domingo, setembro 07, 2014

O 'verdadeiro' mensalão - JOÃO BOSCO RABELLO

O ESTADÃO - 07/09

A história política no Brasil não deixa dúvidas quanto aos danos eleitorais provocados por denúncias de corrupção, especialmente aquelas com elementos que lhes dotam de consistência, ainda que dependente de investigações mais aprofundadas.

Não só nas campanhas esse efeito se verifica. Atinge também governos já eleitos, com maior ou menor intensidade, durante ou após seus mandatos, como no impeachment de Fernando Collor e no mensalão, que enterrou o sonho de reeleição no primeiro turno acalentado pelo PT, para ficar nos exemplos recentes.

A campanha atual, já nos seus 30 dias finais, é alcançada pelas primeiras consequências de uma investigação sob condução judicial, que o governo tentou a todo custo, com êxito, sustar na instância parlamentar, obstruindo a CPI da Petrobrás.

As informações prestadas pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, sob o regime da delação premiada, tem potencial devastador e sua influência na eleição começa agora. O dano só poderá ser medido após conhecida a extensão de suas denúncias.

Pelo que já se sabe, o que Costa narra aos seus inquiridores é que a operação montada dentro da Petrobrás reproduz o mecanismo do mensalão, em volume bem maior, com os mesmos partidos da base governista - PT, PP e PMDB -, que tiveram dirigentes condenados e presos.

Por isso, nos meios políticos , o esquema da Petrobrás é tratado como uma extensão do mensalão, por reproduzir meios, fins e personagens envolvidos em desvios de recursos públicos para financiamento de campanhas e também para enriquecimento pessoal.

O processo do mensalão foi conduzido pelo ex-ministro Joaquim Barbosa com base em valores amplamente comprovados, o que reduziu significativamente o montante real desviado. Foi uma opção por trabalhar judicialmente com o que efetivamente se tinha e não com aquilo que se sabia, mas que demandaria mais tempo para materializar.

Por essa razão, o que desponta das investigações na Petrobrás, tem dimensão muito maior que o escândalo de compra de apoio parlamentar. Já vinha sendo chamado de "o verdadeiro mensalão" nos ambientes políticos da capital.

É bastante provável que o temido depoimento de Costa, finalmente iniciado, atinja em cheio a candidatura governista, ampliando o apoio à candidata do PSB, Marina Silva.

A menos que a menção do ex-diretor a Eduardo Campos se desdobre em revelações graves sobre o ex-governador, a partir da refinaria de Abreu e Lima.

A campanha, já influenciada pelo acidente aéreo de Campos, pode recomeçar pela segunda vez, para vertigem geral de partidos e candidatos.

O fato novo - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 07/09

Não podia ter chegado em pior momento para a presidente Dilma a bomba sobre o esquema de corrupção de políticos montado na Petrobras durante 8 anos em governos petistas. A presidente esboçava uma reação para resistir à investida de Marina, e agora está novamente travada pelos fatos.

Marina tem no episódio a prova material de que a “velha política” transformou o Congresso em um balcão de negócios, mas a confirmação de suas denúncias veio junto com a inclusão do ex-governador Eduardo Campos na lista dos beneficiários das negociações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Esse é um empecilho e tanto para a exploração do caso, mesmo que esteja implícito que a candidata não tem nada a ver com os fatos acontecidos antes de ela, por constrangimentos políticos que lhe foram impostos, aderir ao PSB, inclusive o jato que veio junto, ao que tudo indica, nesse mesmo pacote.

Se fosse a candidata da Rede Sustentabilidade, Marina estaria hoje livre, leve e solta para empunhar a bandeira da nova política em contraponto às nebulosas transações que seus adversários comandam nos bastidores políticos de Brasília. Mas terá que pisar em ovos para usar a artilharia pesada que lhe caiu no colo sem que o fogo amigo a atinja.

Quem poderá se beneficiar da situação é o candidato do PSDB Aécio Neves, que precisava de um fato novo para turbinar sua campanha, e ele chegou pela delação premiada do ex-diretor da Petrobras. Não é possível dizer agora se mais essa denúncia de roubalheira institucional será suficiente para recolocá-lo na disputa, mas ele tem a vantagem no momento de poder atacar tanto Marina quanto Dilma, reforçando a ideia central de sua campanha de que ele é a mudança segura.

