segunda-feira, janeiro 27, 2014

O alegre rolezinho dos hipócritas - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA


Os brasileiros, esses crédulos, achavam que o governo popular parasitário do PT jamais alcançaria os padrões de cara de pau do chavismo. Quando o governo venezuelano explicou que estava faltando papel higiênico no país porque o povo estava comendo mais, os brasileiros pensaram: não, a esse nível de ofensa à inteligência nacional os petistas não vão chegar. Mas o Brasil subestimou a capacidade de empulhação do consórcio Lula-Dilma. E o fenômeno dos rolezinhos veio mostrar que o céu é o limite para a demagogia dos oprimidos profissionais.

A parte não anestesiada do Brasil está brincando de achar que o populismo vampiresco do PT não faz tão mal assim. E dessa forma permite que a presidente da República passe o ano inteiro convocando cadeia obrigatória de rádio e TV. Como no mais tosco chavismo, Dilma governa lendo teleprompter. Fala diretamente ao povo, recitando os contos de fadas que o Estado-Maior do marketing petista redige para ela. Propaganda populista na veia, e gratuita, sem precisar incomodar Marcos Valério nenhum para pagar a conta.

Só mesmo numa república de bananas inteiramente subjugada é possível um escárnio desses. O recurso dos pronunciamentos oficiais do chefe da nação existe para situações especiais, nas quais haja uma comunicação de Estado de alta relevância (ou urgência) a fazer. Dilma aparece na televisão até para se despedir do ano velho e saudar o ano novo – ou melhor, usa esse pretexto para desovar as verdades de laboratório de seus tutores. Mas agora, com a epidemia dos rolezinhos, o canal oficial da demagogia está ligado 24 horas.

Eles não se importam de proclamar na telinha que a economia está indo de vento em popa, com os números da inflação de 2013 estourando a previsão e gargalhando por trás da TV. Mas a carona nos rolezinhos é muito mais simples. Basta escalar meia dúzia de plantonistas da bondade para dizer que as minorias têm direito à inclusão no mundo capitalista – e correr para o abraço. Não se pode esquecer que o esquema petista vive das fábulas dos coitados. Delúbio Soares, hoje condenado e preso por corrupção, disse que o mensalão era "uma conspiração da direita contra o governo popular".

O rolezinho é um ato de justiça social, assim como o papel higiênico acabou porque os venezuelanos comeram muito. E a desenvoltura dos hipócritas do governo popular no caso das invasões de shoppings está blindada, porque a burguesia covarde e culpada é presa fácil para o sofisma politicamente correto. Os comerciantes dos shoppings, lesados pela queda do consumo e até por furtos dos jovens justiceiros sociais, estão falando fininho. Estão sendo aviltados por uma brutalidade em pele de cordeiro, por uma arruaça fantasiada de expressão democrática, e têm medo de fazer cumprir a lei.

A ministra dos Direitos Humanos, como sempre, apareceu como destaque no desfile da demagogia petista. Maria do Rosário defendeu os rolezinhos nos shoppings e "o direito de ir e vir dessa juventude".

A ministra está convidada a passear num shopping onde esteja acontecendo o ir e vir de 3 mil integrantes dessa juventude. Para provar que suas convicções não são oportunismo ideológico, Maria do Rosário deverá marcar sua próxima sessão de cinema ou seu próximo lanche com a família num shopping center invadido por milhares de revolucionários do Facebook, protegidos seus. Se precisar trocar as lentes de seus óculos, Maria do Rosário está convidada a se dirigir à ótica num shopping que esteja socialmente ocupado por um rolezinho.

Se a multidão não permitir que a ministra chegue até a ótica, ou se a ótica estiver fechada por causa do risco de assalto, depredação ou pela falta de clientes, a ministra deverá voltar para casa com as lentes velhas mesmo. E feliz da vida, por não ter de enxergar seu próprio cinismo socialista.

Shoppings fechados em São Paulo e no Rio por causa dos rolezinhos são a apoteose da igualdade (na versão dos companheiros): todos igualmente privados do lazer, todos juntos impedidos de consumir cultura, bens e serviços num espaço destinado a isso. É a maravilhosa utopia do nivelamento por baixo. O jeito será importar shoppings cubanos – que vêm sem nada dentro, portanto são perfeitos para rolezinhos.

"Não fui eu" - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA


Nada como o fracasso para trazer à luz do sol alguns dos defeitos mais desagradáveis que o ser humano esconde nos subúrbios distantes da sua alma. Diz-me como lidas com teus fracassos, e eu te direi quem és — eis aí o resumo da ópera, numa adaptação do velho provérbio sobre as más companhias. De fato, é quando as coisas complicam que fica mais fácil dividir o bom do mau caráter. Personalidades construídas com material de primeira qualidade sabem que o fracasso, em si, não é fatal; é apenas o resultado dos erros de julgamento de todos os dias, e, portanto, deve ser enfrentado com a disposição de fazer mudanças, adquirir mais conhecimento, ouvir mais gente e assim por diante. Mas sabem, também, que o fracasso pode ser um pecado mortal quando o seu autor não admite que fracassou, ou nega que tenha havido realmente um fracasso, ou, pior que tudo, põe a culpa do fracasso nos outros. Seu mandamento principal é uma frase muito ouvida nas salas de aula infantis: "Não fui eu". São pessoas fáceis de encontrar. Um dos seus habitats é o governo.

A presidente Dilma Rousseff, por exemplo, não perde nenhuma oportunidade de dizer "não fui eu". O ano de 2013, para ir direto ao assunto, foi uma droga. O PIB cresceu abaixo de 2,5% — quase metade do que o governo tinha prometido no começo do ano. O saldo da balança comercial teve o pior resultado desde 2000, com uma queda de quase 90% em relação a 2012. Num tipo de molecagem contábil cada vez mais comum, registrou-se como "exportação" a venda de equipamento que nunca saiu do território nacional. Em dólar, mesmo, não entrou um centavo no Brasil. Mas no papelório oficial consta o ingresso de quase 8 bilhões, sem os quais, aliás, teria havido déficit na balança de 2013. Outros truques parecidos fazem do Brasil um aluno promissor da Escola de Contabilidade Cristina Kirchner.

Pela primeira vez em dez anos, caíram as vendas de carros. O contribuinte pagou 1,7 trilhão de reais em impostos — a maior soma de todos os tempos. Os brasileiros gastaram cerca de 25 bilhões de dólares no exterior, quatro vezes mais do que os estrangeiros gastaram aqui — e qual a surpresa, quando ficou mais barato comprar um enxoval em Miami do que em Botucatu? A maior empresa do Brasil, a Petrobras, teve um desempenho calamitoso: em apenas um ano, de 2012 a 2013, foram destruídos 40 bilhões de reais do seu valor de mercado. O Brasil (que Lula, em 2006, proclamou "autônomo" em petróleo, e já pronto para "entrar na Opep") importou 40 bilhões de dólares em petróleo e derivados em 2013.

A presidente, cada vez mais, dá a a impressão de estar passeando num outro planeta. Segundo Dilma, 2013 até que foi um ano bem bonzinho, e o que pode ter acontecido de ruim não foi culpa dela, e sim da "guerra psicológica" que teria sofrido. Foram condenados, também, os "nervosinhos" — gente que, segundo o ministro Guido Mantega, fez cálculos pessimistas para as contas públicas de 2013. Veio, então, com uns miseráveis decimais acima das tais previsões — que, de qualquer forma, ficaram muito abaixo da meta prometida. Os juros foram a 10,5% ao ano, a inflação voltou a roncar e o Brasil pode perder o seu sagrado "grau de investimento" em 2014.

A estratégia econômica resume-se hoje a repetir a ladainha de sempre sobre o desemprego de "apenas 4,6%", que na verdade parece ser de 7%, e o aumento de renda que levou "milhões de brasileiros" a sair da miséria e subir à "classe média". Chega a ser piada de humor negro misturar dados de desemprego no Brasil e em países do Primeiro Mundo, para vender a ilusão de que "estamos melhor que eles". O que adianta isso, quando o abismo entre nosso bem-estar e o do mundo desenvolvido continua igual? Da "subida social" dos brasileiros, então, é melhor nem falar. Falar o quê, quando o governo decidiu que faz parte da classe média todo cidadão que ganha de 291 reais por mês a 1019? A presidente quer que acreditemos no seguinte disparate: a pessoa entra na classe média se ganhar menos da metade do salário mínimo por mês; se ganhar 1020 reais, já fica rica.

A presidente Dilma daria um enorme passo adiante se deixasse entrar na própria cabeça a ideia de que um fracasso é apenas um fato, e não um julgamento moral. Ninguém se torna um ser humano melhor porque acerta, ou pior porque erra. Mas no Brasil o que vale não é enfrentar o fracasso lutando pelo sucesso. Melancolicamente, o que funciona é negar a derrota e chamar a marquetagem para dar um jeito nas coisas. O resultado são anos como 2013.

Imagina nas Olimpíadas - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA


"Eles tratam a gente igual a gado". Vanessa Rocha, cozinheira, foi uma das 600 mil vítimas do inferno do transporte no Rio de Janeiro. Um trem descarrilou, bateu num poste de energia e interrompeu todo o sistema sobre trilhos. Durante 11 horas! Sem plano alternativo, sem orientação, a multidão que sai de casa com o dinheiro contado para a passagem de ida e volta se sentiu desrespeitada. O caos se instalou sob uma sensação térmica e emocional de 50 graus.

