domingo, julho 21, 2013

As ameaças de Haddad - EDITORIAL O ESTADÃO

ESTADÃO - 21/07

Causa espanto a atitude do prefeito Fernando Haddad, ao apresentar, em tom alarmista, medidas que a seu ver são indispensáveis para evitar que a cidade simplesmente se tome ingovernável. Como é possível isso, logo no início de seu mandato? Está ele querendo, com essa ameaça de grave crise na maior e mais rica cidade do País, pressionar as autoridades das quais dependem aquelas medidas, e pensa seriamente que isso pode funcionar? Ou já concluiu, tão prematuramente, que seu governo está condenado ao malogro e deseja transferir a culpa disso para outros?
A mais importante das medidas reivindicadas pelo prefeito - todas apresentadas durante reunião do Conselho da Cidade - compete ao Supremo Tribunal Federal(STF) na questão dos precatórios (dívidas que se têm de pagar por decisão judicial), que representam 56% da receita corrente líquida do Município em 2013. Tendo em vista o tamanho da dívida, deseja Haddad que o STF estabeleça um teto de 3% do orçamento para o seu pagamento, que seria feito então ao longo de alguns anos, em vez de determinar sua quitação por ordem cronológica, num prazo muito mais curto.
"A Constituição preserva determinado direito assegurando um porcentual do orçamento para esse fim" afirmou o prefeito, referindo-se aos porcentuais destinados à saúde e à educação. "É isso que precisa ser feito com os precatórios. Qualquer coisa diferente dessa vai tomar São Paulo ingovernável."
Tenha ou não razão com relação à incapacidade do Município de honrar de imediato aquele compromisso, a verdade é que, colocada a questão nesses termos, o prefeito está dando uma espécie de ultimato ao STF - ou ele faz exatamente o que deseja Haddad ou a cidade ficará quase paralisada. Como disse o secretário municipal de Finanças, Marcos Cruz: "Teríamos que parar todas as atividades de assistência social, investimentos, esporte, cultura, meio ambiente e habitação".
Ninguém poe em dúvida a gravidade do problema, mas decididamente essa não é maneira apropriada de resolvê-lo. Principalmente porque o STF, com inteira razão, não costuma ceder a esse tipo de pressão. Apelar para esse expediente não ajuda - ao contrário, só complica as coisas.
Uma outra medida se refere à renegociação da dívida do Município com a União, com a troca do índice de correção do saldo devedor. Desde 2000, quando o acordo da dívida foi feito, o índice usado é o IGP-DI. Esse problema vem sendo discutido há bastante tempo e o governo municipal tem bons argumentos: "A dívida era de R$ n bilhões, já pagamos R$ 20 bilhões e ainda devemos R$ 54 bilhões" diz Haddad. Resta saber se a presidente Dilma Rousseff, mesmo tendo boa vontade, por pertencer ao partido do prefeito, está disposta a aceitar seu tom impositivo.
Finalmente, para obter mais recursos para melhorar o transporte público, Haddad propõe a municipalização da Cide, que é um tributo que incide sobre combustíveis. Desde que lançou essa ideia meses atrás, o prefeito vem sendo criticado por ser ela inviável, tendo em vista que a Cide é um imposto federal. Por que então insiste nela? Por demagogia, para dar a impressão de que está em busca de uma solução para o transporte - uma das principais reivindicações das grandes manifestações do mês passado mas seus adversários estão sempre a lhe criar obstáculos?
O que torna indefensável a posição do prefeito, que deseja dessa maneira colocar o governo federal e o STF contra a parede, é que ele sabia perfeitamente, quando se candidatou a prefeito, de todos esses problemas e da situação difícil que eles criam para a cidade. Foi eleito para resolvê-los e não para adotar a posição cômoda de jogá-los no colo dos outros. Resolvê-los significa buscar soluções de compromisso. Isso exige paciência, determinação e disposição para negociar. E sobretudo coragem para enfrentar a adversidade.
É o oposto de entregar os pontos quando o jogo mal começou, como o prefeito Fernando Haddad parece estar fazendo

Quem quer dar aulas? - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 21/07

É urgente que se apliquem políticas de valorização dos educadores, sob risco de um apagão no sistema de ensino


Os universitários brasileiros não querem trabalhar na sala de aula. Pesquisa após pesquisa – como a realizada anos atrás pela Fundação Carlos Chagas –, o veredicto se confirma, acenando uma das mais graves crises do país. Parem o bonde. Sem professores das disciplinas do ciclo fundamental e médio, não veremos país nenhum. Estima-se que a carência possa chegar a 300 mil educadores, o que deixa o sistema de ensino nas raias de um apagão.

As regiões mais afetadas pela ausência de mestres encontram dificuldades homéricas, como se dizia, para vencer a pobreza e ficam mais expostas às raízes da violência. De resto, o atraso e a treva, na qual estamos nos movendo faz algum tempo. Só sobra uma saída – políticas públicas que atraiam alunos para as licenciaturas, programas de permanência, estágios remunerados por tempo determinado em sala de aula, de preferência no interior do país.

Não se fala aqui em obrigatoriedade ou em qualquer sorte de residência compulsória, como tenta fazer o governo federal em relação aos alunos de Medicina. Fala-se numa tática de valorização do professor, uma bandeira já hasteada aqui e ali, mas cujo discurso, de tão repetido, está pálido como um soneto. Os Programas Institucionais de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibids) ajudam, mas se está falando de uma situação de emergência. É preciso mais.

Há exemplos nos quais nos mirar. Países nórdicos, por exemplo, conhecidos pela relevância dada à função de ensinar. Ou mesmo a alquebrada Cuba. A valorização – com todo o respeito aos que proclamam que o problema dos professores passa, acima de tudo, pelo bolso – supera todas as outras causas. São muitas as categorias mal remuneradas, mas nem todas mal amadas. O desapreço por quem ensina é vexame em par.

A pressão salarial, a ação sindical, a negociação estão aí para resolver impasses de categoria. Vencer uma cultura de menosprezo, contudo, exige mais estratégia dos governos. Passa pelo salário, mas passa também pelas regras de atração. É preciso levar os melhores alunos – e não importa se cursem licenciaturas ou não – para as salas de aula. Igualmente, deve-se levar os melhores professores para as escolas mais problemáticas e de Ideb mais baixo, valorizando o conhecimento adquirido desses profissionais na resolução dos nossos índices educacionais subsaarianos.

É tarefa de casa ver e rever o documentário Pro dia nascer feliz, do cineasta João Jardim. Resumo da ópera. Nas sequências se pode ver uma legião de professores cansados de guerra, com dificuldades de serem ouvidos. Os professores derrubados pela síndrome de Burnout. Os professores que faltam às aulas, deixando às moscas o processo de ensino-aprendizagem. Mas sobretudo os professores que não sabem o que fazer porque se sentem vozes que clamam no deserto. Não há pior expediente profissional que o de não ser ouvido e o de não se sentir parte de nada. Quem está numa escola, por incrível que pareça, sabe do que se trata.

Urge, de fato, uma reforma educacional brasileira. Motivos para tanto não faltam – da ausência de professores ao fato, denunciado pela Fundação Ioschpe, de que há mais pessoas trabalhando na burocracia escolar do setor público do que propriamente ensinando. Dos 5 milhões de educadores contratados, 3 milhões não lecionam. Toda essa multidão de profissionais de gabinete não consegue o que lhes caberia de fato: subsidiar o professor a lidar com a violência, com a indisciplina, com os novos conteúdos e demandas da juventude. O resultado dessa falta de respostas é a frustração profunda, que só pode resultar em desejo de pular do barco.

Como se vê nos dados do Instituto Lobo, a partir do Censo Escolar, muitos o fazem antes mesmo de se graduar. A evasão nas licenciaturas, na média brasileira, chega a 48%. Em áreas como Física, podem alcançar 60%. Deve-se aventar também que carreiras como Física, Química ou Letras se tornaram menos concorridas, o que afeta a seleção. Mas não são fáceis. Muitos alegam desistir por causa do mercado, mas são favas contadas que muitos o fazem por não conseguir acompanhar o curso.

Vale mais um alerta. Parte do problema da evasão de alunos das licenciaturas começa dentro das próprias universidades. É assunto espinhoso. Os cursos que formam professores não raro funcionam como redomas, pouco afáveis a pesquisas que contemplem, de forma mais pragmática, os problemas reais da escola. Não são questões menores, como se pode alegar. O preço é que muitos licenciados acabam chegando ao chão de fábrica despreparados ou desmotivados para lidar com situações que vão além da teoria.

Filhos de Francisco - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 21/07

Durante encontro de jovens católicos, estilo simples cultivado pelo papa contrastará com prodigalidade dos políticos


Desde o início, o papa Francisco tem buscado construir uma identidade marcada pelo despojamento e pela atenção contínua aos pobres. Ao liderar pelo exemplo, ele enfatiza sua visão de que o mundo precisa ser mais solidário e menos desigual --mensagem especialmente apropriada para o Brasil.

