terça-feira, outubro 07, 2014

Basta de PT - MARCO ANTONIO VILLA

O GLOBO - 07/10

Dilma foi a terceira pior presidente em termos de crescimento econômico. Só perdeu para Floriano Peixoto e Fernando Collor


Estamos vivendo um momento histórico. A eleição presidencial de 2014 decidirá a sorte do Brasil por 12 anos. Como é sabido, o projeto petista é se perpetuar no poder. Segundo imaginam os marginais do poder — feliz expressão cunhada pelo ministro Celso de Mello quando do julgamento do mensalão —, a vitória de Dilma Rousseff abrirá caminho para que Lula volte em 2018 e, claro, com a perspectiva de permanecer por mais 8 anos no poder. Em um eventual segundo governo Dilma, o presidente de fato será Lula. Esperto como é, o nosso Pedro Malasartes da política vai preparar o terreno para voltar, como um Dom Sebastião do século XXI, mesmo que parecendo mais um personagem de samba-enredo ao estilo daquele imortalizado por Sérgio Porto.

Diferentemente de 2006 e 2010, o PT está fragilizado. Dilma é a candidata que segue para tentar a reeleição com a menor votação obtida no primeiro turno desde a eleição de 1994. Seu criador foi derrotado fragorosamente em São Paulo, principal colégio eleitoral do país. Imaginou que elegeria mais um poste. Não só o eleitorado disse não, como não reelegeu o performático e inepto senador Eduardo Suplicy, e a bancada petista na Assembleia Legislativa perdeu oito deputados e seis na Câmara dos Deputados.

A resistência e a recuperação de Aécio Neves foram épicas. Em certo momento da campanha, parecia que o jogo eleitoral estava decidido. Marina Silva tinha disparado e venceria — segundo as malfadadas pesquisas. Ele manteve a calma até quando um dos seus coordenadores de campanha estava querendo saltar para o barco da ex-senadora.

E, neste instante, a ação das lideranças paulistas do PSDB foi decisiva. Geraldo Alckmin poderia ter lavado as mãos e fritado Aécio. Mas não o fez, assim como José Serra, o senador mais votado do país com 11 milhões de votos. Foi em São Paulo que começou a reação democrática que o levou ao segundo turno com uma vitória consagradora no estado onde nasceu o PT.

Esta campanha eleitoral tem desafiado os analistas. As interpretações tradicionais foram desmoralizadas. A determinação econômica — tal qual como no marxismo — acabou não se sustentando. É recorrente a referência à campanha americana de 1992 de Bill Clinton e a expressão “é a economia, estúpido”. Com a economia crescendo próximo a zero, como explicar que Dilma liderou a votação no primeiro turno? Se as alianças regionais são indispensáveis, como explicar a votação de Marina? E o tal efeito bumerangue quando um candidato ataca o outro e acaba caindo nas intenções de voto? Como explicar que Dilma caluniou Marina durante três semanas, destruiu a adversária e obteve um crescimento nas pesquisas?

Se Lula é o réu oculto do mensalão, o que dizer do doleiro petista Alberto Youssef? Imagine o leitor quando o depoimento — já aceito pela Justiça Federal — for divulgado ou vazar? De acordo com o ministro Teori Zavascki, o envolvimento de altas figuras da República faz com que o processo tenha de ir para o STF. E, basta lembrar, segundo o doleiro, que só ele lavou R$ 1 bilhão de corrupção da Refinaria Abreu e Lima. Basta supor o que foi desviado da Petrobras, de outras empresas e bancos estatais e dos ministérios para entender o significado dos 12 anos de petismo no poder. É o maior saque de recursos públicos da História do Brasil.

Nesta conjuntura, Aécio tem de estar preparado para um enorme bombardeio de calúnias que irá receber. Marina Silva aprendeu na prática o que é o PT. Em uma quinzena foi alvo de um volume nunca visto de mentiras numa campanha presidencial que acabou destruindo a sua candidatura. Não soube responder porque, apesar de ter saído do PT, o PT ainda não tinha saído dela. Ingenuamente, imaginou que tudo aquilo poderia ser resolvido biblicamente, simplesmente virando a face para outra agressão. Constatou que o PT tem como princípio destruir reputações. E ela foi mais uma vítima desta terrível máquina.

O arsenal petista de dossiês contra Aécio já está pronto. Os aloprados não têm princípios, simplesmente cumprem ordens. Sabem que não sobrevivem longe da máquina de Estado. Contarão com o apoio entusiástico de artistas, intelectuais e jornalistas. Todos eles fracassados e que imputam sua insignificância a uma conspiração das elites. E são milhares espalhados por todo o Brasil.

Teremos o mais violento segundo turno de uma eleição presidencial. O que Marina sofreu, Aécio sofrerá em dobro. Basta sinalizar que ameaça o projeto criminoso de poder do petismo. O senador tucano vai encontrar pelo caminho várias armadilhas. A maior delas é no campo econômico. O governo do PT gestou uma grave crise. Dilma foi a terceira pior presidente da história do Brasil republicano em termos de crescimento econômico. Só perdeu para Floriano Peixoto — que teve no seu triênio presidencial duas guerras civis — e Fernando Collor — que recebeu a verdadeira herança maldita: uma inflação anual de quatro dígitos. O PT deve imputar a Aécio uma agenda econômica impopular que enfrente radicalmente as mazelas criadas pelo petismo. Daí a necessidade imperiosa de o candidato oposicionista deixar claro — muito claro — que quem fala sobre como será o seu governo é ele — somente ele.

Aécio Neves tem todas as condições para vencer a eleição mais difícil da nossa história. Se Tancredo Neves foi o instrumento para que o Brasil se livrasse de 21 anos de arbítrio, o neto poderá ser aquele que livrará o país do projeto criminoso de poder representado pelo PT. E poderemos, finalmente, virar esta triste página da nossa história.

