sábado, setembro 20, 2014

Quatro anos de fiasco, mas a culpa é dos outros - ROLF KUNTZ

PARA PRESIDENTE VOTE AÉCIO NEVES 45



O ESTADO DE S.PAULO - 20/09



O inferno é o outro, conforme escreveu há 70 anos um filósofo e dramaturgo francês. A presidente Dilma Rousseff e seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, certamente concordam. Mas o outro, poderiam acrescentar, tem lá seu valor. Sem ele, em quem jogar a culpa de nossos males, especialmente daqueles produzidos por nós? Para isso servem as potências estrangeiras, os bancos internacionais, os pessimistas de todas as nacionalidades e até o Banco Central do Brasil (BC), por sua insistência em manter os juros em 11%. Os maiores males deste momento ainda estarão por aí quando começar o próximo governo, em janeiro:

1) Os aumentos de preços ganharam impulso de novo. O IPCA-15, prévia da inflação oficial de setembro, subiu 0,39%, muito mais que o dobro da variação de agosto, 0,14%. A alta acumulada no ano, 4,72%, já ficou bem acima da meta, 4,5%. Em 12 meses chegou a 6,62% e dificilmente ficará abaixo de 6% no fim do ano.

2) Os economistas do mercado financeiro e das consultorias continuam reduzindo as projeções de crescimento econômico. A mediana das estimativas, na semana passada, ficou em 0,33%, de acordo com pesquisa do Banco Central. Coincidiu com a nova previsão divulgada pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE): 0,3%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) publicará números atualizados em outubro. A previsão para o Brasil será, com certeza, bem menor que a de julho, 1,3%.

3) As finanças do governo continuam virando farelo. Nem receitas especiais têm resolvido o problema. Pelas primeiras informações, a arrecadação inicial do novo Refis, o refinanciamento de impostos em atraso, ficou abaixo do valor previsto - algo na faixa de R$ 13 bilhões a R$ 14 bilhões. O pessoal do Tesouro deverá continuar recorrendo à criatividade contábil. Qualquer balanço razoável no fim de 2014 será uma surpresa.

4) As contas externas continuam fracas e o déficit em conta corrente, no fim do ano, deverá ficar ainda próximo de US$ 80 bilhões, segundo estimativas do mercado. Nada, por enquanto, indica resultados muito melhores em 2015.

5) O País ainda vai depender fortemente de financiamento externo para fechar o buraco das transações correntes. O investimento direto estrangeiro tem sido e provavelmente continuará insuficiente para isso. Faltarão uns US$ 20 bilhões neste ano e, segundo as projeções do mercado, uma quantia muito parecida em 2015. Essa diferença será coberta, em grande parte, por dinheiro especulativo. As condições internacionais de financiamento serão provavelmente menos favoráveis que as de hoje, especialmente se o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, confirmar a elevação dos juros básicos, atualmente na faixa de zero a 0,25% ao ano.

Mesmo com o desemprego bem mais baixo, o Fed provavelmente só começará a aumentar os juros se os seus diretores estiverem convencidos da firme recuperação econômica dos Estados Unidos. Essa recuperação será boa para todo o mundo. Atividade mais intensa na maior economia resultará em mais oportunidades comerciais para todos os parceiros - ou, pelo menos, para aqueles preparados para aproveitar a ocasião. A indústria brasileira tem mais perdido que aproveitado oportunidades, por falta de investimento, por excesso de custos e por erros da diplomacia comercial.

Mas o começo do aperto monetário, possibilitado pela recuperação americana, afetará os investimentos e o custo dos empréstimos. Juros mais altos atrairão dinheiro para os Estados Unidos. Isso poderá neutralizar, em boa parte, a sobra de recursos provocada pelo esperado afrouxamento da política do Banco Central Europeu.

Todo mundo espera essa mudança no quadro internacional. Governos competentes procuram tornar seus países menos vulneráveis a riscos financeiros e mais capazes de acompanhar a onda de crescimento liderada pelos Estados Unidos e acompanhada, com algum atraso, pelas economias europeias mais sólidas.

Economistas do FMI, em documento preparado para a conferência ministerial do Grupo dos 20 (G-20) neste fim de semana, na Austrália, chamam a atenção para os perigos e para os ajustes necessários. A recuperação continua, mas num ambiente de riscos. No Brasil, aponta o estudo, o baixo crescimento dificultará a execução da política fiscal e a redução da dívida pública. Além disso, a inflação elevada poderá tornar necessário um novo aumento de juros se as expectativas piorarem. Isso é exatamente o contrário do caminho apontado pelo ministro da Fazenda.

Mas o governo brasileiro, especialmente em caso de reeleição, sempre poderá atribuir parte dos problemas de 2015 ao Fed. O banco central americano foi responsabilizado por males brasileiros quando inundou os mercados com dólares, tentando estimular a economia dos Estados Unidos. A valorização do real, uma das consequências, encareceu as exportações brasileiras e barateou as importações. O ministro Mantega reclamou de uma guerra cambial.

Desde o ano passado o jogo mudou. Ao anunciar a redução dos estímulos monetários, o Fed mexeu nos fluxos de capitais, valorizou o dólar e, segundo Brasília, criou pressões inflacionárias. O impacto da mudança poderá ser mais forte no próximo ano, com o aumento dos juros. Bendito seja o Fed, um dos culpados de sempre.

A presidente Dilma Rousseff tem citado com insistência uma frase famosa de Nelson Rodrigues sobre o complexo de vira-lata. Não se sabe quantas páginas da obra rodriguiana ela realmente leu, mas a tal frase é importante no repertório presidencial. Não se sabe, também, quantas páginas de Sartre ela terá lido. Mas a ideia sartriana sobre inferno, reduzida a uma tosca simplicidade, tem servido à retórica defensiva de um governo fracassado. Benditos sejam os outros.

Os perdedores - DEMÉTRIO MAGNOLI

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FOLHA DE SP - 20/09


O PT investe na indignidade e na difamação. Por isso, perdendo ou ganhando, já perdeu


A semente transgênica e o Código Florestal; a hidrelétrica e a licença ambiental; os evangélicos e os jovens libertários; o Estado e as ONGs; os serviços públicos e os tributos; a "nova política" e o Congresso; a política e os partidos; o PSB e a Rede. Na candidatura de Marina Silva, não é difícil traçar círculos de giz em torno de ângulos agudos, superfícies de tensão, contradições represadas. O PT preferiu investir na indignidade, na mentira, na difamação. Por isso, perdendo ou ganhando, já perdeu.

