sábado, agosto 24, 2013

O jogo é pesado - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 24/08

O Banco Central (BC) joga pesado para estabilizar o dólar. A alta desenfreada da moeda norte-americana, caso tenha realmente impacto na inflação, seria uma ameaça para a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Obrigaria o BC a elevar ainda mais a taxa de juros para segurar os preços. Consequências: recessão e desemprego. É a fórmula para perder a eleição.


É balela a conversa de que o dólar alto é bom para a indústria brasileira, que pode flutuar à vontade, que não tem problema. Tanto que o BC anunciou, na quinta-feira, a realização de leilões diários no mercado futuro, até dezembro, para segurar o ataque especulativo de investidores. De segunda a quinta-feira, oferecerá US$ 500 milhões em operações de derivativos; na sexta, dará até US$ 1 bilhão de linhas externas.


A estratégia funciona: o dólar caiu mais de 3% ontem, maior queda diária em quase dois anos, recuando para o patamar de R$ 2,35. A fórmula é parecida com a adotada em outras ocasiões. Em 2001, no governo de Fernando Henrique Cardoso, durante a crise Argentina, o dólar custava R$ 2,47. O BC vendeu US$ 50 milhões por dia, até o fim daquele ano. Em julho de 2002, o dólar chegou a R$ 3. O BC retirou das reservas internacionais US$ 8 bilhões. As reservas baixaram para US$ 15 bilhões.

Reservas
A situação é bem melhor que a do final do governo de FHC. O Brasil tem US$ 377,5 bilhões em reservas internacionais. O BC pode ganhar a queda de braços colocando na roleta US$ 3 bilhões por semana, sem mexer nas reservas internacionais, com operações no mercado futuro ou compromisso de recompra dos dólares. A oposição vai ter que pagar para ver.

Cubanos// O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (AMB) entraram ontem com uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) contra o Programa Mais Médicos. Argumentam que medida provisória não é o instrumento jurídico adequado para o pedido de urgência de implantação do programa.

Compromisso
O deputado José Antonio Reguffe (PDT-DF) apresentou proposta complementar ao chamado Orçamento Impositivo, que torna obrigatória a execução das emendas parlamentares. Quer que os deputados e senadores tenham que registrar na campanha eleitoral para onde vão destinar suas emendas. A Justiça Eleitoral publicaria no seu site e o eleitor teria uma garantia legal de que o compromisso assumido seria efetivamente cumprido.

Contra a seca
O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, anunciou que os estados do Nordeste receberão mais recursos para combater a seca: R$ 750 milhões

Sorteio/O governador da Bahia, Jaques Wagner, inaugura hoje, na Costa do Sauípe (litoral norte do estado), o Centro de Convenções Arena Sauípe. O local foi escolhido para o sorteio dos grupos da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, marcado para 6 de dezembro. Foram investidos no empreendimento, pela iniciativa privada, R$ 13,7 milhões.

Diplomacia/ Para celebrar o Dia da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, os diplomatas da região farão uma caminhada, hoje pela manhã, no Parque da Cidade. A SADC é um organismo intergovernamental representado no Brasil por 10 países: África do Sul, Namíbia, Moçambique, Angola, Botswana, Zimbabwe, Zâmbia, Maláui, Tanzânia e República Democrática do Congo.

Vacinação/O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, participa hoje, em Brasília, do Dia D de Mobilização, que marca o início da campanha nacional para atualizar a caderneta de vacinação das crianças com menos de 5 anos.

Brutus
O senador Alvaro Dias, do PSDB-PR, resolveu lançar sua candidatura às prévias do PSDB para escolha do nome da legenda que concorrerá à Presidência da República. Argumenta que vai qualificar o debate. Reivindicada pelo ex-governador José Serra, que ameaçava deixar a legenda e entrar na disputa pelo PPS, as prévias foram aceitas pelo senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, mas a cúpula tucana ainda não bateu o martelo. Muitos consideram a consulta inviável.


Professores
O Projeto de Lei nº 322/2008, de autoria do senador Cristovam Buarque, do PDT-DF, que assegura aos professores concursados das redes públicas de educação básica acesso a curso superior de pedagogia e outras licenciaturas, sem necessidade de exame vestibular, foi aprovado pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Com parecer favorável do deputado federal Newton Lima (PT-SP), falta apenas uma votação na Comissão de Constituição e Justiça para o termo terminativo.

Talião
O deputado estadual Enio Tatto (PT) resolveu apresentar à Assembleia Legislativa de São Paulo uma proposta de orçamento impositivo, nos mesmos moldes do projeto que está dando dor de cabeça à presidente Dilma Rousseff no Congresso. Parece contradição, mas não é. Boa parte da bancada federal do PT também quer o orçamento impositivo em nível federal.

FORNO E FOGÃO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 24/04

Até a virada do mês o cartão Minha Casa Melhor vai chegar a R$ 1 bilhão em empréstimos para compra de móveis e eletrodomésticos. O programa do governo federal empresta até R$ 5.000 aos beneficiados do Minha Casa, Minha Vida.

FORNO 2
Até julho, segundo a própria presidente Dilma Rousseff informou ao receber a Folha para uma entrevista exclusiva, o número de contratos do programa chegava a 136 mil.

VITRINE
Os aeroportos das 12 cidades-sede da Copa de 2014 vão expor artesanato local nos saguões. Mas os produtos não poderão ser vendidos, em respeito aos contratos já existentes de concessão nas zonas aeroportuárias para outros estabelecimentos de comércio. O Ministério do Turismo destinará R$ 2,2 milhões para a iniciativa, e a Secretaria da Micro e Pequena Empresa, outros R$ 5 milhões.

MICROFONE
Marta Suplicy convidou Gloria Pires para apresentar a Ordem do Mérito Cultural 2013. A condecoração será entregue em novembro, no auditório do Ibirapuera, em SP. Uma das agraciadas será Lucy Barreto, produtora de "Flores Raras". O filme, com Gloria no elenco, é o preferido da ministra da Cultura para representar o Brasil no Oscar. Ela garantiu apoio da pasta à campanha pela candidatura do longa.

GENEROSIDADE
O bingo Obra do Berço, que é realizado há 22 anos, oferecerá amanhã prêmios como joias do designer Ara Vartanian e bolsas Valentino, Dior, Chanel e Bottega Veneta. Os convites são vendidos por R$ 220.

ENCONTRO
O brasileiro Hamilton de Holanda e o britânico John Paul Jones, baixista e criador do Led Zeppelin, vão dividir o palco, em novembro, na França, no festival Lunel, dedicado ao bandolim. Os dois se conheceram no mesmo evento, em 2004, quando Jones participou de um workshop ministrado por Hamilton.

TEORIA
Assuntos como formação de cartel, monopólio e concorrência desleal são tratados no livro "Direito Econômico", que Modesto Carvalhosa lança na segunda, em SP. Na obra, que reúne estudos feitos por ele há 40 anos, o advogado afirma que cartéis não são necessariamente maus e que devem ser avaliados caso a caso. Os textos são até hoje referência para profissionais e estudantes da área.

RAQUETADAS
A procura por pacotes para os quatro maiores torneios de tênis do mundo aumentou 40%, em média, no último ano. Roland Garros, em Paris, teve 60% a mais de brasileiros que viajaram exclusivamente para acompanhar as partidas, segundo a operadora Fanato. O pacote para o US Open, em Nova York, custa US$ 6.207 (R$ 14 mil).

UM PÁSSARO ME CONTOU
Laerte Coutinho e Rita Lee vão lançar o livro "Storynhas", com minicontos da cantora ilustrados pelo cartunista da Folha. As 80 histórias foram tiradas do perfil dela no Twitter.

A roqueira também aparece no livro, que sai pela Companhia das Letras até o fim do ano. "Fiz desenhinhos dela bem magrinha, com o cabelo vermelho. Como se fosse uma espécie de fada Sininho", diz Laerte.

A parceria, já desejada há tempos pelos artistas, foi intermediada pela editora. Laerte segue a página de Rita no microblog. Gosta tanto que diz achar "até o bom-dia dela sensacional".

VERBA CURTA
A antropóloga Esther Hamburger, o cônsul interino da Suíça em São Paulo, François Duvanel, os cineastas Renata Druck, Hasan Serin e Marcelo Masagão e a produtora de festivais Tünde Albert estiveram no coquetel de abertura do 24º Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo. A diretora do festival, Zita Carvalhosa, e o diretor do Sesc, Danilo Santos de Miranda, recepcionaram os convidados no Sesc Pinheiros. Em seu discurso, Zita agradeceu aos diretores de outros países --eles aceitaram ficar hospedados em albergues durante o evento.

CURTO-CIRCUITO
O renomado arquiteto e designer italiano Alessandro Mendini vem ao Brasil pela primeira vez para palestra no Casa Cor Stars, no dia 11 de setembro.

O espetáculo "O Livro da Grande Desordem e da Infinita Coerência" estreia hoje, às 21h, no teatro do Sesc Santana. 14 anos.

A exposição "Mão Pesada", com desenhos e vídeos de Milton Machado, abre hoje, às 11h, na Galeria Nara Roesler, nos Jardins.

O cantor Pélico faz show gratuito hoje, às 21h, no Teatro Décio de Almeida Prado, no Itaim Bibi. Livre

Amanhã, a Corrida e Caminhada contra o Câncer de Mama começa às 8h, em frente à Assembleia.