Mano a mano pesado - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 07/10


Olhando a composição do pódio, 2014 dá a impressão de repetir a primeira rodada de 2010 em termos de resultado: PT na frente, PSDB em segundo refletindo o mano a mano de sempre (agora pela sexta vez em 20 anos), a tentativa de terceira via de novo de fora e mais uma vez personificada por Marina Silva.

Descontadas pequenas variações para mais e para menos, os desempenhos numéricos também foram relativamente parecidos com os da eleição anterior. Dilma Rousseff piorou bem, mas manteve a liderança; Aécio Neves teve um ponto a mais que José Serra e Marina superou-se em apenas dois, ficando no patamar dos 20%.

O governo confirmou supremacia no Norte e Nordeste, o PSDB a preferência no Sudeste e Centro-Oeste. Terminam aí as semelhanças. No mais, o cenário é inteiramente diferente não só em relação a 2010, mas também na comparação com os de 2002 para cá em que no enfrentamento direto os petistas fortalecidos e unidos bateram tucanos acuados e divididos.

Isso não significa que o governo entra em campo enfraquecido para a batalha do segundo turno. Nem de longe. Continua contando com muitas vantagens. Só não pode mais contar com todas elas. Por exemplo, uma de fundamental importância: base de apoio social. Fator que já permitiu ao partido apresentar qualquer versão sobre seus comportamentos, inventar o que bem entender a respeito de seus adversários e sair incólume diante da sociedade.

Foi por receio da liderança de Luiz Inácio da Silva aliada à força de base do PT que em 2005 a oposição não quis confrontar o então presidente quando o publicitário Duda Mendonça disse na CPI dos Correios que havia recebido dinheiro "por fora" para fazer a campanha de Lula em 2002. Pelo mesmo motivo, as duas candidaturas presidenciais tucanas de 2006 e 2010 evitaram ataques frontais a ele na ilusão de que assim preservariam votos.

Era medo do PT. Geraldo Alckmin até tentou enfrentá-lo em debate do primeiro turno, mas foi mal visto pelo público. No segundo, caiu naquela armadilha das privatizações tentando se mostrar mais estatizante que o PT e foi o que se viu: vestiu um colete cheio de adesivos de estatais e espantou seu eleitorado.

A situação agora é outra. São Paulo deu a senha e o PT entendeu o recado: o cristal da inviolabilidade foi definitivamente trincado. E com o rompimento dessa blindagem, foi-se também a razão para a oposição ter medo do PT e, por que não dizer, de Lula. Isso leva o PSDB com muito mais desenvoltura ao embate, libera o ex-presidente Fernando Henrique para articular o apoio de Marina Silva e confere nitidez ao debate.

A votação de Aécio Neves no Estado surpreendeu os petistas, bem como a dianteira de José Serra sobre Eduardo Suplicy na eleição para o Senado.

Na avaliação de alguns deputados e do assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, ainda na noite de domingo, o partido não tem como escapar de fazer uma análise franca e detalhada sobre as razões do prejuízo que atingiu a bancada federal e de maneira bastante acentuada, a estadual.

No primeiro momento, todos concordam que o PT não soube avaliar corretamente a extensão do repúdio ao partido por não ter dado atenção aos efeitos que os desvios de conduta de alguns poderiam causar em todos na medida em que a cúpula e mesmo o governo não reagiu de maneira incisiva às denúncias de corrupção. Na opinião do deputado Arlindo Chinaglia, houve uma preocupação excessiva e exclusiva em enumerar os feitos do governo. "Abdicamos de fazer política."

A questão agora é se dá tempo de mudar o cenário, uma vez que São Paulo tem um peso extraordinário na contabilidade geral dos votos e que as votações de Aécio Neves e Marina Silva, somadas (55% contra 41%), indicam claramente que o desejo de mudança venceu o medo de romper o imobilismo. No quadro de muitas dúvidas só uma coisa é certa: o mano a mano será pesado.

Ecos daquele junho - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 07/10


BRASÍLIA - Engana-se redondamente quem acha que as manifestações de junho de 2013 foram episódicas, um vento que passou. Elas permearam todo o primeiro turno e terão papel relevante no segundo.

E o que elas diziam aos poderosos de todas as unidades da Federação, de todos os partidos e de todos os Poderes? Que a palavra de ordem desta eleição de 2014 seria... mudança.

O vento virou uma ventania que derrotou quatro governadores (DF, ES, PI e TO) já no primeiro turno e empurrou outros dez para um desconfortável segundo turno. Em tempos de mudança, a reeleição, sempre um grande trunfo, transformou-se também num fardo.

Esse movimento atingiu a presidente Dilma Rousseff, que venceu o primeiro turno, mas só em termos. Dilma saiu menor do que Lula em 2002 e 2006 e do que ela própria em 2010. Um dos motivos, talvez o principal, foi o tufão da mudança federal que veio de São Paulo.

Berço tanto do PT quanto do PSDB, o Estado é sobretudo o centro financeiro e industrial do país, onde há maior compreensão dos equívocos não só na condução, mas na concepção econômica do governo Dilma. Natural, portanto, que a onda da mudança, encorpada pelo antipetismo, tenha definido de forma particularmente forte os votos paulistas.

Dilma ficará ainda mais rouca de tanto falar em "fantasmas do passado", para conter a onda de mudança e reforçar estigmas contra o PSDB, logo contra Aécio. Para inverter o jogo, ele terá de combater o "monstros do presente", criando uma promessa de futuro --ou seja, reforçando o vento da mudança, mas "para melhor".

Mantidas as curvas da reta final do primeiro turno, o Datafolha desta quinta (9) poderá trazer Aécio na liderança, acionando todo o exército e a munição petista. Guerra fascinante, mas, além do debate ideológico sobre a economia e do debate político sobre métodos, virão os torpedos. Pode, agora metaforicamente, cair um novo avião e bagunçar tudo.

Atropelados - JOSÉ CASADO

O GLOBO - 07/10

Lula, Dilma e o PT assustaram-se porque 57 milhões ‘ousaram duvidar’ de suas propostas, preferindo as de Aécio e Marina. Acabaram ultrapassados no ‘cinturão’ operário paulista


Um sentimento de perplexidade prevalece na cúpula do Partido dos Trabalhadores desde a noite de domingo. Em Brasília, por exemplo, os convidados para a celebração do triunfo de Dilma Rousseff (com 43,2 milhões de votos) acabaram figurantes de um pálido festejo.