As peças incendiárias de marketing, referenciadas no pré-sal e na independência do Banco Central, inscrevem-se na esfera da delinquência eleitoral. A primeira organiza-se em torno de uma mentira (a suposta recusa de explorar o pré-sal), de cujo seio emana um corolário onírico (a "retirada" de centenas de bilhões de reais supostos e futuros da Educação). A segunda converte em escândalo um modelo que pode ser legitimamente combatido, mas está em vigor nos EUA, no Canadá, no Japão, na União Europeia, na Grã-Bretanha e no Chile --e que, no Brasil, surgiu embrionariamente sob Lula, durante a gestão de Henrique Meirelles.

Na TV, o partido do governo acusa a candidata desafiante de conspirar com banqueiros para lançar os pobres no abismo da miséria. O fenômeno vexaminoso não chega a causar comoção, pois tem precedentes. Contra Alckmin (2006) e Serra (2010), o PT difundiu as torpezas de que pretendiam privatizar a Petrobras e cortar os benefícios do Bolsa Família, ambas já reprisadas para atingir Marina. A diferença, significativa apenas no plano eleitoral, está na circunstância de que, agora, a ignomínia entrou no jogo antes do primeiro turno. A semelhança, por outro lado, evidencia que o PT aposta na ignorância, na desinformação, na pobreza intelectual --enfim, no fracasso do país.

Algo se rompeu quando eclodiu o escândalo do mensalão. Naquela hora, os intelectuais do PT depredaram a praça do debate político, ensinando ao partido que a saída era qualificar a imprensa como "mídia golpista" e descer às trincheiras de uma guerra contra a opinião pública. A lição deu frutos envenenados. O STF converteu-se em "tribunal de exceção", e os políticos corruptos, em "presos políticos". Os críticos passaram a ser classificados como representantes da "elite branca paulista" (se apontam as incongruências da "nova matriz econômica"), "fascistas" (se nomeiam como ditadura todas as ditaduras, inclusive as "de esquerda") ou "racistas" (se objetam às leis de preferências raciais).

O projeto de um partido moderno de esquerda dissolveu-se num pote de ácido que corrói a convivência com a opinião dissonante. Do antigo PT, partido da mudança, resta uma sombra esmaecida. As estatísticas desagregadas das sondagens eleitorais revelam o sentido da regressão histórica. A presidente-candidata tem suas fortalezas no Nordeste e no Norte, nas cidades pequenas e entre os menos escolarizados, mas enfrenta forte rejeição no Centro-Sul, nas metrópoles e entre os jovens. Não é um "voto de classe", como interpretam cientistas políticos embriagados com um economicismo primário que confundem com marxismo. É um voto do país que, ainda muito pobre, depende essencialmente do Estado. A antiga Arena vencia assim, espelhando um atraso social persistente.

Obviamente, a regressão tem causas múltiplas, ligadas à experiência de 12 anos de governos lulopetistas que estimularam o consumo de bens privados, mas não produziram bens públicos adequados a um país de renda média. A linguagem, contudo, ocupa um lugar significativo. O país moderno, cujos contornos atravessam todas as regiões, sabe identificar a empulhação, a mistificação e a truculência.

Na sua fúria destrutiva, a campanha de Dilma explode pontes, queima arquivos. O PT pode até triunfar nas eleições presidenciais, mas já perdeu o futuro.

Os caminhos do voto - MERVAL PEREIRA

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O GLOBO - 20/09



Por caminhos distintos, Ibope e Datafolha chegaram aos mesmos números na corrida presidencial. Acontece que a esta altura da campanha, importa muito a tendência dos votos. No Ibope, a presidente Dilma Rousseff chegou a 36% caindo três pontos, enquanto Marina chegava a 30% caindo um. Pelo Datafolha, Dilma chegou a 37% subindo um ponto percentual, e é Marina quem cai 3 pontos para chegar aos mesmos 30% encontrados pelo Ibope dias antes. Só as próximas pesquisas esclarecerão qual pé a tendência correta.
O candidato do PSDB Aécio Neves cresceu nas duas pesquisas, e embora tenha no Ibope uma melhor atuação, pois cresceu 4 pontos, é no Datafolha que encontra o melhor cenário para sua candidatura, pois cresce em cima de Marina, que perde pontos.
Se pegarmos os números da pesquisa do Datafolha de um mês atrás, pouco antes do início da propaganda oficial no rádio e televisão, a presidente tinha 36%, Marina tinha 21% e Aécio tinha 20%. Isso significa que a presidente Dilma, com cinco vezes mais tempo de propaganda eleitoral do que Marina Silva, não ganhou votos em um mês de alta exposição, enquanto a candidata do PSB foi a única que subiu nesse período.
O candidato tucano está na faixa dos 20%, dentro da margem de erro. O resultado de dias atrás do Ibope possibilitava a interpretação de que a campanha agressiva do PT contra Marina não dera resultado, pois naquele levantamento fora a presidente Dilma quem caíra. Mas vem o Datafolha e mostra que não apenas Dilma subiu um ponto, como Marina caiu três.
Na análise das últimas pesquisas, de um mês para cá, nota-se, porém, que a propaganda petista pode sim ter afetado o crescimento de Marina Silva, ao mesmo tempo em que o candidato do PSDB, com uma estratégia menos agressiva, mas bastante crítica, conseguiu retomar eleitores que haviam migrado para Marina Silva. Há uma migração grande de votos entre Dilma e Marina, e entre Marina e Aécio, mas a pesquisa Datafolha mostra que os votos acrescidos à candidatura tucana nesta rodada saíram principalmente de quem estava com Marina.
Um dado importante é constatar que a propaganda oficial, que mostra um país tão bom que já virou até propaganda viral na internet com a música sarcástica “Quero morar na propaganda do PT”, não conseguiu reduzir a taxa de rejeição da candidata Dilma Rousseff, que se mantém na faixa entre 33% e 35%.
Seus dois opositores estão na faixa dos 20%, sendo que Marina teve dobrada a sua rejeição desde que se apresentou: era a menos rejeitada com 11% em agosto e hoje tem 22%. Os petistas comemoram essa mudança de patamar como se fosse um efeito colateral precioso da campanha de desconstrução de Marina, e de fato a candidata do PSB já entrou na campanha como uma das mais conhecidas candidatas, graças ao recall da eleição de 2010, e por isso não pode alegar que aumentou sua taxa de rejeição por estar mais conhecida do eleitorado.
Pode ter, isso sim, aumentado o foco sobre sua candidatura com a possibilidade de vitória, mas de qualquer maneira é uma notícia negativa para sua campanha. Quem tem a comemorar é o candidato do PSDB Aécio Neves, que passou a ser o menos rejeitado, com 21%, e o único a subir nas duas pesquisas mais recentes. A próxima semana é decisiva para as aspirações da candidatura tucana, que ainda se apresenta como alternativa contra o PT, insistindo em que Marina representaria uma mudança de forma, não de conteúdo, em relação ao governo petista que está no poder por 12 anos.