Na falta de competência, a magia do câmbio filosofal - ROLF KUNTZ

O Estado de S.Paulo - 24/08

Na falta da pedra filosofal, com poder para transformar qualquer metal em ouro, vários economistas brasileiros tiveram de se contentar com o câmbio filosofal, conhecido pela propriedade notável de tornar competitiva qualquer indústria e, mais que isso, qualquer economia, bem ou mal administrada. Mas pode ser difícil encontrar esse câmbio maravilhoso. O dólar subiu quase 20% em relação ao real só neste ano - 19,68% entre o fim de 2012 e a quinta-feira passada, quando foi vendido a R$ 2,446 no fechamento das operações. Em um ano, a alta foi de 21%, levando-se em conta os valores médios divulgados pelo Banco Central (BC). Maxidesvalorização, ou simplesmente máxi, na linguagem coloquial, seria a palavra usada, em outros tempos, para designar essa variação. Mas o dólar cada vez mais caro foi acompanhado, desta vez, de um rombo cada vez maior nas contas externas.

O déficit em conta corrente acumulado de janeiro a julho chegou a US$ 52,472 bilhões, 81% maior que o de igual período de 2012, US$ 28,990 bilhões. Dois terços dessa diferença, US$ 15 bilhões, resultaram da piora da balança comercial, como ressaltou em entrevista coletiva o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel. Para chegar à diferença de cerca US$ 15 bilhões basta somar o superávit de US$ 9,930 bilhões obtido no ano passado na conta de mercadorias, nesses meses, e o déficit de US$ 4,989 bilhões acumulado em 2013 até o mês passado. A soma desses dois valores corresponde à piora do saldo comercial de um ano para outro.

A depreciação do real, já perceptível no ano passado, foi insuficiente para elevar as vendas ao exterior e conter a ocupação crescente do mercado interno por produtores estrangeiros. Algum fator muito mais importante que o câmbio deve ter prejudicado o comércio brasileiro, já com sinais de problemas nos anos anteriores.

A deterioração ocorreu dos dois lados da balança de mercadorias. De janeiro a julho o valor exportado este ano, US$ 135,231 bilhões, foi 2,16% menor que o de um ano antes. O valor importado, US$ 140,220 bilhões, foi, no entanto, 9,3% maior que o de janeiro a julho de 2012. O quadro pareceria melhor se fossem descontadas as compras de combustíveis realizadas no ano passado e só registradas este ano. Mas seria preciso corrigir para menos o saldo comercial do ano anterior, US$ 19,415 bilhões.

De toda forma, o quadro seria ruim, como continuou sendo até a terceira semana deste mês. Incorporado esse período, o déficit no comércio de bens fica um pouco menor, US$ 4,686 bilhões. As exportações, US$ 146,693 bilhões, continuam menores que as de um ano antes (1,6%) e as importações, bem maiores (10,4%), com base na comparação das médias diárias.

Só em parte esses números são explicáveis pela crise internacional e pela depreciação das commodities. A piora do comércio exterior brasileiro começou antes da crise. No fim de 2007, a fatia dos importados no consumo nacional de produtos industriais correspondia a cerca de 17%, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Chegou a 20% no trimestre final de 2008, diminuiu em 2009, quando houve recessão e a demanda encolheu. Voltou a crescer em seguida, bateu em 20,5% no segundo trimestre de 2012 e alcançou 21,1% no período entre abril e junho deste ano.

Seria uma evolução facilmente compreensível, se o mercado brasileiro se tivesse tornado mais aberto nos últimos anos. Mas ocorreu o contrário: houve aumento de barreiras e, apesar disso, as importações cresceram - tanto de bens finais quanto de produtos intermediários. Desde 2007-2008, as importações tenderam a crescer mais velozmente que as exportações. Esse movimento só foi interrompido brevemente na recessão. Detalhe importante: até 2012, as vendas externas foram amplamente favorecidas pela valorização das commodities.

Durante esse período o governo estimulou muito mais o consumo que a produção. A maior parte do financiamento de longo prazo, sustentado em parte com transferências do Tesouro, foi destinada a poucas grandes empresas, incluídas algumas estatais e umas tantas selecionadas para ser campeãs.

O investimento público permaneceu empacado. O total investido pelo governo e por empresas em máquinas, equipamentos, construções e obras de infraestrutura ficou pouco acima de 19% do produto interno bruto (PIB) nos melhores momentos. Diminuiu em 2012 e mal entrou em recuperação neste ano. O programa de logística anunciado há um ano continua no papel, como lembrou esta semana o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. No mesmo pronunciamento ele cobrou a manutenção, além deste ano, do Reintegra, um programa remendo de compensação fiscal às empresas exportadoras.

Nesta sexta-feira, reportagem do Valor mostrou as deficiências do Porto de Paranaguá, líder na exportação de grãos e na importação de fertilizantes. Só na parte de grãos a capacidade do porto continua 30% inferior à necessária. Em alguns momentos, usuários têm de fazer vaquinha para bancar pequenas manutenções, segundo um dos entrevistados.

Até o fim do ano o câmbio poderá proporcionar alguma melhora às contas externas, disse na sexta-feira Túlio Maciel. Pode ser. Mas nenhum ajuste cambial dura muito tempo quando a inflação é elevada. Os brasileiros deveriam ter apreendido esse dado elementar há muito tempo. Além disso, nenhuma taxa de câmbio substituiu até hoje, de forma segura e duradoura, a administração competente, o investimento em máquinas, equipamentos e infraestrutura, a formação de mão de obra, a produtividade e uma tributação adequada. Só o câmbio filosofal deve ter essas virtudes. Mas como encontrá-lo?

Algumas sobre o dólar - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 24/08

O dólar mais alto veio para ficar. A atuação do Banco Central vai ajudar, está correta, mas pode chegar o momento em que ele tenha que vender dólar físico. O câmbio desvalorizado ajuda as exportações, mas após estabilizar. Quando a moeda americana sobe, impacta a inflação. Os investidores de renda fixa podem perder capital mesmo com a ação do Tesouro de recompra de papéis.

Ótimo que ontem tenha sido de queda do dólar no mundo inteiro, mas tudo se move, quando o preço da moeda americana se altera subitamente. Não é apenas aquela visão binária: sobe o dólar e fica bom para a indústria e o exportador; cai o dólar e é ruim para a indústria e o exportador. A economia brasileira ficou mais complexa, mais atada ao mundo, as empresas são afetadas de diversas maneiras pelo câmbio e, na maioria delas, o efeito é positivo e negativo. As dívidas e os insumos importados ficam mais caros num primeiro momento; a competitividade da indústria e dos exportadores aumenta a médio prazo, quando o dólar se estabiliza em outro patamar.

Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, acha que além da mudança no mundo, os agentes econômicos temem as incertezas internas.

- O dólar mais alto veio para ficar, a economia americana está mais forte, há uma mudança na liquidez no mundo com a decisão que o Fed vai tomar. Há medo das incertezas internas nos próximos 18 meses até a eleição. O governo está se desentendendo muito, ninguém sabe quem manda em que. A presidente afirmou o compromisso fiscal, mas as ações do governo são contrárias ao discurso - disse ela, numa entrevista que me concedeu na Globonews.

Dados mais fracos da economia americana fizeram o dólar cair ontem, mas também ao redor do mundo houve intervenções dos bancos centrais.

O economista Cláudio Frischtak, da Inter B Consultoria, usou a expressão "cacofonia oficial" para concordar com Solange sobre esse espantoso coro de gente dando palpite no governo - ou nas cercanias - sobre câmbio. Esse é assunto delicado, sobre o qual é melhor fazer do que falar. O efeito do dólar em alta espalha-se por toda a economia, diz Frischtak.

- Todos nós estamos mais pobres desde o dia em que o dólar começou a subir. Os preços dos importados e dos produtos afetados pela moeda americana estão mais caros, a inflação fica mais alta e tira poder aquisitivo da população. O Banco Central terá que manter os juros subindo. Os juros de mercado já deram um salto - diz Frischtak.

Perguntei a ele se os aplicadores terão perdas com essa mudança do quadro de juros e ele disse que sim.

- Na realocação das carteiras, que está havendo agora, há uma fuga de capitais do Brasil; os juros de mercado sobem e os preços dos títulos do Tesouro brasileiro caem, principalmente os pré-fixados. Esses títulos estão nas carteiras dos fundos; se o valor deles cai, as cotas também. Já está havendo perda de capital dessas carteiras. O Tesouro, quando recompra os títulos pré-fixados, estanca as perdas, mas não recompõe os prejuízos já ocorridos - diz o economista.

Solange afirma que o quadro da economia brasileira está hoje bem mais complexo.

- Temos uma enorme inflação represada, esqueletos se formando no armário com as políticas parafiscais (transferência de recursos aos bancos públicos, principalmente o BNDES). Este ano e o próximo serão difíceis. O governo tentou crescer estimulando o consumo e isso criou muitas distorções na economia - diz Solange.

Frischtak calcula em 10% a inflação real no Brasil, sem a repressão das tarifas e preços controlados. E lembra que é melhor enfrentar isso agora do que em 2014, que é ano eleitoral.

O contra-ataque - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 24/08

O Banco Central abriu, finalmente, sua caixa de ferramentas para conter a escalada das cotações do dólar.

Agora, são leilões diários de US$ 500 mil em swaps cambiais (equivalentes à venda de dólar no câmbio futuro), mais a entrega de até US$ 1 bilhão todas as sextas-feiras em leilões de linha (para ser obrigatoriamente revendido ao Banco Central na data combinada). É uma ação mais firme para oferecer previsibilidade e proteção (hedge) ao mercado exposto à alta volatilidade cambial. E o mercado respondeu, como se vê no gráfico.

Um dos recados é de que, na percepção do Banco Central, o dólar foi longe demais (overshooting). Poderia não significar muito porque, afinal, indicações da mesma natureza foram repassadas sucessivamente ao mercado quando as cotações chegaram a R$ 2,10, a R$ 2,20 e a R$ 2,30 por dólar. Mas, desta vez, a estratégia pretendeu ser mais convincente.