Rouca, a presidente-candidata anunciou o plano de campanha para os próximos 20 dias: “O povo dirá que não quer os fantasmas do passado, como recessão, arrocho, desemprego (...) Não queremos de volta os que trouxeram o racionamento de energia, que tentaram incluir no processo de privatização a Petrobras, as empresas do setor elétrico, como Furnas, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica.”

É a renovada aposta num antigo receituário da política: qualquer coisa pode virar uma verdade, desde que mais de uma pessoa acredite.

Reflete a drástica mudança no humor petista depois de 12 anos no poder. Dissipou-se o tom de leveza e autojúbilo, permeado pela soberba da crença de que só ao PT cabe o papel de condutor da “mudança do Brasil”.

A raiz dessa comoção vai além da recuperação de Aécio Neves (34,9 milhões de votos), num esforço tão exuberante quanto solitário. Ou mesmo da resiliência de Marina Silva (22,1 milhões de votos) em sete semanas com dois minutos de propaganda no rádio e televisão, sob forte bombardeio em outros 15 minutos. O abalo petista tem mais a ver com o comportamento do eleitorado no Sudeste, especialmente em São Paulo, onde Lula surgiu, criou e consolidou o mais organizado partido político brasileiro.

Um mês atrás, na madrugada de sábado 6 de setembro, Lula mandou acordar dirigentes do PT. Na reunião improvisada, Lula desabafou seu “desentendimento” sobre o rumo da eleição. Fora a um comício em São José dos Campos, na hora de saída dos trabalhadores, e só encontrou meia praça cheia. Em outro, na porta 35 da Ford, em São Bernardo do Campo, a plateia não somou uma centena de pessoas.

“As pessoas podem, e devemos admitir, que não concordem com a gente ideologicamente”, disse. “O que não podemos aceitar é sermos tratados como segunda classe. Porque foi a partir do nosso partido que começou a mudar a história da administração pública nesse país.”

Acrescentou: “Vamos ter que fazer procissão, suar a camisa e discutir com aquelas pessoas que ousam duvidar da gente.” Wagner Freitas, presidente da CUT, emendou: “Não é possível, depois de 12 anos de trabalho exitoso, não ter resposta a essa direita ultrapassada.”

O mapa de votação de Dilma Rousseff mostra que o PT acabou atropelado no seu núcleo, o “cinturão” operário. Perdeu na capital (com 20,6% dos votos), em Santo André (27,6%), São Bernardo (32,7%), São Caetano (14,9%), São José (21,4%), Santos (20,1%), Campinas (25,7%) e Ribeirão Preto (20,7%).

Lula, Dilma e o PT assustaram-se porque 57 milhões “ousaram duvidar” de suas propostas, preferindo as de Aécio e Marina. Porém, o eleitorado que dizimou a bancada petista em Pernambuco, os premiou com os governos de Minas e Bahia, maioria de até 70% no Nordeste e a liderança na chegada ao segundo turno.

Agora, na encruzilhada, precisam optar entre a reinvenção da presidente-candidata e o velho receituário, que estabelece como missão a reforma do país sob critérios exclusivos do PT, não importando os desejos do eleitorado.

Sinais e ruídos - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 07/10

SÃO PAULO - O resultado da eleição surpreendeu? É claro que sim. Poucos dias atrás, eu, a torcida do Corinthians e a maioria dos analistas considerávamos Aécio carta fora do baralho, mas é ele e não Marina quem disputará o segundo turno com Dilma. O que ocorreu?

Poderíamos jogar a toalha e dizer que a política não é pautada pela lógica, desistindo de qualquer tentativa de previsão. Mas, antes de entregar os pontos, imaginemos um antropólogo marciano que tenha visitado o Brasil em julho, quando Dilma liderava e Aécio vinha em segundo, e que tenha retornado ontem. Para o marciano, não houve surpresa alguma.

A candidata governista está na dianteira, o que é perfeitamente natural nas democracias que permitem a reeleição, mas a oposição cresceu, o que também é normal dado o mau desempenho da economia e o desgaste de 12 anos de administração petista, e disputará com chance o segundo escrutínio. Sob essa perspectiva, não só há lógica por trás do processo eleitoral como ela se mantém a mesma desde o início da corrida.

E Marina? Marina foi o ruído. Como explica Nate Silver, nossos cérebros, desenhados para detectar padrões, interpretam tudo como se fosse sinal, em vez de apreciar quanto ruído, isto é, quanta incerteza, existe nos dados. Vimos a subida de Marina como se fosse um "fait accompli", quando não era mais do que uma tentativa dos eleitores de formar um consenso em torno do nome que seria capaz de derrotar Dilma.

A maioria dos brasileiros parece disposta a despachar o PT para casa. A vontade difusa, contudo, não basta. É preciso também apontar um sucessor. Os oposicionistas começaram cerrando fileiras em torno de Aécio, depois flertaram com Marina, mas, como ela não deu, voltam para o mineiro. A questão é que é mais fácil formar um consenso em torno da ideia de que é preciso mudar do que de um nome específico. E, sem esse consenso, Dilma acabará ficando.