Francisco decerto não ignora o aspecto publicitário de suas ações, amplificado por constituírem notável novidade em um Estado acostumado à ostentação.

No Vaticano, por exemplo, dispensou o carro usado pelo antecessor, Bento 16, e o substituiu por um modelo mais simples. Além disso, preferiu aposento menos luxuoso, destinado a cardeais, ao tradicional palacete a que teria direito.

Isso legitima a atitude saneadora que Francisco procura imprimir à estrutura eclesiástica, marcada por recentes escândalos de abuso e corrupção. Numa organização tão hierarquizada, alguns efeitos são imediatos: há notícias de padres que se desfizeram de seus carros de alto padrão e de cardeais que optaram por trajes menos vistosos.

Verdade que a opção pelos pobres já estava presente na teologia da libertação --corrente de esquerda com grande influência na igreja latino-americana e que foi duramente reprimida a partir do pontificado de João Paulo 2º.

Sem resgatar aquele movimento, Francisco retoma o compromisso social, mas com uma diferença decisiva: ele reforça o lado místico dessa aproximação. Ou seja, mais que uma atitude política, trata-se de necessidade da própria experiência religiosa cristã --a caridade do indivíduo reaparece como principal ação reformista, em detrimento de transformações estruturais provocadas por movimentos da sociedade civil organizada.

Em sua visita ao Rio de Janeiro, não é improvável que o papa encontre protestos contra as orientações da igreja e os gastos públicos com o evento.

Em Madri, em 2011, onde ocorreu a mais recente Jornada Mundial da Juventude --idealizada pelo papa João Paulo 2º e realizada pela primeira vez em 1986--, foram registrados atos de jovens espanhóis, conhecidos como "indignados".

Se há objeções a dogmas católicos, manifestantes talvez identifiquem na simplicidade de Francisco mais um motivo para criticar os políticos brasileiros.

Lado a lado, será inevitável a comparação entre o papa e o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), que utiliza vários helicópteros do poder público para transportar familiares e até seu cão de estimação. O mesmo vale para a presidente Dilma Rousseff (PT), que, ao viajar a Roma a fim de assistir à missa inaugural do pontífice, reservou 52 quartos de hotel para sua comitiva.

Pela forma como tem agido até agora, o papa tende a enfatizar no Brasil, ao longo de 17 intervenções, a busca pela fé em Deus e a tradicional crítica da igreja à sociedade de consumo. Temas mais polêmicos, como o casamento gay, devem ficar em segundo plano.

Pastor por excelência, Francisco segue caminho diferente do trilhado pelo intelectual Bento 16 --agora papa emérito--, mais afeito a questões de doutrina teológica.

Seria um erro, contudo, falar em ruptura, como ficou demonstrado na primeira encíclica sob o novo papado, "A Luz da Fé", assinada pelos dois pontífices --a primeira na história escrita a quatro mãos.

De resto, são conhecidas as opiniões conservadoras de Francisco. Ainda arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio mostrou-se alinhado com alas contrárias ao aborto, à ordenação de mulheres e ao casamento gay, mas favoráveis à manutenção do celibato.

No Brasil, o simpático papa Francisco terá o desafio de ajudar a estancar a contínua perda de fiéis, que buscam denominações pentecostais ou simplesmente deixam de ter religião.

Pesquisa Datafolha mostra que o encolhimento é rápido: hoje, 57% dos brasileiros com mais de 16 anos se declaram católicos, contra 64% em 2007, ano da última visita papal; em 1994, eram 75%. Na Grande São Paulo, os católicos são 44% da população, proporção que sobe para 58% no interior do Estado.

Além de menor, é uma igreja sem grandes referências. Uma geração atrás, nomes como dom Paulo Evaristo Arns e dom Hélder Câmara se faziam presentes nos debates nacionais. Atualmente, essa participação se restringe a comunicados da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). As figuras católicas de maior projeção são padres cantores, mais próximos do mundo das celebridades.

Embora em declínio, a Igreja Católica ainda é capaz de mobilizar grandes contingentes. Essa característica será potencializada na Jornada Mundial da Juventude no Rio, a primeira grande viagem internacional do papa argentino.

Atento à importância dos pequenos gestos, Francisco saberá explorar essa grande oportunidade.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Ainda é cedo para essas especulações; deixa para ano que vem”
José Serra, sobre sua possível saída do PSDB para disputar a Presidência em 2014


CÓDIGO DE MINERAÇÃO GERA ‘PÂNICO’ NO PLANALTO

Em meio à crise instaurada no Parlamento, somada à queda de sua popularidade, a presidente Dilma está em pânico com os rumos que poderá tomar a votação do novo Código de Mineração, que já recebeu 500 emendas na comissão especial. O ministro Edison Lobão (Minas e Energia) foi delegado a monitorar os trabalhos e tentar evitar repetição do “balcão de negócios” que tomou o Congresso na MP dos Portos.

INVASÃO MINEIRA

O Planalto teme a quantidade de mineiros na comissão, presidida por Gabriel Guimarães (PT) e relatada por Leonardo Quintão (PMDB).

INTERESSES MIL

Empresários de Minas estão de olho no projeto, que dá novos poderes ao governo, altera o sistema de controle e prevê licitação em blocos.

QUALQUER NEGÓCIO

O clima de insatisfação no PMDB chegou a tal ponto que deputados já falam até em convidar o ex-governador José Serra (PSDB) para se filiar ao partido e sair candidato contra a reeleição de Dilma em 2014.

GAFE DA VEZ

Conhecida por trocar as bolas, Dilma provocou risadas em Fortaleza ao chamar o líder do PT na Câmara de “senador” José Guimarães (CE).

GOVERNO GASTA MAIS COM BOLSA QUE COM SAÚDE

Dilma tem razão quando atribui aos protestos o desejo do povo de “querer mais”: dados do Portal da Transparência revelam que o governo federal gastou até agora R$ 12,1 bilhões com o Bolsa Família – enquanto a Saúde recebeu R$ 9,8 bilhões. O ministério das Cidades recebeu ainda menos – R$ 897 milhões, sendo R$ 6,4 milhões para abastecimento e esgoto em pequenos municípios. O programa de transferência de renda consumiu R$ 20,2 bilhões em 2012.

NA REDE

Mais 450 mil famílias entraram para o programa este ano, sendo a Bahia, governada pelo petista Jacques Wagner, eterna líder do ranking.

SEM REDE

Em fevereiro, cerca de 1,69 milhão dos 50,3 milhões de dependentes dispensaram o Bolsa Família, diz Ministério do Desenvolvimento Social.

A PRAÇA É NOSSA

A Praça Tahir, no Egito, tem muito a aprender com a polícia do Rio, que por duas horas olhou quebradeira total sem dar um só golpe de caratê.

ARBITRÁRIO

O advogado Antônio de Almeida Castro, o Kakay, procurou o BMG, o empresário nº 1 da Fifa, Juan Figer, e o presidente do Atlético de Madrid, Miguel Ángel, para denunciar a “arbitrariedade” da intervenção no Esporte Clube Bahia: “Vai abrir um precedente complicado”, alerta.

NA MIRA DO CRIME

A violência entre jovens de 15 a 29 anos cresceu 414%, como mostra o Mapa da Violência 2013, divulgado sexta (19). Entre 2000 e 2010, o Maranhão registrou aumento de 398,5% em vítimas de arma de fogo.

ENQUANTO ISSO...

...para reforçar a segurança, a Câmara dos Deputados comprou, com dispensa de licitação, um aparelho detector de metais avaliado em R$ 7,5 mil. Nada de armas de fogo por lá.

QUASE UMA GORJETA

Para Luiz Pitiman (PMDB-DF), dar aposentadoria especial aos garçons não impacta nas contas da previdência, já que a categoria não é tão numerosa e o salário é menos da metade do teto do INSS (R$ 4.100).

DEFESA FEROZ

A CCJ da Câmara aprovou projeto de Ricardo Tripoli (PSDB-SP) que criminaliza condutas contra cães e gatos. O texto, um tanto exagerado, prevê 3 a 5 anos de prisão até para a inocente brincadeira de crianças, que atiça cães: “pega, pega, ts, ts”, por “promover a luta entre animais”.

‘AIATOLADO’

O “massacre” do Leblon, diante da casa do governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) foi notícia no Irã, onde corruptos costumam ser enforcados.

SENTA A PÚA, SENTA A PEIA!

Esse era o lema dos pilotos da Força Expedicionária Brasileira durante a II Guerra ao estabelecer recorde destruindo 1,3 mil veículos, 250 composições de trem, 25 pontes e 85% da munição alemã. É o que merecem políticos desavergonhados que utilizam aviões das FAB, para ir a jogos de futebol, casamentos ou para passear com cães.

DOMINGO NOS JORNAIS

Globo: Jornada Mundial da Juventude: Entre bênçãos e protestos
Folha: Católicos no país caem ao menor nível na história
Estadão: Tombini diz que falta de confiança abala economia
Zero Hora: Telefonia segue no topo da lista de reclamações
Correio Braziliense: Os desafios do papa no Brasil
Estado de Minas: Economia a serviço do seu bolso
Jornal do Commercio: Trânsito mais livre na base da conversa

sábado, julho 20, 2013

Você quer mesmo um Brasil melhor? - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA

Então faça por onde: em vez de só cobrar, que tal exercer seriamente o civismo e a cidadania?


