sábado, agosto 02, 2014

Os abutres do bem - GUILHERME FIUZA

O GLOBO - 02/08


Governo brasileiro tem autoridade para defender a Argentina nesse momento difícil, porque segue a mesma escola



Lula da Silva pediu a cabeça de uma funcionária do Santander. O banco entregou-lhe a cabeça dela. Era uma funcionária abutre, dessas que atacam os cordeirinhos socialistas, escrevendo coisas desagradáveis sobre o governo popular. Como ousa essa agente do capitalismo selvagem dizer que a queda de Dilma Rousseff nas pesquisas eleitorais anima o mercado?

É bem verdade que a queda de Dilma nas pesquisas anima o mercado, mas... precisava dizer isso para todo mundo? A analista do Santander não poderia ser mais discreta com seus clientes? Não dava pelo menos para falar mais baixo? Ou mudar de assunto? Não dá para entender por que esses analistas de conjuntura insistem em falar de coisa triste. Em vez desses boletins sisudos e cinzentos, poderiam mandar mensagens coloridas e alegres, prevendo um PIB maravilhoso e garantindo que a inflação está quietinha no seu canto. Se o ministro da Fazenda faz isso, por que um banco não pode fazer? São mesmo uns pessimistas. Abutres!

Mas aqui no nosso terreiro, financista estrangeiro não vai cantar de galo, não. Como avisou Dilma na Copa do Mundo, o brasileiro já superou seu complexo de vira-latas. Os pastores alemães sentiram na carne o que significa isso. E os pitbulls do governo popular foram para cima do Santander: Dilma rosnou, Lula mordeu, e o banco teve que engolir suas palavras. Onde quer que esteja agora, o companheiro Hugo Chávez deve estar explodindo de orgulho dos seus amigos petistas. Lula já dissera que a Venezuela chavista é um modelo de democracia, e agora mostra que não estava brincando.

A reação do filho do Brasil em defesa da reeleição de sua criatura foi um ato de estadista. O que fazer diante de uma análise desfavorável ao governo do PT? Elementar: fuzilar o analista. Com classe: “Não entende porra nenhuma de Brasil.” Quase é possível ouvir a reação eufórica do coronel Chávez: “Meu garoto!”

Aqui na Terra, a parceria chavista também é só alegria. Depois de destroçar a economia argentina com seu populismo cor-de-rosa, Cristina Kirchner deu o calote e recebeu o caloroso abraço do Brasil. “Não podemos aceitar que a ação de alguns poucos especuladores coloquem em risco a estabilidade e o bem-estar de países inteiros”, declarou Dilma em Caracas, lugar ideal para esse tipo de ternura. Estão vendo como esses abutres são maus? Atacam uma viúva indefesa, que é leal ao falecido e mantém irretocável a reputação caloteira da família.

O abraço de Dilma em Cristina é pleno de simbolismo. A presidente brasileira deve muito à companheira argentina. Foi Cristina quem começou, corajosamente, a esconder os indicadores feiosos da economia, e a fabricar números novinhos em folha — tornando os índices de inflação, por exemplo, até simpáticos. Dilma tomou coragem e foi atrás, implantando no governo brasileiro a contabilidade criativa — sem dúvida uma das realizações mais engenhosas do PT no poder. Numa triangulação mágica entre o Tesouro, o BNDES e estatais como a Petrobras e a Caixa, o governo popular aprendeu a esconder déficits e assim ampliar o orçamento do fisiologismo. Nem a seleção alemã pôs o Brasil na roda com tanta maestria.

Entre outras maravilhas da bravura bolivariana, os Kirchner arruinaram as empresas de energia — base do crescimento — para garantir a conta de luz baratinha, que o povo adora. Os abutres pensam que é fácil enganar o povo, mas enganados estão eles: custa caríssimo. Propaganda populista, truques assistencialistas, engordar a máquina para enriquecer os aliados — isso tudo custa dinheiro. Como declarou Dilma, é um absurdo que esses urubus não tenham um mínimo de sensibilidade para com o bem-estar dos marajás da viúva.

E o governo brasileiro tem autoridade para defender a Argentina nesse momento difícil, porque segue a mesma escola de abutres do bem: além dos números amestrados, por aqui o setor elétrico também foi depredado em favor da bondade tarifária — que ajudou adicionalmente a sumir com metade do valor da Petrobras (fora o antro de negociatas, que ninguém é de ferro). E, para provar que o Brasil faz questão de estar no mesmo barco da Argentina, o governo Dilma acaba de bater um novo recorde, depois de construir os estádios de futebol mais caros do mundo: o primeiro semestre de 2014 registrou o maior déficit nas contas públicas do século 21.

É bem verdade que o PT ainda não conseguiu torpedear a imprensa com a eficiência dos Kirchner. Mas tem suas listas negras, e continuará caçando essa gente que não entende porra nenhuma de Brasil.

GOSTOSAS


FICO SÓ IMAGINANDO...


O Grande Irmão... - PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA

CORREIO BRAZILIENSE - 02/08

Sempre me lembro de 1984, que considero o maior romance do século 20, quando ocorrem cenas patéticas como a de Lula chamando o presidente mundial do Santander de "meu querido" e se vangloriando da demissão de uma funcionária do banco espanhol. Quem te viu, quem te vê. O big boss do PT se refere à demitida como aquela que não sabia de "porra nenhuma". O crime que ela cometeu: alertar correntistas sobre investimentos que ganham ou perdem valor quando Dilma sobe ou desce nas pesquisas eleitorais.
No mundo todo, com exceção de ditaduras, é assim. Trata-se de uma obrigação de analistas informar sobre o que influencia o sobe e desce do mercado. Tanto que corporações financeiras internacionais acompanham com lupa tudo o que acontece em cada país e orientam os clientes para riscos e oportunidades. No momento, todas, sem exceção, veem com apreensão o cenário econômico brasileiro. Não à toa. O FMI e o FED (o banco central americano), por exemplo, apontam o Brasil entre os cinco países emergentes mais vulneráveis do mundo, ao lado da Índia, da Turquia, da Indonésia e da África do Sul. Pois é: o planeta inteiro está "errado" ou "conspira" contra o governo do PT.

Sim. É verdade que existiu, no Brasil, terrorismo de empresários contra Lula. Como é o famoso caso de Mário Amato, que alardeava uma fuga em massa de investimentos se o petista fosse eleito. Errou feio. Não só os empresários não fugiram do país como o temido sindicalista se tornou o político mais querido dos donos do PIB. Uma prova é a recente romaria ao Instituto Lula e o beija-mão dos poderosos para que o ex-sapo barbudo seja o candidato a presidente no lugar de Dilma.

Outra vez volto a Orwell. No livro lançado em 1948, ele associa 1984 ao triunfo do Estado totalitário sobre as liberdades individuais. Estaríamos, todos, então, sob o jugo do Grande Irmão. Que reescreve a história, muda o sentido das palavras, cria uma nova língua e a tudo e a todos subjuga. Liberdade de expressão? Esqueça. É crime ter opinião própria. Vigora o pensamento único do partido. Câmeras mantêm cada um sob vigília até quando a pessoa está dentro de casa. Felizmente, todos os mecanismos de opressão que o escritor imaginou à época não se concretizaram em 1984. Mas já existem hoje. E parece haver quem morra de vontade de colocá-los em prática no Brasil-sil-sil-sil.

A economia dos poderes mágicos da mente - ROLF KUNTZ

O ESTADO DE S.PAULO - 02/08


A presidente Dilma Rousseff é uma batalhadora. Essa virtude ninguém pode negar. Ela briga com as palavras, a lógica, os fatos, os números, a teoria econômica e os princípios mais simples da administração. Não é uma vida fácil, até porque os números têm o hábito lamentável de atacar traiçoeiramente. Enquanto ela pregava otimismo aos empresários, na quarta-feira à tarde, o Tesouro Nacional divulgava as contas do governo central, com mais um déficit primário - de R$ 1,95 bilhão em junho - e mais uma coleção de cifras assustadoras. No dia seguinte o Banco Central (BC) mostrou um quadro ainda mais feio, ao publicar as contas consolidadas do setor público. Segundo seu critério, o mês de junho havia terminado com um buraco de R$ 2,7 bilhões na administração central e de R$ 2,1 bilhões no conjunto, com desempenho pouco melhor dos governos regionais e das empresas controladas. Na sexta-feira, novo ataque dos números mostrou mais um tombo da produção industrial: o volume foi 1,4% inferior ao de maio e 6,9% menor que o de junho do ano passado.

No mesmo dia, à tarde, as cifras do comércio exterior pareceram trazer alguma ajuda: as contas de julho foram fechadas com superávit de US$ 1,57 bilhão. Mas pouco mais de metade desse valor, US$ 866 milhões, foi garantido pela exportação fictícia de uma plataforma de exploração de petróleo. Além disso, no acumulado do ano restou um déficit de US$ 916 milhões. Sem aquela operação - legal, mas fictícia, porque a plataforma continua no País - o déficit de janeiro a julho ainda seria US$ 1,78 bilhão.

Mas a presidente, auxiliada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, continua cobrando otimismo de todos, como se isso garantisse um desempenho melhor da economia brasileira. Os dois atribuem os problemas - pequenos, naturalmente - ao pessimismo espalhado pelos mercados e às condições da economia internacional. Na Confederação Nacional da Indústria (CNI), na quarta-feira, a presidente chegou a falar em protecionismo no mundo rico para explicar o enfraquecimento das exportações. Em relação ao comércio exterior e à competitividade, os números e dados conhecidos também têm sido adversos às teses presidenciais.