Vanessa saiu da Zona Oeste do Rio às 4 horas, para chegar ao emprego às 5h30. Às 8 horas, ainda caminhava nos trilhos. Suada. Esgotada. Revoltada. Sem dinheiro para pagar uma passagem de ônibus. Sem informação da SuperVia, empresa que administra os trens do Rio e que ganhou a concessão até 2048. A Odebrecht é dona de 60% da concessionária. De super, a empresa não tem nada. Talvez apenas SuperIncompetente. Vanessa não chegou a ver a cena que revoltou ainda mais os cariocas: o secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, esbanjando sorrisos com o presidente da SuperVia, Carlos José Cunha, nos trilhos vazios. Riam de quê?

Carlos José Cunha não mexe um músculo facial quando fala sobre descarrilamentos e problemas técnicos. Chegarão novos trens, estamos gastando não sei quantos bilhões, são investimentos "de longa maturação". A multa, quando é aplicada, nem faz cócegas. O secretário Júlio Lopes sai pela tangente: "Décadas de abandono". O Rio foi abandonado? Foi. Mas não dá para tratar a multidão como gado.

Muitos trens em decomposição. Sem ar-condicionado. Atrasos constantes. Péssimo sistema de som. Num acidente grave, passageiros ficam parados 40 minutos dentro do trem no calor. Gente passa mal. Jovens incitam ao quebra-quebra. Multidão é obrigada a descer. Alto-falante só diz: "A SuperVia agradece pela preferência".

Acidentes urbanos acontecem no mundo todo. O problema, tanto no Rio quanto em outras cidades brasileiras, é a falta de um plano imediato de contingência e a falta de informação. Não só nas grandes linhas. Lembra o trenzinho vermelho para o Corcovado? Parou na virada do ano. Durante duas horas, turistas brasileiros e estrangeiros ficaram na mata no escuro. Sem a menor ideia de quando o pesadelo acabaria. Era o reality "Brazil". Passaram para outro trenzinho usando a luz dos smartphones, porque nem lanterna havia. E o Cristo foi privatizado. Imagina nas Olimpíadas.

Quando há acidentes de carro nas avenidas do Rio – isto é, a cada minuto –, não há, como nas cidades civilizadas, painéis eletrônicos avisando para voltar ou pegar rotas alternativas. Só quem tem acesso ao Google dentro do carro consegue saber o que está bloqueando o trânsito. Para que serve a tecnologia do centro futurista da prefeitura? Imagina nas Olimpíadas.

A espuma espessa e a coloração marrom de nossos mares não fazem mal algum, diz o governo. São apenas algas, um fenômeno típico e sazonal do Rio de Janeiro! Saiu publicada a carinha das algas microscópicas que produzem a espuma nojenta quando o mar bate nas pedras. Biólogos desmentem a versão oficial. Segundo eles, a alga só vira espuma em blocos quando misturada à poluição humana. Na semana passada, vimos uma imagem assustadora: uma cachoeira de esgoto caindo do Morro do Vidigal direto no mar de São Conrado. Autoridades se apressaram a fechar o "cano rompido" e a prometer que o esgoto in natura seria lançado "lá fora". E de fora não vem para dentro?

Fico pensando nas modalidades esportivas nas águas – mar, lagos, lagoas, baía. Alguém viu as ilhas de cocô nas lagoas da Barra e do Recreio, em fotos aéreas? Para onde foram todos os bilhões e bilhões que iriam despoluir as lagoas e a Baía de Guanabara? Imagina nas Olimpíadas.

Alguém viu o teleférico parado no Morro da Providência? Ficou pronto em maio do ano passado. Custou R$ 75 milhões. Foi concebido para ligar a Cidade do Samba, a Central do Brasil e a Providência. Mas até hoje não saiu do lugar. As gôndolas estão lá há oito meses, como um monumento à incompetência. "É o museu do teleférico, só para a gente ver", disse Luciana Ribeiro, moradora da Providência, que sobe o morro a pé. O prefeito Eduardo Paes pessoalmente testou o bondinho em dezembro de 2012. A prefeitura esclareceu que está "finalizando o modelo de operação para atender à comunidade". Imagina nas Olimpíadas.

O alemão Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional, chegou ao Rio no dia da pane na SuperVia. "O que está acontecendo no Rio?", perguntou. Bach confia que, "se cada dia for utilizado adequadamente, tudo estará pronto" antes dos Jogos.

Nem é preciso imaginar o que vai acontecer na Copa. A gente já sabe. A criatividade anda solta. Aeroporto do Ceará poderá ter terminal de lona. O país do circo arrasa! Esqueça 2014, porque os prazos foram para o beleléu. Pense em 2016. Imagina nas Olimpíadas.

Menos Estado e mais mercado - RODRIGO CONSTANTINO

REVISTA VEJA


O preço das passagens aéreas no Brasil, impulsionado pela proximidade da Copa, disparou, e o governo ameaça as empresas do setor com uma possível abertura para a concorrência externa. Se o governo sabe que a entrada de novos competidores resultaria na queda das tarifas para os consumidores, por que não deixa que as empresas estrangeiras entrem logo de uma vez? O absurdo dessa situação salta aos olhos. Temos aqui um caso em que o próprio governo intervencionista reconhece que, deliberadamente, prejudica os consumidores brasileiros com o objetivo de proteger as empresas domésticas da competição externa.

A livre concorrência é o melhor aliado que os consumidores possuem. Quanto mais empresas tiverem de competir para atender à demanda, melhores terão de ser os serviços prestados, e menor terá de ser o preço cobrado. Poder trocar de fornecedor é a arma mais poderosa dos clientes.

Oligopólios, por outro lado, tendem a obter privilégios à custa de seus consumidores, e não precisam se preocupar tanto com a qualidade e o custo de seus produtos. Não se perca também de vista o fato de que oligopólios precisam da mão estatal para se manter. O protecionismo, portanto, é o melhor amigo das grandes empresas próximas do governo, e o maior inimigo dos consumidores e pagadores de impostos. Isso vale para diversos produtos. Recentemente, o vinho importado sofreu aumento de imposto para beneficiar produtores locais. Temos cotas para filmes nacionais. O BNDES destina bilhões de reais subsidiados para grandes grupos. Ser "amigo do rei" no Brasil vale mais que investir em eficiência.

A economia brasileira é uma das mais fechadas do mundo. Por trás disso está a mentalidade obtusa segundo a qual tudo o que empresário quer é explorar o consumidor, que, coitado, só tem o governo para protegê-lo. Se for empresário estrangeiro, então, pior ainda: a xenofobia garante uma cota extra de aversão. As intenções não são relevantes. Decisivo mesmo é o mecanismo de incentivos em jogo. Depositar todas as esperanças nas ações que o governo pode tomar para proteger o consumidor é prejudicial ao próprio consumidor, mesmo assumindo a premissa, absurda de tão simplista, de que os empresários são egoístas e os governantes altruístas.

A experiência mostra que a livre concorrência é capaz de impor uma conduta de eficiência às empresas que, ao fim e ao cabo, beneficiará os consumidores. Caso tente escapar da disciplina imposta pelo mercado, o empresário terá a falência como destino. Por outro lado, mesmo o mais abnegado dos políticos, se quiser conservar seu mandato, precisará focar sempre as próximas eleições. Essa limitação encurta seu horizonte e o leva a tomar ou apoiar ações que, a despeito do interesse do consumidor, o ajudem a conseguir a reeleição, seu objetivo primordial.

No setor privado, a incompetência precisa ser punida e a eficiência recompensada. Sem adotar como norma a meritocracia, uma empresa não pode sobreviver no regime de mercado. Já no setor público, a norma é pôr nos outros a culpa pelos próprios erros e depois, na incapacidade de executar suas funções nas condições estabelecidas, pedir aumento de verba. O contraste é evidente. O setor privado precisa de competição para viver, enquanto o setor público vive para evitar a competição.

Pode-se argumentar que as empresas brasileiras precisam de proteção e subsídios para amenizar um pouco o "custo Brasil". É duro competir internacionalmente tendo sobre os ombros o peso de uma mão de obra pouco qualificada, leis trabalhistas obsoletas, infraestrutura capenga, carga tributária escandinava (para serviços africanos), um mercado de capitais subdesenvolvido e uma burocracia asfixiante. A maneira eficiente de combater esses males é atacá-los pela raiz. Ou seja, exigir reformas estruturais urgentes que equiparem o custo Brasil ao custo mundo. Não adianta contar com a boa vontade em conta-gotas e privilégios do governo. As benesses são apenas para os grandes grupos, enquanto o custo disso é pago pelas pequenas e médias empresas. Em suma, o Brasil precisa na economia do que talvez seja o único experimento ainda não tentado por aqui: um choque de capitalismo liberal. Precisa de mais concorrência e menos intervencionismo. De menos Estado e mais mercado.

A violência não é uma fantasia - LYA LUFT

REVISTA VEJA


A violência nasce conosco. Faz parte da nossa bagagem psíquica, do nosso DNA, assim como a capacidade de cuidar, de ser solidário e pacífico. Somos esse novelo de dons. O equilíbrio ou desequilíbrio depende do ambiente familiar, educação, exemplos, tendência pessoal, circunstâncias concretas, algumas escolhas individuais. Vivemos numa época violenta. Temos medo de sair às ruas, temos medo de sair à noite, temos medo de ficar em casa sem grades, alarmes e câmeras, ou bons e treinados porteiros. As notícias da imprensa nos dão medo em geral. Não são medos fantasiosos: são reais. E, se não tivermos nenhum medo, estaremos sendo perigosamente alienados. A segurança, como tantas coisas, parece ter fugido ao controle de instituições e autoridades.

Nestes dias começamos a ter medo também dentro dos shoppings, onde, aliás, há mais tempo aqui e ali vêm ocorrendo furtos, às vezes assaltos, raramente noticiados. O que preocupa são movimentos adolescentes que reivindicam acesso aos shoppings para seus grupos em geral organizados na internet.