Então faça por onde – em vez de sair mascarado, quebrando e saqueando. A violência é pouco eficaz. O crime é contraproducente se o objetivo for aperfeiçoar uma democracia. Vivemos um momento histórico, inspirado por revoltas populares na Tunísia, Espanha ou nos Estados Unidos. É hora de aproveitar para o bem a energia de jovens brasileiros idealistas, que rejeitam os vícios da política tradicional e corrupta. Sejam sujeitos e não objetos. Em vez de só cobrar – e virar massa de manobra –, que tal exercer seriamente o civismo e a cidadania?

É uma vergonha o Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil. Ocupamos o 85o lugar no ranking mundial, atrás de Bósnia e Azerbaijão. Faltam médicos e professores em todo o país, não apenas nos confins do Brasil. É um absurdo querer aumentar, por lei, o número de anos de estudo de medicina. Ou exilar residentes em lugares sem condições de trabalho. A atitude desesperada do governo Dilma só expõe a metástase da Saúde. Não há ambulâncias, equipamentos ou médicos suficientes em lugar nenhum no Brasil, e isso inclui Rio de Janeiro e São Paulo.

Relanço então uma ideia que defendi há três anos em ÉPOCA: instituir o serviço civil obrigatório, que substituiria o alistamento no Exército para quem completa 18 anos. O serviço militar, com mais de um século, é um anacronismo num país sem guerra. É sexista, por contemplar apenas homens. Em vez dele, rapazes e moças dedicariam um ano de sua vida para servir à comunidade. Em meio expediente, para não atrapalhar os estudos. Funcionaria como um estágio e poderia ser pago pelo Estado com um salário mínimo. Os filhos da classe média e da elite aprenderiam mais sobre o Brasil real se fossem convocados a ensinar a crianças e adolescentes carentes português, matemática, inglês, história, informática. Design ou balé. Capoeira ou música. Gastronomia ou fotografia.

O serviço civil obrigatório seria uma oportunidade de integração, educação, disciplina. Não existe, em nosso país partido, nenhuma estratégia de entendimento real entre as classes. Não se treinam o ouvido nem a compaixão. Jovens deveriam consagrar um tempo ao bem público. Para criar bases e valores. Desperdiçamos um exército de jovens inteligentes e criativos. Há os que sonham em sair do Brasil sem chegar a entender o país em que nasceram. Nem aprendem a dar bom-dia ou a agradecer por um serviço prestado.

Na Suíça ou na Alemanha, é possível escolher o serviço civil em vez do militar. No Brasil, a Constituição de 1988 também contempla a objeção de consciência, que isenta o cidadão do serviço militar se contrariar suas crenças filosóficas, religiosas ou políticas. Mas não existe um serviço alternativo formalizado. Várias escolas estimulam a consciência social, mas iniciativas isoladas não bastam. Deveríamos preparar jovens para servir a pátria como cidadãos.

Para quem tem filosofia pacifista como eu, o serviço militar é uma agressão. A alternativa não passa pela violência. Ser empreendedor, ser voluntário, ir para a política são, todas elas, formas mais eficazes de mudança. Um estudante de Direito poderia, no primeiro ano da faculdade, dedicar seis horas diárias a atender pequenas causas em favela. Um estudante de contabilidade montaria pequenos negócios para famílias pobres e empreendedoras. Um estudante de letras incentivaria adolescentes a ler e escrever contos ou poesias. Outro ensinaria a ser inventivo no computador, a tocar piano ou a falar inglês. São tantos dons aprendidos na universidade, financiados pelos pais ou com nossos impostos. Por que não retribuir?

Isso nada tem a ver com filantropia ou caridade. “O serviço civil alternativo seria um rito de passagem do jovem para a idade adulta”, diz o empreendedor social Rodrigo Baggio, fundador do Comitê para Democratização da Informática. Baggio encara o serviço civil como “um aprendizado cívico, uma experiência que ajuda o jovem a escolher sua própria profissão e seu futuro”. “Valoriza o currículo”, diz ele. “O jovem que já foi voluntário é hoje mais solicitado no mercado.” O serviço civil ainda gera um pacto social mais eficaz. Deveria, segundo Baggio, haver uma parceria entre governo, sociedade civil, ONGs e empresas, com o apoio do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Uma comissão destinaria o jovem a certo trabalho, a partir de uma capacitação básica em direitos humanos, cidadania e empreendedorismo.

O serviço militar prepara para a guerra. E se preparássemos os jovens para a paz? Há no Brasil 31 milhões de jovens de 18 a 26 anos, segundo o IBGE. Pouquíssimos se alistam nas Forças Armadas. Dá para entender também o desinteresse pelo voto e pela política partidária. Torço por uma mudança de fundo, sem confete e sem violência. Uma Jornada Nacional da Juventude. Que se engaje de verdade, sem ódio e sem sangue nos olhos, num futuro melhor para este Brasil desigual, ineficiente e entregue a políticos sem o menor apreço pelo interesse público.


Falta técnico negro - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 20/07

Oswaldo de Oliveira, técnico do Botafogo, chamou atenção ontem no Rio para a ausência de colegas negros. Foi durante um curso de formação de treinadores, patrocinado pela ABTF:
— Pela quantidade de jogadores negros que são formados todos os anos, já deveríamos ter mais treinadores negros. Mas, hoje, o número é ínfimo.

Segue...
Veja só. Dos 20 treinadores de times da primeira divisão do Campeonato Brasileiro, só um, Cristóvão Borges, do Bahia, é negro. Cartas para a Redação.

Pensão alimentícia
A 4ª Câmara Cível do Rio negou liminar a Romário para reduzir a pensão dos filhos Mônica e Romarinho, do seu casamento com Mônica Santoro. O deputado queria diminuir de R$ 32.544 para R$ 5 mil. Mas vai ter que esperar uma audiência em agosto para tentar um acordo.

Pimenta x Pimentel
O ex-deputado Pimenta da Veiga admite, em conversas com amigos, ser o candidato tucano ao governo de Minas em 2014.
Se isto ocorrer, será uma disputa apimentada. O candidato do PT deve ser o ministro Fernando Pimentel.

Deus castiga
Ontem, aproveitando o movimento da JMJ, a chilena-brasileira TAM cobrava R$ 2.372,94 por uma passagem Rio-São Paulo-Rio.

No mais
Lula fez bem em ir a público desmentir o boato de que o câncer na laringe teria voltado. Afinal, esta história tinha virado uma espécie de lenda urbana na internet, espaço onde a insensatez faz sua morada.

Ditadura x Taiguara
Taiguara, o cantor que fez muito sucesso nos anos 1970 com músicas como “Universo do teu corpo”, foi um dos artistas mais perseguidos durante a ditadura. No Arquivo Nacional, há registros de 143 músicas dele que foram censuradas.
Agora, ele vai ganhar um documentário.

Canções inéditas...
Dirigido por Felipe Rodrigues e Mário de Aratanha, o filme também recuperou com a família do cantor 30 canções inéditas.
Taiguara morreu aos 50 anos, em fevereiro de 1996.

‘Inferno’ faz sucesso
O livro “Inferno”, de Dan Brown, ocupa há sete semanas o topo da lista de livros mais vendidos no país, segundo o site especializado Publishnews.
A Editora Arqueiro vendeu 300 mil cópias, além de 18 mil digitais.

Sem fotos
Fiorella Mattheis, a atriz que se casa hoje com o ex-judoca Flávio Canto, em Petrópolis, RJ, mandou um recado aos convidados: é proibido tirar fotos.

Cidade das Artes
O Ministério Público do Rio propôs uma nova ação civil pública por improbidade administrativa cometida durante a construção da Cidade das Artes contra o ex-prefeito Cesar Maia e ex-integrantes da prefeitura.
Cobra R$ 4,6 milhões, além de pedir a condenação dos réus. Segundo a investigação do MP, houve falta de planejamento e ilegalidade na prorrogação do prazo.

Moda praia
A Bumbum, uma das grifes de praia mais tradicionais e famosas do Brasil, de Cidinho Pereira, está atravessando um momento difícil.
Sua loja em Ipanema, em frente à Praça Nossa Senhora da Paz, vai fechar. No lugar, vai funcionar a Maria Filó.
É pena.

Fora do Rio
Houve gente que veio para a Jornada Mundial da Juventude e preferiu se hospedar, antes do evento, fora da Região Metropolitana do Rio.
A última pesquisa prévia da ABIH-RJ mostra que hotéis de Penedo, Petrópolis, Teresópolis, Paraty e Macaé estão com 100% de ocupação.
Nova Friburgo e Itatiaia têm 95% de seus quartos ocupados.