A presidente Dilma dificilmente perderá votos do núcleo duro petista, que vota nela mesmo de olhos e narizes fechados, e considera normais esses esquemas corruptos. Veremos agora de que tamanho é o apoio da candidata Marina Silva, e qual a intensidade da revolta de eleitores que estavam fora da eleição por vontade própria e retornaram devido à sua presença.

Aécio poderá tentar retomar eleitores que foram para Marina, que também receberá eleitores que voltaram para Dilma e poderão ficar sensíveis a mais esses escândalo. Tudo dependerá de como Marina usará esse episódio.

Quem é Marina de fato, desde a eleição de 2010, já estará convencido de que ela foi apanhada em uma armadilha montada pela “velha política” de que Eduardo Campos se utilizava antes de romper com o governo petista. E a perdoará por isso, entendendo que não tem condições de romper agora com o esquema político que a acolheu em momento difícil.

Ainda mais tendo como vice um político orgânico do PSB. Muitos que foram para ela em busca de um refúgio poderão se convencer de que Aécio Neves é a melhor oposição, e muitos outros podem desistir mais uma vez de votar, convencidos pelos fatos de que são todos farinha do mesmo saco.

O certo é que a presidente Dilma, que ensaiava uma reação levada pela máquina partidária e pelos militantes petistas, está novamente enredada em um esquema político deletério. Se é verdade que ensaiava retirar do fundo da gaveta a imagem da faxineira ética do início de seu governo para reforçar o combate à corrupção, agora vai ter que desistir da ideia.

Já era uma proposta desesperada, pois as contradições são evidentes entre a faxineira e a atual presidente que colocou de volta no ministério praticamente todos os que enxotara, e agora é inviável.

Também fica sem sentido a tentativa do presidente do PT Rui Falcão de insinuar que Marina pretende privatizar a Petrobras e os bancos públicos, uma acusação reciclada que por si só mostra a falta de argumentos do partido na disputa política com Marina.

O novo escândalo da Petrobras vai reviver a ideia de Aécio Neves de reestatizar a Petrobras, que foi tomada de assalto por forças políticas da base aliada governista, sob o comando do PT.

Como disse muito bem o presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves, aliás um dos acusados de estar envolvido no esquema de corrupção, “a Petrobras é petista”.

Cai o pano - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 07/09


O efeito da delação do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa no resultado das eleições realmente é o menor dos problemas diante do conteúdo do que ele tem revelado à polícia e ao Ministério Público na última semana.

A preocupação deve pertencer a quem precise arcar com as consequências. O importante para o País é que uma situação dessa gravidade produza consequência à altura.

Em resumo, durante oito anos - de 2004 a 2012 - os contratos da maior empresa brasileira com grandes empreiteiras eram usados como fonte de propina para funcionários, partidos e políticos. Uma espécie de mensalão 2.0.

Desta vez, no entanto, o acusador envolve em sua rede de relações gente grande da República: os presidentes da Câmara e do Senado, ministros de Estado, senadores, governadores e até o ex-presidente Luiz Inácio da Silva com quem, segundo ele, costumava se reunir frequentemente.

Quando Roberto Jefferson denunciou o esquema do mensalão, numa entrevista à Folha de S.Paulo, a primeira reação dos acusados foi desmentir e tentar desqualificar a denúncia. Até que veio a CPI dos Correios.

Escaldado, no início deste ano o governo não deixou que prosperassem as duas comissões de inquérito instaladas no Congresso para investigar os negócios da Petrobrás. Lula mesmo aconselhou o PT a "ir para cima" da oposição a fim de evitar a repetição do episódio.

Agora a coisa é mais complicada. Enquanto a história estava no âmbito do Congresso saiu tudo como planejado. Deputados e senadores da base governista prestaram-se à farsa de maneira obediente. A ponto de deixarem que depoimentos de ex-diretores, presidente e ex-presidente da Petrobrás tivessem perguntas e respostas previamente combinados.

No dia 10 de junho, no intervalo entre uma prisão e outra, Costa foi à CPI. Fez uma defesa ardorosa da lisura ética vigente na empresa e disse o seguinte: "Pode se fazer uma auditoria por 50 anos na Petrobrás que não vai se achar nada de ilegal porque não há nada de ilegal". Suas excelências mais que depressa se deram por satisfeitas.