Incoerência

A presidente Dilma diz com orgulho que são órgãos do seu governo que estão investigando os escândalos de corrupção na Petrobras: Polícia Federal, Ministério Público. Mas, contraditoriamente, pede, através do Ministro da Justiça, acesso aos depoimentos de Paulo Cesar Costa ao juiz Sérgio Moro.
O Procurador-Geral da República negou o acesso, alegando que o processo corre sob segredo de justiça. Isso tudo acontece por que, diferentemente do que pensa a Presidente, o Ministério Público e a Polícia Federal são órgãos do Estado brasileiro, não do governo deste ou daquele partido.

Pior do que está fica - MARCELO RECH

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ZERO HORA - 20/09


Ao longo da sua história, o povo brasileiro foi sendo simplificado por estereótipos, que são, como se sabe, carimbos para poupar explicações e economizar palavras. Honesto ou desonesto, trabalhador ou preguiçoso, cordial ou violento _ qualquer definição se encaixa na gigantesca e diversificada floresta de índoles dos mais de 200 milhões de brasileiros. Tentar enquadrar o brasileiro em uma sentença, portanto, é uma temeridade que leva a exclusões das complexas camadas e teias de grupos sociais que se movimentam pelos 8,5 milhões de quilômetros quadrados.
Mesmo assim, diante do andar da carruagem desta e das eleições até onde a memória alcança, vou arriscar em tascar mais um estereótipo no sacrificado povo brasileiro: nós somos politicamente ingênuos. O.k., você pode não se sentir assim. Afinal, você lê jornal, compara biografias, estuda planos de governo, perscruta a história e até a alma dos candidatos que escolhe para falar em seu nome e decidir o seu futuro e o da sua família. Mas, convenhamos, a imensa maioria não age assim.
Tome-se o exemplo de São Paulo, para valermo-nos de certo distanciamento. São Paulo não é o sul do Brasil, onde há mais tradição política, mas também não é o Nordeste e o Norte, onde coronéis e capitães do mato ainda dão o tom em algumas eleições. Pois esta São Paulo, tão educada e industrializada, está para, segundo pesquisa do Ibope, escolher entre seus deputados federais mais votados os seguintes expoentes da política nacional: Tiririca (o palhaço que arrebanhou 1,34 milhão de votos em 2010 e não fez nenhum discurso na Câmara Federal), Celso Russomano (um comunicador de TV da linha sensacionalista), Paulo Maluf (tirem as crianças da sala, por favor), Baleia Rossi (filho de um ex-ministro da Agricultura removido sob suspeita de corrupção) e Pastor Feliciano (que, a cada ataque dos movimentos gays, contabiliza mais 10 mil votos).
Não culpem os paulistas. Há dias, em Brasília, eu questionava alguns locais sobre como podia liderar as pesquisas um ex-governador que ostenta o título de ter sido o primeiro ocupante deste cargo no Brasil a ser preso em pleno mandato, que foi filmado embolsando maços de dinheiro e que foi condenado e encarcerado por improbidade. Os eleitores da capital do Brasil querem um ladrão pego em flagrante a governá-los? Não se incomodam em devolver um corrupto ao poder? O tal candidato acabou renunciando para não ser barrado na Ficha Limpa, mas entronizou o vice e a mulher para disputar em seu lugar. Uma emenda tão ruim quanto o soneto. O “rouba mas faz” explica muito sobre o que almejamos ser como nação.
Nós (certo: eles, os brasileiros, para não brigarmos) somos ingênuos porque terceirizamos responsabilidades e acreditamos que os outros vão nos salvar. Ficamos boquiabertos com os torcedores japoneses quando constatamos que eles limpavam as arquibancadas nos estádios da Copa. Aliás, outro dia, ao amanhecer, vi um casal varrendo sua rua em Porto Alegre. Eram japoneses. Eles o fazem por uma razão simples: os japoneses, como tantos povos mais civilizados, não esperam graças de terceiros e assumem para si a tarefa de resolver os problemas da forma mais prática e objetiva possível. Já nós (eles, os brasileiros) acreditamos que tudo deve e vai ser providenciado pelo governo. O grande papai no poder vai contratar mais funcionários, vai aumentar seus salários, vai assegurar mais benesses, vai dar vale-isso e vale-aquilo, vai erguer todas as obras, vai varrer a corrupção e a violência, não vai reduzir nenhuma despesa e, deusnoslivre, não vai aumentar impostos. Estamos em eleições para cargos terrenos ou divinos? Depois, quando os milagres viram pó, vêm a desilusão, a descrença, o desânimo ou a revolta de termos sido iludidos.
No fundo, este cenário de inexperiência e ingenuidade política se deve ao fato de o Brasil seguir aprisionado em três mundos paralelos. Um é letrado, paga impostos pesados mas é compelido a contratar serviços privados e quer se livrar das amarras coloniais para chegar ao Primeiro Mundo. O segundo é o planeta oficial e seus entornos, que vivem do extrativismo estatal e que são sempre a favor dos sacrifícios, contanto que sejam dos outros. Por fim, há um Brasil vasto, profundo, popular _ cortejado por todos e enganado por muitos. Os três países se veem pouco, vivem em bolhas, em um apartheid político que mantém a discussão rasa e o futuro incerto. Enquanto esses três Brasis não amadurecerem e convergirem para uma agenda mínima, os bravos Tiriricas Pior-do-que-está-não-fica seguirão em suas intrépidas trajetórias rumo ao poder de nosso tão vilipendiado e inocente Brasil.

Governança global - CELSO MING

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O ESTADÃO - 20/09



Os altos custos de uma Escócia independente ficaram mais evidentes depois que o escocês se deu conta do impacto sobre seu patrimônio pessoal, a ser enfrentado pela perda inevitável da libra esterlina e da tutela do Banco da Inglaterra (banco central)

A rejeição contundente da proposta da independência da Escócia é o resultado da avaliação realista feita por parte do cidadão escocês de que os custos econômicos e políticos de uma separação, ainda que amigável, seriam altos demais. Mas deve apontar para mais do que isso. Parece indicar, por exemplo, que o processo de globalização, que alguns entendiam em reversão, tende a aprofundar-se.