Amor aos cabelos
O tom dos cabelos da atriz Paolla Oliveira, no ar na novela “Amor à vida”, é o mais pedido no salão Ophicina do Cabelo.
Só na última semana, foram mais de 20 colorações no mesmo tom que o da atriz.

Cena carioca
A propaganda estrelada por Tony Ramos caiu na boca do povo. Ontem, na churrascaria Giuseppe Grill, no Centro do Rio, um cliente perguntou ao garçom: “Mas é Friboi?”
O atendente riu e devolveu: “É Seara.” Como se sabe, a JBS, dona da Friboi, comprou a Seara há dois meses.


Tesouro a ser prensado - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 20/07

RIO DE JANEIRO - Em 2000, a cultura brasileira ganhou um senhor presente: a caixa "Noel Pela Primeira Vez", com 14 CDs contendo as gravações originais das 229 composições de Noel Rosa (1910-1937), assinadas ou não. Foi o resultado de um esforço de 11 anos (1987-1998) do professor (de biologia) e pesquisador paulistano Omar Jubran. Ou seja, Jubran levou mais tempo para compilar a obra de Noel do que este para construí-la.

O que nos EUA costuma ser o trabalho de uma equipe, com o apoio de instituições como a Smithsonian e valendo-se de verbas e arquivos generosos, aqui é a luta de um homem e dos abnegados que se dispõem a ajudá-lo. Num país onde se joga tudo fora, imagine o que seja procurar discos de cera, de 78 rpm, fabricados há 70 anos --alguns de cuja existência o pesquisador só tinha uma vaga referência; outros, de que nem sabia; e todos, ao ser encontrados, exigindo pesada restauração.

Entre completar seu levantamento de Noel e conseguir que ele viesse à luz, Jubran teve de esperar outros dois anos, até 2000 --quando a caixa finalmente saiu, graças ao interesse da Funarte, da AAD (Associação dos Amigos da Funarte) e da gravadora Velas. Ninguém ganhou dinheiro com isso. Somente o Brasil ficou mais rico.

Agora, Jubran tem em mãos outro trabalho, ainda maior em extensão e ao qual também dedicou quase dez anos: a obra de Ary Barroso. Pelo equivalente a 20 CDs, lá estão todas os sambas e canções de Ary por seus intérpretes originais --316 fonogramas, quase 100 a mais que os de Noel. Jubran não pediu dinheiro a ninguém para procurar essas raridades. Procurou e achou.

E, de novo, ele espera que uma instituição queira prensar tal tesouro e pô-lo ao alcance das pessoas. É um projeto caro? Não. Mais barato do que contratar qualquer banda de rock para fazer um show na praia.

CAMPOS: ‘VOLTA, LULA’ É FARDO - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém

O GLOBO - 20/07

Eduardo Campos lembrou a Lula que o processo eleitoral de 2014
começa agora em setembro, quando se esgota o prazo para mudança de partido.
Aí então, Campos já saberá onde terá palanques para as eleições presidenciais. Se tiver um número mínimo de dez estados, ele se sentirá confortável para definir sua candidatura. Mas só a anunciará em janeiro, no Congresso do PSB.
Sem rodeios, mas com elegância, o governador acusou o ex-presidente de ter antecipado em um ano o debate sucessório quando lançou a reeleição da Dilma.
— Você sabe por que eu fiz isso. Foi para conter o movimento interno do “Volta, Lula” no momento em que a Dilma estava bem nas pesquisas. Mas, agora, com a queda de popularidade, o movimento cresceu.
Mesmo percebendo que a conversa caminhava para a reafirmação do apoio a Dilma, Campos exorcizou:
— É tiro no pé, atestado de incompetência política. Sua candidatura já nasceria com esse fardo, presidente.

Sem saída

O governador, em dialeto pernambucano, falou ao conterrâneo do “desmantelo” que provocaria uma suposta desistência sua.
Com outras palavras, disse que, se a Dilma for para o segundo turno, o PT vai precisar dele. Se for ele para o segundo, o PT vai precisar dele ainda mais, para preservação e
aperfeiçoamento do projeto de governo do campo progressista a que pertencem os dois partidos.

ET
Não mais que de repente, Brasília, por algumas horas, virou uma espécie de Varginha (MG): a via-sacra de Serra pelos gabinetes do Senado.
Como a criançada faz com ele nas campanhas, segui os passos daquele simpático, mas assustador, extraterrestre e consegui reconstruir o que de mais importante disse aos senadores que visitou.

Aí tem
Primeiro, Serra, nas conversas, tentou desconstruir a presidente. Disse que hoje a Dilma “está reduzida a pó” e que ele não sabe nem se ela termina o mandato.
Depois, esclareceu que estava em Brasília por questões estritamente pessoais.
O ex-governador deixou seus interlocutores apavorados e preocupados.
Todos agora querem saber que motivos pessoais levariam o desalmado à capital do país.
Façam suas apostas, senhores!

Fofos
No clima de exacerbação total dos ânimos populares contra os políticos, soa quase como um elogio a forma como o vice de Cabral é tratado nas faixas dos protestos.
Ou ninguém vê diferença entre o “Fora, Cabral!” e o “Vaza, Pezão!”?

Amor
Impressionou-me, na visita que fiz à prefeitura de São Paulo, o esbanjamento de elogios do Fernando Haddad aos tucanos FH e Alckmin.O desprezo do alcaide a José Serra só é comparável ao do Serra por ele.

Pecadores
Apesar do vapt-vupt da viagem para ver o Papa, Dilma levará na bagagem duas malas pesadas: Renan e Alves.
Mas, para chegar perto de Sua Santidade, os dois impuros terão que antes confessar seus pecados, mas sem direito a comunhão.

No ar
Justiça se faça. Desde Sarney até hoje, ministros de São Paulo sempre voltaram para casa no mesmo jatinho da FAB.
Ontem, por exemplo, Cardozão teve que se sentar ao lado da sua colega Eleonora Menicucci.É que só havia os dois no voo.

Ira
A entrevista de Henrique Alves a Fernando Rodrigues defendendo a extinção de 14 ministérios tirou o humor da Dilma.
A presidente só voltou ao normal quando um assessor sugeriu-lhe responder que só faria a reforma administrativa do governo se pudesse começar pelo Dnocs, o parque de diversão da família Alves.

Armação
Agora em setembro, ou dezembro, ou janeiro, não importa a data, o fato é que Dilma muda ministros, mas não reduz o número de ministérios.
Claro, tudo o que interessa a “Coisa-Ruim” et caterva não interessa ao país.

Boato
O PMDB se prepara para romper com a Dilma. Dizem que é sério. É crer para ver!

Ueba! Papa vai morar em Búzios! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 20/07

E o papa? O papa vai realizar o sonho de todo brasileiro: ver um argentino beijando nosso chão! Rarará


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Papa Week! Predestinada do dia! Vencedora da corrida Subida ao Cristo: Jéssica Ladeira! Rarará!

E o papa? O papa vai realizar o sonho de todo brasileiro: ver um argentino beijando o nosso chão! Rarará!

E fazer piada com argentino é pecado? Sim! Gol de mão não é pecado. Piada com argentino é pecado! O papa mandou avisar: quem fizer piada com argentino vai direto pro inferno!

E já imaginou se o Papa renuncia e abre uma pousada em Búzios? Uma vez argentino, sempre argentino. Papa vem ao Brasil, renuncia e abre uma pousada em Búzios! Rarará!

E se o papa fosse argentino mesmo, teria que mudar o nome da Capela Sistina pra Capela Cristina! Capela Cristina Kirchner! Rarará!

E os argentinos já tão falando que o papa é melhor que o Pelé! Rarará!

E a manchete do "Piauí Herald": "Eike Batista pede milagre ao papa Francisco".

E mais essa: "Aeronáutica abre concurso com 80 vagas para médicos". A Dilma vai mandar os médicos pro espaço! Rarará!

E a novelha "Amor à Vida"? Aquele hospital virou um HOSPUTAL! Só tem sacanagem! Depois reclamam quando a Dilma quer médicos cubanos. E agora as mulheres vão pedir médicos padrão Caio Castro no SUS! Rarará!

E o elenco está interTREPANDO cada vez melhor! Muda o nome da novela pra "Trepar a Vida"! Rarará! Aí, sim! E a família Doriana? Adoro a família do Fagundes: a filha não é filha da mãe, o neto é filho do avô e a Susana Vieira tem a mesma idade que a mãe dela! Rarará. E a bicha má? Virou bicha mala. Bicha má-la! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

E atenção! O site Kibeloco revela as manchetes pra 2030! Como será o mundo em 2030? Esportes: "Anderson Silva faz gracinha e apanha no Mundialito de Dominó em Copacabana". "Fifa nega que estádios da Copa de 2042 em Marte virarão elefantes brancos".