A presidente Dilma Rousseff e seu ministro da Fazenda têm aplicado à economia uma criativa mistura de ideias. As teses de Norman Vincent Peale, autor do best-seller O Poder do Pensamento Positivo, aparecem mescladas com crenças primitivas em faculdades mágicas da mente. Além de injusta em relação ao pastor Peale, essa mistura passa longe de qualquer ideia econômica sobre a importância das expectativas. Decisões sobre consumo, produção e investimento são realmente afetadas por expectativas, e isso os economistas sabem há muito tempo. Mas os fatos são muito mais complexos e, quando se trata de explicar o desempenho de uma economia, é sempre bom levar em conta a qualidade da política. Expectativas podem ser importantes, mas a competência de quem conduz a política também pesa.

De janeiro a junho deste ano a produção industrial foi 2,6% menor que a do primeiro semestre do ano passado. Em 2013 o produto industrial aumentou 2%, mas havia diminuído 2,3% em 2012. Nem retornou, portanto, ao nível de 2011, quando o pífio crescimento havia ficado em 0,4%. Desde o primeiro ano do governo Rousseff, qualquer iniciativa rotulada como política industrial fracassou, portanto, de forma indisfarçável.

Atribuir esse resultado ao pessimismo generalizado seria um exagero, até porque os consumidores demonstraram boa disposição e considerável otimismo durante boa parte desse período. Talvez seja o caso, diante desses dados, de abandonar a conversa sobre expectativas pessimistas e explicar o fiasco da política pelo mau-olhado. Por que não, se o poder mágico da mente é tão relevante? A culpa deve ser de oposicionistas, de neoliberais invejosos e, de modo geral, de pessoas sem patriotismo. Afinal, o crítico do governo, segundo o discurso oficial, sempre torce pelo pior e é inimigo da Pátria.

Mas as falas da presidente e do ministro revelam algo mais que a crença nos poderes mágicos do pensamento, positivo ou negativo Denunciam também uma concepção muito especial da expectativa. Uma estranha noção está implícita nessa conversa: as pessoas podem ser pessimistas ou otimistas em relação aos fatos ou dados conhecidos. Se são conhecidos, no entanto, como falar de pessimismo ou otimismo? Um fato é claro: o mau humor de empresários e analistas está associado em primeiro lugar a informações amplamente difundidas, como a persistência de pressões inflacionárias, o emperramento da indústria, a piora das contas públicas e as más condições do comércio exterior.

Informações mais detalhadas podem tornar pior esse humor. Exemplo: de janeiro a junho deste ano, a produção de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos, foi 8,3% menor que a do primeiro semestre do ano passado. Em 2012 e 2013 essa produção ficou estagnada. Além disso, entre janeiro e julho o valor gasto com a importação de bens de capital foi 6% menor que o dos mesmos meses de 2013. Conclusão inescapável: os brasileiros estão investindo menos na ampliação e na modernização da capacidade produtiva. Como o crescimento da economia depende do investimento, exceto quando há grande capacidade ociosa, o potencial de expansão do Brasil continua comprometido. É uma relação elementar. Não é questão de pessimismo. Embora seja difícil calcular aquele potencial, respeitáveis economistas concordam pelo menos quanto a um ponto: sem investir muito mais o Brasil pouco poderá crescer nos próximos anos.

As autoridades às vezes parecem admitir esse raciocínio. Mas continuam falando como se os fatos conhecidos fossem positivos e as más expectativas, infundadas, George Orwell chamou de "duplipensar" a sustentação de ideias incompatíveis. Em alguns casos, talvez fosse mais adequada outra palavra: "semipensar".

O que é ser republicano? - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 02/08


O que não serve ao país são dirigentes militantes de causas que pertencem a só uma parcela da sociedade


O uso intensivo do termo "republicano" tem servido mais para banalizá-lo que torná-lo efetivo na cena brasileira. Poucas vezes uma palavra expressou tanto o seu avesso; poucas vezes seu significado se mostrou tão necessário quanto ultrajado.

As instituições do Estado são permanentes; não podem ser afetadas pelo ativismo ideológico. Mas a ação de ONGs e sindicatos no interior da máquina estatal fere esse princípio republicano básico e há tempos sabota a agenda política e social brasileira --quer por razões ditas ideológicas ou meramente fisiológicas.

Exemplos não faltam. Já mencionei diversas vezes os bastidores da votação do Código Florestal, cujo debate --como todos os que tratam de ambiente-- foi obstado pela ação de ONGs, nacionais e internacionais. Não fosse a determinação da presidente e do Congresso, empenhados em garantir a segurança jurídica a quem produz alimentos, não teria havido nem votação nem Código.

A anomalia, porém, está longe de se restringir a um setor. Basta ver o que ocorre no campo trabalhista. Sabe-se que a legislação em vigor, oriunda dos anos 40 do século passado, não atende às demandas da atualidade. E não estou me referindo a direitos pétreos, como 13º, FGTS, férias e licença-maternidade, como insinuam maldosamente os que sabotam esse debate.

Refiro-me a questões que dificultam a expansão do emprego --e que, por óbvio, conspiram contra o próprio trabalhador, refém de centrais sindicais, que se sentem donas da República. Vejam o que ocorre no setor rural, um dos que mais empregam no país. Os custos finais de mão de obra, com os encargos financeiros, acrescidos das exigências do Ministério do Trabalho, superam significativamente a produtividade do trabalho.

A globalização e as novas tecnologias de produção estão abalando profundamente o mundo do trabalho em todas as partes do planeta e, num futuro não muito distante, as exigências de competitividade vão forçar alguma homogeneização das regulações trabalhistas em todos os países. Aqueles que não se adaptarem terão que conviver com baixa competitividade e alto desemprego.

A complexidade e o detalhismo da legislação trabalhista brasileira conspiram contra o emprego, sobretudo quando gestadas e geridas por militantes de causas trabalhistas. Quem perde, é claro, são os trabalhadores, vítimas de leis e regulamentos cujos efeitos ignoram e cuja discussão não chega à instância que efetivamente o representa: o Congresso. Que republicanismo é esse? Não se trata, como já disse, de direitos pétreos, mas de temas de regulação infraconstitucional ou até mesmo de cunho meramente normativo.

Em extremo oposto, o prejuízo se dá por falta de legislação específica, como a regulamentação da terceirização. O parâmetro normativo é a Súmula 331, do Tribunal Superior do Trabalho, que veda a terceirização de atividades-fim, entre as quais plantio e colheita.

É economicamente inviável exigir que um pequeno agricultor compre um avião para aplicar insumos na plantação ou mesmo que compre uma colheitadeira para usá-la duas vezes por ano. Mas a lei o obriga a fazê-lo, ao não admitir a contratação de terceirizados para colher sua produção ou protegê-la com a pulverização aérea.

A vigorar o propalado princípio republicano, os ministérios precisam voltar a ser do Brasil, para que possam defender os interesses do conjunto da população brasileira. Não é admissível que ministérios que fazem a interface com o setor produtivo se transformem em agentes de partidos, grupos ou segmentos específicos da sociedade, deixando, portanto, de representar --e defender-- o interesse nacional, que é de todos.

Nada impede que um político esteja à frente de um ministério e o conduza bem, tendo em vista as causas da sociedade. Políticos, ou não, o Brasil precisa de pessoas preparadas. O que não serve ao país são dirigentes militantes de causas que pertencem apenas a uma parcela da sociedade, ainda que parcela significativa. Não se admitem no Ministério do Trabalho e Emprego, por exemplo, militantes de causas trabalhistas nem patronais.

Um gestor republicano não pode viver da disputa nem ter como meta a derrota do empregador ou do empregado. Tem, ao contrário, a responsabilidade de criar o ambiente equilibrado para que se dê a negociação respeitosa. E que se diga: diálogo não admite tutela, ou não teremos trabalhadores livres.

O QUE CURA FEMINISTA É ROLA!


O gato subiu no telhado - CELSO MING

O ESTADÃO - 02/08


O resultado das contas públicas no primeiro semestre decepcionou. A meta fiscal do governo subiu no telhado, como diz a velha anedota.

A meta, já revisada para baixo, é obter uma sobra de 1,9% do PIB, mais ou menos R$ 95 bilhões (a anterior era de 3,1% do PIB, ou R$ 155 bilhões). E, no entanto, no período de 12 meses terminado em junho, o saldo é de apenas R$ 29,4 bilhões – apenas 56,3% do superávit em 12 meses obtido ao final de junho do ano passado.

O governo federal (portanto, não incluídas as contas de Estados e municípios) não conseguiu cumprir no primeiro semestre nem 22% da meta do superávit deste ano. É o pior resultado semestral desde 2002.

Nessas horas, a presidente Dilma não olha para o que prometeu, mas para o que entregará. “Poucos países no mundo fazem mais” , disse ela quarta-feira, nos debates na Confederação Nacional da Indústria (CNI).

A questão central não é essa. É a tendência ao descarrilhamento das contas públicas. As despesas do governo federal crescem quase 4,0% acima da inflação. Enquanto, as receitas caem quase 0,5%.

As receitas desabaram por duas principais razões. Primeira, porque o crescimento econômico é o que sabemos. O avanço do PIB não chegará a 1,0%. Com produção bem mais fraca, a arrecadação também será mais baixa. A segunda razão é a conta da desoneração dos encargos sociais das empresas que, em apenas seis meses, correspondeu a uma renúncia de arrecadação de R$ 50 bilhões.

