terça-feira, outubro 27, 2015

Uma elite medíocre - RODRIGO CONSTANTINO

O GLOBO - 27/10

Um ano. Lembro-me como se fosse ontem. Dia 26 de outubro de 2014, um clima de esperança, a contagem dos votos avançada e muitos dando como certa a derrota de Dilma. Finalmente, o país acordava. Como foi possível manter uma gente tão populista, cínica, incompetente e corrupta no poder por tanto tempo? Mas isso agora chegaria ao fim, e uma nova fase de ajustes teria começo. A decepção foi diretamente proporcional à esperança.

O sentimento era de incredulidade: então a maioria dos eleitores quer mesmo mais dessa porcaria? Então o abuso da máquina estatal ficará impune? Então o maior estelionato eleitoral da história seria recompensado? Aquela campanha sórdida, baixa, a compra escancarada de votos, tudo isso seria tolerado por nossa democracia? Que país era aquele, que insistia num erro tão evidente?

Os esquerdistas celebraram: os "reacionários" tinham perdido para aqueles que se importam com os mais pobres. Como essa narrativa tão idiota podia brotar da boca de gente até com mestrado? Os professores, com broches do PT, tentavam fazer lavagem cerebral nas crianças com o mesmo discurso ridículo.

O PT tinha conseguido segregar o povo com base no "nós contra eles" com um monte de gente acreditando que eram almas sensíveis e preocupadas com os mais pobres só por terem digitado 13 nas urnas. O ambiente intelectual estava muito pobre. Tem jeito um país desses, com uma elite tão medíocre? A dúvida era grande, mas havia uma certeza: eu precisava sair para respirar melhor.

Ali mesmo, naquele fatídico 26 de outubro, a decisão foi tomada. Não só o Brasil vai mergulhar numa grave crise econômica, disse, como essa reeleição demonstra toda a podridão de nossos valores morais, de nossas instituições. Que povo é esse que caiu nessa ladainha toda, e que elite é essa que foi negligente, cúmplice? Preciso passar uma temporada com o Tio Sam, pensei.

A esquerda caviar "adora" o socialismo, mas do conforto do capitalismo. Nossos artistas engajados defendem o PT, a Venezuela e até a ditadura cubana, mas não saem do Leblon ou de Paris. Nós, os "coxinhas" também preferimos o capitalismo, mas não somos hipócritas. E quando é hora de "votar com os pés" isso fica claro. Você nunca verá um desses ricos artistas escolhendo viver em Cuba. Mas a direita é coerente com seu discurso, e prefere migrar para países mais capitalistas.

Neles, em vez de as crianças aprenderem sobre o "herói" Che Guevara, um porco assassino, estudam a vida de gente como Thomas Jefferson, um dos "pais fundadores" da nação mais livre e próspera que o mundo já teve. O direito básico de ir e vir não é uma enorme aventura arriscada como nas ruas do Rio, com assaltos constantes e marginais ousados tratados como "vítimas da sociedade" pela esquerda. Ruas limpas, leis que são respeitadas, praias sem arrastão: que "horror" esse malvado capitalismo!

"Pode ser bom para os ricos, mas quero ver como vivem os pobres" poderia dizer um típico petista. É mesmo? A faxineira nos Estados Unidos dirige um carro de luxo para padrões brasileiros. O jardineiro idem. E o lixeiro recolhe o lixo num caminhão com ar condicionado, sozinho, pois basta apertar um botão que a máquina faz o resto. O xerife não vive na favela, perto dos bandidos, mas é seu vizinho, em casas decentes.

O trabalhador humilde vive com dignidade,ao contrário do que acontece no Brasil, onde sofre por horas no transporte público caótico, morre nas filas dos hospitais públicos, é vítima de bandidos o tempo todo e precisa colocar seus filhos numa escola inspirada no comunista Paulo Freire, em que só tem doutrinação ideológica. Mas os "intelectuais" de esquerda enaltecem o socialismo, que só produziu miséria e escravidão no mundo todo!