É natural e bom que grupos de jovens queiram se distrair: passear pelos corredores, alegres e divertidos, ir ao cinema, tomar um lanche, fazer compras. Porém correr, saltar pelas escadas rolantes, eventualmente assumir posturas agressivas ou provocadoras e bradar palavras de ordem não é engraçado. Derrubar crianças ou outros jovens, empurrar velhos e grávidas, não medindo consequência de suas atitudes, não é brincadeira. Shoppings são lugares fechados, com grande número de pessoas, e portanto podem facilmente virar perigosos túneis de pânico.


Juventude não é sinônimo de grossura e violência (nem de inocência e ingenuidade). Neste caso, os que perturbam são jovens mal-educados (a meninada endinheirada também não é sempre refinada...) ou revoltados. Culpa deles? Possivelmente da sociedade, que por um lado lhes aponta algumas vantagens materiais, por outro não lhes oferece boas escolas, com muito esporte também em fins de semana, nem locais públicos de prática esportiva com qualidade (esportistas famosas como as tenistas irmãs Williams, meninas pobres, começaram em quadras públicas americanas).

Parece que ainda não se sabe como agir: alguns jornalistas ou psicólogos e antropólogos de plantão, e gente de direitos humanos às vezes tão úteis, acham interessante e natural o novo fenômeno, recorrendo ao jargão tão gasto de que "as elites" se assustam por nada, ou "as elites não querem que os pobres se divirtam", e "os adultos não entendem a juventude". Pior: falam em preconceito racial ou social, palavrório vazio e inadequado, que instiga rancores. As elites, meus caros, não estão nos nossos shoppings; estão em seus iates e aviões pelo mundo.

No momento em que as manifestações violentas de junho estão aparentemente calmas (pois queimam-se ônibus e crianças, há permanentes protestos menores pelo Brasil), achar irrestritamente bonito ou engraçado um movimento juvenil é irresponsabilidade. E é bom lembrar que, com shoppings fechando ainda que por algumas horas, os empregados perdem bonificações, talvez o emprego.

As autoridades (afinal, quem são os responsáveis?) às vezes parecem recear uma postura mais firme e o exercício de autoridade: como pode ocorrer na família e na escola, onde reinam confusão e liberalismo negativo, queremos ser bonzinhos, para desamparo dessa meninada.

Todos devem poder se divertir, conviver. Mas cuidado: exatamente por serem jovens, os jovens podem virar massa de manobra. Os aproveitadores de variadas ideologias, ou simplesmente os anarquistas, os violentos, estão sempre à espreita: já começam a se insinuai- entre esses adolescentes, ou a organizar grupos de apoio a eles — certamente sem serem por eles convidados.

Bandeiras, faixas, punhos erguidos e cerrados e palavras de ordem não são divertimento, e nada têm a ver com juventude. Não precisamos de mais violência por aqui. É bom abrir os olhos e descobrir o que fazer enquanto é tempo.

Euzinho - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 27/01

Tradição nada tem a ver com se pintar como aborígenes pra defender reservas indígenas


A modernidade é uma declaração de guerra à ideia de tradição. Mas nós, modernos, continuamos a não perceber isso, e o resultado é que suspiramos como bobos diante do que pensamos ser uma tradição, apesar de detestarmos qualquer sinal verdadeiro de tradição.

Procuramos tradições em workshops xamânicos, espaços budistas nas Perdizes, livros baratos sobre como viviam os druidas.

São muitas as definições de tradição. Não vou dar mais uma, mas sim elencar atitudes que estão muito mais próximas do que é uma tradição do que cursos de cabala nos Jardins. Nada tenho contra estudar culturas antigas, apenas julgo um equívoco confundir a ideia de tradição com modas de uma espiritualidade de consumo.

Não existe xamã na Vila Madalena. A cabala não vai salvar meu casamento. Meditação não fará de mim uma pessoa melhor no trabalho. Imitar a alimentação de monges tibetanos não aliviará minha inveja. Frequentar cachoeiras indígenas não fará de mim uma pessoa menos consumista. Tatuar palavras védicas não me impedirá de fazer qualquer negócio pra viver mais. Visitar templos no Vietnã não fará de mim alguém menos dependente das redes sociais. Desejar isso fará de mim apenas ridículo.

Uma tradição, pra começo de conversa, nada tem a ver com "escolha". Não se escolhe uma tradição. Neste sentido, muitos rabinos têm razão em desconfiar de conversos ao judaísmo por opção. Uma tradição funciona sempre contra sua vontade, à revelia de sua consciência, submetendo-a ao imperativo que escapa à razão mais imediata. A única forma de tradição a que a maioria de nós ainda tem acesso é a língua materna.

Colocar os filhos pra dormir todos os dias é mais próximo do que é uma tradição do que estudar velhos símbolos indígenas ou brincar com eles em pousadas nas chapadas. Não poder sair à noite porque um dos filhos tem febre é tradição. Velá-lo durante a noite é tradição. Morrer de medo durante esta noite é tradição. Nada menos tradicional do que uma mulher sem filhos. Ela até pode aprender capoeira, mas será apenas iludida, se sua intenção for experimentar a tradição afro.

Nada tenho contra mulheres não terem filhos, digo apenas, de forma modesta, o que é uma tradição.

Homens que sustentam sua mulher e filhos são tradicionais, mesmo em tempos como os nossos em que todo mundo mente sobre isso. Levar seus velhos ao hospital, enterrá-los, em agonia ou com absoluta indiferença, é tradição. Andar pela casa à noite pra ver se tem algum ladrão, enquanto sua mulher e filhos ficam protegidos no quarto, é tradição. Ser obrigado a ser corajoso é uma tradição, maldita, mas é.

Pular sete ondas numa Copacabana lotada nada tem de tradicional, é apenas chato. Tradição é ir pra guerra se não sua mulher achará você covarde. Lavar louça, fazer o jantar, lavar banheiros, morrer de medo diante do médico. Falar disso pra quem vive uma situação semelhante a você. Ter que passar nas provas na escola. Ter que ser melhor do que os colegas. Sangrar todo mês.

Tradição é pagar contas, enfrentar finais de semana vazios e não desistir. É sonhar com um futuro que nunca chega. Engravidar a namorada. Ter ciúmes. Odiar Deus porque somos mortais. Ter inveja da amiga mais bonita, do amigo mais forte e inteligente. É cuidar dos netos. É educar os mais jovens e não deixar que eles acreditem nas bobagens que inventam.

Tradição funciona como hábitos que se impõem com a força de um vulcão, de um terremoto, de um tsunami, de uma febre amarela. Nada tem a ver com se pintar como aborígenes pra defender reservas indígenas ou abraçar árvores.

Evolução espiritual é um dos top em quem quer "adquirir" uma tradição. Mas esta nada tem a ver com "buscar" uma evolução espiritual como forma de fugir de filhos que têm febre ou compromissos afetivos. A evolução espiritual verdadeira é algo que nos acomete como uma disciplina aterrorizante.

Teste definitivo: você busca evolução espiritual pra aperfeiçoar seu "euzinho"? Lamento dizer que qualquer evolução espiritual (se existir) começa com você esquecer que seu euzinho existe.

Disco ocupado - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 27/01

RIO DE JANEIRO - Na próxima vez que você esquecer o nome do seu neto, não tiver certeza se já tomou banho ou não se lembrar por que saiu de casa com um envelope endereçado e fechado contendo uma carta, não se desespere. Pode não ser --ainda-- a chegada do velho Al (Al Zheimer, conhece?) ou de alguma outra forma de demência senil. Estudos recentes de cientistas alemães indicam o contrário: quem mais esquece é o homem que sabe demais.

Segundo eles, o cérebro do idoso, se não reage de pronto a certas solicitações, não é porque esteja com as porcas e arruelas enferrujadas ou sendo apagado aos poucos como um quadro-negro. É porque levou décadas armazenando informações. E, por ele conter gigantescos blocos de informações, mais complexa e lenta será a busca entre elas de informações novas. É como o disco rígido do computador que, por estar "cheio", demora mais para processar os dados.

Essa não é uma imagem, mas um diagnóstico. Os alemães simularam em computador o desempenho de bancos de dados maiores e menores --esses últimos, equivalentes ao cérebro de um jovem adulto-- e constataram que a diferença não estava no desgaste do material, aliás inexistente, e sim na carga de dados.

Gostei dessa descoberta, mas eu próprio já havia chegado a ela sem precisar de simulações. Há tempos venho percebendo que minha lentidão para gravar certas informações se dá porque o espaço na cabeça está ocupado com detalhes da trama de romances como "Scaramouche", "O Pimpinela Escarlate" e "Elzira, a Morta-Virgem", gibis de Mandrake, Dick Tracy e Brucutu, cenas de beijo de filmes de Marisa Allasio, frases do Millôr, tratados de fenomenologia de Husserl e letras de marchinhas de Carnaval como "Aurora", "Saçaricando" e "Tem Nego Bebo Aí".

Não que as ditas informações novas merecessem ocupar o lugar dessas maravilhas.

Mortos de tédio - LÚCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 27/01

A té o cachorro do meu anfitrião deu um basta e me puxou de volta para dentro da casa. Sua atividade favorita do dia, a caminhada matinal que termina com a refeição, durou 5 minutos, a ventania jogando neve nos nossos olhos fechados. E olha que ele não leu o termômetro digital do canal do tempo marcando -15C. O cachorro, privado das corridas atrás da bola, me olha como se perguntasse o que você planejou para o meu domingo? "He's bored," (Está entediado), vem o diagnóstico do dono.

Pergunto ao meu anfitrião porque não fica mais tempo na casa. Argumento que a neve de Manhattan já adquiriu aquela cor cinza lama, com tons de amarelo do corrosivo sal químico que os edifícios jogam em quantidade absurda, para evitar processos por escorregões, e queima as patas dos bichos. "Se eu ficar aqui sozinho vai ser um tédio," ele responde, contemplando blasé a vista espetacular do inverno no campo. Lareira, excelente biblioteca e uma geladeira recheada não seguram um escritor neste paraíso.