O governo ainda espera aumentar sua receita com recursos extraordinários: com recebimentos de impostos atrasados (Refis), de pelo menos R$ 18 bilhões, e com receitas com bônus de assinatura em leilões de concessões de serviços públicos, de R$ 13 bilhões.

As dúvidas sobre esses números são colossais. Nessa época de vacas magras, as empresas deverão ter dificuldades para pingar esses R$ 18 bilhões do Refis.

As dúvidas sobre o sucesso do leilão de concessões de telefonia celular 4G, previsto para setembro, também são acentuadas. Há algumas semanas, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, assegurava que poderia obter R$ 14 bilhões. Dias depois, já baixava para R$ 12 bilhões. Quarta-feira, admitiu que poderia arrecadar R$ 8 bilhões. Mas as companhias telefônicas, também com o caixa baixo, pressionam as autoridades do setor para adiar o leilão. Como o governo precisa mostrar serviço, diz que manterá a data. Assim, as pressões dessas empresas podem não passar de manobra para que o BNDES ou outra repartição do governo lhes adiante o bônus de assinatura. Se for isso, mais uma vez estaremos diante de uma operação incestuosa, em que o governo primeiro abre o cofre e, em seguida, contabiliza o mesmo dinheiro como receita do Tesouro.

A consequência imediata da deterioração das contas públicas é o crescimento da dívida para acima do nível de sustentabilidade. Significa que a ameaça de que as agências de classificação de risco rebaixem a qualidade da dívida brasileira aumenta muito. Quinta-feira, a Moody’s, uma das mais importantes, avisou que “o cenário macroeconômico do Brasil representará riscos às empresas até 2015”.

Modernizar é preciso e é urgente - ADRIANO PIRES

O ESTADÃO - 02/08


O setor de energia vem vivenciando profundas mudanças com efeitos sobre a geopolítica mundial. As principais razões foram: a revolução do shale gas; a volta dos EUA como exportador de petróleo e gás; o aumento da preocupação com a eficiência energética, por meio da adoção de políticas e técnicas de gestão da demanda e da geração distribuída, com destaque para a cogeração; e a forte expansão das fontes renováveis de energia, notadamente na Europa.

Todas essas mudanças são fruto de um ambiente de estabilidade regulatória, segurança jurídica, planejamento e respeito à lógica e às regras de mercado. No caso do gás natural, a elevação da produção nos EUA e a consequente queda nos preços têm levado à substituição de outros energéticos fósseis, como o carvão, consolidando o gás natural como combustível de transição para uma economia mais limpa.

O Brasil poderia e deveria ter melhor posição no cenário energético mundial. Mas a falta de uma política modernizante de longo prazo - focada na descentralização de decisões e que considere a nossa diversidade energética e a dispersão regional - juntamente com a pouca preocupação com o uso eficiente da energia e a visão imediatista do governo acabam nos deixando às margens das grandes transformações.

No caso brasileiro, são necessárias mudanças de paradigmas. O primeiro passo seria estabelecer políticas que despertem a sociedade para a incorporação das novas tecnologias. Seria essencial o desenvolvimento de um planejamento mais participativo e descentralizado, em que os agentes aportem suas alternativas inovadoras. Quanto à regulação, as mudanças consistem no resgate do seu princípio básico de emular condições competitivas e saudáveis de mercado.

O desafio energético não está mais em atender a uma demanda potencial, mas em integrar meios de satisfazer demandas distintas. Assim ocorre nas cidades, onde hoje vive mais de 85% da população do Brasil. A mudança do modelo de transporte, com a massificação dos sistemas públicos, deveria promover o uso da eletricidade, do etanol e do gás natural, deslocando a gasolina e o óleo diesel. Ao mesmo tempo, a segurança de suprimento energético para essas regiões deveria ser vista numa ótica distinta, incorporando as diversas vulnerabilidades. Enfim, deve-se fugir de modelos únicos e engessados. A cogeração urbana a gás junta-se às melhores opções de suprimento seguro.

A modernização de distintos modais, como o ferroviário e o hidroviário, trará eficiência energética e redução de custo, num horizonte de longo prazo. Para tanto, há de se quebrar preconceitos e lobbies. A mudança de critérios operativos dos reservatórios das hidrelétricas pode viabilizar milhares de quilômetros em hidrovias.

O mesmo se passa com a cabotagem, que exige, antes de tudo, mudanças burocráticas capazes de permitir celeridade no despacho das cargas. É evidente que, com a integração de ferrovias e portos e a intensificação da modernização, o avanço seria extraordinário. Uma das consequências seria a redução da intensidade energética na economia, que é quanto se exige de energia para produzir certa riqueza. O consumo energético eficiente é a forma mais barata de "gerar" energia e de não produzir impactos ambientais.

O atraso do Brasil vem da opção por um intervencionismo exacerbado e da busca míope pela energia barata, em vez de energia competitiva. Vivemos uma situação de desperdício e de carência generalizada, que nos leva a importar gasolina, diesel, gás natural e até etanol, além de estarmos num momento de escassez de energia elétrica. Tudo refletido em enormes desequilíbrios econômico-financeiros.

Se pretendermos não perder o bonde da história, precisamos de alocação eficiente de recursos. O governo tem gasto bilhões em subsídios ao setor energético, sob um planejamento atabalhoado que destrói a lógica de mercado, desequilibra ainda mais os preços relativos, afasta investimentos privados e diminui a segurança do abastecimento.

O sofisma antissemita - DEMÉTRIO MAGNOLI

FOLHA DE SP - 02/08


O vírus antissemita sofreu uma mutação, recobrindo-se com a capa de proteína do antissionismo


O antissemitismo em estado cru, aquele dos Protocolos dos Sábios do Sião, sobrevive nos subterrâneos, quase clandestino, mas seus axiomas formam o texto oculto de uma versão repaginada, publicável, da aversão aos judeus. "Israel é aberração; os judeus, não" --o título da coluna de Ricardo Melo (28/7) sintetiza essa versão, que escolhe não dizer seu nome.

O antissemita polido mobiliza um sofisma básico: a distinção entre antissemitismo e antissionismo. Israel, o fruto do sionismo, deve ser destruído, mas nada tenho contra os judeus --eis a afirmação sofística. Israel, contudo, é o Estado judeu: a expressão política de uma nação. A esmagadora maioria dos judeus, em Israel ou fora dele, defende ativamente a existência do Estado de Israel. Um século atrás, a distinção entre antissemitismo e antissionismo era um argumento político admissível; desde pelo menos 1948, não passa de camuflagem do ódio aos judeus.

O sofisma básico é protocolarmente acompanhado por um sofisma auxiliar: Israel é uma criação artificial. O antissemita polido imagina que existem Estados "naturais", um qualificativo apropriado a rios, mares e montanhas, não a obras da história humana. Todos os Estados-nações, esses produtos do nacionalismo, são "artificiais" (a "França de 15 séculos", fundada em 499, na hora do batismo de Clóvis 1º, é um mito católico do século 19). Israel é um Estado construído por colonos, que se estabeleceram em terras previamente povoadas. Alguém sugere extinguir os Estados Unidos, a Austrália ou... o Brasil?

Invariavelmente, junta-se ao sofisma auxiliar a acusação de que Israel promove o "genocídio" dos palestinos. Genocídio é o extermínio deliberado de um povo. A Alemanha de Hitler praticou genocídio contra os judeus, enviando-os às câmaras da morte. O uso abusivo do termo, escolhido por Marco Aurélio Garcia para condenar a ofensiva em curso na faixa de Gaza, tem um propósito definido: identificar Israel ao nazismo. O antissemita polido almeja apropriar-se da tragédia que vitimou milhões de judeus para convertê-la em ferramenta política de negação da legitimidade do Estado judeu.

O "genocídio palestino" só existe no discurso utilitário dos antissemitas. Na faixa de Gaza, tanto hoje quanto em 2008 e 2012, o governo israelense faz "uso desproporcional da força" e também comete crimes de guerra em área com estatuto de território ocupado, bombardeando cidades e campos de refugiados. Essa segunda acusação, mais grave, não consta da nota do Itamaraty, pois nossos "anões diplomáticos" preferem circundar a implicação lógica de estendê-la ao Hamas, que lança foguetes desgovernados sobre Israel e utiliza os civis palestinos como escudos humanos para seus combatentes. A ira santa do antissemita polido é sempre cuidadosamente seletiva.

A análise política diferencia as nações de seus governos eventuais: os governos passam, a nação fica. O antissemita polido decreta uma cláusula de exceção a essa regra quando se trata de Israel. Ele não aponta o dedo para o governo israelense, mas traça um círculo abrangente em torno do Estado judeu. Na sua peculiar gramática discursiva, o complemento necessário da distinção entre antissemitismo e antissionismo é a identificação do governo de Israel ao Estado de Israel.

O ódio aos judeus nasceu nas profundezas da Europa medieval e difundiu-se no mundo moderno, como reação ao cosmopolitismo liberal, a partir das monarquias cristãs conservadoras. "O antissemitismo é o socialismo dos idiotas." A frase, atribuída ao socialista alemão August Bebel, evidencia que a moléstia já contaminava a esquerda no outono do século 19. De lá para cá, sob o impacto do Holocausto, o vírus antissemita sofreu uma mutação, recobrindo-se com a capa de proteína do antissionismo, mas continuou a se multiplicar. Aí está a verdadeira "aberração".