O Brasil cansa. É muita ignorância, uma mentalidade totalmente distorcida, um ódio irracional ao capitalismo e uma idolatria absurda ao Estado. As pessoas parecem incapazes de aprender com a história. E não pense que falo do "povão"; a culpa principal é da elite mesmo, uma elite míope, oportunista e sem escrúpulos. Quem ajudou a colocar o PT no poder? A elite. Professores, funcionários públicos, "intelectuais" artistas, banqueiros! O Brasil tem salvação? Talvez. Mas só quando essa elite mudar.

Enquanto isso, a luta daqueles que desejam viver num país com mais liberdade e prosperidade será árdua. Eles não precisam enfrentar apenas a barreira da ignorância em geral; precisam romper os grilhões ideológicos, enraizados naqueles que são formadores de opinião. Ou melhor, deformadores de opinião. Haja esperança!

Rodrigo Constantino é economista e presidente do Instituto Liberal

História sem fim - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 27/10

Está perto de mergulhar no vinagre a última grande fonte de receita extraordinária prevista pelo governo para este ano, o dinheiro do leilão de hidrelétricas, que renderia neste ano uns R$ 11 bilhões.

Trata-se de 29 hidrelétricas que voltaram para o governo, depois de esgotado seu prazo de concessão. Seriam leiloadas no início de novembro. Agora, se tudo der certo, fica para o final do mês que vem. Se o Congresso aprovar algumas normas que indiretamente influenciam o leilão; se o clima financeiro não estiver em tumulto.

Sem esse dinheiro, a conta do deficit primário de 2015, até ontem de tarde, ficaria entre 0,9% do PIB e 1% do PIB, entre R$ 50 bilhões e R$ 58 bilhões. Somado a despesa de juros, que dá o deficit nominal, o buraco deve chegar a 9,5% do PIB neste ano.

Se não é homérico, o rombo é similar àquele do início do desastre da Grécia (não, não somos a Grécia. Trata-se apenas de uma medida do tamanho do nosso triste vexame).

Os economistas do governo, porém, desse limão querem fazer uma salada em 2016. Como esse dinheiro extra não vai entrar neste ano, o plano é engordar o resultado fiscal do ano que vem. Isto é, além de cumprir a meta de superavit prevista para 2016, ora em 0,7% do PIB, o governo somaria ainda a receita extraordinária frustrada neste ano, o que daria quase 0,6% do PIB.

Nessa contra entrariam as receitas talvez postergadas do leilão de hidrelétricas, de repatriação de dinheiro malandro que foi para o exterior, de renegociação de dívidas fiscais e de concessões de estradas, que também ficaram para as calendas.

Pode ser uma boa ideia.

Pode dar tudo errado. Até agora, não há garantia alguma de que o governo vai conseguir os recursos que previu para o Orçamento de 2016, aqueles que listou no segundo pacote fiscal do governo Dilma 2. Isto é, o plano de conseguir o dinheiro da CPMF, de se apropriar de parte do dinheiro do sistema "S" (Sesc, Sesi etc.) e de confiscar quase tudo das emendas parlamentares. Sem isso, se vão uns dois terços do pacote fiscal. Sem isso, não haverá superavit (se nada mais der errado).

Enfim, mesmo o deficit primário de 2015 pode ser maior, talvez até 0,6% do PIB maior (uns R$ 40 bilhões). Tudo depende de quanto e como o governo vai pagar as despesas que pendurou no ano passado, de modo malandro, inepto ou francamente ilegal, as chamadas "pedaladas". Como se vai arranjar tal coisa ainda depende de conversas com o TCU.

Provavelmente, o governo vai mandar para o Congresso uma revisão de Orçamento sem essa decisão, não se sabe bem como, deixando um "branco a preencher", assim que se chegar a um acordo sobre as pedaladas. Se tiver de pagar todas as pedaladas, as penduras de anos anteriores, o deficit primário aumenta para uns 1,6% do PIB.

O Brasil de meados da década passada chegou a ter deficit nominal desse tamanho (quer dizer, tínhamos uma situação muitíssimo melhor). Pareceu possível chegar a um deficit nominal zero, o que seria exótico e quase revolucionário no Brasil. Foi então que Dilma Rousseff, então ministra, começou a detonar as finanças públicas, contribuindo para derrubar a projeto inédito de equilibrar as contas do governo.