Chegam os e-mails de domingo, o equivalente a espreguiçar com palavras, e me comunicam que a sensação térmica de 45º C no Rio vai prender todo mundo em casa. "Que tédio," reclamam.

Estamos mais vulneráveis ao tédio hoje? A fratura da atenção entre múltiplos gadgets eletrônicos, a expectativa de entretenimento externo constante, tudo isso nos tornou incapazes de resistir a breves momentos de enfado?

Não necessariamente, afirma Peter Toohey, um historiador especializado em literatura greco-romana da Universidade de Calgary, no Canadá. Você compraria um livro com a palavra tédio na capa? Pois Toohey escreveu um tratado sobre o tédio que pode ser lido sem o menor risco de sofrer do mal do título, um mal que o autor garante, em doses curtas vem para o bem. O livro de Toohey, Boredom, a Lively History (Tédio, uma História Animada) argumenta que, ao contrário da noção de que o tédio é um mal do Iluminismo e nasceu junto com o lazer, esta sensação é tão antiga quanto o homem urbano. A palavra 'boredom' só aparece na língua inglesa no século 19 e tem parentesco com o 'taedium' em latim, que vem de 'taedere', cansar.

Em 1854, uma escavação na Itália revelou uma inscrição em latim: "Para Tanonius Marcellinus", dizia, "porque ele resgatou a população do tédio interminável." Não se sabe quem foi Marcellinus, o eminente cidadão de Beneventum, mas a ideia de uma cidade inteira descontente a ponto de homenagear quem a livra do tédio está registrada.

Toohey trata dos diferentes tipos de tédio descritos nas últimas décadas, o simples, o crônico, que pode ser um sintoma da depressão, e o existencial, como o de A Nausea de Jean-Paul Sartre. Ele acha que, por falta de melhor conhecimento, colocamos tudo no mesmo saco da palavra tédio. O tédio crônico, por exemplo, vem de uma deficiência de dopamina, um neurotransmissor que tem papel importante na nossa motivação.

O autor explora o tédio na literatura e escreve que ninguém menciona tanto o assunto quando Chekhov, com seus personagens mortos de tédio nas vastas propriedades no campo. O personagem mais associado a tédio na literatura russa é o Oblómov, de Ivan Gontcharov, que decide não sair mais da cama quando a Rússia está para abolir a servidão. Mas há quem argumente que Oblómov é mais um niilista decadente do que um enfadado.

E por que Peter Toohey considera o tédio, em doses curtas, um importante aliado? Se quando sentimos um gosto esquisito não ingerimos um alimento estragado para não adoecer, ele acredita que o tédio é um sistema de alerta para uma situação psicológica, antes que ela se deteriore. Se você chega a uma festa e dá de cara com um conhecido que não para de falar, vai tentar ficar longe dele. Da mesma forma, vai tentar se defender de outras situações em que a monotonia ou a repetição traga enorme desprazer. A rotina confinada e previsível é a receita para o tédio. Depois de 6 dias presos em casa por causa de temperaturas extremas, a luz vermelha do enfado acende e nos faz recorrer a atividades com maior gasto de energia, além da leitura e de assistir à TV.

Peter Toohey não acredita que a nossa expectativa de engajamento externo constante tenha alterado fundamentalmente a sensação de tédio. O tédio existencial, como o descrito por Sartre, é mais fruto de um contexto cultural. Mas o 'bom' tédio que o autor defende continua conosco, tanto quanto outras emoções extremas e mais examinadas, como o ódio e o amor.

Mas acredito, sim, que temos mais medo do tédio comum. Quando vejo num restaurante um casal colocar o guardanapo no colo com a mesma naturalidade que coloca um tablet na mão do filho pequeno penso: ao proteger a paz da sua refeição, estão ensinando a ele que não é possível sobreviver a uma hora sem estímulo externo. Imaginem um cenário em que as crianças só pudessem se distrair com brinquedos disponíveis há 150 anos. Seria tema para um filme. De terror.

Pena de morte na Flórida: mitos e lições - GLÁUCIO ARY DILLON SOARES

CORREIO BRAZILIENSE - 27/01
Este ano, a Flórida completa 38 anos desde que a pena de morte foi relegalizada. Há mitos a respeito. Muitos acreditam que o número de execuções é da ordem de centenas ou milhares. Porém, o total, até 2012, inclusive, é 74: dois por ano. Há muito mais condenados do que executados. Há muitos apelos e recursos e o tempo médio entre a condenação e a execução é de mais de 13 anos. Muitos conseguem reduzir a pena para prisão perpétua. A grande maioria dos condenados não é executada, mas morre na cadeia.
Há perto de mil homicídios por ano. De 1992 a 2012, houve 21.384 assassinatos e 47 execuções. Uma para cada 455 homicídios, disparidade usada politicamente por grupos favoráveis e contrários à pena de morte. Um postula que o número de executados deveria ser muito maior - o sistema concede recursos em demasia, e o prazo entre condenação e execução deveria ser menor. O argumento central é baseado na Doutrina da Retribuição: as vítimas estão mortas; os algozes, vivos.

Os contrários à pena de morte não compartem um argumento central: uns acreditam que o Estado não tem o direito de tirar a vida de ninguém; outros são consistentemente favoráveis à vida. É a posição da Igreja Católica. O que acontece em cada caso depende das pressões de grupos organizados: a Justiça penal também responde a eles. Nos EUA, familiares e amigos se organizam para defender seus interesses, que incluem punições severas aos criminosos; em alguns estados, têm direito a expressar opinião nas audiências para discutir a parole, a liberdade condicional.

No Brasil, dois grupos menos organizados, mas influentes, protegem os criminosos: um argumenta com as condições abjetas e a violência que imperam nas prisões, e outro com a constatação de que a polícia é arbitrária e violenta e a Justiça parte das informações fornecidas por ela, o que significa que muitos foram presos injustamente. Em versão radical, considera a Justiça outro nome para a vingança. Alguns chegam a propor o fim das prisões.

Um forte argumento contrário à pena de morte deriva dos erros policiais e judiciais. A pena de morte impede a correção de qualquer erro. Quando o exame de DNA foi admitido, descobriram que muitos foram condenados erroneamente por diversos crimes - vários estavam no death row. A justificação do receio de erros irreparáveis se baseia na existência de países em que tanto a polícia quanto o Judiciário são mal preparados e/ou corruptos.

É mais que um argumento solto: o Innocence Project reavaliou centenas de prisões e condenações usando o DNA. É associado à Benjamin N. Cardozo School of Law da Yeshiva University. Demonstra muitos erros das condenações, sobretudo nas baseadas em testemunhos oculares, responsáveis por 75% das condenações erradas. Infelizmente, no Brasil ainda se ensina que a prova testemunhal é a "rainha" das provas. Várias décadas de pesquisas demonstraram que não é confiável. Há fraudes e há erros.

Muitos erros: desde 1989, a inocência de 312 condenados foi provada pelo DNA. Não é fenômeno restrito a estados atrasados: foram demonstrados erros em 36 estados - 18 haviam sido condenados à morte. Outros 16 foram condenados por crimes que poderiam ser punidos com a morte, mas receberam penas menores. A média do tempo passado erroneamente na prisão é de 13,5 anos.

Há, entre os defensores da pena de morte, uma corrente pragmática que a defende somente em casos comprovados de crimes múltiplos e por impedir que outros crimes violentos e graves, particularmente homicídios, sejam cometidos: presos (presos, mesmo) não matam fora da prisão. Esse caminho recebeu, nos Estados Unidos, um nome particularmente infeliz, a "incapacitation". A outra se baseia na Doutrina da Dissuasão, segundo a qual a impunidade estimula o crime e as penas rigorosas o desencoraja. Criminosos potenciais não cometeriam crimes, devido ao receio das punições duras. As pesquisas apoiam essa hipótese quando a polícia é eficiente e legítima.

A pena de morte seria poderoso fator de dissuasão. Empiricamente, essa relação é discutida e contestada, mesmo onde foi adotada. Daí a necessidade de estudá-la, sem que isso signifique acreditar que o que vale para outros lugares vale no Brasil.

Um argumento estatístico favorável à pena de morte afirma que condenados não deveriam ser assassinos comuns, mas os que cometeram os piores crimes, assassinatos múltiplos, contra vítimas indefesas, com uso de tortura ou outros sofrimentos etc. Muitos seguiriam carreiras criminosas. Soltos, voltariam a assaltar, roubar e matar.

Efetivamente, entre os executados na Flórida, há dos piores criminosos. No lugar mais alto, está Ted Bundy, assassino de dezenas de mulheres, que teria confessado a um companheiro de prisão que matou mais de 800. Danny Rowlings foi executado pelo assassinato de sete pessoas em Gainesville. Não só as esfaqueou e estripou, mas deixou as vítimas (ou partes delas) para serem encontradas em posições grotescas.

Há pressão sobre legisladores nos países que adotam um sistema de Civil Law, codificado, para endurecer a pena para certos tipos de crimes. No Brasil, foi criada a categoria de crime hediondo, e a atividade legislativa tem sido apenas a de aumentar os Crimes hediondos, sem princípio organizador. Nos sistemas de Common Law, direito comum, a pressão incide sobre o Judiciário, para que crie uma jurisprudence mais dura. Confuso? É para estar. Nossos legisladores devem ser cautelosos, porque não há política sem erros, e o preço dos erros na pena capital é muito alto. 

