quarta-feira, janeiro 08, 2014

Na dúvida, não ultrapasse - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 08/01

Basta alguém mencionar a expressão “on the road” para nos seduzir. Cair na estrada? Nem é preciso chamar duas vezes, convite aceito. Lá vamos nós de mochila, boné e óculos escuros, em boa companhia, escutando música vibrante e com um enorme mapa nas mãos – sim, de papel, nada de GPS e aplicativos, onde fica o romantismo das velhas aventuras?

Sempre fui fascinada por estradas. As que atravessam cordilheiras, as que cruzam desertos, as que se avizinham de plantações, as que costeiam o mar, as que passam em meio a pequenos vilarejos, as de terra, as asfaltadas, as estreitas, as desafiadoras, as que parecem que vão dar em lugar nenhum – mas sempre dão.

Estrada é movimento, liberdade, beleza, poesia. Sem falar no erotismo que ela insinua – não sei se por causa das curvas ou do quê.

Estamos na temporada mais festejada do ano: sol, praia, férias, e elas, as estradas. Mas corta! Onde estão o cenário, as cenas de filme, o charme? Estamos falando de BR-101, BR-116, RS-040 e demais vias lotadas de veranistas afoitos e caminhoneiros cansados, de carros velozes e de outros que já deveriam ter sido aposentados, de gente que corre demais e que, na dúvida, aí mesmo é que ultrapassa. Dã.

Lembro de escutar uma história sobre um cara que, ao ver um carro se aproximando na pista contrária bem no momento em que ele estava ultrapassando, em vez de recuar, acelerava ainda mais, enquanto berrava para quem vinha: “Vai se ferrar, vai se ferrar!!” (o verbo não era exatamente ferrar).

Muito engraçado. Mas eu não gostaria de pegar uma carona nessa piada.

Não importa quem é o imprudente, se o motorista de lá ou de cá, se quem vem ou quem vai, se quem é defensivo ou agressivo: basta um deslize e todos se ferram. Todos. Um pneu que estoura de repente, um irresponsável que bebeu antes de dirigir, um alucinado que pisa fundo para homenagear o Schumacher, um impulsivo que toma decisões sem pensar, um ansioso que não tolera perder 10 minutos e segue pelo acostamento, um que acredita que os outros motoristas têm bola de cristal e por isso não vê necessidade de acionar o pisca-pisca, outro que mal distingue se o carro que está 50 metros à frente está indo ou vindo.

Estrada é movimento, liberdade, beleza e poesia – mas quando vazia, quando estamos em locais onde a sinalização é espetacular e o asfalto parece um tapete, quando não há pressa em chegar, quando não há fluxo intenso, quando não prevalece a cultura da superpotência em quatro rodas, quando estamos a passeio, e não armados para uma guerra. Não na temporada de férias num país onde a imprudência ganha as manchetes dos jornais toda segunda-feira de manhã, depois das ultrapassagens arriscadas do final de semana.

Pegar a estrada é eletrizante, com certeza. Mas, motoristas, duvidem mais.

Outro valor se alevanta - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 08/01
Na semana em que Portugal perdeu o seu gênio do futebol, o Pantera Negra Eusébio, tomei conhecimento da importância de outro português, que pode estar promovendo uma revolução em área diferente, na medicina, mais precisamente no diagnóstico de câncer. É o cientista Tiago Brandão Rodrigues, de 36 anos, pesquisador da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, que chegou aos jornais e à televisão, não só de seu país, por ter desenvolvido uma técnica de ressonância magnética que aumenta a sensibilidade do equipamento tradicional em até 100 mil vezes, permitindo maior eficácia na detecção e tratamento de tumores. Logo depois de publicada a revelação na revista científica Nature Medicine , a notícia espalhou-se pela imprensa europeia e conferiu ao autor da inovação uma inesperada notoriedade.
Com nosso complexo de superioridade em relação aos nossos ancestrais, não sei se vamos engolir esse sucesso sem uma boa dose de inveja. Em relação a Eusébio, a quem eles chamam de rei , foi sempre fácil aceitar sua glória porque temos Pelé, o rei dos reis, com quem ele jamais quis rivalizar, como Maradona tenta, por exemplo. Mas quanto a esse jovem cientista, não sei, ainda mais que há lá quem acredite que ele possa vir a ser um possível candidato ao Nobel, onde estamos perdendo por 2 x 0: em Literatura, com José Saramago, ganhador do prêmio em 1998, e em Medicina, com Egas Moniz, em 1949. É bem verdade que nesse último caso houve controvérsia. Depois de indicado quatro vezes pela descoberta da angiografia cerebral, que tornou possível localizar neoplasmas, aneurismas, hemorragias, ele acabou sendo laureado pela discutível lobotomia, uma brutal intervenção cirúrgica no cérebro para o tratamento de doenças mentais como a esquizofrenia. A técnica, que foi muito popular principalmente nos EUA, deixou de ser praticada em 1960, banida pelas organizações médicas. Familiares de pacientes lobotomizados chegaram a tentar anular a atribuição do Nobel a Egas Moniz.

