quarta-feira, março 11, 2015

Popularidade de Dilma no chão - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 11/03

As vaias de ontem no 21º Salão Internacional da Construção, no pavilhão do Anhembi, em São Paulo, e o panelaço de domingo são exemplares do sentimento generalizado de rejeição ao governo Dilma que pesquisas de posse do Palácio do Planalto mostram com exatidão.


Lendo-as, não é possível continuar dizendo que as manifestações públicas contra o governo refletem apenas a posição dos ricos. O mesmo autoengano foi cometido pelo governo durante a Copa do Mundo, quando as vaias no jogo inaugural foram inicialmente atribuídas aos setores mais abastados da população.

As medições diárias indicam que o índice de avaliação boa/ótima do governo chegou a um dígito nesta semana, jogando no chão a popularidade da presidente Dilma, que despencou de 42% em dezembro de 2014, depois da eleição, para 23% em fevereiro, segundo o Datafolha. 

E agora chega a um dígito, menor do que o índice de popularidade do ex-presidente Collor seis meses antes de a Câmara dos Deputados autorizar o processo de impeachment. Naquela ocasião, Collor chegou a 15% de avaliação positiva, depois de ter tido, no início do seu governo, a expectativa de 71% da população de que faria um governo bom/ótimo.

Três meses depois, no entanto, só 36% mantinham a avaliação, percentual que caiu para 24% no primeiro ano e, ao final de dois anos apenas 15% mantinham esta avaliação positiva.

A trivialização do roubo

Espanta tanto a trivialização da roubalheira no relato do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco ontem na CPI, quanto a normalização do fato feita pelo relator petista deputado federal Luiz Sergio, que não viu “dados novos” no depoimento do delator.

Ora, a repetição de dados antigos que abrangem sempre milhões de dólares, o tratamento banal dado às negociações sobre as propinas, tudo isso é escandaloso demais para que se procure tratar dentro do terreno da normalidade o que Barusco descreveu nas muitas horas de depoimento na CPI.
Foi um verdadeiro circo de horrores o desfiar de detalhes do esquema que está sendo investigado pela Operação Lava-Jato, e o raciocínio de Barusco é cartesiano: se ele, que era gerente, ganhou os milhões de dólares que ganhou, por que seu superior imediato Renato Duque e o tesoureiro do PT João Vaccari, com quem se reunia para fazer a divisão do butim, deixariam de receber o que estava previsto nas planilhas?

É claro que Barusco não pode afirmar quanto Vaccari levou para o PT, só estimar, pois não era ele quem dava o dinheiro, e sim Duque. Mas pelas porcentagens acertadas, é fácil estimar que entre US$ 150 a 200 milhões de dólares entraram no cofrinho petista no período em que vigorou o esquema.

Assim como foi patético o esforço do relator e de alguns deputados petistas de tentar fazer Baruco dizer que o esquema criminoso começou ainda no governo de Fernando Henrique. O ex-gerente da Petrobras foi até involuntariamente cômico quando reagiu com veemência dizendo que até 2003-2004, o que ganhava de propina era de sua atuação pessoal, sem que ninguém soubesse.

Essa propina própria está misturada à propina institucionalizada pela gestão petista a partir do momento em que o partido chegou ao poder central com Lula, em 2003, e Barusco quase lamentou que, não podendo definir o que era o que, resolveu devolver os US$ 97 milhões aos cofres públicos, depois de sua colaboração premiada ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal.

Pelo seu relato, confirmando a informação dada por Paulo Roberto Costa em outro depoimento em Curitiba, a campanha de Dilma Rousseff de 2010 está necessariamente maculada pelas doações ilegais, desviadas dos cofres da Petrobras e muitas vezes lavadas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como doações legais.

Caminhando (ou ...) e cantando (ou ...) - ELIO GASPARI

FOLHA DE SP - 11/03/

O vice-governador da Bahia usou outros gerúndios, mas Rui Costa avisa: ‘Não tenho motivo para afastá-lo’

Na sexta-feira, quando o repórter Lucas Reis telefonou para o vice-governador da Bahia, João Leão, do PP, pedindo-lhe um comentário a respeito de sua inclusão na lista de políticos arrolados pela Procuradoria-Geral da República, ouviu o seguinte:

“Estou cagando e andando, no bom português, na cabeça desses cornos todos.”