Os altos custos de uma Escócia independente ficaram mais evidentes depois que o escocês se deu conta do impacto sobre seu patrimônio pessoal, a ser enfrentado pela perda inevitável da libra esterlina e da tutela do Banco da Inglaterra (banco central). Ele entendeu, também, que era ilusória a propalada vantagem de administrar uma moeda própria – que garantiria uma política monetária também independente. Na impossibilidade de ficar com a libra, a proposta alternativa seria aderir ao euro, como a Irlanda, e não aventurar-se com uma moeda nacional, com respeitabilidade ainda a construir.

Os grandes bancos da Escócia bem que avisaram que transfeririam suas sedes para Londres para garantir o guarda-chuva do Banco da Inglaterra. Os cotistas dos fundos de pensão e os aposentados temeram pela renda futura. Os trabalhadores sentiram que os fundamentos do seu seguro-desemprego corriam risco e que a política de saúde hoje exercida pelo governo inglês teria de ser repassada ao novo governo escocês, sabe-se lá com que eficácia. A decisão, mais movida pelo medo do que pela ousadia, de não trocar o certo pelo duvidoso, está agora grávida de consequências.

A força do movimento pela independência da Escócia e de outras dinâmicas separatistas, como a da Catalunha, do País Basco, da Valônia belga e do Leste da Ucrânia vinha sendo apontada como sinal de que o processo de globalização atingira seus limites. Essa percepção foi reforçada por outras novidades: pelo retorno das grandes empresas e de novos investimentos para os Estados Unidos e pela impressão de que a civilização muçulmana dificilmente se integraria ao bloco ocidental, como a tentativa de consolidação de um novo Estado islâmico, de natureza fundamentalista, pode indicar.

No entanto, além de enfraquecer outros movimentos separatistas, a rejeição da autonomia pelo povo escocês aponta para mais globalização e não para o contrário. A revoada de investimentos para os Estados Unidos é o resultado de outros fatores, especialmente da forte redução dos preços da energia, graças à obtenção de gás de xisto a baixo custo e à mais adiantada recuperação da economia.

Mesmo com resultados ainda reduzidos, há progressos na coordenação global de políticas. As sucessivas reuniões dos chefes de Estado nas cúpulas do G-20 são uma demonstração disso. Os presidentes dos grandes bancos centrais reúnem-se periodicamente na cidade da Basileia para articular suas políticas monetárias. E até mesmo as críticas que se fazem ao mau funcionamento dos acordos multilaterais de comércio demonstram a existência de inconformismo com o que está aí e de criação de mais pressões também por mais governança global e não por menos.

CONFIRA:

O IPCA-15 (período de 30 dias fechado a cada dia 15) de setembro mostrou que a inflação voltou a dar seus pinotes. No mês, avançou 0,39% e, em 12 meses, 6,62%.

Voltou a subir
A redução dos preços dos alimentos e das passagens aéreas anotada nos meses anteriores já se inverteu. Fica agora mais provável que a inflação de setembro avance para a casa do 0,5%. Em 12 meses, pode atingir os 6,7%. Se isso se confirmar, a campanha eleitoral para o segundo turno conjugará uma evolução negativa do PIB e inflação acima do teto da meta.

O tamanho do pré-sal - CRISTOVAM BUARQUE

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O GLOBO - 20/09

Brasil não cabe dentro de um poço de petróleo, nem deve esperar por ele

Não usar a riqueza do pré-sal seria uma estupidez, usá-la para iludir a nação é uma indecência. As estimativas para as reservas do pré-sal podem não ser exatas, mas não são mitos, são resultados de pesquisas geológicas; a exploração na sua profundidade não é um mito, a engenharia dispõe de ferramentas; a crença de que pode ser feita sem riscos para a ecologia não é um mito, embora haja exemplos de vazamentos em campos similares; a expectativa de que a demanda e os preços continuarão altos não é um mito, apesar das novas fontes.

Mito, contudo, é a afirmação de que o pré-sal mudará a realidade brasileira.

Se tudo der certo, em 2036 a receita líquida prevista do setor petrolífero corresponderá a R$ 100 bilhões, aproximadamente R$ 448 por brasileiro, quando a renda per capita será de R$ 27.800, estimando crescimento de 2% ao ano para o PIB. Apesar da dimensão da sua riqueza, o pré-sal não terá o impacto que o governo tenta passar. Explorá-lo é correto, concentrar sua receita na educação é ainda mais correto, mas é indecente usar o pré-sal como uma ilusão para enganar a nação e como mecanismo para justificar o adiamento de investimentos em educação.

O Brasil não cabe dentro de um poço de petróleo, nem deve esperar por ele.

Mito também é a afirmação de que a educação brasileira será universalizada e dará um salto de qualidade graças ao pré-sal. Em 2030, uma educação de qualidade universal custará cerca de R$ 511 bilhões, para o custo/aluno/ano de R$ 9.500. Se tudo der certo, a totalidade dos recursos do setor petrolífero destinada à educação corresponderá a R$ 37 bilhões, apenas 7,2% do necessário.

Também é um mito dizer que o atual governo teve a iniciativa da proposta de investir 75% dos royalties do petróleo em educação. A partir do momento da descoberta do pré-sal, 44 projetos de lei foram apresentados na Câmara e no Senado.

Mas foi com a aprovação do substitutivo PLC 41/2013 ao PL 323/2007, do deputado Brizola Neto, em 14/8/2013, após parecer favorável do deputado André Figueiredo (PDT-CE), que se determinou o destino de 100% dos royalties para a educação e a saúde. As atas mostram que os líderes da base de apoio ao governo tentaram impedir a aprovação, mas foram derrotados no voto.

Além de não serem destinados à educação os R$ 15 bilhões dos Bônus de Assinatura do Leilão do Campo de Libra, os recursos dos royalties não estão sendo aplicados. Até 28 de agosto, um ano depois da sanção da lei, apenas R$ 912 milhões foram efetivamente transferidos para o Ministério da Educação, ou seja, somente 13,5% do valor de R$ 4,2 bilhões previsto pela Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2014.

Enquanto o mundo vive uma revolução no conhecimento, estamos ficando para trás, eufóricos com a promessa de mudar nossa triste realidade educacional no futuro distante, com base em um recurso ainda na profundidade de sete mil metros e que não será suficiente. E o pouco prometido não está sendo cumprido.


