sexta-feira, maio 23, 2014

O desmame da bolsa-empresário - MÁRCIO GARCIA

Valor Econômico - 23/05


É preciso reduzir os desembolsos do BNDES e elevar gradualmente a TJLP em direção à Selic



Mais um empréstimo de R$ 30 bilhões a taxas subsidiadas (TJLP, 5%, ou menos) vai ser dado pelo Tesouro Nacional ao BNDES. As transferências do Tesouro a bancos públicos, iniciadas em 2008, montavam já a quase 10% do PIB, sendo R$ 414 bilhões para o BNDES. Tais recursos são reemprestados pelo BNDES a taxas também subsidiadas a empresas.

No entanto, a taxa de investimento agregado do país continua anêmica. O gráfico mostra que, apesar da hiperatividade do BNDES, não conseguimos aumentar a taxa de investimento, estacionada abaixo de 20%. Não é à toa que o crescimento médio do quadriênio 2011-2014 não deve ultrapassar raquíticos 2%.

Pode-se argumentar que o desempenho do investimento seria ainda pior se o BNDES não tivesse tomado esteroides. Mas não há evidencias de que esse seja o caso. Afinal, ao contrário de sua missão inicial, os desembolsos do BNDES vão, majoritariamente, para grandes empresas (67,9%, segundo o Relatório Anual de 2012, o último disponível no site do banco). Grandes empresas têm acesso aos mercados financeiro e de capitais, nacional e internacional. Só recorrem ao BNDES por causa do subsídio.

Calcula-se que o custo da bolsa-empresário represente mais do que 0,6% do PIB, maior do que o da Bolsa Família (cerca de 0,5% do PIB). E o custo é crescente. Mesmo que estivesse dando certo, não haveria recursos para manter o crescimento dos desembolsos do BNDES por muito mais tempo.

A grande expansão do orçamento paralelo no BNDES vem sendo usada para mascarar a verdadeira situação da política fiscal. O Tesouro Nacional, com elevado custo de capital, empresta de forma subsidiada ao BNDES, que reempresta os recursos com uma pequena margem. Isso gera lucros para o BNDES, parte dos quais são repassados de volta ao Tesouro como dividendos. Ou seja, no cômputo geral da operação, o Tesouro incorre em elevado prejuízo, mas, na contabilidade pública, sua receita primária aumenta! Essa é a mágica contábil que, apesar de repetidas promessas, o governo se recusa a deixar de fazer.

Em 2015, seria ajuizado que o (a) próximo (a) presidente revertesse a tendência de expansão dos empréstimos subsidiados. Como o BNDES empresta em longo prazo, o melhor seria que tal mudança ocorresse lentamente, diminuindo os desembolsos e aumentando paulatinamente a TJLP em direção à Selic, para evitar que projetos de investimento em curso sejam prejudicados. Seria imprudente continuar aumentando os empréstimos até que uma crise fiscal venha a se abater. Mas o jogo não cooperativo da política pode acabar nos levando ao pior resultado.

Recentemente, líderes empresariais reagiram ferozmente a críticas aos subsídios do BNDES. Um executivo do setor automotivo, falando em off, declarou: "O Brasil tem grandes problemas de competitividade, gerados, inclusive, pelo custo de capital e pela falta de um mercado de capitais, forte e dinâmico.... Considero que sejam válidos os financiamentos apenas para investimentos produtivos concedidos a taxas incentivadas para dar maior competitividade às empresas enquanto as grandes reformas necessárias não são feitas no país, como a tributária e previdenciária" (Valor, 8/5/2014, página A6).

Ou seja, em vez de se bater pelas reformas que, de fato, poderiam ajudar a resolver o problema do elevado custo de capital e da falta de competitividade das empresas brasileiras, o líder empresarial entrevistado prefere a lógica do "farinha pouca, meu pirão primeiro". Primeiro, que sejam feitas as reformas. Só então, retirem meu subsídio!

Se parte da elite empresarial do país reage de forma tão não cooperativa a propostas de reformas, por que deveriam outros beneficiários de programas governamentais agir diferentemente? Definitivamente, não será fácil o trabalho do (a) próximo (a) presidente!

O fanatismo esportivo - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 23/05

No Brasil fala-se muito nos protestos na Copa num desdobramento de junho de 2013. Mas no exterior o temor é com a violência de torcidas organizadas. A Argentina mandou uma lista de 2 mil fanáticos. Os hooligans de Itália, Inglaterra e Alemanha estão sendo alertados por seus governos sobre medidas de segurança adotadas aqui. Os casos de intolerância crescem. Centenas de câmeras estão instaladas dentro e fora dos estádios.

Para todos os gostos
Os partidos que disputam a eleição residencial viram números que lhes favorecem na pesquisa Ibope divulgada ontem. O tucano Aécio Neves comemora ter subido seis pontos e ter mantido distância do socialista Eduardo Campos. Este também vibra, por ter subido cinco pontos e permanecido com a mesma diferença de seu adversário na disputa para ir ao segundo turno. Os petistas venderam otimismo, pois a presidente Dilma subiu três pontos e voltou a um patamar que lhe permitiria vencer o pleito no primeiro turno. Nas eleições de 2010, a oposição fez 52% dos votos válidos no primeiro turno. Agora, ela está partindo de um patamar de cerca de 41%.


“O PMDB do Rio organiza manifestação do movimento suprapartidário de apoio à candidatura de Aécio Neves à Presidência”
Eduardo Cunha, (RJ) líder do PMDB na Câmara e integrante da ala do partido contra o apoio a Dilma

A CPI Mista da Petrobras
O senador Vital do Rêgo (PMDB) pode deixar o comando da CPI do Senado para presidir a CPI Mista. O ex-presidente da Câmara Marco Maia (PT) está para a relatoria. Os governistas avaliam que a CPI da Petrobras no Senado vai morrer.

Autoridades
O Brasil espera pela vinda de mais de uma dezena de chefes de Estado e dezenas de governantes para assistir aos jogos da Copa. Mas o mais aguardado de todos é o príncipe Harry. Fã de futebol, a expectativa é que ele venha acompanhar os jogos da Inglaterra em Manaus, Belo Horizonte e São Paulo. Por questões de segurança não há confirmação.

A livre concorrência
A sinalização do Rio para a Copa, sobretudo na Barra, será deficiente. O governo estadual e a prefeitura terão de improvisar. Uma guerra de liminares entre as empresas privadas concorrentes retardou a execução do serviço.

Na hora do intervalo
Na viagem à Paraíba, sexta-feira passada, o assunto no voo entre a presidente Dilma, ministros a bordo e o brigadeiro Joseli Camelo foi o álbum da Copa. O brigadeiro chegou a deixar a cabine para trocar figurinhas. A presidente Dilma disse que o dela, que fez para o seu "menino pequeno", o neto Gabriel, estava completo.

O maior drama
Os jogos da Copa em Cuiabá são os que mais preocupam o governo. A cidade deve receber, em dias de jogos, 42 mil torcedores. O governo e a Fifa têm lá forças-tarefas para resolver os gargalos, e foi criado um esquema de hospedagem alternativa.

Bala na agulha
São esperados 600 mil estrangeiros na Copa. Os americanos adquiriram mais ingressos: 150 mil. Depois vieram os colombianos, 67 mil, e os argentinos, 60 mil. Estes devem invadir o país (de carro) à medida que sua seleção avance.

O presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB), comemora um recorde. Anteontem, os deputados conseguiram votar seis medidas provisórias.

Diplomacia da bola - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 23/05

O Planalto já agendou encontros reservados entre Dilma Rousseff e dez chefes de Estado ou de governo durante a Copa. Entre os confirmados está o presidente do Irã, Hassan Rouhani. Será o primeiro gesto concreto de reaproximação entre o governo brasileiro e o país desde que Dilma assumiu a Presidência. Na campanha de 2010, ela criticou publicamente a condenação da iraniana Sakineh Ashtiani à morte por apedrejamento por manter "relacionamento ilícito" com um homem.

Seletivo O presidente francês, François Hollande, avisou ao Itamaraty que só deve vir ao Brasil caso a França se classifique para jogar as quartas-de-final ou semifinais da competição.

Terminal As seleções e autoridades chegarão no Brasil pelas bases militares dos Estados e serão escoltadas até seus hotéis pelas Forças Armadas, que também farão a segurança desses locais.

Ondas 1 Integrantes do Planalto atribuem a alta de Dilma na pesquisa Ibope ao aumento das campanhas publicitárias na TV dos programas do governo e ao enterro do "volta, Lula".

Ondas 2 Também apontam que as últimas propagandas do PT conseguiram levar o debate eleitoral para o campo das políticas sociais, favorável a Dilma, e tirar o foco dos dados da economia.

Planilha O governo reagiu aos ataques de Aécio Neves (PSDB) à política nacional de segurança pública. Ministério da Justiça levantou dados para mostrar que Dilma investiu R$ 3,6 bilhões por ano na área, ante R$ 1,2 bilhão por ano de FHC.

Aos 45 Cid Gomes avisou a auxiliares de Dilma que vai esticar até o último momento a definição do candidato do Pros ao governo do Ceará. Insatisfeito com a dificuldade na definição de alianças, o governador quer forçar PMDB e PT a negociarem.

Plantão médico Advogados de José Genoino relatam que a pressão arterial do ex-presidente do PT caiu drasticamente nos últimos dias e alertam para o risco de um AVC. Segundo eles, as condições de alimentação e o acompanhamento médico no presídio da Papuda podem agravar seu quadro de saúde.

#ficaadica Em evento com mais de 500 prefeitos e cerca de 70 parlamentares, Geraldo Alckmin (PSDB) escolheu como companhia no palco o deputado Marcio França (PSB) e o prefeito Marco Bertaiolli (PSD), de Mogi das Cruzes, em um aceno às duas siglas que ele corteja para sua reeleição.