Economia: "Barraquinha de churros de Eike Batista é apreendida. Ele vendia sonhos', diz a PM". Política: "Criadores revelam que Galinha Pintadinha era projeto de espionagem da CIA". Entretenimento: "Juiz diz que lei Maria da Penha só vale pra quem se chama Maria da Penha. E Dado Dolabella é inocentado". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Nasceu? É menino? Isso é insuportável - ALEX MASSIE

O Estado de S.Paulo 20/07

Razões para não se importar com o bebê real


O parto da duquesa de Cambridge estava previsto para sábado passado. Como muitas mães de primeira viagem, atrasou. Isso é inconveniente. Chato para ela, talvez, mas muito pior para o restante de nós - mesmo que o bebê tenha nascido a esta altura.

Há pouquíssimas ocasiões em que é permissível sentir piedade da imprensa. Mas pense um instante nos jornalistas acampados do lado de fora do St. Mary's Hospital, em Londres. Esses profissionais foram as pobres almas encarregadas de manter a vigília à espera do nascimento do novo bebê real.

Não um mero bebê real, mas o futuro herdeiro do trono da Grã-Bretanha. A mídia agachada ali fora, enquanto Kate Mountbatten-Windsor (de nome se solteira Middleton), consorte do futuro rei, esperava para dar à luz. Os nervos em "Camp Kate", como o lugar foi batizado, ficaram em frangalhos. O calor incomum de Londres só fez piorar as coisas.

Enquanto o tempo passava, os jornais ficavam sem material para encher sua cota de páginas sobre o bebê real. Florestas inteiras foram derrubadas para imprimir a cobertura até agora e há mais - muito mais - por vir quando a criança finalmente fizer a sua estreia - se é que já não fez.

Felizmente, a turma da imprensa está sendo paga para montar sua vigília; britânicos obcecados pela realeza montaram tendas fora do St. Mary's, desesperados para não perder a "ação". O Daily Telegraph ofereceu aos seus leitores o uso de uma webcam apontada para a entrada do St. Mary's.

Ao menos os britânicos têm a desculpa de que essa nova pessoa, algum dia, se a saúde permitir, se tornará monarca e chefe de Estado. A mídia internacional não tem essa desculpa e, como era de se esperar, os americanos estão entre os piores infratores. Revistas de fofocas como US Weekly ficaram apaixonadas por Kate e o bebê. "Tudo Sobre O BEBÊ REAL!", gritou a capa do número desta semana, prometendo matérias sobre "uma escolha de nome de último minuto", o suposto "nervosismo na sala de parto" de Kate e seu (improvável) "medo de ficar sozinha". Dentro há fotos, também, do "adorável quarto do bebê no palácio".

A realidade é mais dura para as redes de televisão americanas, testadas em sua lendária habilidade de encher horas de programação sem absolutamente nenhuma novidade. Sem nascimento, não havia notícia. Mas nada conseguiu parar os exageros incontroláveis. "O mundo inteiro está esperando o nascimento", derramou-se Christiane Amanpour da CNN, confirmando o declínio da rede de estação noticiosa séria a mais uma comerciante das besteiras de tabloide. Os cortiços de Manila e as favelas do Rio de Janeiro morrem de excitação, mal capazes de conter seu maravilhamento no momento em que a Casa de Windsor se preparava para se perpetuar mais uma vez.

Em meio a toda essa insanidade, as únicas pessoas que conservam algum senso de equilíbrio são os membros da família real. "Bem, você sabe, todos têm bebês. É adorável, mas não fico loucamente excitada com isso", disse Margaret Rhodes, a prima de 88 anos da rainha Elizabeth II, à CNN.

Há algo a ser dito em favor do sangue frio aristocrático. Sua majestade parece um pouco mais preocupada. Perguntada sobre a perspectiva de se tornar bisavó, a rainha respondeu: "Eu gostaria muito que ele chegasse porque vou entrar em férias em breve". Num tempo de mudança, é reconfortante ser lembrado de que a classe alta britânica ainda acredita que as emoções são desperdiçadas com crianças e deveriam ser confinadas a cães e outros animais.

Sucessão. Será menino? Será menina? Por razões que são em grande parte místicas, a presunção - respaldada pelos agentes de apostas - era a de que Kate daria à luz uma menina, embora dada a história da Casa de Windsor, animal, vegetal ou mineral parece quase tão provável quanto um homo sapiens macho ou fêmea. Para os interessados nesses assuntos, Alexandra e Charlotte eram os nomes favoritos se a criança se revelar uma fêmea (para os apostadores, Psy está pagando 5000 por 1).

No entanto, uma menina seria politicamente mais significativa que um menino. Num lembrete de que mesmo as instituições mais antigas precisam se curvar às modas dominantes, as leis de sucessão da Grã-Bretanha foram recentemente alteradas para permitir que uma princesa primogênita herde o trono. Até recentemente, qualquer princesa nessa posição corria o risco de ser suplantada pela chegada - indesejada, sem dúvida - de algum irmão mais novo. O direito de primogenitura foi estendido agora às meninas. Isso é considerado radical. Se continuar assim, em breve monarcas britânicos poderão se casar com católicos.

Mas, é claro, de certa maneira é modestamente radical, não menos porque mudar as leis de sucessão na Grã-Bretanha significa também mudá-las nos 14 outros países - entre eles, Canadá e Austrália - nos quais a rainha Elizabeth continua sendo chefe de Estado. Quando se lida com uma instituição tão antiga como a monarquia britânica, toda mudança é complicada.

Pelo menos o príncipe William e a duquesa de Cambridge parecem um casal feliz e satisfeito. Até onde essa normalidade é possível em vidas tão impossíveis, eles parecem ser quase tão "normais" quanto se poderia esperar. Seu casamento parece construído sobre alicerces mais sólidos do que os dos pais do príncipe William.

Embora, constitucionalmente falando, as responsabilidades da duquesa se resumam a produzir "um herdeiro e um substituto", é preciso lembrar que fazer isso não é pouca coisa pela excelente razão de que tornaria a perspectiva - não obstante longínqua - de o príncipe Harry um dia assumir o trono ainda mais improvável. Pôr mais corpos entre Harry e a coroa não é uma má ideia, por mais divertido que o pensamento sobre um príncipe playboy que um dia venha a se tornar monarca possa ser.

A popularidade de William e Kate provavelmente sustentará a Casa de Windsor por outro meio século, no mínimo.

O segredo. A legitimidade da monarquia moderna repousa menos nos direitos divinos dos reis do que na disposição do público de tolerá-la. A rainha Elizabeth tem sido uma monarca modelo não menos porque, com a possível exceção de seus interesses em corridas de cavalo, ninguém poderia dizer com plena segurança quais são seus pontos de vista sobre qualquer assunto. Ao não expressar opiniões, ela evita controvérsias. Ao suprimir o ego, ela oferece a impressão de um serviço altruísta. Seu filho, o atual príncipe de Gales, poderia aprender e lucrar com seu exemplo. A suspeita de que ele não o fará justifica a sugestão ocasional - fantasiosa ao extremo - de que a coroa deva passar da rainha Elizabeth ao príncipe William, pulando o príncipe Charles.

O príncipe William pode não herdar o trono por outros 40 anos, mas parece ter absorvido as lições transmitidas por sua avó enquanto desfruta, assim parece, de um traço da chamada qualidade de estrela que sua mãe possuía. Nesse aspecto, ele pode ser pensado como um príncipe surpreendentemente moderno.

Mas enquanto isso, como extras numa performance interminável de Esperando Godot, nós nos sentamos, esperamos - e esperamos - e tentamos imaginar quando a notícia virá - se é que não veio neste minuto. A alegria que alguns sentirão com a chegada do recém-nascido príncipe ou princesa não será nada em comparação com o alívio sentido pela maioria de que, enfim, esse longo pesadelo internacional terminou. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Contra a internet - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

FOLHA DE SP - 20/07

Um "insider" do Vale do Silício ataca o modelo concentrador da web, em que poucos ganham muito


No auge, a Kodak empregava mais de 140 mil pessoas e valia cerca de R$ 50 bilhões. Quando o Instagram foi vendido por R$ 2 bilhões ao Facebook, ano passado, tinha só 13 funcionários.

Para Jaron Lanier, um "insider" do Vale do Silício, esse exemplo resume tudo o que há de errado com a economia da rede. Sob a fachada de escolhas infinitas e liberdade total, esconde-se um modelo concentrador. "A internet destruiu mais empregos do que criou", fulmina.

A tese está exposta no livro mais recente de Lanier, "Who Owns the Future?" (a quem pertence o futuro?), lançado em maio nos EUA e ainda inédito no Brasil. Não é pouco o barulho que causou.

Com seus longos dreadlocks e gosto por música da Antiguidade, Lanier passaria facilmente por mais um freak californiano adepto de ideias exóticas.

Na verdade, ele é um dos maiores expoentes da internet. Também foi um dos criadores da realidade virtual.

No Vale do Silício (região da Califórnia que concentra os gigantes da web), já fez de tudo. Hoje, trabalha em uma divisão de vanguarda na Microsoft, onde estuda, entre outras coisas, a construção de elevadores para o espaço.

A encrenca da internet, na visão de Lanier, vem do perfil de seus criadores, nos anos 70 e 80. Com bom humor, diz que eram de dois naipes: "Ou maconheiros liberais, ou conservadores do tipo que usam rádios da faixa do cidadão para monitorar a polícia e escapar dela". Essas duas tribos, tão diferentes, coincidiam no seguinte: para ambas, "o anonimato era a coisa mais bacana".