Executivo municipal perdeu o guidão - ANDREA MATARAZZO

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FOLHA DE SP - 20/09


Temos assistido às ações da prefeitura para incentivar o uso da bicicleta, baseadas em tinta e pincel, sem projeto. O que os cidadãos já podiam constatar em sua vizinhança agora chega à avenida Paulista, um dos cartões postais da cidade.

Sobre este assunto adoto a seguinte premissa: sou favorável e acho importante a ciclovia como forma de equilibrar os modais de transporte, integrando-os, sem prejudicar o comércio nem transformar a cidade num caos.

Não tenho dúvidas de que a avenida Paulista pode ser objeto de estudo para receber uma ciclovia, já que liga um eixo plano da Consolação até o Jabaquara. Contudo, não estou nem um pouco convencido de que a melhor alternativa seja a retirada do canteiro central.

A Paulista possui 48 metros de largura e 2,5 km de extensão e, segundo dados da CET (Companhia de Engenharia e Tráfego), apenas a faixa de pedestres em frente ao Conjunto Nacional recebe mais de 3.000 pedestres por hora. Por toda a avenida passam 1,5 milhão de pessoas por dia e 20 mil carros por hora durante o pico da manhã.

O canteiro central exerce importante papel na segurança da travessia dos pedestres e na segregação dos sentidos por onde fluem automóveis, além de abrigar iluminação pública e floreiras que atuam como barreiras aos pedestres e tem importante função estética.

Além disso, existe na Paulista bens tombados pelo município e pelo Estado que devem ser consultados previamente. Por acaso foi estudada a possibilidade de melhorar as vias paralelas como alternativa à ciclovia ou ao trânsito?

As intervenções na avenida Paulista, estimadas em R$ 15 milhões, devem ser qualificadoras, e não degradadoras, ainda que em caráter experimental.

O caso da Paulista deve servir de reflexão: qual política pública queremos para a mobilidade? Entre 2009 e 2012 foi implementado em São Paulo o maior programa de incentivo à bicicleta existente até hoje no país: por meio da Lei Cidade Limpa (2006), viabilizou-se a cooperação com parceiros privados e, sem qualquer gasto da prefeitura, permitiu-se a publicidade institucional em troca de melhorias na infraestrutura pública.

Os projetos Bike Sampa, Ciclo Sampa e Ciclofaixa, que atendem centenas de milhares de ciclistas todas as semanas, são resultado dessa política. A prefeitura disponibiliza, em parceria, mais de 2.000 bicicletas em 200 estações, com manutenção, sinalização e mais de 100 km de ciclofaixas. Uma das primeiras ciclovias de São Paulo é de 2007, na Radial Leste.

O incentivo ao transporte por bicicletas deve vir acompanhado de ações para tornarem a cidade amiga do ciclista: bicicletários, sinalização vertical e horizontal, rotas adequadas (se possível segregadas), pavimentação decente, monitoramento do número de viagens feitas (da eficácia das ações) e priorização de áreas onde as bicicletas já são utilizadas, como no Jardim Helena.

As bicicletas, se bem incentivadas, podem contribuir para a redução do ruído urbano e da emissão de poluentes, além de despertar um hábito saudável. Há em curso na União Europeia a elaboração de uma rede com mais de 20 mil km de estradas para ciclistas, o que nos desafia a pensar algo ousado e inovador, como a ciclovia do Parque Várzeas do Tietê até Salesópolis, em implementação, que terá 175 km.

Onde estão os estudos da prefeitura para escolha das rotas? Haverá bicicletários e empréstimo de bicicletas? Como será medido o aumento das viagens feitas? Estacionamentos comerciais receberão bicicletas? O uso será compartilhado com skate e patins?

Assunto tão importante não pode ficar refém de tinta, pincel e de uma administração que perdeu o guidão faz tempo.

A desastrada revisão da Pnad 2013 - EDITORIAL O GLOBO

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O GLOBO - 20/09


O IBGE é inatacável, mas como a reputação do governo Dilma no manejo de estatísticas oficiais deixa a desejar, o tema deve entrar na agenda da campanha eleitoral



Em ano eleitoral, os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), um precioso retrato anual do Brasil que o IBGE elabora, tendem a ter diferentes leituras e interpretações, conforme a visão de cada candidato .

Foi o que aconteceu na quinta-feira, tão logo o IBGE divulgou a Pnad referente a 2013 com informações que soaram como música aos ouvidos dos candidatos de oposição: após 20 anos de queda ininterrupta, a concentração de renda voltou a aumentar, e, no ano passado, surgiu o primeiro sinal de que o mercado de trabalho, pujante desde 2009, fraquejava.

Mas ontem, uma entrevista coletiva foi convocada às pressas a fim de o IBGE comunicar que errara: a desigualdade de renda não só não aumentou, como diminuiu. O índice de Gini, usado nessas medições, não passara de 0,496 para 0,498 — quanto mais próximo de 1, pior —, mas caíra até 0,495.

A taxa de desemprego de 6,5% — acima dos 6,1% calculada em 2012 — foi mantida, porém a população desocupada cresceu menos: 6,3%, em vez de 7,2%.

O diretor de pesquisas da instituição, Roberto Olinto, explicou o erro, cometido na extrapolação para todo o país das informações levantadas na amostra. O equívoco técnico distorceu dados referentes a sete estados: São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas, Bahia, Pernambuco e Ceará, onde estão 59% da população brasileira.

Já na quinta-feira, ao comentar os resultados negativos, o ministro secretário de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri, ele mesmo um economista pesquisador neste campo, chamava a atenção para o fato de a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), também do IBGE, indicar uma redução da desigualdade de renda em 2014. Deduz-se que o IBGE recebeu ordens para rever os cálculos.

A instituição, pela reputação e história, é e continua inatacável. “Foi algo extremamente grave. Toda vez em que o IBGE erra, é nosso dever tornar isso público e pedir desculpas a toda a sociedade”, declarou a presidente do instituto, Wasmália Bivar. Fez bem.


Mas as circunstâncias não ajudam. A campanha eleitoral em si já amplificará as repercussões da revisão de última hora da Pnad, e mais ainda porque os novos cálculos devolveram à presidente-candidata argumentos para se apresentar nos palanques como campeã na luta contra a pobreza.

Por outro lado, o relacionamento tortuoso do governo Dilma com estatísticas oficiais sempre estimula suspeitas de malfeitos com os números. Difíceis de acreditar no caso do IBGE, reconheça-se.