No ponto Entre os deputados presentes no evento para a liberação de emendas, 51 eram estaduais. Um interlocutor lembrou que desde o início da semana a base de Alckmin não consegue quorum suficiente, de 48 deputados, para aprovar um projeto do Executivo na Assembleia.

Vida real Em meio à crise de abastecimento de água no Estado, um dos banheiros do Palácio dos Bandeirantes ficou com as torneiras secas durante o evento de ontem.

Fonte O governo diz que não houve desabastecimento no prédio, e que foi curto o período sem água nesse banheiro específico. Afirma que os reservatórios são independentes e que houve sobrecarga em função da cerimônia, que encheu o auditório em que cabem 1.300 pessoas.

Linha direta Ontem foi a vez de Alckmin telefonar para Fernando Haddad (PT) para tratar da greve de motoristas de ônibus. Apesar de não ter abordado diretamente a troca de acusações entre os secretários de ambos, sinalizou que estava mantida a relação de cooperação entre prefeitura e governo.

com BRUNO BOGHOSSIAN e PAULO GAMA

tiroteio
"Aécio poderia sugerir a Alckmin solução para enfrentar roubos, arrastões e linchamentos, que só fazem crescer a insegurança no Estado."

DO DEPUTADO ESTADUAL LUIZ CLAUDIO MARCOLINO (PT-SP), sobre críticas feitas pelo presidenciável tucano à política de segurança do governo federal.

contraponto


Se a carapuça servir
No início da semana, Marcos Montes (PSD-MG) flagrou o também mineiro Julio Delgado (PSB) descendo as escadas da chapelaria do Congresso.

De longe, gritou:

--Governador! Governador!

O PSB ainda não decidiu se apoia Pimenta da Veiga (PSDB) ou se lança Delgado ao governo de Minas Gerais, mas o deputado acabou se virando para trás ao ouvir os berros. Montes, cujo PSD apoia o candidato tucano, se espantou:

--Tá doido, sô?!

O que se move por pesquisa - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE -23/05

Todos os pré-candidatos a presidente saíram felizes com a nova pesquisa do Ibope. Isso porque todos subiram. E para os partidos médios que não terão candidatos ao Planalto e que, invariavelmente, se pautam por essas consultas, começa a pintar que a maioria deixará seus minutos de tevê para Dilma porque seguro morreu de velho. O PTB fechou oficialmente o apoio à reeleição. O PP e o PSD seguirão o mesmo caminho, uma vez que Gilberto Kassab já declarou com todas as letras que assumiu “um compromisso com a presidente Dilma”. O jogo, entretanto, não é tão fechado assim. Como a oposição também está em viés de alta, a divisão permanece consolidada. Dentro do PSD e do PP todos estão liberados nos estados para tomar o caminho que desejarem, conforme já foi dito nesta coluna há cerca de um mês.

Como os adversários de Dilma também cresceram, com destaque para o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que alcançou a casa dos 20%, ninguém vai apostar todas as fichas na presidente. No Rio Grande do Sul, por exemplo, onde o PP da senadora Ana Amélia Lemos já fechou com Aécio, ela pretende colocar o tucano no programa de tevê em que se apresentará como candidata ao governo estadual. “Se não puder fazer isso, que liberdade é essa? É para inglês ver”, diz ela, interessadíssima em já começar a gravar algumas imagens com o senador. Se nos demais estados onde Aécio e Eduardo conquistaram palanques de aliados de Dilma essa decisão de Ana Amélia se repetir, é bem capaz que eles apareçam bem mais que a petista. É aí que o estica-e-puxa nesses partidos vai aumentar.

O pêndulo I
Ao dar a relatoria da CPMI da Petrobras para o PT na Câmara e a presidência para o PMDB do Senado, o governo acredita que terá controle total sobre os trabalhos de investigação do colegiado e que poderá isolar o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Ocorre que não será bem assim. Eduardo indicou ele mesmo para a CPI e, ainda, os deputados Lúcio Vieira Lima (BA), Sandro Mabel (GO) e João Magalhães (MG), todos hoje rezam o mesmo terço do líder.

O pêndulo II
Em reunião, os quatro deputados do PMDB que integrarão a CPMI decidiram votar sempre unidos e, na dúvida, consultarão a bancada para que a deliberação seja conjunta. Isso dá ao grupo forçar para proteger ou atacar o governo, dependendo da ocasião. Afinal, na hora em que os relatórios da Lava Jato começarem a despencar por ali, vai ter muita gente querendo proteção.

Apreensão geral
Depois de o site Uol divulgar que o juiz teria informado ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, a respeito de recibos de depósitos em favor do senador Fernando Collor (PTB-AL), baixou no meio político o receio de que alguém na Justiça ou na Polícia Federal queira se vingar vazando partes do inquérito que ainda não foram totalmente apuradas.

Cada um com seu cada qual
Pré-candidato a presidente, Eduardo Campos jogará nas costas do deputado Júlio Delgado (PSB-MG) o rompimento da aliança com o PSDB em Minas Gerais e nas costas do deputado Márcio França (PSB-SP) a aliança com o tucano Geraldo Alckmin em São Paulo.

CURTIDAS 
Plateia exclusiva/ Apenas a senadora Vanessa Graziotin (PCdoB-AM) acompanhou todo o depoimento de Nestor Cerveró na CPI da Petrobras do Senado. A maioria das cadeiras que os telespectadores viram ocupadas era de jornalistas e funcionários da empresa.

Farinha pouca, meu pirão primeiro/ Candidato a deputado federal, Rogério Rosso, do PSD, continua suas conversas com todos os partidos, sem fechar com este ou aquele candidato a governador. Uma decisão ele já tomou: irá fechar com quem lhe der as melhores chances de obter uma vaga na Câmara dos Deputados.

Imagina na eleição…/ Dia desses, o ex-deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) participava de uma feira no interior da Bahia, quando o locutor o chamou para subir numa mula. Geddel montou sem precisar de ajuda. O locutor, surpreso, anunciou o fato, “olha só, nosso senador!!!!”.

JOGO DE CENA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 23/05

Artistas e produtores de teatro vão cancelar suas apresentações em dias de jogos do Brasil na Copa do Mundo. "Vamos suspender a sessão na data das partidas por causa dos festejos nas ruas e da confusão no trânsito", diz Antonio Fagundes, em cartaz com "Tribos" no Teatro Tuca, em SP.

BREVE INTERVALO
Produções como "Quem Tem Medo de Virginia Woolf", com Zezé Polessa e Daniel Dantas, "O que o Mordomo Viu", com Marisa Orth e Miguel Falabella, e "A Besta", com Celso Frateschi e Priscila Fantin, também vão fechar a bilheteria quando o Brasil entrar em campo no Mundial.

VER E ENTENDER
Nos demais dias da Copa, a aposta é que turistas, estrangeiros ou brasileiros, ajudem a lotar os teatros. "Walmor y Cacilda 64 - Robogolpe", no Teatro Oficina, terá legendas em inglês. "Já temos muitas visitas de pessoas de fora que são atraídas pela arquitetura do teatro. Agora elas poderão também assistir à peça", afirma o ator Beto Mettig.

PLATEIA CATIVA
Já Fagundes acredita que "muita gente não vai querer ver futebol" quando a seleção brasileira não estiver no gramado --e pode eleger o teatro como boa alternativa.

TÃO LONGE
Chico Buarque de Hollanda completa 70 anos no dia 19 de junho. Vai celebrar o aniversário em Paris.

TÃO PERTO
Boleiro fanático, Chico vai ficar na França por todo o período da Copa do Mundo.

Há uma chance de ele voltar ao Rio ainda no Mundial: se o Brasil chegar à final.

SURGIR, SUMIR
Evan Spiegel, criador do Snapchat, deve desembarcar no Brasil no domingo. Ele recusou oferta de US$ 3 bilhões que o Facebook fez pelo aplicativo, que possibilita o envio de imagens e textos que desaparecem segundos depois de serem visualizados.

BANDEJA
O governo federal vai gastar quase R$ 55 mil na compra de pães, biscoitos e salgadinhos para as copas da Presidência e da Vice-Presidência. Entre os itens, estão 8.000 brioches ao preço unitário de R$ 0,45. Todos os produtos devem ser isentos de gordura trans.

BANDEJA 2
Eles serão consumidos por autoridades e funcionários, além de servidos em eventos.

EM NOME DO PAI
O rabino Henry Sobel celebrará o casamento de sua filha, Alisha Sobel. O enlace está marcado para novembro, em São Paulo, e será organizado pela cerimonialista Simone Wassermann.

O noivo é Luis Szuster, que, como Alisha, também trabalha com marketing.

BRIGA DE VIZINHO
O edifício Planalto, que fica em frente à Câmara Municipal e serve de cenário para novelas, filmes e comerciais, vive clima de guerra. A síndica Valdete Moraes, na função havia 14 anos, renunciou na terça, após um movimento de moradores e de mais de cem proprietários de apartamentos. Eles questionavam as contas do prédio de 294 unidades, projetado pelo arquiteto Artacho Jurado. A disputa chegou à Justiça.

BRIGA DE VIZINHO 2
Uma nova eleição foi marcada para o dia 29. A síndica, que estaria afastada por ordens médicas, não respondeu aos pedidos de entrevista. Anteontem, ela publicou no Facebook a mensagem "Decepção", afirmando ser "fácil ver falhas dos outros e ser míope para enxergar as próprias". O texto foi apagado.

QUEM SABE, SABE
Maria Fernanda Cândido comemorou seu aniversário e os dez anos da Casa do Saber, da qual é sócia, anteontem, na casa de Jair Ribeiro, que também é um dos donos da instituição. Acompanhada do marido, Petrit Spahija, a atriz se encontrou com os colegas Paulo Betti, Cláudio Cury, Miriam Mehler e Adriana Lessa no evento. Mario Vitor Santos, diretor-executivo da Casa do Saber, também passou por lá.