Fácil, mas nem tanto - BENITO PARET

O GLOBO - 27/01

Tecnologia de empresas é desafio para novo sistema


Com a implantação, prevista para culminar este ano, do Sistema Público de Escrituração Fiscal, o chamado “Sped Social”, o Estado dará um grande salto rumo à racionalização burocrática, mas existem ameaças à frente. Visando a simplificar e facilitar a vida das empresas na tarefa de prestar informações obrigatórias nos âmbitos fiscal e tributário, o novo sistema, criado em 2007, foi um passo importante no processo de transposição da burocracia estatal da Era Analógica para a Era Digital.

A partir de julho, as empresas que declaram o Imposto de Renda pelo lucro real passarão a enviar eletronicamente, por um só canal, de forma unificada e padronizada, todas as informações sociais que hoje são obrigadas a prestar, isoladamente, para quatro órgãos federais, em formatos e periodicidades diferentes: Ministério do Trabalho, Caixa Econômica Federal, INSS e Receita.

O conjunto de informações sociais obrigatórias é tão completo que, possivelmente, não há similar no mundo. Vai desde a folha de pagamentos a admissões, demissões, horas extras, diferenças salariais obtidas nos dissídios coletivos, acidentes de trabalho, informações ligadas à saúde do trabalhador, afastamentos do trabalho, controle das atividades desempenhadas, tributos retidos, informações para recolhimento do FGTS e INSS, serviços prestados por autônomos e demais prestadores de serviços, entre outras coisas.

Além de facilitar a vida das empresas, o “Sped social” permitirá, acima de tudo, um acompanhamento muito mais fiel do mundo do trabalho pela sociedade. O volume e a diversidade de dados qualificados que ele disponibilizará numa única plataforma serão ferramenta valiosa para o planejamento e estabelecimento de políticas públicas. Darão maior consistência à formulação de programas de desenvolvimento voltados, por exemplo, para a oferta de empregos, e até mesmo, entre outras possibilidades, melhor planejamento educacional, pela maior transparência das demandas profissionais.

Esse novo passo no âmbito do Sistema Público de Escrituração Digital, portanto, é um avanço inquestionável. O problema está em como conduzir sua implantação sem cometer injustiças ou exigir o impossível. Não se pode esquecer que este é um país de enormes diversidades regionais em termos de infraestrutura de comunicação e cultura tecnológica.

A partir de dezembro, as pequenas e médias empresas que declaram o IR pelo lucro presumido ou pelo Simples Nacional já serão obrigadas a prestar essas informações pelo novo formato. Isso requer uma estrutura tecnológica que vai do software à conexão com a internet, o que em muitas regiões será praticamente impossível ou, no mínimo, de difícil execução. Demandará, também, tempo suficiente de aprendizagem para as pequenas empresas e escritórios de contabilidade de áreas menos favorecidas.

Uma grande parcela desses pequenos escritórios de contabilidade e empresas enfrentará problemas de infraestrutura cuja solução não dependerá apenas deles. Essa realidade exigirá, portanto, boa dose de flexibilidade e compreensão da parte dos órgãos fiscalizadores para eventuais erros ou atrasos no cumprimento das obrigações, até que todas as pontas do sistema estejam ajustadas.

Que Copa, hein! - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 27/01

Veja só como o mercado imobiliário está superaquecido por causa da Copa. Um grupo de estrangeiros vai pagar 250 mil dólares, mais de meio milhão de reais, pelo aluguel de uma chácara no Alto da Boa Vista, no Rio, durante o período dos jogos.

Segue...
E um apartamento de quarto e sala, com 130 metros quadrados, no Leblon foi alugado por R$ 50 mil nos dias de Copa.

Diário de Justiça
A 3ª Turma do TRT do Rio condenou a Petrobras a pagar R$10 milhões por danos morais coletivos. A grana vai para o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). A estatal é acusada de ter tido condutas antissindicais e violado o direito de greve de funcionários da Reduc, em Caxias, RJ, em março de 2009.

Cadê a rampa?
Carmem Mayrink Veiga, que já foi uma das mulheres mais chiques do high-society, foi semana passada ao Largo do Machado e ao Catete comprar uma geladeira para seu apê da Avenida Rui Barbosa. Depois de rodar, rodar, desistiu: nenhuma loja tinha acesso para cadeirantes como ela, que sofre de uma doença degenerativa.

Caldinho de feijão
O Village Mall, shopping muito chique na Barra, cheio de estrangeirismos como os outros, sucumbiu à feijoada e ao samba. Nos sábados de fevereiro, além de seus restaurantes servirem versões especiais do prato, carrinhos circularão pelos corredores oferecendo caldinho de feijão, “de grátis”, a quem estiver por ali. E o samba será a trilha sonora do shopping.

Tráfico humano
Autoridades russas libertaram cerca de cem sérvios que trabalhavam ilegalmente em obras das instalações dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, em Sochi. Reportagem da “Radio Free Europe” conta que estrangeiros vêm sendo recrutados em seus países com a promessa de bons salários. Mas quando chegam têm os passaportes confiscados, trabalham mais de 10 horas por dia e, às vezes, sequer recebem.

No mais...
Imagina na Copa... de 2018, lá na Rússia!

Outra Helena
Cláudia Ohana não será mais a Helena da montagem teatral de “Se eu fosse você”, com supervisão de Daniel Filho. Alegou estar difícil conciliar os ensaios para a peça, que estreia em março, no Rio, e as gravações da novela “Joia rara”. Vai ser substituída por Claudia Netto, famosa por seus trabalhos em musicais.

Garoto-propaganda
Rei Pelé vem ao Rio inaugurar a loja da Hublot, grife suíça de relógios de luxo, no Fashion Mall, em São Conrado. Será dia 5, com portas abertas para o público. De noite, tem festa na piscina do Fasano. Mas, aí, só para convidados.

Memória da resistência
Esta foto de Ziraldo com um cartaz mostra um gesto desesperado do cartunista na Câmara dos Deputados durante a ditadura. O esforço era para denunciar a censura aos jornais e às obras de arte. Ela estará na exposição “Resistir é preciso”, que o Instituto Vladimir Herzog organizou e chega ao CCBB do Rio em fevereiro.

Herzog...
A mostra passeia por capas de jornais e revistas proibidos, além de documentos como o atestado de óbito de Herzog, morto sob tortura em 1975.

Calma, gente!
Ontem, na praia lotada, por volta de 14h, no Arpoador, cinco pessoas saíram gritando da água. Muita gente achou que era arrastão, e houve correria, com banhistas fugindo sem pagar aos donos das barracas. Quando a polícia apareceu, descobriu, veja só, que o motivo da gritaria inicial era uma arraia que tinha aparecido no mar.

Passa a babá pra cá!
Duas dondocas da Zona Sul do Rio estão em pé de guerra. É que uma conseguiu, numa rede social que indica babás, contratar uma profissional. A outra não se conformou. Ofereceu salário de... R$ 5 mil. A babá topou. Agora, a ex-patroa acusa a mulher de “roubar sua babá” e, claro, inflacionar o mercado.

Cena carioca
Na fila de idosos e gestantes do supermercado Extra, no Largo do Machado, no Rio, umas tias mostraram, quarta passada, irritação após 45 minutos de espera. E uma delas, gaiata, sugeriu: — Vamos entrar na internet e marcar um rolezinho aqui? Há testemunhas.

Ponto Final
Como dólar desembestado na Argentina finalmente surgiu uma boa notícia para Cristina Kirchner. Um leitor, bom samaritano, enxerga semelhança física entre a presidente argentina (à esquerda) e a nossa MC Anitta, aquela que deixa os homens babando. Será?

PREÇOS ABUSIVOS - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 27/01

Empresas estão desistindo de trazer convidados para a Copa do Mundo em razão dos preços dos pacotes corporativos. Um grande grupo brasileiro, por exemplo, recuou após receber orçamento de R$ 777.200 para hospedar 18 estrangeiros durante seis dias no Rio (R$ 506.016), no período da final, e outros três na semifinal, em Belo Horizonte (R$ 206.184).

ABUSIVO 2
O valor no Rio chega a R$ 28.112 por pessoa. Inclui hospedagem em hotel quatro estrelas no centro, traslado para o estádio e "esquenta" antes das partidas. Ingressos à parte. A cotação é da agência Planeta Brasil, do Grupo Águia, que detém os direitos de venda dos camarotes corporativos para o Mundial. A agência informa que os pacotes estão esgotados.

ABUSIVO 3
O presidente da Embratur, Flávio Dino, diz que é hora de o Procon e o Ministério Público agirem com base no Código de Defesa do Consumidor para coibir "valores abusivos". "O momento do diálogo se encerrou", diz ele, que se reuniu com representantes do setor de hotelaria em dezembro. Segundo Dino, a reputação de destino caro terá repercussão negativa a longo prazo para o turismo no Brasil.

ABUSIVO 4
Para Enrico Fermi, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, os casos de desistência em função de preço são pontuais. Ele diz que "as tarifas estão dentro dos parâmetros aceitáveis para um evento desse porte". "É errada essa impressão de que há uma alta de preços", afirma. "A Embratur não deveria se intrometer no mercado. Nós não somos concessão."

MINA
A top Cara Delevingne faz pose ao lado dos integrantes do grupo de funk Os Leleks na favela Santa Marta, no Rio; a inglesa aproveitou a sessão de fotos para a "Vogue Brasil" para aprender coreografias de sucesso no morro

O PAI DA CRIANÇA
A exemplo de José Serra (PSDB), que deixou como marca de sua gestão no Ministério da Saúde os medicamentos genéricos, Alexandre Padilha quer sair do cargo para se candidatar ao governo de SP com o trunfo dos remédios similares. O ministro fez questão de participar do lançamento da consulta pública sobre a nova categoria de produtos a ser criada e que também custarão menos que os de referência. Na cerimônia, o petista não deu crédito ao tucano. Disse que os genéricos são do governo Itamar Franco.

