segunda-feira, outubro 13, 2014

A tsunami da oposição - PAULO GUEDES

O GLOBO - 13/10
A confluência da "onda de indignação" por Marina com a "onda da razão" por Aécio resultou em uma tsunami de votos oposicionistas


O apoio de Marina Silva à candidatura presidencial de Aécio Neves ocorre em torno de propostas de seus respectivos programas de governo, confirmando sua intenção de inaugurar uma "nova política". Enquanto isso, a ferramenta da delação premiada expõe as vísceras da "velha política". As empreiteiras superfaturavam contratos com a Petrobras, cujos diretores eram indicados por partidos do governo que cobravam propina então repassada aos políticos. Locupletavam-se todos através dessa colossal engrenagem de corrupção.

A confluência da "onda de indignação" em que surfara Marina com a "onda da razão" que se ergueu por Aécio resultou em uma verdadeira tsunami de votos oposicionistas. As pesquisas eleitorais indicam que as intenções de voto em Aécio quase dobraram em apenas uma semana. As simulações indicam, pela primeira vez, sua vitória no segundo turno. Dilma fustiga Aécio por ter se beneficiado do "aparelhamento" da máquina pública ao ser nomeado, aos 25 anos, para uma diretoria da Caixa Econômica Federal. Mas é também fustigada como incompetente ou conivente em sua atuação no Conselho de Administração da Petrobras, diante de toda essa roubalheira. Um observador independente teria mais tolerância com o nepotismo do que com a corrupção sistêmica. Mas registraria que são duas faces de um mesmo fenômeno: a expansão descontrolada de gastos públicos sem qualquer transparência para a sociedade.

O tráfico de influência, o desvio de recursos dos contribuintes e o pagamento de propinas a políticos e partidos configuram o fenômeno da corrupção sistêmica, alimentada por essa ininterrupta escalada dos gastos públicos. O próprio Marx considerava impossível conduzir adequadamente a administração pública sem enfrentar os interesses de grupos empresariais que "governam e legislam por meio da Câmara e que têm no Estado sua principal fonte de enriquecimento".

Essa associação entre o descontrole dos gastos públicos e a corrupção seria um tema incontornável para uma opinião pública esclarecida. Pois "as enormes somas que passavam pelas mãos do Estado davam oportunidade para fraudulentos contratos de fornecimento, corrupção, suborno, malversações e todo tipo de ladroeira entre os órgãos da administração pública e seus contratados", fulminava Marx.

Destruição sem retorno - RUBENS RICUPERO

FOLHA DE SP  - 13/10


É terra arrasada: degradação atinge Petrobras, Correios, Ipea, IBGE, Embrapa... Fora o Itamaraty, que definha


A degradação da Petrobras, da Eletrobras e do BNDES nada tem em comum com a "destruição criativa" de Schumpeter. É pura terra arrasada, demolição sem criação. Custa a crer que um governo com pretensão de herdeiro de Getúlio se encarregue de dilapidar os três mais importantes legados institucionais do segundo governo Vargas.

A sanha exterminadora está longe de se deter nos três. Sofrem do mesmo efeito desagregador instituições como o Ipea, o Tesouro, até o IBGE, fundado no primeiro governo Vargas, afetado por escassez de recursos e divisões internas. Problemas similares comprometem a Embrapa e a vigilância sanitária do Ministério da Agricultura, setores vitais para manter a vantagem comparativa brasileira na exportação.

A lista poderia ser ampliada com os Correios, entre outros, mas esses exemplos bastam para mostrar que o fenômeno é generalizado. As causas é que não são as mesmas. Onde existe muito dinheiro, na Petrobras ou no Ministério do Transporte, a fartura de queijo é que atrai os ratos.

Às vezes, o problema se origina no aparelhamento partidário, na incompetência de indicados políticos e na intromissão excessiva como nas agências reguladoras, que nem chegaram a se consolidar.

O Itamaraty é caso à parte. Sem projetos e obras tentadoras, sem verba para pagar luz e água de embaixadas prematuramente criadas, o velho ministério definha na austera, apagada e vil tristeza da desmoralização programada pelo governo.

Três flagelos o devastaram ao mesmo tempo. O primeiro foi a expansão megalomaníaca de embaixadas sem meios de utilizá-las de modo produtivo. Criamos anos seguidos cem vagas de diplomata como se as vacas gordas fossem durar para sempre. Não surpreende agora que mais de trezentos jovens diplomatas se revoltem frustrados ao descobrir a falta de perspectivas que os aguarda.

O segundo golpe desmoralizador provém de presidente sem apreço pela diplomacia e pelos diplomatas, aos quais não perde ocasião de demonstrar seu desdém. Nem na fase caótica da proclamação da República tivemos chefe de Estado que deixasse mais de 20 embaixadores estrangeiros esperando para apresentar credenciais como se fossem rebanho de gado.

Cerca de 230 acordos internacionais dormem na Casa Civil aguardando a providência burocrática de decreto de promulgação ou mensagem de envio ao Congresso. Foi preciso a grita dos empresários para promulgar os acordos comerciais com o Chile e a Bolívia.

O erro original coube aos diplomatas da cúpula que decidiram pôr de lado o conselho de Rio Branco e promoveram a subordinação ao partido no poder de política externa que deveria estar a serviço da sociedade brasileira como um todo.

O Barão se recusou envolver nas paixões partidárias por saber que "seria discutido, atacado, diminuído [...] e não teria a força [...] que hoje tenho como ministro para dirigir as relações exteriores".

Ao desprezar a lição, os dirigentes do Itamaraty perderam "o concurso das animações de todos meus concidadãos". Perderam mais: a proteção e o respeito da sociedade, que os abandonou à sanha do partido que pretenderam servir.

Maria Antonieta - ELENA LANDAU

FOLHA DE SP - 13/10


Sem nenhuma criatividade, a campanha da reeleição apela, mais uma, vez para o discurso do medo. Totalmente previsível. Como o roteiro é o mesmo há anos, as ameaças não surtem mais efeito. Um governo que desmontou a Petrobras insinuar que a oposição vai privatizar a empresa chega a ser patético.

O terrorismo do momento é a volta ao passado. Mas frente à realidade da estagnação econômica e a certeza de empobrecimento da população, o presente é o verdadeiro perigo real e imediato.

Interessante que a obsessão de Dilma com o passado termina em Fernando Henrique. A memória deve ser curta. Sua fixação no ex-presidente é curiosa, explicável talvez pela enorme admiração que sente. Dilma já registrou em carta aberta seu apreço ao afirmar que FHC foi "o ministro-arquiteto de um plano duradouro e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica". Como candidata ignora o que disse como presidente.