Embora as autoridades avisem que mais virá se necessário, é cedo para saber se o jogo foi virado. Se neste ano o Banco Central já colocou no mercado US$ 45 bilhões em swaps, num período em que a turbulência pode não ter chegado ao seu clímax, o programa de mais US$ 60 bilhões corre o risco de ser insuficiente.

Nas próximas semanas, o mercado deverá testar o novo teto tolerado pelo Banco Central. No momento, o governo parece mais incomodado com o impacto da alta dos preços do dólar sobre os custos das empresas e sobre a inflação.

No entanto, as questões de fundo continuam intocadas. Aí se concentram as dúvidas sobre a eficácia da ação a longo prazo. Entre essas questões de fundo não estão os acenos do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) para reverter a atual política monetária expansionista (emissões de dólares). Estão equivocadas as escolhas do governo Dilma, que tornaram a economia vulnerável (mais do que outros emergentes) até mesmo a alterações suaves no nível de liquidez global.

Ontem, por exemplo, saíram as Contas Externas de julho e o que se viu foi um alargamento do rombo em 12 meses nas Transações Correntes, de 2,4% do PIB em dezembro de 2012 para 3,4% sete meses depois, com perspectiva a se elevar ainda mais (veja o Confira). Aumentam as dificuldades da economia para encontrar cobertura relativamente mais barata e mais eficiente para o déficit externo.

Mas esse déficit, conjugado ao crescimento pífio e à inflação acima de 6% ao ano, é apenas o resultado. Por trás de tudo está o excesso de consumo interno sem contrapartida no aumento da oferta, fator que vem pressionando tanto as importações como as despesas com serviços (transportes, turismo, juros da dívida externa, etc.)

O excesso de consumo, por sua vez, tem como causa principal o desequilíbrio e a baixa transparência das contas públicas, que o Banco Central chama de "política fiscal expansionista". Enfim, a rigor, não há um problema cambial no Brasil. O que há é uma desarrumação nos fundamentos da economia que o governo Dilma não ousa corrigir porque teme que seus custos colocariam em risco seu objetivo maior que é a recondução à Presidência nas eleições de 2014.

Hora de negociar - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 24/08

Uma agenda comum para o agronegócio é possível entre os gigantes Brasil e EUA


O Brasil participou de 1,3% do comércio mundial em 2012, segundo dados da OMC (Organização Mundial do Comércio). Apesar disso --e paradoxalmente--, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) indica que a América Latina, e principalmente nosso país, tem potencial para se converter no maior centro de produção agropecuária do mundo.

De fato, há um enorme espaço para o crescimento, especialmente no agronegócio, que tem sustentado a balança comercial e já gerou um superavit de quase US$ 50 bilhões, no primeiro semestre deste ano. Mas falta integração.

Hoje, as cadeias globais de valor unem países e regiões em processos integrados de produção. O comércio internacional mudou, na direção de uma maior interdependência entre os mercados.

Mais comércio não significa apenas redução de tarifas aduaneiras. É preciso compartilhar políticas para favorecer a livre circulação de bens e serviços. É preciso fazer acordos e mais acordos.

A formação de blocos comerciais ambiciosos implica abrir mão de preferências ou crenças puramente nacionais. O acordo entre os Estados Unidos e a União Europeia vai forçar os europeus a rever sua intolerância em relação aos produtos transgênicos, sem o que as exportações agrícolas americanas ficarão bloqueadas e o acordo geral não prosperará.

Não há mais lugar para o ranço europeu contra a transgenia, que é muito mais preconceituoso e protecionista do que cientifico.

Os acordos comerciais de agora são movidos pelo interesse econômico e buscam tecer redes de dependência virtuosas. É isso ou o isolamento e a irrelevância.

Não podemos insistir na teimosa escolha de um Mercosul, onde os parceiros não acreditam nas vantagens do livre comércio, na economia de mercado e nos benefícios da integração econômica em escala global.

Não podemos mais ficar restritos a mercados inexpressivos só por uma questão de afinidades políticas. Até porque essas afinidades são de alguns; não da nação como um todo.

Recebi recentemente, na CNA, o secretário de Estado da Agricultura dos Estados Unidos, Thomas Vilsack, acompanhado de importantes senadores ligados ao setor.

Dialogamos como parceiros, apesar de existirem contenciosos entre os países, como é o caso do algodão. No campo do agronegócio, temos interesses comuns e não devemos temer um ao outro, pois há espaço bastante para estas duas potências.

Juntos, produzimos 49% da safra mundial de soja e milho e 27% da proteína animal disponível para consumo. Respondemos por metade das exportações de carne no mercado internacional.

A segurança alimentar do planeta é uma enorme responsabilidade dos dois países. China e Índia não têm mais terras ou água para expandir sua produção.

No resto do mundo, tampouco, há espaço para a expansão da agricultura.

Brasil e Estados Unidos, nesse contexto, não são mais concorrentes, como no passado. Ao caminharem juntos, terão muito a oferecer e a ganhar. E a população mundial mais pobre também, porque podemos evitar a escassez de alimentos e a explosão dos preços.

O agronegócio, hoje joia da coroa da economia do país, não pode mais ser punido pela política, seja no mercado interno ou no externo. Ao ouvir minha explanação sobre a falta de logística no Brasil, a senadora democrata Debbie Stabenaw, presidente da Comissão de Agricultura do Senado americano, disse que também eles têm problemas, pois lhes faltam recursos para renovar a infraestrutura construída há cem anos.

Quem dera o Brasil tivesse ao menos uma velha e centenária logística em seus Mississippis, em vez de pagar até US$ 85 de frete por tonelada de grãos exportada, pelas más condições dos portos e estradas

. Ainda bem que agora o governo está empenhado em buscar investimentos que viabilizem uma revolução nos transportes.

Uma agenda comum é possível entre esses dois gigantes, desde que a falta de visão não atrapalhe. O secretário norte-americano e sua comitiva vieram negociar. Bem-vindos!

A metáfora da motocicleta - ALBERTO DINES

GAZETA DO POVO - PR - 24/08

Afinal, a nossa presidente dirigiu a máquina ou estava na garupa? Cada país tem os debates e dilemas existenciais que merece. Nosso “ser ou não ser” neste aziago 24 de agosto – o 59.º desde o suicídio de Getúlio Vargas – é surpreendente.

A primeira mandatária é uma motoqueira que não resiste à sensação de liberdade propiciada por uma poderosa Harley-Davidson deslizando no asfalto de Brasília? Ou tudo não passa de armação dos marqueteiros e comunicadores para trocar a imagem da birrenta chefe de Estado que, aos quase 66 anos, cansou dos tailleurs formais e reuniões improdutivas para aproximar-se da juventude?

Se porventura pilotou a moto, cometeu uma infração, já que não tem habilitação. Se acaso estava na garupa, como carona, é legítimo perguntar – quem é o privilegiado e estouvado condutor? Não haveria outra forma de distrair a primeira mandatária na folga dominical? Por que não deu uma passada numa das livrarias da capital para folhear as novidades, ou chamou os amigos para assistir no cineminha do Alvorada ao fascinante Hannah Arendt?

Tudo bem: passear no Rolls-Royce presidencial com a capota arriada ao lado da filha e do neto causaria revolta equivalente à dos brioches de Maria Antonieta (história, aliás, inverídica), mas, sendo mineira e carente de mar, por que não escolheu uma volta de lancha no Lago Paranoá? Faria um bem enorme às vias respiratórias ressecadas pelos ares da capital no inverno.

Leitoras devem estar indagando se usou um blusão de couro ou como ajeitou o topete laqueado no capacete obrigatório. Analistas, e politólogos debruçam-se sobre o significado dessa rebeldia contra as formalidades e a solidão palaciana; psicólogos certamente acham que uma Dilma humanizada fica mais próxima dos manifestantes que da zangada base aliada.

Fato ou factoide, impulso espontâneo ou armação, a verdade é que o episódio motociclista só reforça a impressão de que estamos vivendo um dos mais graves momentos desde a redemocratização. O gigante acordou, afirmam os especialistas de olho nas Jornadas de Junho, mas o despertador foi uma frustração montante, revolta surda contra o triunfalismo enganoso, contra os scripts antecipados, contra o jogo feito, sem opções, irrecorrível.

Quase três meses depois das primeiras manifestações, as lideranças continuam perplexas, atônitas e catatônicas, fixadas em outubro de 2014 e absolutamente desatentas ao que pode acontecer em outubro, ou novembro, ou dezembro de 2013.

Solto o pino que segurava a máquina de protestar, sumiu a passividade, a capacidade de engolir sapos e resignar-se ao circo de horrores da nossa política. Cada segmento da sociedade quer uma vitória equivalente aos 20 centavos que não foram aumentados nas tarifas de transporte público de São Paulo.

O conjunto destes simbólicos 20 centavos economizados representa uma formidável coleção de mudanças em todos os campos, esferas e latitudes. O país que foi para as ruas quer mudanças concretas, visíveis, palpáveis, imediatas. Quer uma mexida geral, movimento.

Em matéria de urgência, a metáfora da motocicleta é perfeita.

Partidocracia eleitoral é ruim - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP - 24/08

Terminado o pleito, começam adesões dando origem à partidocracia operacional, ao redor dos vencedores


O noticiário da semana recomenda a volta ao cotejo do direito com a política, focado nos rumos partidários, nestes tempos de incerteza. Aparentemente estão mais para favorecer estocadas nos adversários, que para auxiliar a composição de grupos distintos com ideais, a favor do bem geral.

O defeito não decorre da lei eleitoral, que é boa. O Brasil tem na Carta Magna a estrutura de sua Justiça para controle das eleições. É federal, igual para todo o país, desde o Tribunal Superior, aos Tribunais, Juízes e Juntas Eleitorais, nos arts. 118 e seguintes da Constituição.