Teria ficado tudo por isso mesmo se dias depois o juiz Sérgio Moro não tivesse mandado prender Paulo Roberto Costa de novo. Ele havia ficado na cadeia durante 59 dias, foi solto por ordem do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, e preso em 19 de junho por ter escondido a existência de uma conta na Suíça e um passaporte português.

Em dois meses Costa se convenceu de que poderia ir pelo mesmo caminho de Marcos Valério, condenado a 40 anos de prisão. Quando quis fazer acordo de delação premiada, o operador do mensalão não tinha mais nada a oferecer à Justiça porque o esquema já estava desvendado.

No dia 22 de agosto, o ex-diretor da Petrobrás decidiu fazer o acordo. Com o processo no início, não havendo ninguém denunciado, era o momento propício para ele oferecer o que os investigadores precisavam: os autores e as provas dos crimes.

Por isso é que as coisas agora ficam mais complicadas para o lado dos acusados. Os desmentidos serão difíceis. Para que obtenha o benefício da redução da pena ou mesmo o perdão judicial, Paulo Roberto Costa terá necessariamente de fornecer informações verdadeiras, comprovadas, que sirvam para provar a materialidade e a autoria dos crimes.

Por menos do que isso não sairá da prisão. Depois que forem encerrados os interrogatórios e apresentadas as provas o Ministério Público examinará e cruzará todos os dados. Em seguida, dará seu parecer sobre a concessão do benefício que será maior ou menor dependendo da contribuição que a delação tiver dado para a elucidação do caso, cabendo a decisão final ao ministro Teori Zavascki.

Um país não é uma empresa - ODEMIRO FONSECA

O GLOBO - 07/09

Paul Krugman (Prêmio Nobel de Economia 2008) publicou, em janeiro de 1996, artigo com o título acima, na “Harvard Business Review”. Concluía que executivos e empresários não deveriam aconselhar políticas econômicas, pois nada entendiam da complexidade da economia, com seus balanços e preços agregados e seu sofisticado equilíbrio geral. Empresários teriam um viés cognitivo de pedir incentivos ao governo e aconselhar em causa própria. A tarefa era para outros conselheiros, os economistas. Krugman chamava o testemunho de Keynes, para o qual, “economia é assunto técnico e difícil”. Keynes achava que a qualidade dos conselheiros era condição necessária ao sucesso dos governos e que o fracasso dos Stuarts era um grande exemplo de maus conselheiros.

Krugman pressupunha a ausência de um governo empresário e sua argumentação é música para empresários que não gostam das antessalas de Brasília e gostam de competição. Segundo Krugman, o papel dos governos (não entendido pelos empresários) era estabelecer regras do jogo econômico claras e iguais para todos, sair da frente e deixar os mercados funcionarem. Zombava de políticas protecionistas, incentivadoras com subsídios ou que “escolhiam ganhadores”. Parecia escrever sobre o Brasil de hoje.

Mas um país é diferente de uma empresa por motivos muito mais bicudos. Um país não precisa de gerência, como uma empresa, mas de governança política. Um grande gerente (Abilio Diniz) tocou neste ponto recentemente, ao mencionar que “o Brasil não é ingovernável, mas ingerenciável".

O marketing da presidente Dilma pintou-a como boa gerente, motivo de chacota hoje, sendo alguém que se embrulha no próprio discurso. Mas serve à presidente o consolo que nem mesmo Abilio Diniz seria um bom gerente para o Brasil. Por isso, criticar a Marina por falta de experiência gerencial é bobagem. Se os brasileiros correm atrás de um bom gerente para presidente, a frustração vai continuar. A dúvida é se Marina vai poder escolher bons conselheiros e querer ou poder usar seus conselhos.

Quando não em franca desconfiança e confronto, o que governos buscam com empresários é ajuda sobre como tocar a máquina pública com maior eficiência. Apesar de louváveis esforços de empresários, os resultados são frustrantes.