Com a campanha eleitoral em fase de reta final para o primeiro turno, é possível, no entanto, que o conteúdo da pesquisa fique em segundo plano nos debates, infelizmente.

As "cartas sem selo" do PT - EDITORIAL O ESTADÃO

PARA PRESIDENTE VOTE AÉCIO NEVES 45


O ESTADO DE S. PAULO - 20/09
Quando discutem os prós e os contras do direito à reeleição dos detentores de mandatos executivos, costuma-se pôr em um prato da balança os ganhos de estabilidade política e coerência administrativa proporcionados, nos regimes presidencialistas, pela possibilidade aberta a prefeitos, governadores e presidente da República de conquistar um segundo período de governo. No outro prato, contrapõe-se o inevitável desequilíbrio de oportunidades eleitorais que a modalidade acarreta.
À parte quaisquer outros fatores e as eventuais medidas para aplainar por igual o campo da disputa, mesmo o mais austero e ético dos candidatos incumbentes dificilmente abrirá mão dos seus recursos de poder para percorrer com o máximo de conforto a nova jornada rumo às umas. O fato de, nos Estados Unidos, a regra ser a reeleição do ocupante da Casa Branca e a grande exceção ser o seu despejo não resulta de uma improvável superioridade intrínseca dos mandatários de turno sobre os rivais empenhados em desalojá-los.

A menos que carreguem nas costas quatro anos de governo desastroso ou sejam responsabilizados por um único fiasco de grandes proporções -como o patético fracasso da expedição ordenada em abril de 1980 pelo então presidente Jimmy Carter para resgatar 52 reféns americanos no Irã, o que acabou com as suas chances de reeleição -, o tiro de largada das corridas presidenciais já encontra o ocupante do cargo à frente dos adversários de prontidão na raia.

Mas, conforme a mentalidade do interessado e os usos e costumes de seu partido, não há preço que pague manter, se não ampliar, essa vantagem. A expressão, nesses casos, não se esgota no sentido estrito de gastança desabrida pelo voto nem tampouco na posta em marcha de grandes baixarias para solapar, entre as parcelas mais desinformadas do eleitorado, eventuais preferências por um ou outro dos demais candidatos. Abrange também um vasto rol de malandragens comparativamente miúdas.

Quando vem a público um desses "pequenos assassinatos", entende-se melhor o que significa, no nível da sarjeta, "fazer o diabo" para ganhar eleições, na inesquecível confissão da petista Dilma Rousseff. O exemplo da hora é o trambique armado nos Correios pela sua campanha. Quando um usuário se prepara para despachar um grande número de mensagens do mesmo tipo - a chamada "mala direta postal domiciliária" deve ele próprio chancelar, uma a uma, as peças a serem enviadas.

Ou seja, imprimir os seus dados.

Tratando-se de propaganda eleitoral, devem constar ainda o nome do remetente, o CNPJ, o ano do pleito e a origem da postagem. Isso é necessário para que os Correios saibam quantos exemplares farão chegar aos destinatários e cobrar de acordo. Mas, como apuraram os repórteres Andreza Matais e Fábio Fabrini, da sucursal de Brasília do Estado, a estatal aceitou entregar alegados 4,8 milhões de folhetos pedindo votos para Dilma sem o necessário registro de controle. "Alegados" porque, embora a campanha tenha pago pelo serviço, não se tem como conferir se o total foi de feto aquele ou maior.

"O cara entrega 1 milhão de impressos para serem distribuídos", argumenta o ex-presidente dos Correios João Henrique de Almeida Souza. "Se não tiver a chancela, como é que eu sei se a quantidade é essa mesma?" "É como entregar uma carta sem o selo", resume o coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios e Telégrafos, Luís Aparecido de Moraes. Quem autorizou, "em caráter excepcional", a remessa daqueles milhões de cartas sem selo foi um departamento da empresa chefiado por um certo Wilson Abadio de Oliveira, afilhado político do vice de Dilma, o peemedebista Michel Temer.

Em nota, os Correios justificaram a facilidade a pedido do PT para não ter de inutilizar o material. A autorização, prevista nos seus procedimentos, já teria sido dada a clientes, não identificados, "de diversos partidos políticos". De todo modo, é sabido que a estatal se tomou um feudo do PT desde que, em fins de 2010, Dilma nomeou para comandá-la o sindicalista Wagner Pinheiro, filiado à legenda no Rio de Janeiro. Os petistas radicalizaram a lei de Gérson: nada é pequeno demais para dele não se tirar vantagem.

Jogo indefinido - EDITORIAL FOLHA DE SP

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FOLHA DE SP - 20/09


Gradual decréscimo de Marina Silva nas pesquisas se explica tanto pelos ataques recebidos como por fragilidades próprias


Os números da última pesquisa do Datafolha parecem dar consistência à tese de que haveria um componente emocional na súbita ascensão das preferências por Marina Silva (PSB) após o acidente que vitimou seu companheiro de chapa, Eduardo Campos.

A solidariedade diante da tragédia ou a repentina descoberta, por parte do eleitorado, de que a disputa presidencial não se resumia à alternativa entre PT e PSDB estariam, assim, por trás dos altos índices atingidos pela candidata.

Dos 21% que obtinha no levantamento realizado em 14 e 15 de agosto, imediatamente após a morte de Campos, Marina Silva passaria a 34% duas semanas depois, empatando com a primeira colocada, a presidente Dilma Rousseff (PT).

Se o fator emocional fosse o mais determinante, contudo, o declínio da ex-ministra do Meio Ambiente seria mais acentuado. Mas sua trajetória cadente nas últimas semanas se mostra bastante gradual --e acompanhada de discreta recuperação nos índices tanto de Dilma como de Aécio Neves (PSDB).

Ainda que muitas causas possam ser atribuídas a essa oscilação sutil, é plausível que, antes de um fenômeno puramente emocional, esteja em curso uma corrosão política da postulação marinista.

Não foram poucos os ataques que recebeu. Houve a tentativa de lhe atribuir uma imagem de subserviência ao mercado financeiro --como se o PT, em desespero de causa, estivesse de volta aos tempos estreitos de 1989--, assim como uma incipiente campanha do medo em torno da inconvincente ideia de que sua vitória poderia acarretar o fim do Bolsa Família.

A tática poderá ter surtido efeito nos setores de menor renda do eleitorado; nos municípios com menos de 200 mil habitantes, foi especialmente intenso o crescimento dos índices de rejeição à pessebista.

Também se vê a queda, porém, em outras parcelas da sociedade. Desse ponto de vista, a ofensiva dos adversários de Marina pode ser entendida como a tradução publicitária das fragilidades e inconsistências de sua própria candidatura.