Apesar da insistência da campanha, o que está em discussão nesta eleição não são os oito anos de FHC ou Lula, mas o mandato de Dilma. De qualquer forma, não há por que temer o passado. Ele traz lições que ajudam na construção do futuro. É bom retroceder para além de FHC se quisermos especular sobre a política econômica em caso de reeleição.

O modelo atual é semelhante ao dos anos de ditadura militar. Como hoje, havia intervenção na economia e subsídios para setores industriais, que eram poupados da competição externa, faltava transparência nas contas públicas e os preços eram administrados. O resultado é conhecido. Os anos 80 foram de recessão e hiperinflação, período que ficou conhecido como "a década perdida".

Também vêm do passado os aliados de hoje. Suas políticas podem indicar o que esperar em caso de reeleição. Com Sarney o país quebrou de verdade, não é mentirinha. E, como hoje, preços foram controlados artificialmente e, quando liberados, após as eleições, é claro, a inflação voltou com força. Qualquer semelhança com a defasagem nos preços da gasolina e a intervenção no setor elétrico não é mera coincidência.

Outro aliado de peso da candidata é Collor. Esse não precisa de muitas credenciais, mas, em períodos de memória seletiva, é bom lembrar o que ele fez com nossa poupança.

Milhares de eleitores não viveram essas experiências terríveis. E isso é muito bom. Um futuro melhor é a grande herança dos anos de FHC.

Infelizmente Dilma interrompeu um ciclo de estabilidade e crescimento iniciado há 20 anos atrás. Até os vilões da inflação estão de volta. Ao invés do chuchu, a culpa agora é da carne. E como no passado, a recomendação é a mesma: "Ao povo, ovos".

O IBGE, a Pnad e a desigualdade - JOÃO PEDRO DE AZEVEDO, MARCOS DE BARROS LISBOA E SERGIO FIRPO

ESTADO DE S.PAULO - 13/10

A divulgação recente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) teve grande repercussão. A constatação da estagnação da desigualdade de renda nos últimos anos, mensurada pelo índice de Gini, porém, foi ofuscada pela polêmica correção da pesquisa, que resultou numa revisão marginal do índice. Apesar da controvérsia, alguns pontos cruciais não parecem ter sido devidamente discutidos.

Primeiro, o Gini reportado pelo IBGE está estagnado desde 2011. Esse é um dado preocupante, pois o País havia vivenciado reduções significativas desde 1994 na sua desigualdade de renda, sobretudo a partir de 2001.

Segundo, a análise dos resultados deveria ser qualificada pela margem de erro. Como a Pnad é baseada numa amostra, e não num censo, toda estatística deveria ser acompanhada de uma medida sobre a sua precisão, como ocorre com as pesquisas eleitorais. No caso do Gini, uma mudança só seria significativa com 95% de confiança se fosse superior a 0,007 ponto. Como os dados desde 2011 apontam uma queda de 0,005 (0,506 em 2011, 0,505 em 2012 e 0,501 em 2013), não se pode rejeitar a hipótese de estagnação. A trajetória recente indica uma importante, e estatisticamente significativa, inflexão da tendência de queda verificada na década anterior.

Terceiro, o IBGE considera apenas os indivíduos com 15 anos ou mais de cada domicílio que receberam alguma renda. Uma família com muitos dependentes com menos de 15 anos será mais pobre, em termos per capita, do que outra com mesma renda, porém menor número de dependentes. Como famílias com baixa renda domiciliar total tendem a ter mais dependentes, essa desigualdade adicional não é capturada pelo Gini reportado pelo IBGE.

De fato, o Gini com base na renda domiciliar per capita considerando todos os membros do domicílio, incluindo aqueles com menos de 15 anos ou sem rendimentos, é maior do que o reportado pelo IBGE (0,524 em 2011, 0,523 em 2012 e 0,519 em 2013), novamente indicando a estagnação da desigualdade de renda, quando se considera a margem de erro, ao contrário do observado até 2011.

Em quarto lugar, as causas da estagnação foram pouco discutidas. As evidências indicam que o mercado de trabalho é o principal responsável pela evolução recente da desigualdade. Ao invés do que comumente se imagina, políticas de transferência de renda reduzem significativamente a extrema pobreza, mas nem tanto a desigualdade.

Alguns fatores explicam boa parte da queda na desigualdade da renda do trabalho na década passada, como a redução no diferencial salarial entre trabalhadores com pouca e muita qualificação, entre brancos e não brancos, mulheres e homens, urbanos e rurais.

Essa redução decorre de fatores estruturais da economia, que parecem pouco influenciados pelas políticas públicas, à exceção do salário mínimo. Uma evidência disso é que tanto os retornos à educação como a desigualdade da renda do trabalho foram reduzidos nesse mesmo período na maioria dos países do continente, não obstante as distintas políticas públicas adotadas.

A evidência indica que a política de elevação real do salário mínimo foi relevante para a redução da desigualdade salarial, ainda que sua importância ante outros fatores ainda seja tema de debate entre os especialistas. Contudo essa política depende de condições específicas do mercado de trabalho para ser efetiva. Aumentos acima da inflação em momentos de desaceleração econômica podem, ao contrário, aumentar a desigualdade, uma vez que ampliam o hiato salarial entre os trabalhadores formais e os informais, além do seu potencial impacto sobre o desemprego.

A estagnação recente do Gini parece decorrer do menor crescimento do emprego formal, refletindo a desaceleração da economia. Tivemos até 2010 um crescimento econômico inclusivo, pois o maior crescimento da renda ocorreu entre os trabalhadores mais pobres. Todavia a desaceleração recentemente contaminou até mesmo o setor de serviços, principal responsável pela geração de empregos para os trabalhadores menos qualificados.

Por fim, a Pnad, assim como as pesquisas domiciliares em outros países, tem dificuldade de entrevistar famílias mais ricas, além de ser incapaz de garantir que elas reportem adequadamente a sua renda, em particular a relativa a ganhos de capital. Trabalhos que tiveram acesso a dados da Receita Federal indicam que a desigualdade seria maior, e estável nos últimos anos, caso a renda dessas famílias fosse mais bem mensurada.

Dificilmente pesquisas como a Pnad conseguirão solucionar esse problema. Para superá-lo diversos países vêm pondo à disposição registros administrativos devidamente anonimizados, como os dados da Receita Federal. Infelizmente, estamos atrasados nesse esforço.

A atenção a esses cinco pontos colaboraria para o debate sobre a evolução da desigualdade, permitindo que a sociedade melhor monitore os avanços e os desafios sociais de um país ainda tão heterogêneo como o nosso e cujo retrato o IBGE nos vem fornecendo com transparência exemplar. Inclusive sobre os seus equívocos, publicamente discutidos e rapidamente corrigidos, graças a anos de acesso às suas bases de dados.