João Leão acumula o cargo de vice-governador do estado com a Secretaria do Planejamento, para a qual foi nomeado pelo governador petista Rui Costa. Feito o estrago, dois dias depois Leão desculpou-se de forma tortuosa, explicando “a exata dimensão das minhas palavras”:

“Foram considerações feitas num momento de profunda indignação e surpresa. (...) Não há, da minha parte, nenhuma intenção de ofender o Ministério Público, o Poder Judiciário, ou quaisquer outras instituições essenciais na manutenção do Estado Democrático de Direito, nem pessoas.”

Se o doutor tivesse explodido ao sair de um bar ou mesmo de uma missa, tudo bem. Sua declaração foi dada numa resposta à indagação do repórter. Pode ter sido influenciada pela contrariedade, mas a “exata dimensão das minhas palavras” é só uma.

Faz tempo, as pessoas iam para a rua com os versos de Geraldo Vandré:

“Caminhando e cantando

E seguindo a canção

Somos todos iguais

Braços dados ou não”

O doutor Leão ofereceu dois novos gerúndios para a velha letra, mas desta vez os “iguais” são outros. Foi a percepção da diferença que provocou os protestos de domingo, enquanto a doutora Dilma falava.

Passados alguns dias do episódio, sem que se possa atribuir qualquer conteúdo emocional ao que disse, o governador Rui Costa justificou as palavras de Leão: “No momento de dor e revolta você pode acabar pronunciando palavras que não sejam as mais adequadas”. Antes fosse. Nesse caso, seria compreensível que chamasse de “cornos” sabe-se lá quem. (Corno só não era ofensa para Andrew Parker Bowles, o marido de Camilla, namorada do príncipe Charles, atual duquesa da Cornualha.) A essência dos gerúndios seria então “estou pouco ligando”. Sairia a vulgaridade e permaneceria a soberba. Se um cidadão disser isso a um delegado em Salvador, toma uma cana por desacato a autoridade.

O comissário Rui Costa não tem poderes para demitir o vice-governador eleito em sua chapa. Contudo, o doutor Leão é seu secretário de Planejamento e ele informa: “Não vejo motivo nenhum para afastá-lo. Ele foi citado por alguns dos delatores. O que o STF fez foi autorizar o início do processo de investigação”. Não é bem assim. A simples abertura da investigação poderia, a juízo do governador, ser motivo insuficiente para afastá-lo. Tomado ao pé da letra, Leão informou que estava “cagando e andando” para o procedimento que um ministro do Supremo Tribunal Federal autorizou que fosse instaurado em relação a ele.

A linda canção de Vandré, com os gerúndios originais, era um hino para a rua e por isso foi proibida. Com os gerúndios de Leão, ela se torna um hino para o andar de cima:

“Seguindo a canção

Somos todos iguais

Braços dados ou não.”

Desgoverno já acaba quando mal começou - JOSÉ NÊUMANNE

O ESTADO DE S.PAULO - 11/03

Dilma perdeu uma oportunidade, se não boa, no mínimo razoável, de se levantar do banquinho no córner, onde está acuada pela crise política e pelo péssimo desempenho da economia, e, pelo menos, voltar ao ringue, no pronunciamento à Nação por TV e rádio no Dia Internacional da Mulher, domingo. Seu discurso inócuo, boboca e incompreensível teve o que merecia: panelaço, vaias e xingamentos pelo País inteiro. Só não se decepcionou com ela quem não viu.

De fato, não havia muito espaço para manobra. Mas pedir paciência a uma plateia que dela só tem ouvido mentiras autoindulgentes não poderia deixar de soar tolo, inútil, arrogante e alienado. Poderia ter começado com um pedido de desculpas por tudo quanto prometeu na campanha e começou a descumprir quando foi divulgada a vitória na reeleição. A continuação inevitável poderia ser uma demonstração de que a paciência exigida dos cidadãos, que ela trata como súditos, seria compensada por algum sacrifício: redução de ministérios, cujo número é absurdo, por exemplo. Nem fez a velha proposta de pacto. Talvez porque padim Lula se tenha recusado a apertar as mãos estendidas na eleição de Tancredo Neves no colégio eleitoral, no apoio à Constituição, que o Partido dos Trabalhadores (PT) assinou amargamente constrangido, e no governo de união nacional de Itamar Franco, depois da queda de Fernando Collor.