PELO RALO
O Brasil perde 1,38% do PIB com a corrupção, segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria). A entidade, que apresentou sete propostas para combater o problema, espera que elas sejam incluídas na lei que pune empresas envolvidas em prejuízos à administração pública. A regulamentação sairá nos próximos dias.

PARA TRÁS
Usuários esqueceram 9.905 objetos --entre documentos, cadeiras de rodas, troféus e até pranchas-- em Congonhas no ano passado, 12% a mais que em 2012. Os itens foram achados nas salas de embarque e desembarque, no check-in e nos banheiros do aeroporto, por onde passaram 17 milhões de pessoas. Cerca de 40% foram devolvidos.

RIO, MON AMOUR
Vanessa Paradis está no Brasil para filmar "Rio, Eu te Amo". A atriz e cantora francesa é protagonista de uma das histórias do próximo filme da franquia, que já retratou Paris e Nova York. A ex-mulher de Johnny Depp filma até quinta na ilha de Paquetá o curta dirigido pelo ator John Turturro, de "Transformers".

PEIXE GRANDE
O barco de Neymar, que não faz parte da Boat Xperience, tem chamado a atenção dos visitantes da feira. Atracado no Guarujá, na mesma marina da exposição, o iate de 38 pés, avaliado em R$ 12 milhões, virou ponto de parada para fotos de curiosos.

TANTAS LUAS
O produtor e diretor Roberto d'Avila, da Moonshot, recebeu convidados para sua festa de 50 anos, ao lado da mulher, Suraia Lenktaitis, no espaço Oca Tupiniquim, na Vila Madalena. Selton Mello e Adriana Lessa compareceram ao evento, que também contou com a presença do casal Kiko Bertholini e Clarissa Kiste e do ator e cenógrafo Giulio Lopes.

ENCONTRO DE COMADRES
O ator Blota Filho está em cartaz com o espetáculo "Chá das Cinco", que também tem no elenco nomes como Eduardo Martini e Tiago Pessoa. Fernando Scherer, o Xuxa, e sua mulher, Sheila Mello, assistiram à peça, no Teatro Augusta, na Consolação.

CURTO-CIRCUITO
Lala Rudge e Caroline Celico se encontram hoje no Dubai Shopping Festival, onde farão compras acompanhadas de duas "it girls" dos Emirados Árabes.

A SP Escola de Teatro promove a partir de hoje o SP TransVisão II, série de eventos sobre diversidade, na praça Roosevelt.

A Cartier recebe até o dia 28/2, pelo site, inscrições para seu prêmio de empreendedorismo feminino.

Laços de família - BERNARDO MELLO FRANCO - PAINEL

FOLHA DE SP - 27/01

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), repassou R$ 116.420 de sua cota parlamentar a um sócio do sogro e do cunhado. A verba pública foi para a Assaf e Sousa Comunicação, que gravou seus pronunciamentos em cadeia nacional de TV em outubro e dezembro de 2013. A produtora pertence a Adriano de Sousa e foi contratada sem licitação. Sousa é sócio, em outra empresa, de Cassiano Arruda e Arturo Arruda --pai e irmão da mulher de Alves.

Ah, bom! A assessoria de Alves diz que ele usou sua cota individual, e não a verba da presidência da Câmara, para não ter que fazer licitação. Sua equipe afirma ainda que Sousa foi escolhido porque o deputado já o conhecia e confiava em seu trabalho.

Confie em mim Do principal colunista do "Financial Times", Martin Wolf, sobre a passagem de Dilma Rousseff por Davos: "Ela não me convenceu de que o Brasil vai retomar o crescimento forte, mas me convenceu de que é uma pessoa competente".

Prevenção O futuro ministro da Saúde, Arthur Chioro, avisou a aliados que a empresa de consultoria que passou para o nome da mulher vai ficar inativa. Ele só não quer fechar a firma de vez porque pensa em reativá-la quando deixar o governo.

Ombro amigo O ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh tem sido um dos principais conselheiros de João Paulo Cunha (PT-SP) nos dias que antecedem a prisão do ex-presidente da Câmara.

Non grata Parte dos petistas se afastou de Greenhalgh em 2007, quando ele prestou consultoria para o banco Opportunity, de Daniel Dantas.

Grudados Aécio Neves (PSDB-MG) e Paulinho da Força (SDD-SP) estarão juntos hoje em Santa Catarina. O Solidariedade vai anunciar apoio à candidatura do senador Paulo Bauer (PSDB-SC) ao governo do Estado.

Marcha lenta A Procuradoria Eleitoral em São Paulo ainda não ajuizou nenhuma ação por campanha antecipada contra os pré-candidatos a governador. No Rio, o Ministério Público já fez ao menos 22 denúncias contra três dos principais pré-candidatos.

Canja de galinha O procurador paulista André de Carvalho Ramos acha que os partidos estão "mais cautelosos" este ano. Resultado das punições aplicadas pela Justiça Eleitoral nas eleições de 2012, ele afirma.

Pensou bem O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), disse em agosto ao procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira, que não viajaria mais de helicóptero oficial com a família. "A decisão envolve um risco que decidi assumir", escreveu.

Pensou melhor Dois meses depois de enviar o ofício, Cabral começou a usar o helicóptero novamente. No último dia 5, até a babá de seus filhos voltou a ser vista a bordo da aeronave do Estado.

Filme queimado O site "Arquivos da Ditadura", do jornalista Elio Gaspari, vai mostrar hoje como o SNI (Serviço Nacional de Informações) tentou interferir na escolha do presidente da Embrafilme, a estatal que financiava o cinema nacional.

Lista negra Os arapongas disseram ao presidente João Figueiredo que oito cineastas "comprometidos com as esquerdas" eram cotados para a vaga do hoje ministro Celso Amorim (Defesa), derrubado em 1982.

Os vetados A relação incluía Nelson Pereira dos Santos, Luiz Carlos Barreto, Cacá Diegues e Arnaldo Jabor. O general respondeu que o aviso não era necessário, e não nomeou ninguém da lista.

tiroteio
"Dilma e sua comitiva fizeram turismo com dinheiro público. Estão na contramão da austeridade exigida em momentos difíceis."

DO SENADOR ÁLVARO DIAS (PSDB-PR), sobre a escala da presidente Dilma Rousseff em Lisboa, após participar do Fórum Econômico Mundial, na Suíça.

contraponto


Sacrifícios de campanha
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) passou exatos 44 minutos posando para fotos na saída do aniversário do deputado Paulinho da Força (SDD-SP), no sábado, em São Paulo. A cada passo, um grupo de convidados se aproximava e pedia um retrato com o presidenciável tucano. Um sindicalista percebeu que o assédio das mulheres sobre o mineiro era grande e brincou:

--Deixa ele em paz! Acho que ele não gosta de mulher!

--Só um pouquinho... --respondeu Aécio, rindo.

Depois de uma pausa, o senador completou:

--Na verdade, só um pouquinho por dia.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 27/01

Unilever vai ampliar investimentos no Brasil
A Unilever vai aumentar os investimentos que faz anualmente no Brasil e alocar cerca de € 500 milhões (aproximadamente R$ 1,65 bilhão) nos próximos três anos, disse à coluna Harish Manwani, COO da companhia, durante o Fórum Econômico Mundial, encerrado ontem, em Davos.

O grupo anglo-holandês foi um das cinco multinacionais que tiveram reunião individual com a presidente Dilma Rousseff na cidade alpina na sexta-feira passada.

As outras companhias foram Saab, AB InBev e Novartis, além do Bank of America Merrill Lynch.

O montante citado de investimentos não inclui os recursos para marketing e será aplicado em uma fábrica e na expansão da capacidade de produção, em especial, de desodorantes, detergentes líquidos e sorvetes.

"Nosso investimento tem sido de 3% a 4% do total de receitas por ano, mas será maior nos próximos anos com a alocação desses recursos", disse.

"Cerca de 57% do nosso resultado global vem de países emergentes", disse, sem dar números relativos ao Brasil, que é o segundo maior mercado, apenas atrás dos EUA.

A empresa sentiu o aumento das taxas de juros no Brasil em 2013, mas diz que o resultado final foi muito bom.

"Para nós, é importante ter um crescimento constante. Apesar das dificuldades citadas [com juros, logística e regime tributário], posso lhe dizer que tivemos um crescimento sólido de dois dígitos."

Indagado se uma eventual volatilidade em razão das eleições preocupa, respondeu que o seu foco não é de curto prazo.

"Problemas temos em vários países e há aqueles com desemprego, que não crescem", afirmou.

De volta... Depois de anos de pessimismo com a crise, participantes notaram que o Fórum Econômico Mundial deste ano tinha ares de otimismo, ainda que cauteloso.

...para o jogo A volta da autoconfiança de empresários dos EUA também não passou despercebida.

Frasco menor A Unilever criará uma embalagem para desodorantes em aerosol, com latas menores. A tendência do grupo é criar produtos de marcas já consolidadas.

Zen... Nem só de economia vive o fórum de Davos. Houve também painéis com temas leves, inclusive para distrair as mulheres de poderosos que foram às montanhas a trabalho. "Meditação: Por que o Hype'?" foi um dos eventos.

...nos Alpes Acadêmicos de neurociência e de psicologia, além da atriz americana Goldie Hawn, de "Todos Dizem Eu Te Amo", debateram sobre o uso da meditação na saúde, na educação e na liderança.

Indústria de brinquedos deve ganhar espaço, diz associação
Os brinquedos brasileiros devem ganhar mercado neste ano em decorrência da falta de apoio por parte do governo da China aos fabricantes do produto daquele país.

Essa é a análise do presidente da Abrinq (associação brasileira dos fabricantes), Synésio Batista, que acabou de retornar da Ásia, onde se reuniu com executivos do setor de Hong Kong.

