Repentinamente, sem aviso prévio e sem escolhas, foram todos colocados lado a lado
Mais da metade da população brasileira está em isolamento, o que significa milhões de famílias em casa. Para estas, os desafios são grandes nessa situação. É necessário administrar o estresse, a ansiedade e os temores em relação à pandemia para que essas emoções e sentimentos não atrapalhem a vida cotidiana nem prejudiquem a saúde mental.
Quando há crianças e adolescentes em casa, é preciso controlar a vontade deles - manifestada ora em comportamentos, ora em sentimentos e também em rebeldia - de sair do isolamento e também colaborar com os estudos remotos.
Administrar o abastecimento da casa, o orçamento, afazeres domésticos, home office, dependendo de cada família, são demandas que acontecem diariamente. Mas, talvez, o desafio maior seja o relacionamento familiar. O estilo de vida por nós adotado priorizou o trabalho, o que significou um declínio na convivência familiar: pais dedicados ao trabalho e filhos na escola, muitas vezes em tempo integral, além de atividades extracurriculares, fizeram com que integrantes da família tivessem um período reduzido para estar todos juntos.
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Agora, repentinamente, sem aviso prévio e sem escolha, foram todos colocados lado a lado, frente a frente, nos mesmos cômodos da casa. Dia e noite, dia após dia. Como melhorar o relacionamento familiar? Como colaborar com crianças e adolescentes para que a angústia, a irritação e a frustração deles não conturbem mais a convivência já, a esta altura, um pouco desgastada? E o relacionamento entre adultos, como melhorar?
Com os filhos, é bom lembrar que eles compreendem cognitivamente os perigos da pandemia, mas ainda não conseguem renunciar à vida tal e qual conheceram antes! Por isso, insistirão muito nas suas demandas de “quero ir para a escola”, “quero brincar na casa de fulano”, “todos os meus amigos estão indo em festas”. Perder a paciência por causa da insistência deles não vale a pena.
Mas, se não é possível fazer concessões aos filhos, os pais podem rever algumas das regras estabelecidas que ajudavam a conduzir a vida familiar e a dos filhos antes do isolamento. Quanto menos regras a família estabelecer aos mais novos, mais fácil será bancar as principais. E a principal, neste período, e apenas para os que podem, é o distanciamento social.
Amenizar cobranças e rigor que os pais exigiam dos filhos em relação aos estudos também ajuda bastante a melhorar o relacionamento. Calma, gente! A produtividade nos estudos neste período poderá cair, sem prejuízo para o futuro deles. Por muito tempo, a boa avaliação escolar dos filhos serviu como baliza de avaliação dos pais: bom aluno levava a imaginar bons pais. Isso é bobagem. Antes, durante e após o isolamento, está bem?
E quanto à convivência entre os adultos da casa? Não está fácil, principalmente porque “de perto, ninguém é normal”. E estamos todos, em casa, perto, muito perto. Essa proximidade pode trazer maior intimidade, o que pode ser uma maravilha e também uma desgraça. Somos capazes de ver melhor os defeitos do outro. Podemos, também, ver virtudes que nunca tínhamos visto antes por falta de oportunidade - e de tempo. Então, equilíbrio: não ver apenas as falhas, mas as qualidades também. Simultaneamente, para que a imagem seja mais realista do que idealizada.
E os conflitos? Vão surgir os velhos, já até esquecidos, e alguns novos também. Para administrar bem um conflito, alguém tem de ceder. E fazer concessões mútuas é o que permite a construção interminável de um bom relacionamento para realizar pequenos acordos, buscar alguns consensos - alguns! - e suportar as renúncias que um relacionamento amoroso sempre supõe.
É PSICÓLOGA
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