A constituição de um comitê de especialistas externos, formado por pesquisadores de diferentes escolas de pensamento, segue a boa prática internacional. O Brasil se beneficiaria da adoção de procedimentos semelhantes pelas demais agências e políticas públicas.

O vento de cada um - VALDO CRUZ

FOLHA DE SP - 13/10


BRASÍLIA - A duas semanas da eleição, o vento sopra a favor de Aécio Neves, enquanto a presidente Dilma Rousseff enfrenta tempestades.

Fato novo nas eleições recentes. Desde 2002, o PT ditou o tom da reta final da campanha, enquanto os tucanos buscavam fugir das cordas. Os papéis, agora, estão invertidos.

O tucano obteve apoios vitais no fim de semana. Da família de Eduardo Campos, essencial para melhorar sua votação no Nordeste. E de Marina Silva, que desta vez frustrou petistas e não ficou neutra.

Dilma Rousseff, do seu lado, entrou numa agenda negativa. Tenta se livrar do escândalo da Petrobras e da inflação, que voltou a subir e fez sua equipe dar munição ao PSDB ao sugerir tirar o filé mignon da mesa do almoço e do jantar.

Na visão de um amigo da presidente, ela precisa sair rápido da defensiva no caso Petrobras. Sua receita é seguir a linha "a Justiça vai cuidar dos criminosos; eu, do Brasil".

Afinal, diz ele, Dilma não tem o que temer. Deveria se descolar do Petrogate, reconhecer que houve desvios, insistir que os culpados terão de pagar e virar a página. Só que este caminho complica seu partido.

Pior, em sua visão, é que ela tem adotado um tom que causa efeito contrário. Atrai a crise para seu colo. Por exemplo, desqualificar os depoimentos do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, que acusa PT, PMDB e PP de lucrarem com a petropropina, é uma missão inglória.

Afinal, difícil não crer em boa parte do que o ex-diretor diz quando ele vai devolver R$ 70 milhões frutos da roubalheira. Sem falar que suas delações só terão valor, reduzindo sua futura pena, se forem robustas.

Enfim, Dilma entra na defensiva na fase dos debates, que têm tudo para ser decisivos, enquanto Aécio busca avançar no Nordeste petista e terá o voto de Marina. Da maioria de seus seguidores, veremos no final.

É bom lembrar, porém, que esta eleição já teve toda sorte de favorito e de derrotado. Nada está decidido.

Erros seriais - FABIO GIAMBIAGI

O GLOBO - 13/10

Comparado a vizinhos barulhentos, Brasil é um país até bastante sensato, mas temos abusado do desleixo em relação às consequências do que praticamos


Um pensador nacional observou no passado que “subdesenvolvimento não se improvisa: ele é obra de séculos”. Com adaptações, pelo fato de o tempo hoje ter outra dimensão, pode-se dizer que os problemas que o país está tendo não são fruto do acaso: eles resultam de erros sistemáticos. Não é de espantar que estejamos enfrentando dificuldades, com tantos e tão flagrantes erros de diagnóstico que foram se acumulando. É como se um médico tivesse aconselhado um paciente obeso a comer mais ou recomendado um regime espartano a quem sofre de bulimia.

Winston Churchill, que há muitos anos vinha se batendo em defesa da tese de que o nazismo tinha que ser enfrentado, disse, no final dos anos 30, com a verve que o caracterizava, que “o tempo da procrastinação e do adiamento está acabando. Está chegando o tempo das consequências”. Em tempos felizmente menos conturbados do que aqueles e requerendo atitudes não tão heroicas, porém, a conclusão se aplica como uma luva à nossa economia. Parodiando Churchill, “o tempo da procrastinação e do adiamento acabou. Chegou o tempo das consequências”.

Todos os países sofrem de algum grau de populismo, ou seja, de políticas que, na definição de Rudiger Dornbusch e Sebastian Edwards em um texto clássico sobre o tema, enfatizam “o crescimento econômico e a distribuição de renda e não dão ênfase aos riscos da inflação, do financiamento do déficit público e das restrições externas”. Embora a companhia de alguns de nossos vizinhos barulhentos faça do Brasil um país comparativamente até que bastante sensato, o fato é que temos abusado do desleixo em relação às consequências dos atos que praticamos. Um levantamento sucinto dos equívocos recentes nos quais o país incorreu deve incluir os seguintes pontos:

Estímulo ao consumo de energia em um país com escassez de energia. Já se sabia que havia um risco de restrição energética. Com os reservatórios ameaçados de serem esvaziados, ressurgiu no processo de tomada de decisão das empresas o receio de não haver energia. E o que fizemos nessas circunstâncias? Reduzimos o preço, desestimulando o investimento e aumentando a demanda por algo escasso;

Estímulo ao consumo em um país com escassez de poupança. O Brasil precisa aumentar a taxa de investimento e isso deveria estar associado a um aumento da nossa capacidade de poupança doméstica, que, entre 1999 e 2004, nos anos de ajuste, aumentou de 12% para 18% do PIB. Era a trajetória certa, mas ainda insuficiente. E o que fizemos depois? Reduzimos a poupança doméstica, na última informação disponível, para 13% do PIB nos últimos 12 meses. Bom para deixar o eleitorado feliz — mas péssimo para a capacidade de crescimento do país;

Estímulo a aumentos de salário real acima de produtividade em um país com problemas de competitividade. O PT tem se vangloriado em documentos partidários que o salário real está aumentando acima da produtividade. Isso gera peças publicitárias que são certamente boas de marketing, mas que seriam reprovadas no curso de Introdução à Macroeconomia I, pois esse é justamente o calcanhar de aquiles da nossa falta de competitividade: o Brasil está caro!;

Estímulo à contratação de mão de obra em situação de desemprego no piso. O mercado de trabalho nunca esteve tão aquecido. Há escassez de mão de obra e os salários reais estão pressionados. E o que é que fizemos? Desoneração para quem emprega mais mão de obra, regras de conteúdo local para aumentar o emprego, mesmo com aumento de custo em relação aos fornecedores externos etc. Resultado: emprego maior, competitividade pior. Como diria Nelson Rodrigues, é o “óbvio ululante”.