Escolha errada - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 02/08


Há muitas explicações para a queda da indústria, mas há uma única abrangente: o governo errou na política industrial, porque, em vez de remover os obstáculos ao aumento da produtividade, distribuiu incentivos fiscais, subsídios, e aumentou barreiras às importações. Quando se faz política industrial, pode-se escolher setores ou escolher a economia. O governo optou pelo caminho errado.

Os dados de ontem mostram o fracasso da estratégia usada para incentivar o crescimento. Escolher setores e empresas para serem os campeões nacionais deu errado no governo militar e fracassa novamente agora. O que tinha que se buscar era o aumento geral dos fatores de produtividade, a remoção de obstáculos logísticos, burocráticos e de impostos, de forma mais eficiente.

A estratégia já vinha mostrando falhas, mas os dados são impressionantes. Foi a quarta retração seguida da indústria, com perda de 3,4% no período. No semestre, a queda é de 2,6%, e, em 12 meses, de 0,6%. Os números são negativos no curto prazo e na série mais longa.

O segmento de bens de consumo durável teve a maior queda da série histórica, em junho, com uma redução de 24,9% sobre o mês anterior. Em quatro meses, a perda chega a 33%. Os bens de capital, sinônimo de investimentos, caem 17% no mesmo período.

A paralisação da Copa é uma razão pontual. Os feriados foram muitos em junho e provocaram paradas na indústria e no comércio. O mesmo efeito deve se repetir nos números de julho. Mas as dificuldades são anteriores a isso, a produção está 5,4% abaixo de setembro de 2008, período pré-crise, como mostra o gráfico, feito pela economista Mariana Hauer, do Banco ABC Brasil.

Os economistas vêm alertando há anos sobre dificuldades estruturais do país. Os impostos já chegam a 38% do PIB e só alguns setores recebem benefícios. A infraestrutura continua reduzindo a competitividade, mesmo após os PACs. A taxa de investimento caiu para 17,7% do PIB e a taxa de poupança despencou para 12,7% no primeiro trimestre.

Os custos da energia elétrica, que foram reduzidos em 2013, dispararam em 2014 e a projeção é de uma escalada nos próximos anos. A energia virou a principal fonte de incertezas dos empresários.

A Fazenda defendeu a desvalorização do real para incentivar a exportação, mas hoje o câmbio está defasado para evitar uma alta maior da inflação. A distribuição de crédito barato via BNDES foi garantida pelo Tesouro e beneficiou desigualmente as empresas. Barreiras comerciais prejudicam até quem exporta, pelo encarecimento de componentes importados.

A estratégia do governo chegou a uma beco sem saída, como sempre acontece com esse tipo de política industrial. O país precisa enfrentar uma lista de tarefas que tornarão o ambiente de negócios mais favorável às empresas. E, num ambiente assim, quem for bom se estabelece; sem apadrinhamentos, sem escolhas arbitrárias, sem excesso de intervencionismo.

Tentáculos - MIGUEL REALE JÚNIOR

O ESTADO DE S.PAULO - 02/08


A participação popular junto à administração pública não é nada de novo. Constituía, desde 1980, uma das ideias-força de Franco Montoro, a se realizar por meio da descentralização. Para Montoro, "descentralizar é colocar o governo mais perto do povo e, por isso, torná-lo mais participativo, mais eficiente, mais democrático".

Montoro ponderava que não se mora na União nem no Estado, mas no município, razão por que a população local deve, por melhor conhecer seus problemas e soluções, participar dos órgãos comunitários a serem ouvidos pela administração no diagnóstico da situação e na sugestão de caminhos a serem trilhados. A seu ver, tudo o que puder ser decidido e realizado pelo bairro, pelo município, pela região não deve ser absorvido pela administração superior, vindo a facilitar a participação popular, motivo pelo qual descentralização e participação se imbricam: uma acompanha a outra, permitindo que Estado e sociedade se aproximem.

Montoro não ficou apenas no plano do discurso, pois deu efetividade às suas ideias, desconcentrando competências e fiscalização, como ocorreu, dentre tantos exemplos, na municipalização da merenda escolar, com repasse de recursos para tanto e a criação de Conselhos Municipais da Merenda Escolar, compostos por representantes da prefeitura, da Câmara Municipal, da Secretaria de Educação, da Associação e Pais e Mestres e de produtores e fornecedores locais. No governo paulista, criou, por exemplo, o Conselho da Condição Feminina, o Conselho Estadual da Comunidade Negra, os Conselhos Comunitários de Segurança Pública.

Com a participação de especialistas, já na década de 1930 se instituíra o Conselho Nacional da Saúde, depois paulatinamente democratizado com maior número de representantes da sociedade, antes mesmo da Constituição de 1988. No plano nacional, em 1985 surgiu o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e o Conselho Nacional do Consumidor.

A Constituição de 1988 consagrou, em diversos artigos, a participação da sociedade no auxílio à formulação de políticas públicas e na fiscalização da gestão, como se pode verificar: 1) no artigo 10.º se assegura a participação de trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que haja discussão e deliberação de seus interesses profissionais ou previdenciários; 2) no artigo 187 se prevê que a política agrícola seja planejada e executada com a participação efetiva do setor da produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, além dos setores de comercialização, armazenamento e transporte; 3) no artigo 198, III, se estabelece a participação da comunidade no âmbito dos serviços públicos de saúde.

Depois da atual Constituição federal muitos conselhos se formaram, tal como o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), ou tiveram ampliada a participação da sociedade, conforme se deu no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Assim, a participação da sociedade em diversos organismos para apresentar à administração a realidade a ser enfrentada, com sugestão de soluções, acompanhamento e controle de sua efetividade, é fato consagrado na realidade política brasileira.

O que espanta, então, no recente Decreto n.º 8.243, da presidente Dilma Rousseff, ao instituir a Política Nacional de Participação Social, não é o reconhecimento da participação da comunidade como auxiliar da administração, mas a tentativa de engessar essa participação à Presidência da República, mais especificamente, à sua Secretaria-Geral. Pelo decreto, verifica-se que a absolutamente necessária descentralização e a independência de organismos integrados e formados pela comunidade se esboroam, com o aparelhamento da sociedade civil, pois ficam sujeitos a um processo de centralização e de dominação da Secretaria-Geral da Presidência da República.

Malgrado se estatua ser diretriz a autonomia das organizações da sociedade civil, na verdade, submete-se sua participação à Secretaria-Geral da Presidência, à qual incumbirá orientar todos os órgãos da administração sobre a forma de implementar a contribuição da sociedade civil, bem como avaliar tal contribuição, consoante preceitua o artigo 5, parágrafos 1.º e 2.º. Para tanto se cria-se, por decreto, de forma inconstitucional, um órgão, o Comitê Governamental de Participação Social, coordenado pela Secretaria-Geral da Presidência, incumbido de a assessorar no monitoramento e implementação da Política de Participação Social.

No mais, o decreto disciplina totalmente como devem funcionar as diversas instâncias da participação social - conselhos de políticas públicas, comissões de políticas públicas, conferências nacionais, mesa de diálogo, fórum interconselhos, audiência pública, consulta pública, ambiente virtual de participação - que ficarão subordinadas à Presidência da República, retirando desses órgãos da sociedade civil sua vitalidade e sua espontaneidade ao burocratizá-los e submetê-los à orientação e avaliação de sua atuação por parte do comitê centralizador ligado à Secretaria-Geral da Presidência.

Tal centralização e o controle das instâncias de participação defluem claramente do disposto no artigo 8.º do decreto, segundo o qual compete à Secretaria-Geral da Presidência "realizar estudos técnicos e promover avaliações e sistematizações das instâncias e dos mecanismos de participação social definidos neste Decreto". Dessa maneira, as instâncias de participação ficam sugadas de sua liberdade ao serem sempre avaliadas pela Secretaria-Geral da Presidência e ao deverem obedecer à sistematização por ela imposta.

Em suma, a propalada Política de Participação Social não passa de um instrumento que, em vez de arejar a administração em contato com a sociedade, sujeita os organismos vitais da sociedade ao crivo constante do poder central, atraindo a sociedade para aprisioná-la nos tentáculos de uma insaciável sede de domínio.

Do risco ao sucesso - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 02/08


Primeira Flip tinha tudo para dar errado, a começar pelo momento, três meses depois da Bienal do Rio, que atraíra 560 mil visitantes e vendera 1,6 milhão de exemplares



E assim se passaram muitos anos de sucesso, mas a primeira Festa Literária Internacional de Paraty, em 2003, foi uma aventura de risco. Penso nisso quando estou de volta à cidade pela sexta vez, agora para mediar a mesa “Em nome do pai”, com Marcelo Rubens Paiva e Ivo Herzog. Como escrevi na época, o evento tinha tudo para dar errado, a começar pelo momento, três meses depois da Bienal do Rio, que atraíra 560 mil visitantes e vendera 1,6 milhão de exemplares de livros. O mercado e as pessoas deviam estar saturados. Outra desvantagem era a localização, uma cidade distante do Rio e de São Paulo, com uma infraestrutura hoteleira precária e ruas calçadas com pedras que pareciam feitas para torcer tornozelos, como aliás conseguiram diversas vezes. Um gaiato chegou a sugerir a construção de um corrimão no centro histórico.