O fiador da estabilidade - JOSÉ CASADO

O GLOBO - 27/10

Semana passada, a cada 48 horas o STF recebeu nova evidência criminal contra o presidente da Câmara. Apuram-se crimes continuados, que justificariam até pedido de prisão



Na semana passada, a cada 48 horas a Procuradoria-Geral da República registrou no Supremo Tribunal Federal uma nova documentação acusando o presidente da Câmara dos Deputados de crimes de suborno e lavagem de dinheiro em contratos da Petrobras.

Os documentos combinam confissões de ex-funcionários da estatal e intermediários de empresas privadas com o resultado dos mais recentes rastreamentos de bens, direitos e valores dos quais o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e familiares seriam beneficiários e, supostamente, escondiam no exterior.

Na quinta-feira, o juiz Teori Zavascki decretou sigilo sobre as novas peças (protocoladas no STF como apensos 4, 5 e 6 aos volumes 9 e 10 do Inquérito nº 3.983). Mencionou especificamente os depoimentos.

Quem teve acesso impressionou-se: a movimentação descoberta ultrapassa muito o valor (US$ 10 milhões) já identificado em contas nos bancos Julius Bär, Merrill Lynch e BSI, de Genebra, onde Cunha aparece como beneficiário.

Foi o banco Julius Bär quem o delatou à Justiça da Suíça. No último 17 de abril, em Berna, o procurador federal Stefan Lenz denunciou Cunha por suborno e lavagem de dinheiro, crimes para os quais a legislação local prevê um mínimo de três anos de prisão em regime fechado (artigos 305 e 322 do Código Penal suíço).

Cinco meses depois, em 28 de setembro, a Suíça comunicou o encerramento da investigação e a transferência do caso ao Brasil. O procurador Lenz indicou que “foram detectados vários pagamentos e transferências de títulos” a partir do Merrill Lynch International, nos Estados Unidos.

Lenz escreveu a Brasília: “A procuradoria federal não conseguiu esclarecer a origem exata destes demais ativos e o fundo econômico destas transações. Mesmo assim, com base nas constatações e em razão destes recebimentos (de dinheiro), incompatíveis com a função de Cunha como presidente da Câmara dos Deputados, existe uma suspeita inicial suficiente de que, também em relação a estas transações efetuadas para Cunha, trata-se de produto de crimes.”

Duas semanas atrás, na sexta-feira 9 de outubro, procuradores do Brasil e dos EUA decidiram tornar mais fluida a cooperação. Patrick Stokes, do Departamento de Justiça, coletou evidências locais contra a Petrobras, seus fornecedores privados e pessoas físicas suspeitas de crimes contra a Lei de Práticas de Corrupção no Exterior. Essa legislação (FCPA, na sigla em inglês) tem alcance extraterritorial e prevê penas de até 20 anos de prisão, confisco e banimento de empresas do mercado americano.

No Supremo, prevê-se para dezembro a decisão do juiz Teori Zavascki sobre a denúncia contra o presidente da Câmara. A atual movimentação no inquérito sugere apuração de possíveis crimes continuados, o que poderia justificar até pedido de prisão.

Em teoria, esse seria o limite do Supremo. Sem sentença judicial definitiva, a Câmara tem exclusividade constitucional em decisão sobre mandato, permanência no comando da Casa e até sobre o seguimento do processo.

O Legislativo possui uma centena e meia de parlamentares sob suspeita em inquéritos no Supremo. O Executivo atolou-se em cumplicidades. Sobrou para o Judiciário o papel de fiador da estabilidade das instituições.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

LULA DEVE DEPOR NA POLÍCIA SOBRE A VENDA DE MP
O ex-presidente Lula deve ser convocado a depor no escândalo de venda de medidas provisórias, que, segundo a Polícia Federal, rendeu R$ 2,4 milhões a seu filho Luiz Cláudio Lula da Silva só no caso da MP 471, que prorrogou benefícios fiscais para montadoras de automóveis. Já investigado por tráfico internacional de influência, Lula também foi denunciado em casos de corrupção no âmbito da Operação Lava Jato.

