terça-feira, outubro 30, 2018

As fábricas onde se constrói o futuro - CORA RÓNAI


As fábricas onde se constrói o futuro - CORA RÓNAI

O GLOBO - 30/10

‘Há 65 anos, a Coreia do Sul teve a sorte de ter líderes que estabeleceram a educação como prioridade nacional. Hoje, mostra o caminho’



As viagens que os jornalistas de tecnologia costumam fazer têm objetivos bem definidos: o lançamento de um produto aqui, uma feira ali. Mais ou menos como jornalistas que cobrem cinema, que vão ao lançamento de um filme ou a um festival. Essas são viagens mais ou menos previsíveis, que se repetem ao longo do ano, em geral para os mesmos destinos. Às vezes, mas muito às vezes mesmo, uma viagem foge desse padrão: é quando temos a chance de visitar as empresas que fazem a tecnologia que usamos, e que alteram a paisagem cultural.

Nessas ocasiões, vemos laboratórios de pesquisa e desenvolvimento e fábricas, conversamos com engenheiros e designers. São dias intensos em que mergulhamos nas origens dos aparelhos que temos em mãos, vemos os bastidores em que tomam forma e temos vislumbres do futuro.

São maravilhosas oportunidades de conhecimento mas, ao mesmo tempo, um pouco frustrantes, porque há limites para o que podemos ver, e mais limites ainda para o que podemos contar. Fotografia, nem pensar.

Voltei anteontem de uma viagem dessas. Fui para o outro lado do mundo para ver os estúdios de design da Samsung e a sua fábrica de semicondutores em Hwaseong, cidade que fica a pouco mais de uma hora de distância da capital Seul.

A Samsung é a maior fabricante mundial de chips de memória, e vem obtendo recordes de faturamento graças a uma demanda mundial sem precedentes de DRAM: só para dar uma ideia, quando se fala em “nuvem” é de servidores com este tipo de memória que se fala. No segundo trimestre deste ano, a empresa registrou um lucro de 14,87 trilhões de wons, ou R$ 50,1 bilhões — cinco vezes o lucro da Petrobras.

Não temos nada sequer remotamente parecido no Brasil.

A fábrica emprega cerca de 40 mil pessoas, mas nas suas monumentais salas limpas quase não se vê gente — o produto é feito, transportado e embalado por robôs, numa paisagem futurista de máquinas e trilhos aéreos por onde passam carrinhos em alta velocidade.

Nós só pudemos observar essa atividade através de janelões de vidro, como aquários. As salas limpas não se chamam assim porque são limpinhas, mas porque são rigorosamente livres de qualquer poeira ou resíduo. Chão e teto são feitos com grelhas, para circulação contínua de ar. Engenheiros e equipes de manutenção não podem sequer usar perfume, e passam por jatos de ar antes de vestir macacões e máscaras que praticamente só deixam os seus olhos de fora.

É fascinante: uma daquelas atividades que a gente pode acompanhar por horas, como o vaivém dos navios no canal do Panamá, admirando o engenho humano que lhes deu forma.

Para mim, a experiência teve um lado deprimente. Era impossível esquecer que, naquele momento, brasileiros se atacavam com ódio nas redes sociais discutindo as pautas jurássicas de uma eleição deplorável, sem perceber a distância cada vez maior que nos separa do mundo.

É preciso muita determinação, e uma educação de ponta, para chegar a um resultado desses: várias gerações de seriedade, competência e dedicação. Há 65 anos, a Coreia do Sul era um país devastado pela guerra. Teve a sorte de ter líderes que estabeleceram a educação como prioridade nacional. Hoje, mostra o caminho.

segunda-feira, outubro 29, 2018

Uma ciência política cética - LUIZ FELIPE PONDÉ


Uma ciência política cética - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 29/10

Há competência na maioria dos eleitores para escolher o presidente?


O número de títulos recentes que trazem um olhar cético sobre a democracia cresce. No caso específico que analiso aqui, esse olhar cético cai sobre a figura do eleitor. Não conhecemos nenhum sistema político melhor, mas isso não deve nos impedir de refletir de forma menos apaixonada sobre a democracia.

Existem dois modos de se fazer ciência política. Um primeiro, mais conhecido, pensa a democracia como projeto a ser aperfeiçoado nas suas virtudes. Modo muito necessário, que não é posto em dúvida por nenhum autor que represente uma abordagem mais empírica e cética da ciência política (este é o segundo modo de se fazer ciência política). As virtudes da democracia são o voto, os limites institucionais do poder representativo, a liberdade, a autonomia dos poderes, enfim, os pesos e contrapesos.

Bartels e Achen, em 2016, no seu “Democracy for Realists” (Democracia para Realistas), com sólida base empírica, nos chamavam a atenção para o fato de que a democracia é carregada de expectativas míticas (“folk theory of democracy”). Uma delas é que eleitores com maior formação educacional fazem escolhas “melhores” ou escapam de viés ideológico pesado na sua prática como eleitor. Pelo contrário, sabemos que muitos intelectuais, professores acadêmicos e jornalistas (os especialistas) votam a partir de cargas ideológicas latentes ou explícitas muito distantes do que se poderia chamar de escolhas racionais. Insistências em partidos e ou candidatos duvidosos são frequentemente objeto de culto devocional por parte de especialistas. Isso é óbvio.

Pessoas não especialistas não dispõem de tempo ou interesse prioritário dedicado a política e eleições. Na maioria das vezes estão morrendo, enterrando mortos, casando ou separando, tendo filhos e pagando contas demais para dar atenção ao tema. Segundo nossos dois autores, a maioria esmagadora das pessoas, quando se envolvem e debatem política, o fazem para reforçar suas crenças e destruir as dos outros, como as mídias sociais deixam muito claro.

Outra obra, ainda mais cética, também de 2016, escrita por Jason Brennan, “Against Democracy” (Contra a Democracia), vai mais longe em seu ceticismo para com a competência do eleitor. Os inteligentinhos não devem entender o título do livro ou a discussão que ele traz como uma proposta tosca de sistemas totalitários.

A dúvida de Brennan, que apresento aqui apenas em um dos seus aspectos, é se há competência na maioria esmagadora dos eleitores para decidir quem deve fazer a complexa gestão das sociedades. Brennan nos apresenta uma tipologia lúdica, mas nem por isso menos potente.

Os eleitores estariam divididos em três tipos. Os dois primeiros, representantes da maioria esmagadora; o terceiro, uma figura extremamente rara entre os eleitores. O primeiro são os “hobbits”, eleitores sem nenhum conhecimento sobre política ou temas como gestão de governo. Costumam ser desinteressados e votam de modo absolutamente inconsistente. Estes são disputados a ferro e fogo (por conta de seu peso numérico) pelo segundo tipo, os “hooligans”, eleitores aguerridos, com maior conhecimento de política, mas absolutamente enviesados ideologicamente, e cegos a qualquer crítica ao seu modo de pensar. O Brasil está tomado por “hooligans” nas mídias sociais. Agressivos, assertivos e impermeáveis a qualquer racionalidade cética em relação às suas crenças.

Por último, os “vulcanos” —referência ao personagem do planeta Vulcan, Mr Spock, do filme “Jornada nas Estrelas”, conhecido por sua inteligência superior, científica, sincera e racional. Um tanto blasés, bem informados e sem viés ideológico, não têm nenhum impacto nos resultados eleitorais, devido ao seu caráter numérico insignificante e à sua visão complexa da política. Em tese, salvariam a democracia de sua derrocada populista. Mas, infelizmente, são raríssimos. E a democracia é um regime de quantidades.

Outra obra cética é “People vs Democracy” (Povo x Democracia), de Yascha Mounk, essa de 2018. Para o autor, existem duas grandes ameaças à democracia. A primeira vem do caráter populista dela e de como as mídias sociais empoderam o indivíduo em sua tentação populista. Democracias podem eleger líderes muito populares e muito autoritários. Outra ameaça são agências como o Banco Central Europeu esvaziar o voto por considerá-lo irrelevante e incompetente em assuntos econômicos. Alguém discordaria que o cidadão comum não entende nada de economia complexa?

Luiz Felipe Pondé

Escritor e ensaísta, autor de “Dez Mandamentos” e “Marketing Existencial”. É doutor em filosofia pela USP.

A nova direita - DENIS LERRER ROSENFIELD


A nova direita - DENIS LERRER ROSENFIELD

ESTADÃO - 29/10

A ideologia de esquerda está perdendo espaço para a emergência de novas forças políticas



O quadro eleitoral mudou a face do País. Novos parlamentares, novos governantes. Os padrões que vinham orientando a conduta dos políticos sofreu uma brusca transformação, desde a importância da televisão, que perdeu a sua força em detrimento das redes sociais, até a afirmação do antipetismo como ideia transformadora. A ideologia de esquerda perde a sua aderência, abrindo espaço para a emergência de novas forças.

Até estas últimas eleições tínhamos um critério definido, articulado em torno da oposição PT-PSDB. O esquema vigente estruturava-se a partir de uma alternativa entre uma esquerda social-democrata e uma que detestava essa denominação, fazendo o jogo da democracia, apesar de não reconhecer o seu valor universal.

Os valores da esquerda funcionavam como uma espécie de terreno comum, balizando os termos da disputa. Segundo as necessidades eleitorais, os tucanos faziam uma leve inflexão à direita, para capturar os seus votos, embora não se reconhecessem nesse movimento. Os petistas, por sua vez, saíam de sua posição de esquerda ou de extrema esquerda rumo ao centro para não afugentar cidadãos comprometidos com a democracia e os princípios do Estado de Direito e de uma economia de mercado.

Tal forma de enfrentamento terminou sendo muito confortável para os dois contendores, que em seus melhores momentos de relacionamento se consideravam irmãos de uma mesma ideologia social-democrata, embora um deles não se reconhecesse nesse espelhamento.

À direita não lhe sobrou nenhum espaço. O PSDB considerava-a um mero lote de votos que nele desaguaria normalmente, uma vez que esse setor da população não votaria no PT. Nos poucos momentos em que a sociedade se pôde manifestar em função propriamente de valores foi no referendo sobre o Estatuto do Desarmamento, em que a maioria da Nação votou pelo direito à legítima defesa.

O voto popular foi posteriormente desconsiderado por meio de atos administrativos, como se a vontade da maioria não devesse ser respeitada. Não é casual que Jair Bolsonaro tenha partido precisamente da defesa desse valor ancorado no direito de proteção da própria vida, tendo visto aí uma brecha que terminou se mostrando uma grande avenida.

Acontece, porém, que a sociedade passou a não mais se reconhecer nesse jogo da esquerda. Viu-se não representada. Os tucanos desaprenderam de fazer oposição, oscilando em suas posições e não sabendo fazer o enfrentamento com o PT. Pior ainda, muitos de seus líderes terminaram comprometidos com a corrupção, tirando desse partido o que era seu traço distintivo.

O PT, por sua vez, abandonou qualquer disfarce democrático e partiu para o aparelhamento ideológico e partidário do Estado, tratando-o como se fosse uma espécie de coisa sua, a ser negociada com empresários que se locupletavam num capitalismo de compadrio. Para as massas de trabalhadores e desempregados sobraram as migalhas desse enriquecimento ilícito.

Agora, com Jair Bolsonaro e, no primeiro turno, com João Amoedo, para não falar dos novos deputados e senadores, não apenas saímos da oposição estéril entre esquerda e direita, como a direita passou a se apresentar em sua diversidade. O PT ainda procura, no desespero, caracterizá-la como fascista, pois nada mais sabe fazer do que considerar os seus adversários como inimigos que deveriam ser aniquilados: o “nós” contra “eles”. O partido nunca soube conviver com o outro, apenas procura sempre consolidar a sua própria hegemonia. Nem semelhantes consegue aceitar. Ciro Gomes e Marina Silva que o digam! Foram, em diferentes momentos, simplesmente descartados e desconsiderados.