Assim, criou-se intencionalmente uma web em que as informações vão se dissipando, como partículas perdidas em um universo em expansão. Ninguém sabe o que veio de onde, nem quem criou o quê. E a informação circula gratuitamente, também porque é "cool".

Bem, se ninguém quer pagar por nada on-line, é preciso criar um modo de fazer dinheiro. E aí, em busca de um caminho sustentável, a internet, tão "rebelde", adotou o modelo de negócios mais tradicional: vender anúncios.

Nessa hora, ninguém pode com gigantes como Google e Facebook. Lanier os chama de "servidores-sereias", pela capacidade irresistível de atrair usuários.

Quem vende o anúncio mais eficiente possível --e portanto pode cobrar muito por ele-- é quem sabe tudo sobre seu usuário. Ou porque rastreia toda a atividade on-line, como o Google; ou porque usa as informações fornecidas, voluntária e gratuitamente, pelo "internauta", como o Facebook.

Para processar essa quantidade colossal de dados, são necessários computadores muito poderosos. Que só portentos como Google, Facebook, Apple e Amazon podem comprar.

E assim se completa o modelo concentrador que Jaron Lanier combate. Bilhões de usuários fornecem informações e produzem conteúdo, sem cobrar, para os "servidores-sereias". Estes têm uma capacidade de processamento única, e transformam essas informações em trunfos para vender anúncios. Anúncios que vão atingir as mesmas pessoas que estão trabalhando de graça sem perceber.

É um modelo de tudo para uns poucos, e nada para muitos. Não forma uma classe média --só magnatas e proletários. Por isso, na visão de Lanier, não vai se sustentar.

Como alternativa, o autor apresenta uma solução polêmica: os micropagamentos. E dá o exemplo dos programas de tradução automática, como o Google Translate e o velho BabelFish.

São serviços prodigiosos. Fornecem traduções imediatas em dezenas de idiomas, mesmo os mais obscuros. Só que não funcionam por milagre. São abastecidos por traduções reais, feitas por seres humanos em algum lugar do passado.

Quando você pergunta ao Google Translate como se diz "quero comer um bife com batata frita" em polonês, o que ele faz é consultar um número astronômico de traduções "humanas" em seu banco de dados, e deduzir a resposta. No caso, "Chc? zje?? stek z frytkami".

Pelo modelo de Lanier, os seres humanos que, lá atrás, fizeram as traduções receberiam micropagamentos cada vez que seu trabalho fosse usado numa tradução on-line.

É um modelo complicado e utópico. Mesmo outros críticos da internet, como Evgeny Morozov, o atacaram violentamente (vale ler Morozov espinafrando Lanier: is.gd/EtiO2P).

Ainda que não se concorde com as propostas de Jaron Lanier, não dá para negar a clareza de suas análises. Que o livro saia logo no Brasil.

Francisco e o direito canônico - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP - 20/07

Além de ser chefe de sua igreja, o papa é soberano do Estado do Vaticano, assim reconhecido pela ONU


A visita próxima do papa Francisco, primeiro desse nome, primeiro sul-americano e, além do mais, argentino, sugeriu o tema. As questões da segurança do papa predominam no noticiário, mas, nesta coluna, em termos jurídicos, parece oportuno examinar no diálogo com o leitor o debate suscitado quando se pergunta como e quando aplicar o direito canônico, em face do direito brasileiro.

A questão cabe porque prepondera, em nosso país, a liberdade religiosa e de todos os cultos. É assegurada no sexto e no sétimo incisos do art. 5º da Constituição. Garantem inviolabilidade de crença, livre exercício dos cultos, proteção de locais de culto e liturgias, bem como a assistência religiosa a entidades civis e militares de internação coletiva. Logo, é livre a manifestação de alegria ou de contrariedade, de cada brasileiro, com a visita.

O oitavo inciso do art. 5º impede que alguém seja privado de direitos por motivos de crença religiosa, o que não significa a liberdade de ofender a crença alheia ou os representantes dela.

As perguntas óbvias sobre disposições constitucionais, que parecem dizer o contrário, têm lembrado feriados religiosos que privilegiam denominações cristãs e casamento religioso com efeitos civis, celebrados por dignitários das religiões reconhecidas. A norma republicana de 1891 definiu a liberdade religiosa, inexistente no Império --quando só era admitida a religião católica, sendo proibidos até templos de outras denominações. Não subsiste no presente.

Voltando ao casamento religioso, para ficar no exemplo mais característico da interação dos direitos constitucional e religioso (por exemplo, na sagração de pessoas das mais variadas correntes religiosas, como titulares da correspondente pregação), invoca a possibilidade de se integrar o direito canônico com o direito comum. A denominação "canônico", porém, traz no Brasil a marca exclusiva da Igreja Católica, não aplicável a cidadãos de outras crenças. Na Inglaterra, o "canon" se liga à Igreja Anglicana.

Também podem ser lembrados outros exemplos de religiosos de diversas correntes da fé, alheios ao direito canônico.

A garantia do pluralismo religioso é uma das belezas da verdadeira democracia, até na admissão integral do ateísmo, daquele que nega toda credibilidade a um ser supremo, que nós chamamos Deus. Voltando aos papas: as homenagens que lhes serão prestadas no Brasil compõem tratamento constitucional, porque, além de ser chefe de sua igreja, Francisco é também soberano do Estado do Vaticano, assim reconhecido pela Organização das Nações Unidas.

Em síntese: o direito canônico não se liga, não se subordina nem é subordinado ao direito comum. A conclusão inclui o tratamento ao papa em visita, por isso mesmo integralmente apropriadas as homenagens oficiais prestadas ao Estado Vaticano.

O leitor perguntará: como fica o direito? A resposta dos estudiosos é variada. Os doutrinadores católicos veem no direito canônico a expressão dos termos em que o cristianismo o sustenta, com valores transmitidos a todos os católicos. Os não católicos discordam em grande parte, como é natural. É de lembrar a origem comum, no Velho Testamento, de cristãos, islâmicos e judeus.

Enfim, não há solução para uma paz definitiva.

PIB: novas frustrações no horizonte? - SILVIA MATOS

O Estado de S.Paulo - 20/07

O PIB do segundo trimestre deste ano só será conhecido dia 30 de agosto. Mas, até lá, diversos indicadores serão divulgados e seremos bombardeados por inúmeras projeções, algumas mais pessimistas, outras mais otimistas.

Independentemente disso, mesmo os mais otimistas não conseguem evitar certo ceticismo quanto ao cenário de crescimento brasileiro. Podemos crescer um pouco mais ou um pouco menos, mas os valores referenciais são cada vez menores, de acordo com o Boletim Focus. Nossa avaliação também sinaliza para um cenário não muito otimista.

Em primeiro lugar, a frustração com o primeiro trimestre foi grande. Não apenas em relação à taxa em si, mas a sua composição. Excluindo a agropecuária, o crescimento do PIB dos três primeiros meses foi bem mais fraco que o divulgado no último trimestre do ano passado.

Em segundo lugar, como começamos o ano não muito bem, houve uma redução do carregamento estatístico do PIB para 2013. Se a economia registrar neste e nos próximos trimestres crescimentos nulos, o resultado no final do ano será um PIB de apenas 1,3%. Se o PIB tivesse crescido 1% no primeiro trimestre, já teríamos garantido um valor um pouco melhor para o ano, de 1,7%. Como cresceu só 0,6%, as projeções para 2013 foram bastante reduzidas.

Em terceiro lugar, as informações que temos até o momento sobre o ritmo da atividade econômica neste segundo trimestre não são alentadoras. A agropecuária, apesar da sua maior contribuição para o PIB se concentrar no primeiro semestre, teve uma parte relevante já contabilizada no primeiro trimestre. Para o segundo, ainda se espera uma contribuição favorável, mas bem aquém da registrada no início do ano.

O setor serviços também não deve crescer a taxas muito elevadas, de acordo com as indicações do Índice de Confiança do FGV/Ibre. Entre março e maio de 2013 a confiança recuou 2,4% em relação aos meses de dezembro a fevereiro. Além disso, os dados referentes ao emprego no setor corroboram essa análise: tanto as contratações formais, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, como a população ocupada nas principais regiões metropolitanas, da Pesquisa Mensal de Emprego, têm perdido fôlego nos últimos meses. Como este setor é intensivo em mão de obra, os dados referentes ao emprego são um bom termômetro setorial.

Então as esperanças se voltam para a indústria. O crescimento neste e nos próximos trimestres dependerá muito do setor industrial. Segundo dados da PIM-PF, a produção da indústria de transformação de abril cresceu 1,7%. Mesmo se houver uma estabilidade em maio e junho, haverá um crescimento em relação ao trimestre anterior. As Sondagens do Ibre, contudo, mostram que essa recuperação não está garantida, pois os sinais ainda são muito dúbios. Por um lado, houve um aumento do Nível de Utilização da Capacidade (Nuci) entre abril e maio, de 84,2% para 84,6%, e melhora na percepção dos empresários sobre o momento presente. Mas, por outro lado, ocorreu uma piora das expectativas. Em relação aos outros subsetores da indústria, mesmo avaliando que o péssimo resultado do primeiro trimestre não irá se repetir, ainda não há sinais de crescimento muito expressivo.