Agora que se aquece a preparação para as próximas eleições, é frequente a pergunta: se a lei eleitoral é boa, como se explica a má qualidade de muitos dos escolhidos?

A resposta começa com a partidocracia. Não inventei o termo, embora não conste de muitos dicionários. Define a realidade em que a máquina do Estado é preenchida por membros de um partido, não necessariamente único, em todos os níveis. Terminado o pleito, começam adesões, formalizadas ou não na Justiça Eleitoral, dando origem à partidocracia operacional, ao redor dos vencedores.

A partidocracia assume ares de praga política. Deturpa meios e caminhos da democracia. Gera uma espécie de sobrepoder, filiado às trocas de vantagens recíprocas, no compadrio de dirigentes das facções, com favores intercambiados, levando ao abuso, como se viu e se vê nas apurações levantadas, até o final do julgamento do mensalão, no Supremo Tribunal Federal. O resultado já mostra que se espalharam benefícios advindos da distribuição ilícita de fundos públicos. Com muita frequência, é troca de vantagens, "entre compadres".

E a lei? A pergunta do leitor é pertinente, para acertos ilegítimos, fingidamente democráticos.

No "Dicionário de Política" coordenado, entre outros, por Norberto Bobbio, a partidocracia sugere algo mais que o governo de partidos. Corresponde "ao domínio ou à expansão do domínio" da chefia política. Distorce a compreensão do que é necessário para a democracia legitimadora do poder, resumida nos arts. 1º a 4º da Constituição.

A ditadura é o despropósito do predomínio. A força está no lado da coronha e, na alça de mira, vêm-se os opositores oprimidos, em formas diversificadas de abuso. Tem todos os defeitos de forma extrema da partidocracia da força, sob um só controle. É a submissão ao descalabro, na concentração dos interesses sob uns poucos, que se acertam entre eles. A corrupção ocultada, do poder negociado, nega a igualdade do voto. O manuseio do poder é válido, porém, quando assegura sua alternância, sem que tudo se resolva em um círculo interno de predomínio, no qual os espertos triunfam.

O dono verdadeiro do poder, ou seja, o povo, é, com relativa facilidade, levado a engano.

Conhecer a partidocracia e seus maus efeitos é um bom passo no rumo da correção dos desvios ilícitos.

Os dias de reivindicação coletiva que temos vivido são importantes. Para que todos sejam iguais, o maior número de cidadãos deve ter consciência de seu dever em face da nação. A alternância do poder nem sempre é compreendida ou realizável, mas sempre necessária. O melhor para todos exige paciência e solidariedade, sem violações perigosas e destrutivas.

Detalhes da armadilha - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 24/08
A estratégia governista com o Programa Mais Médicos tem dado certo até agora. Tudo foi amarrado de forma eficiente, o que é uma solução em políticas públicas. O problema é quando a ideia é fixa, por motivos meramente eleitorais
O governo Dilma Rousseff preparou a armadilha para os críticos do Programa Mais Médicos e mais especificamente para os contrários à "importação" de profissionais cubanos. A estratégia foi amarrada a partir de lógica jurídica capaz de evitar questionamentos ao acordo com o país dos irmãos Castros. Pelo menos é que espera o governo. Mas, de certa forma, até aqui os governistas estão em vantagem.

Parte da artimanha foi descoberta logo no início pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), quando, em nota, o órgão classificou a medida como planejada "nos bastidores da cortina de fumaça do malfadado Programa Mais Médicos". Nada foi tomado no improviso - e isso está longe de ser uma crítica ao Palácio do Planalto, afinal é tarefa de governo amarrar programas. O problema é quando a ideia é fixa, por motivos meramente eleitorais. Sobre isso, falamos mais tarde.

Antes, à Medida Provisória nº 621/13. O texto foi preparado por funcionários dos ministérios da Saúde e das Relações Exteriores. Foram eles que traçaram as linhas básicas da medida, interpretada como um texto-bomba por causa das controvérsias, incluindo a não revalidação dos diplomas nas universidades. Aqui, uma explicação à parte. Não incluir o Revalida na lei a ser confirmada foi uma ação para evitar confrontos maiores com as entidades de classe brasileiras, afinal, caso os médicos estrangeiros fossem aprovados, poderiam reivindicar de imediato o diploma por aqui.

Essa será a cartada usada pelo governo para, no futuro, justificar a não inclusão do exame para os médicos cubanos, por exemplo. Sem possibilidade de revalidação do diploma em universidades brasileiras, o estrangeiro só poderá permanecer no país por três anos, prorrogáveis por mais três - pelo menos é o que está na lei, que trata o acordo como um intercâmbio, algo singelo. Aqui vale qualquer ilação sobre a possibilidade de os cubanos pedirem asilo ao fim do prazo. Mas será uma ilação.

Ao anunciar a MP, Dilma jogou uma isca. A ação inicial de entidades médicas foi questionar a MP no Supremo Tribunal Federal (STF). No fim do mês passado, ao validar o programa e desconsiderar o pedido de liminar da Associação Médica Brasileira (AMB), o vice-presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, disse que é comprovada a carência de médicos no país. "Vê-se, pois, que o ato impugnado configura uma política pública da maior importância social, sobretudo ante a comprovada carência de recursos humanos na área médica no âmbito do Sistema Único de Saúde."

Tempo
A decisão de Lewandowski precisa ser confirmada pelo plenário do Supremo, mas deu tempo ao governo de anunciar o que já estava planejado há mais tempo: a contratação, por um prazo de três anos, dos médicos cubanos. A dificuldade de preencher as vagas por outros profissionais estrangeiros apenas reforçou a necessidade de trazer os cubanos, a ação principal do governo até agora.

A marca
Em 17 de julho, escrevi neste Correio que, com o Programa Mais Médicos, assessores do Planalto comemoravam que Dilma Rousseff finalmente havia encontrado a marca própria do governo. A estratégia apenas foi reforçada com a "importação" dos cubanos a partir de contrato com o país dos irmãos Castro, depois das dificuldades nas inscrições iniciais de brasileiros e estrangeiros.

Engana-se quem pensa que a controvérsia em torno da medida assusta Dilma. Quanto mais barulho melhor. A guerra entre os defensores e os críticos apenas cola a marca do Mais Médicos na petista, assim como o Bolsa Família está vinculado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se o Mais Médicos não for derrubado na Justiça e conseguir se concretizar, Dilma vai bater bumbo na campanha eleitoral. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, também estará na banda.

'Easy Rider' - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 24/08

BRASÍLIA - A escapadela de Dilma Rousseff na garupa de uma moto Harley-Davidson pelas ruas da capital da República fez mais pela humanização da petista do que todas as outras tentativas em propagandas e discursos oficiais gravados com câmeras e efeitos de cinema. Quem nunca pensou no meio da rotina diária em dar uma fugida, fazer algo fora da caixinha?

O curioso é que Dilma reagiu mal à notícia desencavada por Valdo Cruz e Andréia Sadi, na Folha de ontem. A presidente teria ficado irritada com a indiscrição do ministro Edison Lobão (Minas e Energia), a fonte da informação. Para sorte da petista, esses seus acessos de mau humor não são vistos pelo público.

É comum em Brasília trombar com políticos, ministros e autoridades passeando no Parque da Cidade, na região central, no shopping, no supermercado ou no cinema. É claro que a presidente também pode e deve socializar mais, apesar das dificuldades inerentes ao cargo.

Em Nova York, o prefeito e milionário Michael Bloomberg já foi ao trabalho usando o metrô. O primeiro-ministro da Noruega, Jens Stoltenberg, dirigiu um táxi recentemente --embora alguns passageiros tenham sido selecionados para a ocasião.

O ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello pilota uma moto Kawasaki de 1.500 cilindradas. O ex-presidente Itamar Franco (1930-2011) usava um Fusca para passear com a namorada. Há muitos outros exemplos. As autoridades fazem bem quando se deixam ver como são pelos brasileiros.

No caso de Dilma, o que mais se ouve de sua rotina é sobre sua dureza no trato e a tendência a ficar reclusa no Alvorada. Sair do conforto palaciano sem uma comitiva atrás é bom para a petista, mas também para a administração que ela conduz. Afinal, o Brasil real está nas ruas. É útil a presidente vê-lo da garupa de uma moto, e não de dentro de um carro blindado e com ar-condicionado.

Reforma bloqueada - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 24/08
A discussão na Câmara sobre o projeto de reforma política mal começou e já encontra uma barreira, talvez intransponível, na defesa do PT pelo financiamento público das campanhas eleitorais, tema já rejeitado pela maioria dos partidos, especialmente o PMDB.
Com o projeto do deputado petista Henrique Fontana tendo sido derrotado, o PT agora apoia o projeto apresentado pela OAB e pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), que não passa de uma variação sobre o mesmo tema do PT, isto é, está baseado na lista fechada com financiamento público.

As diferenças entre um e outro são pequenas, como veremos adiante. Já o relator da comissão formada na Câmara, deputado federal do PV Alfredo Sirkis, apresentou proposta de sistema eleitoral misto, proporcional e majoritário, esse último exercido em grandes distritos, plurinominais.

O eleitor teria dois votos, um para escolher a legenda partidária e outro para escolher um candidato local. 50% dos deputados e vereadores seriam eleitos por sistema proporcional, com voto de legenda na lista preordenada de candidaturas com 30% de participação feminina obrigatória.

Os votos de legenda são computados em todo o estado e as cadeiras divididas entre os partidos de acordo com a proporção de votos por eles recebidos. Não haveria coligações, mas os partidos poderiam formar federações nacionais, por uma legislatura, para disputar esse voto.

A outra metade dos deputados seria eleita em grandes distritos, pelo sistema nominal, majoritário, eleitos os mais votados, em ordem decrescente. Os distritos eleitorais seriam desenhados, pelo TSE com concurso técnico do IBGE, de maneira a garantir que, dentro do estado, cada um tenha aproximadamente o mesmo número de eleitores por representante eleito.