Poucos acreditavam na iniciativa, além da editora inglesa Liz Calder, mentora intelectual do projeto, que desde 1995, ao descobrir Paraty, sonhara em reproduzir aqui o festival de Hay-on-Wye, uma cidadezinha de cinco mil habitantes no País de Gales. Quem logo comprou a ideia foi o editor da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, que precisou vencer resistências de colegas, que achavam que o empreendimento era uma tentativa paulista de esvaziar a Bienal do Rio. O mal-entendido durou algum tempo.

Segundo o jornalista Flávio Pinheiro, diretor de programação das duas primeiras edições, Liz e Luiz ajudaram a trazer um time respeitável de escritores e pensadores. Mas dinheiro, não. Uma semana antes do anúncio, os patrocinadores — um fabricante de televisores e uma estatal — retiraram o apoio, alegando dificuldades econômicas de última hora. “Fui bilheteiro, carreguei cadeiras e apresentei os autores brasileiros a um grupo importante de editores estrangeiros que vieram”, contaria mais tarde Schwarcz.

A primeira Flip reuniu um elenco respeitável, a começar por Millôr Fernandes, o homenageado de agora. Entre muitos outros, estiveram presentes Verissimo, Ferreira Gullar, Milton Hatoum, Caetano Veloso, Marçal Aquino. Um espetáculo com Chico, Gil e Adriana Calcanhotto homenageou o autor escolhido, Vinicius de Moraes. A grande atração internacional foi o historiador inglês Eric Hobsbawm, que, aos 86 anos, usando paletó e sandálias, era seguido por uma legião de fãs pelas ruas de Paraty. O assédio foi tanto que, diante de uma fila interminável para autógrafos, desabafou bem-humorado: “Luiz, cansei dessa vida de Mick Jagger.”

Dizia-se que como a Festa de 2003 não haveria outra. Na verdade, houve e até maiores. A de agora está apenas mais enxuta em recursos por causa da Copa do Mundo. Empresas que poderiam tê-la patrocinado preferiram dirigir os investimentos de marketing para a seleção. Devem estar arrependidas. O contrário teria valido muito mais a pena.

Demografia ao vivo - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 02/08


SÃO PAULO - Nós nos acostumamos a pensar a demografia em termos de janelas e projeções. No mais trivial dos exemplos, o IBGE estima que a população brasileira crescerá até o ano de 2040, atingindo o pico de 219 milhões de habitantes, e, a partir daí, passará a declinar.

Essa forma de expor as tendências é fundamental para que os planejadores possam preparar-se, mas frequentemente nos faz esquecer de que a demografia não lida só com o futuro, mas também com o presente. As transformações que etiquetamos com rótulos solenes como "transição demográfica" em datas longínquas já estão ocorrendo aqui e agora.

Dois hospitais particulares de São Paulo, o Santa Catarina, no centro da capital, e o Stella Maris, em Guarulhos, ilustram bem esse fenômeno ao anunciar que estão fechando suas maternidades. Ambas as instituições pretendem dedicar-se a especialidades com maior demanda e rentabilidade, como oncologia, neurologia, cardiologia e ortopedia --não por acaso, áreas que tendem a ganhar espaço com o paulatino envelhecimento da população.

E não é apenas na saúde que isso está acontecendo. A redução da população mais jovem também já está produzindo efeitos na educação (se não cortarem as verbas, haverá cada vez mais dinheiro a ser gasto por aluno) e na Previdência (cuja situação tende a complicar-se).

É importante que as autoridades usem as informações reunidas pelos demógrafos para evitar que as soluções de mercado nos coloquem em maus lençóis. Se muitos hospitais privados fecharem suas maternidades, caberá ao setor público suprir a demanda que ainda existirá.

A nota inquietante aqui é que estamos vendo nossa era de bonança demográfica (a maior fatia de pessoas no mercado de trabalho) estreitar-se sem que o país tenha aproveitado esse período para aumentar de forma consistente sua riqueza. Fazê-lo a partir de 2040 será bem mais difícil.

Mentir é pecado - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 02/08
Recebi telefonemas do cardeal Dom Orani Tempesta e da ministra da Cultura, Marta Suplicy, ambos negando a notícia que dei aqui ontem de que o governo havia ameaçado retirar da Igreja Católica a guarda da imagem do Cristo Redentor devido à polêmica proibição do uso da imagem no filme de José Padilha sobre o Rio, que afinal foi revogada.
Pelo relato dos dois, como a Batalha de Itararé, a guerra que não aconteceu, também não houve o embate que noticiei. Como confirmei a informação, antes de publicar, com duas pessoas, disse a eles que manteria minha versão.
A única explicação que tenho, já que mentir é pecado, é que houve um tremendo mal-entendido nos momentos mais tensos da negociação para a liberação do filme.

O fato de o diretor José Padilha ter escrito um artigo em que questionava a autorização para que a Igreja Católica controle a imagem do Cristo - "Será que faz sentido a lei permitir que uma organização religiosa controle a imagem de um monumento que se situa em um local proeminente na paisagem do Rio de Janeiro e que é considerado um símbolo da cidade?" - acendeu o sinal de alerta na Cúria Metropolitana.

Assim como a intervenção do prefeito Eduardo Paes, defendendo a importância do uso da imagem para a propaganda da cidade do Rio de Janeiro. Nas muitas reuniões que aconteceram sobre o assunto, o artigo de Padilha e declarações de outros artistas foram citados como sinais de uma campanha contra a Igreja, a tal ponto que alguém chegou a sugerir que fosse comprada uma montanha e para lá se transferisse o monumento do Corcovado, que fica no Parque da Tijuca, sob jurisdição federal.

Citei esse fato a Dom Orani como prova de que o tema fora abordado nas reuniões, e ele, rindo muito, admitiu que "nessas reuniões, às vezes tensas, dizem-se coisas que não valem a pena levar a sério". É claro que a sugestão era inviável, mas retrata bem como a ameaça de retaliação governamental estava no ar.

Dom Orani acha que não há razão para uma retaliação do governo, e lembra que é a Igreja que cuida do monumento, e já o restaurou por duas vezes nos últimos anos, tendo conseguido patrocínio privado para tanto. "Nenhum dinheiro do bondinho e de outras atividades vai para a Igreja, fica tudo com o Parque (da Tijuca)".

A ministra Marta Suplicy propôs que ela e Dom Orani dessem uma nota conjunta, mas o cardeal do Rio preferiu conversar comigo. O relato dos dois coincide, tanto no tom de amabilidade com que ocorreu a conversa, quanto nos detalhes, pois ambos se recordam de que a ministra se disse preocupada com a repercussão internacional da crise.

Como responsável também pelo turismo, havia trabalhado para que a imagem do Cristo fosse eleita uma das modernas Sete Maravilhas do Mundo, e essa crise com o filme poderia gerar noticiário negativo.

Perguntei então a Dom Orani se ele ou algum assessor havia recebido, mesmo de maneira indireta, ameaça de perder o controle da imagem do Cristo, e ele negou, embora admitisse que "com tantas críticas, tantas pressões, sempre há um receio de que alguma coisa possa acontecer". E acrescentou: "Se em Brasília há algum movimento nesse sentido, nós não sabemos".

Por sua vez, a ministra da Cultura se disse preocupada com a situação, pois surgira na notícia no papel de adversária da Igreja Católica, quando nada havia acontecido.

Ela negou peremptoriamente que exista um decreto presidencial retirando da Igreja o controle da imagem.

Com outra pessoa do jornal, Marta foi mais longe, afirmando que "estamos numa disputa política", que "deveriam existir limites", e que "isso foi feito para pôr toda a Igreja Católica contra o governo". Que seu nome fora usado sob medida por conta das suas posições.

Não tenho a menor ideia se as posições da ministra deram ares de verdade a uma suposta ameaça nem se seu papel de representante oficial da Cultura serviu para reforçar a imagem de que estaria apoiando o movimento dos artistas em protesto contra o que foi considerado por muitos, inclusive eu, uma censura artística.

O fato é que a possibilidade de o governo tomar uma atitude no sentido de retirar ou mesmo reduzir os poderes da Igreja Católica sobre a imagem do Cristo foi discutida diversas vezes na Cúria Metropolitana nos dias do impasse sobre o filme de José Padilha.  

Da capo: do início ALBERTO DINES

GAZETA DO POVO - PR - 02/08


Na criação musical, como na resolução dos impasses, imperioso retornar ao início – para retomar as primeiras ideias ou reverter os travamentos. Do laço ao nó a diferença é ínfima, a identificação deste início é crucial. Na peça musical retorna-se facilmente ao ponto de partida obedecendo ao comando da capo (ou à abreviatura, D.C.), anotado na partitura pelo compositor ou arranjador. Num contencioso, a localização da origem da desavença é mais complicada, já que as partes divergem até nisso. Daí a necessidade de negociadores atilados, desarmados de preconceitos, movidos pelo desejo de zerar conflitos.

O barril de pólvora no território da Palestina teve o seu pavio oficialmente aceso em novembro de 1947, quando a Assembleia Geral das Nações Unidas, presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, depois de anos de pesquisas in loco, exaustivas manobras para adiar a votação, e diante da iminência de um banho de sangue, votou pela sua partilha em dois Estados soberanos.

A Resolução 181 foi aprovada por 33 votos (inclusive das superpotências EUA e URSS) contra 13, além de 10 abstenções; previa a retirada das tropas britânicas (potência mandatária a partir de 1919) até agosto do ano seguinte. Determinava a internacionalização de Jerusalém e recomendava a criação de uma federação dos dois Estados democráticos de direito, moeda única, unidade alfandegária e compartilhamento da infraestrutura visando um rápido desenvolvimento econômico.