A lista de erros é longa. E a mãe de todos os erros é a concepção de Estado benfeitor, sintetizada pelo grande regente desse processo, o ex-presidente Lula, que, em 2006, conforme citado na época no blog do jornalista Ricardo Noblat, declarou no dia 24/11 que “o Brasil já fez todos os sacrifícios que tinha que fazer. Pois bem, eu acho que agora o povo brasileiro precisa começar a colher um pouco de benefício do Estado brasileiro”. A um Estado na época já inchado, adicionamos ainda mais despesas. O resultado não poderia ser outro. Como sempre, as consequências vieram depois. Nossa pobre competitividade é fruto desses equívocos.

Palpite infeliz - PAULO BROSSARD

ZERO HORA - 13/10

O certo é que, coincidente com o resultado das urnas ou não, houve uma série de fatos que mudaram o quadro, de modo que subitamente tudo parecia alterado. A pretendida reeleição da presidente Dilma ficou pela metade a despeito da milionária campanha celebrada, uma força nova entrou em cena com vigor, a ponto de ocupar posição no procênio quando era quase obscura. Isto me parece relevante.
Enquanto isso, antes da eleição, entidades de pesquisa divulgavam prognósticos como se possuíssem certeza científica, quando essas especulações eram predominantemente meras especulações.
A única pesquisa passível de ser aferida é a que se denomina “boca de urna” no dia da eleição e mesmo assim neste pleito ensejou erros constrangedores.
Não obstante, é impressionante a onipotência dos órgãos de pesquisa, que chegam mesmo a se atribuir a “margem de erro”, ao estabelecer o limite percentual de sua infalibilidade, quando a moderação nunca é demasiada, especialmente em afirmações que não se podem provar.
É de espantar que as pesquisas chegam ao requinte de especular a hipótese da hipótese, ou seja, se tal ou qual candidato for eleito no primeiro turno, adiantam qual seria o resultado no segundo turno. Infelizmente esse conjunto de palpites pode influenciar o resultado de uma eleição, sem qualquer responsabilidade a quem os emitiu.
Nem de longe se está a questionar a utilidade das empresas que fazem pesquisas, mas é conveniente relativizar suas conclusões. A nossa presidente parece que não considerou a margem de erro no tocante à honestidade de dirigentes da Petrobrás e de alguns ministros e o triste resultado não lhe foi lisonjeiro.
Mais poderia ser dito sobre a eleição do dia e 5 e o segundo turno, mas limitado no espaço fico nesta reflexão. Se os promotores de pesquisas não apresentassem seus prognósticos como próximos da infalibilidade, poderiam ter evitado o vexame a que foram submetidos. Bastaria dizer que erraram e, assim como o samba de Noel Rosa, tudo não teria passado de um “Palpite infeliz”.

Avançam os azuis - VINICIUS MOTA

FOLHA DE SP - 13/10


SÃO PAULO - O candidato azul, no jargão de analistas e operadores de campanhas, é aquele cuja votação aumenta conforme se eleva a renda dos eleitores. Já o vermelho atrai mais preferência quanto menor é o rendimento dos cidadãos.

As corridas presidenciais dos anos 1990 apresentavam distinção menos nítida entre o vermelho e o azul. A adesão a Fernando Henrique ou a Lula da Silva variava pouco e nem sempre revelava um padrão à medida que se percorria o gradiente da renda de um extremo a outro.

O cenário mudou na primeira década do século 21. Os candidatos petistas, a começar do Lula vitorioso de 2002, vieram exacerbando a característica de obter uma fatia crescente dos votos conforme diminuíam os vencimentos dos eleitores.

Num país de vultosos contingentes mal remediados como o Brasil, o desempenho vermelho nas urnas esteve associado com a vitória nos três escrutínios presidenciais daquele período. A década mudou mais uma vez, e agora estamos diante de uma possibilidade nova.

Pela primeira vez, um candidato azul mostra condições de obter maioria no segundo turno. Mesmo se Aécio não derrotar Dilma, já estará consignada uma reconfiguração notável, e provavelmente definitiva, na demografia do voto no Brasil.

Ainda não dá para saber se Marx tinha razão quando dizia que, ao triunfar, a sociedade capitalista alimentava o germe de sua própria destruição. Mas é possível perguntar, ironicamente, se o relativo sucesso econômico e distributivo do país nos anos Lula terá contribuído para minar a base eleitoral de candidatos petistas.

O Brasil democrático desta década não deixará de ser o maior Estado de Bem-Estar Social que permitem os seus US$ 12 mil de renda per capita. Ainda assim, o eleitorado parece apto a definir nas urnas os níveis e os limites da intervenção do governo na sociedade e na economia.

Hora de mudar - RAUL VELLOSO

O GLOBO - 13/10

Arminio mostrou ampla evidência do desastre macroeconômico atual


No debate com Arminio Fraga na GloboNews, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, insistiu em culpar a “crise internacional” pelas dificuldades atuais, e defendeu o modelo de expansão do consumo que vem sendo implementado como a solução ideal para os problemas. Ora, não dá mais para culpar a crise internacional, pois o crescimento do PIB brasileiro passou a ser bem menor do que o do resto do mundo. O problema não é externo, e sim interno. Isso é tão óbvio, que fica a dúvida se a resposta de Mantega é autêntica, ou uma mera busca de bode expiatório externo, que, não sendo um alvo bem definido e estando pouco interessado especificamente no Brasil, é sempre mais fácil de atacar.

Mesmo com as limitações do tempo de TV, Arminio mostrou ampla evidência do desastre macroeconômico atual. Primeiro, a inflação estourou o teto do intervalo de metas, sinalizando excesso de demanda, e ao mesmo tempo o PIB cresce perto de zero. Só mesmo no Brasil dirigido pelo PT. Segundo, o setor industrial está estagnado desde 2008, apesar de todas as custosas políticas de apoio que o governo pôs em prática nesses anos todos. Já se demonstrou que a trajetória da produção industrial média mundial descolou da brasileira, e vem evoluindo bem mais rapidamente que a nossa. Ou seja, algo mais profundo está acontecendo e precisa ser, no mínimo, entendido e, depois, explicado para a população.

Na verdade, o motivo é simples, mas o governo parece desconhecê-lo. Quando se joga tanta lenha da fogueira do consumo, uma hora os salários sobem no setor de serviços, que não tem concorrentes externos. Esses salários mais altos a indústria não consegue pagar, pois lá há forte competição das importações, com preços em dólar tendendo a cair pelo efeito China etc. Num mundo inundado em dólares, o câmbio cai ainda mais e torna os preços industriais menos capazes, ainda, de absorver aumentos de custos. Daí o encolhimento da indústria e a fuga de investidores. Mantendo a política pró-consumo, também esgotada por outros motivos, o governo dá um tiro no próprio pé.