A principal busca dos governos por mais eficiência é na arrecadação, que, junto com custos de transação imbecilizantes, são as principais fontes de conflito com empresários. Mas a mais intratável questão é a do erro gerencial. Empresários sabem e entendem que o erro com o qual mais convivem é o erro de julgamento, que vem da necessidade de inovar e da ausência do conhecimento perfeito. O erro de julgamento não existe na administração pública, que só reconhece o erro por ineficiência ou má-fé.

Por isso, quando o governo desestatiza alguma de suas atividades gerenciais, criando competição ao vender empresas ou fazer concessões, resolve sérios problemas políticos. Além de tirar o foco de si, retira a pressão por subsídios, por arrecadação e pode baixar a carga fiscal e os custos de transação, concentrando-se no seu papel, que é governar. Existe uma lista longa de atividades que os governos podem deixar de gerenciar e o setor privado poderá então entrar, inovar e gerar progresso, sem medo do erro de julgamento.

O novo mensalão - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 07/09


BRASÍLIA - Se a Petrobras entrou na eleição de 2010 para aniquilar as chances do PSDB, ela já entrava na de 2014 para enfraquecer a posição do PT e se torna agora um canhão contra o governo e os governistas.

O ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa, que sabe das coisas, aproximou-se do PT, mas está longe de ser um quadro do partido como Delúbio Soares, que aguentou o tranco e foi para o abatedouro sem entregar o resto da boiada.

Com a delação premiada, o ex-diretor deixou claro que sua prioridade é salvar o que for possível da própria pele. Joga uma profusão de nomes e siglas nas páginas da Justiça e nos ares da eleição. Aliás, já que falamos de Delúbio, uma peça-chave nas denúncias é o novo tesoureiro do PT. Está um salve-se quem puder.

Na reta final da campanha, com Marina Silva na cola de Dilma Rousseff e ameaçando o seu antigo partido, o PT. Haja coração! Lula que o diga. Se está complicado para Dilma, seu primeiro poste, e péssimo para Alexandre Padilha, sua derradeira tentativa de poste, pode ficar pior. Tende a chegar no coração do PT e é improvável que Lula passe incólume.

Se a Petrobras já era um campo minado para a imagem de gestora de Dilma, as novas histórias que saem da boca de Paulo Roberto explodem num outro campo muito delicado para os governos do PT: o da ética. Certo ou errado, o fato é que o mensalão, o deputado amigão do doleiro, o vereador aliado ao PCC e as peripécias dos aliados minaram a aura e o discurso petista construídos em décadas. Cada coisa nova só reforça a sensação que se generalizou. E a "coisa", desta vez, é cabeluda.

O único e frágil alívio para Lula, Dilma e o PT é que a citação a Eduardo Campos embaralha as cartas e deixa Marina sem artilharia para atacar, sobretudo depois da história mal contada do avião da campanha do PSB. É difícil reverter o quadro crítico para Aécio Neves, mas, no mínimo, o tucano deve estar pensando: quem ri por último ri melhor.

As coisas podem não ser o que parecem - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 07/09


É cada vez menor o número dos que duvidam hoje da derrota de Dilma Rousseff nas urnas de outubro. Mas a probabilidade da vitória de Marina Silva poderá resultar em enorme decepção para quem acredita que o voto na ex-senadora é o melhor caminho para livrar o País do lulopetismo. Esta é a conclusão a que têm chegado, nos círculos políticos de Brasília, petistas e não petistas com algum acesso a Lula, a partir da análise de seu comportamento diante de um quadro eleitoral que era impensável pouco tempo atrás.

Não é de hoje, garantem seus seguidores mais chegados, que Lula perdeu a paciência com a campanha da reeleição de Dilma. E não se trata nem de discordar da estratégia, se é que se pode chamar assim, que a presidente e seu círculo de assessores diretos impuseram à disputa. Aos mais íntimos o ex-presidente se tem permitido expressar irritada decepção com a falta de competência política e de carisma de sua criatura. Afirma mesmo, como se não tivesse nada a ver com isso, que ela "não é do ramo".

Diante do provável revés, Lula se esforça para disfarçar o mau humor com um comportamento discreto que o tem levado, para usar uma expressão futebolística tão a seu gosto, a simplesmente "cumprir tabela" na campanha. Mesmo porque uma omissão ostensiva seria inadmissível e a estridência crítica seria contraproducente.