Em maio seguinte, o Estado onde vivia a maior parte da população judaica foi proclamado com o nome de Estado de Israel. O Estado árabe não foi proclamado: os países vizinhos não reconheciam a decisão da ONU e preferiram a opção militar.

Conhecido o resto da história: 67 anos e oito devastadores conflitos militares depois, agora é a vez de Israel opor-se à implementação da Resolução 181 sob a alegação de que dentro do campo palestino há facções (como o Hamas) comprometidas com uma guerra santa para destruir o Estado de Israel.

França e Alemanha encontraram um meio mais racional, humanitário e inteligente para terminar um ciclo de três guerras (duas delas catástrofes mundiais) iniciado em 1870 e encerrado em 1945. Em 1951, assinaram o Tratado de Paris para desativar definitivamente a matriz dos litígios: a posse das minas de carvão e das usinas siderúrgicas nas regiões limítrofes. Encerrou-se o ciclo de guerras na Europa ocidental.

Toda disputa tem uma origem. O pomo (do latim pomus, fruta com caroço) da discórdia vem da Antiguidade: referia-se a uma maçã de ouro disputada por três lindas deusas gregas, o que, segundo a lenda, teria dado origem à Grande Guerra de Troia. No caso da Palestina, o pomo, capo, início, estaca zero, é uma partilha bem intencionada, legitimada pela comunidade internacional, que as sucessivas guerras tornaram injusta, cruel, deformada e incompleta.

Implementar a partilha é a única opção viável, não existe outra. Não depende de generais, nem de sacerdotes armados pelo ódio, depende apenas da vontade de experimentar a paz.

O resto (fronteiras, desocupação militar, desarmamento e cooperação) resolve-se com o mesmo cuidado e senso de justiça adotados em 1947 para evitar o horror – infelizmente consumado.

Quem ganha com o voto nulo - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 02/08


BRASÍLIA - Votar nulo é uma opção defendida por vários grupos de protesto que emergiram desde junho de 2013. Cartazes com a inscrição "não me representa" sintetizam esse desejo difuso de muitos brasileiros.

Durante a ditadura militar, algumas tendências trotskistas recomendavam votar nulo. Rejeitavam as duas únicas legendas legalizadas à época --a Arena (governista) e o MDB (oposição emasculada e consentida).

Quem opta pelo voto nulo certamente dá um recado aos políticos. Mas suspeito que alguns não conheçam o impacto completo desse ato.

Para começar, nem protestar de verdade é mais possível. Na era do papel, muita gente votou no rinoceronte Cacareco, no macaco Tião ou simplesmente escreveu um palavrão.

Agora, com a urna eletrônica, a única saída é digitar um número que não esteja atribuído a nenhum candidato e confirmar o voto --que resulta nulo. Uma ação mais rápida e com efeito idêntico é o voto em branco, para o qual há uma tecla específica.

Mas quem se beneficia, de fato, dos votos brancos ou nulos? Simples: os candidatos que estão à frente nas preferências do eleitor e próximos de vencer no primeiro turno.

Para facilitar, considere um eleitorado de 100 milhões. Ganha a Presidência quem tiver, pelo menos, 50 milhões mais um dos votos. Só que, se 20 milhões forem brancos ou nulos, a soma dos votos válidos cai para 80 milhões ""e vencerá no primeiro turno o político que receber, pelo menos, 40 milhões mais um dos apoios.

Ou seja, quanto mais votos nulos, menos apoios são necessários para alguém vencer no primeiro turno.

Hoje, quem se beneficia do voto nulo é Dilma Rousseff (PT) na corrida presidencial. Em São Paulo, na disputa de governador, ganha Geraldo Alckmin (PSDB). A petista e o tucano lideram as pesquisas eleitorais.

Tudo considerado, ao votar nulo o eleitor pode, de maneira inadvertida, sem querer, eleger um político contra o qual talvez desejasse protestar.

Dize-me com quem andas... - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 02/08


Plenamente reabilitado, o ex-ministro Carlos Lupi se junta a um grupo formidável de companhias que Lula e Dilma vêm acumulando ao longo dos anos


Em 2011, no início de seu mandato, a presidente Dilma Rousseff promoveu uma suposta “faxina ética” em sua equipe, demitindo vários ministros enlameados. Entre eles estava o titular da pasta do Trabalho, Carlos Lupi, de quem se dizia estar envolvido em desvio de verbas públicas – mas que agora é candidato a senador pelo Rio de Janeiro com total apoio da presidente.

Presidente nacional do PDT, que manipula como quer, Lupi e seu partido tornaram-se peças-chave na frente de apoio à reeleição de Dilma. Se no passado recente cometera pecados tão graves como o de transferir dinheiro público para ONGs suspeitas, o que o levou a merecer a defenestração do ministério, Lupi certamente deve ter dado provas cabais nesse meio tempo de que se regenerou. Tanto que, agora, a presidente o considera digno de ocupar uma cadeira no Senado.

A reabilitação completa de Lupi diante de Dilma fecha de vez o teatrinho montado em 2011. Afinal, a substituir o demitido ministro naquele ano, foram nomeados alguns correligionários da mesma legenda que, posteriormente, tornaram-se também suspeitos de agir de forma idêntica. Como desde logo se viu, a tal faxina operada há três anos não apenas no Trabalho, mas também em cinco outros ministérios, não passava de uma obra de fancaria – tanto em relação aos ”malfeitos”, como dizia Dilma, quanto aos malfeitores.

Em torno deste episódio, há comportamentos de sabugismo explícito que hoje se explicam e se expõem com a clareza de uma piada de mau gosto: à época de sua humilhante demissão, Carlos Lupi ainda assim dispôs-se a afagar com um beijo a mão que o apedrejou e, em seguida, declarar-lhe amor: “Presidente Dilma, eu te amo!”, disse ele em depoimento a uma comissão de investigação instalada na Câmara Federal. Interessada no seu apoio, Dilma cobra-lhe o gesto: “O Lupi é nosso candidato ao Senado, que já fez várias declarações de amor. E eu espero que ele mantenha as declarações de amor que fez ao longo da vida”, afirmou a presidente em evento de campanha ao lado do amoroso ex-pecador.

Apesar das tonalidades quase surreais que envolvem o caso, ele não deve ser tido como uma exceção. A prática demonstra o quão relativo é o entendimento sobre ética e moral em certas paragens do olimpo político e, de modo especial, do PT. Basta observar as alianças que Lula e Dilma construiram em torno de suas candidaturas e de outros nomes do partido. Alvos de ataques ferozes do PT no passado, os ex-presidentes da República e hoje senadores José Sarney e Fernando Collor de Mello são grandes amigos de Lula, tanto quanto Paulo Maluf, um dos protagonistas de uma das fotos mais constrangedoras da história política brasileira, em que aparece ao lado de Lula e do então candidato petista à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, em 2012.

A lista não acaba aí: faz apenas poucos dias que Lula, em ato a que esteve presente no Pará, pediu ao candidato ao governo daquele estado, Helder Barbalho (PMDB), que não se envergonhasse do pai, o senador Jader Barbalho – que, em 2001, renunciou ao mandato sob acusação de desvio de verbas na Sudam. As palavras do ex-presidente: “Helder, você tem de dizer que é filho [de Jader] com muito orgulho”. E repetiu o mesmo conselho para o companheiro petista Paulo Rocha, ex-deputado federal que também renunciou ao mandato, em 2005, ao se ver envolvido no esquema do mensalão – depois foi absolvido pelo STF por falta de provas. Orgulhoso com o incentivo que recebeu de Lula, Rocha fechou os punhos e ergueu o braço – assim como o fizeram José Genoino e José Dirceu a caminho da prisão.

E assim Dilma e Lula vão construindo sua turma, sem nenhum pudor.

Base de Dilma se esfarela - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 02/08


Um levantamento feito pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e divulgado pelo jornal Valor mostra que, no primeiro semestre deste ano, os deputados seguiram os interesses do Planalto em apenas 54,5% das votações na Câmara. Trata-se de um apoio menor até do que o dispensado ao presidente Fernando Collor de Mello (1990-92), que passou à história como um dos que mais atritos tiveram no Congresso e acabou sofrendo um processo de impeachment. Isso significa que nem todo o notável esforço que Dilma faz para acomodar em seu imenso Ministério os indicados pelos partidos governistas tem sido suficiente para lhe garantir a fidelidade necessária na Câmara.

Os números são eloquentes. O apoio parlamentar ao governo em plenário chegou a 75,4% no primeiro ano do mandato de Dilma, caindo para 64% nos dois anos seguintes, até despencar neste ano para 54,5%. Como comparação, Collor, que nem de longe tinha uma base de sustentação tão numerosa como a de Dilma, conseguiu apoio em 58% das votações em 1991, ano anterior ao do processo de impeachment.

Mesmo enfrentando problemas de governabilidade em determinados momentos de seus mandatos, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso jamais tiveram apoio tão fraco no Congresso quanto Dilma. No auge do mensalão, em 2006, o apoio aos projetos de interesse de Lula na Câmara ficou em 61%. Já FHC amargou apoio de apenas 67,5% em 2001, ano em que enfrentou a possibilidade de uma CPI para investigar denúncias de corrupção.

