior taxa de juros real planetária e a Selic deverá terminar o atual mandato acima do patamar inicial --fato inédito desde a adoção do regime de metas em 1999.
E, por fim, a joia da coroa. Um governo de claro perfil estatizante mas que, graças a barbeiragens e gambiarras em série, logrou a proeza de prejudicar seriamente nossas duas maiores estatais, Petrobras e Eletrobras, deprimindo seu valor patrimonial e tolhendo sua capacidade de investimento. Os resultados, outra vez, tripudiam das intenções. Obra de rara alquimia.
O passado não pode ser mudado --é lenha calcinada. O futuro será o que fizermos dele --é promessa de combustão. Daí que todas as nossas escolhas na vida prática, como ensina George Shackle, "se dão sempre entre pensamentos, pois será sempre tarde demais para escolher sobre os fatos".
O início formal da campanha convida a refletir sobre o caminho trilhado e as opções em jogo. Ao término do mandato, há duas formas básicas de se avaliar um governo.
A primeira é interna: o governo realizou o que se propôs a fazer? Trata-se de medir a gestão por sua própria régua: o hiato entre propósitos declarados e resultados obtidos. Já a avaliação externa questiona o teor da visão estratégica --ou a falta dela-- que norteou a ação do governo. O exame recai sobre o projeto perseguido: a pertinência dos valores e prioridades revelados pelas políticas implementadas.
Como o espaço é exíguo, atenho-me neste artigo a uma avaliação interna do governo Dilma na área de atuação em que o hiato entre o almejado e o obtido foi mais gritante --a economia.
Três grandes paradoxos marcam a atual gestão.
Dilma elegeu-se e governou sob o signo da aceleração do crescimento. Ultrapassado o impacto da crise global, a intenção era dar sequência à vigorosa recuperação de 2010 e superar os 4% de média anual dos governos Lula. Apesar de todo o empenho sincero --e em boa parte por causa dele, na medida em que a adoção de uma pletora de medidas "ad hoc" gerou grave incerteza sobre as regras da economia-- o resultado foi justamente o contrário do pretendido.
O governo Dilma encerra o mandato com a menor taxa de crescimento de toda a era republicana, excetuados os governos Floriano Peixoto e Collor. No acumulado de 2011 a 2014, nosso crescimento deverá ficar em 61% do verificado na América Latina.
O segundo paradoxo decorre do voluntarismo na política monetária. Movido pela intenção louvável de reduzir o custo dos investimentos, o governo Dilma fez da queda da taxa Selic sua grande bandeira. Só que em vez de criar condições reais para isso, forçou uma redução prematura e viu a inflação extrapolar o teto da meta.
Deu no que deu: o Brasil volta a ostentar a maior taxa de juros real planetária e a Selic deverá terminar o atual mandato acima do patamar inicial --fato inédito desde a adoção do regime de metas em 1999.
E, por fim, a joia da coroa. Um governo de claro perfil estatizante mas que, graças a barbeiragens e gambiarras em série, logrou a proeza de prejudicar seriamente nossas duas maiores estatais, Petrobras e Eletrobras, deprimindo seu valor patrimonial e tolhendo sua capacidade de investimento. Os resultados, outra vez, tripudiam das intenções. Obra de rara alquimia.
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