Lula, portanto, parou para pensar em si mesmo, entregar os anéis para salvar os dedos e se concentrar em 2018, quando ele próprio poderá tentar, com o prestígio popular que lhe tiver restado, uma volta triunfal ao Palácio do Planalto. E, pelo que dizem ser seus cálculos, a eleição de Marina Silva agora pode ser mais útil a esse objetivo do que a reeleição de Dilma.

Dilma Rousseff entregará a seu sucessor um país em situação muito pior do que aquele que recebeu de Lula há quatro anos. Os indicadores econômicos, financeiros e sociais revelam essa lamentável realidade. O próximo ocupante da cadeira presidencial receberá uma verdadeira herança maldita. Reeleita, Dilma terá de mostrar uma competência que já provou não ter para evitar que a inflação estoure, a recessão econômica se instale, os programas sociais definhem e a companheirada em desespero piore as coisas tentando "salvar o seu". E aí provavelmente nem mesmo Lula seria capaz de operar o milagre de manter o PT no poder em 2018.

Já Marina Silva na Presidência, com um programa repleto de boas intenções, mas sem nenhuma perspectiva concreta de apoio parlamentar para aprová-lo e de uma ampla e competente equipe técnica para realizá-lo, seria presa fácil de um PT que, na oposição, estaria à vontade para fazer aquilo em que é especialista: atacar, destruir. E depois de devidamente demolida a imagem de Marina, Lula poderia surgir, mais uma vez, como salvador da pátria.

Mas haveria ainda, segundo essas maquinações, uma segunda hipótese: governar com o PT. Marina não ignora as dificuldades que terá pela frente e tentará garantir o apoio de forças políticas que possam fazer diferença em seu governo. Petistas ou tucanos dariam a Marina apoio decisivo semelhante àquele que o PMDB oferece hoje a Dilma. Mas PT e PSDB dificilmente comporiam juntos uma base de apoio confiável. E, mesmo que os tucanos venham a apoiar Marina num eventual segundo turno contra Dilma, toda a história política da ex-senadora dentro do PT e a aversão aos tucanos que ela não se preocupa em disfarçar indicam que seus parceiros preferenciais seriam os petistas.

Reforçaria essa hipótese o fato de que Marina tem feito acenos de boa vontade a Lula, como a reiterada manifestação de que não seria candidata à reeleição em 2018 e de que estaria disposta a não desalojar completamente o PT de seu governo, promessa implícita na garantia de que pretende governar "com todos os partidos".

Seja como for, Lula parece estar assimilando bem - e talvez até desejando - uma vitória de Marina Silva, que trabalharia para caracterizar como uma derrota de Dilma e não do PT. E o PT estaria, tanto quanto seu líder máximo, preservado do inevitável desgaste de mais quatro anos de barbeiragens políticas e administrativas.

A ser isso verdade, votar em Marina com a intenção de cravar uma bala de prata no coração do lulopetismo seria comprar gato por lebre.


COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

‘Nenhuma das negociações de hoje passa a ter credibilidade’
Aécio Neves sobre a demissão do ministro da Fazenda 4 meses antes de sair do cargo


LIBERAÇÃO DE INIBIDORES PODE SER LOBBY DE YOUSSEF

Documentos apreendidos pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, aos quais esta coluna teve acesso, revelam grande interesse de uma empresa investigada, Piroquímica, no sal químico sibutramina, inibidor de apetite. O megadoleiro Alberto Youssef fazia lobby para reverter a proibição desse comércio bilionário. Investigadores suspeitam que ele está por trás da liberação de inibidores, definida pelo Senado no dia 2.

PROIBIÇÃO

Por oferecerem riscos à saúde, os inibidores tiveram a comercialização proibida em 2011, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

ARRUMADINHO

O laboratório Labogen, de Youssef, importava químicos, revendia à Piroquímica, que revendia a outra empresa, que vendia ao governo.

A FAVORITA

A empresa Labogen é uma das principais investigadas na Operação Lava Jato, envolvendo inclusive o deputado André Vargas (ex-PT-PR).

ELES SABEM MAIS

Os senadores alegaram que a Anvisa “extrapolou” ao proibir inibidores de apetite. A Anvisa, na verdade, exerceu suas prerrogativas.