A explicação óbvia para o caso de Dilma está no estilo centralizador e na inabilidade da presidente para lidar com o Congresso, ao contrário de Lula e de FHC, conhecidos por seu bom trânsito entre os parlamentares. Dilma tem demonstrado em diversas ocasiões sua falta de disposição para tratar bem os parlamentares, até mesmo quando o que está em jogo é sua candidatura à reeleição. Em abril, quando já estava claro que ela teria problemas para manter coesa sua base de apoio e para afastar o fantasma do "volta, Lula", a presidente declarou: "Gostaria que, quando eu for candidata, eu tenha o apoio da minha própria base. Mas, não havendo esse apoio, vamos tocar em frente". Não angariou simpatias com tal declaração.

Para garantir apoio, Dilma parece considerar suficiente presentear seus aliados com cargos. Graças a essa estratégia, a presidente, que herdou fantásticos 37 Ministérios do governo de Lula, elevou o número de pastas para 39, um recorde absoluto. Nelas, estão acomodados representantes de dez partidos. Um deles, o PR, recentemente chegou a chantagear Dilma para que trocasse o ministro dos Transportes, o que ela fez sem discutir - como se a pasta pertencesse ao partido, e não ao governo.

Mas o chamado "presidencialismo de coalizão" não se sustenta somente com distribuição de cargos no primeiro escalão. É preciso saciar o apetite da base aliada por verbas de emendas parlamentares e também mostrar disposição para negociar e fazer concessões.

Os parlamentares se queixam de que as decisões sobre seus Estados, muitas vezes envolvendo bilhões de reais, são tomadas pelo Planalto sem consulta ao Congresso. Os ministros mais poderosos e a própria Dilma raramente recebem os deputados em audiência para ouvir suas reivindicações, e a articulação do governo na Câmara passou dois anos nas mãos da ministra Ideli Salvatti, que dispunha de pouca autonomia e era considerada inábil.

Como resultado dessa sucessão de erros, o governo teve de enfrentar até mesmo a formação de um "blocão" de parlamentares de partidos aliados que ameaçaram infernizar a vida do governo no plenário. O objetivo era pressionar Dilma a liberar verbas e a incluí-los nas decisões de governo - das quais, segundo eles, só petistas participam.

Em vez de mudar o estilo, porém, Dilma preferiu o caminho do confronto - ao decretar a criação de "conselhos populares", desafiando o atual regime de representação democrática, e ao defender um plebiscito para a reforma política, passando ao largo do Congresso.

Mercosul é mais grupo ideológico que bloco comercial - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 02/08


O projeto de integração por meio do comércio foi adiado de uma vez por todas. Até porque a Argentina, em crise cambial, empurrará o comércio para o fundo do poço



Admitamos que o estratégico projeto do Mercosul, a união aduaneira criada entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai houvesse dado minimamente certo. Ainda assim, a crise de dimensões institucionais por que passa a Argentina desse 2001, com a implosão do câmbio fixo, seria um obstáculo muito difícil de transpor pelo mercado comum.

As dificuldades da Argentina, o segundo parceiro mais importante do bloco, já teriam levado a uma revisão do tratado do Mercosul, para reduzir sua abrangência a uma aliança de livre comércio, a fim de que cada país pudesse negociar acordos comerciais sem a camisa de força da união aduaneira. Só não aconteceu por razões político-ideológicas.

Aliás, a união aduaneira foi revogada na prática há muito tempo, desde que a Argentina passou a erguer barreiras protecionistas contra exportações brasileiras. Ali, a união acabou de fato. Sua característica são fronteiras abertas ao comércio entre países do bloco, com tarifas externas comuns para o resto do mundo. É o que não existe há tempos.

O Mercosul é mantido formalmente como está apenas por interesses político-ideológicos comuns aos governo do PT no Brasil, ao kiercherismo na Argentina, bolivarianos e chavistas em Venezuela, Equador e Bolívia. Para a conversão do Mercosul de bloco econômico e comercial em plataforma política foi essencial a coincidência de Lula e Néstor Kirchner chegarem ao poder em Brasília e em Buenos Aires juntos, em 2003. Ambos se uniram para soterrar de vez as negociações em torno da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), vista pelo Planalto e Casa Rosada como instrumento do “Império”. A partir da aliança entre Lula/PT/Dilma e os Kirchner, o resto veio pela força da gravidade.

Um dos piores momentos do período em curso foi a no mínimo temerária inclusão da Venezuela chavista no bloco, por meio de vergonhosa manobra de expulsão temporária do Paraguai, para que a não aprovação da entrada do novo sócio pelo Congresso paraguaio não impedisse a unção dos chavistas.

A última reunião de cúpula do Mercosul, esta semana, em Caracas, foi prova irrefutável da conversão da entidade numa plataforma política: boa parte do tempo foi gasta com declarações de apoio à Argentina de Cristina Kirchner, convertida em vítima de fundos “abutres”, por terem estes ganhado na Justiça americana seus direitos como credores, e críticas a Israel pelos ataques em Gaza.

Para fortalecer o projeto de um Mercosul como trincheira política terceiro-mundista, tratou-se de incorporar também a Bolívia de Evo Morales, outro produto do chavismo.

Pode-se considerar que o projeto original do Mercosul, de integração de economias pelo comércio, foi adiado de uma vez por todas. Até porque a Argentina, em fase de agravamento da sua crise cambial, empurrará ainda mais o comércio no bloco para o fundo do poço. Resta fazer discurso, como em Caracas.

Pecadilho estético - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 02/08


Talvez seja, por definição, um título frívolo, mas é ainda assim digno de nota que o Brasil tenha deixado os Estados Unidos para trás na disputa pelo maior número de cirurgias plásticas do mundo.

Segundo a Isaps (Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética), em 2013 foram realizados 1,49 milhão de procedimentos cirúrgicos estéticos por aqui, contra 1,45 milhão no país da América do Norte, o antigo campeão global.

A pequena vantagem torna-se acentuada quando se considera que os EUA têm população quase 60% maior que a brasileira e uma renda per capita 340% superior.

Moldar o próprio corpo costuma exigir somas significativas de dinheiro, mas os médicos brasileiros, premidos pela baixa remuneração dos planos de saúde, passaram a oferecer pacotes promocionais --ao que tudo indica, com sucesso.

Agora o paciente pode pagar a intervenção em módicas prestações; o mercado, como seria de esperar, abriu-se para um grande contingente populacional.

Nos EUA, por sua vez, a medicina continua especialmente cara. Assim, muitos americanos viajam a outros países, incluindo o Brasil, para realizar suas cirurgias estéticas. O fenômeno já tem nome: "turismo médico". É improvável, contudo, que ajustes estatísticos para corrigir esse efeito mudem de forma expressiva o quadro geral.

Chama a atenção, em todo caso, que 88% desses procedimentos feitos no Brasil ocorram em mulheres (os favoritos são lipoaspiração, aumento das mamas por silicone e elevação dos seios); nos EUA, a fatia é semelhante, 90%.

Para o cientista comportamental Gad Saad, cirurgias plásticas --assim como maquiagem, sutiã e salto alto-- equivalem ao que os biólogos chamam de sinalização enganosa. Trata-se de imitar ou realçar características que tragam alguma vantagem em termos de sobrevivência ou reprodução.

Os homens, se recorrem pouco ao esteticista, nem por isso se isentam de "truques". Grandes relógios (mesmo falsos) e carrões (de preferência importados) estão entre os itens preferidos para simular ou destacar status social elevado.

Nesse modelo, a vaidade é um fenômeno biológico: eles são atraídos pela aparência, elas se deixam seduzir pelo poder. Não é por acaso que, em geral, eles exageram altura, salário e currículo, enquanto elas remodelam peso, idade e, cada vez mais, aspectos físicos --tudo para tentar tornar os jogos sexuais mais interessantes do que o mero sucesso reprodutivo.

Lixões: até quando? - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 02/08

"O Brasil não perde oportunidade de perder oportunidades." Cunhada por Roberto Campos, a frase se tornou lugar-comum. Não sem razão. Com a rotina da procrastinação, deixa-se para amanhã o que se pode fazer hoje. Se possível, para depois de amanhã. A cultura do jeitinho contribui para o êxito do desrespeito ao calendário e ao disposto em normas legais.
É o caso da Lei nº 12.305. Publicada em 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) fixou prazo de quatro anos para os municípios darem resposta adequada ao desafio dos lixões - signos do atraso, do subdesenvolvimento e da irresponsabilidade administrativa. No período, deveriam apresentar plano diretor de gerenciamento de resíduos e instalação de aterros sanitários.

O prazo vence hoje. Dados da Confederação Nacional dos Municípios informam que, mais uma vez, o trem passou sem encontrar os passageiros na estação. Menos de 40% (38,3%) dos municípios se adequaram à legislação. Os reprovados não se restringem a pequenas povoações que, dada a dimensão, a atividade econômica e o poder aquisitivo da população, produzem menos lixo.

Cidades grandes, que abrigam mais de 100 mil habitantes, também ignoraram uma das mais importantes
iniciativas cuja concretização tem impacto direto na saúde e no meio ambiente. É o caso, entre outros, de Brasília, Rio de Janeiro, Belém e Porto Velho, que convivem com inaceitáveis toneladas diárias de resíduos sem destinação adequada.

Como sói acontecer, prefeitos pedirão tempo mais elástico. Projeto de Lei que tramita no Congresso propõe generosos oito anos adicionais. Considerada a tradição nacional, poucos duvidarão que, em 2022, os números terão tido variação insignificante. Impõem-se cobranças eficazes para que a lei pegue.