A nova direita apresenta-se agora em duas correntes. Trata-se dos conservadores e dos liberais, em sua significação inglesa, pois na vertente americana os liberais são de esquerda, na acepção local da social-democracia. Uma, representada por Jair Bolsonaro, tem sua ideia reitora em posições conservadoras, outra por João Amoedo, que expressa posições liberais.

A primeira está, principalmente, ancorada na questão dos costumes e no direito à legítima defesa. Trata-se de valores morais que deveriam, segundo essa formulação, fundamentar as posições públicas, dentre as quais a luta contra o aborto, a defesa da família, o direito à posse de armas e o combate à ideologia de gênero nas escolas. Daí nasce o apoio maciço dos evangélicos e de setores católicos a Jair Bolsonaro.

No que toca à questão econômica, as posições são menos claras, embora o candidato tenha passado a levar a sério posições liberais, como a necessidade de privatização de algumas empresas estatais, a austeridade fiscal e a urgência da reforma da Previdência, por exemplo. Em todo caso, clara está a defesa da economia de mercado e do Estado Democrático de Direito, o direito à propriedade privada, a defesa das seguranças jurídica, física e patrimonial e a liberdade de imprensa e de expressão. Aqui, posições conservadoras recortam perfeitamente as liberais.

A segunda, a liberal, parte enfaticamente da defesa da economia de mercado, insistindo na redução substancial do peso do Estado, apregoando um programa rápido e abrangente de privatizações. No que tange aos costumes, diferencia-se dos conservadores por defender outros valores, como a liberalização do aborto e das drogas e a defesa das minorias. Ou seja, a noção de liberdade seria entendida de um modo mais amplo, vindo a significar um distanciamento dos princípios conservadores.

Os próximos anos certamente serão a ocasião de desenvolvimento e de contraposição entre essas posições à direita, vindo a ser propriamente protagonistas da luta política, e não mais meras coadjuvantes de posições de esquerda, que as instrumentalizava. Caberá, isso sim, à esquerda reinventar-se, abandonando, no caso do PT, seus delírios chavistas e antidemocráticos.

*Professor de filosofia na UFRGS.

Uma virada à direita - FERNANDO GABEIRA


Uma virada à direita - FERNANDO GABEIRA

O GLOBO - 29/10

Ganhar a eleição é difícil; derrotar forças poderosas, mais ainda. Mas dificuldades começam mesmo quando se chega ao governo



A roda rodou. Já vi muitos presidentes, subindo e descendo a rampa. Um deles descendo ao fundo da terra, Tancredo. Collor chegando e saindo de nariz erguido. Lula com tantas promessas.

Itamar, encontrei antes da posse, no Hotel Sheraton. Ele ainda não era o presidente, e eu tentava convencê-lo de que seria. Conheci Itamar desde a Rua Halfeld, a mesma onde Bolsonaro tomou a facada. Era um homem decente, tomava religiosamente uma sopinha ao entardecer. Ousou assinar o Plano Real.

Agora, sobe Jair Bolsonaro. Não foi uma rodada simples, dessas em que PT e PSDB se revezam. Foi mais ampla, como foi a de 64, só que agora sem Guerra Fria, num contexto democrático.

Senti a ascensão de Jair Bolsonaro. Impossível ignorá-la correndo o Brasil, observando as redes sociais. Quando levou a facada em Juiz de Fora, pensei: facada e tiro, quando não matam, elegem.

Se nossa cultura produziu essa certeza, isso quer dizer que a condenação da violência política tende a ser consensual. O presidente eleito deveria encarnar e expressar essa condenação. Não é um conselho, apenas uma leitura do Brasil. Os últimos dias de campanha foram ameaçadores. Prisão, desterro, banir da face da terra. Alta tensão. As universidades podem ser invadidas por ideias, não pela polícia.

O novo governo tem uma agenda brava, e só me resta usar esses meses de transição para estudar melhor e criticá-la com fundamento.

Outro campo de estudo se abre. A frase de Mano Brown — é preciso encontrar o povo — foi endereçada ao PT. Mas não vale também para o sistema partidário, a academia, a mídia, os especialistas? Como reconciliá-los com o homem comum?

Minha atitude com Bolsonaro será a que sempre adotei nos anos de convivência: respeito ao argumentar nos pontos divergentes e estímulo aos seus movimentos positivos. Alguns leitores condenam essa visão, sob o argumento de que normaliza a barbárie.

Mas se era assim com o deputado, por que não seria com o presidente, cujas ações mexem com nosso destino e com a imagem externa do Brasil?

Na minha visão de mundo, é impensável ofender os eleitores que escolheram outro caminho. O pressuposto é apostar na boa-fé da maioria do povo brasileiro.

Farei uma oposição sem truques ou medo, das que não visam ao poder. Apenas um desejo de ver o país retomando democraticamente os trilhos, um pouco também por filhos e netos. A sensação de continuidade ao lado da poesia são os territórios em que desafiamos a morte.

Ganhar a eleição é difícil; derrotar forças poderosas, mais ainda. No entanto, as dificuldades começam mesmo quando se chega ao governo. As qualidades para ganhar a eleição são diferentes das que impulsionam o governo. Para vencer, é preciso falar a linguagem do povo.

O grande talento nesse campo nem sempre nos socorre, quando a necessidade impõe grande esforço intelectual para a tomada de decisões. Da mesma forma, o tom agressivo de campanha é o inverso da generosidade que se espera de um eleito.

Bolsonaro não é um raio em céu azul. O panorama político no Brasil mudou. Pensadores de direita surgiram no cenário. Jovens liberais, propagandistas religiosos ocuparam as redes.

As manifestações de 2013 colocaram na rua multidões com uma aspiração difusa de melhores serviços. As de 2015 afunilaram na denúncia da corrupção, impulsionaram a queda de Dilma.

Uma esquerda, sem élan para se reinventar ou base teórica para vislumbrar o horizonte, tornou-se uma presa fácil no debate de ideias.

Foi uma campanha da era digital. Hoje, todos falam, compartilham. Baixo nível? Talvez. Mais democrático? Sem dúvida. Foi também facada, fake news, acusações, brigas entre famílias, amigos, ansiedade, tentativas de suicídio — um psicodrama nacional.

Fiz tudo para manter a cabeça fria. É natural levar caneladas dos dois lados. Caneladas e balas perdidas são parte do jogo.

Outro dia, alguém escreveu sobre mim: se ficar como ele, peço aos amigos que me ajudem numa eutanásia. Não tenho por hábito contestar essas coisas da rede. Nesse caso, a resposta seria simples: obrigado por morrer em meu lugar. É uma gentileza nesses tempos sombrios.

É preciso viver um pouco mais para ver um país mais tranquilo, fraternal. Não sou ingênuo a ponto de imaginar esquerda e direita de mãos dadas. Não se trata de lirismo. As emoções da campanha ofuscaram um pouco a gravidade de nossos problemas.

Agora, voltamos à vida real.

sábado, outubro 27, 2018

O Brasil velho está unido - FREITAS SOLICH



O Brasil velho está unido  - FREITAS SOLICH

O BLOG DO MURILO - 27/10

A grande mídia que vive de verba do governo está unida aos artistas que vivem de fazer filme ruim financiado por estatais através da lei Rouanet.

Estes estão unidos aos movimentos sociais que ganham boas verbas governamentais para manter sua estrutura de arregimentar pessoas.

Esses últimos estão unidos com categorias de funcionários que trabalham em estatais, com benefícios especiais.

Juntam se a esses, os políticos com algum risco de serem alcançados pela Lavajato.

Tem também os bandidos ja condenados em primeira instância que esperam reverter o entendimento de prisão em segunda instância.

Tem os jornalistas, que faturam com blogs e emissoras de TV financiados com empresas públicas , ou indiretamente através de grandes empresas prestadoras de serviço para estatais e governo.

Tem também uma multidão de cientistas que viajam pelo mundo apresentando trabalhos científicos inúteis, financiados por agências científicas públicas , que se preocupam mais em números de publicações , do que com resultados efetivos das suas pesquisas para a sociedade.

Ia me esquecendo de professores de universidades públicas que arrumam qualquer projeto científico, como pretexto, para reduzir a carga horária em sala de aula.

Tem aquele empresário que consegue financiamentos baratos com bancos de fomento publico.

Um grupo forte que também faz parte dessa grande união, são aposentados, que ganham mega aposentadorias ou que esperam ganhar uma num futuro próximo.

Faltou alguém ?

Falta você , que é empregado na iniciativa privada, que tem que entregar parte do seu dinheiro para o FGTS, impostos e um INSS que sustenta os super bem aposentados, mas que só vai lhe pagar no máximo o teto de 5.645,61 Reais.

Falta você que pegou suas economias, e investe num pequeno negócio, e trabalha duro pelo seu sonho, até ter o pesadelo , de cruzar com o governo e ele fazer o possível para lhe multar, ou cobrar alguma taxa de licença, meramente burocrática.

Falta você que abre seu pequeno comércio todo dia , e fica rezando que algum cliente apareça, para no final do mês, conseguir honrar seus pagamentos com fornecedores e funcionários.

Falta você que não tem emprego, e quando alguém pensa em lhe contratar, desiste porque tem medo que a complexa legislação torne a contratação muito perigosa para o seu pequeno negocio. Freitas Solich

quinta-feira, outubro 25, 2018

O ego de Lula - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 25 Outubro 2018

Lula não consegue soar democrático nem quando isso poderia favorecer o campo petista. Sua carta é uma reafirmação das mistificações que fazem de Lula um dos demagogos mais perniciosos da história nacional

Por mais que o PT tenha se esforçado para fingir que seu candidato à Presidência, Fernando Haddad, não é um mero preposto de Lula da Silva, há algo que nenhum truque de marketing será capaz de mudar: o PT sempre foi e continuará a ser infinitas vezes menor do que o ego de Lula. Na reta final da campanha eleitoral, justamente no momento em que Haddad mais se empenha para buscar apoio fora da seita lulopetista, o demiurgo de Garanhuns, decerto inquieto na cela em que cumpre pena por corrupção, resolveu divulgar uma carta para exigir - a palavra adequada é essa - que todos reconheçam a inigualável grandeza de seu legado como governante e que votem no seu fantoche se estiverem realmente interessados em salvar a democracia brasileira, supostamente ameaçada pelos “fascistas”.

O tom da mensagem é o exato oposto do que seria recomendável para quem se diz interessado em angariar a simpatia daqueles que, embora não tenham a menor inclinação para votar em Jair Bolsonaro (PSL) para presidente, tampouco gostariam de ver o PT voltar ao poder. Para esses eleitores, somente se o PT reconhecesse, de maneira honesta e sem adversativas, seu papel preponderante na ruína econômica, política e moral do Brasil nos últimos anos, cujos frutos mais amargos foram o empobrecimento do País e a desmoralização da política, talvez houvesse alguma chance de mudar de ideia. Mas isso é impossível, em se tratando de Lula da Silva, que se considera o mais importante brasileiro vivo e o maior líder que este país jamais terá.

Na carta em que diz que “é o momento de unir o povo, os democratas, todos e todas em torno da candidatura de Fernando Haddad, para retomar o projeto de desenvolvimento com inclusão social e defender a opção do Brasil pela democracia”, Lula não reserva uma única vírgula ao desastre econômico do governo de Dilma Rousseff, outra de suas inesquecíveis criações. Ao contrário: afirma que Dilma sofreu impeachment em razão de uma imensa conspiração de “interesses poderosos dentro e fora do País”, incluindo “todas as forças da imprensa” e “setores parciais do Judiciário”, para “associar o PT à corrupção” - omitindo escandalosamente o fato de que Dilma foi cassada exclusivamente por ter fraudado as contas públicas com truques contábeis e pedaladas. O petrolão, embora tenha sido motivo mais que suficiente para que o PT fosse defenestrado do poder para nunca mais voltar, não foi levado em conta no processo.