"O novo governo chinês [de Xi Jinping, que assumiu o comando em março de 2013] fez uma opção de priorizar tecnologia. As empresas de brinquedos passaram a pagar altos encargos", diz.

A elevação do preço da mão de obra também deve favorecer a indústria nacional.

Em 2008, os importados chegaram a dominar 61,6% do mercado. Quatro anos depois, eles haviam recuado para 48%. Em 2012, os chineses foram responsáveis por 83,2% dos brinquedos que entraram no Brasil.

"A expectativa é que, em cinco anos, tenhamos [a indústria brasileira] 70% do mercado nacional", afirma.

Para este ano, a projeção é aumentar a participação em três pontos percentuais. A estratégia será disponibilizar lançamentos, diz Batista.

DE OLHO NA RUA
Para atingir a meta de 700 unidades e um faturamento de R$ 2 bilhões até 2018, a rede de restaurantes Giraffas pretende se expandir em todo o país.

Hoje, 80 dos cerca de 400 pontos da marca se concentram no eixo Brasília-Goiânia, onde a companhia nasceu.

O plano de ampliação contemplará também unidades fora de shoppings.

"As lojas de rua, mais amplas e com maior diversidade de serviços, ficarão nas capitais", afirma Alexandre Guerra, CEO do Giraffas, que faturou R$ 768 milhões no ano passado.

Serão abertas 30 lojas neste ano (quatro de rua). O investimento mínimo em uma franquia de shopping é de R$ 600 mil. Fora dos centros de compras, pode chegar a R$ 1,5 milhão.

A rede Seletti também segue a tendência de instalar pontos fora de shoppings. A empresa quer inaugurar sua primeira unidade com esse modelo neste ano, no Rio ou em São Paulo.

O plano é ter 10 lojas de rua e 150 de shopping nos próximos cinco anos. Hoje, são 40 unidades.

Para acelerar a expansão, a marca também vai apostar no formato de ponto "express", para cidades menores, academias e postos de gasolina.

"Não queremos ser reféns somente de shoppings. É interessante ter vários canais", diz Luis Felipe Campos, idealizador da Seletti.

Inflação da pedra - VINICIUS MOTA

FOLHA DE SP - 27/01

SÃO PAULO - A prefeitura paulistana produziu nesta sexta um raro experimento de laboratório em economia. Despejou um balde de dinheiro novo no mercado do crack na região central. O resultado, a inflação da pedra, confirmou a cartilha.

Dependentes receberam da prefeitura o primeiro pagamento semanal de R$ 120 por atuar em atividades como limpeza e varrição. Foi um choque potencial de R$ 36 mil na procura pela droga.

A oferta não estava preparada --falamos de um micromercado de 500 a 800 pessoas pobres--, e o preço subiu. Nesta semana, se a polícia não interferir, o tráfico deve reequilibrar um pouco a balança, elevando a disponibilidade da pedra.

O que foi inicialmente inflação tende a transformar-se, com o tempo, em aumento do consumo. A expectativa se reforça porque, como se depreende da confusão com policiais civis na quinta-feira, o combate ao tráfico ficará dificultado no novo mix de abordagens apregoado pela gestão Fernando Haddad (PT), apoiado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Esse incentivo financeiro ao consumo da droga é a nota mais duvidosa do programa "Braços Abertos". Acolher dependentes em hotéis e pagar-lhes por pequenos serviços públicos pode dar-lhes mais dignidade e até reduzir danos associados ao vício. Mas mantê-los a poucos passos do pregão do tráfico é arriscar tudo isso.

Em toda a já longa discussão sobre a melhor abordagem para a cracolândia, talvez tenhamos nos acostumado a vincular uma coisa a outra, um local da cidade ao consumo dessa droga. Que tal, apenas para variar, separar essas duas categorias?

Tráfico e consumo de crack são tenazes e flexíveis, podendo desenvolver-se em vários locais, públicos e privados --são temas de repressão policial e saúde pública. É a cracolândia que não precisa necessariamente continuar. A solução, sempre adiada, é sobretudo urbanística.

Tributação do IOF - inoportuna, obsoleta e falha - ROBERTO LUIS TROSTER

O ESTADO DE S. PAULO - 27/01

A elevação da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para cartões pré-pagos, saques no exterior e cheques de viagem, entre os feriados de Natal e ano-novo, puniu brasileiros fora do País com 6% adicionais em seus gastos.

A medida complementa outra anterior que aumentou o IOF nas transações com cartões de crédito internacionais. O objetivo das duas altas é reduzir o déficit na conta turismo com o resto do mundo, dificultando o fluxo de saída de brasileiros ao exterior e compras fora do Brasil.

Considerando que as diferenças de preços para alguns produtos são superiores a 100%, poderiam subir a alíquota em 16%, ou até em 36%, que as viagens para comprar fora continuariam.

O imposto é perverso, perde-se mais do que se arrecada com ele e agrava, em vez de aliviar, o déficit de turismo. É a mesma estratégia adotada para a indústria, que é dificultar a importação em vez de aumentar a exportação. Não funciona, a cada ano piora a balança com o resto do mundo.

O número de turistas brasileiros que vão ao exterior aumenta a um ritmo maior do que o dos que vêm conhecer as belezas daqui. Com isso o déficit só aumenta. O Brasil tem 6% do território mundial, com atrações extraordinárias e um povo hospitaleiro. Mesmo assim, não consegue atrair 1% dos viajantes do mundo.

Há claramente um descompasso entre a oferta e a demanda. Mantida a proporção território e visitantes, e fazendo os ajustes necessários, o Brasil poderia aumentar muito o fluxo de visitantes estrangeiros. Note-se que o turismo é uma indústria que não polui, é intensiva em mão de obra, usa insumos nacionais, não esgota os recursos naturais e exige baixos investimentos.

A medida mais importante para fomentar o turismo no Brasil é a organização da Copa do Mundo de Futebol este ano. Estão sendo gastos dezenas de milhões de reais. Todavia, se ajustes não forem feitos rapidamente,o efeito pode ser negativo, o País pode ficar com má fama e espantar, em vez de atrair, visitantes para aqui.

Este mês, a CNN Travei, empresa de jornalismo de turismo, classificou o Aeroporto de Guarulhos como o pior entre os maiores do mundo. O destaque é que não foi pela falta de investimentos, mas, sim, pelo mal gerenciamento: filas de imigração longas, falta de pontos de energia, mudanças de portões de embarque, atrasos nos voos e preços caros nas lanchonetes.

Ao sair de Guarulhos, a percepção não melhora: o ônibus do aeroporto para o terminal de metrô é seis vezes mais caro que o da rodovia que passa em frente. Se tentar ir ao Rio de Janeiro, uma passagem de avião, em determinados momentos, é mais cara do que uma para Miami.

O estrangeiro que quiser gastar seus dólares (ou outra moeda) terá como primeira surpresa a de que tem de pagar o,38%de IOF para trocar seu dindin pela moeda nacional. Será tributado de novo na saída, para converter os reais que sobraram. E óbvio que se sentirá extorquido com o tributo.

Se optar por não trocar e pagar as contas em dólares, terá dificuldades, verá que são raros os locais que aceitam moeda estrangeira. Enquanto no exterior, onde há muito turismo de brasileiros, há placas com os preços em reais e eles são aceitos com sorrisos, aqui, o uso de divisas estrangeiras tem restrições operacionais.

É importante para quem lida com turistas poder depositar os dólares (não ter de colocar embaixo do colchão), ter troco, guardar os recursos para pagar comissões no exterior, quando for o caso. Mas não pode. Bancos no Brasil, diferentemente de outros países, não podem ter contas em divisas. Outra incoerência.

Há mais problemas com o IOF. Um é que é um imposto só para pobres. A partir de um determinado volume, é possível abrir uma conta no exterior, transferir legalmente os recursos pagando 0,38%, apenas, e ter cartões de crédito e de débito e fazer saques sem pagar os 6% adicionais. Ocorre algo semelhante com investimentos, em que o pequeno investidor tem mais barreiras que o grande.

Outra distorção é que, como a alíquota para o papel-moeda é menor, a alta do imposto induz ao papel-moeda, mais vulnerável, informal e arriscado.

O IOF no câmbio é um imposto ruim, o que o governo arrecada com ele é menos do que perde com a redução do turismo. Algo parecido com o que ocorre com seu impacto no crédito, outra aberração que faz com que a cunha bancária (spread) aumente para juros mais baixos e operações menores.

Conclusão,o IOF é inoportuno, obsoleto e lalho. O quadro institucional do mercado de câmbio no Brasil piora ainda mais seu impacto, com a proibição de contas em divisas, a dinâmica na formação de preços e restrições operacionais. O que fazer? Mudar. O Brasil tem condições de ter um superávit na conta turismo, e três medidas podem começar a fazer diferença. Há mais.

A primeira é eliminar o IOF no câmbio e no crédito. O dinheiro é um insumo intermediário e a literatura prova que se arrecada mais tributando consumo final.

Uma mudança conveniente seria uma reforma institucional abrangente no mercado cambial (por que não em todo o mercado financeiro?). A atual é um freio, em vez de ser um propulsor para o País. Ha ganhos consideráveis com mudanças adequadas.

O mais urgente é melhorar o acolhimento aos turistas. Algumas medidas simples e baratas podem ter um impacto grande, como colocar mais agentes nos guichês de imigração, melhorar o controle de voos e proibir as redes de lanchonetes de cobrar mais no aeroporto do que na cidade.

Pôr uma linha de ônibus do aeroporto até uma estação do metrô a um preço razoável e com uma frequência maior ajudaria a melhorar a percepção dos turistas e contribuiria para descongestionar o estacionamento. Aumentar o número de táxis e reduzir seus preços são complementos oportunos.

O Brasil tem encantos mil, vamos compartilhar!

