segunda-feira, junho 01, 2020

Bolsonaro busca o impasse com o STF - LEANDRO COLON

FOLHA DE SP - 01/06

Presidente busca desqualificar Supremo porque sabe que tribunal pode ser a origem de sua derrocada


Agrava-se a pandemia do coronavírus e Jair Bolsonaro não está preocupado. Agrava-se a crise política e o presidente da República não se comporta como quem deseja o seu distensionamento.

Ele não se constrange em andar a cavalo na Esplanada e passear de helicóptero às custas do dinheiro público para forjar cenas de apoio popular.

Os lampejos de diálogo que sinaliza num dia esvaem-se em seguida quando prestigia um protesto antidemocrático. Mais uma vez, Bolsonaro foi o protagonista de um ato anti-STF na Praça dos Três Poderes.

A única preocupação do presidente hoje é estimular o impasse com o Supremo porque sabe que o tribunal pode ser a origem de sua derrocada.

Parece sem lógica, mas nada é melhor, na tática bolsonarista, do que desqualificar a corte no meio do jogo.

Um inquérito avança sobre a interferência do presidente, evidenciada pelos elementos notórios, em peças de comando da Polícia Federal.

Outro fecha o cerco no "gabinete do ódio" instalado no Planalto, sob a tutela de Carlos Bolsonaro, o 02. O TSE surge no xadrez como possibilidade de cassação da chapa eleitoral.

O compartilhamento do inquérito das fake news com a corte eleitoral pode municiar ações sobre o financiamento da vitória de Bolsonaro.

Um processo de impeachment ficaria pendurado na temperatura do Congresso. Para se proteger, Bolsonaro abriu o balcão de negócios com os políticos fisiológicos do centrão.

Sem compromisso com o país, esse grupo de partidos abraçou e traiu Dilma Rousseff. Bolsonaro não tem muita alternativa porque o Judiciário não dará trégua a ele.

Cresce um movimento de procuradores incomodados com o alinhamento de Augusto Aras ao Planalto.

O chefe da PGR vai ser pressionado internamente a não engavetar o volume de complicações do governo.

A sociedade se mobiliza com abaixo-assinados e outras manifestações.

Também contra o governo vê-se até o milagre (provavelmente bem efêmero) de torcidas organizadas de futebol rivais lado a lado.

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