Como jamais teve compromisso real com a democracia - que pressupõe respeito a quem tem opinião divergente, para que seja possível o consenso - e também nunca reconheceu a legitimidade de nenhum governo que não fosse o seu ou de seus títeres, Lula não consegue soar democrático nem quando isso poderia favorecer o campo petista. A carta, ao contrário, é uma reafirmação de todas as mistificações que fazem de Lula um dos demagogos mais perniciosos da história nacional.

Lá estão as patranhas que tanto colaboraram para fazer do antipetismo um movimento tão sólido e vibrante, conforme atestam as pesquisas de opinião. Lula, sempre no plural majestático, diz que “fizemos o melhor para o Brasil e para o nosso povo” e por isso “tentam destruir nossa imagem, reescrever a história, apagar a memória do povo”. O sujeito desse complô, claro, é indeterminado, mas unido no que Lula chamou de “ódio contra o PT”. Tudo porque, diz Lula, “tiramos 36 milhões de pessoas da miséria”, porque “promovemos o maior ciclo de desenvolvimento econômico com inclusão social”, porque “fizemos uma revolução silenciosa no Nordeste” e porque “abrimos as portas do Palácio do Planalto aos pobres, aos negros, às mulheres, ao povo LGBTI, aos sem-teto, aos sem-terra, aos hansenianos, aos quilombolas, a todos e todas que foram discriminados e esquecidos ao longo de séculos”. Nada mais, nada menos.

Esse panegírico só serve para mostrar que Lula é mesmo incorrigível - e que seu arrogante apelo para “votar em Fernando Haddad” e assim “defender o estado democrático de direito” contra a “ameaça fascista que paira sobre o Brasil” não vale o papel em que está escrito.

terça-feira, outubro 23, 2018

Um passeio pelo Vale do Silício - CORA RÓNAI


Um passeio pelo Vale do Silício - CORA RÓNAI
O GLOBO - 23/10


Hoje escrevo de Palo Alto, uma pequena cidade a cerca de meia hora de São Francisco, na Califórnia. Cheguei no domingo à tarde, fiz check-in no hotel e abri o Google Maps para me localizar. Já estive algumas vezes aqui, mas há bastante tempo, nos áureos tempos da primeira bolha da tecnologia, nos anos 90, quando o Vale do Silício fervia; era uma cidade pequena, sossegada e bonitinha, com casinhas de classe média simpáticas que me despertavam uma vaga nostalgia de gramados e quintais.

Palo Alto continua pequena, continua sossegada e continua bonitinha; mas hoje é um ninho de milionários. A classe média mora longe daqui. As casinhas continuam mais ou menos as mesmas, mas seu preço médio disparou e está em torno de US$ 2,5 milhões. Com menos de quatro ou cinco milhões não se compra uma com tamanho razoável para uma família e mais de um banheiro. O custo de vida é estratosférico.

A cidade é uma das mais importantes do Vale e dezenas de empresas de tecnologia nasceram aqui, entre elas Google, Facebook, o próprio Waze, Pinterest, Tesla, Skype, PayPal, Logitech. Há centenas de empresinhas menores e de start-ups na área. É possível que agora mesmo, enquanto escrevo, alguém esteja tendo uma ideia brilhante que vai mudar o mundo.

A cinco quarteirões do hotel, seguindo pela Emerson, chega-se a uma rua chamada Addison; virando à esquerda e andando mais dois quarteirões, encontra-se o número 367. É uma área residencial bem arborizada, com lindos jardins e, nessa época do ano, muitas folhas secas no chão.

Aparentemente, o número 367 não tem nada demais. É uma casa parecida com todas as outras da rua; o terreno é pequeno, e ela ocupa quase toda a sua largura. É de madeira, tem colunas verdes e janelas envidraçadas, uma sebe florida. Não há nada que chame a atenção na sua construção – mas, em frente, uma placa alerta aos passantes (que não são muitos) que ali nasceu o Vale do Silício.

Foi na garagem dessa casa, um singelo galpão de madeira, pequeno pelos padrões atuais, que os jovens William Hewlett e David Packard, recém-saídos da vizinha Universidade de Stanford, começaram a trabalhar num equipamento de áudio. Eles formalizaram a parceria em 1939, jogando uma moeda no ar para saber se a companhia que estavam fundando se chamaria Hewlett-Packard ou Packard-Hewlett. Alguns anos depois, a HP entrou no ramo dos semicondutores, e o resto, como dizem por aí, é história.

O termo “Vale do Silício” foi usado pela primeira vez em 1971. A expressão vai além de uma simples definição geográfica, e hoje é praticamente sinônimo da poderosa indústria de tecnologia dos Estados Unidos.

É impossível andar pelas ruas de Palo Alto sem pensar em toda a revolução que brotou a partir dessa região. Também é impossível para mim não pensar em como o Brasil está distante do front da tecnologia, e em como essa distância tende a aumentar num país que dá tão pouco valor ao ensino.

Deveríamos estar todos na rua brigando, não por candidatos, mas por uma política de educação real, que resgate o nosso futuro.

Geraldo Azevedo pede desculpas ao General Mourão

Geraldo Azevedo pede desculpas ao General Mourão

Mourão diz que vai processar compositor por fala sobre tortura; Azevedo pede desculpas

O Estado de S.Paulo -23 Outubro 2018 | 13h10

O general da reserva Hamilton Mourão, vice na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), disse que vai processar o cantor e compositor que o acusou de torturá-lo durante o regime militar

O general da reserva Hamilton Mourão, vice na chapa do candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, disse que vai processar o cantor e compositor Geraldo Azevedo que o acusou em um show no fim de semana de torturá-lo durante o regime militar. Ao Estado, Mourão afirmou que em 1969, ano em que o artista esteve preso pela primeira vez, ainda não tinha ingressado no Exército. Procurado pela reportagem na manhã desta terça-feira, Azevedo negou que o candidato a vice na chapa de Bolsonaro estivesse entre os militares que o torturaram quando ele foi preso, em 1969 e em 1974.

“É uma coisa tão mentirosa”, disse Mourão. “Ele me acusa de tê-lo torturado em 1969. Eu era aluno do Colégio Militar em Porto Alegre e tinha 16 anos”, afirmou o general da reserva. “Cabe processo.” Hamilton Mourão entrou em 1972 na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e se formou em 1975. É filho do general de divisão Antonio Hamilton Mourão e Wanda Coronel Martins Mourão.

As declarações de Geraldo Azevedo, dadas em show no final de semana na Bahia, foram citadas pelo candidato a presidente pelo PT, Fernando Haddad, em sabatina, nesta terça-feira pela manhã, no jornal “O Globo”.

Em nota, o artista pediu desculpa “pelo transtorno causado pelo equívoco e reafirmou sua opinião de que não há espaço no Brasil de hoje para a volta de um regime que tem a tortura como política de Estado e cerceia a liberdade de imprensa”.

segunda-feira, outubro 22, 2018

Esquerda fetiche - LUIZ FELIPE PONDÉ


Esquerda fetiche - LUIZ FELIPE PONDÉ

We dont need no education (não precisamos de educação) é coisa de teenager bobo
FOLHA DE SP - 22/10


Sempre desconfiei de artistas com pautas políticas. Continuo desconfiando: artista falando de política é puro marketing. Recentemente, tivemos um exemplo no show do Roger Waters e sua “inserção” no debate político brasileiro. Sua crítica é puro fetiche gourmet.

Artistas assim (existem vários exemplos nacionais e internacionais, mas não vou citá-los, você os conhece bem) ganham rios de dinheiro sendo “progressistas”. Trata-se de uma espécie de gourmetização da crítica política, propício a shows de rock and roll.

O mundo da arte, do audiovisual e da cultura é um dos mais violentos e antiéticos da face da Terra. Quem discordar, mente ou desconhece o assunto.

A informalidade e o “capitalismo selvagem” que regem esse campo de negócios é reconhecidamente agressivo. Jovens, e pessoas em geral, são frequentemente explorados em larga escala quando tentam entrar nesse mercado de trabalho. Além de serem mal pagos.

Seja música, seja cinema, seja teatro ou afins, muito do que os artistas criticam no mundo do “capital” à sua volta é prática comum nesses mesmos campos de negócios. Entre a vaidade e a vocação ao abuso, os artistas (não todos, é claro) são menos confiáveis do que a “velha política”.

Outro fator importante é o desconhecimento em mínima profundidade dos temas menos clichês da política contemporânea —que é uma selva densa de problemas sem soluções.

As críticas levadas a cabo por esses artistas são mais marketing profissional e pessoal deles do que propriamente conhecimento instalado sobre esses temas.

O que Waters sabe da realidade brasileira (ou mesmo de outro tópico constantemente tratado por ele, a saber, o conflito israelo-palestino) que não seja fruto da sua própria e distante bolha ideológica ou dos jargões “progressistas”? O que ele sabe que não seja fruto da construção de uma imagem de consumo associado a este mesmo vago conceito de “progressista”?

Há um pacote ideológico que alimenta o marketing de artistas há muito tempo, começando pelo “Che suave”.

O conceito de cognição política, crescente no tratamento do comportamento dos eleitores e agentes políticos em geral, cai bem aqui.

Antes de tudo, um profissional que se dedica (mesmo que, competentemente, do ponto de vista artístico) a música, dificilmente conseguirá reunir tempo e ferramentas específicas para construir um mínimo repertório para realizar uma cognição política minimamente consistente.

Projetar imagens de crianças da África em shows de rock and roll é o que há de mais banal em marketing da própria banda. Aquilo que, de certa forma, era “raiz” em artistas como John Lennon, hoje não passa de estilo “nutella” em bancas milionárias.

Voltando a cognição política, conceito que demonstra a quase incapacidade de profissionais dedicados a política em, de fato, compreender de forma minimamente consistente o mundo político contemporâneo para além do mimimi ideológico, quase nos leva ao impasse cético nas análises de temas políticos, principalmente depois que as mídias sociais trouxeram a superfície a fala de milhares de pessoas que antes eram mudas, e não passavam de objeto de fantasia idealizada por parte desses mesmos profissionais da análise política.

Parte do transtorno e da desorientação que vivemos hoje quando pensamos na democracia não advém da redução da participação popular nas opiniões políticas, mas da saturação aguda dessa mesma participação.

Estamos afogados na “soberania popular” tagarela nos últimos anos. E isso não vai mudar porque as ferramentas de comunicação tendem a dispersar cada vez mais essa tagarelice (que Alexis de Tocqueville, em 1835, já apontava no seu “Democracia na América”).

E venhamos e convenhamos, a música de Waters é grandiosa, mas dizer que “we don’t need no education...” (nós não precisamos de educação) é, como já apontou o psiquiatra inglês Theodore Dalrymple, coisa de adolescente bobo.

Resistir ao fascismo sempre foi, de fato, urgente. Mas, é bom lembrar que o fascismo sempre gostou de grandes surtos coletivos regados a palavras de ordem e multidões.

Luiz Felipe Pondé

Escritor e ensaísta, autor de “Dez Mandamentos” e “Marketing Existencial”. É doutor em filosofia pela USP.

As prisões mentais - FERNANDO GABEIRA


As prisões mentais - FERNANDO GABEIRA

Bolsonaro terá de moderar retórica. E oposição precisa tomar consciência da situação delicada em que o país entra
O GLOBO - 22/10

Lula está preso, meu caro. Repito a frase de Cid Gomes que ecoou na rede, suprimindo a palavra babaca. Não por correção política. A palavra iguala a estupidez à vagina. Apenas para lembrar, com humildade, como certos sentimentos estão arraigados em nossa cultura e emergem de nosso subconsciente.

A líder da direita francesa, Marine Le Pen, afirmou que algumas frases de Bolsonaro são inaceitáveis na França. Mas não o foram no Brasil.

Humildade aqui significa reconhecer que mudanças culturais levam tempo para se consumar. Não são como uma ponte destruída pela chuva que se reergue rapidamente. Nem mesmo uma nova capital que pôde ser construída no Planalto. Às vezes, atravessam gerações.

Lula está preso. É natural que o PT não aceite isso. Mas a forma de recusar foi chocar-se diretamente com a Justiça, tentar dobrá-la com manifestações, apoio externo e uma inesgotável guerra de recursos legais.