Desmentidos sucessivos e ajustes emergenciais de discurso --na questão do casamento homoafetivo, na política energética, nas relações com o agronegócio, nas diferenças de imagem entre ela e seu vice-- talvez sejam sinal do quanto uma postulação de "terceira via" ainda carece de maturação ideológica para blindar-se contra as investidas dos oponentes.

Quanto a estes, beneficiam-se de uma divisão ideológica real, a que entretanto se esquivam numa mesma inexplicitude programática. A velha política --da qual Marina Silva, aliás, não se afasta tanto quanto quer aparentar-- continua, silenciosamente, a dar suas cartas num jogo ainda indefinido.

Esperança e decepção - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

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CORREIO BRAZILIENSE - 20/09
A 15 dias das eleições gerais que levarão cerca de 141 milhões de brasileiros às urnas, a tendência é de que a disputa eleitoral esquente ainda mais daqui para frente. Mas ainda não é desta vez que o debate se dá sobre questões cruciais para o país. Tampouco há um rumo ou programa em discussão. Nem as reivindicações populares levadas às ruas nas manifestações do ano passado ecoam mais.
É gritante o descolamento da realidade. Aqui não vale nem a máxima cunhada em 1992 pelo marqueteiro de campanha de Bill Clinton na sucessão presidencial dos Estados Unidos. "É a economia, estúpido", disse James Carville, em frase que entrou para a história como alerta para o peso que o bolso do cidadão tem numa disputa eleitoral. Pois a inflação em alta, corroendo o poder aquisitivo dos assalariados, pouca diferença faz na campanha brasileira.

A propaganda da disputa nacional firma-se em peças de ficção, como se a dissimulação fosse inerente à vida política do país. O descrédito, sim, contagia. Há quase 30 anos da redemocratização do país, as lideranças ainda não encontraram o canal nem o discurso corretos para um diálogo consistente com o povo. Tergiversações e falácias ganham espaço. Os candidatos são incapazes de esclarecer quem quer que seja sobre o que quer que seja.

A democracia brasileira é suficientemente firme para manter as instituições funcionando, promover eleições com periodicidade definida, limpas, com votação e apuração exemplares, mas peca por não avançar na essência da troca de ideias, na discussão do país que todos gostariam de ter. Enquanto isso, uma máquina burocrática ineficiente e cara ganha sobrevida, reformas são eternamente adiadas, a economia anda para trás, mas partidos sem um único representante no parlamento federal conseguem emplacar um nome na sucessão presidencial.

Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), que protagonizam a disputa, têm de dividir o tempo de debates com outros seis candidatos, dois deles na faixa de 1% das preferências eleitorais, e os demais com traço nas pesquisas. Não se está condenando a ampla participação, mas certamente há grande diferencial entre os compromissos de uns e outros na defesa e também na crítica de teses de interesse do cidadão. Sem contar que nem as prerrogativas do cargo em disputa costumam ser observadas. Tanto que são comuns promessas desprovidas do mínimo de condições de concretização pelo simples fato de serem responsabilidade de candidatos a cargos de natureza diversa.

A democracia brasileira precisa evoluir. Partidos têm de ter plataformas claras, propostas conhecidas, posições firmes sobre as questões fundamentais à cidadania, espécie de pacto inviolável a ser observado pelos candidatos da legenda. Devem ser mais que uma sigla vazia formada por simpática sopa de letrinhas, verdadeiros sustentáculos de propósitos que funcionem como bússola para o eleitor. A partir daí, as campanhas eleitorais vão superar a mesmice que, em vez de esperança de mudança, traz insegurança quanto ao risco de mais decepção.

Reprovação internacional - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

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GAZETA DO POVO - PR - 20/09


O problema maior do Brasil é a existência simultânea de vários indicadores ruins


As agências internacionais de classificação de risco existem para estudar os países, acompanhar o desempenho de suas economias, avaliar o ambiente político e a estabilidade jurídica, com a finalidade de extrair conclusões técnicas a respeito da capacidade do país em pagar os empréstimos tomados no exterior pelo governo e pelas empresas nacionais. À moda das escolas, essas agências atribuem aos países determinadas notas resultantes dos exames e provas que aplicam. A nota reflete a saúde econômica, financeira, política e social do país.

Após décadas de inflação e baixo desempenho econômico, o Brasil conseguiu atingir a nota conhecida por “grau de investimento”, que é atribuída aos países considerados em situação bastante boa, com capacidade de tomar dinheiro emprestado no exterior e pagar normalmente as dívidas nas datas de seu vencimento. O Brasil foi aprovado nos testes, como consequência da melhoria econômica e social obtida desde que a inflação foi domada a partir do Plano Real, em 1994.

Além de mais facilidade na obtenção de crédito no exterior, a melhoria da nota do país implica taxa de juros mais baixa nos emprestadores internacionais, diminuindo o desembolso com o pagamento de encargos da dívida em moeda estrangeira. Por outro lado, bancos, fundos de pensão e fundos de investimentos sediados no exterior têm, em seus estatutos, regras para fazer empréstimos a governos e empresas situadas em país estrangeiro. Em muitos casos, somente podem ser concedidos empréstimos a países que, na classificação de risco feita pelas agências, obtêm notas a partir de um dado nível. Inversamente, são proibidos os empréstimos a governos e empresas situados em países com notas que implicam risco de calote.

O Brasil somente conseguiu obter elevação de sua nota após ter alcançado bons fundamentos macroeconômicos por vários anos, com destaque para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o controle da inflação, a melhoria das contas externas e o superávit fiscal primário. Tornando-se um país de economia menos vulnerável e apresentando situação externa saudável, a taxa de juros paga por empresas nacionais e pelo governo brasileiro caiu, pois a taxa de risco embutida no custo total dos empréstimos internacionais foi reduzida.

Na semana passada, a agência Moody’s colocou a nota do Brasil em perspectiva negativa. Durante o tempo em que a nota é mantida, é hábito da agência dizer se a avaliação segue com perspectiva de ser melhorada, mantida estável ou piorada. As razões que levam uma agência de classificação de risco a colocar a nota em perspectiva negativa estão na piora dos indicadores econômicos. Esse é o caso do Brasil. Baixo crescimento do PIB por vários anos, inflação acima do centro da meta fixada pelo governo, piora das contas fiscais, aumento do déficit público nominal e crescimento preocupante da dívida consolidada do governo são os indicadores que fizeram acender o sinal vermelho da agência.