Nos estados que elegem até 10 deputados federais haveria um distrito plurinominal único (o distritão), constituído pelo próprio estado. Candidatos poderiam concorrer pela lista e pela votação nominal majoritária no seu respectivo grande distrito, mas não concorrer na disputa majoritária em mais de um distrito. Eleito o candidato tanto no distrito como na lista, seu lugar na lista seria ocupado pelo seguinte na ordem.

O projeto de Sirkis estabelece limites de gastos para doadores - tanto pessoa física quanto jurídica - bem como para candidatos e partidos, a serem fixados pela Justiça Eleitoral, devendo ser, na 1ª eleição, 40% da média de gastos para o mesmo cargo da eleição anterior.

Além das empresas privadas poderiam também contribuir as associações profissionais e as entidades da sociedade civil com recursos especificamente arrecadados para esta finalidade, entre seus membros, em período eleitoral, por coleta e conta específicas, vedado o uso de recursos públicos ou outros fundos da entidade.

Doações de pessoa jurídica só poderiam ser feitas aos partidos. A campanha seria barateada com os programas de televisão tendo restrições para que mostrem apenas o candidato e suas ideias e propostas, sem edições de apoio.

O PT, no entanto, pretende apoiar a proposta da OAB e do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, o mesmo que fez a campanha pela Ficha Limpa, que nada mais é que um derivativo da proposta da proposta do petista Henrique Fontana rejeitada no Congresso, baseada na lista fechada para garantir o financiamento público da campanha. A única diferença é que a eleição se daria em dois turnos.

No 1º turno, o eleitor votaria no partido ou coligação, que apresentará a proposta e uma lista de candidatos escolhida pelo voto dos filiados, com os nomes ordenados. A campanha seria focada na agenda do partido.

No 2º turno, os partidos levarão às urnas um número de candidatos que corresponda ao dobro das cadeiras conquistadas no 1º turno. O eleitor votaria no candidato com que tiver maior afinidade, independente da ordem que tiver sido definida pelo partido na fase anterior. Campanha individual é restrita ao 2º turno.

A preocupação com a proibição de pessoas jurídicas de financiar as campanhas e a viabilização do financiamento público fizeram com que o MCCE privilegiasse os partidos e não os candidatos, o que vai de encontro ao eleitorado, que não se sente representado pelos partidos.

O sistema misto proposto por Sirkis ajuda a viabilizar o fortalecimento dos partidos sem que o eleitor deixe de escolher diretamente seu candidato.

Depois de junho - MARCO AURÉLIO NOGUEIRA

ESTADÃO - 24/08


Com a baixa-previsível, mas surpreendente pelo grau em que ocorreram - das manifestações que desde junho sacudiam o País, a política nacional voltou ao ritmo de sempre. Nada garante que continuará assim, pois o alerta emitido pelas ruas ainda está vivo e as forças que o determinaram permanecem ativas. O noticiário e as discussões, porém, revelam o retomo do que tem sido a tônica da vida política: quedas de braço entre Executivo e Legislativo, nomeações e afastamentos, bate-bocas no Supremo Tribunal Federal à sombra da revisão das penas do mensalão, denúncias de corrupção e esquemas ilícitos (cartel paulista), a via-crúcis de Marina Silva e os embates intrapartidários, motivados sobretudo pela aproximação do ano eleitoral. Vida que segue.
Não há por que estranhar o refluxo das mas. Elas estão sempre aí, ora ativas, ora em silêncio. Não se podem mobilizar de modo permanente e só conseguem manter regularidade se estiverem acompanhadas de sujeitos políticos qualificados para criar pontes com o Estado. Os partidos, todavia, não estão em condições de ajudá-las nisso, nem são aceitos por elas. A busca de autoexpressão, que tipificou parte das manifestações, não organiza consensos nem agendas. Ao menos no curto prazo e movidas pelo clamor espontâneo, as mas não têm como ir muito longe ou impor mudanças substantivas, que mexam na estrutura da sociedade, que é onde está a raiz dos problemas. Ainda não se entendem quanto às razões que as ativaram nem sobre os passos políticos que terão de ser dados.
Há novas convocações sendo feitas para setembro e elas poderão alterar cálculos e previsões. Mas o sistema parece ter voltado ao controle da situação.
Tem havido um pouco de tudo nas últimas semanas.
O confronto protagonizado pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa, e pelo ministro Ricardo Lewandowski na retomada do julgamento de recursos dos réus do mensalão foi dessas coisas que jamais se esquecerão. Pela violência verbal, pela grosseria e pelo ambiente em que tudo ocorreu. A perplexidade e o constrangimento foram gerais. Está certo que os dois juízes tentaram dar a briga por superada, mas o episódio mostrou que não dá para santificar o STF, muito menos seus integrantes. E mostrou que também ali se faz necessária uma reforma, no mínimo, procedimental.
O caso de Marina Silva chama a atenção por ser paradoxal. Favorecida, mais que qualquer outro, pelo novo ritmo do País e pelas dificuldades dos demais postulantes à Presidência, Marina sofre para obter o registro legal de sua Rede. Situação delicada, porque se não conseguir criar seu partido terá de desistir da candidatura ou buscar asilo em alguma outra legenda, o que enfraquecerá dramaticamente sua imagem de política que flutua sobre os partidos e busca apresentar uma alternativa ao que considera ser a dimensão problemática do atual formato partidário. Se se filiar a um partido "normal", terá de explicar muita coisa ao eleitorado e perderá força. Se desistir de tudo, jogará fora o que talvez seja sua única grande oportunidade.
De tudo o que despontou depois de junho, o mais surpreendente é a reposição ampliada da luta interna no PSDB. Ampliada, em primeiro lugar, pelas repercussões das denúncias que revelaram a existência de um cartel que operava as licitações da rede metroferroviária paulista. Em segundo lugar, pelo prolongamento pouco compreensível e nada razoável da novela da indicação do candidato tucano às presidenciais de 2014.
Quando tudo parecia caminhar para a escolha de Aécio Neves, eis que o ex-govemador José Serra ressurge com sua recorrente postulação. Seus movimentos são largos: vão da pressão pela realização de prévias internas (de resto, previstas nos estatutos do PSDB) à indicação de que poderá pedir abrigo em outra legenda. Consta que teria recebido convite do PPS, que também flerta com Marina - fato que, se vier a se confirmar, apenas mostrará a improvisação e a leviandade das partes envolvidas. Agindo com os olhos fixos em seus próprios umbigos, Serra e o PPS caminhariam celeremente rumo ao fracasso conj unto, num verdadeiro abraço de afogados.
A cereja do bolo em termos de surpresa é, portanto, o PSDB. O partido não se acerta nem se entende sequer no básico. Despreza as janelas que se abrem à sua frente. Descarta trunfos como se pudesse voltar a acumulá-los assim que desejar. Não consegue reagir aos tombos que sofre. Parece dilacerado por questiúnculas associadas à luta por espaço e a persona-lismos pouco justificáveis. Disso também é feita a política, com certeza, mas seria de esperar que um partido que se diz vinculado à social-democracia oferecesse à sociedade e ao Estado bem mais do que esse espetáculo comezinho de protagonismos que não se compõem. Alguma ideia, algum projeto, alguma visão de futuro: seria o mínimo.
Por refugar da posição de líder das oposições e se deixar arrastar para a margem, o PSDB queima os cartuchos de que dispunha para ser competitivo em 2014. Mostra-se frágil até para disputar São Paulo, seu troféu principal.
O sistema recuperou o controle. Mas, por continuar o mesmo, permanece improdutivo e gera mais problemas que soluções, expondo-se ao risco de ser novamente desafiado pelas ruas.
As vozes de junho não foram genéricas nem alienadas. Foram claras: queremos um Estado aberto para as pessoas, menos dependente de multinacionais, bancos e empresários. Mais social e menos econômico: com serviços e políticas melhores, não somente com obsessão por crescimento e oferta de bens. Os que protestaram, no fundo, pediram mais cidadania e menos consumo, mais Estado e menos mercado.
É uma agenda básica, que converge para a reformatação do Estado e desafia a inteligência política. Se for enfrentada com as práticas de antes, não será sequer arranhada. E o mal-estar persistirá.

Susto e alerta - CRISTOVAM BUARQUE

O GLOBO - 24/08

A cena dos vereadores do Rio de Janeiro pedindo permissão aos jovens manifestantes para reunirem-se no plenário da Câmara Municipal foi mais enfática para mostrar a nossa instabilidade política do que as grandes manifestações do mês de junho.

Mas a reação das direções políticas tem sido comparável à de uma pessoa que ao caminhar em direção a um abismo ouve um grito e se assusta, mas continua no mesmo rumo, sem perceber que era um alerta. Os sustos despertam, mas nem sempre alertam.

Houve reação. No primeiro momento, o governo propôs pactos confusos e sobre temas superficiais.

O Congresso Nacional se reuniu para uma chamada agenda positiva, onde alguns poucos projetos foram debatidos sem qualquer consequência para o pacto social que está rompido. Por omissão, insensibilidade, perplexidade ou impossibilidade de mudar o caminho, todos continuaram na mesma marcha em direção a um futuro repleto de instabilidade.

As poucas grandes manifestações no país com pauta variada foram substituídas por muitas manifestações pequenas com propósitos específicos. Como são específicas e contra alvos determinados, as lideranças políticas não se afetaram e voltaram à lenta passividade do dia a dia à espera das próximas eleições. Agem como se as manifestações fossem apenas contra um governador e não contra o que ele simboliza como imagem de toda a política.

Até o mês de junho, a sociedade funcionava apesar do quase colapso da segurança e do trânsito, do tamanho da desigualdade, da péssima qualidade nos serviços de saúde e educação e da imoralidade da corrupção.