Compreendo que isso era visto como uma forma de acumulação de forças. Mas, na verdade, também acumulou rejeição.

Quando Haddad foi lançado, cresceu rapidamente exibindo a máscara de Lula. No segundo turno, a máscara envelheceu como o célebre retrato de Dorian Gray.

Mas o período que se abre agora será de tanto trabalho, que talvez não tenhamos mais tempo para nos patrulharmos. São tempos complexos, que demandam mais humildade ainda.

Num debate em São Paulo, depois do primeiro turno, confessei como o processo me surpreendeu. As pesquisas indicavam uma grande vontade de renovação. Quando os partidos se destinaram quase R$ 2 bilhões para a campanha, concluí que a renovação seria mínima.

Apesar de ter feito algumas campanhas no território digital, minha reflexão ainda se dava no quadro analógico. A renovação, cuja qualidade ainda é discutível, aconteceu. Com R$ 53 milhões, Meirelles teve menos votos do que o Cabo Daciolo, um exemplo de como os velhos parâmetros foram para o espaço.

As próprias pesquisas que tanto critiquei no passado porque achava que favoreciam Sérgio Cabral, hoje as vejo com nostalgia. Existe informação na pergunta clássica em quem você vai votar.

Mas, para detectar tendências, é preciso um oceano de dados e capacidade de análise. As pesquisas envelheceram, sem que muitos se dessem conta. Mas não apenas elas envelhecem, num mundo em que a inteligência artificial avança implacavelmente.

E é nesse mundo que teremos de navegar. A situação econômica internacional não é favorável como no passado. Nos artigos em que trato de alguns de seus aspectos, começo sempre com o paradoxo: os Estados Unidos, que lideraram uma ordem multilateral, decidiram abandoná-la. Será preciso mais do que nunca acertar os passos aqui dentro. Isso significa gastar menos, fazer reformas.

Quando estava na Rússia, os primeiros protestos contra a reforma da Previdência foram abafados pelo oba-oba da Copa do Mundo. Soube que agora a popularidade de Putin caiu 20 pontos precisamente por causa dela. Em outras palavras, a vida não é nada fácil para quem precisa reformar o Estado e fazer um ajuste fiscal.

Nesse futuro tão nebuloso que nos espera, a tese do quanto pior melhor é atraente, no entanto, pode ser também um novo erro de avaliação.

Quando ficamos muito concentrados nos problemas internos, perdemos um pouco de vista nossa inserção internacional. A imagem do Brasil lá fora mudou. O próprio Bolsonaro começará seu mandato como um dos presidentes mais rejeitados pela imprensa planetária. Ele terá de moderar sua retórica. E quem faz oposição precisa tomar consciência da situação delicada em que o país entra.

A sobrevivência da democracia não está ameaçada. Mas algumas escoriações podem empurrá-la para o viés autoritário que hoje cresce no mundo.

As fake news, por exemplo, sempre existiram, mas hoje têm um peso maior, pelo alcance e velocidade. Utilizá-las sem escrúpulos e denunciá-las no adversário apenas confirma o pesadelo moderno da decadência da verdade.

É muito difícil chamar à razão a quem se considera o dono dela. Os intelectuais condenam as escolhas populares, mas, às vezes, não percebem a sede de sinceridade que há por baixo delas. Pena.

domingo, outubro 21, 2018

"WhatsApp é gópi - GUILHERME FIÚZA


"WhatsApp é gópi - GUILHERME FIÚZA

GAZETA DO POVO - PR - 20/10


Se você pensa que viver fantasiado de herói progressista é moleza, está enganado. A vida é dura. Pensa que é só inventar uma mentira charmosa, dessas que funcionam maravilhosamente no Facebook, no Baixo Gávea e na Vila Madalena, e viver disso para sempre? Negativo.

Você terá que ser mais e mais criativo, se superar a cada dia – até chegar às raias da genialidade ao propagar que o WhatsApp ameaça a democracia. Sim, você pode! Mas não pense que é fácil.

Tudo começou quando deu errado o truque de reabilitar os bandidos gente boa do PT lutando contra a ditadura do século passado. Até chegou-se ao milagre de levar ao segundo turno o partido que depenou o Brasil, mas aí o Ibope e o Datafolha – que vinham sendo super legais e parceiros – tiveram que desmontar aquele cenário da vitória final inevitável contra a caricatura da direita, tão bem alimentada por mais de um ano.

Deu ruim, e o jeito foi mostrar a real: Haddad morrendo na praia de novo.

Mas se você é um suposto gladiador da elite cultural, ideias não te faltam. Quem passou mais de ano espalhando fake news do Rodrigo Janot, transformando açougueiro biônico (laranja bilionário do Lula) em denunciante da corrupção generalizada, pode criar outras narrativas espertas.

Foi assim que a cruzada do petismo enrustido foi dar nos costados do WhatsApp. A mensagem é clara: só quem está autorizado a espalhar fake news é veículo de mídia tradicional aparelhado pela narrativa politicamente correta. Ou seja: você só pode veicular notícia falsa se ela tiver sido produzida genuinamente pela sua empresa. Como o WhatsApp não produz notícia, não tem a prerrogativa de espalhar mentira.

Fica combinado assim: Lula ia salvar a democracia de dentro da cadeia e foi impedido por um golpe de estado do WhatsApp. Quem achar a formulação complexa demais, peça ao companheiro Cid Gomes para resumir.

Decidido o novo script dos cafetões da bondade, todos se tranquilizaram e partiram para o bom e velho show de bravura cívica a 1,99. Surgiu inclusive um slogan “ditadura nunca mais”, com um complemento que acabou não circulando, mas nós publicamos a seguir:

Ditadura nunca mais, a não ser uma como a do Maduro, ou a do Ortega, ou a do Kadhafi, ou a do Ahmadinejad, ou a do Saddam, ou a de algum outro amigo do Lula que arranque o couro do povo sem perder a ternura e a simpatia do Roger Waters. O resto a gente não aceita.

E o show tem que continuar. Preocupado com a liberdade de expressão, o grupo de artistas e intelectuais decidido a garantir a qualidade do conteúdo nas mídias e no WhatsApp deveria criar logo uma junta de notáveis para tomar conta disso. Alguns nomes naturais, dado o histórico do movimento, seriam os dos pensadores Nicolás Maduro, Lindbergh Farias, Robert Mugabe e Renan Calheiros.

Para mostrar que quem ameaçar a democracia eles prendem e arrebentam, poderiam difundir com mais intensidade o vídeo do professor Haddad explicando por que Stalin era melhor que Hitler: porque, diferentemente do nazista alemão, ele lia os livros de suas vítimas antes de fuzilá-las. Não é lindo?

Vai ver é por isso que há editores de livros no manifesto democrático em defesa do poste iluminado do PT.

O importante é afirmar, em defesa do estado de direito e das liberdades individuais, que o WhatsApp é golpista – e nós podemos provar. Por exemplo: estava tudo correndo perfeitamente bem na democrática operação de abafar a notícia de que o PT, na sua metamorfose verde-amarela, apagou seu apoio à ditadura pacifista e sanguinária do companheiro Maduro.

Se acabamos de demonstrar que Stalin é um ser evoluído, é claro que está tudo certo com a prática de fazer informações sumirem do mapa e, também, com a consequente ocultação do expurgo.

Aí o que faz o WhatsApp? Espalha essa informação que tinha sido tão bem escondida. É ou não é golpista?

Outra notícia que estava fora das manchetes e esse aplicativo fascista mandou para todo mundo foi a da conclamação do companheiro Boulos à invasão da casa de Bolsonaro. É o tipo da informação irrelevante, considerando que Boulos é ex-companheiro de partido do homem que tentou matar o candidato com uma facada – portanto está todo mundo cansado de saber que o negócio deles é barbarizar geral, nenhuma novidade aí.

O Brasil não sabe o que será o provável governo Bolsonaro. Mas os progressistas de carnaval que cultivaram tão dedicadamente a polarização burra em que o país entrou já sabem o que farão: atiçarão sofregamente a boçalidade para tentar continuar vivendo (bem) como vítimas profissionais."

Alta ansiedade - J.R GUZZO


Alta ansiedade - J.R. GUZZO

Vivemos momentos de "nervosia", palavra antiga, mas muito precisa, para descrever essa atmosfera de irritabilidade, impaciência e hostilidade nas eleições
REVISTA VEJA


Muita coisa pode ser dita sobre as eleições presidenciais que chegam daqui a pouco ao seu turno decisivo, mas um dos pouquíssimos pontos em que todos estariam de acordo, talvez o único, é que nunca se viu na história deste país uma disputa política que deixasse tanta gente à beira de um ataque de nervos. Um ou outro dinossauro que estava vivo nas eleições de Getúlio Vargas em 1950, Juscelino Kubstichek em 1955 ou de Jânio Quadros em 1960, certamente dirá: “Não, não me lembro de ninguém, na época, que tenha tido algum surto de neurastenia tão desesperado por causa de eleição como esses que a gente vê hoje todo o santo dia”. Depois disso houve sete eleições seguidas para presidente ─ a que elegeu Fernando Collor, as duas de Fernando Henrique, mais as duas de Lula e, enfim, as duas de Dilma Rousseff. Saiu muita faísca, é claro, houve muito bate-boca e xingatório, e muita mãe acabou sendo posta no meio, mas em geral foi mais gritaria de torcida do que briga com fuzil AK-47 no alto do morro. Nem Dilma foi capaz de gerar a ira radioativa que explode agora do Oiapoque ao Chuí por causa de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad ─ e olhem que Dilma não é fácil, em matéria de despertar os instintos mais primitivos do eleitorado, como poderia dizer o ex-deputado Roberto Jefferson. E antes disso, em momentos remotos da nossa história política ─ será que não teria havido alguma campanha tão enfurecida quanto a atual? Antes disso, para falar a verdade, não havia eleições que pudessem ser realmente chamadas de eleições; o New York Times ou o Le Monde de hoje jamais aceitariam, por exemplo, as eleições de um Campos Salles ou um Washington Luís. Mais atrás no tempo, então, já se começa a falar no Regente Feijó ou em José Bonifácio ─ e aí é que ninguém sabe mesmo de absolutamente nada.

O fato é que estamos vivendo momentos sem precedentes de “nervosia” ─ palavra de uso antigo, mas muito precisa, para descrever essa atmosfera de irritabilidade, impaciência e hostilidade geral que se levanta hoje em dia a cada vez que o cidadão diz que vai votar em Bolsonaro ou Haddad. Em geral, as brigas de campanha costumam se limitar aos próprios candidatos. Hoje, emigraram com mala e cuia para o meio de uma boa parte dos eleitores. É entre eles, e não nos palanques ou “debates” na televisão, que está havendo agora derramamento de sangue ─ inclusive de sangue mesmo. Não é preciso, para acender a banana de dinamite, gritar “Mito!” no meio de um ajuntamento petista, ou de vir com um “Lula Livre!” na comissão de frente de um bloco bolsonarista. O desastre, nesta campanha de 2018, pode acontecer no aconchego do seu próprio lar. Você diz que vai votar num ou no outro, e dali a pouco está formado um barraco rancoroso em sua casa, com a súbita troca de ofensas, palavras malvadas e ressurreição de velhos ressentimentos, no que deveria ser um churrascão inofensivo de domingo. Amigos se desentendem feio com velhos amigos. Há brigas de pais com filhos, de irmãos com irmãos, de mulher com marido. Familiares rompem relações, colegas de trabalho viram as costas uns para os outros e se fecham em suas próprias trincheiras. Falar de política, em suma, virou um perigo.