GAROA FINA
O jornalista Carlos Maranhão recebeu amigos que comemoraram com ele em um jantar o título de cidadão paulistano, concedido por iniciativa do vereador Andrea Matarazzo (PSDB-SP). O empresário Rogério Fasano e o ex-diplomata Rubens Barbosa com a mulher, a escritora e jornalista Maria Ignez Barbosa, foram ao encontro.

CURTO-CIRCUITO
Os Doutores da Alegria apresentam mostra de cenas teatrais hoje, às 19h30, na Biblioteca Mário de Andrade, no centro. Livre.

O estilista Alexandre Herchcovitch dá palestra na Faculdade Santa Marcelina hoje, às 10h.

A Apae de São Paulo pede a doação de rótulos para seu leilão beneficente de vinhos, no dia 9 de junho.

O ministro da Saúde, Arthur Chioro, participa da abertura do 3º Fórum da Saúde e Bem-Estar, hoje, no hotel Royal Palm Plaza, em Campinas.

Crime desorganizado - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 23/05

O avanço das UPPs reduz, aos poucos, a força das facções criminosas. Hoje, o sistema prisional do Rio tem 37 mil internos, e 15 mil deles, ou 40,5% do total, declaram não pertencer a facção alguma.
Há quatro anos, por exemplo, cinco unidades prisionais recebiam membros da ADA. Agora, são duas. E havia seis para os do Terceiro Comando. Hoje, eles cabem em três.

COMO SE SABE...
A separação por facção de bandidos presos é feita para evitar acerto de contas na cadeia.

GALEÃO NA COPA
De gente do ramo. Só 54% das obras do Terminal 1 do Galeão para a Copa serão executadas até o Mundial. No Terminal 2, o número é pouco maior: 61%.
O aeroporto tem ainda problemas de ventilação.

MALDADE
Dilma proibiu seus ministros de entrar de férias durante a Copa.

LIBEROU GERAL
O MinC autorizou o Instituto Brasileiro de Cultura, Moda e Design a captar R$ 3.852.960 pela Lei Rouanet para investir na Babilônia Feira Hype. A ministra Marta Suplicy tem defendido recursos da Cultura para o setor da moda.

O PAÍS DA BUNDA
Às vésperas da Copa no Brasil, a nova edição da revista Fabulous, do jornalão inglês The Sun, estampou em sua capa a foto de um bumbum em um biquíni com a bandeira brasileira.
Já a mãe do editor da revista é... deixa pra lá.

AMOR E ÓDIO PELA MÍDIA
Dunga recusou o convite da Fifa para integrar o Grupo de Estudos Técnicos (TSG) que, durante a Copa, analisará as novas tendências do futebol.
É que o técnico, que na Copa de 2006 trabalhou para a TV Band e, recentemente, na Rádio Gaúcha, será comentarista numa TV mexicana.

ALÔ, SUSANA WERNER!
De Roger Flores para a Glamour de junho sobre o jogador mais boa-pinta da seleção: “O Júlio César, que é um irmão pra mim! Ele tem um porte físico legal, se impõe e é um dos líderes da seleção. Homem não precisa ser tão bonito, mas tem que saber se portar”.
Coisa de pele.

DONA DO ESFÉRICO
O Clermont-Foot, pequeno clube da segundona francesa, nunca recebeu tantos jornalistas para uma conferência de imprensa como ontem.
Mais de uma centena de repórteres de jornais de toda a Europa se comprimiram no salão para a apresentação de Helena Costa, a portuguesa que entra para a História como a primeira mulher a dirigir uma equipe profissional de futebol masculino no Velho Mundo.

FULECO ENTRA EM CAMPO
A Riotur vai pôr um boneco do Fuleco, mascote da Copa, ao lado dos 14 postos de informações turísticas durante a Copa. Ele traz na mão uma bola com o “i” de informação!
Já a Coca-Cola, que, em parceria com a Fifa, treinou 840 catadores que farão coleta nos estádios, vai usar o Fuleco como garoto-propaganda em uma campanha educativa sobre o lixo.

ESTADO LAICO
Teresa Bergher vai encaminhar representação ao Ministério Público do RJ contra o prefeito Eduardo Paes porque a prefeitura liberou R$ 2,5 milhões para o evento Marcha para Jesus, liderado pelo pastor Silas Malafaia, dia 31 agora.
Para a vereadora, “o Estado é laico, e o evento é religioso, além de não trazer qualquer benefício para a população”.

VIVA PILAR!
A filhinha de Vanessa Lóes e Thiago Lacerda que nasceu sexta passada recebeu o nome de Pilar.
A miúda foi registrada ontem. O casal tem outros dois filhos: Gael e Cora.

POXA, CAROLINA
Carolina Ferraz furou, quarta passada, a fila de prioridades no embarque de um voo das 16h, da Air France, para Paris.

NO MAIS
O time da Marta, o Tyresö, da Suécia, perdeu ontem para o Wolfsburg, da Alemanha, a final feminina da Liga dos Campeões da Europa.
Pelo clube sueco, jogou a espanhola Verônica Boquete, que tem esse nome porque... não sei, mas não deve ser o que você está pensando.

Ponto Final
É como disse, certa vez, Charles de Gaulle (1890-1970): “La France n’est pas un pays serieux.” Com todo o respeito.

Emoções perigosas - NELSON MOTTA

O ESTADÃO - 23/05

O clima de intolerância favorece a imobilidade e bloqueia qualquer progresso nas reformas que o país necessita


Como os marqueteiros e estrategistas concluíram que o eleitor vota movido mais pela emoção do que pela razão, preparem-se porque vem aí, além da chuva de lama habitual, doses cavalares de demagogia, populismo e sentimentalismo barato nas campanhas. Diante do que está acontecendo nas ruas, no Congresso, nos palácios e nos tribunais, nada pior para o processo eleitoral, a democracia e o avanço da cidadania. Nunca precisamos tanto de razão e serenidade.

Além das ações dos movimentos sociais e sindicais, a tática lulista do “nós contra eles” e a crença de que os fins justificam os meios quando a causa é “justa” estão no DNA da atual violência das ruas e no desprezo pelas leis e pela população, quando sindicatos fecham acordos em assembleias mas minorias dissidentes param a cidade e vândalos impedem manifestações pacíficas. O clima de intolerância favorece a imobilidade e bloqueia qualquer progresso nas reformas que o país necessita. Mas 70% do eleitorado exigem mudanças.

Assim como existem pessoas dependentes de álcool, drogas, sexo, jogo e internet, muitos políticos são viciados no poder como numa droga. Embora alguns confessem que “a política é uma cachaça”, a dependência deles é mesmo do poder, dos privilégios, da sensação inebriante de superioridade, onipotência e impunidade que dão algumas drogas pesadas. E, como dependentes, fazem as piores fraudes, indignidades e crimes para mantê-lo.

Se quisessem mesmo servir ao país, deveriam repetir como um mantra a Oração da Serenidade, popularizada pelos Alcoólicos Anônimos: “Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos, e sabedoria para distinguir umas das outras’’.

Alguns problemas brasileiros são insolúveis a curto e médio prazos, como a ladroagem e o compadrio, atrasos culturais que só mudam ao longo de gerações. Outros, como as reformas política e tributária, dependem de competência, honestidade e coragem para enfrentá-los.

Não é de emoções, mas de serenidade para distinguir uns dos outros, que eles — e nós — precisamos.

O emprego em dois Brasis - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 23/05

Nível de emprego nas metrópoles empacou faz sete meses, mas sabemos pouco do outro Brasil


MENOS GENTE procura trabalho, e o número de pessoas empregadas está praticamente estagnado desde outubro de 2013, está muito claro e sabido, situação confirmada outra vez pela pesquisa mensal de emprego do IBGE de abril, divulgada ontem.

Apesar do baixo desemprego, tal situação sugere que a economia esfriou e implica a princípio que há um empecilho adicional para a retomada do crescimento (força de trabalho estagnada). A pesquisa mensal do IBGE, porém, trata apenas do mercado de trabalho de seis metrópoles, São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife. O que acontece no resto do Brasil?

Não sabemos muito bem, ainda. O que sabemos cria alguma confusão na análise, pelo menos a respeito do futuro da oferta de trabalho. Que a economia está esfriando, parece não haver muita dúvida.

A interpretação do que se passa no país fica nebulosa devido a informações de outra pesquisa do IBGE, a Pnad Contínua.

No início deste ano, como se sabe, o IBGE passou a divulgar outra estatística de desemprego, de abrangência nacional, com dados de emprego para cada trimestre desde janeiro de 2012. A informação mais recente da Pnad Contínua refere-se ao quarto trimestre de 2013.

A estagnação da oferta de trabalho e do emprego nas grandes metrópoles começou justamente em outubro de 2013. No entanto, na comparação com 2012, o trimestre final de 2013 na Pnad Contínua (de âmbito nacional) parece bem melhor que o trimestre final de 2013 na Pesquisa Mensal de Emprego (PME, restrita a seis metrópoles).

A ocupação (gente trabalhando) e a oferta de trabalho (gente empregada ou à procura de emprego) crescem na Pnad, caem na PME. Tal comparação, porém, é arriscada.

Primeiro, não se conhecem as manhas da Pnad contínua, que é muito recente (trata de apenas dois anos, ante os 12 anos da PME); não se sabe como, nesta pesquisa, o emprego reage a outras mudanças.

Segundo, a Pnad Contínua é trimestral. Terceiro, abrange mercados de trabalho ainda mais diferentes entre si que aqueles da PME (inclui cidades médias, pequenas, grotões, o dinâmico Centro-Oeste, o rico interior paulista etc). A qualidade dos empregos e as idas e vindas desses mercados são diferentes.

A abrangência nacional da Pnad Contínua a princípio vai permitir que se contem histórias, se façam interpretações e políticas públicas melhores. Isto posto, a Pesquisa Mensal de Emprego não deixa os analistas a pé quando se trata de interpretar as ondas de variação do crescimento da economia, ora em baixa.