PMDB PODE CONQUISTAR OITO GOVERNOS ESTADUAIS

Maior aliado do governo Dilma, o PMDB pode ser o grande vencedor da eleição 2014, nos estados. Se os cenários previstos nas pesquisas se mantiverem, o partido de Michel Temer pode eleger até oito governadores, dois a mais que o PSDB, segundo colocado nas projeções das pesquisas de Ibope e Datafolha. O PT lidera em quatro estados, o PSB de Marina Silva não lidera, mas pode levar três.

QUATRO NO NORDESTE

No Nordeste, o PMDB tem grande chance de eleger Renan Filho (AL), Eunício Oliveira (CE), Henrique Alves (RN) e Jackson Barreto (SE).

TRÊS NO NORTE

No Norte, são favoritos Eduardo Braga (AM) e Marcelo Miranda (TO). Helder Barbalho (PA) não lidera, mas tem chance. Todos do PMDB.

MÃO NA TAÇA

No Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB) lidera com folga espantosa, em relação ao rival Renato Casagrande (PSB), o atual governador.

AERO-CORRUPA

Chegam a ser engraçados os codinomes utilizados pelos envolvidos no escândalo de corrupção revelado pela Operação Lava Jato. Há emissários batizados de “Grandão” e “Careca”, que faziam o transporte do dinheiro sujo, em jatos, para o exterior e de lá para o Brasil.

RIGIDEZ

Uma das empreiteiras investigadas pela Polícia Federal na Operação Lava Jato também tem nome esquisito: Rigidez. Nome que certamente não foi inspirado na atitude eticamente rígida dos responsáveis.

FIGURÕES NA ESCUTA

A Operação Lava Jato leva pânico a vários figurões do Paraná que aparecem em escutas, ora em conversas indecorosas com o megadoleiro Alberto Youssef, ora com o deputado André Vargas (ex-PT).

LULA CANDIDATO?

Os aliados do governo no Nordeste, inclusive petistas, estão se lixando para a candidatura de Dilma à reeleição. Nem usam sua imagem, nem pedem votos para ela. Só querem saber de Lula.

PT LIPOASPIRADO

O PT deve eleger a 2ª maior bancada de deputados federais, segundo políticos experientes. A Operação Lava Jato inibiu o “caixa 2” e Dilma não abriu o cofre. O PMDB sairá das urnas com a maior bancada.

PROPAGANDA ENGANOSA

O Itaú anunciou redução para 0,99% ao mês os juros do financiamento de veículos, até o dia 10. No rodapé do anúncio, em letras miúdas, a real: a taxa soma 12,55% ao ano, mas, somadas tarifas e otras cositas, vai a 27,66%, mais que o dobro. E 27,66% ao ano são 2,06% ao mês.

VASSALAGEM

Ao atacar Marina Silva (PSB), apostando na sua “derrubada”, caso eleita, o governador do Ceará, Cid Gomes (Pros) prestava vassalagem à presidenta Dilma. Na visita a Fortaleza, ela desabafou que não se sentia bem atacando Marina. Ele se prontificou a fazer o serviço.

DESCONSTRUÇÃO

Os ataques do ex-ministro Ciro Gomes a Marina fazem parte do “pacote” oferecido à presidenta Dilma pelo irmão governador. Até se dispôs a percorrer o País tentando “desconstruir” a candidata do PSB.

ÚLTIMOS A SABER

Se Lula demitiu Cristovam Buarque da Educação por telefone e Dilma demitiu Guido Mantega pela imprensa, os ministros devem ficar ligados para não serem demitidos por sinais de fumaça.



PODER SEM PUDOR

CONVERSA DE PESCADOR

Nos tempos de ditadura, dois candidatos da Arena disputavam a prefeitura de Conceição do Mato Dentro (MG), onde vivia Chiquito, cabo eleitoral particularmente esperto. Na campanha, ele não hesitou em subir no palanque e pedir votos para Sebastião Soares, da Arena 2, mas uma semana depois lá estava ele no outro palanque, de José Mascarenhas, da Arena 1, implorando os votos dos conterrâneos. Um deles, curioso, questionou a repentina mudança. Chiquito não se fez de rogado:

- Eu não mudei, pesquei. Joguei o anzol no ceveiro do Soares, esperei e não deu peixe. Joguei no ceveiro do Mascarenhas, logo veio peixe.