CONVOCAÇÃO INEVITÁVEL
As referências a Lula no escândalo da venda de medidas provisórias, dizem experientes fontes policiais, tornam inevitável sua convocação.

GOVERNO ERA DE DILMA
Foi criada em 2011 a empresa do filho de Lula que recebeu dinheiro do lobista Mauro Marcondes Machado, preso ontem. Dilma era presidente.

LOBISTA DE LUXO
Lula já prestou um primeiro depoimento ao Ministério Público Federal sobre a suspeita de que ser um “lobista de luxo” da Odebrecht.

OPERAÇÃO CASADA
O MPF apura atuação de Lula viabilizando negócios para Odebrecht no exterior em “operação casada” com belos financiamentos do BNDES.

LULA: DEMISSÃO DE CARDOZO É ‘QUESTÃO DE HONRA’
Foram as maracutaias na venda de medidas provisórias que motivaram a busca da Polícia Federal na LFT Marketing Esportivo, empresa do filho de Lula, Luís Claudio Lula da Silva, que levou R$ 2,4 milhões do esquema. Mas Lula e seu séquito culpam o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), por “não controlar” a PF. Para Lula, é “questão de honra” demitir Cardozo, segundo um dos líderes do PT no Congresso.

A HONRA DE LULA
“Questão de honra”, para políticos como Lula, deveria ser não permitir que a corrupção invadisse sua própria casa.

ORDEM JUDICIAL, MANÉ
Petistas ligados a Lula ignoram que a PF cumpre ordem da Justiça, nas prisões, nas buscas e conduções coercitivas. Nada a ver com Cardozo.

FALTA DE AVISO
Lula se diz inconformado porque José Eduardo Cardozo não o “avisou” da nova fase da Operação Zelotes, deflagrada nesta segunda-feira.

BYE, BYE, MADAME
O ministro Luiz Inácio Adams (Advocacia-Geral da União) já avisou a presidente Dilma que só fica no cargo até dezembro. Em 2016, após uma quarentena, vai se dedicar ao próprio escritório de advocacia.

DILMA SE ACHA
Repetindo a lorota de que seu impeachment representaria a “ruptura” da “adolescente” democracia brasileira, Dilma faz a releitura da frase “O Estado sou eu”, do rei Luiz XIV. Para Dilma I, “A democracia sou eu”. A presidente ignora que o impeachment está previsto na Constituição.

DISPUTA POR PODER
A bancada do PMDB na Câmara reforçará o apoio a Michel Temer como presidente nacional do partido. É que os senadores do PMDB, Renan Calheiros à frente, querem a substituição de Temer, em 2016.

PREJUÍZO ELEITORAL
O presidente do PSDB, Aécio Neves, e o senador José Serra nunca se bicaram, e agora o mineiro tenta demover o paulista da ideia de mudar-se para o PMDB. É que sua candidatura presidencial perderia muito, em 2018, em São Paulo. E Serra conta mesmo com essa perda.

COMANDANTE NÃO CHEFIA
Em claro desafio à comandante das Forças Armadas, a 3ª Divisão do Exército em Santa Maria (RS) anunciou homenagem ao coronel Brilhante Ustra, primeiro militar brasileiro reconhecido como torturador.

EFEITO CRISE
A construção civil no Distrito Federal sofre com os efeitos da crise econômica. No ano passado, houve 174 novos lançamentos. Em 2015, apenas três. O mercado despenca como um caminhão ladeira abaixo.

BOLA FORA
A falta de pulso e de unidade dos partidos de oposição afastaram o PMDB do impeachment. No partido, diz-se que os tucanos precisavam tomar as rédeas do processo, o que não aconteceu.

PESO DO GOVERNO
Líder do governo na Câmara, o deputado José Guimarães (PT-CE) vem chamando atenção por andar cabisbaixo, borocoxô. Assumir a liderança do governo Dilma não deve ser a realização de um sonho.

PENSANDO BEM...
...com rejeição passando dos 55%, Lula não se aperta: poderia recomeçar a carreira política como síndico de prédio da Bancoop.