sexta-feira, setembro 29, 2017

Conhecimento ainda é poder? - MICHAEL CARDOSO

DCI - 29/09
Todos já ouvimos a máxima "conhecimento é poder". Há milhares de anos, o sábio Hebreu, no livro de Provérbios, declarou: "O homem sábio é forte, e o homem de conhecimento consolida a força."

Ao longo da história, o conhecimento foi usado como um instrumento de dominação, criando abismos sociais. Muitas vezes, quem detinha o conhecimento infundia terror e superstição, com intuito de controlar e coagir.

Sábios, sacerdotes, padres, imperadores procuraram erguer barreiras entre as pessoas e o conhecimento, para que pudessem manter o controle sobre as massas ignorantes e manipuláveis.

A partir das revoluções promovidas pelo protestantismo, pelo iluminismo, e todas as demais ondas que se sucederam, assistimos à gradual socialização do conhecimento, que culminou com a corrosão sistêmica do poder como o conhecíamos e transformou as relações humanas em todas as suas esferas: política, familiar, espiritual, mercantil e social.

Aprendemos a usar o conhecimento adquirido para resolver problemas complexos da nossa civilização, nas mais diversas áreas: nutrição, saúde, economia, biotecnologia, produção, agricultura, entre outros.

Como efeito natural deste processo de socialização do conhecimento, o poder migrou de mãos, se tornou mais disperso e disforme. Conhecimento não é mais garantia de poder.

Moisés Naim defende em seu livro "O Fim do Poder" que, após a segunda guerra mundial, o processo de deterioração do poder tornou-se acelerado, acompanhando a revolução digital e o surgimento da internet.

O autor diz que "o poder está se dispersando cada vez mais e os grandes atores tradicionais estão sendo confrontados com novos e surpreendentes. E aqueles que controlam o poder deparam-se cada vez mais com restrições ao que podem fazer com ele".

A partir deste contexto, proponho uma reflexão, trazendo o assunto ao campo da gestão. Como é possível liderar uma organização na atualidade? É inegável que o poder é componente imprescindível da gestão. Sem a legitimidade que o poder confere ao gestor, o trabalho de liderança torna-se ineficaz.

Para responder a esta pergunta, é importante definir qual é o papel de um gestor na organização moderna, e com base nesta compreensão, poderemos definir que tipo de poder é necessário para garantir a eficácia do gestor.

Eric Schmidt, chairman do Google, afirma no livro "Como o Google Funciona" que "o gestor é como um roteador muito eficiente". Ou seja, o papel do gestor é garantir que o fluxo de informação aconteça da forma correta, no tempo certo, e para as pessoas certas. A legitimidade do gestor está na relação de confiança que este mantém com seus liderados. A relação de confiança é fruto do convívio, de evidências e fatos que mostrem compromisso real com o grupo.

Quando a liderança é exercida com base na hierarquia, o poder consiste na alçada de decisão de uma pessoa, que tem o privilégio de enxergar o todo. O seu ponto de vista precisa ser único para que possa manter o poder.

Hoje, a liderança está se firmando nos relacionamentos e no alinhamento de propósitos. O mundo se tornou mais horizontal, os lideres serão revelados pela sua capacidade de influenciar e conectar pessoas, pela sua habilidade para construir o consenso de forma eficaz, atingindo resultados.

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