Mas a aparente divergência na situação do emprego nas metrópoles e no conjunto do país cria dificuldades temporárias para projeções de médio prazo, como aquelas que apontam o problema de a oferta de trabalho no Brasil crescer cada vez menos, tendência derivada do ritmo menor de crescimento da população (quão devagar? Onde?).

No momento, em seis metrópoles, a quantidade de gente disposta a trabalhar cai provavelmente porque mais jovens preferem estudar, porque a renda das famílias cresceu e porque deve haver mais gente desanimada de procurar emprego, pois a economia anda devagar. É uma situação anormal de desemprego em baixa recorde e de nível de emprego estagnado faz um semestre.

Bondade sem nome - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 23/05

Deve-se deduzir que os deputados quiseram simplesmente fazer um agrado a milhares de eleitores com o pacote, que vai custar ao país mais de R$ 900 milhões


Como saiu no jornal, a Câmara dos Deputados aprovou um “pacote de bondades” para os funcionários da União. Quem não leu, fique sabendo: o tal pacote vai custar ao país mais de R$ 900 milhões por ano, segundo cálculos do PSDB — que, não estando no poder, condenou o pacote. Já o PT — que está no dito poder — foi a favor.

Uma das medidas aprovadas — por iniciativa do mesmo PT — determina que a União pagará os salários dos funcionários que deixarem de servir ao governo para exercer mandatos em sindicatos e outras associações cooperativas. As quais, em geral, e como é legítimo, gastam seu tempo cobrando da mesma União mais atenção aos interesses dos funcionários. Que são, quase sempre, interesses pecuniários.

Hoje, os salários dos funcionários que, como é legítimo, deixam de trabalhar para o Estado para dedicar seu tempo a órgãos sindicais são pagos por essas entidades. O que, para a turma da arquibancada — como você, prezado leitor — parece natural e óbvio.

Pela lei em vigor, a troca da repartição pelo cargo sindical obedece a limitações aparentemente óbvias. Só é permitida a liberação de um servidor público para entidades com até cinco mil associados, dois para aquelas com até 30 mil membros e três para as que têm número superior.

Segundo o pacote aprovado, os números passam para dois, quatro e oito, respectivamente. Não há explicação para esse aumento. Deve-se deduzir que os deputados quiseram simplesmente fazer um agrado a milhares de eleitores. Não é iniciativa inédita: longe disso.

Cidadãos ingênuos talvez esperem que o Senado — que costuma ser mais comedido do que a Câmara no que se refere a agradar ao eleitorado — reduza a bondade do pacote. É possível torcer ou rezar para que isso aconteça. Mas é aconselhável evitar apostas em dinheiro de que isso acontecerá. Senadores também dependem de votos para renovar seus mandatos. E, que se saiba, eles também gostam muito de ser bondosos em relação a largas fatias do eleitorado.

A emenda, deve-se lembrar, foi aprovada pelos deputados em votação simbólica. O eleitorado tem direito a lamentar que um projeto que custará ao país mais de R$ 900 milhões não tornou necessária uma votação nominal. Pelo visto, os deputados não fizeram questão de associar seus nomes ao gasto desse dinheirão.

Não se procura emprego - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 23/05

O desemprego no Brasil alcançou em abril apenas 49 em cada mil trabalhadores, nível mais baixo em meses de abril desde 2002, quando começou a medição com a metodologia hoje adotada.

Já seria um dado intrigante, apenas se contraposto ao avanço econômico medíocre dos últimos quatro anos, à baixa disposição da indústria em contratar pessoal e à diluição do poder aquisitivo pela inflação.

Mas é ainda mais intrigante na medida em que esse recorde está sendo atingido não porque tenham aumentado os postos de trabalho no País, mas porque cada vez menos brasileiros se dispõem a procurar emprego.

Não falta quem diga, como o presidente da Fifa, Joseph Blatter, disse dia 16, que brasileiro não quer trabalhar. Como ninguém vive de vento e como essa queda do índice de ocupação é relativamente recente - porque quase sempre o desemprego foi mais alto do que é hoje - é preciso explicação.

Muito já foi dito sobre a necessidade de mais instrução e de mais treinamento prévio, exigências que vêm adiando a entrada dos jovens no mercado de trabalho. (Também segue sendo repisado que cada vez mais aposentados têm de continuar trabalhando porque os proventos da Previdência são insuficientes.)

Por outro lado, é notório o aumento de renda da população, graças em parte aos programas distributivos do governo. E, ainda, estão aí as conclusões das pesquisas de que, nos últimos 15 anos, pelo menos 30 milhões de brasileiros chegaram a segmentos mais altos de consumo.

Outra parte das explicações parece relacionada ao mais forte crescimento do segmento de serviços. Este não é apenas o setor que mais oferece empregos no Brasil, mas, também, o que mais proporciona remunerações extras por pequenas atividades, muitas vezes a quem já tem ocupação fixa. É a empregada doméstica que aceita serviços de faxina; é o eletricista que trabalha "por conta própria"; é o guardador de carros que ganha mais com o que faz do que se tivesse um emprego numa firma, onde o salário está sujeito a descontos de lei, além das despesas com transporte que, de resto, consome horas por dia, em trens ou ônibus cujos níveis de conforto conhecemos.

Por aí se vê, também, que, na percepção do brasileiro comum, ter um emprego firme nem sempre compensa. É também o que se pode chamar de "precarização do trabalho". Alguns analistas chamam a atenção para o tal fator de desalento, que leva o trabalhador a desistir de procurar emprego. Nenhum desses fatores isolados explica tudo. É na combinação entre eles que se pode procurar a explicação por esse fenômeno relativamente novo na economia.

Até agora, a queda ou a manutenção do desemprego em níveis tão baixos deixaram estressado o mercado de mão de obra e concorreram para elevar os custos do fator trabalho. Mas já é acentuada a desaceleração da atividade econômica, a ponto de atingir em cheio até mesmo o setor de serviços. É uma pulsação bem mais fraca que pode voltar a acelerar os índices de desemprego.

Controle de preços, a artimanha fajuta do PT - ROBERTO FREIRE

Brasil Econômico - 23/05

O governo da presidente Dilma Rousseff vem segurando preços de combustíveis e energia para evitar impacto nos índices de inflação em ano eleitoral. Não se trata de uma acusação feita por um oposicionista, mas da confissão pública de ninguém menos que o chefe da Casa Civil, Aloísio Mercadante, em entrevista à " Folha de S.Paulo". Um dia depois do ataque de sinceridade do petista, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, desautorizou as declarações do colega de Esplanada e negou que a atual gestão esteja represando tarifas. Mas o estrago já estava feito.

Diante do descalabro da política econômica de um governo sem rumo, não surpreende que dois de seus principais ministros protagonizem um bate-boca sobre a contenção de preços. A desastrosa condução da economia pelo PT levou a reputação do Brasil ao chão, com uma série de previsões furadas do próprio Mantega sobre o crescimento do PIB, além da "contabilidade criativa" que mascara a expansão da despesa pública e da dívida governamental, gerando um ambiente de absoluta incerteza em relação à saúde financeira nacional. Enquanto Mantega e Mercadante não falam a mesma língua e a presidente afirma que "a inflação está sob controle", o trabalhador sente no bolso que não vivemos às mil maravilhas.

De acordo com o IPCA de abril, a inflação acumulada no ano chega a 6,28%, índice que continua muito acima do centro da meta estipulada pelo governo (4,5%) e bem próximo do teto de 6,5%. A manipulação de dados gera uma onda de desconfiança que fere de morte a economia brasileira. Recentemente, nem mesmo o IBGE escapou da tal investida, que culminou na suspensão da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), que divulgaria números relativos ao emprego. Diante da péssima repercussão na opinião pública, a divulgação da pesquisa foi mantida para o início de junho.

Sem credibilidade junto ao mercado e à sociedade, o país fica condenado a um círculo vicioso em que investidores deixam de investir e consumidores deixam de consumir, aumentando a sensação de que andamos de lado. Mais do que uma mera impressão, trata-se de constatação da realidade: segundo o IBGE, o crescimento médio do PIB nos três primeiros anos do governo Dilma foi de apenas 2%, o que significa que a economia brasileira cresce no menor ritmo desde Collor. Com a perigosa combinação de baixo crescimento com inflação e juros em alta, o governo petista se move por preocupações eleitorais quando decide represar as tarifas de gasolina, energia e outros preços administrados.

Tudo em nome de uma reeleição que hoje, dado o percentual de brasileiros que desejam mudança (74%, diz o Datafolha), não parece muito provável. Com a ameaça cada vez maior de volta da inflação, tudo o que o Brasil não precisa neste momento é de um governo que não preza pela transparência. Segurar preços artificialmente para ludibriar os agentes econômicos e a população, em uma clara tentativa de salvar a presidente-candidata nas eleições, não passa de artimanha desonesta que só arranha ainda mais a reputação do país.

Precisamos de menos Mercadantes, Mantegas e Dilmas, e de mais gente séria na condução da economia. De menos contabilidade criativa e mais credibilidade. Precisamos da decência, da competência e da honestidade que tanto têm faltado ao país nos últimos 12 anos.

Os inimigos ocultos das exportações - PEDRO LUIZ PASSOS

FOLHA DE SP - 23/05

Burocracia, regulação, impostos e deficiências empresariais solapam o comércio exterior


Nas últimas décadas, o Brasil deixou acumular graves problemas que agora travam as exportações. Para o agronegócio, a atividade extrativa e uns poucos ramos da indústria de transformação, tais obstáculos não foram impeditivos de vendas em grande volume para o exterior. Os bons preços internacionais e os avanços de produtividade nesses setores compensaram as distorções mais graves, embora não neutralizassem por completo desperdícios e perdas de receitas.

Essas ilhas exportadoras, porém, não foram suficientes para tirar o Brasil da posição relativamente marginal que ocupa no comércio global --apenas o 22º lugar no ranking dos maiores exportadores, em parte devido à baixíssima competitividade industrial.