A política nos números - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 07/10
Há duas maneiras de tentar entender o que pode acontecer neste segundo turno, que promete ser o mais eletrizante de tantos quantos já aconteceram desde 1989. O primeiro é meramente numérico, o outro é político. Nos dois casos, a votação de Marina Silva é fundamental, mas não depende apenas dela. Se ela quiser aproveitá-la para tirar dividendos políticos no sentido nobre do termo, poderá negociar um programa de governo que inclua questões que considere essenciais.
Estará então inaugurando na prática a "nova política" de que sempre falou, que não depende tanto de nomes, mas de práticas. O cientista político Sérgio Abranches, criador do termo "presidencialismo de coalizão" escreveu um texto sobre essas negociações no site "Ecopolítica" em que diz que "a novidade deste segundo turno em relação aos demais é que o apoio da coligação de Marina Silva a Aécio Neves, se ocorrer, terá como condicionante inarredável um acordo programático, e não uma simples barganha de cargos e promessas orçamentárias, como tem sido habitual" 

Para Abranches, essa "é uma novidade importante e que pode ter um efeito pedagógico fundamental para a mudança de qualidade do presidencialismo de coalizão no Brasil. Deve ter, também, impacto na campanha, uma vez que seria uma demonstração concreta do que poderia ser a transição para o que Marina Silva e Eduardo Campos chamavam de nova política. Um acordo negociado em torno de itens de programa, às claras, que seria apresentado formalmente aos eleitores por meio de um manifesto programático para formação de uma coalizão mais ampla de oposição"

Há claros sinais de que a coligação de Marina caminha para esse acordo, embora forças políticas ligadas ao PT dentro do PSB tentem a neutralidade como saída para impedir a aliança formal com o PSDB. O candidato tucano, Aécio Neves, está tratando o assunto com bastante cuidado e sem forçar a urgência, dando o tempo que tanto Marina quanto a família de Campos precisam para formalizar a decisão.

Do ponto de vista numérico, a disputa vai se dar no Nordeste, que se transformou no bunker do lulismo, e em São Paulo, o bunker do tucanato. A presidente Dilma garantiu na Região Nordeste 15,4 milhões de votos, seguida pela candidata do PSB, com quase 6 milhões, e Aécio, com aproximadamente 3,9 milhões. Foram nada menos que 11,5 milhões de diferença.

Sem os votos do Nordeste, ela teve no resto do país menos 3,3 milhões em relação a Aécio Neves.

Como na eleição de 2010, a presidente venceu no Norte e no Nordeste, e o candidato do PSDB ganhou no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste. A neutralização dos cerca de 8 milhões de votos de diferença a favor da presidente está, primeiramente, na ampliação dos votos em São Paulo e em Minas Gerais. No seu território político,

Aécio teve uma derrota de grande significado negativo, mas provocou uma redução da votação de Dilma em cerca de 1 milhão de votos.

Sua derrota por cerca de 500 mil votos, por outro lado, é a confirmação dolorida de que as derrotas anteriores de José Serra e Geraldo Alckmin para Lula e Dilma não foram provocadas pelo corpo mole de Aécio, mas pelas dificuldades de disputar com um petismo forte do estado.

A votação espetacular em São Paulo a favor de Aécio confirmou que o PSDB enfim encontrou seu ponto de equilíbrio corno partido - tanto que a primeira fala de Alckmin depois de eleito no primeiro turno, por uma votação esplêndida, foi para dizer que a tarefa do tucanato paulista será levar Aécio à vitória que ele e Serra tentaram, mas não conseguiram.

O outro objetivo foi traçado ontem: acrescentar mais 2 milhões a 3 milhões de votos aos que Aécio recebeu no estado, que viriam dos cerca de 5 milhões que Marina obteve. Isso significaria colocar na frente de Dilma, só em São Paulo, cerca de 6 milhões a 7 milhões de votos, uma diferença que nem mesmo Fernando Henrique Cardoso colocou sobre Lula nas duas eleições em que ganhou no primeiro turno.

Alívio e esperança - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 07/10


"Ufa!" A exclamação do leitor, estampada no Fórum dos Leitores na edição de ontem do Estado, resume o sentimento de alívio com que a maioria dos brasileiros conheceu o resultado da votação de domingo, que, ao colocar no segundo turno do pleito presidencial um candidato de oposição com reais possibilidades de ser eleito no próximo dia 26, demonstra que foi dado o primeiro passo para dar um fim à nefasta sequência de governos lulopetistas. A soma da votação dos dois principais candidatos de oposição, Aécio Neves e Marina Silva - mais de 57 milhões (56,8%) - contra os 43,2 milhões (41,6%) obtidos por Dilma Rousseff, mostra sem a menor sombra de dúvida que o povo brasileiro considera esgotado o prazo de validade da permanência do PT no poder.

A tarefa de concretizar o sentimento de verdadeira mudança manifestado nas urnas é agora a responsabilidade maior dos dois grupos políticos que, reunidos em torno de Aécio Neves e de Marina Silva, foram os indutores de um resultado adverso ao lulopetismo na primeira fase da votação presidencial. É do entendimento democrático entre essas duas forças, colocando o interesse nacional acima das conveniências partidárias ou pessoais, que depende em boa parte a oportunidade que deve ser oferecida ao povo brasileiro de promover a grande mudança a que tanto aspira. E tudo indica que esse entendimento pode estar a caminho.

E mesmo na indesejável possibilidade de que as forças políticas que apoiam Aécio e Marina não se mantenham íntegras para marcharem unidas no segundo turno, nada impede que o sentimento oposicionista simbolizado pelo claro desejo nacional de mudança prevaleça nas urnas do dia 26. Afinal, as lideranças político-partidárias influenciam, mas não dominam, o arbítrio do eleitor. E isso ficou muito claro no último mês da campanha do primeiro turno, quando a maioria do eleitorado oscilou entre os nomes de Aécio e de Marina, mas jamais teve abalada a sua determinação de votar contra o PT.

A votação de Dilma Rousseff no primeiro turno ficou abaixo do indicado pelas pesquisas - inclusive a de boca de urna -, mas foi notável a vigorosa recuperação de Aécio Neves, que até poucos dias antes amargava o terceiro lugar, com índice de intenção de voto abaixo dos 20%. Numa extraordinária demonstração de força de vontade e competência política, quando as circunstâncias lhe pareciam adversas, o ex-governador mineiro foi à luta com determinação redobrada e, passo a passo, recuperou com sobras o eleitorado que estava perdendo para a candidata do PSB. Acabou obtendo nas urnas quase 35 milhões de votos (33,5%), logrando reduzir para apenas 8 pontos porcentuais uma vantagem de Dilma que chegara a cerca de 25 nas pesquisas de opinião.