Terceiro, a razão global entre o investimento e o PIB está caindo desde a saída da crise, em 2009. Como o setor público investe pouco, isso mostra, em adição à crise da indústria, o resultado da política de hostilizar o investidor privado, que vem sendo adotada especialmente na fase Dilma, sobretudo onde o governo tem maior ingerência: transportes, energia elétrica e petróleo. Mantega alegou que os investimentos estariam de fato acontecendo nas concessões privadas, e que vão deslanchar ainda mais a partir do ano que vem, passando, de forma espontânea, a carro-chefe da economia. Com base em quê? Esperança? Talvez Arminio tenha tido pouco tempo para aprofundar, mas o fato é que os investimentos são pífios nessa área, apesar dos últimos leilões.

Levou um tempo enorme para a fase Lula-Dilma entender que os leilões de menor tarifa teriam de se iniciar com tarifas-teto mais altas, pois a concorrência se encarregaria de aproximar as tarifas efetivas das menores possíveis. Como Dilma quer as menores tarifas imagináveis (e não o que é possível, diante de outras alternativas ao alcance dos investidores privados), deu vazio em alguns leilões, até que algo mudasse um pouco. Só que a execução dos contratos é outra estória. As perspectivas para os investimentos se realizarem num ritmo adequado não são boas, pois o governo faz tudo para tentar reduzir os retornos dos negócios ao longo da execução das concessões, pondo em risco a sua viabilidade. E a conta disso tudo — a ser paga a partir do próximo ano — é gigantesca. Na energia elétrica, já representa dois anos de Bolsa-Família.

O PIB vem crescendo próximo de zero, e o governo diz que o emprego ainda está forte, embora saiba que é só questão de tempo para isso se mostrar nos mercados de trabalho. O pior são as implicações do baixo crescimento do PIB na área fiscal, área em que é possível escrever um tratado sobre sua deterioração recente: queda dos superávits, contabilidade criativa, recurso exagerado a soluções não sustentáveis no tempo etc. Mantega se esquivou da discussão desse desastre, mas há um aspecto fundamental que precisa ser salientado. Nas contas públicas brasileiras, como se sabe, a despesa é super-rígida a curto prazo. Como o PIB passou a crescer menos, o que implica menor aumento da arrecadação, e o governo não sabe o que fazer com isso, a rota para o desequilíbrio financeiro é evento certo.

Mas há algo mais: a relação entre o crescimento da receita e o do PIB caiu pela metade, de algo próximo de dois para um, entre a fase pré-2008 e a fase mais recente. Ou seja, antes a receita crescia o dobro do PIB. Agora cresce igual ao PIB, que virou pibinho. Assim, uma gigantesca crise fiscal nos espreita, e pode levar à perda do “grau de investimento” nas agências internacionais de risco, e depois à crise cambial, à subida das taxas de juros, e a uma maior queda do PIB e, aí sim, do emprego. Só um governo crível e comprometido com a mudança desse quadro todo evitaria o pior.

Brasília, epicentro do desastre - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 13/10


Seis anos depois do começo da crise, a economia global avança lentamente e a maior parte dos países perdeu potencial de crescimento. O setor financeiro é de novo uma fonte de risco, principalmente pela expansão do shadow banking, sistema paralelo ao dos bancos comerciais e menos sujeito à regulação. Cerca de 200 milhões de pessoas estão desempregadas em todo o mundo e a esse número poderão acrescentar-se mais 18 milhões até 2018. A desigualdade aumentou, os problemas sociais cresceram e as condições de vida pioraram até em áreas desenvolvidas. Os piores efeitos do estouro da bolha imobiliária em 2007-2008 ficaram para trás, mas a recuperação tem sido insegura. O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu mais uma vez suas estimativas de crescimento para 2014 e 2015. Nesse quadro sombrio, o Brasil se destaca por indicadores muito ruins e graves fraquezas estruturais.

Poucas autoridades de Brasília participaram este ano, em Washington, da assembleia anual do FMI. O quase ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, preferiu ficar no Brasil. Sua presença, é verdade, faz pouca diferença, ao lado da presidente Dilma Rousseff, em uma reunião internacional. Mas o cenário desenhado pelos economistas do Fundo é relevante para quem hoje se ocupa - e ainda mais para quem vier a se ocupar - da economia brasileira.

A economia mundial, segundo as novas projeções do FMI, deve crescer 3,3% neste ano e 3,8% no próximo. São números muito fracos, depois das taxas de 3,4% em 2012 e 3,3% no ano passado. Mas os detalhes do quadro indicam diferenças importantes. Com expansão estimada de 2,2% neste ano e de 3,1% em 2015, os Estados Unidos manterão um desempenho melhor que o da maior parte das economias avançadas - e bem superior ao do Brasil.

Dentre as maiores economias emergentes, só uma, a russa, deve ter resultados piores que os da brasileira. Mas a Rússia, além de apresentar um conjunto significativo de desajustes, ainda é afetada por sanções econômicas, por causa da crise com a Ucrânia.

Os números globais mudaram e o tom das avaliações se tornou menos otimista em relação à maior parte dos países. Mas a descrição das condições do Brasil repete uma história conhecida e contada muitas vezes. Ela inclui baixa competitividade, investimento insuficiente, gargalos da infraestrutura e inflação persistente e muito acima da meta oficial de 4,5%.

Alguns desses problemas são mencionados também quando se trata de outros países. Os desenvolvidos seriam beneficiados, de acordo com o Fundo, pela aplicação de mais dinheiro em infraestrutura. Também esses países perderam, nos últimos anos, potencial de crescimento. Esta avaliação se estende aos emergentes, incluída a China, a economia mais dinâmica do mundo nas duas últimas décadas. Mas as semelhanças entre os casos do Brasil e de outros países são limitadas e as diferenças logo se ressaltam.

Dois pontos se destacam facilmente. O crescimento econômico brasileiro foi muito menor que o de outros emergentes, incluídos vários países da América do Sul, nos últimos quatro anos. Neste ano, quase todos perderam impulso, mas o efeito foi muito mais sensível no Brasil. Mais uma vez, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai e Peru devem avançar mais rapidamente e o descompasso, de acordo com as previsões, deve manter-se nos próximos cinco anos. O segundo ponto é a diferença das taxas de inflação. Os preços sobem mais no Brasil e as perspectivas de melhora são limitadas. Isso aparece claramente nas projeções do FMI.

Todos os países sul-americanos foram prejudicados pela crise internacional e, neste ano, pela baixa dos preços das matérias-primas. O governo brasileiro continua apontando para fora, quando tem de explicar o desempenho econômico do Brasil. Mas por que outros países terão sido menos afetados? A resposta é simples: é preciso levar em conta os fatores internos e também esse detalhe foi repetidamente apontado, nos últimos dias, pelos economistas e dirigentes do FMI. Não se deve olhar para o exterior, mas para Brasília, bem no interior do País, para encontrar a explicação do fiasco brasileiro.