Municípios que necessitam de ajuda financeira ou técnica devem ser assistidos. Os demais, cobrados. O século 21 dispõe de instrumentos aptos a acompanhar o cronograma de execução da obra sem exigir despesas extraordinárias. Basta que os dados sejam exibidos na internet. No caso, não só o governo terá o poder de fiscalizar. O cidadão poderá fazê-lo e, informado, exigir ação efetiva.

Em outubro, haverá eleições. A sociedade organizada pode - e deve - cobrar dos candidatos projetos de destinação e tratamento dos resíduos. A resposta pode significar, segundo estudo do Banco Mundial e da Climate Network, a geração de 110 mil empregos em menos de 20 anos. Sem contar, é claro, com os benefícios à saúde e ao meio ambiente.

Crise na rodada comercial - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 02/08


O comércio internacional, uma das fontes mais importantes de crescimento econômico e de bem-estar, está ameaçado, mais uma vez, de ficar preso num emaranhado de acordos parciais. O Brasil, sem participação na maior parte desses acordos, será um dos grandes prejudicados. A perspectiva de abertura mais ampla e mais equitativa de todos os mercados foi de novo perdida. A Rodada Doha, a negociação multilateral mais ambiciosa já empreendida, está novamente paralisada. Sete meses depois da última conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Bali, mais um esforço de reativação fracassou. O fiasco foi causado pela intransigência de um governo, o indiano. A Índia foi apoiada por Venezuela e Cuba.

Reunidos em Bali em dezembro, ministros de todo o mundo concordaram em dar um primeiro passo, modesto e aparentemente seguro, para retomar com segurança a Rodada Doha. As últimas tentativas de reativação haviam sido abandonadas em 2009. O passo inicial seria um acordo de facilitação de comércio. Todos se esforçariam para eliminar entraves burocráticos, harmonizar procedimentos e simplificar as condições de movimentação internacional de mercadorias.

Mesmo com a permanência de outras barreiras, sujeitas a negociações mais complexas, a facilitação de comércio poderia produzir benefícios consideráveis. As mudanças poderiam proporcionar, segundo se estimou, acréscimo de até US$ 1 trilhão aos fluxos comerciais. Países menos desenvolvidos poderiam receber ajuda técnica para implementá-las.

O otimismo durou alguns meses. A simplificação pode abater custos importantes e beneficiar todos os países. Esta é uma avaliação bastante objetiva. Mas o governo indiano decidiu impor condições especiais para a aprovação final do acordo, necessária à sua implementação. O prazo terminou no fim de julho. No dia 31 o diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevêdo, anunciou o fracasso da tentativa e alertou os 160 membros da organização para algumas das consequências mais perigosas.

O risco mais preocupante é o enfraquecimento da OMC como centro ordenador do mercado internacional. Criado em 1948, quando se estabeleceu o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt), o sistema facilitou a ordenação progressiva e a liberalização crescente do comércio. A regulação foi completada com um mecanismo de solução de controvérsias, uma das mais importantes e promissoras inovações da ordem internacional, apesar de imperfeições ainda presentes.


A eficácia poderia ser maior, mas mesmo as economias mais poderosas têm acatado as decisões ou assumido o risco de uma retaliação autorizada. É preciso aperfeiçoar o sistema e elevar a eficácia das decisões, mas esse e outros objetivos serão postos de lado se a OMC perder prestígio e se enfraquecer.

Mesmo se preservado o regime de solução de controvérsias, a OMC perderá importância como foro regulador, se a negociação multilateral ficar interrompida e os acordos bilaterais e inter-regionais continuarem proliferando. O governo americano já indicou a disposição de se voltar prioritariamente para esses acordos. Um de seus objetivos principais será concluir com a União Europeia a formação do mais ambicioso de todos os pactos de integração. Se isso se confirmar, pior para o Brasil. Pior para o Brasil, também, se outras negociações bilaterais, regionais e inter-regionais continuarem prosperando e multiplicando-se rapidamente.

Uma alternativa já comentada será o desenvolvimento, no âmbito da OMC, das chamadas negociações plurilaterais, sem participação necessária dos 160 membros do sistema. Poderá ser uma forma eficiente de avançar em entendimentos mais amplos de liberalização comercial. Se nem todos os parceiros estratégicos escolhidos pelo Itamaraty - como Índia, Cuba e Venezuela - quiserem participar, o governo brasileiro, se ainda tiver algum bom senso, poderá aproveitar as oportunidades. Se for capaz de agir sem as amarras do Mercosul, tanto melhor.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Governo não pode ser para benefício próprio de uma família”
Sem olhar para o próprio umbigo, ex-presidente Lula critica construção do ‘aeroneves’



TEMER TRANQUILIZA DILMA SOBRE PALANQUE DE SKAF

O vice-presidente da República Michel Temer aproveitou o bom humor da chefe Dilma Rousseff durante a inauguração do Templo de Salomão da Igreja Universal, na quinta (30), para avisar que conseguiu contornar as divergências com Paulo Skaf. O peemedebista – que teve a candidatura ao governo bancada por Temer – havia se recusado a apoiar Dilma em São Paulo, onde Alexandre Padilha (PT) não sai do lugar nas pesquisas.

MENOS MAL

O bom humor de Dilma tem motivo: pesquisa Ibope apontou a petista à frente de Aécio em São Paulo e no Rio, e perdendo em Minas por 10 pontos.

PSDB AGRADECE

Temer se reuniu por horas na quinta com Skaf, a quem tentou convencer que refutar Dilma só ajuda Geraldo Alckmin a se reeleger no 1º turno.

VAI QUE COLA

Sob ameaça de perder apoio do PMDB em SP, Skaf prometeu soltar uma nota avisando que jamais ficaria contra o padrinho Temer, vice de Dilma.

SAIA JUSTA

Após peça publicitária onde usa o bordão ‘sabe de nada, inocente’, ao ser questionado se apoia Dilma, Skaf vai suar para explicar a reviravolta.

TJ-RJ PODE DOBRAR DURAÇÃO DE MANDATO

Ex-presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, o desembargador Luiz Zveiter encaminhou emenda ao regimento interno do tribunal para que cargos de direção sejam ocupados por até oito anos. A Lei Orgânica da Magistratura Nacional, no artigo 102, e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal não permitem a reeleição do presidente, e tampouco que os outros cargos diretivos sejam ocupados por mais de quatro anos.

EIS A QUESTÃO

O TJ-RJ deve decidir na segunda (4) se Luiz Zveiter pode se candidatar a presidente da Casa de novo. As eleições estão marcadas para dezembro.

POLÊMICA

Zveiter presidiu o Tribunal entre 2009 e 2011, quando negou proteção policial à juíza Patrícia Acioli, que acabou brutalmente assassinada.

BENESSE

A presidente do TJ-RJ, Leila Mariano, enviou à comissão de legislação minuta criando auxílio-educação a dependente de servidor e magistrados.

APAGÃO NO CERIMONIAL

O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) ficou irritado com a equipe do cerimonial, que não sabia para onde conduzir a presidente Dilma após retorno da energia elétrica na inauguração do Templo Salomão, em SP.

TERMÔMETRO

O presidente do PT, Rui Falcão, considerou o ponto auge da sabatina de Dilma com empresários na CNI a declaração taxativa a favor do plebiscito sobre reforma política: “Foi o primeiro grande aplauso que ela recebeu”.

PAD NA PF

Um agente da Polícia Federal em Pernambuco conseguiu indenização de R$ 10 mil por danos morais após “ser perseguido” por descumprir ordem do delegado da unidade, que exigiu presença no trabalho durante greve.

AERONEVES

O deputado Bala Rocha (SD-AP) disse no Twitter que o presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG) “tirou de letra o lance da pista: uma obra pública em benefício da população de Cláudio”. Então tá, né?

NEM TE ESCUTO

Os ataques do presidenciável Eduardo Campos ao PMDB não tiram sono de caciques peemedebistas. O discurso não encontrou eco nas ruas, e o socialista naufraga nas disputas internas com sua vice Marina Silva.

ENTRE FAMÍLIA

O ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz (PRTB) gravou vídeo de apoio à reeleição do senador Gim Argello (PTB), frisando que Weslian Roriz, sua esposa, será a primeira suplente para vaga no Senado.

FAKES

O partido Solidariedade no Ceará reclama do excesso de perfis falsos de candidatos do partido nas redes sociais. “Estamos tomando providências legais”, avisa o presidente da legenda, Genecias Noronha.

CARINHO COM BOLSO CHEIO

Felipão pediu carinho à torcida ao se apresentar para comandar o Grêmio de Porto Alegre. Antes disso, levou R$ 4 milhões de indenização da CBF, ou seja, mais de R$ 500 mil por gol sofrido da Alemanha no Mundial.

BATATA QUENTE

O Planalto responsabiliza o PT, que culpa Dilma Rousseff. E Lula, bem ao seu estilo, acusa a direção e a sucessora pelo desgaste da sigla nas eleições.


PODER SEM PUDOR

POVO, UM DETALHE

O ex-ministro Armando Falcão, aquele que nada tinha a declarar, foi candidato ao governo do Ceará em 1954. Na ocasião, ele pediu a um amigo, deputado estadual Ernesto Gurgel Valente, que o ajudasse a organizar um comício de arromba. É claro que o deputado o atendeu, providenciando palanque, som, iluminação, tudo. Só faltou um detalhe:

- E o povo, seu Ernesto, cadê o povo? - cobrou Falcão, ao chegar.

- Se eu tivesse a capacidade de trazer povo para comício, Armando, o candidato não seria você. Seria eu.