Por outro lado, a reversão da trajetória ascendente que Marina Silva vinha cumprindo até o início de setembro foi o resultado, em parte, dos ataques contundentes que sofreu por parte de Dilma Rousseff e do PT, muitas vezes mentirosos e indignos, mas, sobretudo, da falta de quadros e de estrutura partidária de sua base de apoio.

Agora, a disputa começa em outros termos. Dilma Rousseff já não contará com a enorme vantagem de tempo na propaganda dita gratuita no rádio e na televisão. O tempo será agora dividido igualmente entre os dois candidatos. Dez minutos diários para cada um que o PT, por sua vez, dividirá entre a tentativa de, a qualquer preço, demolir a reputação de Aécio Neves e a manipulação de imagens, dados e estatísticas para escamotear o fato de que os quatro anos de mandato de Dilma Rousseff têm sido um retumbante fracasso, sob qualquer ponto de vista.

A Aécio Neves caberá demonstrar, com seu programa de governo e o apoio de uma equipe idônea e comprovadamente competente, que os tucanos e seus aliados estão prontos para resgatar o Brasil de uma sequência de maus governos. Prontos para resgatar o Brasil do populismo irresponsável que ameaça a todos, especialmente os pobres, com recessão econômica e inflação. E prontos para resgatar a moralidade na administração da coisa pública, que foi levada ao fundo do poço pela corrupção que contamina o aparelho estatal.

Esperanças para a oposição e desafios ao PT - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 07/10


A tendência estava sinalizada em pesquisas na fase final da campanha e nas últimas sondagens, divulgadas no sábado, mas a vantagem que o candidato tucano Aécio Neves obteve em relação a Marina Silva, do PSB, nas urnas, foi uma surpresa.

Ninguém poderia imaginar há um mês, mesmo dentro do PSDB, que um empate na margem de erro verificado na véspera do final do primeiro turno viria a se converter em pouco mais de onze pontos à frente de Marina — inesperados 33,56% contra 22,32% — na contagem efetiva dos votos.

Mais atingido eleitoralmente pela morte trágica de Eduardo Campos, e a consequente candidatura de Marina Silva como cabeça de chapa do PSB, que a própria presidente Dilma Rousseff, Aécio Neves chegou a ser considerado fora do jogo. Mas persistiu e, muito por mérito próprio, recuperou a viabilidade da candidatura tucana.

Com a ajuda, é certo, da violenta e nada ética campanha do PT para desidratar Marina. Com a contribuição, também, da própria candidata ao, por exemplo, lançar um programa sem antes lê-lo com atenção, para não ser forçada, depois, a corrigi-lo. Foi assim na desgastante questão da homofobia e no apoio ao uso da energia nuclear. Abriu o flanco para ser acusada de escrever o programa de governo “a lápis" — devido às sucessivas correções que fez no texto. Embora com menos virulência que os petistas, Aécio não teve alternativa a não ser também apontar a fragilidade da candidata.

Em outra das ironias que costumam acontecer em eleições, o que se considerava certo com a unção de Marina Silva, o fim da “polarização tucanos-petistas", foi restabelecida, e com toda força.

Petistas consideravam a de 2014 uma eleição difícil para o partido, e tinham razão. Os 41,59% dos votos obtidos por Dilma, vencedora do primeiro turno, ficaram 5,3 pontos aquém dos 46,91% conseguidos no primeiro turno em 2010, quando o tucano da vez foi novamente José Serra, eleito no domingo para voltar ao Senado representando São Paulo. Em relação a 2010, quando teve 47,6 milhões de votos, Dilma perdeu 4 milhões de eleitores.

Levadas em conta as votações dos três candidatos a presidente, o Brasil votou no domingo majoritariamente contra o segundo mandato para Dilma: 58,41% dos eleitores optaram pela oposição, principalmente com Aécio ou Marina. Não quer dizer que Aécio vencerá o turno final, mas é um alerta ao PT. Este alerta chega a ser estridente em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país e berço do partido. Além da baixa votação de Alexandre Padilha, candidato derrotado ao Palácio dos Bandeirantes, o PT paulista teve perdas nas suas bancadas estadual e federal, com destaque para a derrota de Eduardo Suplicy, no Senado, para Serra.

Se Aécio perdeu no próprio estado, Minas, em que Dilma arrebanhou 53,11% dos eleitores, contra 27,59% do ex-governador mineiro, ele pode tentar reduzir os danos alardeando que o PT, em compensação, sofreu derrota histórica em São Paulo. Talvez, com isso, consiga diminuir o alcance das suas avarias, mas que foram além: Aécio também não conseguiu eleger seu candidato, Pimenta da Veiga, derrotado em primeiro turno por Fernando Pimentel, ministro de Dilma, e antigo aliado do candidato tucano em eleições passadas no estado.

Os 44% conseguidos por Aécio, um mineiro, em São Paulo são invejáveis. Tempos atrás, seriam improváveis. Assim, o tucano pode conseguir junto aos paulistas um colchão de algo na faixa dos 10 milhões de votos ou mais, para compensar as derrotas garantidas no Norte-Nordeste. Foi assim que Fernando Henrique Cardoso, nas duas disputas com Lula, em 1994 e 98, saiu vitorioso.

Mas, reconheça-se, naquela época ainda não existia o Bolsa Família e todo o arsenal assistencialista que, segundo mostram os inúmeros mapas publicados nos jornais de ontem, dividiu de vez, política e partidariamente, o Brasil em dois: um, o menos desenvolvido, o Norte-Nordeste, com largo predomínio do PT. O outro, boa parte do Sudeste, o Sul e o Centro-Oeste, de oposição.

Aécio Neves sai do primeiro turno com um cacife invejável e um outro muito robusto, mas ainda a ser confirmado. O trunfo certo é o apoio firme do tucano Geraldo Alckmin, reeleito governador de São Paulo e que, na comemoração da vitória, declarou que se ele (candidato em 2006) e Serra (em 2002 e 2010) “bateram na trave” — perderam para Lula, duas vezes, e Dilma —, agora será diferente. Afinal, um PSDB unido, algo raro em campanhas presidenciais.