A ver estrelas - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 13/10


A sonda indiana que ingressou na órbita de Marte no mês passado já entrou em operação, com as primeiras análises da atmosfera do planeta em busca de metano, gás ligado à atividade biológica.

A Índia torna-se, assim, o primeiro país asiático a realizar tal feito. Não é pouco. Basta dizer que China e Japão tentaram, sem sucesso, chegar ao planeta vermelho.

Batizada de Mangalyaan (nave marciana, em sânscrito), a missão impressiona também pelo custo: US$ 74 milhões, quantia modesta nos padrões astronáuticos. A missão americana que alcançou Marte recentemente, se bem que mais complexa, custou US$ 671 milhões.

Importante em si, o feito da Índia amplia ainda mais o prestígio do programa espacial do país. Desde 1963, produziu 74 satélites para diversas aplicações, fez 41 lançamentos de três tipos de foguete e pôs duas sondas na órbita da Lua.

Vale comparar com o programa brasileiro. Embora remonte à mesma época, apresenta trajetória bastante diferente: desenvolveu apenas cinco satélites --dois deles em parceria com a China-- e um microssatélite. Além disso, os artefatos só foram enviados ao espaço graças à ajuda de outros países.

São conhecidas as explicações para o fraco desempenho brasileiro. Primeiro, faltam recursos. Consideradas todas as ações do Programa Nacional de Atividades Espaciais, o Brasil investiu US$ 2,7 bilhões de 1980 a 2011; a Índia destina para esse fim mais de US$ 1 bilhão ao ano --quantia decerto exorbitante para uma nação com gravíssimos problemas sociais.

Além do fator financeiro, não há uma gestão na área com foco em metas e resultados e existe baixo grau de integração com a indústria nacional. Este ponto é decisivo.

Do ponto de vista pragmático, o investimento na corrida espacial se justifica pelo que pode resultar em termos de desenvolvimento da indústria de ponta. Inúmeros avanços tecnológicos tomaram impulso nas pesquisas feitas pela Nasa, a agência espacial norte-americana --da palmilha dos calçados à telecomunicação por satélite.

Há, ademais, uma questão acessória: sucessos nessa área proporcionam projeção internacional, relevante para nações que, como a brasileira, ambicionam exercer maior influência global.

Não são poucas as razões para o Brasil melhorar nessa disputa, que inclui mais de 70 nações. Do contrário, corre o risco de, passe o trocadilho, ficar a ver estrelas.

Sem substância - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 13/10


A Lei da Anistia foi promulgada em 1979, fruto de um pacto da sociedade brasileira. Foi um ato de perdões recíprocos, avalizado pelo Congresso após negociações entre militares que ainda tutelavam o sistema e legítimos representantes da sociedade civil. Visou-se, à época, a contribuir com a reconstrução democrática do país, ainda não consolidada. Também era seu propósito pacificar a nação, a ela reintegrando brasileiros excluídos do processo político, via cassação, prisão e/ou exílio, e oferecendo alternativas constitucionais para desmobilizar o aparato coercitivo que operava nos porões do Estado, contemplando agentes públicos com o benefício do perdão, assim como a esquerda armada.

Mesmo assim pactuada, e a despeito de ter sido integrada à Constituição, a anistia vem sendo alvo de tentativas de revisão no que diz respeito à sua reciprocidade — neste caso sempre numa única direção: destituir de seu alcance militares, policiais e outros agentes públicos de órgãos de segurança, de modo a puni-los ao arrepio das garantias que um instrumento legal lhes concede.

Trinta e cinco anos depois de aprovada a lei, a decisão do ministro do STF Teori Zavascki de suspender uma ação que pedia a punição de militares ligados ao desaparecimento do deputado Rubens Paiva amplia o debate sobre a anistia de 79. Como das vezes anteriores em que se tentou dar um perigoso dito pelo não dito a um contrato institucional, também a este propósito falta consistência política e técnica.

No primeiro caso, porque não faz sentido, mais de três décadas depois, reabrir uma ferida cicatrizada pela força de lei. A anistia ampla e recíproca foi carro-chefe da redemocratização brasileira, um exemplo de transição sem rupturas traumáticas. No segundo, a falta de substância se dá por uma série de atos legais que corroboram os termos da lei. O principal deles, o veredito do Supremo, de 2010, que reafirmou a constitucionalidade da Lei da Anistia.

Alega-se ainda que a lei se confronta com o entendimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre o tema, mas esta instância — criada após a anistia e, portanto, pelo princípio da irretroatividade — não tem competência sobre fatos anteriores à sua instituição. Também não se sustenta a ideia de que crimes “de sangue” e “continuados” (sequestro e desaparecimento de corpos) estariam fora do alcance da anista. Afinal, todos são qualificados pelo STF como “crimes políticos”, portanto, anistiados.

A anistia é parte do arcabouço de um processo de redemocratização que legou ao país seu mais longo período de estabilidade política. Isso e o fato de ter sido aplicada com base numa lei avalizada pela legitimidade das forças que a pactuaram são argumentos definitivos para desestimular tentativas espúrias de subvertê-la.

Homofobia é prova de atraso - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 13/10
Há comportamentos que foram abonados em determinada época, mas o tempo se encarregou de deixá-los relegados no passado. É o caso da escravidão. Nos séculos 16, 17, 18 e 19, aceitava-se com naturalidade submeter negros e índios a trabalhos forçados. Até a Igreja abençoava o comércio de seres humanos.
É o caso também do racismo. Discriminar pessoas baseado na cor da pele soa tão anacrônico quanto esconder familiares com alguma deficiência física ou mental, aceitar o trabalho infantil, considerar a mulher ser inferior e, por isso, incapaz de exercer cargos de direção ou indigna de receber salário equivalente ao dos homens quando exercem a mesma função.

A homofobia não fica atrás. Recusar o direito de a pessoa seguir a tendência sexual constitui violência rejeitada pela contemporaneidade. Vale o exemplo da resposta popular à fala homofóbica do então presidenciável Levy Fidélix: "Dois iguais não fazem filhos. Me desculpe, mas o aparelho excretor não reproduz". O candidato do PRTB se tornou símbolo do atraso, da intolerância e da incapacidade de convivência harmoniosa na sociedade.