Em vez disso, preferiu adotar a tática stalinista de reescrever o passado para garantir as boquinhas por um tempo longe de ser promissor para ela, seu governo e, sobretudo, para o País. Atribuiu a conjuntura "à maior crise econômica desde a recessão de 1929", a de 2008, que, para Lula, passaria por aqui feito uma "marolinha" e ela jura que paira sobre nós há sete anos, como nos sonhos das vacas magras de José do Egito. E à seca, desgraça perene do Nordeste, que, ela esquece, faz parte do Brasil, apesar de ter-lhe garantido, com milhões de votos, a permanência no trono. Lá se sabe que a chuva é incerta e caprichosa.

Os tomates imaginários jogados pelos "podres burgueses golpistas" partem do pressuposto de que a piada do barítono que anuncia um tenor pior à plateia que o apupa nem sequer servirão de metáfora para a crônica de seu desgoverno abortado: este, ao contrário do Cassino do Chacrinha, já acaba quando mal começou. Tudo indica que a militância armada contra a ditadura a impediu de frequentar aulas de História do Brasil, cujo aprendizado lhe faz falta. E mais ainda ao populacho, que verga sob sua inépcia. O desastrado discurso em que a mulher, festejada domingo no mundo todo, foi aqui celebrada às avessas evidencia que nossa experiência da dona da casa no poder será apenas um "duela a quién duela" coletivo.

Reconheça-se que os citados episódios históricos têm algumas diferenças em relação aos eventos destes idos de março em que o cego Tirésias teria a bendizer os temporais eventuais, prenunciados pelo cheiro. Nestes 61 anos foram aplicadas três soluções pessoais para resolver crises políticas. Em 1954, Getúlio Vargas disparou contra o próprio peito para não morrer afogado no "mar de lama" de uma corrupção de aprendiz, comparada com o caso Celso Daniel, o mensalão e as petrorroubalheiras - o crime continuado que ora corrói as bases da republiqueta sob os petralhas. Sabe-se que Getúlio era um suicida vocacional. O tiro foi o único jeito que teve para abortar o golpe dos militares da geração dos tenentes de 1930. Ao "sair da vida para entrar na História" adiou o golpe, sim, mas por apenas dez anos.

Contra o manhoso estancieiro de São Borja havia também a oratória inflamada e eficiente da UDN de Affonso Arinos de Mello Franco e de Carlos Frederico Werneck de Lacerda. A retórica, a ação parlamentar e a capacidade de construir caminhos para desviar o País da crise a que foi levado pela insana gula petista passam longe do perfil da oposição de hoje, indigna até dessa denominação.

Seis anos após o suicídio no Catete, um presidente popular, eleito acima dos partidos, com a vassoura feita símbolo e a faxina como missão, renunciou para livrar-se das dificuldades impostas por um Congresso dominado por partidos que desprezava. A renúncia de Jânio Quadros foi um autogolpe que falhou por conta da fé cega em si mesmo. "Renuncia, Dilma", prega quem lhe atribui idêntico defeito. Mas ela não tem a persistência suicida revelada nos Diários de Getúlio, nem o perfil nobre de quem renuncia para facilitar a saída pela qual um governo de união nacional possa impedir a tragédia que se prenuncia com as fraturas da Nação, expostas na disputa eleitoral e agravadas com a determinação do grupo no poder de se agarrar ao que restar de bife no osso descarnado.

Fala-se ainda mais em deposição, repetindo a solução dada em 1992, 31 anos após os nove meses de Jânio, com 20 anos de ditadura militar no meio. Lá se vão apenas 23 anos, mas urge lembrar que o impedimento inevitável cedeu lugar à renúncia consentida do presidente, que, como Jânio, tentou em vão pôr de joelhos o Congresso (de 300 "picaretas" de Lula e 400 "achacadores" de El Cid Gomes?). Ao contrário de Dilma, a cujos propósitos ele serve, o ex-presidente tentou o lance do "Ministério ético". Mas foi defenestrado sem dó.