O cacife provável é o apoio de Marina e seus 22 milhões de votos, capazes de decidir esta eleição para um ou outro, mesmo que não consiga induzir uma transferência total de apoios. Em 2010, quando atraiu também cerca de 20 milhões de eleitores, recebeu o aceno de Serra, mas preferiu ficar neutra. Na prática, pelas características do seu eleitorado, ajudou Dilma. Agora pode ser diferente, muito pelos ataques vis que recebeu da campanha à reeleição da presidente e ainda por semelhanças de propostas no campo econômico com os tucanos. É nisto em que Aécio aposta, sem deixar de cortejar o apoio de Renata, viúva de Eduardo Campos, que demonstrou, com seus filhos, ser importante eleitora em Pernambuco, haja vista a votação de Paulo Câmara, indicado ao governo do estado por Campos, e catapultado para a vitória em primeiro turno numa campanha impulsionada pela emoção em torno da morte do candidato do PSB, e com participação ativa de Renata e filhos. O PSB de Roberto Amaral, presidente do partido, ministro de Lula e lulopetista, terá dificuldades de marchar unido para abraçar a candidatura de Dilma. Até porque Alckmin terá como vice, no próximo mandato, Márcio França, presidente do PSB regional.

Será uma campanha dura, em que todo o arsenal dos marqueteiros petistas destinado a espalhar o terror entre as famílias de baixa renda entrará em ação. Mais uma vez, como em campanhas anteriores, os tucanos serão apresentados como aqueles que cassarão o Bolsa Família, levarão a fome à mesa dos pobres — no lugar dos banqueiros do filmete feito contra Marina. Os programas petistas serão tão virulentos quanto é o risco de o PT ter de abandonar o Planalto em 1º de janeiro. Em troca, o PT terá se manejar a questão da corrupção, em particular a ainda sob investigação na Petrobras.

Mas Dilma e Aécio deveriam investir tempo e esforço em revelar o que pretendem fazer no mandato de 2015 a 2018. O tucano tem divulgado propostas em pílulas. Deveria liberá-las todas. E a petista se equilibra numa conjuntura econômica muito ruim — inflação alta, contas públicas muito desequilibradas, déficit externo crescente e economia rateando — sem dar uma palavra sobre os remédios que pensa ministrar ao país. Anunciar a demissão do ministro da Fazenda no final do governo é nada, pois se sabe que a política econômica é da presidente. Serão três semanas para se compensar a má impressão deixada no primeiro turno, em que os 142 milhões de eleitores ficaram, e continuam, desinformados sobre o futuro.

Contas em descrédito - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 07/10


Chama a atenção a disposição do governo em prosseguir com a prática de manipular a contabilidade fiscal



Os quatro anos do governo Dilma Rousseff são responsáveis diretos por algo que o Brasil tinha deixado para trás: o irrealismo da contabilidade fiscal e a descrença nos números das contas públicas. O governo é uma entidade econômica e está submetido a atos e fatos econômicos cujo conhecimento e administração dependem da existência de contabilidade com base nos “princípios contábeis geralmente aceitos”, como se diz no jargão técnico, e da elaboração de balanços e relatórios financeiros precisos, claros e transparentes.

A contabilidade pública é uma ciência, regulada por lei e adaptada aos padrões internacionais aplicáveis aos negócios de Estado. Nesse sentido, ela não difere da contabilidade privada, sem a qual a empresa navega no escuro, sujeita a trombadas e quebras, como se fosse um navio sem farol, sem bússola e sem mapa. A falta de uma boa contabilidade e de relatórios financeiros que espelhem com fidedignidade a realidade do ente econômico é algo perigoso e nocivo ao negócio.

O governo federal, sob o mando de Dilma e execução do ministro Guido Mantega, vem sistematicamente manipulando a contabilidade fiscal e fazendo a maior confusão nos lançamentos contábeis, de forma que ninguém mais pode dizer que conhece com precisão os números do governo. A explicação para esse comportamento prejudicial à transparência das contas é a tentativa de apresentar à sociedade contas melhores do que é a realidade. Se alguma explicação deve ter tentada, essa é a única que faz sentido segundo a lógica (lamentável) do governo.

Três exemplos dessa prática nociva podem ser destacados. O primeiro são as jogadas na contabilidade de receitas e despesas, por meio de lançamentos que fogem à boa técnica, como foi o registro de exportação de plataformas de petróleo que nunca saíram do território brasileiro e foram alugadas pela Petrobras. O segundo é a não contabilização como empréstimos da União dos valores não repassados à Caixa Econômica para pagamento do Bolsa Família, do Abono Salarial e do Seguro Desemprego. O terceiro é a confusão armada com a triangulação na contabilidade das transferências de recursos entre o Tesouro Nacional, o BNDES e o Banco do Brasil.

O fato é que o governo federal está com as contas em deterioração e, para tentar esconder a má situação, Dilma e seu ministro da Fazenda vêm fazendo repetidamente maquinações na contabilidade federal, mesmo diante das críticas de agentes internos e analistas internacionais. O relaxamento com os gastos públicos reduziu o superávit primário (receitas menos despesas antes do pagamento de juros da dívida pública) a quase zero, fazendo que o déficit nominal, após o pagamento de juros, seja elevado e responsável pelo aumento da dívida do governo.

O crescimento da dívida pública simultaneamente à estagnação do Produto Interno Bruto (PIB) é prejudicial ao país, pois um dos indicadores econômicos importantes é a relação da dívida com o tamanho do PIB. Esse indicador vem piorando e o próximo governo não escapará de ser confrontado com a necessidade de consertar a situação. Caso o rumo das contas do governo não seja mudado para melhor, o país acabará pagando alto preço no futuro, geralmente em forma de inflação, queda no PIB e desemprego.