No século 21, a intolerância tem cada vez menos espaço. Como explicar que alguém se sinta no direito de agredir cidadãos sentados à mesa de um bar pelo simples fato de pertencerem a este ou àquele sexo? Ou atacar pessoas na rua por julgá-las indignas de respirar o mesmo ar que ele? Quem não aceita as diferenças se imagina superior às demais criaturas. Pior: pressupõe que tem direito de exterminar o outro.

A campanha eleitoral mostrou candidatos que ainda vivem na Idade Média. Alguns foram eleitos por hastearem a bandeira da intolerância. É lamentável. Eles, porém, representam parcela da sociedade que se quer ver no parlamento. O caminho escolhido está correto. Não é com agressões físicas ou verbais que se impõem ideias, mas com debates democráticos em que vence a maioria.

Manifestações homofóbicas não são exclusividade desta ou daquela cidade, desta ou daquela unidade da Federação. Homens e mulheres sofrem agressões e, não raro, perdem a vida por intolerância de quem não tem condições de conviver em sociedade plural. A ignorância os impede de enxergar um palmo além do nariz. Se ampliarem o campo de visão, verão que a caminhada da humanidade prossegue - quer eles queiram, quer não.

A desaceleração generalizada - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 13/10


Pior do que a queda da receita bruta, em valores reais, constatada pela Pesquisa Mensal de Serviços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o que a nítida desaceleração do setor de serviços indica para o futuro. Ela mostra que, já ruim, o quadro da economia deve piorar, com a redução do emprego e da renda e, consequentemente, da demanda e do ritmo de crescimento, já muito fraco. Para complicar, tudo isso ocorrerá com a inflação em nível muito alto, ameaçando ultrapassar o limite da tolerância da política de metas do Banco Central.

Em valores nominais, a receita bruta do setor de serviços cresceu 4,6% em julho, na comparação com o mesmo mês de 2013. É a menor variação nesta comparação em toda a série mensal iniciada em janeiro de 2012. É menor também que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no período de 12 meses encerrado em julho de 2014, que ficou em 6,5% (no limite de tolerância) - ou seja, a receita real diminuiu.

No ano, a receita bruta acumulou alta de 7,0% e, em 12 meses, de 7,6%. As duas variações são maiores do que a inflação, mas são as primeiras, desde o início da pesquisa, que ficam abaixo de 8,0% e não há indicações de que esse ganho real, mesmo pequeno, se mantenha nos próximos meses. Desde maio, pelo menos, a variação mensal da receita, em valores nominais, vem diminuindo, numa clara indicação de desaceleração constante das atividades.

A pesquisa do IBGE abrange as atividades empresariais legais do setor de serviços, pois considera apenas as empresas inscritas no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica. Além disso, exclui do universo da pesquisa os serviços financeiros em geral (bancos, financeiras, corretoras e outras empresas) e os setores de saúde, educação e administração pública. Esses critérios reduzem sua abrangência, mas não sua importância como indicador da evolução futura da economia.

Trata-se de um setor que, mesmo com as exclusões decorrentes de sua metodologia, emprega grande quantidade de mão de obra. Se se incluir o setor informal, que deve enfrentar dificuldades semelhantes ou piores do que as que afetam as empresas formais de serviços, o número de empregados cresce muito mais. A desaceleração da evolução de sua receita bruta, já registrando queda real na comparação mensal, antecipa desaceleração também do mercado de trabalho. Se a tendência de queda das receitas se mantiver, certamente haverá demissões.

O desemprego crescente, por sua vez, reduzirá a disposição e a capacidade de consumo das famílias, esfriando ainda mais uma demanda interna que já dá sinais de esgotamento, por causa do alto endividamento das pessoas físicas e de suas dificuldades para honrar os compromissos financeiros. Por abranger atividades como serviços prestados às famílias, serviços de informação e comunicação e serviços profissionais, administrativos e complementares, a própria pesquisa mensal de serviços do IBGE já começa a evidenciar a desaceleração que ela antecipa para outros setores.

A indústria, às voltas com uma crise que lhe reduz a competitividade e faz encolher seu mercado, já está demitindo e, se a demanda interna se desaquecer, como sugere a pesquisa do IBGE, se verá mergulhada em dificuldades ainda maiores.

A inflação, de sua parte, depois de bater no teto da tolerância da política de metas, e às vezes rompê-lo, não dá sinais de que vá ceder nos próximos meses - fazê-la ceder não parece preocupação do atual governo, que prefere a convivência com a alta constante dos preços à austeridade necessária para combatê-la.

A presidente candidata à reeleição tenta convencer o eleitorado de que não há problemas e, se houvesse, saberia como resolvê-los num átimo. Não há, porém, soluções mágicas para romper esse círculo vicioso de desaceleração do crescimento. Austeridade fiscal, políticas públicas críveis, competência na sua formulação e implementação são elementos essenciais para isso. O que a história dos últimos quatro anos nos ensina, porém, é que o atual governo não dispõe deles.


Lula está de saco cheio. Eu, também! - RICARDO NOBLAT

O GLOBO - 13/10

"A candidata Dilma deveria respeitar mais a inteligência dos brasileiros e o nível da campanha eleitoral" Aécio Neves


Cuidado! Nada de acreditar no que disseram à Polícia Federal e à Justiça Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, e Alberto Youssef, doleiro, sobre o esquema de desvio de R$ 10 bilhões da empresa para beneficiar políticos em geral e alguns partidos em particular – PT, PMDB e PP.

Os dois podem estar mentindo.

Quando comprovada de fato, a verdade deverá ser muito pior. Duvida?

Gaba-se a presidente Dilma Rousseff – e Lula também - da liberdade com que atua a Polícia Federal.

Sempre que se descobre um novo escândalo envolvendo o PT e seus aliados mais fiéis, Dilma corre a exaltar as virtudes republicanas do seu governo e dá a entender que a Polícia Federal só procede assim porque ela deixa. Como se a Polícia Federal fosse um órgão de governo e não de Estado.

Aqui cabem pelo menos duas perguntas.

Se é marca da Era PT o empenho dos governos em colaborar nas investigações de malfeitos por que há sete meses a Polícia Federal tenta ouvir Lula em um processo sobre restos do mensalão e simplesmente não consegue?

Lula está para ser interrogado na condição de eventual testemunha – jamais de réu. Como ex-presidente, escolherá hora e local para depor. Não o faz.

A segunda pergunta: se Dilma repele com veemência a insinuação de que possa não se interessar pelo combate à roubalheira por que então barra qualquer iniciativa das duas CPIs da Petrobras de apurar o que se passou na empresa nos últimos 12 anos?

Só a Polícia Federal pode ser livre? “Eu sou a favor de, doa a quem doer, as pessoas têm que responder pelo que fazem, seja de que partido for”, prega Dilma. Não convence.