Os rompantes mais curiosos de neurose se multiplicam por todos os lados. Uma senhora foi notada no facebook fazendo um anúncio aflito: “Hoje, eu tive de dar um block na minha tia de 78 anos!”. Uma jornalista-celebridade de São Paulo denunciou em seu jornal, com a gravidade reservada às notícias de grande impacto, que tinham sido feitas pichações racistas no banheiro de um colégio chique ─ isso mesmo, rabiscaram a parece do toalete da moçada. Quem jamais ouviu falar de uma coisa dessas? A dona de um restaurante paulistano teve a ideia de exibir na internet uma foto, tirada junto com a sua equipe, mostrando o dedo do meio para os bolsonaristas. Amizades intensas formadas nas redes sociais explodem antes que as pessoas tenham tido tempo de se conhecer. Lulistas são chamados de esquerdopatas. Quem vota em Bolsonaro é fascista ─ embora 80% dos que fazem essa acusação não tenham a menor ideia do que estão falando. Não optar nem por um nem por outro, então ─ não seria uma defesa? Esqueça. Nesse caso você será acusado de “isentão”, e muita gente fica irritadíssima quando é chamada de “isentão”. O ambiente deveria estar bem mais calmo, pois até a véspera da eleição todas as “pesquisas” garantiam a mesma coisa: Bolsonaro perderia para qualquer outro candidato no segundo turno. Mas está dando o contrário. Aí vira nervosia pura.

Muito além da economia - EDITORIAL O ESTADÃO


Muito além da economia - EDITORIAL DO ESTADÃO

O objetivo dos valores liberais não é simplesmente maximizar ganhos econômicos. É assegurar o exercício das liberdades individuais e políticas
O Estado de S.Paulo - 21 Outubro 2018

O tema do liberalismo esteve muito presente na campanha eleitoral deste ano. Entre outros fatores, cresceu o número de candidatos e partidos dispostos a defender ideias liberais, especialmente na área econômica. Ainda que possa parecer pequeno diante da força dos diversos populismos, é um passo importante para a qualidade das discussões políticas do País. A discussão dos valores liberais sempre enriquece o debate público.

Deve-se reconhecer, no entanto, que a campanha eleitoral é um espaço mais propício para simplificações e polarizações do que para um diálogo maduro e construtivo. Por exemplo, as discussões sobre o liberalismo quase sempre estiveram restritas a questões econômicas, o que reforça a equivocada ideia de que as ideias liberais se resumiriam a um conjunto de princípios e postulados relativos à economia e ao mercado.

É evidente que os valores liberais têm consequências na área econômica. No entanto, a defesa da liberdade é muito mais do que um meio para resolver problemas econômicos. O objetivo dos valores liberais não é simplesmente maximizar os ganhos econômicos em uma determinada sociedade. É assegurar o exercício, em todos os âmbitos, das liberdades individuais e políticas.

Um exemplo da ampla dimensão das ideias liberais é a própria história deste jornal. Sob inspiração liberal, o Estado foi fundado em 1875 com o objetivo de contribuir para a abolição da escravidão e a instauração da República. As duas causas não são bandeiras econômicas, ainda que tenham consequências positivas sobre a economia. A abolição da escravatura e a instauração da República eram imperativos políticos baseados numa concepção forte de liberdade.

E a firme defesa da liberdade continua sendo necessária nos dias de hoje. Causa grave prejuízo ao País o discurso, tantas vezes recorrente, de uma suposta oposição entre as ideias liberais e a preocupação social, como se os populistas fossem os grandes aliados políticos da população mais carente.

Na realidade, ocorre o inverso. Os diversos populismos não enfrentam os problemas sociais. Eles utilizam as questões sociais apenas como tática de manipulação política, como ficou evidente nos anos em que o PT esteve no governo federal. O presidente Lula da Silva não utilizou as condições extremamente favoráveis de seu governo - resultado de circunstâncias externas benéficas e das medidas estruturantes promovidas pelo seu antecessor, o presidente Fernando Henrique Cardoso - para realizar reformas que assegurassem as condições para o desenvolvimento das classes sociais mais pobres. Os pobres continuaram dependentes do Estado. Apesar de dispor de condições muito favoráveis, o PT não promoveu as necessárias reformas, por exemplo, na saúde e na educação.

Os valores liberais - que nada mais são do que essa profunda defesa da liberdade em todas as esferas - não estão desvinculados das questões sociais. Só há liberdade real onde estão presentes as condições para se exercer a liberdade. Por isso, o desenvolvimento social de um país não é um aspecto acessório - ele é essencial para o fomento da liberdade.

Vale lembrar também que o regime da liberdade é o regime da lei. A fundamental igualdade de todos, princípio básico de um Estado Democrático de Direito, manifesta-se precisamente na submissão de todos, sem exceção, à mesma lei. Quando o poder público extrapola os limites legais, mesmo nas situações em que tenha apoio popular para isso, ele está violando a liberdade de todos os cidadãos.

Depois de mais de uma década de lulopetismo, o País tem pela frente o inadiável desafio de retomar o crescimento, por meio de uma política econômica responsável e realista. O populismo já causou demasiados estragos. Mas é preciso também restabelecer a igualdade de todos perante a lei, seja para tolher privilégios e benesses, seja para impedir os abusos do poder estatal em searas que não lhe competem. Afinal, a defesa das liberdades individuais não é apenas um tema de campanha - foi um ensurdecedor clamor que se levantou das urnas no dia 7 de outubro.

sexta-feira, outubro 19, 2018

Desespero - EDITORIAL DO ESTADÃO


Desespero - EDITORIAL DO ESTADÃO

O Estado de S.Paulo -19 Outubro 2018


Consciente de que será muito difícil reverter a vantagem de Jair Bolsonaro (PSL) na disputa pela Presidência da República, o PT decidiu partir para seu "plano B": fazer campanha para deslegitimar a eventual vitória do oponente, qualificando-a como fraudulenta. É uma especialidade lulopetista.

A ofensiva da tigrada está assentada na acusação segundo a qual a candidatura de Bolsonaro está sendo impulsionada nas redes sociais por organizações que atuam no "subterrâneo da internet", segundo denúncia feita anteontem na tribuna do Senado pela presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, que lançou o seu J'accuse de fancaria.

"Eu acuso o senhor (Bolsonaro) de patrocinar fraude nas eleições brasileiras. O senhor é responsável por fraudar esse processo eleitoral manipulando e produzindo mentiras veiculadas no submundo da internet através de esquemas de WhatsApp pagos de fora deste país", afirmou Gleisi, que acrescentou: "O senhor está recebendo recursos ilegais, patrocínio estrangeiro ilegal, e terá que responder por isso. (...) Quer ser presidente do Brasil através desse tipo de prática, senhor deputado Jair Bolsonaro?"

Como tudo o que vem do PT, nada disso é casual. A narrativa da "fraude eleitoral" se junta ao esforço petista para que o partido se apresente ao eleitorado - e, mais do que isso, à História - como o único que defendeu a democracia e resistiu à escalada autoritária supostamente representada pela possível eleição de Bolsonaro.

Esse "plano B" foi lançado a partir do momento em que ficou claro que a patranha lulopetista da tal "frente democrática" contra Bolsonaro não enganou ninguém. Afinal, como é que uma frente política pode ser democrática tendo à testa o PT, partido que pretendia eternizar-se no poder por meio da corrupção e da demagogia? Como é que os petistas imaginavam ser possível atrair apoio de outros partidos uma vez que o PT jamais aceitou alianças nas quais Lula da Silva não ditasse os termos, submetendo os parceiros às pretensões hegemônicas do demiurgo que hoje cumpre pena em Curitiba por corrupção?

Assim, a própria ideia de formação de uma "frente democrática" é, em si, uma farsa lulopetista, destinada a dar ao partido a imagem de vanguarda da luta pela liberdade contra a "ditadura" - nada mais, nada menos - de Jair Bolsonaro. Tudo isso para tentar fazer os eleitores esquecerem que o PT foi o principal responsável pela brutal crise política, econômica e moral que o País ora atravessa - e da qual, nunca é demais dizer, a candidatura Bolsonaro é um dos frutos. Como os eleitores não esqueceram, conforme atestam as pesquisas de intenção de voto que expressam o profundo antipetismo por trás do apoio a Bolsonaro, o PT deflagrou as denúncias de fraude contra o adversário.

O preposto de Lula da Silva na campanha, o candidato Fernando Haddad, chegou até mesmo a mencionar a hipótese de "impugnação" da chapa de Bolsonaro por, segundo ele, promover "essa campanha de difamação tentando fraudar a eleição".

Mais uma vez, o PT pretende manter o País refém de suas manobras ao lançar dúvidas sobre o processo eleitoral, assim como já havia feito quando testou os limites legais e a paciência do eleitorado ao sustentar a candidatura de Lula da Silva. É bom lembrar que, até bem pouco tempo atrás, o partido denunciava, inclusive no exterior, que "eleição sem Lula é fraude".

Tudo isso reafirma, como se ainda fosse necessário, a natureza profundamente autoritária de um partido que não admite oposição, pois se julga dono da verdade e exclusivo intérprete das demandas populares. O clima eleitoral já não é dos melhores, e o PT ainda quer aprofundar essa atmosfera de rancor e medo ao lançar dúvidas sobre a lisura do pleito e da possível vitória de seu oponente.

Nenhuma surpresa: afinal, o PT sempre se fortaleceu na discórdia, sem jamais reconhecer a legitimidade dos oponentes - prepotência que se manifesta agora na presunção de que milhões de eleitores incautos só votaram no adversário do PT porque, ora vejam, foram manipulados fraudulentamente pelo "subterrâneo da internet".

quarta-feira, outubro 17, 2018

Tudo chute - J.R. GUZZO


Tudo chute - J.R. GUZZO

REVISTA VEJA 16 out 2018
Bolsonaro iria perder de ”qualquer adversário” no segundo turno


As últimas pesquisas de “intenção de votos” que estão circulando na praça dizem, em números redondos, que Jair Bolsonaro está com cerca de 60% das preferências do eleitorado, contra 40% de Fernando Haddad. Mas esperem um momento: deve haver alguma coisa errada aí. Até às vésperas da votação do primeiro turno, todas as pesquisas (e a mídia insistia muito nesse ponto: todas as pesquisas) garantiam que Bolsonaro iria perder de qualquer dos outros candidatos no segundo turno. Repetindo: de qualquer candidato. Nove em cada dez análises se fixavam na importância terminal desta informação vinda da ciência estatística. Podia se contar com diversos cenários, mas uma coisa pelo menos estava certa, acima de toda e qualquer dúvida: o candidato da direita iria perder a eleição no segundo turno, seja lá o adversário que sobrasse para a disputa com ele. Até o Meirelles? Aparentemente, não chegaram a medir a coisa nesses detalhes, mas as manchetes diziam que Bolsonaro perderia de todos os candidatos no segundo turno, e como Meirelles (ou o cabo Daciolo, ou o Boulos, ou o Amoedo, ou o Álvaro Dias etc.) eram candidatos, sempre dá para dizer, tecnicamente, que até essas nulidades iriam ganhar dele. Não aconteceu nada de extraordinário de lá para cá. Porque, então, as pesquisas preveem agora exatamente o oposto do que previam cinco minutos atrás?

Os institutos de pesquisa fariam uma especial gentileza ao público se explicassem, em umas poucas palavras compreensíveis, por que seus números devem ser levados a sério no segundo turno, se mostram agora o contrário do que mostravam no primeiro. Não conseguindo fazer isso, talvez ficasse mais simples dizer o seguinte às pessoas: “Esqueçam o que a gente deu no primeiro turno. Era tudo chute”. Chute ou torcida, tanto faz, porque uma coisa é tão ruim quanto a outra e, no fim das contas, nenhuma das duas será cobrada. Como sempre acontece, se Bolsonaro ganhar mesmo as eleições, os autores das pesquisas dirão que ficou provado o quanto eles acertaram – pois o resultado que costuma sobrar na memória é o último. Daqui a pouco, contando com esquecimento geral por parte do público, estarão propondo novas profecias para quem estiver interessado. E em 2022, ou já em 2021, prepare-se para ler que Lula está na frente de todo mundo com 50%, que Marina está subindo e Ciro Gomes começa a crescer. Bolsonaro, se for eleito agora e se candidatar à reeleição, estará com 0%. Na reta final os números serão ajustados de novo (“ocorreram mudanças no processo decisório”) e tudo continuará como sempre foi.