Sábado O Globo informou que, conforme delação premiada, Mário Negromonte foi trocado no Ministério das Cidades por Aguinaldo Ribeiro por pressão de seus correligionários acusados de se abastecerem no propinoduto da Petrobrás. Foi Dilma quem assinou nomeações e demissão de ambos. Dizer que era assunto interno de aliados e não lhe diz respeito em nada vai ajudar a suspender a queda de sua reputação. Para piorar, a dupla protagoniza a mesma investigação, na qual ela não figura.

Mas, com os militares de 1930 mortos e sepultados e a oposição incapaz de apunhalá-la politicamente, Dilma depende do Imponderável da Silva nas ruas para escapar aos idos de março - chova ou faça sol.

É hora de cair na real - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 11/03

Depois de ter feito no Dia da Mulher um pronunciamento infeliz que provocou forte reação negativa da classe média em todo o País, Dilma Rousseff apressou-se a procurar a imprensa - o que vinha evitando ultimamente - para defender-se e dizer que não há razões para seu impeachment. A presidente da República deveria se poupar dessa preocupação, pois não lhe faltam problemas reais muito mais graves. Apesar de haver setores radicais propondo a deposição legal da chefe do governo, está claro que a maior parte da oposição a Dilma, na política e nas ruas, entende, sensatamente, que não é hora de falar em impeachment. O argumento de que a oposição está tentando promover o "terceiro turno" das eleições presidenciais é risível, retórica apelativa, própria da maneira singular de o PT pensar e fazer política.

É assim que o PT pensa e age: a direção do partido, reunida na noite de domingo para avaliar a repercussão dos protestos contra Dilma, chegou à conclusão de que se tratou de uma "orquestração de viés golpista" protagonizada por setores da "burguesia e da classe média alta", que se transformou num "movimento restrito que não se ampliou como queriam seus organizadores".

São legítimas e democráticas, para o PT, apenas as manifestações populares por ele próprio orquestradas, ou pelas organizações sociais, sindicais e estudantis que manipula. Fora disso está tudo politicamente desqualificado, por vício de origem: ser contra o PT é o mesmo que ser contra o povo.

Para o comando petista, classe média não é povo, apesar de Dilma gabar-se, como voltou a fazer no domingo, de os governos do PT terem "promovido" à classe média mais de 40 milhões de brasileiros.

A virulência dos ataques dos dirigentes petistas aos protestos de domingo está em contradição com a posição adotada por Dilma. Apesar de ter tentado sair pela tangente com a história do "terceiro turno", a presidente admitiu que o protesto foi legítimo, democrático, e que é preciso "conviver com a diferença". Não tentou, como os dirigentes de seu partido, pura e simplesmente desqualificar os manifestantes.

O que disse Dilma foi reiterado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, escalado para falar sobre os protestos. Para ele, toda manifestação pacífica é "um direito da população". E repetiu a tese do "terceiro turno", contando vantagens pelo fato de o PT ter vencido eleições presidenciais quatro vezes seguidas. Mas Mercadante carrega o peso de ser petista histórico e não resistiu à tentação de dar lições que jamais aprendeu: "Precisamos construir uma cultura de tolerância, de diálogo e respeito. Uma agenda de convergência é fundamental para o País poder superar as dificuldades conjunturais o mais rápido possível".

Tolerância, diálogo e respeito é tudo o que o PT jamais praticou em mais de 20 anos de oposição e 12 de governo. Muito menos convergência. O lulopetismo sempre tratou os adversários como inimigos a serem eliminados e primou exatamente por divergir em momentos cruciais da vida nacional, como a discussão e aprovação da Constituição de 1988, do Plano Real, da Lei de Responsabilidade Fiscal e muitos outros episódios. É estranho que agora, mergulhado na crise provocada pela incompetência de seu governo, a elite do PT se julgue com autoridade moral e credibilidade para pregar "convergência". Mas insiste no descaramento de fazê-lo.

Essa gente que agora reclama e exige "convergência" nem parece a mesma que exigiu "Fora FHC" como bandeira de sua luta contra a bem-sucedida política de privatização de estatais durante os governos tucanos. Nem por isso foram então acusados de estar tentando promover um "terceiro turno". Até porque isso seria tecnicamente impossível: Lula perdeu logo no primeiro turno as duas eleições que disputou contra Fernando Henrique.