Apesar do descontentamento, a parte da população beneficiada e a parcela sacrificada conviviam, aceitavam-se, produziam e esperavam.

O grau de desigualdade no acesso aos serviços públicos e a sua ineficiência fizeram “cair a ficha” na população, especialmente contra a classe política. Além de ser vista como responsável pelos erros é vista como privilegiada e tolerante com a corrupção, sem diferenciar os partidos.

Esta “queda da ficha” levou a uma quebra do pacto social, que acontece simultaneamente com a percepção do poder de mobilização oferecido pelas redes sociais, provocando uma guerrilha cibernética, capaz de incomodar e de dar visibilidade às várias pautas sociais.

A partir de agora, qualquer pretexto provocará manifestações de centenas de pessoas, ou mesmo de apenas dezenas, mas todas capazes de parar o funcionamento do tecido social e seus serviços, de servir de grito de alerta e de exigir um novo pacto social que vai precisar de substanciais concessões da elite para melhorar a qualidade de vida do público e dos serviços públicos, a fim de reduzir a desigualdade e eliminar a corrupção.

Mais do que um susto, as lideranças precisam sentir o alerta e buscar novos caminhos que reconstituam o pacto social, em um novo patamar de eliminação de privilégios e desigualdades.

Reprovando a repetência - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 24/08

SÃO PAULO - A reprovação do aluno deve constituir um arquétipo cravado no inconsciente coletivo do brasileiro, porque é algo de que não conseguimos nos livrar, apesar de haver razoável evidência de que a retenção transita entre o inútil e o contraproducente. É pena, portanto, que o plano de educação do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, volte a apostar nessa fórmula.

Ao menos em teoria, a reprovação serviria para garantir a solidez da formação, dado que o estudante só progrediria com a certeza de ter assimilado o necessário para avançar. As evidências empíricas, porém, mostram que não é bem assim. Metanálises como a de Holmes e Matthews (1984) e a de Jimerson (2001) compararam os resultados de dezenas de estudos e concluíram que, ao menos no ensino elementar, a reprovação não só não é benéfica como pode piorar o desempenho do aluno.

E a questão acadêmica não é a única a considerar. No plano pessoal, a pecha de repetente é um fardo pesado. O estudante é privado do convívio com seus colegas e amigos e já chega rotulado como fracassado em seu novo círculo de relacionamentos.

Outro bom argumento contra a repetência é fiscal. No Brasil, 10,6% das crianças do ensino fundamental público foram retidas em 2011 e, no médio, 14,1% (dados de 2011). Numa conta de guardanapo, considerando os investimentos por aluno, isso resulta num custo para os cofres oficiais da ordem de R$ 16 bilhões ao ano. É um preço meio exagerado para dar ao professor um instrumento de poder sobre alunos rebeldes.

Se o aluno não aprende, existem duas possibilidades: ou o problema está no estudante, ou na escola. No primeiro caso, não há muito o que fazer. E não parece inteligente obrigá-lo a repassar pela mesma experiência esperando resultados diferentes. Se a falha está no sistema, então o buraco é mais embaixo. E a reprovação como meio de corrigir o problema fica algo ainda mais sem sentido.

Preços artificiais distorcem mercado de combustíveis - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 24/08

O governo instituiu uma política para gasolina e óleo diesel, com critérios ignorados, que faz a Petrobras perder receita e asfixia a indústria do etanol



A acentuada depreciação do real frente ao dólar agravou ainda mais um problema criado pelo governo: a defasagem dos preços dos combustíveis.

Logo após a abertura do mercado brasileiro de petróleo e gás, para estimular investimentos nos diferentes segmentos do setor, as autoridades instituíram uma regra de ajuste nos preços dos combustíveis que buscava acompanhar as cotações internacionais. Embora continuasse tendo um monopólio de fato no refino, esperava-se que os preços fossem limitados por essa regra. Quando estivessem muito altos, as importações de combustíveis seriam estimuladas, derrubando os preços internamente. E se, ao contrário, os preços aqui ficassem muito abaixo das cotações do mercado internacional, poderiam despertar o interesse pela exportação.

Na prática, isso não chegou a acontecer, pois a infraestrutura para embarque ou desembarque de combustíveis também permaneceu em poder da Petrobras, e forçosamente importações e exportações dos principais derivados do petróleo têm de passar por dutos ou terminais marítimos da estatal, que não estão disponíveis para concorrentes (a não ser que se comprove ociosidade).

Com isso, os preços da gasolina e do óleo diesel deixaram de ser ajustados pela nova regra e a decisão hoje cabe ao governo, por critérios ignorados. Tal política, além de causar sérias distorções no mercado doméstico de combustíveis, tem prejudicado inclusive a Petrobras, com enorme perda de receita. Para tapar o sol com a peneira, o governo também abriu mão de tributos incidentes sobre a gasolina e o diesel (a Cide).

E para piorar o quadro, essa política vem asfixiando o etanol, até então a mais bem-sucedida experiência mundial, na área de transportes, de substituição de derivados de petróleo por uma fonte renovável de energia.

O álcool carburante hidratado somente é competitivo quando seus preços correspondem a menos de 70% do que o consumidor paga pela gasolina. Os produtores de etanol não têm conseguido ampliar a produção de álcool hidratado nos atuais patamares de preço, o que obriga a Petrobras a importar mais gasolina, aumentando suas perdas de receita. A indústria somente não sucumbiu porque produz açúcar e álcool anidro, cujo mercado é assegurado no país pela mistura obrigatória à gasolina, na proporção de 25%.

Para atender a objetivos de curto prazo, sob temor que a inflação escape ao controle (em grande parte por responsabilidade da política econômica, os índices têm se mantido perigosamente próximos ao teto da meta que o próprio governo fixou, de 6,5%), o artificialismo que vem prevalecendo no mercado brasileiro de combustíveis vai contribuindo para desmontar toda uma cadeia produtiva, que começa na agricultura e se estende pela indústria.

O efeito desta política é devastador: pelo lado do caixa da Petrobras e no desincentivo de um combustível de fonte renovável e pouco poluente.

Políticos loteiam agências - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S. PAULO - 24/08
As agências reguladoras voltam à cena oito meses depois de a ex-chefe de gabinete do escritório da Presidência da República em São Paulo Rosemary Noronha ter sido acusada pela Polícia Federal (PF) de haver usado seu prestígio com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu amigo íntimo, para fazer tráfico de influência nestes órgãos criados para defender os cidadãos. A Controladoria-Geral da União (CGU) ainda investiga como a quadrilha dos irmãos Paulo e Rubens Vieira beneficiou-se de cargos de direção nas agências de Transportes Aquaviários (Antaq), de Aviação Civil (Anac) e de Águas (ANA), obtidos com a ajuda dela. Mas continua renhida a guerra entre os partidos da base do governo por cargos muito bem remunerados destes órgãos de Estado: seus salários variam de R$ 11.769,44 a R$ 12.388,88.
De acordo com reportagem de Andreza Matais e Débora Bergamasco, publicada no Estado da última quarta-feira, a disputa política para lotear cargos nas agências é explícita e consta dos anais que registram os debates no plenário do Senado, instância à qual são submetidas as nomeações para as diretorias dessas agências. Nem a saúde, setor social prioritário para qualquer gestor público que se preze, escapa disso: os exemplos mais recentes dessa luta dizem respeito a cargos nas Agências Nacionais de Vigilância Sanitária (Anvisa) e de Saúde Suplementar (ANS), que fiscaliza os planos privados de saúde.

A Anvisa, que geralmente atua com cinco diretores para liberar o uso de remédios e fiscalizar o comércio de alimentos no País, ficou mais de um terço do ano sem o quadro de dirigentes completo por causa da queda de braço entre as duas maiores bancadas governistas do Congresso - o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). O militante petista Ivo Bucaresky, indicado pela seção do partido no Estado do Rio, teve de esperar quatro meses depois de aprovado na Comissão de Assuntos Sociais do Senado (GAS) para ter o nome encaminhado ao plenário. Sua nomeação para a Anvisa só foi confirmada no plenário na sessão de 11 de junho, na qual também o foi o funcionário Renato Porto, indicado pela GAS seis dias antes e patrocinado pelo padrinho de casamento, o líder do PMDB, Eunício de Oliveira, que fez questão de participar pessoalmente das votações.

Na mesma sessão, Elano Figueiredo foi aprovado para ocupar uma diretoria na ANS. Em seu caso, PT e PMDB atuaram em consórcio e passaram por cima da investigação que o indicado protagoniza no Conselho de Ética da Presidência da República por ter omitido do currículo o vínculo empregatício com a operadora de saúde Hapvida, conforme revelou o Estado.

As notas taquigráficas registram os apelos de senadores dos dois partidos para a aprovação dos três novos diretores. "Peço que, se for possível, nós votemos, no dia de hoje, não somente os dois candidatos (Porto e Elano), mas também o dr. Ivo, que está aqui no limbo há muito tempo", apelou o senador Humberto Costa (PT-PE). O governista Romero Jucá (PMDB-PR) deu seu aval: "Esperamos fazer uma votação maciça na tarde de hoje". E a colega Ana Amélia (PP-RS) atendeu ao apelo registrando, "com muito bom grado", a inclusão de Bucaresky para corrigir a omissão do nome deste no pronunciamento anterior em que ela havia citado apenas Porto e Elano. Dos discursos proferidos na sessão, o do líder do PMDB, Eunício Oliveira, é o que resume de forma mais franca os critérios dos políticos para nomeação de seus indicados para cargos técnicos. "Indiquei o menino como técnico. O pai dele teve problema de câncer e morreu, a mãe está doente. É um rapaz muito sofrido, mas que tem muito valor, é dedicado, batalhador, fichinha limpa", explicou o senador.