As pesquisas eleitorais de 2018 deixaram claro, mais que em qualquer eleição anterior, o quanto elas estão sendo incapazes de medir aquilo que está realmente na cabeça do eleitor. Foi um desastre. Dilma Rousseff foi garantida como a senadora mais votada do Brasil e ficou num quarto lugar em Minas Gerais. O senador de São Paulo Eduardo Suplicy, outro “eleito” pelas pesquisas, foi exterminado após 27 anos de Senado. Houve erros grotescos nas pesquisas para governador de Minas e Rio de Janeiro – os que acabaram colocados em primeiro lugar tinham 1% dos votos, ou nada muito diferente disso, até poucos dias antes da eleição. Geraldo Alckmin ficou com menos de 5% dos votos. Marina Silva ficou com 1%. No Nordeste, que foi citado durante seis meses seguidos como o grande celeiro de onde Lula poderia operar a sua “volta”, o PT teve 10 milhões de votos a menos que em 2014. Das sete capitais da região, perdeu em cinco. Erros deste tamanho, por mais que os institutos neguem, são sintoma de alguma coisa profundamente errada no sistema todo. Como escrito acima, tudo isso tende a cair rapidamente no esquecimento, sobretudo porque não há paciência para ficar discutindo um assunto que não interessa mais até a próxima eleição. Mas o problema não vai sumir só porque não se falará mais nele.

As pesquisas, com certeza, não conseguiram captar as correntes que se movimentam no oceano da internet e do mundo digital como um todo. Não entenderam nada sobre o peso que as redes sociais tiveram no processo eleitoral. Seus questionários podem não estar fazendo as perguntas certas, na maneira certa, na hora e no lugar certos. Na disputa nacional, o papel da propaganda obrigatória na televisão, tido como algo sagrado, mostrou que está valendo zero – e as pesquisas não estavam preparadas para isso, nem para o efeito nulo dos “debates” entre candidatos na TV, das opiniões dos comentaristas políticos e da orientação geral da mídia. Está surgindo um mundo novo por aí. Não será fácil para ninguém começar a entender como ele vai funcionar. Uma boa razão, portanto, para começar já o esforço.

terça-feira, outubro 16, 2018

A prepotência petista - EDITORIAL O ESTADÃO


A prepotência petista - EDITORIAL O ESTADÃO


A título de arregimentar apoio fora do curral lulopetista, Haddad agora quer fazer o País acreditar que nada tem a ver nem com o PT nem com Lula
O Estado de S.Paulo -16 Outubro 2018

As análises estatísticas do primeiro turno da eleição presidencial mostram aquilo que todos já sabem: o PT continua a reinar soberano nos remotos grotões do País, onde eleitores sustentados pelo assistencialismo do Bolsa Família idolatram o chefão petista Lula da Silva. Foi basicamente esse clientelismo que impulsionou a transferência de votos de Lula para seu preposto na eleição, Fernando Haddad, levando o ex-prefeito paulistano para o segundo turno contra Jair Bolsonaro (PSL).

Superada a primeira etapa da campanha, e a título de arregimentar apoio fora do curral lulopetista, Haddad agora quer fazer o País acreditar que nada tem a ver nem com o PT nem com Lula. Mais do que isso: pretende identificar-se como um candidato sem partido, preocupado unicamente com a democracia brasileira, que, segundo seu discurso, estaria ameaçada pelo seu oponente – um ex-capitão que faz apologia da ditadura e da tortura.

Assim, a candidatura de Haddad seria nada menos que a salvação da democracia – condição que, se verdadeira fosse, tornaria praticamente obrigatório o voto no PT no segundo turno para aqueles que prezam as liberdades democráticas. Na narrativa elaborada pelos estrategistas do PT, aqueles que rejeitam esse axioma lulopetista, recusando-se a declarar voto em Haddad ainda que considerem Bolsonaro realmente uma ameaça à estabilidade do País, são desde logo qualificados como cúmplices do ex-capitão.

A isso se dá o nome de “coação moral”, como corretamente salientou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista ao Estado. FHC relatou que vem sendo pressionado a “tomar posições”, isto é, a declarar voto em Haddad para, desse modo, reafirmar sua defesa da democracia contra o avanço do autoritarismo. Não fazê-lo, depreende-se, seria renunciar a essa defesa, permitindo que Bolsonaro e sua agenda retrógrada e fortemente iliberal prevaleçam. O ex-presidente rejeita categoricamente essa associação. “Não preciso provar que sou democrático”, declarou, como se isso fosse necessário.

A artimanha eleitoreira petista está obrigando democratas acima de qualquer suspeita a vir a público para dizer que não votar em Haddad no segundo turno está longe de ser uma declaração de apoio a Bolsonaro, muito menos uma demonstração de desapreço pela democracia.

O PT talvez tivesse melhor sorte na colheita de votos fora de seu reduto se fosse honesto e reconhecesse que, sob sua gestão, o Brasil mergulhou na maior crise econômica, política e moral de sua história. Ganharia simpatia se admitisse que não deveria ter elevado ao panteão dos “guerreiros do povo brasileiro” um magote de criminosos. Teria alguma chance de sucesso se seu discurso em defesa da democracia não fosse seletivo, poupando ditaduras companheiras como a da Venezuela. Poderia se redimir caso passasse a respeitar a opinião daqueles que não são petistas e caso confessasse que errou ao nunca considerar legítimo nenhum governo que não fosse o seu.

Como se vê, apenas retirar o vermelho e apagar Lula da propaganda eleitoral não é o bastante para convencer os verdadeiros democratas de que vale a pena apoiar Haddad nessa suposta luta em defesa da democracia. Em seu desabafo, Fernando Henrique Cardoso – cujo legado ao País sempre foi tratado como “herança maldita” pelo mesmo PT que agora demanda seu apoio – deu voz a muitos dos que estão cansados da retórica malandra e arrogante do lulopetismo. “Com que autoridade moral o PT diz: ou me apoia ou é de direita? Cresçam e apareçam. (...) Agora é o momento de coação moral... Ah, vá para o inferno. Não preciso ser coagido moralmente por ninguém. Não estou vendendo a alma ao diabo”, disse o ex-presidente.

Por ter sistematicamente desrespeitado aqueles que não aceitaram sua busca por hegemonia, por ter jogado brasileiros contra brasileiros e por ter empobrecido a política por meio da corrupção e do populismo rasteiro, o PT colhe agora os frutos amargos – na forma de um repúdio generalizado ao partido em quase todo o País e da desmoralização de sua tentativa de vestir o figurino democrático, que nunca lhe caiu bem.

segunda-feira, outubro 15, 2018

Novos tempos, nova tática - FERNANDO GABEIRA


Novos tempos, nova tática - FERNANDO GABEIRA

O Globo - 15/10


Esquerda atrelou o destino ao de um homem na cadeia, supondo que estava repetindo a história de Mandela

Manifestações dos leitores são um estímulo para avançar um pouco nesse oceano de emoções eleitorais. Alguns acham que trato de temas etéreos, que não interessam agora. Outros, que sou condescendente com Bolsonaro.

Talvez as pessoas estranhem que me dedique a um cenário pós-eleitoral, pois acho que o resultado do segundo turno é relativamente previsível. Os que me acusam de condescendente não percebem que estou tentando transferir uma experiência de relação com Bolsonaro para oferecer, se não uma tática, elementos de uma tática para o futuro próximo.

Minha experiência é de quem defendeu no Parlamento bandeiras que Bolsonaro ataca. As frases preconceituosas que ele eventualmente dizia são as mesmas que ouvimos nas ruas de todo o Brasil.

Minha relação com ele era de alguém que representava minorias, que até hoje apoio, com alguém que, no meu entender, estava mais perto do espírito majoritário das ruas.

Um ponto de convergência foi aluta contra a corrupção. Aliás, foi essa luta, nome utem pode político, que me permitiu disputar com alguma chance eleições majoritárias.

Minha atitude não foi ade rotular de fascista, misógino, racista ou homofóbico, mas compreender que, por baixo dessas reações populares, existe uma insegurança sobre as mudanças culturais, e é preciso buscar avanços que não provoquem um retrocesso maior. Discussões embaixo nível no Congresso contribuem para abrira Caixa de Pandora na sociedade. Hoje, infelizmente, está aberta.

O primeiro ponto de contato para enfrentara maioria, portanto, é afirmar que movimentos minoritários e culturais não precisam ser coniventes coma corrupção dos partidos de esquerda, ter vínculos com o poder, nem depender financeiramente dele. Delicado também será enfrentar a política ambiental de Bolsonaro, que pretende fundir os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente.

Compreendo que existam interfaces entre agricultura e meio ambiente. Mas os problemas ambientais são muito mais amplos: poluição urbana, destinação do lixo, redução das emissões, e há ainda o mar com seus corais, esperando uma ampla política de proteção.

Um ministro da Agricultura dificilmente seria capaz de cuidar de todos esses temas. Bolsonaro afirma que uma de suas missões é acabar coma indústria de multas do Ibama.

É um erro acenar com isso, embora possam existir multas excessivas ou mal aplicadas. O ideal seria uma política de preparação dos próprios agricultores para que pudessem produzir nas condições mais amigáveis ao meio ambiente.

Isso não é um argumento a penas ecológico, no sentido de preservara produção alongo prazo. As regras internacionais são cada vez mais exigentes: é também uma questão econômica.

Não pensem que não tenho consciência do enorme trabalho que teremos. Desde o princípio, afirmei que a tática da esquerda estava errada. Além de não reconhecer seus erros, atrelou o destino ao de um homem na cadeia, supondo que estava repetindo a história de Mandela.

Ao atrelar o destino a Lula, o PT escolheu o caminho mais difícil. E a esquerda saiu dividida. Ciro talvez fosse um pouco mais competitivo. Ainda assim, a onda era muito forte.

Isso tudo é passado. Estamos quase nomeio do segundo turno. As grandes escolhas foram feitas. Não criei essa situação. Forças poderosas estiveram em choque. É razoável que, prevendo o desfecho da batalha, comece a olhar para afrente, tentando desvendar, a partir da experiência, uma fórmula de lidar com o poder emergente.

Claro que, nos embates que nos esperam, outras posições vão surgir. Creio ter aprendido alguma coisa coma eleição de Donald Trump. Ali ficou claro que era preciso rever a tática, pois as críticas acusatórias só o faziam crescer.

Muita gente se disse surpreendida com o que aconteceu nas eleições. Algumas surpresas sempre acontecem. Mas quantos não quiseram ver, por achar que as coisas estavam se desenrolando de uma forma que não lhes agradava.

Bolsonaro era recebido por pequenas multidões nos aeroportos. Falava de luta contra a corrupção e, embora alguns concordem, foi e leque percorreu o Brasil defendendo-a.

Bolsonaro falava de segurança pública, e não houve um programa de segurança alternativa contra o seu. Vi seu crescimento e notei como os ataques o fortaleciam.

Só me resta agora segurara ondado jeito que aprendi. Não significa que esteja certo. Apenas uma voz.


A onda da renovação - DENIS LERRER ROSENFIELD

A onda da renovação - DENIS LERRER ROSENFIELD

Vote no Brasil ou compre sua passagem para a Venezuela ou para Cuba. Só de ida!

O Estado de S. Paulo - 15/10/2018


A onda da renovação atingiu profundamente a vida política brasileira. Os sismógrafos, a saber, os institutos de pesquisa, não conseguiram captar a intensidade das mudanças em curso, seja por instrumentos inadequados ou por viés ideológico. É como se houvesse uma torcida a orientar as análises e enquetes, cegando ou obscurecendo a irrupção que estava por vir. Quando não é a verdade o objetivo, a tendência consiste em ficar na superfície das coisas, numa espécie de acomodação ao politicamente correto, à esquerda tida por “boa” opção. Se assim foi até agora, por que não continuar?