Antes de investir de novo contra quem ousa questioná-los, a presidente e os integrantes da elite do PT precisam cair na real e se dar conta de que há menos de cinco meses quase metade da população brasileira os repudiou nas urnas do segundo turno. De lá para cá, esse número não parou de aumentar.

Delação premiada serve de aula de fisiologismo - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 11/03

Os operadores do esquema mostram o que acontece quando partidos políticos são responsáveis por nomeações para cargos que gerenciam grandes orçamentos


Entre as diferenças do petrolão e o mensalão — ambos esquemas montados para subtrair dinheiro público a fim de lubrificar alianças do PT — está a forma de tramitação dos escândalos pelo Poder Judiciário.

Ao contrário do mensalão, cujo desfecho ficou concentrado no Supremo Tribunal Federal (STF), no petrolão há outro forte polo jurídico, na primeira instância da Justiça Federal do Paraná, onde começarão a ser julgados operadores financeiros do esquema, empreiteiros, executivos, ex-diretores da Petrobras e outros envolvidos que não tenham foro privilegiado.

Isso significa que o trabalho da 2ª Turma do STF, foro de deputados e senadores que vierem a ser denunciados, transcorrerá quando já será conhecida a essência da mecânica de funcionamento da corrupção na Petrobras. No mensalão, o método de abastecimento da lavanderia de dinheiro de Marcos Valério e o sistema de distribuição do dinheiro surgiram por inteiro apenas no decorrer do julgamento.

As delações premiadas que começam a ser divulgadas agora revelam detalhes de como o fisiologismo foi um dos alicerces do grande assalto à Petrobras. Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal (2004-2012), no depoimento que prestou em troca de redução de penas, foi ao ponto:

— Uma vez ocupando o cargo de diretor por indicação política, o grupo político demandará algo em troca.

Simples dessa forma. Portanto, o método do toma lá dá cá, pelo qual Lula e Dilma estruturaram seus governos e base parlamentar, encontra-se sempre na antessala da corrupção. Está a um passo da cobrança de propinas e outros “malfeitos”.

Paulo Roberto foi indicado pelo PP — partido com mais parlamentares incluídos na lista de Janot. Já Renato Duque, diretoria de Serviços, é tido como apadrinhado pelo PT etc. Os diversos testemunhos já prestados em Curitiba ao juiz Sérgio Moro e Ministério Público relatam intensa movimentação de operadores desses partidos e do PMDB: Alberto Youssef, Fernando Soares, ou Baiano, e João Vaccari Neto, tesoureiro do PT.

O comparecimento do ex-gerente da estatal Pedro Barusco — o homem de US$ 97 milhões — à nova CPI da Petrobras, ontem, ajudou a realçar o trânsito de Vaccari na estatal. Não por coincidência, Barusco era braço direito do diretor Duque, indicado pelo próprio José Dirceu, comenta-se sem desmentidos.

Um dos símbolos mais fortes do fisiologismo reinante no primeiro governo Dilma está na delação feita por Youssef. Segundo ele, o ministro das Cidades Mário Negromonte (PP-BA) foi substituído em 2012 por Aguinaldo Ribeiro (PB) porque ele não estava sendo generoso na distribuição, dentro do partido, das propinas amealhadas na Petrobras

Não se sabe é se quem assinou a troca de ministros, a presidente Dilma, foi informada dos motivos da perda de apoio de Negromonte no PP.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Medo eu tenho, né?”
Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, sobre o temor de virar “o novo Celso Daniel”



Além de Lula, PMDB abre guerra a Mercadante

Na linha das ácidas críticas do ex-presidente Lula, o PMDB também culpa o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) por não permitir que o experiente vice-presidente Michel Temer auxilie Dilma na articulação política. Temer chega a passar semanas sem encontrar a presidente. Acusado por Lula de “sequestrar o governo”, o ministro afasta todos aqueles cuja colaboração possa merecer o reconhecimento de Dilma.

Presidente refém

Lula acha que Mercadante fez de Dilma sua refém, ao afastar do Planalto até os mais antigos e leais auxiliares, como Giles Azevedo.