A forma como o governo Dilma nomeia e o Senado avaliza diretores das agências reguladoras, criadas para regular e fiscalizar setores cujos produtos ou serviços afetam diretamente a saúde e a vida dos cidadãos, é mais uma demonstração cabal de como nossos políticos aviltam na prática as melhores intenções que na teoria avocam.

A síndrome da CPMF ataca outra vez - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 24/08

Assim como procurou eternizar o ‘imposto do cheque’, governo tenta fazer o mesmo com a multa de 10% sobre o FGTS, também criada com prazo definido de validade



Entre as patologias da administração pública brasileira, destaca-se a insaciável capacidade de extrair renda da sociedade pela via da tributação. Por isso, com 36% do PIB, a carga tributária nacional é a mais elevada entre as economias emergentes, maior que a de muitos países desenvolvidos e equivalente a de alguns “estados de bem-estar” europeus, provedores de serviços de qualidade às populações, situação muito diferente da brasileira.

Tanto que já virou clichê afirmar que o Brasil tributa como país escandinavo e presta serviços de nação africana. E a patologia paira por sobre correntes políticas. Prova disso é que os cerca de dez pontos percentuais de PIB de elevação da carga de impostos a partir da estabilização da moeda, em 94, estão distribuídos entre governos tucanos e petistas.

No momento, trava-se uma luta política exemplar. No centro da desavença está o destino da multa de 10% paga pelo empregador sobre o FGTS resgatado pelo segurado, instituída em 2001 para financiar o rombo aberto no fundo pelos programas econômicos Verão e Collor I.

Como ficou estabelecida a relação entre a multa e o buraco financeiro, assim que a arrecadação do necessário para bancar a defasagem fosse completada, a multa seria suspensa. Foi o que ocorreu, e, para isso, o Congresso aprovou lei, vetada, porém, pela presidente Dilma. Veto este que os parlamentares, com razão, querem derrubar.

Na prática, o governo deseja criar um novo imposto pela manutenção da multa — uma aberração. Mais uma manifestação da conhecida patologia, segundo a qual não existe multa ou imposto temporário no Brasil. O governante de turno procurará eternizá-lo, não importa de qual partido seja. Foi assim com o “imposto do cheque”, criado como temporário em 1993, batizado de Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF). Vigorou durante todo o ano seguinte, incidindo sobre quase todas as operações bancárias. Extinto em 1994, como previsto, ressuscitou sob a sigla CPMF, dois anos depois, e passou a ser prorrogado até sua extinção em dezembro de 2007, numa decisão corajosa do Senado.

Seria catastrófico para a Saúde — não parou de alertar o governo Lula. Eliminado a CPMF, um imposto tecnicamente ruim — por se propagar em toda a cadeia produtiva — e socialmente iníquo — por atingir mais as pessoas de baixa renda —, nada aconteceu no SUS. Os propalados R$ 40 bilhões tirados do Orçamento pela revogação da CPMF foram repostos no primeiro semestre de 2008 pelo aumento da arrecadação.

Hoje, a situação é outra, mas isso não serve justificativa para transformar a multa sobre o FGTS em imposto sobre o já sobrecarregado setor produtivo. Alega o governo que os R$ 3,5 bilhões arrecadados com a multa farão falta ao Minha Casa Minha Vida. Mas, se considerarmos que só a máquina burocrática federal consome R$ 600 bilhões em custeio, o Planalto tem larga margem para conseguir os recursos em outras fontes.

A reforma do Código Penal - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 24/08

O substitutivo do senador Pedro Taques tem o mérito de desfazer vários absurdos da comissão de juristas que redigiu o texto, mas poderia ter sido ainda melhor


No ano passado, uma comissão de juristas recrutada pelo então presidente do Senado, José Sarney, elaborou uma proposta de reforma do Código Penal que em muitos trechos parecia movida mais por paixões militantes e pelo politicamente correto que por qualquer senso de justiça. Na época, Sarney pediu pressa aos senadores para que analisassem a proposta, mas o próprio relator da matéria, Pedro Taques (PDT-MT), admitiu que o prazo era curto demais para avaliar algo tão importante e polêmico, e colocou o pé no freio. Os senadores apresentaram cerca de 600 emendas e, na terça-feira passada, um ano depois do início da tramitação do Projeto de Lei 236/2012, Taques apresentou um parecer que melhora vários dos pontos propostos pelos juristas, embora ainda tenha ficado aquém do que poderia ter sido.

Os juristas, por exemplo, queriam descriminalizar o plantio, a compra e o porte de qualquer droga, desde que para consumo próprio (embora, de forma contraditória, tenham deixado punições para o vendedor do entorpecente). O projeto afirmava que se presumia a destinação da droga para uso pessoal caso a quantidade apreendida fosse suficiente para cinco dias de consumo individual. O substitutivo de Taques retirou esse trecho, que podia servir de brecha para o pequeno tráfico, mas manteve a exclusão de crime para quem compra, planta ou estoca drogas em casa, livrando-os de qualquer pena. Nesse sentido, o substitutivo tem avanços em relação ao projeto original, mas ainda é mais permissivo que a política atual, de não encarcerar o usuário, ao tratar esses casos como excludente de crime e dispensar as penas de advertência, prestação de serviços à comunidade e medidas educativas previstas na atual Lei de Drogas.

No caso do aborto, o substitutivo também repudiou a legalização total até a 12.ª semana de gestação, prevista no projeto original com uma inócua exigência de atestado médico ou psicológico. A nova redação retirou essa possibilidade, mas ainda deixou trechos preocupantes, como o próprio caput do artigo 127, que usa o termo “não há crime”, em vez do “não se pune” da legislação atual, dando a entender que existiria, assim, um “direito ao aborto” – ou, em outras palavras, o direito de a mãe eliminar seu próprio filho, um ser humano indefeso e inocente. Além disso, manteve-se no inciso I o termo “risco à vida ou à saúde da gestante”, e o “risco à saúde” é um conceito amplamente subjetivo. E o inciso III permite o aborto “se comprovada a anencefalia ou quando o feto padecer de graves e incuráveis anomalias que inviabilizem a vida extrauterina”, outro conceito bem elástico e que dá margem à ampliação do aborto eugênico. Curiosamente, o relatório de Taques, ao tratar do tema, traz bons argumentos tanto de ordem científica quanto ética, e cuja conclusão lógica seria a rejeição completa ao aborto; faltou, no entanto, a coragem de levar ao texto do substitutivo as consequências do raciocínio desenvolvido no relatório.

Outro acerto foi tentar eliminar uma absurda desproporção entre penas que relativizava o valor da vida humana. O exemplo mais surreal do projeto original era a comparação das penas por deixar de socorrer crianças, inválidos ou feridos (1 a 6 meses de prisão, ou multa) e por deixar de socorrer animais (1 a 4 anos, a mesma pena para abandono de animais). O substitutivo eliminou os dois crimes referentes aos animais e, para a omissão de socorro a seres humanos, elevou a pena para 2 a 4 anos, o que já reflete uma hierarquização mais coerente dos valores protegidos pela legislação.

No entanto, uma omissão lamentável foi a manutenção, no artigo que define o crime de terrorismo, do parágrafo segundo o qual “não constitui crime de terrorismo a conduta individual ou coletiva de pessoas movidas por propósitos sociais ou reivindicatórios, desde que os objetivos e meios sejam compatíveis e adequados à sua finalidade”. É o exato texto do projeto original, feito sob medida para livrar certas entidades conhecidas por suas afinidades ideológicas com o governo atual. Taques alega que essa questão estava sendo discutida por uma comissão mista no Congresso. Ainda assim, teria sido melhor eliminar esse parágrafo, que cria privilégios para alguns grupos, dependendo da causa que defendam.

Quando a proposta de reforma do Código Penal foi apresentada, o jurista Miguel Reale Júnior foi enfático, chamando o texto de “obscenidade” que “não tem conserto”. O substitutivo de Taques tem melhoras indiscutíveis, mas mantém algumas deficiências, e ainda receberá uma nova rodada de emendas, resultando em um novo relatório no fim de setembro. Que até lá os senadores sejam capazes de seguir incrementando o texto, apesar das observações de Reale, que demonstram a evidente dificuldade de transformar, à base de remendos, algo tão ruim em uma legislação boa e justa.