Para tais posições, seria quase impensável sair da alternativa esquerda/centro-esquerda, PT e PSDB, como se esta falsa polarização fosse de natureza a satisfazer o pensamento (ou sua ausência), num jogral que terminou por produzir fastio à sociedade. Pela primeira vez desde o referendo sobre o Estatuto do Desarmamento – et pour cause –, os cidadãos foram chamados a outra opção, a de uma escolha que pudesse abandonar a falsa polarização existente, em proveito de outra posição, a de uma alternativa clara de direita.

A sociedade brasileira decidiu dizer não. Não a ser governada por PT, Lula e assemelhados. O antipetismo é uma resposta aos desmandos do partido. Não a ser governada da prisão, num modelo oriundo do PCC. Não à corrupção. Não a uma classe política que buscou seus próprios privilégios em lugar de trabalhar para o bem comum. Não à criminalidade e à insegurança que tomaram conta das cidades e do campo. Não aos tucanos que se resignaram ao muro e a um “diálogo” com os petistas, cessando de ser uma alternativa eleitoral.

O voto pró-Bolsonaro encontra forte enraizamento na sociedade brasileira. Ele encarnou o não em suas distintas significações, vindo a representar um forte anseio social pela mudança. A esta altura, querer desconstruir a sua imagem é um empreendimento hercúleo, pois significaria poder oferecer uma alternativa palatável ao “não”, algo que os petistas não podem apresentar, precisamente por serem o símbolo daquilo que não é querido nem almejado pelos cidadãos.

A narrativa petista no primeiro turno, totalmente orientada por Lula na condição de presidiário, consistiu num discurso voltado para o gueto. Visou aos seus, como se estivesse a congregar tropas, embora pudesse apresentar-se enquanto opção coletiva. É dificilmente concebível – salvo na anomia brasileira e petista em particular – que um candidato a presidente da República vá todas as semanas ao cárcere buscar orientação, como se fosse um menor de idade que não sabe caminhar sozinho. Imaginem na Presidência!

Pior, trata-se de uma pessoa condenada por corrupção e lavagem de dinheiro, tendo já passado por todas as instâncias do Judiciário brasileiro, exercendo, até abusivamente, seu direito de defesa com recursos semelhantes, recorrentes e sistemáticos, procurando ditar os rumos do País. Impensável, fossem a democracia e as instituições republicanas respeitadas.

Ora, são essas mesmas pessoas, totalmente desorientadas pelos resultados das urnas, que procuram agora posar como “democratas”, numa suposta frente contra o “fascismo”. Não faltam colaboradores de plantão no campo dos tucanos, presos a um ideal há muito ultrapassado de aliança com seus “irmãos” social-democratas. O tempo passou. O sonho do passado esfacelou-se no pesadelo do exercício de poder de um partido que erigiu a corrupção, a apropriação das empresas públicas e a destruição da economia e dos benefícios sociais em projeto de governo. É essa a aliança “social-democrata” perseguida?

Credenciais democráticas o PT não tem. Lula considerava – e o PT continua a considerar – a Venezuela “socialista” uma democracia. O ex-presidente rasgava-se em elogios ao já ditador Chávez. Agora sustentam Maduro, com seus assassinatos sistemáticos, a asfixia das oposições e destruição das instituições. Era o modelo que tencionavam instalar no Brasil. Já antes sustentaram a ditadura dos irmãos Castro, financiada com polpudos créditos do nosso BNDES. A ditadura de Ortega na Nicarágua é outra excrescência dos petistas, que apostam nesse tipo de “democracia”.

Se houve uma invenção histórica realizada pelo “socialismo do século 21” foi a de substituir a tomada violenta do poder, no modelo leninista ou castrista, pela apropriação perversa dos mecanismos democráticos. Ou seja, o processo eleitoral é utilizado para subverter a própria democracia. Foi a estratégia de Chávez na Venezuela, recorrendo a eleições e referendos para sufocar a própria democracia, destruindo suas instituições – a exemplo da eliminação da independência do Poder Judiciário e da asfixia completa do Legislativo, culminando com sua substituição por uma Assembleia Constituinte fajuta.

Na verdade, apropriaram-se do apelo da democracia na opinião pública para amordaçá-la. Dizem, então, respeitar a democracia com o intuito de aniquilá-la. O programa petista de governo, esse que está sendo oferecido aos cidadãos, abunda em expressões do tipo “conselhos populares”, novas instâncias “democráticas”, “movimentos sociais”, “democracia participativa” e “Assembleia Constituinte”, entre outras. São nada mais que palavras para enganar incautos, tendo como meta sufocar a democracia representativa, considerada “liberal”, “burguesa” na acepção marxista.

O recente palavreado socialdemocrata nada mais é que um engodo. Se fosse verdade, teriam adotado essa orientação em seus longos 13 anos de governo. Em vez de recorrerem aos pais da social-democracia, como o teórico Eduard Bernstein no início do século 20 e o ex-primeiro-ministro alemão Willy Brandt no pós-Guerra, retomaram a “luta de classes” em sua forma canhestra do “nós contra eles”.

Faça a sua escolha. Vote no Brasil ou compre sua passagem para a Venezuela (tendo Cuba como opção). Com direito só de ida!

As filósofas do interior - LUIZ FELIPE PONDÉ

As filósofas do interior - LUIZ FELIPE PONDÉ

Se sua mulher mandar você pular do telhado, reze pra ele não ser muito alto

FOLHA DE SP - 15/10

Conversando com umas amigas de uma importante cidade do interior paulista nos últimos dias, ouvi uma máxima que, segundo elas era repetida pelos pais. Essa máxima é a seguinte: “Se sua mulher pedir pra você pular do telhado, reze para que ele não seja alto”. O que quer dizer essa máxima filosófica?

Primeiro, o óbvio, mas que, às vezes, parece não muito óbvio. A máxima exemplifica uma sabedoria muito antiga: nos casamentos que funcionam, as mulheres mandam no cotidiano, e esse cotidiano vai ao encontro do velho adagio “a mão que balança o berço é a mão que manda no mundo”. Ao contrário do que berra a turma contra o “patriarcalismo”, as mulheres bem casadas mandam.

Casamentos que duram são matriarcais em grande medida porque as mulheres mandam em casa e no cotidiano. E, contra os que rezam na cartilha do “Segundo Sexo”, livro da filósofa Simone de Beauvoir (1908-1986), as mulheres são também o primeiro sexo.

Quando os homens não aceitam mais serem mandados pelas mulheres, vão embora em busca de “novas senhoras”. O homem sempre quer uma mulher que mande nele, sem ela, ele se sente perdido, mal amado, mal cuidado e, portanto, ele devolve na mesma moeda.

É claro que existem homens ruins que batem em mulheres e as violentam (e que devem ser punidos). Mas a maioria dos homens não faz isso, e essa imensa maioria cansou de se ver representada, da política à arte, das ciências sociais às escolas das crianças, como os vilões do mundo.

Trabalhando de sol a sol, esses homens se encheram de ver suas vidas narradas de forma falsa e enviesada. E, para a tristeza de muitas odiadoras de homens, as mulheres que amam os homens bons e cuidadores resolveram se juntar no grito contra a mentira travestida de “verdade sociológica”.

Críticas americanas do feminismo já haviam apontado o risco de que muitas das críticas da família tradicional são mulheres que nunca conseguiram achar um homem em que mandar no dia a dia.

Essa incapacidade de encontrar um homem que as amassem o bastante para “obedecer” a elas teria levado essas mulheres sem homens para mandar no ódio ao casamento tradicional. Em suma, grande parte do feminismo raivoso (porque existe sim um feminismo consistente contra abusos, menores salários e espancamentos) deita raízes na incompetência de muitas mulheres em achar um homem em que elas mandem, com carinho, humor, doçura e perenidade.

A ideia por detrás da máxima das minhas amigas filósofas do interior é que, se sua esposa mandar você pular do telhado, você deve apenas obedecer e rezar para que o telhado não seja tão alto, porque, se você não obedecê-la e não pular, a reação dela será muito pior do que a queda do telhado em si.

Qual homem bem casado quer entrar em conflito com a mulher? Não apenas o resultado será que ela “fechará as pernas pra ele”, como o dia a dia virará um combate contínuo ao redor de coisas pequenas. E, por consequência, ele não conseguirá trabalhar em paz.

A máxima soa ingênua, mas é a pura verdade, se não quisermos mentir pura e simplesmente. E a mentira, com o tempo, enche o saco de quem é capaz de enxergar a realidade para além do mimimi que caracteriza muito do debate ao redor do tema homem e mulher no mundo “especializado”, cheio de mulheres que não conseguem ter homens felizes em obedecê-las.

O que uma conversa singela como essa nos ensina acerca do Brasil que emerge das eleições que estamos atravessando? O que é essa “guinada conservadora” que parece varrer o país?

Muita gente no Brasil está cansada, por exemplo, de ser levada a pensar que debates ao redor do fenômeno “trans” sejam a pauta mais importante em termos de direitos humanos.

Antes de tudo, a gente comum (que normalmente é casada e a mulher manda em casa, a fim de que a janta seja servida todos os dias) cansou de sentir que sua percepção de mundo é absurda, errada, reacionária, monstruosa, idiota ou cheia de ódio.

Pelo contrário, muitas dessas pessoas querem apenas que seus filhos voltem vivos da escola e não que gastemos tempo e dinheiro com criminosos ou tristes vítimas de um passado ligado à ditadura. Tudo isso é muito distante delas.

Os boletos que pagam todo dia parecem mais fundamentais do que muitas das discussões que os inteligentinhos levam a cabo na mídia, nas escolas, nas universidades ou na “arte”.
As redes sociais “libertaram” a ira do Brasil profundo que paga boletos diariamente e que conhece homens que pulam felizes dos telhados há séculos.

Luiz Felipe Pondé

Escritor e ensaísta, autor de “Dez Mandamentos” e “Marketing Existencial”. É doutor em filosofia pela USP.

sábado, outubro 13, 2018

"O fascismo fake - GUILHERME FIUZA

"O fascismo fake - GUILHERME FIUZA

GAZETA DO POVO - PR - 12/10


Roger Waters foi vaiado em São Paulo ao acusar Bolsonaro de fascismo. Houve aplausos também. No show seguinte, o cantor inglês substituiu a referência ao candidato no telão por uma tarja com as palavras “ponto de vista político censurado”.

Roger Waters é fake news.

Ninguém censurou a pantomima do ex-líder do Pink Floyd. É típico do totalitário em pele progressista o horror ao contraditório. Ele sonha com uma plateia dócil e disposta a tietar incondicionalmente a sua demagogia barata. Waters quer boiar sozinho nas águas da propaganda populista e sonha calar quem ousa apontar o seu ridículo.

Nem dá para afirmar que as vaias em São Paulo sejam necessariamente de simpatizantes de Bolsonaro. Muitas vezes um hipócrita é vaiado apenas e tão-somente por sua hipocrisia. Uma parcela das vaias certamente poderia ser traduzida por algo como: “Companheiro, cadê sua indignação contra a ditadura sanguinária da Venezuela?”

Podem esperar sentados. O autoritarismo, a violência e a desumanidade de Nicolás Maduro não sensibilizam Roger Waters. Pelo singelo motivo de que isso estraga sua lenda de combatente contra a direita perversa. Onde o inimigo perfeito não existir, ele inventa. Mas a boçalidade de Maduro tem adereços “de esquerda”, então está liberada.

Pode descer a lenha, companheiro chavista, que Pink, o pacifista, libera.

O astro justiceiro também foi uma gracinha com a delinquência de Dilma Rousseff, emergindo contra o impeachment para colar seu selo fascista Tabajara no mordomo. O povo roubado e aviltado pela falsa propaganda progressista do PT nunca preocupou o Roger. Importante é a solidariedade aos sócios de picaretagem politicamente correta.