Arrisco-me a ser impiedoso com a presidente por entender que o jornalismo não cobra piedade de quem o exerce, mas senso de justiça.

Dilma posa de incorruptível, e deve ser. Nada se conhece que indique o contrário. Quanto a ser conivente com a corrupção...

Ela o é, assim como a maioria dos governantes por toda parte.

Paulo Roberto roubou desde que foi nomeado por Lula diretor da Petrobras. Lula ignorava o que Paulo Roberto fazia por lá a serviço do PP?

O que fazia meia dúzia de diretores nomeados também por ele a pedido do PP, PT e PMDB?

Dois anos antes de se eleger presidente, Dilma convidou Paulo Roberto para o casamento de sua filha. Não sabia que ele era ladrão?

Demitiu-o “a pedido” em 2012. Paulo Roberto deixou a Petrobras cercado de elogios. Dilma desconhecia seu prontuário?

Ora, faça-me o favor!

Na semana passada, Dilma cogitou demitir Sérgio Machado, um economista cearense que há mais de 10 anos preside a Transpetro, subsidiária da Petrobras. Paulo Roberto contou à Justiça que recebeu de Sérgio R$ 500 mil em espécie.

O padrinho de Sérgio é Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, citado por Paulo Roberto como envolvido com a corrupção na Petrobras. Além de cogitar, o que mais fez Dilma?

De volta de um comício em Maceió, onde ao lado do senador Fernando Collor segurou no microfone para que discursasse Renan Filho, governador de Alagoas, Dilma esbarrou na oposição de Renan, o pai, à demissão de Sérgio. E deixou de cogitá-la.

Para demitir Sérgio seria preciso que Dilma conseguisse o afastamento de João Vaccari Neto do cargo de tesoureiro do PT, argumentou Renan. Vaccari é outro emporcalhado pela lama da Petrobras.
Lula disse que está de “saco cheio” com denúncias de corrupção contra o PT feitas às vésperas de eleições.

Eu também estou.

E você?

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

DENÚNCIA DE PIVÔ DO ‘PETROLÃO’ ATINGE FOSTER

Pivô do escândalo do “Petrolão”, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa arrastou para o centro das denúncias a atual presidente da estatal, Graça Foster. Em depoimento à Justiça Federal, Costa denunciou que o PT abocanhava “pedágio” de 3% sobre o valor dos contratos de diretorias da Petrobras, entre elas a de Gás e Energia. A área foi comandada por Graça Foster de setembro de 2007 a fevereiro de 2012.



LOTEAMENTO

Foster assumiu a diretoria em lugar de Ildo Sauer, que acusou o governo Lula de permitir que partidos indicassem dirigentes para obter “ajuda”.


QUEM, EU?

A presidente da Petrobras até agora não se pronunciou sobre denúncias de PR Costa, nem sobre a investigação interna aberta pela Petrobras.


CAMINHO OPOSTO

Líder do PSDB, Antônio Imbassahy (BA) critica Foster por tentar “retardar a investigação” enquanto os delatores e a Justiça vão na direção oposta.


ENROLAÇÃO

O Tribunal de Contas da União sentou em cima do pedido de bloqueio dos bens dos envolvidos na compra da velha refinaria de Pasadena.


AGU PASSA SUFOCO PARA FECHAR CONTAS EM 2014

E-mail interno da Secretaria-Geral de Administração da Advocacia-Geral da União (AGU) alerta para a falta de dinheiro para pagar serviços prestados ao órgão. A AGU já custou quase R$ 2,7 bilhões aos brasileiros só este ano. Desse montante, R$ 2,3 bilhões foram gastos na inchada folha de pagamento. Para honrar os contratos da AGU, a União prometeu liberar R$ 40 milhões ainda esta semana.


COMO UMA MÃE

Com a “ajudinha” do governo, o orçamento de custeio saltou de R$ 251 milhões para R$ 291 milhões. E ainda pode fechar no vermelho.


ORÇAMENTO COMPROMETIDO

Segundo Gildenora Milhomem, que assina o e-mail, os próximos meses “serão de extrema tensão e preocupação” por causa das contas.


MESES A FIO

O ministro Luiz Adams corre atrás do prejuízo desde março. Foi com o pires na mão a várias as reuniões no Ministério do Planejamento.


TAMOS AÍ

Os candidatos ao governo do Ceará, Eunício Oliveira, e do Amazonas, Eduardo Braga (AM), são fortes pretendentes do PMDB à presidência do Senado, caso não consigam se eleger no segundo turno, dia 26.


LAVOU, TÁ NOVO

A Polícia Civil paulista suspeita que o cantor Frank Aguiar, vice do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), cometeu o crime de lavagem de dinheiro para um conhecido traficante. O escândalo, já tem até trilha sonora: a música “Lavou, tá novo”, sucesso de Frank Aguiar.


FOCO PAULISTA

O vice Michel Temer segue na árdua tarefa de conquistar votos dos paulistas para a reeleição de Dilma e dele próprio, como vice. Participa nesta segunda (13) de reunião com 90 prefeitos do partido no Estado.


INSULTO QUE ELOGIA

O fracasso subiu à cabeça de Gilberto Carvalho: ele instruiu o PT-DF a “nunca mais” ajudar Cristovam (PDT), após o senador apoiar Aécio no 2º turno. Cristovam teve 833 mil votos em 2010. O governador Agnelo (PT), este ano, teve só 307 mil e seu candidato ao Senado, 286 mil.


NA BALANÇA

Deputado proporcionalmente mais votado do Brasil em 2010, Reguffe (PDT-DF) perdeu sete quilos durante a campanha ao Senado. Foi eleito de lavada com mais de 826 mil votos, equivalente a 57% do total.


FAT NA PINDAÍBA

O déficit do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) chegará este ano a R$ 13 bilhões e o Tesouro Nacional já avisou que não vai cobrir o rombo. A saída será queimar mais R$ 5,5 bilhões do patrimônio do fundo que, teoricamente, seria dos trabalhadores.


TÔ FORA

O deputado Lúcio Vieira Lima (BA) criticou a propaganda em que Dilma comemora a eleição de 304 deputados da base, ignorando os rebeldes: “Não apoio e não autorizo me colocarem nessa contabilidade”.


NOVATOS BALANÇAM

Mais da metade dos deputados federais que abandonaram seus partidos após a criação de Pros e Solidariedade no ano passado não obteve votos suficientes para garantir novo mandato nas eleições deste ano: 23 dos 42 deputados da bancada atual não vão retornar à Câmara em 2015.


PENSANDO BEM…

…só Barack Obama escapou do “não sabia” da Petrobras. E ainda disse que não pediria desculpas.