O que tem chamado a atenção de analistas nacionais e de especialistas estrangeiros é a disposição do governo Dilma em prosseguir com a prática de manipular a contabilidade fiscal e apresentar resultados distorcidos e pouco transparentes, mesmo depois da repercussão negativa no mercado interno e entre os agentes econômicos internacionais. É o velho comportamento de, diante do aumento da febre, quebrar o termômetro para tentar enganar sabe-se quem, já que isso não muda nada da realidade dos fatos, nem consegue enganar os analistas e os agentes de mercado.

Quando um governo joga com os dados de suas contas, pode-se concluir que a situação não é boa, já que nem o mais ingênuo dos dirigentes alteraria informações positivas. Os governantes brasileiros têm a terrível mania de não perder a oportunidade de piorar a imagem internacional do país. Em alguns casos, fica apenas a imagem de falta de seriedade, mas, quando se trata de maquiar informações econômicas, os prejuízos são reais, cujo exemplo maior é a fuga de investidores estrangeiros e o rebaixamento da credibilidade internacional, o que resultará invariavelmente em elevação do risco Brasil e aumento da taxa de juros paga nos empréstimos obtidos no exterior.

Proliferação nociva - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 07/10


Número de partidos com representantes na Câmara dos Deputados é recorde, aumentando a fragmentação do Congresso Nacional


Se a votação de domingo (5) surpreendeu em relação à disputa presidencial, o mesmo não se pode dizer quanto ao Congresso. Conforme se previa, o Executivo, esteja nas mãos de quem quer que seja a partir de 2015, terá de lidar com um Poder Legislativo ainda mais fragmentado do que o atual.

Deu-se na Câmara dos Deputados a pulverização das bancadas. Foram eleitos representantes de 28 partidos, um salto expressivo na comparação com a legislatura iniciada em 2010, com 22 agremiações (eram 16 em 1994).

Difícil supor que as diversas visões de mundo existentes na sociedade brasileira cheguem a ponto de justificar a presença --ou mesmo a criação-- de tantas legendas.

O mais provável é que a multiplicação das siglas atenda antes aos interesses de seus líderes, ávidos pelos recursos do fundo partidário e pela possibilidade de negociar favores com o governo federal.

Na bolsa do toma lá, dá cá, por assim dizer, agremiações médias e pequenas experimentaram forte valorização. Com a exceção do PRB de Celso Russomanno (SP) e seus 1,5 milhão de votos, nenhuma teve crescimento notável em seu próprio patrimônio. Todas ganham importância relativa, contudo, com as perdas de PT e PMDB.

As duas maiores siglas da Câmara viram encolher suas bancadas. O PT, que conseguira 86 representantes em 2010, agora alcançou 70; o PMDB caiu de 78 para 66. Caso seja reeleita, Dilma Rousseff contará com o apoio de 304 parlamentares --maioria folgada, sem dúvida, mas isso já não lhe tem garantido vida fácil no atual mandato.

Entre as legendas que hoje estão no campo da oposição, o PSDB tem a proeminência, com os mesmos 54 deputados que elegera em 2010, enquanto o DEM, com meros 22 nomes (o ápice foi em 1998, com 105), mantém sua caminhada involuntária rumo à irrelevância ou ao desaparecimento.

Somados os partidos que endossaram a candidatura do PSDB, Aécio Neves, se for eleito, largará com 128 aliados. Um número baixo, por certo, mas, dada a natureza de boa parte das siglas, o tucano não haverá de penar para converter uma parte dos demais 385 deputados.

Em qualquer dos casos, a fragmentação exagerada em nada favorece as boas práticas políticas --e nem se imagine que a próxima legislatura será diferente, já que a taxa de renovação, perto de 40%, não destoou do que tem sido registrado em anos anteriores.

Para usar um clichê, o "recado das urnas" reforça um diagnóstico que tampouco é novo: o Brasil precisa de regras que inibam a proliferação partidária.

Segundo turno aperfeiçoa a democracia - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 07/10
Muitos consideram o segundo turno punição que põe pedra no caminho dos favoritos. Trata-se de avaliação equivocada. Claro que outra rodada exige mais trabalho, mais recursos e mais dedicação da equipe. Esse, porém, é aspecto secundário. O foco das campanhas é - e deve ser - o eleitor. Para ele, a volta às urnas reveste-se de importância substantiva.

A democracia é prática. Quanto mais se exercita, melhor o desempenho. Daí dizer-se que se aprimora a democracia com mais democracia. Corrigem-se as falhas da democracia com mais democracia. Com mais democracia, escolhem-se governantes mais sintonizados com as expectativas populares, fato que leva o cidadão a sentir-se representado pelo detentor do mandato.

Não só. É com a ida às urnas que se desenvolve o senso crítico do cidadão. Consciente e politizado, ele não se deixará seduzir por palavras bonitas e promessas vazias. Deixará de ser tratado como massa de manobra. Exigirá mais esforço e competência para se convencer de determinada tese ou para ceder a este ou àquele argumento. Em suma: será sujeito do processo eleitoral, não vítima.

A eleição de 2014 elegeu, no domingo, 13 governadores, quatro dos quais reeleitos - Beto Richa (PR), Raimundo Colombo (SC), Jackson Barreto (SE) e Geraldo Alckmin (SP). Mandou 14 para o último domingo de outubro. Entre eles, o do Distrito Federal. Rodrigo Rollemberg (PSB) e Jofran Frejat (PR) disputarão o Palácio do Buriti.

Também ficou para o segundo turno a decisão sobre o presidente da República. Aécio Neves, do PSDB, enfrentará Dilma Rousseff, do PT, que busca a reeleição. Trata-se de nova campanha. Com tempo igual no rádio e na televisão, os candidatos terão oportunidade de exibir as propostas com as quais esperam responder aos desafios que o século 21 apresenta aos governantes.

É hora de debater programas e soluções aptos a sintonizar o Brasil com as exigências do mundo globalizado. Não se aceitam ideias vagas nem delírios sem fundamento na realidade. O país precisa dar um salto qualitativo na educação, na saúde, na segurança, na mobilidade urbana, na burocracia, na modernização do Estado. Precisa simplificar o sistema tributário e agilizar a Justiça. Precisa promover a reforma política.