Consolidando todas essas informações, a previsão do IBRE para o crescimento do PIB no segundo trimestre é de 0,7%. Para o ano como um todo é de 2,3% e para 2014, 2,6%. Com isso, a taxa média de crescimento no governo Dilma ficaria em 2%. Ou seja: saímos da quase estagnação, mas só conseguimos atingir taxas de crescimento muito modestas. Infelizmente esse número tão desalentador pode nem ser atingido, já que o ambiente externo tem sido um fator adicional de preocupação. Uma piora no cenário mundial pode limitar ainda mais nossa trajetória de crescimento neste e nos próximos anos.

'IA SAIR METENDO PORRADA EM POLÍTICO' - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 20/07

Na próxima segunda, Anderson Silva começa a filmar a comédia "Até que a Sorte nos Separe 2", de Roberto Santucci. Em entrevista, o campeão de MMA fala sobre política, cinema e as críticas após ser nocauteado no dia 6. Fez até piada com o fato de sua voz fina suscitar brincadeira sobre sua sexualidade.

Folha - A pergunta que não quer calar...
Anderson Silva - Tá bom, vai, eu sou gay [risos]. Não existe cura gay. Eu não tô curado de ser gay [A assessora interrompe: "Cuidado com o que você diz". Mais risos]. Não, eu não sou gay.

E o que acha do deputado Marco Feliciano?
Sou a favor da liberdade de expressão, para quem é gay e para quem não é também. Tá tudo bem.

E as críticas sobre a derrota?
Foi uma falha humana, que custou o título, um patrimônio brasileiro. Não sou máquina. Cometi um erro bobo, precisava ter dado um passo atrás e não dei. E gerou essa polêmica [pelo fato de] nunca ter sido nocauteado. Uma coisa nova que me deixou triste, me questionando se sou bom o suficiente.

Pode ter sido cansaço?
Tenho plena certeza de que foi estresse mental. Fiquei decepcionado com a atitude de alguns que não conhecem muito, imaginando que vendi a luta. Te colocam numa posição de intocável, imbatível.

Que lição ficou?
Fui do céu ao inferno muito rápido. Quando você começa a vencer muito não consegue detectar problemas.

Você já conquistou tudo?
Dentro do esporte, já conquistei tudo o que gostaria.

E fora do esporte?
Tô me preparando para atuar. O primeiro teste de fogo será "Até que a Sorte nos Separe 2". Sempre tive aquela coisa de querer ser um super-herói. Mas filme de luta eu não gostaria de fazer.

Com quem sonha em atuar?
Denzel Washington, Will Smith. Lima Duarte, Wagner Moura, Selton Mello, sou apaixonado por eles. Imagina eu contracenando com Regina Duarte?

Já olha para Hollywood?
Fiz algumas coisas lá. Não posso falar, mas foram três filmes nos EUA e no Canadá. Depois que eu parar, será possível me dedicar 100%.

E as manifestações no Brasil?
São válidas, se feitas da forma correta, sem vandalismo.

Como vê um atleta como Romário na política?
Ele se saiu muito bem. Mas uma andorinha não faz verão. O governo tem que investir mais em esporte e saúde. O negócio é esperar, de repente o Romário vira presidente.

Pensa em ser político?
Não tenho talento. Não tenho paciência pra sacanagem. E com político você tem que ser político. Não tenho estômago, ia sair metendo a porrada em todo mundo.

Como é ter Ronaldo patrão, sendo contratado da 9ine?
Você tem irmão? Tomo bastante esporro dele, mas não brigo. É relação de família. Ele e a 9ine me tratam como nenê. Tomo dura direto. É legal, pois a relação é de respeito. Vai durar pra sempre.

O que Ronaldo lhe disse depois da derrota?
Virou pra mim: Negão, eu te amo, cara. Porra, tá tudo certo. Bora pra outra. Levanta essa cabeça'.

TRIUNFO DA REPÚBLICA
No livro "1889", que Laurentino Gomes lança no mês que vem com tiragem recorde de 200 mil exemplares, o autor lança luz sobre uma personagem desconhecida nos livros de história, mas decisiva na Proclamação da República: a "bela e sedutora" baronesa de Triunfo.

TRIUNFO 2
A viúva gaúcha foi o centro de uma disputa amorosa. Marechal Deodoro, que perdera o coração dela anos antes para o senador Gaspar da Silveira Martins, só decidiu proclamar a República ao saber que dom Pedro 2º nomeou o desafeto para chefiar um ministério.

Até então, segundo a obra, Deodoro era monarquista convicto. A inimizade foi estopim da queda do império.

TRIUNFO 3
Laurentino Gomes fez pesquisas durante três anos para escrever o livro, incluindo estada de um ano nos Estados Unidos. "1889", que entra em pré-venda na internet na segunda, fecha uma trilogia composta por "1808" e "1822". No começo de setembro, "1808" será lançado nos EUA, em inglês.

CANETA
A Confederação Nacional da Indústria teme que Dilma Rousseff vete a prorrogação do Reintegra, programa que devolve parte dos impostos pagos pelas empresas exportadoras. No texto da MP 610, constam duas datas: dezembro de 2013 e final de 2014.

A redação permite ao governo vetar o inciso com prazo maior. Se o temor for confirmado, o setor produtivo será onerado em R$ 2 bilhões, segundo a CNI.

SANGUE NOVO
A Justiça negou direito de resposta a um vereador de Atibaia (a 64 km de SP) incomodado por ter sido chamado de "neófito" (novato, iniciante) em um jornal local. Jorge de Jesus Silva, o Jorge do Mercado Davi (PSL), que está no primeiro mandado, alegou no processo que o adjetivo o "desqualificava" e sugere "despreparo".

SANGUE NOVO 2
Na decisão, o juiz Alexandre Alves dá o significado do dicionário para argumentar que não tem "tom pejorativo". O vereador, que entrará com recurso, diz ter ficado mais irritado com acusações da reportagem, também citadas na ação.

OFF BROADWAY
Miguel Falabella conseguiu autorização para captar R$ 4,8 milhões pela Lei Rouanet para o musical "Memórias de um Gigolô". O espetáculo passará por São Paulo, Rio de Janeiro e outras quatro cidades num total de 80 apresentações.

RAP SERTANEJO
Marcelo D2 subirá ao palco da 20ª edição do Prêmio Multishow, em 3 de setembro, com os rappers do ConeCrewDiretoria. Zezé di Camargo & Luciano se apresentam com Paula Fernandes. A direção musical é de Kassin.

BALADINHA
"Vamo fazer uma baladinha sertaneja na casa do governador", disse o cantor Michel Teló ao abrir show no evento beneficente Inverno sem Frio, no Palácio dos Bandeirantes. A primeira-dama Lu Alckmin cantou timidamente o refrão de "Ai, se Eu Te Pego" e se divertiu ao lado de convidados como o empresário Olacyr de Moraes e a estudante Carolina Aquilino.

BRINDE À SAÚDE
Ana Hickmann e Karina Bacchi estiveram na inauguração da Casa da Mulher, centro de prevenção e apoio a mulheres com câncer de mama. Elas foram recebidas pela presidente do Instituto Arte de Viver Bem e idealizadora do espaço, Valéria Baraccat, e pelo médico Paulo Demenato.

CURTO-CIRCUITO
A exposição "Transit_SP", sobre arte africana, abre hoje, às 11h, na Oca, no parque Ibirapuera.

O músico Pigo Pegoraro canta na Serralheria, na Lapa, hoje, à 0h. 18 anos.

O Baile de Adelaide, com a banda Seu Chico e os DJs Tutu Moraes e Peu Araújo, é hoje, à 0h, no Estúdio, em Pinheiros. 18 anos.

China e Mombojó apresentam no Sesc Pompeia o show infantil "Coisinha", amanhã, às 18h30. Livre.

Peças de famosas como Sabrina Sato e Giovanna Antonelli estão em bazar beneficente amanhã, no bar Numero, a partir das 11h.

O “Volta, Lula!” - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 20/07

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva considera “burrice” ou “ingenuidade” a campanha interna de petistas descontentes com a presidente Dilma Rousseff no sentido de que ele volte a concorrer à Presidência da República. Também desencoraja os aliados dos demais partidos que o procuram. Mesmo assim, o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), seu maior amigo na Câmara, não desiste. Por quê?

Aparentemente, Devanir está cheio de razão. A pesquisa Ibope divulgada na quinta-feira mostrou que o PT teria muito mais facilidade para vencer as eleições com a candidatura de Lula do que com a de Dilma, que tem 30% das intenções de voto, contra 22% de Marina Silva (Rede Sustentabilidade), 13% de Aécio Neves (PSDB) e 5% de Eduardo Campos (PSB). Lula teria 41% e os adversários ficariam, respectivamente, com 18%, 12% e 3%. A vantagem de Dilma contra Marina Silva, portanto, seria de apenas 8%, ao passo que a de Lula seria de 23%.