No caso do aperfeiçoamento da ressonância magnética, porém, parece não haver risco nem contraindicação, só benefícios.

Em mais de 40 anos morando na Zona Sul do Rio, estas últimas semanas foram as primeiras em que evitei caminhar no calçadão de Ipanema sob o inclemente sol deste verão, como costumava fazer religiosamente. Pode não significar nada para os indicadores meteorológicos oficiais, mas para meu sistema térmico foi um marco, um triste e inédito acontecimento. Para piorar, havia o mau cheiro do mar e a má aparência de uma estranha espuma atribuída às algas e que, mesmo sem fazer mal à saúde, como alegaram as autoridades ambientais, enfeava a paisagem, com seu aspecto viscoso e sua cor amarelada. Pena dos turistas nacionais e estrangeiros que vieram pelas praias.

Como as festas nos devoram - ROBERTO DAMATTA

O Estado de S.Paulo - 08/01

Passado o período das "festas", vivemos um típico retorno às rotinas de um necessário conformismo humano diante da "realidade" - trabalho, problemas, preocupações...

Há algo básico nesse processo: o fato de que até segunda ordem a maioria vive sem nenhum brilho ou representa um papel de destaque na vida social. A festa (como o esporte que é o seu lado mais oficioso) obriga a uma fabricação fora do "real" - não seria melhor gastar em segurança, saúde e escolas? Por isso, elas inventam objetos e lugares especiais, preferencialmente de cabeça pra baixo, sobretudo no caso dos sistemas muito bem marcados por uma séria consciência de lugar, como é o caso brasileiro.

Sem o famoso "bolo de aniversário" ao gosto do aniversariante e com seu nome nele gravado a chocolate, como era o meu caso, não pode haver o teatro que alguns chamam de "ritual". Objetos e comidas especiais levam ao uso de roupas e adereços que distinguem papéis e pessoas. Mesmo sem conhecer, sabemos quem é o aniversariante por sua roupa e sua posição na mesa. É ele e é dele o dever privilégio de apagar as velas do seu bolo, que será devidamente comido por todos os convidados.

Diz um velho axioma que todas as culturas replicam seus valores em suas manifestações, mesmo as mais humildes. São essas redundâncias que promovem as certezas, como dizia Edmund Leach; ou essas invariantes, no linguajar de Lévi-Strauss. Réplicas idênticas a si mesmas que vão do mais sério ao mais vulgar. Dou um exemplo: no Brasil, as festas têm que ter música; comemos misturando a comida. O detestável "bandejão" é uma invenção americana, na qual tudo é sempre individualizado. No uso das máscaras, desmascaramos a ilusão elitista de que somos alienados.

Seria preciso remarcar que o tema oculto das festas de aniversário, com as quais internalizamos a ideia de "idade" e de pertencimento a uma família (cuja obrigação é produzir a festa), tem tudo a ver com a comensalidade comunitária do canibalismo cristão? Nele, Cristo se une ao pão e ao vinho e os distribui dando a cada um, no ato de comer em conjunto, a mesma comida, a consciência precisa de seu pertencimento a ele e a toda a coletividade nele focada e por ele criada.