Nossa exportação de bens manufaturados encontra-se rigorosamente estagnada desde 2008. Trata-se de um período indubitavelmente fraco para o comércio mundial em razão da crise global, mas que também reflete em cheio o atraso, os custos e a falta de produtividade da indústria brasileira. O foco excessivo no Mercosul e o afastamento de mercados como EUA e União Europeia ajudam a explicar como chegamos a esse estágio.

Mas há ainda outros entraves menos visíveis, que igualmente conspiram contra o comércio exterior do país. Uma pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria), realizada com 639 empresas exportadoras, mostra que o excesso de burocracia, a regulação inadequada e mesmo deficiências empresariais têm gravidade próxima ou semelhante às barreiras mais evidentes, como a falta de câmbio e a infraestrutura precária.

O câmbio aparece no topo das preocupações, mencionado por quase metade dos empresários consultados, e a infraestrutura, segundo a pesquisa, atrapalha mais do que ajuda a exportação.

A burocracia alfandegária e em menor escala a tributária também despontam entre os destaques negativos. Incorporados à rotina, tais fatores fazem da exportação um processo lento, complexo e custoso. Funcionam como inimigos ocultos da internacionalização da economia brasileira. Pouco discutidos, deveriam entrar na agenda de debates essenciais.

A nosso ver, o ponto mais revelador do levantamento é uma espécie de "autocrítica" das empresas, ao apontar entraves que lhes são inerentes. Nada menos que 75% reconhecem que além de dificuldades externas existem bloqueios internos para o aumento das exportações. Como seria de esperar, o percentual é menor entre as empresas maiores, mas é digno de nota que quase 65% delas tenham declarado que problemas domésticos constituam barreiras para exportar.

Tais problemas diferem segundo o porte das empresas. Para as grandes, as dificuldades estão no crédito à exportação, assim como na adequação de produto e processo produtivo e no conhecimento da legislação dos países importadores --quesitos que, convenhamos, não deveriam ter destaque algum, se tivéssemos verdadeiramente uma orientação exportadora das empresas atuantes no Brasil. Noutro extremo, as micros, pequenas e médias empresas relacionam itens típicos de quem dispõe de poucos recursos para prospectar mercados, contratar representação externa e acessar canais de comercialização.

Resumindo, as principais barreiras próprias às empresas se dividem entre a falta de atrativo e de cultura exportadora e limitações de recursos e de pessoal capacitado.

Há uma multiplicidade de temas a enfrentar para que o Brasil se torne uma economia com maior expressão no comércio exterior. Tais questões vão da redefinição da política de relações comerciais com o mundo à melhora da infraestrutura e simplificação de processos alfandegários e tributários, passando pela temática microempresarial.

Se quisermos desenvolver uma cultura exportadora entre nossas empresas, devemos ter em mente dois blocos distintos de estratégias.

Num caso, merecem prioridade aportes e facilidades para que as empresas menores superem as restrições de recursos e de pessoal especializado; no outro, canali- zar esforços para despertar e pe- renizar o interesse empresarial pelo comércio exterior --e, para isso, nada melhor que aproximar o país dos mercados mundiais mais dinâmicos.

Sob nova direção - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 23/05

Brasil e Índia têm enfrentado problemas semelhantes: redução do nível de crescimento, denúncias de corrupção, atrasos em obras de infraestrutura e inflação elevada. Lá, a conjuntura desfavorável provocou insatisfação popular e mudança de governo. Aqui, o atual sofre desgastes depois de 12 anos no poder. A Índia, quando cresce pouco, é 4%; no Brasil, como se sabe, é bem menos.

Aeleição do novo premier da Índia, Narendra Modi, é resultado direto das dificuldades econômicas, na avaliação do consultor indiano Rakesh Vaidyanathan, do Jai Group. Rakesh, que reside no Brasil e fala português fluentemente, explica que o governo anterior havia perdido a capacidade de executar reformas.

— O governo anterior tinha uma base política muito ampla e sempre tentava buscar consensos. As decisões eram demoradas. Com isso, houve atrasos em obras de infraestrutura que a Índia precisa executar com urgência. O novo primeiro-ministro terá que ser mais ágil para fazer o país voltar a crescer mais — explicou.

O novo governante tem pontos controversos, principalmente na religião. Ele defende a supremacia do hinduísmo, o que deixa inquietas as minorias cristã e muçulmana. Foi eleito em parte por ter demonstrado grande capacidade administrativa. Como governador de seu estado natal, Gujarat, conseguiu taxas de crescimento maiores que a média nacional.

Em relação à dificuldade de administrar a coalizão, problema do qual sofria o governo de Manmohan Singh, a definição se aplica ao Brasil. Aqui, com um governo de quase 40 ministérios e o loteamento político de cargos importantes, empresas estatais apresentam baixos resultados, vão mal nas bolsas, e os projetos de infraestrutura não deslancham, mesmo com a pressão dos grandes eventos. O PIB desacelerou e a inflação subiu.

Os dois países têm uma agenda econômica comum, mas a integração comercial ainda é pequena, de menos de US$ 10 bilhões. Nos últimos 10 anos, o Brasil acumula um déficit na balança comercial com os indianos de US$ 10 bilhões. Somente com importação de óleo diesel, gastamos US$ 15 bilhões nesse período. No ano passado, foram US$ 3 bi. Rakesh explica que enquanto o Brasil possui grandes reservas de petróleo, os indianos se especializaram em refino. O Brasil exporta óleo bruto e importa óleo refinado, e isso explica nosso déficit.

— O Brasil tem falta de combustível por falta de planejamento. A Índia
não tem petróleo, mas tem um amplo parque de refino. Acredito que o problema da Índia é pior, por ser estrutural. No longo prazo, o Brasil pode reverter esse déficit e exportar mais para a Índia — avalia.

A economia indiana teve forte crescimento entre 2003 e 2010. Excluindo-se o ano de 2008, a taxa média foi de 8,9%. O ritmo forte provocou aceleração da inflação, que saiu de 3,4%, em 2003, para 14%, em 2009. No ano passado, os preços subiram 8,1%, segundo o FMI, e a taxa de crescimento foi de 4,3%. Aqui, a inflação é alta, apesar do crescimento baixo.

A desaceleração indiana é causada mais por problemas internos do que externos. O setor de serviços continua crescendo forte, mas houve uma perda muito grande da agricultura e da indústria.

— A agricultura indiana depende muito das chuvas e houve dois anos de seca. A Índia produz mais grãos que o Brasil, mas perde muito com a falta de infraestrutura, no escoamento do produto e na estocagem. Por isso, o Brasil exporta mais. A indústria caiu por problemas de infraestrutura, como estradas e portos. Só o setor de serviços continuou forte, mas ele sozinho não consegue manter o mesmo ritmo de alta — disse Rakesh.

A Índia também tem grande consumo de alimentos, pelo tamanho de sua população, e por isso nunca foi importante exportador. Outro problema que o novo governo terá que enfrentar é o déficit público nominal que tem ficado acima de 6% do PIB nos últimos anos, por causa dos altos subsídios para alimentos e combustíveis e da baixa arrecadação. A maior parte da população ainda vive no campo, e o PIB per capita é de apenas US$ 1,5 mil, contra US$ 11,3 mil do Brasil.

Um projeto revolucionário do novo governo é o de eletrificação dos povoados e da área rural sem luz elétrica, através da energia solar fotovoltaica. Se der certo, mudará a vida de mais de 300 milhões de indianos que vivem às escuras no país.

O nome da baderna é Dilma - REINALDO AZEVEDO

FOLHA DE SP - 23//05

O método para ser ouvido na República obedece à gradação dos celerados: quebrar, incendiar, bater


O PT é um partido da ordem. Ocupa postos-chave na administração que lhe conferem a responsabilidade de manter em funcionamento a sociedade do contrato. Ocorre que esse partido tem a ambição de ser também o monopolista da desordem e, por isso, conserva no Planalto um ministro como Gilberto Carvalho. O secretário-geral da Presidência é o encarregado de fazer a tal "interlocução" com os ditos "movimentos sociais".

Segundo, por exemplo, a ótica perturbada dos coxinhas vermelhos do PSOL e assemelhados --os revolucionários do Toddynho com Sucrilhos--, os petistas fariam, na verdade, um trabalho de cooptação das massas, apropriando-se de sua energia revolucionária e sacrificando-a no altar do capital. É só tolice barulhenta, mas alguns empresários de cabeça oca e bolso cheio de grana do BNDES concordam, a seu modo, com a tese e saúdam o petismo por supostamente conter o povo. Até parece que trabalhador, deixado à sua própria sorte, escolhe Karl Marx em vez de TV LED.

Quem está certo? Os Robespierres de si mesmos ou os oportunistas do subsídio? Ninguém! Os petistas nem sugam a energia revolucionária do povo (isso não existe!) nem a ordenam. Hoje e desde sempre, instrumentalizam insatisfações em favor do fortalecimento do aparelho partidário, que cobra da sociedade uma espécie de taxa de proteção. A prática é mafiosa: "Votem em nós, ou não tem mais Bolsa Família". "Votem em nós, ou não tem mais Bolsa BNDES." Adiante.

Não vou aqui apelar ao nascimento das musas para identificar a gênese das jornadas de junho de 2013, mas a história isenta ainda contará que elas nasceram no momento em que o PT, convocado a dizer "não" à desordem e a se comportar como um partido da ordem, fez exatamente o contrário, articulando-se para que a bomba explodisse no colo de um adversário político --no caso, o governador Geraldo Alckmin. Os esforços do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para desestabilizar e desmoralizar a polícia de São Paulo só não mereceram uma medalha da Honra ao Mérito Petista porque ele foi incompetente e desastrado. O tiro saiu pela culatra.