Todo esse panorama significa uma espécie de reprovação internacional da situação brasileira e desaprovação da condução da política econômica. Porém, mais importante do que a advertência da agência Moody’s é a consciência de que o governo e a sociedade brasileira devem adotar uma reprovação interna e admitir que o país não está em bom caminho. Embora seja costume do governo – em especial do ministro da Fazenda, Guido Mantega – tentar sempre desqualificar as críticas e não admitir seus erros, desta vez tanto a presidente Dilma quanto o ministro resolveram não atacar a agência, mas ainda assim tentaram minimizar a perspectiva negativa.

O momento talvez não seja dos melhores para o debate em torno da situação econômica, já que a proximidade das eleições faz que o jogo eleitoral prevaleça sobre a lógica e a razão. Entretanto, os fatos não podem ser colocados de lado e a economia segue seu curso, com suas virtudes e seus defeitos. O problema maior do Brasil é a existência simultânea de vários indicadores ruins, alguns de natureza interna, outros de natureza externa. Entre estes últimos, o mais grave é o déficit resultante das importações menos as exportações de bens e serviços, que ameaça corroer rapidamente o volume de reservas internacionais do país.

Passadas as eleições e definido quem será o futuro presidente, o país não escapará de debater a situação econômica e quais medidas precisarão ser tomadas para a recuperação da economia nacional.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

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“Não estou preocupada”

Marina Silva (PSB) sobre o crescimento das intenções de voto para Dilma (PT)



DELAÇÃO: POLÍTICOS PEDEM ACESSO PARA FAZER CENA

A presidente Dilma pediu acesso à delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, e até recorre ao Supremo Tribunal Federal, mesmo sabendo que o processo está sob segredo de Justiça e não pode ser compartilhado. O “jogo de cena” é igual ao das demais autoridades que pretendem a mesma coisa: todos fingem que não temem o que deveras temem, que seus nomes tenham sido citados.

INSISTÊNCIA

Além de Dilma, outros órgãos federais solicitaram acesso à delação premiada, como Ministério da Justiça e Petrobras. Foram indeferidos.

NADA FEITO

A Controladoria-Geral da União, que nada controla e sempre age após a “porteira arrombada”, também pediu e teve negado acesso à delação.

OUTRAS INTENÇÕES

Alguns líderes da oposição, que também temem o teor da delação, queriam saber o que foi revelado por Paulo Roberto Costa. Negado.

MEDO

Só na primeira fase de depoimentos da delação premiada, o ex-diretor citou 49 deputados federais, senadores e ministros. Há mais.

DILMA DESPREZA 22 EMBAIXADORES ESTRANGEIROS

Além da conhecida repulsa por diplomatas brasileiros e pelo Ministério das Relações Exteriores, a presidente Dilma Rousseff também não dá a menor pelota para diplomatas de outros países, negligenciando um dos seus papéis institucionais mais importantes: receber credenciais de embaixadores designados para atuar no Brasil. Até agora, 22 embaixadores estrangeiros aguardam que Dilma agende a cerimônia.

TORCENDO O NARIZ

O embaixador do Paraguai, Manuel Cáceres, chegou ao Brasil em novembro de 2013. Até hoje, não conseguiu entregar as credenciais.

CANSOU DE ESPERAR

O embaixador paraguaio anterior, Evelio Arévalos, chegou em março de 2012 e foi embora há um ano sem conseguir entregar credenciais.

PRECONCEITO

Para Dilma, todos diplomatas são como o ex-ministro Antônio Patriota. Ignora que o Itamaraty é um centro de excelência do serviço público.

ESCOLHA QUE DIVIDE

O mundo jurídico em Brasília sabe que, reeleita, Dilma deve indicar em novembro o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) para a vaga de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal. É uma das razões de crítica do ex-presidente Lula à sucessora. Ele não gosta de Cardozo.

PV COM MARINA

Apesar das mágoas em relação a Marina Silva, que disputou em 2010 a Presidência da República pelo PV, dirigentes do partido não veem outro caminho a não ser apoiá-la em no segundo turno contra Dilma.

GASTÃO GASTADOR

Está marcado para quarta (24) o julgamento no Tribunal de Contas da União do presidente da Fecomércio do Ceará, Luiz Gastão. O processo pede o ressarcimento de mais de R$ 4 milhões ao erário, por contratos e pagamentos irregulares durante a gestão de Gastão no Sesc-CE.

FAVORITISMO

Candidato à reeleição, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB-PR) decidiu apertar o passo para derrotar Roberto Requião (PMDB) já no primeiro turno. Sabe que é grande a chance de liquidar a fatura logo.

É O CARA

Com habilidade e diálogo, o diretor regional dos Correios no Rio Grande do Norte, José Alberto Brito, evitou pela terceira vez em menos de dois anos que a população sofresse com greve nos Correios.

PEGA MAL

O PT não quer a presidente Dilma ajudando Armando Monteiro (PTB) na briga pelo governo de Pernambuco. “A gente não pode, agora, desagradar ao eleitor de Eduardo Campos”, explica um coordenador nacional do PT.

TOLERÂNCIA ZERO

Na briga para tentar aumentar a bancada federal em 2015, o PV agora ameaça expulsar prefeitos, vereadores e dirigentes que apoiarem candidatos de outros partidos. A ordem é ser “implacável contra infiéis”.

ESTRATÉGIA

Após ganhar fôlego nas últimas pesquisas, Aécio Neves (PSDB) deverá subir o tom contra a presidente Dilma Rousseff (PT) e segurar um pouco ataques contra Marina Silva (PSB).

FRAUDE

Nada como uma campanha eleitoral no meio para explicar por que a pesquisa do IBGE mostrando que aumentaram as desigualdades mudou de repente para “caíram as desigualdades”.


PODER SEM PUDOR

UM MAR DE LEITE

A base eleitoral do senador potiguar Agenor Maria era o Alto Sertão, município de Currais Novos, onde tinha uma fazenda de gado leiteiro.

Certa vez, durante o prolongado recesso parlamentar, decidiu alugar uma casa à beira-mar, em Natal, e, além da numerosa família, levou para a temporada de veraneio um velho empregado da fazenda, seu Chico, que nunca tinha visto o mar.

- Chico, veja só que imensidão. Imagine tudo isso sendo nosso e, em vez de água, leite! - disse Agenor, puxando conversa na varanda da casa.

A resposta do velho vaqueiro foi carregada de significado:

- Prestava não, dr. Agenor. E aonde a gente ia achar tanta água pra misturar nesse leite?