Comer a mesma comida é essencial para pertencer. No aniversário, somos obrigados a "comer" o bolo do Juquinha, o qual é um símbolo do próprio aniversariante, que, por sua vez, se delicia comendo com gosto o maior pedaço de si mesmo; depois de, como um velho Deus, soprar para apagar as velinhas que marcam as suas "primaveras". Eis o tema do comer, do devorar, do englobar e do assentar o outro dentro de si mesmo como um ato de comunhão ou um gesto de superioridade. Eis de volta o canibalismo fundacional que significa, entre muitas coisas, o dar-se em sacrifício a uma pessoa ou grupo - o extremo do altruísmo. Ou, como remarcou Freud, tomar consciência dos limites que nos tornam humanos. Morrer apaixonadamente por amor e matar heroicamente por amor. Fiquemos nessa paisagem.

As festas exigem locais e, no caso dos rituais de passagem de ano - de um tempo em que toda a humanidade aniversaria - a praia (mediadora entre a terra firme e fechada por propriedades e o mar aberto, líquido e sem fronteiras visíveis) e os fogos de artifício acentuam o orgasmo formidável, embora, é claro, fugaz. Eles são explosões benéficas que fazem parte do que imaginamos como "graça" ou "milagre". O morrer-nascendo ou o nascer-morrendo da consciência explosiva de alguma coisa como acontece quando escapamos de um perigo ou entramos num templo, juntam ou rejuntam esses polos que a rotina e o princípio da realidade distinguem de modo absoluto. No caso, o nascer como oposto do morrer, justo o que se pretende negar na passagem de um ano a outro porque o que se almeja é, obviamente, um belo futuro e não o fim do mundo. Marcamos 2013 sem deixar de querer que 2014 seja uma adição numa série infinita.

Os fogos de artifício enfatizam o fim sem negar o começo. As bombas se repetem para eliminar as distâncias entre o "ser", o "ter sido" e o "vai ser". Elas são ajudadas pelos fogos e, pela presença das celebridades que, cantando e dançando, brilham e trabalham para nós, dignificando vidas comuns.

Os famosos precisam de nós, tal como os deuses precisam de devotos. O que seria de um cantor sem um auditório? Os santos, as celebridades, os muito ricos e poderosos, abrem-se ao encontro e recebem de volta aquela vida trivial que também é deles, mas que a fama tem o papel de esconder. O grande feiticeiro sabe que não faz nada, exceto quando encontra o impotente sofredor que, com uma fé absurda, o procura em busca de cura.

Em toda festa, nos sujeitamos a uma contaminação ampliada pela eventual presença dos famosos. Nas comemorações, juntamos o velho com o novo, a vida com a morte, o superior com o inferior e com ajuda do nobre e mero álcool e dos "fogos de artifício" (fogos de mentira, porque os de verdade, matam); cortamos a água do grandioso rio do tempo que corre sem parar e não pode ser pisada duas vezes.

Ueba! Chegou a frente frita! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 08/01

E com a morte do Nelson Ned, o único anão celebridade do Brasil agora é o ACM Neto


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Previsão pra 2014: a Dilma vai ser reeleita e a Argentina vai ganhar a Copa do Mundo. Rarará!

E aviso pros urubus de plantão: "Vai ter Copa!". E você acredita que, no primeiro dia útil do ano, segunda de manhã com chuva, cidade vazia, uma mulher conseguiu bater no único carro da esquina daqui de casa? Essa entrou o ano com o pé direito. No acelerador! Rarará!

E se em Nova York você encontrar um boneco de neve com um monte de sacolas na mão, é brasileiro! E se você encontrar um monte de neve com uma sacola em cima, pode cavoucar que é brasileiro! Um amigo meu tá trazendo neve na mala pro Brasil! Rarará!

E com a morte do Nelson Ned, o único anão celebridade do Brasil agora é o ACM Neto. E a manchete do Piauí Herald: "Dilma decreta meio minuto de silêncio pela morte de Nelson Ned". Rarará!