Não há grupo baderneiro com viés de esquerda que não tenha sido levado ao Palácio do Planalto para conversar. O método consagrado para ser ouvido na República obedece à gradação dos celerados: quebrar, incendiar, invadir, bater e --como esquecer o cinegrafista Santiago Andrade?-- matar. A raiz do caos que viveu São Paulo na terça e na quarta desta semana não está numa disputa por poder num sindicato de motoristas. Isso sempre existiu, com uma penca de cadáveres, diga-se. A gênese dos métodos terroristas empregados está no Palácio do Planalto.

"Ah, a direita sempre quer resolver tudo na porrada!" Não! Esse é Fidel Castro. É Kim Jong-un. É Xi Jinping. Eu acho que as demandas têm de ser resolvidas de acordo com leis democraticamente pactuadas. E penso que só é tolerável que existam um Estado e uma burocracia cara se estes entes puderem manter as regras da civilidade para arbitrar as diferenças. É que não tenho projeto de poder e, portanto, não preciso ser um cafetão do caos.

Na quarta-feira, Carvalho, o interlocutor oficial da desordem, concedeu uma entrevista a "blogueiros". Disse que a imprensa é a responsável pelo "mau humor" dos brasileiros. Acusou ainda o jornalismo de sonegar informações e de investir num "envenenamento mais ou menos generalizado". Para ele, há uma excessiva "editorialização da opinião". Carvalho, o stalinista disfarçado de santarrão de sacristia, acha que uma opinião não pode ser editorializada! Entendo.

Depois ele voltou ao prédio em que despacha a presidente da República para dar continuidade à sua "interlocução" com extremistas minoritários os mais variados, que transformam a vida cotidiana dos brasileiros num inferno. Não há escapatória: o atual nome da baderna é Dilma Rousseff. É quem, podendo mandar muito, não manda nada. Por quanto tempo mais?

Nem frio nem quente - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 23/05

A cada pesquisa eleitoral, a presidente Dilma consolida sua posição de candidata natural à reeleição, afastando pretextos para a atuação da turma do Volta, Lula . Ao mesmo tempo, porém, certos números da mais recente pesquisa do Ibope divulgada ontem indicam dificuldades para sua candidatura.

Enquanto Dilma voltou ao patamar de 40% de preferência do eleitorado, estancando a tendência de queda, o ex-presidente Lula aparece em alguns cenários com um índice de 46%, maior que o de sua sucessora, mas insuficiente para insuflar uma operação tão difícil quanto a substituição de uma presidente da República.

Se levarmos em conta que a margem de erro da pesquisa do Ibope é de 2% para mais ou para menos, temos um cenário de empate técnico entre os dois. É um cenário improvável, mas o fato é que, a cada pesquisa, o índice de Lula aproxima-se do de Dilma, mostrando que a dificuldade de garantir a vitória no primeiro turno é do projeto político, não de uma pessoa.

Claro que as dificuldades só aumentam quando a protagonista é uma presidente que não tem gosto pela política e só negocia com os partidos em situações como as que se apresentam agora, em que precisa desesperadamente de tempo de TV na campanha.

Falando na tal falta de gosto pela política revelada por Dilma, um interlocutor recente de Lula, ao fazer esse comentário, recebeu dele uma resposta interessante: Não gosta, é? , dando a impressão de que, para seu gosto, a presidente Dilma tem demonstrado apego excessivo ao cargo.

Voltando à pesquisa do Ibope, embora se mantenha até o momento no patamar de 40%, o percentual dos que afirmam não votar nela de jeito nenhum está em 33%, enquanto o dos candidatos oposicionistas diminuiu: o do tucano Aécio Neves passou de 25% para 20%, e o do ex-governador Eduardo Campos, do PSB, caiu de 21% para 20%.

Além da rejeição pessoal, Dilma sofre também com a avaliação do governo: o índice dos que o consideram ruim ou péssimo aumentou nessa última pesquisa para 33%, próximo, portanto, dos 35% que acham o governo ótimo ou bom - e também da medida a partir da qual um candidato não se reelege, segundo estudos do cientista político Alberto Carlos Almeida, que é a de 34% ou menos.

Outro empate amargo para a presidente Dilma: 47% dos pesquisados aprovam a maneira como ela vem administrando o país, contra 48% que desaprovam.

Talvez o mais importante ponto desta mais recente pesquisa do Ibope - que, no geral, repete os números das pesquisas anteriores do Datafolha e do Sensus - seja a demonstração de como os programas partidários foram importantes para a redução dos nulos e dos indecisos.

Uma crítica que se fez ao Ibope é que a pesquisa foi realizada no período de campanha petista, inclusive da exibição do já famoso comercial sobre os fantasmas do passado , que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tirou do ar.

Mas o resultado, no final das contas, mostrou mesmo foi a dificuldade que Dilma está encontrando para subir nas pesquisas, ao mesmo tempo em que os dois outros candidatos mais competitivos, Aécio Neves e Eduardo Campos, subiram bem mais que ela pelos critérios do Ibope. O que significaria que os comerciais do PSB e do PSDB exibidos semanas antes da pesquisa ainda sustentaram o crescimento oposicionista.

Dilma, inclusive, cresce apenas marginalmente nas pesquisas de um eventual segundo turno, enquanto seus adversários chegam a dobrar seu índice de apoio, como é o caso de Eduardo Campos. Nesses cenários, cresce o número de indecisos e nulos.

Seria a prova de que, à medida que Aécio e Campos se tornarem mais conhecidos do eleitorado, a taxa de rejeição deles vai se reduzir, e os que hoje rejeitam Dilma se decidirão por um deles.

A força da propaganda na televisão, porém, é mais um ponto a favor da presidente Dilma, que deve ter o triplo de tempo de propaganda do segundo colocado nas pesquisas, o senador Aécio Neves. Mas é também um problema, pois os partidos que fazem parte da base aliada tenderão a vender mais caro ainda cada minuto de televisão.

Ele tem a força - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 23/05

É próximo de 100% o porcentual de políticos, petistas ou não, que apostam na impossibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio da Silva vir a ser candidato a presidente no lugar de Dilma Rousseff.

Contudo, se fosse numericamente possível, ultrapassaria esse índice os que consideram fora de cogitação a hipótese de a presidente vir a obter êxito na reeleição sem a ajuda do antecessor.

Na visão desse pessoal, sozinha ela não se elege. Embora seus interlocutores de partidos aliados percebam a importância da posse da "caneta" com linha direta ao Diário Oficial, consideram tal certeza equivocada.

Portanto, não obstante ela disponha do poder formal, quem tem a força política é ele. Até mesmo para contrariar interesses imediatos do PT em nome do projeto maior representado pela reeleição de Dilma.

Em nome desse plano, recentemente Lula desembarcou no PMDB para uma ofensiva de última hora para tentar mudar a tendência crescente no partido de renunciar à aliança formal em prol da liberdade de apoios das candidaturas de oposição onde lhe convier nos Estados.

A autonomia de cada um nessa altura parece impossível de ser mudada. Mas, nem é isso o mais importante para o governo, que quer mesmo é garantir votos na convenção de 10 de junho por causa do tempo no horário eleitoral, independentemente de como cada seção regional vá atuar.

Lula começou a entrar no jogo na tentativa de inverter a tendência hoje majoritária pelo fim da parceria. A questão é: Lula tem toda essa força e capital de influência para apaziguar as insatisfações e mudar o resultado desse jogo?

Quem conhece muito bem as regras diz que há uma combinação de fatores: a influência de Lula e os números das pesquisas. O primeiro é forte, mas o segundo é determinante.

O ex-presidente decidiu investir pesado nas seções regionais do Rio e Ceará. Na primeira, sem chance de sucesso, dado que o PMDB pede o impossível: a retirada da já consolidada candidatura do senador Lindbergh Farias.

Mas, no Ceará, não é visto como impossível Lula rifar os irmãos Ciro e Cid Gomes para ficar com Eunício Oliveira do PMDB. Seriam 60 preciosos votos na convenção de 10 de junho.

Isso pode mudar o resultado da convenção, cujas contas hoje indicam derrota para o governo. A serventia dos Gomes para o Planalto é bem menor que a prestação de serviços decorrente de aliança com o PMDB.

A paga da paga. A presidente Dilma recebeu anteontem a confirmação do apoio formal do PTB à reeleição. Não pelos seus belos olhos nem pelos ainda mais belos dotes políticos. Em troca da nomeação de um indicado pelo partido na semana passada para uma vice-presidência da Caixa Econômica Federal.

Torcida organizada. A manifestação de José Serra em página de rede social dizendo que será candidato a um cargo no Poder Legislativo não foi suficiente para enterrar as especulações de que possa vir a ser vice na chapa de Aécio Neves.

No mundo político viceja a seguinte leitura: Serra afirmou que nunca pleiteou ser candidato a vice, mas não disse que recusaria se fosse convidado pelo titular da chapa.

Os defensores da união acham que, se Aécio Neves pedir com jeito, vai.

No PMDB a avaliação é a de que, se for, a casa do PT cai. O PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab compartilha da opinião.

A pergunta que se faz é: para Serra, que sempre quis ser presidente, tem inequívoca vocação para o Executivo, já passou diversas vezes pelo Legislativo, é melhor ser vice-presidente ou mais um em meio a tantos integrantes de um Poder desprestigiado?

Dilma e "o resto" - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 23/05

BRASÍLIA - Como previsto aqui, mais de uma vez, Dilma não só estancou a queda nas intenções de voto como começou a recuperar parte do capital perdido. A recuperação, porém, é lenta, insuficiente para acalmar os ânimos de Lula, do Planalto e da campanha petista.

O Ibope desta quinta (22/5) apontou Dilma com 40% (três pontos a mais do que na última rodada), Aécio com 20% (seis a mais) e Eduardo Campos com 11% (cinco a mais).

A boa notícia para a candidata à reeleição, eixo sobre o qual gira todo o processo, é que reconquistou uns pontinhos e manteve de pé a hipótese de vitória no primeiro turno. A má é que foi pouco para tamanho esforço da presidente candidata, que teve superexposição, pré-lançamento e anúncio de verbas para a safra e para saneamento básico, além do programa de medos e fantasmas na TV.