 Como chegar lá? Com que recursos materiais e humanos se pode contar? Qual o prazo de duração do processo? A campanha eleitoral, agora concentrada em dois candidatos, deve responder às perguntas com projetos de curto, médio e longo prazo. Vale lembrar que o atraso histórico do Brasil acarreta prejuízos ao presente e ao futuro. Um choque de modernidade se impõe. Adiá-lo é crime de leso-futuro.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Seria uma coisa inédita”
Mauro Paulino, diretor do Datafolha, a três dias da eleição, sobre a possibilidade de virada de Aécio sobre Marina


PERNAMBUCO QUER PSB CONTRA DILMA NO 2º TURNO

Após o eleger governador mais bem votado do País, Paulo Câmara, e Fernando Bezerra senador, o PSB-PE deve defender o apoio nacional a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da eleição presidencial. Os socialistas de Pernambuco (e a família de Eduardo Campos) consideram que esta seria a vontade do falecido líder, que se lançou candidato a presidente contra a reeleição de Dilma Rousseff (PT).

DILMA, NEM PENSAR

Em entrevistas e discursos, Eduardo Campos ressalvava que seu projeto não era contra o amigo Lula, e sim contra a reeleição de Dilma.

BETO PRESIDENTE

O gaúcho Beto Albuquerque, ex-vice de Marina, é o favorito do PSB-PE e da família Campos para assumir a presidência nacional do partido.

INDICANDO VICE

O PSB pernambucano deve indicar o futuro vice-presidente nacional do partido: Renata Campos ou o prefeito de Recife, Geraldo Júlio (PSB).

PENSANDO MIÚDO

Obstáculo à aliança com Aécio (PSDB), o presidente interino do PSB, Roberto Amaral prefere tornar o partido uma linha auxiliar do PT.

DERROTA SAIU CARA

Presidente da CPI e da CPMI da Petrobras, o senador Vital do Rêgo (PMDB) ficou em 3º lugar na disputa pelo governo da Paraíba, com apenas 5,2% dos votos. Até parece que, para ele, importante mesmo é competir, apesar de ser um dos candidatos com maior “custo por voto”. Considerando a previsão de gastos (R$ 25 milhões) e a votação obtida, é só fazer as contas: cada um dos seus 106 mil votos custou R$ 235.

DEZ VEZES MENOS

Custaram bem menos que os de Vital do Rêgo os votos de Cassio Cunha Lima (R$ 18) e Ricardo Coutinho (R$ 26), na Paraíba.

GASTOS TOTAIS

A previsão de gastos da campanha do tucano Cássio Cunha Lima foi R$ 18 milhões; a de Ricardo Coutinho (PSB), R$ 25 milhões.

MICO PETISTA

Vexame do PT em Pernambuco: não elegeu um só deputado federal e o João Paulo perdeu para senador até no Recife, onde foi prefeito.

SÓ O COMEÇO

Depondo sob delação premiada, o megadoleiro Alberto Youssef ainda não concluiu suas revelações escabrosas contra grandes empreiteiras. Têm razão para insônia o empreiteiro Marcelo Odebrecht e a cúpula da Camargo Correia. Youssef não está deixando pedra sobre pedra.

TUCANOS QUEREM DUDA

A cúpula do PSDB elogia o eficiente marqueteiro Paulo Vasconcelos, mas tenta convencer Aécio Neves (PSDB) a chamar o “Neymar do marketing político”, Duda Mendonça, para reforçar o time no 2º turno.

O PESO DE JARBAS

Calou fundo nos pernambucanos a declaração do respeitado deputado federal eleito Jarbas Vasconcelos (PMDB) contra a reeleição de Dilma, até por questões éticas insuperáveis, como o escândalo do Petrolão.

FORA DE ÓRBITA

O astronauta-camelô Marcos Pontes, que Lula mandou (por US$ 10 milhões) numa nave russa para plantar feijão no espaço, caiu da cauda do foguete: não foi eleito deputado federal, como queria.

PAZ VIRTUAL

Única no PT-DF a se reeleger deputada federal, Érica Kokay pregou ontem a “cultura de paz” no País. Ela empregava o militante do PT que agrediu Joaquim Barbosa, na época presidente do Supremo Tribunal.

DE CAMAROTE

A família Sarney não foi exatamente derrotada no Maranhão porque decidiu não se envolver na disputa, facilitando a vitória de Flávio Dino (PCdoB). A governadora Roseana se recusou a lançar candidato, e o espaço foi ocupado por Lobão Filho (PMDB), humilhado nas urnas.

TODOS CONTRA UM

Em disputa no segundo turno contra o governador Luiz Pezão (PMDB), Marcelo Crivella (PRB) articula o apoio de Garotinho (PR) e do petista Lindbergh Farias, com quem fez dobradinha no último debate.

EMBLEMÁTICOS

Líder da PM contra o governador Cid Gomes (PROS), o Capitão Wágner (PR) foi o mais votado a estadual no Ceará, com 194,2 mil votos. Já o senador Inácio Arruda (PCdoB) sequer se elegeu deputado federal.

PERGUNTA NA BOCA DA URNA

Somando pouco mais de 20% e ficando em 3º para presidente no DF, Dilma poderá dizer aos visitantes ilustres que Brasília é sua casa?


PODER SEM PUDOR

CARO AMADURECER

Foi de Teotonio Vilela Filho, em 1982, a ideia de lançar a candidatura de outro jovem usineiro, Sérgio Moreira, para deputado federal. A campanha foi difícil e Moreira - hoje presidente do Sebrae nacional - não se elegeu. Inexperiente, foi literalmente roubado por cabos eleitorais desonestos, perdendo muito dinheiro. Mas Téo Vilela não aceitou dividir a culpa:

- Você devia me agradecer. Eu fiz de você um homem. Era um menino e, depois da campanha, virou um homem!

Moreira não se conformou:

- Se eu soubesse que iria custar tão caro, preferia continuar menino.