Você já entendeu: a estrela pop do clássico “The Wall” é Haddad, a candidatura que fará bem à Humanidade por ter sido ungida dentro da cadeia, onde a bondade, o humanismo e a ética ficam muito bem guardados por carcereiros vigilantes, grades intransponíveis e muros altos. Bota “Wall” nisso, parceiro.

O PT como salvação democrática é a invenção da década. Jornalistas que vivem como eternas viúvas da ditadura militar, cuidando com esmero do seu figurino de resistência contra a opressão do século passado, aproveitaram a onda do fascismo Tabajara para ressalvar corajosamente: o PT sempre respeitou a democracia!

É verdade. A não ser quando o partido estava usando o Supremo Tribunal Federal e o Ministério Público para blindar o maior assalto da história – que só não saiu impune porque a Lava Jato explodiu parte dessa aparelhagem.

A reverência do PT à democracia também tirou uma folguinha quando os companheiros usaram dinheiro do povo para financiar ditaduras amigas. Ou quando tentaram obstruir a Justiça de dentro do Palácio do Planalto para que seus marqueteiros presos não entregassem a presidenta mulher. Ou quando planejaram a fuga de criminoso condenado, ou quando transformaram a maior empresa nacional em anexo do partido, ou quando tentaram controlar a imprensa fingindo proteger os direitos humanos, ou quando incentivaram a violência do MST contra pessoas e instituições, ou quando mataram Celso Daniel.

Fora isso e mais uma ou outra centena de afrontas ao estado de direito, o PT sempre foi democrático. Se você quiser saber exatamente quando, onde e como, pergunte aos jornalistas e intelectuais que estão te dizendo isso cheios de charme progressista.

O transformismo ideológico no segundo turno não comporta nem mais uma dessas máscaras para eleitor envergonhado – tipo Marina, Ciro Gomes e outras fantasias providenciais. Vai ter que cravar PT mesmo, e aí a única saída possível é a clássica: mentir.

O governo do PT já sabemos a beleza ética e administrativa que é. O governo Bolsonaro é uma incógnita. Acha uma escolha miserável? Anula. Declara que não é sócio do emburrecimento do país que impôs a polarização sonhada pelo PT e lava as mãos. Mas não finja que Adolf Hitler ressuscitou no Brasil e está te obrigando a sancionar a gangue do Lula. Nesse caso, a maior fake news de todas será você."

Era brincadeira… - EDUARDO GONÇALVES

Era brincadeira… - EDUARDO GONÇALVES

REVISTA VEJA

Depois de entrar raspando no 2º turno, Haddad renegará o discurso radical da primeira fase e assumirá face “moderada” na economia e “família” nos costumes


SOB NOVA DIREÇÃO -  Haddad e Jaques Wagner, o novo estrategista oficial da campanha. O extraoficial continua o mesmo. (Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

Para agradar à militância petista e se viabilizar como candidato à Presidência da República no lugar do ex-presi­dente Lula, Fernando Haddad precisou calçar as sandálias da humildade. Durante a primeira fase da campanha, o ex-prefeito de São Paulo se dobrou às diretrizes ditadas pela cúpula do seu partido, visitou Lula na ca­deia semanal e religiosamente e chamou de sua “bíblia” o programa do PT, que inclui, entre outras enormidades, a revogação da reforma trabalhista, do teto de gastos e a não priorização da reforma da Previdência. Agora, com o eleitorado petista garantido e uma suada vaga conquistada no segundo turno, é hora de Had­dad reencarnar o “mais tucano dos petistas” — versão talhada e disseminada por Lula com vistas a ajudar o professor universitário a agradar ao paladar do elei­tor mais moderado. É uma guinada e tanto, mas o PT sabe que não tem tem­po para metamorfoses mais sutis.

Com desvantagem de 18 milhões de votos no primeiro turno em relação a Jair Bolsonaro (PSL) e poucas chances de virar o jogo, Haddad tentará se aproximar do eleitorado de centro — aquele que não simpatiza com o PT mas repudia com vigor o ex­tremismo do deputado. Para atrair esse público, passará a priorizar pau­tas de segurança, incluindo o fortalecimento da Polícia Federal e o endurecimento da legislação penal para homicídios. Na área econômica, com o intuito de tranquilizar o mercado, membros da equipe de Haddad já procuraram Luiz Carlos Trabuco, pre­sidente do Bradesco, e Roberto Setubal, ex-presidente do Itaú. Em paralelo, Haddad começou a falar abertamente em instituir faixas de idade mínima para a aposentadoria, anátema para o PT até agora. O ex-prefeito também declarou, não sem uma nota de constrangimento, que havia “revisto” a ideia de convocar uma Assembleia Constituinte para alterar a Carta Magna. Por fim, a imagem de Lula sumiu do material de propaganda, assim como a cor vermelha, trocada pelos tons da bandeira brasileira.

O PT mudou a música e também o maestro — Jaques Wagner, ex-governador da Bahia e ex-ministro de Dilma Rousseff, é agora o estrategista oficial da campanha petista (o verdadeiro e extraoficial continua o mesmo e foi visitado pelo baiano em Curi­tiba na quinta-feira 11). Wagner era entusiasta da ideia de que, sem Lula, o PT deveria apoiar Ciro Gomes (PDT) no primeiro turno. Mas foi desautorizado pelo ex-­presidente e se concentrou na sua campanha na Bahia. Ago­ra, volta à cena vitorioso. Ao contrário dos correligionários Dilma, Lind­bergh Farias e Eduardo Suplicy, conquistou uma vaga no Senado e ainda reelegeu em primeiro turno no governo do estado seu afilhado político Rui Costa.

“Haddad chegou ao segundo turno como substituto do Lula, agora o Haddad do segundo turno é o Haddad”, sentenciou, ao desembarcar em São Paulo na segunda-feira 8, por enquanto sem bilhete de volta para a Bahia. Sob a sua supervisão, desde a semana passada, emissários da campanha petista conversam com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o seu pai, Cesar Maia (DEM-RJ). Em sua estratégia para o segundo turno, o PT considerou como uma vitória as declarações de neutralidade do DEM e do PSDB, uma vez que quadros das duas siglas já haviam embarcado na candidatura de Bolsonaro. Ciro Gomes, com um patrimônio de 13 milhões de votos no primeiro turno, anunciou “apoio crítico” a Had­dad. O PT queria que ele, a exemplo do que fez Leonel Brizola no segundo turno de 1989, atuasse como aglutinador de partidos de centro nas próximas duas semanas. Ciro, no entanto, frustrou as expectativas e viajou para a Europa. Mesmo assim, o PT tenta dar ares de uma união de resistência democrática, contrapondo-se aos arroubos autoritários de Bolsonaro.

No campo dos costumes, para fazer frente ao moralismo conservador do seu adversário, Haddad está instruído a reforçar os “valores da família” — lembrando, por exemplo, que está casado há trinta anos com a mesma mulher, enquanto o seu rival já está na terceira. No domingo, no discurso depois da confirmação do segundo turno, seus dois filhos apareceram no palanque. Eles também devem estar presentes na propaganda na TV, que começa a ser exibida na sexta-feira 12. O programa vai apresentar o petista como cristão ortodoxo — incluirá, por exemplo, a biografia de seu avô libanês, que virou padre da Igreja Ortodoxa depois de enviuvar. Trata-se de um claro aceno ao eleitorado religioso que debandou para Bolsonaro. De acordo com o Ibope, 57% dos evangélicos e 41% dos católicos pretendem votar em Bolsonaro no segundo turno.

As redes sociais da campanha petista seguem o mesmo tom. A equipe de Haddad, pilotada pelo marqueteiro Otávio Antunes, passou a divulgar “mensagens de fé” em grupos de WhatsApp. “Quando alguém for violento ou incitar a violência por aí, pense: Jesus Cristo elogiou os pacificadores no sermão do monte”, diz um dos textos, que mostra a imagem de um punho fechado e em seguida um versículo de Mateus: “Bem-aventurados os pacificadores”. O material não leva nenhuma assinatura visível do PT, tampouco faz referência a Haddad, mas é parte de sua campanha e busca influenciar indiretamente o voto evangélico. Se a fé é capaz de mover montanhas, o desespero também.

sexta-feira, outubro 12, 2018

"Mais um engodo petista" - EDITORIAL DO ESTADÃO


"Mais um engodo petista" - EDITORIAL DO ESTADÃO


ESTADÃO - 12/10

O PT planeja lançar uma “frente democrática” no segundo turno, em defesa da candidatura do preposto do presidiário Lula da Silva, Fernando Haddad. Sob a coordenação de Jaques Wagner, a legenda tenta pregar mais uma peça na população brasileira, dizendo que o PT pode ser o bastião da democracia ante o avanço da candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSL).

Com o PT a democracia sempre esteve em risco. Basta ver que, no momento em que Lula ocupava a Presidência da República e o partido desfrutava de expressivo apoio popular, a legenda optou por subverter a democracia representativa, comprando parlamentares por meio do esquema que depois ficaria conhecido como mensalão. Mesmo após a confirmação do caso, o PT não fez nenhuma autocrítica.
Os petistas nunca pediram desculpas à população brasileira por terem desrespeitado o princípio constitucional de que todo o poder emana do povo – sob o jugo do PT, o poder emanava do dinheiro periodicamente pago aos parlamentares.
Não satisfeito com o mensalão, o PT instalou outro esquema de corrupção do sistema político, o petrolão, com o uso das estatais para intermediar a compra de apoio político em troca de benesses econômicas. Além de os valores desviados das empresas públicas terem atingido cifras até então inauditas – o escândalo do mensalão ficou parecendo manobra de principiante –, o petrolão representou um novo grau de subversão do poder.
Era a apropriação de todo o aparato do Estado por parte de uma causa político-partidária. Evidentemente, esse cenário não é compatível com o que se espera de uma democracia pujante.

Nos últimos tempos, o PT voltou a mostrar seu desprezo pelas instituições republicanas. A legenda instalou uma autêntica cruzada contra o Poder Judiciário, simplesmente porque várias instâncias da Justiça entenderam que Lula da Silva também devia estar submetido ao regime da lei. A absoluta evidência de que o ex-presidente petista pôde exercer um amplíssimo direito de defesa não foi motivo para que o PT interrompesse suas imprecações contra o Judiciário.
Seguiram com sua infantil postulação de que todo o Estado Democrático de Direito deveria se curvar ao grande líder. Nos regimes admirados pelos petistas, o Judiciário não tem a audácia de condenar líderes populares por corrupção e lavagem de dinheiro.
Neste ano, Lula da Silva e seu séquito fizeram de tudo para desrespeitar as regras eleitorais, com uma massiva campanha de desinformação, pregando que, se o demiurgo de Garanhuns não pudesse se candidatar, a eleição seria uma fraude. “Eleição sem Lula é golpe”, repetiram por todo o País.
Sem nenhum apreço pelo princípio da igualdade de todos perante a lei, a fantasiosa argumentação era um descarado pedido de privilégio para o sr. Lula da Silva. Segundo os petistas, a Lei da Ficha Limpa não podia ser aplicada ao grande líder.
E para que não pairasse nenhuma dúvida de que continua havendo nas hostes petistas uma profunda ojeriza pelos princípios democráticos, o programa de governo do candidato Fernando Haddad foi talhado nos moldes do modelo bolivariano. Sem cerimônia, o PT prega um “novo processo constituinte: a soberania popular em grau máximo para a refundação democrática e o desenvolvimento do País”.
A legenda promete subverter a democracia representativa. Além de instalar conselhos populares, ela quer “expandir para o presidente da República e para a iniciativa popular a prerrogativa de propor a convocação de plebiscitos e referendos”.
Também fala abertamente em “instituir medidas para estimular a participação e o controle social em todos os Poderes da União e no Ministério Público”. Para coroar suas pretensões autoritárias, os petistas mencionam a necessidade de um “novo marco regulatório da comunicação social eletrônica”. A atual liberdade tem incomodado suas pretensões autoritárias.
Quando o PT pede votos em favor de Fernando Haddad, que seria o campeão da defesa democrática do País, falta-lhe credibilidade. O passado e o presente o desmentem.