Para a oposição, a boa notícia é a confirmação de que, quanto mais conhecido, mais Aécio sobe. E de que Eduardo Campos, que tem partido menos lustroso e menos exibição, está no páreo, devagar e sempre. A má notícia é que a Copa e o recesso parlamentar vêm aí, com a perspectiva de congelamento das intenções de voto num patamar favorável a Dilma. Ninguém deve disparar nem despencar, o que, claro, convém a quem lidera as pesquisas.

Enquanto rolam greves variadas, manifestações difusas e o clima de insatisfação --nada animadoras para os projetos de reeleição de presidentes e governadores--, Dilma tem à mão instrumentos de poder.

Vai continuar brilhando em eventos no Planalto, colhendo apoios formais de partidos já aliados, dando notícias de caráter popular e ganhando espaço com jantares para jornalistas. Aécio nem mais a CPI tem para surfar, e Campos nem mesmo com isso contava muito.

A questão central, portanto, continua sendo a mesma. Dilma se recupera, mas o quanto? Bateu no teto aos 40%? À oposição cabe sempre trabalhar com "o resto".

Aos trancos e barrancos - ROGÉRIO FURQUIM WERNECK

O GLOBO - 23/05

Deficiências indisfarçáveis levam governo a passar da negação à racionalização


Dentro de duas semanas, o país estará a exatos quatro meses das eleições. No Planalto, a fantasia de que o término do mandato seria marcado por um grand finale foi abandonada há muito tempo. O governo já não alimenta ilusões. Está perfeitamente consciente de que tem uma travessia muito difícil pela frente. Dar-se-á por satisfeito se, nessa reta final, puder continuar avançando aos trancos e barrancos até a linha de chegada, sem que as coisas fujam ao controle em áreas mais problemáticas. Além de torcer para que a Copa não enseje um turbilhão de inquietação social, a presidente reza a cada dia para que os céus não a obriguem a impor um racionamento de energia elétrica em meio à campanha eleitoral.

Tendo em vista as evidências cada vez mais contundentes de deficiência na atuação do governo em várias áreas, o Planalto parece ter dado sinal verde para que seus porta-vozes passem da fase de negação à de racionalização. Mas explicar o inexplicável não tem sido fácil, como bem ilustram esforços recentes de dois porta-vozes de alto coturno.

Em longa e belicosa entrevista concedida à “Folha de S.Paulo’’ em 14 de maio (disponível, na íntegra, em folha.com/no1453855), o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, fez o que pôde para racionalizar aspectos especialmente indefensáveis da política econômica do governo. Sem sucesso. Os pontos altos foram a denúncia da existência no país de uma “campanha pró-inflação’’, promovida por “quem tem interesse em aumentar a taxa de juros’’, e a racionalização do represamento de preços e tarifas controlados pelo governo. Uma pérola. “Deixa eu dizer uma coisa, preços administrados são preços administrados. Porque o conceito é este, você administra em função do interesse estratégico da economia, dos consumidores...” E, mais adiante: “preços administrados são administrados em função do esforço de fazer uma política anticíclica’’. Afirmação que só faria algum sentido se fosse alusão, em ato falho, ao ciclo eleitoral, que é o que, de fato, explica o represamento.

Entendidas como reconhecimento inequívoco de que o governo está represando preços e tarifas, as ineptas explicações do ministro-chefe da Casa Civil foram prontamente repelidas pelo ministro da Fazenda. Guido Mantega continua acreditando que, nessa questão, ainda há muito espaço para insistir na negação. Não vê razão para já passar à fase de racionalização.

O que, sim, já não pode ser negado é o gritante despreparo com o que o país terá de enfrentar o desafio de sediar a Copa do Mundo dentro de três semanas. Alarmado com a precariedade da infraestrutura, o secretário-geral da Fifa, Jérome Valcke, achou prudente alertar torcedores estrangeiros que pretendem vir ao Brasil. “Não apareça pensando que é fácil se locomover.’’ Foi o que bastou para que o ex-presidente Lula se mobilizasse. E oferecesse uma racionalização completamente estapafúrdia para o fato de que a tão prometida infraestrutura de transporte de massa que estaria acoplada aos estádios não será entregue. “Brasileiro nunca teve problema’’ para chegar aos estádios, arguiu Lula. “Vai a pé, descalço, de bicicleta, de jumento, de qualquer coisa. Mas o que a gente está preocupado é que tem que ter metrô, tem que ir até dentro do estádio? Que babaquice é essa?” (“Folha de S.Paulo’’, 17 de maio).

É bem provável que Lula considere tal “argumento” um achado. Afinal, pode ser reaplicado a toda e qualquer deficiência que venha a ser cobrada do governo. No âmbito da Copa, serviria também para justificar por que os aeroportos não estarão prontos, os estádios não terão rede adequada de internet móvel e os jornalistas estrangeiros não contarão com condições apropriadas de trabalho.

Muito pior ainda será se o mesmo “argumento” vier a ser aplicado a outras mazelas bem mais sérias que as da Copa. Querer inflação na meta, realismo na gestão dos preços administrados, credibilidade nas contas públicas, oferta confiável de energia elétrica e uma economia que cresça a taxas menos pífias? “Que babaquice é essa?”

Esses babacas do metrô - FERNANDO GABEIRA

O Estado de S.Paulo - 23/05

Houve um tempo em que esperávamos a Lua entrar na sétima casa, Júpiter se alinhar com Marte e a paz reinar no planeta. Era a aurora da era de Aquarius. Aquarius, Aquarius. As mulheres arrancando os sutiãs, os homens com calça boca de sino, cavalos da polícia dançando, tudo porque a Lua tinha, finalmente, entrado na sétima casa.

Nossas esperanças hoje são mais prosaicas. Em vez de Júpiter se alinhar com Marte, contemplamos o alinhamento da Copa do Mundo com as eleições no Brasil. E os nervos estão mais sensíveis. Na cúpula, governo e Fifa se estranham. Para Jérôme Valcke, o contato com as autoridades brasileiras foi um inferno. Para Dilma Rousseff, Valcke e Joseph Blatter são um peso.

É o tipo de divórcio que não se resolve com as cartomantes que trazem de volta a pessoa amada em três dias. Eles se distanciam num mero movimento defensivo. Quem será o culpado se as coisas não derem certo?

Dilma, com a Copa das Copas, quer enfrentar a eleição das eleições e põe toda a sua esperança nos pés dos atletas. A Fifa não gostaria de entrar numa gelada no Brasil, mesmo porque o Qatar a espera com calor de 52 graus. Seriam dois fracassos seguidos, pois Blatter já admitiu que o Qatar foi um erro.

Essa conjunção histórica está levando a uma certa irritação da cúpula conosco, que não inventamos essa história. Blatter declarou que os brasileiros precisavam trabalhar mais porque as promessas de Lula não foram cumpridas. Nada mais equivocado do que essa visão colonial. Se Blatter caísse no Brasil e vivesse nossa vida cotidiana, constataria que trabalhamos muito mais que ele mesmo, um cartola internacional. Desde quando o objetivo do nosso trabalho é cumprir as promessas de Lula?

A tática de Lula é diferente da de Blatter. Lula não critica nossa insuficiência no trabalho, mas nossas aspirações de Primeiro Mundo. Ele, que vive espantando o complexo de vira-latas, apossando-se politicamente de uma frase de Nelson Rodrigues, nos convida agora a reviver o espírito que tanto condena: "Querer vir de metrô ao estádio é uma babaquice. Viremos a pé, de jumento...". Para Blatter, precisamos trabalhar mais; para Lula, desejar menos. Só assim nos transfiguramos na plateia perfeita para o espetáculo milionário.

Lula começou sua carreira falando em aspirações dos mais pobres, hoje prega o conformismo. Não é por acaso que o PT faz anúncios inspirados no medo de o adversário vencer as eleições. Não há mais esperança, apenas um apego desesperado aos carguinhos, à estrutura do Estado, aos grandes negócios.

No passado exibi um filme em que Lula e Sérgio Cabral dialogam com um garoto do Complexo da Maré. Eles entram em discussão, Cabral ofende o jovem e Lula diz ao garoto que gostava de jogar tênis: "Tênis é um esporte de burguês". Na cabeça de Lula, o menino tinha de se dedicar ao futebol. Outras modalidades seriam reservadas aos ricos. Se pudesse livrar-se de seus aspones e andar um pouco até a Baixada Fluminense, veria um campo de golfe em Japeri onde atuam dezenas de garotos pobres da região. Dali saem alguns dos melhores jogadores de golfe do Brasil.

Lá por cima, pela cúpula, muito nervosismo, uma certa impaciência com um povo que não se ajusta ao espetáculo. Estão mais ansiosos que os próprios jogadores para que o juiz dê o apito inicial. Nesse momento, acreditam, o Brasil cai num clima de festa. Com a vitória da seleção o Brasil entraria num alto-astral e os carguinhos, os grandes negócios, tudo ficaria como antes.

Li nos jornais algumas alusões à Copa de 70, a que assisti na Argélia. De fato, o PT vai se agarrar à seleção como o governo Médici o fez naquela época.

Mas já se passaram tantos anos, o Brasil mudou tanto, e o alinhamento das eleições com a Copa, organizada pelo País, tudo isso traz novidades que a experiência de 1970 não abarca.

Estamos entrando num momento inédito. Dilma é vaiada em quase todo lugar por onde passa. Lula está visivelmente ressentido com o povo, que não o celebra pela realização da Copa; que é babaca a ponto de desejar ir de metrô ao estádio.

Não importa qual deles venha. "Que vengan los toros", como dizem os espanhóis. Não importa quantos gols nosso ataque faça - e espero que sejam muitos -, a glória do futebol não obscurece mais nossas misérias políticas e sociais. Se os idealizadores da Copa no Brasil fizessem uma rápida pesquisa, veriam que o sonho de projetar a imagem de um país pujante e pacífico está ardendo nas fogueiras das ruas, na violência das torcidas, no caos cotidiano nas metrópoles, nos relatos sobre a sujeira da Baía de Guanabara.