E esse calor? Bafo dos infernos! Sensação térmica: test drive pro inferno! Os gaúchos já mudaram o nome de Porto Alegre pra Forno Alegre! E olha essa num site de Campinas: "Frente frita derruba temperatura em 10 graus em 2 horas". Errou acertando! Tá tendo frente frita no Brasil. Chegou a frente frita!

Tem que aproveitar ar condicionado de banco. Um amigo meu levou a cadeira de praia pra agência do Banco do Brasil!

Ontem eu dormi no freezer ligado no modo nevar. E anteontem dormi deitado no chão com o travesseiro dentro do frigobar!

E um amigo foi dormir no terraço e perguntou pra mulher: "Se os vizinhos me virem pelado o que eles vão dizer?". "Que eu me casei com você pelo dinheiro". Rarará!

E hoje eu acordei loiro, com os miolos derretidos! Aqui em casa é ar condicionado ecológico: um respira e o outro aspira. Um respirando na cara do outro! Rarará!

E lá no Rio os relógios de rua estavam marcando a temperatura: "Fudex"! Sensação térmica: FUD*#! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

E um amigo foi pra Caldas Novas e desejou Feliz 2014 para todos os operadores de pedágio. Resultado: passou o Réveillon rouco!

Ai que saudades da leitoa que eu comi no Natal. Do focinho ao rabicó! E sabe por que em São Paulo tivemos 24 horas de fogos? Eram os corintianos e os são-paulinos desovando os fogos do ano passado! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Mary Poppins, Sherlock e um filme datado - ARTUR XEXÉO