Jogo suspeito - EDITORIAL ZERO HORA

ZERO HORA - 24/08


Faltando 10 meses para a Copa do Mundo, o Brasil está no centro de um escândalo internacional ligado ao futebol. Deve-se ao repórter Jamil Chade, correspondente do jornal O Estado de S.Paulo em Genebra, a revelação de que um terço das cotas de 24 jogos da Seleção Brasileira desde novembro de 2006 era direcionado para a Uptrend Development, empresa com sede nos Estados Unidos comandada pelo atual presidente do Barcelona, Sandro Rosell. Numa coincidência que merece ser esclarecida, Rosell é amigo do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) Ricardo Teixeira. Mesmo sem dispor de sede própria e infraestrutura física, a empresa de Roselli recebia em torno de US$ 450 mil (R$ 1,09 milhão pelo câmbio de hoje) por amistoso da companhia ISE, com sede no paraíso fiscal das Ilhas Cayman e que havia negociado com Teixeira os direitos sobre os jogos não oficiais da Seleção até 2022. Os novos documentos tornados públicos revelam que a Uptrend solicitou à ISE que depositasse grande parte dos valores num banco de Andorra, principado encravado entre Espanha e França que também brinda investidores com uma legislação fiscal e bancária frouxa.
A realização de amistosos é a principal fonte de receita das confederações de futebol. No caso do Brasil, único pentacampeão mundial, esse tipo de jogo torna-se um evento de grandes proporções, com contratos que superam US$ 1 milhão (R$ 2,4 milhões em valores de hoje). Esse modelo de negócio foi adotado pelo presidente da Associação de Futebol da Argentina, Julio Grondona, e copiado por Teixeira e por outros dirigentes no mundo inteiro. Não existe, em princípio, ilicitude em firmar contratos para apresentações da Seleção. O que torna a revelação de O Estado de S.Paulo preocupante é o fato de que parte dos valores arrecadados por meio da marca líder da Seleção Canarinho era carreada não para o Brasil, mas para contas bancárias americanas em um banco de Andorra. Tudo fica ainda mais nebuloso quando se sabe que Teixeira fechou o contrato com a ISE pouco antes de deixar o comando da CBF. Tampouco é a primeira vez que o nome de Rosell aparece ligado a práticas suspeitas no Brasil. Em 2008, o presidente do Barcelona havia sido investigado em razão de um amistoso entre Brasil e Portugal.
É lamentável que milhões de torcedores do mundo inteiro, parte considerável deles crianças, sejam confrontados com a notícia de que a camiseta que ostentam com orgulho serve de cobertura para tenebrosas transações. É preocupante que, depois de tantos escândalos nos quais o papel de protagonista é invariavelmente exercido por dirigentes pouco escrupulosos, os negócios da CBF e da Seleção continuem envolvidos em suspeitas. Finalmente, um país que investe tão pesadamente para realizar uma Copa do Mundo que contribua para melhorar e não piorar sua imagem pública não pode tolerar que a paixão nacional pelo futebol seja confundida com corrupção. O mínimo que se espera na véspera do certame a ser sediado pelo Brasil é que a denúncia seja apurada com celeridade e transparência.

Atalhos na Justiça - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 24/08

Declarações de ministro do STF sugerem menor tolerância no exame de recursos usados apenas para retardar decisão final


Ao discutir um caso de urgência que interrompeu o julgamento do mensalão, o ministro Luís Roberto Barroso descreveu, de forma neutra mas eloquente, o tipo de recurso que seria examinado naquele instante.

O Supremo Tribunal Federal teria de analisar, disse Barroso, um "agravo regimental de embargo de divergência em agravo de instrumento de recurso extraordinário". A simples enunciação de tamanha caravana recursal serviu para que o ministro exprimisse suas convicções a respeito desse tema.

A Justiça brasileira viveria, segundo Barroso, espécie de equívoco tropicalista. Considera-se, prosseguiu, que o "devido processo legal é aquele que não termina nunca", tantos os recursos protelatórios ao dispor dos advogados.

Seria mesmo o caso de fortalecer, como sugeriu Barroso, os poderes do magistrado para declarar com mais rapidez o resultado de uma ação judicial, barrando a extensão indefinida de iniciativas "manifestamente protelatórias"?

Suas observações não refletem apenas o espírito reformador que costuma caracterizar todo recém-chegado a uma instituição.

O mais novo membro do STF sem dúvida se ressente, como a maioria de seus colegas, das pressões para acelerar o término do processo do mensalão. Parece reduzir-se, assim, a possibilidade de que a corte analise o último recurso teoricamente à disposição dos réus, os embargos infringentes.

Dados o caráter particularmente polêmico do julgamento e as condenações elevadas que se abateram sobre vários réus, é importante afastar do processo qualquer suspeita de que raciocínios políticos influíram sobre o seu resultado.

Não deixaria de ser irônico, entretanto, se as visíveis protelações de que se valeram os advogados terminassem se voltando, agora, contra os réus do mensalão, impondo uma solução de urgência.

Ainda que válidos no seu inconformismo com a lentidão dos tribunais, os raciocínios de Barroso --a propósito, repita-se, de outro caso que não o do mensalão-- suscitam outra questão.

O próprio ministro assinalou, há poucas semanas, que escândalos políticos irão se repetir no Brasil, não tanto por ausência de punição aos envolvidos, mas por força dos próprios métodos de financiamento de campanhas e consolidação das maiorias parlamentares.

Se uma reforma se faz necessária neste ponto, tampouco o será menos no que tange aos procedimentos judiciais. Enquanto existir o direito de procrastinar, é difícil imaginar que advogados dele abram mão. E um magistrado, por mais que se insurja contra a artificialidade de muitos recursos da defesa, nem sempre pode encontrar atalhos no caminho da justiça.


COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Coloquei o capacete e saí andando de moto pelas ruas de Brasília”
Presidente Dilma, confirmando “furo” desta coluna publicado terça-feira (20)


MANOBRA PODERÁ INVIABILIZAR AS PRÉVIAS DO PSDB

Políticos ligados a Aécio Neves discutem a aplicação de dispositivo do estatuto do PSDB que, na prática, pode inviabilizar as “prévias” para escolha do candidato à Presidência da República, em 2014. Como José Serra é o principal interessado, a Executiva do PSDB pode exigir que ele obtenha assinaturas de 20% dos filiados, como condição para as prévias serem convocadas. Seriam mais de 200 mil assinaturas.

EIS A QUESTÃO

Outra opção apontada no PSDB é exigir de Serra apoio de 20% dos 150 convencionais, cuja maioria é de fiéis escudeiros de Aécio Neves.

DAS DUAS, UMA

A cúpula do PSDB avalia que José Serra pediu as prévias objetivando arrumar um pretexto para sair do partido ou só quer atormentar Aécio.

MARATONA

O senador Aécio Neves percorre neste fim de semana municípios do interior de São Paulo, onde acumula reduzida intenção de votos.

EMBOLA O JOGO

O governador Eduardo Campos (PSB-PE) disse a tucanos que torce para que José Serra saia do PSDB e entre na disputa pela Presidência.

CONSTITUIÇÃO LEGITIMA PROIBIÇÃO DE MÁSCARAS

A Constituição cidadã, em vigor desde 1988, assegura aos brasileiros a livre manifestação de pensamento, “sendo vedado o anonimato”, conforme o parágrafo IV do artigo 5º. O anonimato que se busca com o uso de máscaras ofende esse dispositivo constitucional e legitima a decisão do governo de Pernambuco de proibi-las, nos protestos. Até porque manifestante que se esconde em máscaras bom sujeito não é.

SÓ MÁGICA

Com cenário explosivo da economia para 2014, só o mágico americano David Copperfield toparia ser eleito o novo presidente do Brasil.

PERGUNTA NA FILA

A importação de estrangeiros para o SUS não revela o fracasso da gestão pública da Saúde em doze anos do governo petista?

ECCO!

A Itália terá o trem mais rápido da Europa em 2015: a 360 km por hora, o Flecha Vermelha, da Bombardier. Custou R$ 4 bilhões.

MOTOQUEIRA DAS GALÁXIAS

Sorte não ter guarda por perto de Dilma, pilotando moto em Brasília, como revelou terça-feira (20) a Coluna Cláudio Humberto: ela não tem habilitação para motocicletas e a carteira de motorista está vencida.

FALA A MINHA LÍNGUA?

O governo federal já contava com a fraca adesão de brasileiros ao programa Mais Médicos, e despachou professores de português para Cuba meses atrás. O jornal espanhol ABC falou com um deles.

TRABALHO ESCRAVO

O deputado e médico Colbert Martins (PMDB-BA) acionará o Ministério do Trabalho assim que os médicos cubanos chegarem ao país: “O esquema a que vão submetê-los é análogo ao trabalho escravo”.

FRANCO FAVORITO

Certamente lastreada em pesquisas, a presidente Dilma exclamou, ao receber Eunício Oliveira (PMDB-CE), presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado: “Você tem 96% de chances de ser eleito governador do Ceará”. Eunício brincou: “Cadê os outros 4%?”.

CONFLITOS

Além do Rio, onde o PSB deverá intervir caso não consiga enquadrar Alexandre Cardoso, o governador Eduardo Campos enfrenta crises no PSB de São Paulo, Minas, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul.

CONCORRÊNCIA DIRETA

O Palácio do Planalto vê com bons olhos a candidatura do Pastor Everardo (PSC) à Presidência da República em 2014, pelo potencial de tirar votos da evangélica Marina Silva, que aparece em segundo lugar nas pesquisas.

BURRO-CRÁTICO

Presidente do PPS, Roberto Freire (SP) é um dos poucos que acredita que a ex-senadora Marina Silva conseguirá driblar lerdeza dos cartórios e criar o partido Rede: “O TSE não vai querer a pecha de burocrático”.

RETÍFICA CH

É estatal e não privada a empresa cubana Servimed, coordenadora do programa de exportação com governos de 15 países. Com o lucro “em países ricos”, diz investir “na melhora do serviço médico” de Cuba.

PENSANDO BEM...

...desconfie se seu médico cubano permitir uma dose de “Cuba Libre” após as refeições.


PODER SEM PUDOR

PACIÊNCIA MÁXIMA

Na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, certa vez, o então ministro da Fazenda Antônio Palocci, elogiou o programa "Renda Mínima", de Eduardo Suplicy. Quase às lágrimas, o senador do PT-SP, em êxtase, aplicou um soco violento (de ex-boxeador) sobre a mesa. Fez pular xícaras de café e até alguns senadores, como o falecido ACM, que empalideceu, e Ana Júlia Carepa (PT-AC), que gritou:

- Para aguentar o "Renda Mínima" do Suplicy, é preciso ter paciência máxima!

SÁBADO NOS JORNAIS

Globo: Desembarque e suspeitas – Médicos chegam sob proteção especial de Exército e PF
Folha: Após plano do BC, dólar tem a maior queda desde 2011
Estadão: Sudeste puxa melhora da aprovação do governo Dilma
Correio: Cubano ganhará menos e não terá direito a asilo
- Estado de Minas: Prefeitos frustrados
- Jornal do Commercio: Baderneiro de aluguel
Zero Hora: Parque da Expointer terá agroshopping e um hotel