Rasputin

O chefe da Casa Civil se acha um gênio da política, apesar da coleção de derrotas, e tenta ser o único a influenciar suas decisões.

Ideia aloprada

O aloprado Mercadante fez Dilma se posicionar sobre o impeachment, na desastrada coletiva de segunda (9), colocando o tema na pauta.

Não adiantou nada

Michel Temer avisou que não pode ser chamado só para apagar fogo. Ele alertou a Dilma que o PMDB está saindo do controle no Congresso.

José Dirceu monitora CPI por meio de prepostos

Uma das mais gritantes omissões da “Lista do Janot”, o ex-ministro José Dirceu monitora o andamento da CPI sobre o assalto bilionário à Petrobras, por meio de pessoas de sua confiança. Como já não é réu primário, o envolvimento do ex-braço direito de Lula no Petrolão pode custar-lhe uma nova pena, desta vez em regime fechado. O doleiro Alberto Youssef revelou que ele recebeu dinheiro sujo do Petrolão.

Arroz de festa

Gerente de imprensa da Petrobras, Lúcio Pimentel não perdia CPI. Não foi ao depoimento de Pedro Barusco, mas mandou três olheiros.

Descompensado

Com seu jeito anta de ser, o relator Luiz Sérgio (PT-RJ) fez a pergunta do dia ao ex-gerente ladrão da Petrobras: “O crime compensa?”

Sucesso

Após a vaia em São Paulo, ontem, a hashtag #VaiaDilma foi um dos assuntos mais comentados no Twitter.

Suspeito nº 1

O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) está convencido de que o ex-gerente corrupto da Petrobras, que depôs na CPI, está protegendo alguém importante, que seria seu chefe no esquema. Suspeita de Lula.

Tá feia a coisa

Dilma foi vaiada ontem, no 21º Salão da Construção Civil, por funcionários do evento, recepcionistas habituadas apenas a sorrir e a tratar bem as pessoas. Isso mostra o nível de irritação dos brasileiros.

Declínio

O panelaço de domingo e a vaia de ontem são sinais de deterioração de credibilidade e até de autoridade. Assessores de Dilma acham que ela será cada vez mais hostilizada, sempre que aparecer em público.

Fechando o cerco

Em 2014, a Petrobras ofertava curso para os depoentes se esquivarem de perguntas. O relator da antiga CPI, Marco Maia (PT-RS), recebeu uma lista do que deveria perguntar ao ex-diretor Nestor Cerveró.

Boa nova

O diplomata Eduardo Saboia, herói brasileiro que salvou a vida do ex-senador Roger Molina, vai sair do limbo a que foi relegado pelos chefes covardes do Itamaraty: foi convidado a assessorar o senador Aloysio Nunes (PSB-SP) na presidência da Comissão de Relações Exteriores.

Lobão na CCJ

Mesmo estrelando a Lista de Janot, no escândalo de corrupção da Petrobras, o ex-ministro Edison Lobão (MA) está empenhado em presidir a Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

Comando do Conselho

Em tempos de Petrolão, pega fogo a disputa pelo comando do Conselho de Ética da Câmara. Estão no páreo Sérgio Brito (PSD-BA), Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) e José Carlos Araújo (PSD-BA).

Só na porrada

Após brigas com dedo em riste e xingamento de “moleque”, o deputado Félix Mendonça (PDT-BA) ironiza que vai ter de “fazer curso de juiz de MMA” para ficar como segundo vice-presidente da CPI da Petrobras.

Obsessão

Ao tentar atrelar a corrupção na Petrobras ao governo FHC, o PT tenta a estratégia do “todos roubam, mas nossos ladrões são melhores”.


PODER SEM PUDOR

Coreto tombado

A história é conhecida nas rodas políticas de Minas. Nos anos 50, a prefeitura de Muzambinho recebeu uma mensagem do órgão estadual de defesa do patrimônio histórico: diante de murmúrios chegados a Belo Horizonte, a municipalidade ficava advertida de que o antigo coreto da praça era considerado "de interesse histórico", e que uma comissão iria até lá para tombá-lo. O prefeito reagiu com um telegrama urgente:

- Desnecessária vinda da comissão. Já que era para tombar, mandei derrubar o coreto.