Onde estaria, então, a “burrice” ou a “ingenuidade” de petistas como Devanir? No açodamento da proposta, com toda certeza. Por mais que a oposição pense o contrário, Dilma ainda não virou uma pata manca, para usar o velho jargão norte-americano. Com inflação em queda, se a economia mantiver o nível de emprego, terá condições de sustentar o favoritismo. Além disso, exerce o poder com muita gana. E o governo, como lembrava o mestre Norberto Bobbio, é a forma mais concentrada de poder, quando nada porque arrecada, normatiza e coage. A volta de Lula contra a vontade de Dilma seria um deus nos acuda. Sem chance de dar certo.

Reunião
A propósito, Dilma cancelou a ida à reunião de hoje do Diretório Nacional do PT, esnobando o convite do presidente da legenda, Rui Falcão. O encontro deve debater a conjuntura, mas os ânimos estão muito exaltados entre os integrantes das diversas tendências que compõem a direção do partido. Divergem sobre quase tudo, tanto na economia quanto na política.

PEC 37
Indicado pelo Departamento da Polícia Federal para negociar o destino da Proposta de Emenda à Constituição 37, o delegado Roberto Troncon, superintendente da PF em São Paulo, avalia que a derrota da proposta jogou o sistema de investigação criminal num quadro de instabilidade jurídica.


Vidraças
Manifestantes que saíram da Assembleia Legislativa, na manhã de ontem, promoveram quebra-quebra em Vitória. No Palácio Anchieta, antigo colégio de jesuítas, destruíram as janelas. O Batalhão de Missões Especiais (BME) reagiu com bombas de gás e tiros de bala de borracha.

Avalista
O deputado Cândido Vaccarezza, do PT-SP, aceitou o convite do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDN-RN), para presidir o grupo de trabalho que vai elaborar as propostas de reforma política, com o aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente do PT, Rui Falcão, e o líder da bancada, José Guimarães (PT-CE), somente não vetaram a indicação por causa disso.

Fogo amigo
O Palácio do Planalto não engoliu a indicação de Vaccarezza porque não controla o parlamentar. A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, pôs pilha no deputado Henrique Fontana (PT-RS), que disputava o comando da comissão, para articular o manifesto de 27 deputados contra Vaccarezza. Fontana foi relator do projeto de reforma política rejeitado pela Câmara este ano.

Menos médicos
A Federação Nacional dos Médicos (Fenam) anunciou que deixará seis comissões do governo das quais participa e outros cinco colegiados do Conselho Nacional de Saúde, em protesto contra a medida provisória que criou o Programa Mais Médicos e contra os vetos da Lei do Ato Médico, que regulamenta a medicina. Também anunciou que impetrará duas ações judiciais no Supremo para suspender os efeitos da medida.

Recepção
A recepção ao papa Francisco, prevista para segunda-feira, no Palácio Guanabara, promete mais confusão. O encontro, com a presença da presidente Dilma; do vice-presidente Michel Temer e de oito governadores, além de deputados e senadores, já gera protestos nas redes sociais. “O papa vai ser recepcionado com todo amor, respeito e dignidade no Rio, mesmo por seguidores de outras religões, ateus e agnósticos”, promete o governador Sérgio Cabral. A conferir.

Vândalos
O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), acusou ontem organizações internacionais — leia-se, Anonymous — de estimularem a violência nas manifestações na capital fluminense. Ele anunciou também a criação da Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas.

Um governo atolado vai desemperrar a economia? - ROLF KUNTZ

ESTADÃO - 20/07

Tiririca estava errado. No Brasil, sempre dá para piorar, como têm provado com notável diligência a impropriamente chamada classe política e o governo da presidente Dilma Rousseff. Qual a distância, hoje, entre otimismo e pessimismo nas previsões econômicas? A economia brasileira crescerá em média 3,2% ao ano entre 2014 e 2018, segundo a nova bola de cristal operada em parceria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pela instituição de pesquisas The Gonference Board, o indicador antecedente composto. No discurso oficial, um crescimento inferior a 4% ou 5% ao ano jamais foi admitido, até há pouco tempo, como padrão normal para o Brasil. Poderia ocorrer como consequência de choques externos ou em fases de ajuste muito forte, mas sempre como situação excepcional. Hoje, até uma expansão pouco superior a 3% por vários anos pode parecer improvável, quando se considera a crise de produtividade da economia nacional.
Não há cálculo seguro do potencial de crescimento do País, mas os números estimados vêm caindo nos últimos anos - da faixa de 3,5% a 4% até há pouco tempo para algo entre 2,5% e 3% nas últimas avaliações. O número de 2,5% foi indicado esta semana pela economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências, segundo o jornal Valor.
Calcular o produto potencial pode ser muito complicado, mas, apesar disso, economistas e formuladores de políticas têm excelentes motivos para levar em conta esse conceito. A existência de limites tem sido mostrada amplamente pela experiência. Pode-se ultrapassá-los de vez em quando, mas insistir na aventura acaba normalmente em desastre. Inflação e desequilíbrio externo são consequências bem conhecidas e muito frequentes na História do Brasil.
Inflação e desajuste crescente no balanço de pagamentos já estão presentes no cenário brasileiro, apesar do crescimento pífio dos últimos dois anos e meio. Ninguém deveria iludir-se com o recuo de alguns índices desde o mês passado. A redução dos preços dos alimentos tem efeito passageiro na formação dos indicadores, assim como a redução das tarifas de transporte coletivo. Grandes fatores inflacionários, como o desarranjo fiscal, a expansão do crédito e os aumentos salariais acima dos ganhos de produtividade, foram apontados, mais uma vez, na ata da última reunião do Comitê de política monetária (Copom), divulgada na quinta-feira. A ata destoou claramente do discurso presidencial do dia anterior.
Os autores do texto, no entanto, apontaram a possibilidade de um arrefecimento da demanda se nada for feito para reverter a tempo a crise de confiança do setor empresarial e das famílias. Por enquanto, "a demanda doméstica tende a se apresentar relativamente robusta, especialmente o consumo das famílias", segundo a ata. Mas os sinais de alerta já estão acesos. O texto contém o suficiente para indicar o risco de uma estagnação mais ampla, mas seus autores poderiam ter ido mais longe. Se o consumo cair, o investimento continuar insuficiente e a indústria continuar em marcha lenta, como ficarão as já estropiadas finanças públicas?
Não há resposta para o problema do crescimento, no Brasil, sem a ação do governo, mas o governo está atolado na própria incompetência gerencial, na indigência de ideias de seus formuladores de políticas e num esquema pegajoso e sufocante de alianças políticas.
No Brasil, dizem especialistas, nenhum presidente pode governar sem acordos, às vezes com parceiros da pior espécie. Pode ser. Em muitos países coalizões são indispensáveis à operação do governo. Alianças, no entanto, são em geral precedidas de algum entendimento a respeito de objetivos e métodos. É o caso, em países da Europa, da formação de gabinetes para enfrentar a crise fiscal e financeira.
A peculiaridade brasileira é outra: programas são secundários e o fundamento das alianças é a partilha dos benefícios do poder. Não se divide o governo como responsabilidade, mas como butim. Esse padrão se fortaleceu com a disposição petista de aparelhar e lotear a máquina federal. Nada mais natural, quando um partido chega ao Palácio do Planalto com um projeto de poder e nenhum projeto real de governo.
Sem alianças em torno de um programa, o governo é forçado a negociar com a base a votação de cada projeto, como se nenhuma ideia geral desse um sentido comum às várias propostas. Não se pode sequer confiar na aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias, condicionada pelos companheiros à adoção de um impropriamente chamado orçamento impositivo - na prática, uma simples manobra para tornar obrigatória a liberação de verbas para emendas.
A um governo com essas condições de funcionamento - e comandado por uma presidente cada vez mais isolada - cabe a missão de promover a mudanças necessárias para destravar a economia, aumentar seu potencial de crescimento e impor ao País um ritmo de expansão mais parecido com o dos emergentes mais dinâmicos.
Nenhuma tarefa importante será cumprida se a presidente Dilma Rousseff e sua equipe forem incapazes de começar a arrumação das próprias contas. Para isso será necessário desfazer a confusão de incentivos temporários e permanentes, trocar as ações pontuais pelas chamadas políticas horizontais e cortar o vínculo incestuoso entre o Tesouro e os bancos controlados pela União.
Tudo isso deverá ser apenas o começo de uma lista enorme de mudanças. Elevar a eficiência na elaboração e na condução de projetos de infraestrutura será outro desafio tão duro quanto urgente. Sem isso, até como exportador de matérias-primas o País será cada vez menos competitivo.
Que dirão dessa agenda os marqueteiros eleitorais da presidente?
Sem o governo nenhum problema se resolverá, mas o próprio governo é o primeiro problema.