O governo do PT e aliados não poderá esconder-se atrás do futebol, porque eles já foram descobertos antes de a Copa começar. A Copa do Mundo não sufoca as denúncias de corrupção porque a própria Copa está imersa nela. A Fifa, com Jérôme Valcke sendo acusado de venda irregular de jogadores, não ajuda. Até o técnico Felipão caiu nas redes do fisco português.

O sonho de uma plateia ideal para a Copa, milhares de pessoas com bandeirinhas, de um eleitorado ideal que vota sempre nos mesmos picaretas, de torcedores ideais que vão a pé ou de jumento para estádios bilionários, esse sonho entra em jogo também. Assim como aquele de projetar a imagem positiva do Brasil, o sonho de uma plateia ideal para a Copa foi por terra. Nem todos cantam abraçados diante das câmeras.

Começou um jogo delicado em que a Copa do Mundo é apenas uma etapa. Valcke vai viver o inferno nos 52 graus do Qatar e Dilma enfrentará a eleição das eleições, a qual precisa vencer, mas não para de cair.

A Lua entrou na sétima casa e não veio o paraíso. As eleições se alinham com a Copa, como Júpiter e Marte, e o Brasil, num desses momentos de verdade decisivos para sair dessa maré. Se estão nervosos agora, imagino quando as coisas esquentarem.

Os babacas que querem ir ao estádio do metrô podem querer também um governo limpo, um combate real à corrupção, serviços públicos que funcionem.

Babacas, felizmente, são imprevisíveis.

Cotas e conveniências - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 23/05

Num gesto populista e com prováveis consequências negativas para o país, o Congresso aprovou projeto de lei que reserva aos negros 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos federais, incluindo os de autarquias, fundações e estatais, como a Petrobras. Consta que a presidente Dilma Rousseff (PT) sancionará a proposta em breve.

Apresentado pelo governo, o texto não esconde seu viés militante. Marginaliza os conceitos "pretos" e "pardos", tradicionalmente utilizados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e consagrados na lei que fixa cotas em universidades federais, e usa, em seu lugar, o genérico "negros".

O termo é enganoso. Resultante da soma de pretos (7,6% da população, segundo o Censo 2010) e pardos (43,1%), escamoteia o fato de que estes últimos não são nem "negros" nem "brancos".

O aspecto mais problemático vem a seguir. Como de costume nesses casos, o critério de elegibilidade às vagas reservadas é a autodeclaração; só que, a fim de coibir fraudes, o projeto determina que serão eliminados aqueles que prestarem declarações falsas.

Ou seja, pretende-se instaurar uma espécie de tribunal racial apto a julgar se os candidatos "negros" são mesmo pretos ou pardos.

A proposta é das mais infelizes. Já não seria pouco lembrar que inexistem definições jurídicas ou científicas do que sejam negros, pardos e brancos. Num país miscigenado como o Brasil, a busca por fronteiras étnicas mais cria problemas do que os resolve. Introduz um odioso fator de cisão social.

Não se ignora o racismo presente na sociedade brasileira; qualquer cruzamento dos dados de raça com indicadores de sucesso socioeconômico o evidencia. É um despropósito, porém, combater esse tipo de desigualdade realçando diferenças calcadas na cor da pele –justamente o que se quer superar.

Se há boas razões para tentar compensar desvantagens relacionadas à condição social –e esta Folha reconhece os méritos das cotas sociais–, não faz sentido privar pobres brancos desse benefício.

Mesmo os que defendem ações afirmativas baseadas em origem étnica, entretanto, têm dificuldades para estender a lógica das universidades aos postos de trabalho. Trata-se, na educação, de melhorar as possibilidades competitivas, inclusive de empregos, daqueles prejudicados pela origem familiar.

Em particular no serviço público, a meta da autoridade que faz a seleção deve ser a de recrutar o candidato –seja qual for a cor de sua pele– mais capaz, que possa oferecer o melhor serviço ao cidadão que paga seu salário. O princípio da meritocracia, nesses casos, não pode ser enfraquecido; muito menos a título de satisfazer conveniências políticas e eleitorais.


Competitividade em queda livre - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 23/05
É difícil de aceitar. O Brasil anda para trás no ranking da competitividade. Pelo quarto ano seguido, o país cai no cenário internacional. É o 54º colocado na lista de 60 Estados do International Management Development (IMD), de Lausanne, na Suíça, à frente apenas de Eslovênia, Bulgária, Grécia, Argentina, Croácia e Venezuela. Há quatro anos, figurava na 38ª posição. Com o retrocesso, pela primeira vez ficou entre os 25% piores do relatório.
O estudo se baseia em dados estatísticos relativos a mais de 300 indicadores e em pesquisas de opinião com executivos. Em outras palavras: apoia-se em números da economia e na percepção da classe empresarial. O Brasil não logrou melhoras em nenhum dos quatro pilares em que se sustenta a pesquisa - infraestrutura, desempenho da economia, eficiência do governo e eficiência empresarial. A maior queda ficou com o último item - nove pontos.

Ela se deve à combinação de dois fatores. Um deles: o pífio desempenho do PIB nos últimos três anos - 2,7% em 2011, 1% em 2012 e 2,3% em 2013. O outro: o crescimento do emprego de baixo valor agregado (mão de obra de pouca qualificação). Significa que produzimos bens de menor tecnologia, que satisfazem o consumidor interno menos exigente, mas perdem espaço no mercado internacional, cada vez mais competitivo e sofisticado.

Embora não surpreendam nem a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os dados acendem sinal de alerta que não pode ser ignorado. A perda gradativa da capacidade de exportar tira do Brasil o papel de player global. Em 2014, o país ficou na rabeira em dois indicadores: Taxa de Comércio Internacional pelo PIB (último lugar) e Exportação de Produtos pelo PIB (penúltima posição).

Não faltam diagnósticos para soltar o freio da economia. De um lado, há que melhorar o ambiente de negócios. Carga tributária escorchante, taxas de juros altas, burocracia esmagadora, custos trabalhistas elevados, ineficiência do trabalhador, infraestrutura precária contribuem para inibir investimentos indispensáveis à produção.

Além da ineficiência da máquina do governo, outras questões afetam o desempenho nacional. Um deles é a energia. Há a percepção de que o insumo não só subirá de preço, mas também pode faltar. Outro é a violência crescente e a insegurança pública. Também conta - e muito - a falta de excelência da educação, que condena o país à ineficiência e à produção de bens cujo preço não corresponde à qualidade.

Trata-se de cenário preocupante, cuja melhora não se vislumbra a curto prazo. Adiar providências é retardar soluções. Impõe-se agir. O jeitinho e a procrastinação tornaram-se soluções caducas. O século 21 exige conhecimento, tecnologia e inovação.

Lições e alertas na onda de greves - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 23/05

Não se deve menosprezar o papel que uma inflação alta e persistente, por opção do governo, e principalmente nos serviços, cumpre neste surto de paralisações



Há poucos registros, nos últimos tempos, de uma sucessão de greves como a atual. Policiais pararam em Pernambuco, e a ausência de policiamento deu margem a saques no comércio do Recife; motoristas de ônibus, primeiro no Rio, depois em São Paulo, transtornaram a vida de centenas de milhares de pessoas nas duas maiores cidades do país; professores também voltam a cruzar os braços. E talvez a temporada de paralisações vá além.

É inútil procurar uma explicação única para o surto grevista, pois costuma haver peculiaridades em cada movimento. Em São Paulo, assim como no Rio, por trás da greve de ônibus, movimento típico contra o povo, há conflitos entre grupos de sindicalistas — mais violento no caso paulista, onde já houve morte e tiros, na luta pelo acesso ao dinheiro fácil e copioso do imposto sindical. Mas no Rio, o número de veículos depredados e incendiados foi enorme. É possível, também, detectar a ação de políticos que usam categorias, e grupos radicais estimulados pelas manifestações de junho do ano passado, para atingir objetivos eleitorais em outubro.

Mas não se pode menosprezar a ajuda que a inflação dá ao discurso grevista de lideranças sindicais. Os efeitos da leniência voluntária com a alta dos preços assumida pelo governo Dilma teriam, então, chegado às ruas.

Entendeu-se em Brasília que uma inflação acima da meta dos 4,5%, mais próxima do teto de 6,5%, permitiria um crescimento mais acelerado, porque os juros estariam mais baixos. Não funcionou, como se sabe. A economia esfriou, os juros tiveram de subir e a inflação anualizada não cede.

Para piorar, os preços específicos de “serviços” rodam hoje na faixa dos 9% anuais, e já há algum tempo correm acima dos 7%. Ora, o orçamento das pessoas sofre impactos diretos toda vez que encarecem alimentos e serviços. Os alimentos obedecem à sazonalidade de safras, mas o preço do cabeleireiro, o custo de consertos domésticos, as tarifas de telefone, luz e gás, estes apertam o bolso da classe média, aquela reforçada pela estabilização da moeda, durante FH, e ampliada pelos gastos sociais de Lula e Dilma. Se a inflação média (6,5%) já é muito alta, a específica do custo de manutenção das famílias ultrapassou o aceitável. E este é um problema que a baixa taxa de desemprego não resolve.

Além de alertar para a inflação, as greves, no caso as de ônibus, denunciam a falência da estrutura sindical getulista, já criticada por Lula e PT antes de desembarcarem em Brasília.

Ficou em xeque o princípio da unicidade sindical, o direito ao monopólio da representação de trabalhadores por região. Pois os sindicatos formais, em Rio e São Paulo, aceitaram as propostas patronais de aumento, mas as categorias entraram em greve assim mesmo, conduzidas por outros líderes. Mais grave: a Justiça não tem a quem acusar pelos desvios na paralisação. Vive-se um momento rico em ensinamentos.