Amor e ódio à classe média - GUSTAVO PATU

FOLHA DE SP - 27/01

BRASÍLIA - "Eu quero que todos sejam classe média. Porque o que a classe média tem de benefícios, de casa, de educação, de saúde, de emprego, de salário, de poder almoçar num restaurante uma vez por mês, de poder tomar uma cervejinha no final do expediente... Todo mundo é filho de Deus e todo mundo tem direito às coisas boas deste país."

Assim falava Lula na campanha de 1989, quando sua barba preta e sua promessa de socialismo democrático ainda metiam medo --e não apenas em quem podia almoçar fora de casa mais de uma vez por mês.

Quase 25 anos depois, a expansão da classe média é o que de melhor a administração petista tem para mostrar ao mundo rico, como neste mais recente Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça. Pelas contas oficiais, dois terços dos brasileiros já estão na classe média; segundo o Itaú, serão três quartos até 2016.

É claro que sempre haverá muito a questionar nos critérios para demarcar quem é pobre, rico ou remediado. As estatísticas do governo encaixam na classe média uma mãe solteira de um filho, trabalhando como empregada doméstica por um salário mínimo. A grande maioria dos considerados de classe alta certamente se considera classe média.

No debate de Davos, segundo o relato de Clóvis Rossi, da Folha, o ministro Marcelo Neri, de Assuntos Estratégicos, brincou com uma definição americana segundo a qual classe média é quem possui dois cachorros, dois carros e uma piscina.

Historicamente, a turma da cervejinha e da piscina sempre foi uma pedra no sapato do pensamento de esquerda. Marx descreveu a classe média como reacionária e fadada à extinção num mundo dividido entre exploradores e explorados.

"Eu odeio a classe média", como disse sem rodeios a filósofa petista Marilena Chaui. Contrariando a profecia marxista, os pequenos burgueses se expandem e levam o governo ao centro e Dilma Rousseff à Suíça.

Ecos de Davos - PAULO GUEDES

O GLOBO - 27/01
A fala de Dilma atesta que, mesmo em ciências tão inexatas quanto a economia, o bom desempenho exige respeito aos seus fundamentos
A presidente Dilma assegurou no Fórum Econômico Mundial que tem compromissos com a responsabilidade fiscal, as metas de inflação e um ambiente institucional favorável aos investimentos. Uma política fiscal frouxa e uma política monetária hesitante foram responsáveis por expectativas inflacionárias adversas. E o controle de preços nas áreas de energia e petróleo bem como a indefinição de marcos regulatórios em setores de infraestrutura desestimularam os investimentos.
A ida e a fala de Dilma em Davos indicam que a presidente percebeu a importância do compromisso com políticas públicas de qualidade para uma coordenação bem-sucedida das expectativas que movimentam toda a engrenagem econômica.

"A vitória sobre a natureza só pode ser obtida pelo respeito às suas leis fundamentais", alertava o filósofo inglês Sir Francis Bacon, um dos pioneiros do pensamento científico moderno. O homem precisaria se libertar de falácias, ídolos e ilusões, descobrindo por métodos empíricos as leis necessárias para o domínio e o uso da natureza em seu proveito.

"Em política, ainda não encontramos esse caminho.

De todos os mitos humanos, os mais perigosos e duradouros são os ídolos políticos, como indica a súbita ascensão desses mitos no século XX. Na política, a crença na magia ainda prevalece, com pequenos grupos impondo suas ideias fantásticas sobre as grandes massas. Mas esses triunfos são efêmeros, pois existe uma lógica no mundo das relações sociais, assim como existe uma lógica no mundo físico. Existem certas leis que não podem ser violadas impunemente", registra o filósofo alemão Ernst Cassirer, em seu formidável "O mito do Estado" (1946).

Pois bem, ardem nas labaredas do inferno criado por eles mesmos os socialistas bolivarianos e peronistas do século XXI. A idolatria a Perón, mais do que obsoleta, tem sido desastrosa para a Argentina. E não haveria um mito mais crível para idolatrar o libertador Bolívar do que associá-lo a Karl Marx, que o chamou de "canalha, covarde, brutal e miserável"? Aprendem agora a duras penas que, mesmo em ciências tão inexatas quanto a economia, o bom desempenho também exige conhecimento e respeito aos fundamentos.

Pois, parafraseando Bacon, a conquista dos mercados só pode ser obtida pelo conhecimento de suas leis.

A ponte entre educação e economia - JOÃO BATISTA ARAUJO OLIVEIRA

O Estado de S.Paulo - 27/01

A última rodada do Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (Pisa), divulgada no final do ano passado, mostra que o Brasil continua firme no ranking entre os países com pior desempenho em educação. E os melhores países continuam os mesmos, com algumas mudanças de posição. As sete primeiras são ocupadas pelos asiáticos. A diferença entre os alunos do país mais bem colocado - China, Xangai - e os do Brasil é de mais de 200 pontos, ou seja, o equivalente a cinco anos escolares. É com países desse naipe educacional que competimos na arena internacional.

É fato que não se podem esperar grandes mudanças a cada aplicação do Pisa. Para isso acontecer teria sido necessário um esforço gigantesco dos brasileiros, o que não ocorreu. O que chama mesmo a atenção, contudo, é o silêncio e o alheamento dos responsáveis pela política econômica e das lideranças empresariais diante da situação educacional do Brasil em relação ao restante do mundo. Afinal, o Pisa é a ponte que liga a educação à economia do conhecimento.

Concebido na virada do século por especialistas reunidos pela Organização de Cooperação para Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Pisa logo se tornou um benchmark, o termômetro da qualidade internacional da educação. A cada ano é maior o número de países que adere a esse teste, aplicado a cada três anos e que é original em várias dimensões.

A característica mais importante do Pisa é a de que a avaliação afere habilidades consideradas essenciais para o sucesso do jovem na escola, no mercado de trabalho e na vida da economia do século 21. O teste está para a sociedade do conhecimento da mesma forma que saber ler e escrever estava para os primórdios da Revolução Industrial. É preciso ressaltar que o Pisa não é um teste escolar, ele mede a capacidade das pessoas de mobilizar conhecimentos das três disciplinas escolares básicas - Linguagem, Matemática e Ciências - para lidarem com informações e problemas do mundo real. É tudo o que um empresário gostaria de saber antes de recrutar um novo funcionário. O Pisa faz isso.

O Pisa também traz outro alerta importante para o setor produtivo: a escola deve preparar o aluno para continuar a estudar e para resolver os problemas concretos do mundo. Mas para isso é preciso existir um ensino rigoroso das disciplinas básicas no ensino fundamental. Profissionalização é assunto para o ensino médio e deve ser realizada em instituições com vocação específica, não relegadas a status inferior em escolas de educação geral.

Os dados colhidos na aplicação dos testes também revelam a importância da disciplina, da pontualidade e do respeito aos professores para o sucesso escolar dos alunos. Crianças que faltam ou se atrasam já na pré-escola se situam entre as de pior desempenho mais tarde. A escola não é fábrica. A educação escolar, contudo, deve ser também educação para a cidadania e para os valores do mundo do trabalho.

Estudos realizados com alunos que fizeram o primeiro teste do Pisa, em 2003, comprovam a sua validade preditiva quanto ao desempenho acadêmico e profissional dos jovens nas economias globalizadas. Não por acaso, em pouco menos de dez anos o Pisa virou uma espada de Dâmocles pairando sobre os países industrializados, levados a ajustar os seus sistemas educativos aos resultados do teste.

Da última rodada do Pisa participaram 65 países. O Brasil ficou entre os seis e/ou os oito piores, dependendo da disciplina considerada - Linguagem, Matemática e Ciências. O mais preocupante é a quantidade de alunos brasileiros abaixo do mínimo, o nível 2 - em Matemática são mais de 67%. Nos países da OCDE, com os quais competimos comercialmente, 23% dos alunos estão abaixo desse nível.

Outro dado que deveria preocupar as elites brasileiras: em média, 12,6% dos alunos dos países da OCDE alcançam o patamar superior da prova. Esse porcentual no Brasil é de apenas 0,8%. Não cuidamos das categorias de base nem do grupo de elite. A média dos alunos de nossas escolas particulares fica a uma boa distância abaixo da dos países mais desenvolvidos. E por aí vai.

O Brasil participa do Pisa desde a primeira rodada e tem mostrado alguns avanços. Mas a maior parte deles não se deve a melhoras na educação, e sim na economia. O melhor desempenho econômico das famílias e a escolaridade dos pais estão entre os fatores que explicam o avanço dos alunos. No País é a economia que melhora a educação, e não vice-versa. Nada que justifique qualquer demonstração de euforia.

O comentário mais interessante sobre os resultados dos Estados Unidos no Pisa de 2012 veio do economista Erik Hanushek, da Universidade Stanford. Disse ele: "Nossa economia ainda continua forte porque temos um bom sistema econômico capaz de superar as deficiências de nosso sistema educativo".

Mudar a educação não é fácil. Se fosse, muitos países teriam um sistema educacional muito melhor. Mas os caminhos para que isso ocorra são conhecidos e são muito diferentes dos que vimos trilhando ou do que está delineado no Plano Nacional da Educação (PNE). Em qualquer país, uma reforma educativa requer o estabelecimento de um consenso e uma mobilização em torno de ideias básicas e cientificamente fundamentadas, como currículo, avaliação, formação e carreira de professores e gestão. Requer foco e capacidade de definir prioridades, sem açodamento. E requer também uma enorme capacidade de implementação adequada, no caso, ao nosso modelo federalista de governo.

Se Erik Hanushek teme que a economia americana não venha a se tornar robusta o suficiente para financiar um sistema educacional que se situe na média do dos países da OCDE, o que diria ele da economia brasileira? Penso que não compartilharia a euforia que o ministro da Educação do Brasil tem demonstrado.