O GLOBO - 08/01

P.L.Travers era o pseudônimo com que a escritora australiana Helen Lybdon Goff assinava a série de romances infantis protagonizados por Mary Poppins. Não me lembro de Mary Poppins ser um personagem de sucesso no Brasil antes do lançamento do filme da Disney em 1964. Mas, na verdade, Travers escreveu, entre 1934 e 1989, oito livros sobre a babá voadora, todos muito populares na Grã-Bretanha. Walt Disney passou 20 anos tentando comprar os direitos de adaptação para o cinema das aventuras de Mary Poppins, mas a escritora nunca fechou negócio. Ela temia que uma adaptação hollywoodiana mudasse a personalidade de seus personagens, não queria que o o possível filme fosse um musical e rejeitava qualquer tentativa de transformar seus livros num desenho animado. Mas, em 1961, a vida financeira de Travers não estava muito saudável e ela vendeu os direitos, com a condição de que teria que aprovar o roteiro. Em 1961, saiu de Londres, onde estava radicada desde 1924, e passou duas semanas em Los Angeles trabalhando com Disney na pré-produção do filme. “Walt nos bastidores de Mary Poppins”, que estreia no Brasil no dia 7 de fevereiro, conta o que teria acontecido nessas duas semanas.
Com Tom Hanks no papel de Wald Disney (ele está muito bem, melhor que em “Capitão Phillips”, e deve ganhar uma indicação para o Oscar de melhor ator coadjuvante) e Emma Thompson como P.L.Travers (ótima, indicação garantida para melhor atriz, mas vai acabar perdendo o Oscar para Cate Blachet em “Blue Jasmine”), o filme tem muito pouco a ver com o título que recebeu no Brasil. “Saving Mr. Banks”, o original, é uma referência ao “pai’ das histórias de Travers, um personagem inspirado em seu próprio pai. O filme mostra duas narrativas. Na primeira, os tais bastidores de Mary Poppins do título brasileiro. Na outra, a infância de Travers, na Austrália, com o pai alcoólatra, a mãe sofredora e uma tia que era a Mary Poppins em pessoa. Nos bastidores, Travers trabalha para salvar no roteiro a imagem de seu personagem e, no fim das contas, salvar a imagem do próprio pai.
“Walt nos bastidores de Mary Poppins’ é sensível como poucos filmes dessas temporadas de Oscar sabem ser. Se superar a esquisitice do título brasileiro, o espectador certamente vai se emocionar.
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O ano mal começou e a televisão britânica já tem um fenômeno de audiência em 2014. O país parou no dia 1º para ver o primeiro episódio da terceira temporada de “Sherlock”, a série de TV que traz para a Londres de hoje o personagem de Arthur Conan Doyle. “Sherlock” é um sucesso de audiência desde sua estreia em 2010. Mas o episódio da semana passada tinha um apelo a mais para atrair 9,2 milhões de espectadores (a maior audiência do programa desde seu lançamento). Afinal, a última vez que Sherlock foi visto, no último episódio da segunda temporada, ele estava... morto. Isso foi há dois anos. Portanto, há dois anos os espectadores consideravam a série encerrada. A curiosidade era justificada. Como os roteiristas resolveriam o caso? Como Sherlock ressuscitaria? O episódio apresentou três alternativas para a ressurreição de Sherlock. Nenhuma convenceu muito o público. Ninguém entendeu muito bem qual das três deveria ser considerada a verdadeira. Mas o programa bombou.
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Não vou bancar o chato e dizer que não gostei de “A grande beleza”, o filme italiano que vem conquistando público e crítica. Não fiquei embasbacado, como todo mundo, mas gostei do filme. Diante da dieta de filmes americanos tolos que a gente se sente na obrigação de ver nesta época do ano só porque estão dizendo que talvez eles sejam candidatos ao Oscar, “A grande beleza”, provável candidato a melhor filme estrangeiro, é um refresco. O problema é que... é tão anos 60! A estética, as questões, a crítica, a Itália, tudo parece saído de um filme que foi visto 50 anos atrás. Bem, muita gente que está babando o filme não tinha nem nascido 50 anos atrás. Tudo bem que se deslumbrem com o que aparentemente é novo. Mas as locadoras de vídeo, as emissoras de televisão a cabo, a pirataria na internet estão aí para cobrir esse buraco. “A grande beleza” é tudo isso que estão dizendo. Mas é também irremediavelmente velho.
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Outro dia, falando de Coccinelle, falei também de calças rancheiras. Foi isso que valeu o e-mail do leitor Allan Assrany: “Aqui em Belo Horizonte, as rancheiras eram conhecidas como calças faroeste, e o Colégio Santo Agostinho, além de proibir o seu uso, colocavam um irmão na entrada para levantar um perna de nossas calças e averiguar se não usávamos keds (tênis, só mais tarde).”
Esse negócio de irmão levantar a perna da calça de aluno, hoje em dia dá processo.
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Leio que, após uma menina de três anos cair de uma altura de sete metros dentro do Galeão, fiscais do Procon visitaram o aeroporto e descobriram que o ar condicionado não funciona, que os elevadores estão parados, que o bebedouros não têm água, que a esteira que liga o Terminal 1 ao 2 tem uma canaleta quebrada... Vem cá, precisava ocorrer um acidente para o Procon descobrir o que qualquer carioca já sabe há alguns anos?


Cuidado com seus projetos - MARCELO COELHO

FOLHA DE SP - 08/01

No centenário da Primeira Guerra Mundial, o perigo das previsões merece ser lembrado


Previsões e planos, duas coisas comuns nesta época do ano, costumam sofrer depressa o desmentido dos fatos. Raras vezes esse desmentido foi tão brutal, contudo, quanto na Primeira Grande Guerra, cujo início faz cem anos agora em 2014.

Comecei a ler um pouco sobre o assunto, para depois resenhar os livros que estão programados para a efeméride. Pelo que andei vendo, um bom ponto de partida é o estudo de Barbara Tuchman, publicado pela primeira vez em 1962.

Chama-se "The Guns of August" e representou uma virada nas interpretações sobre o período. Ela relativiza, por exemplo, a importância do famoso assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando em Sarajevo --tantas vezes mencionado, numa síntese que nunca explica muita coisa, como sendo o "estopim" da Primeira Guerra.

A autora de "A Marcha da Insensatez" (Bestbolso) dá ênfase a toda a verdadeira máquina infernal de preparativos militares, tanto da Alemanha como das demais potências, que tornava qualquer ameaça de conflito praticamente impossível de reverter. Na narrativa de Tuchman, planos desse tipo se chocam com as previsões, que eram muitas também. Como em todo ano novo, 1914 encenou dramaticamente a ironia entre o que se quer que aconteça e o que se pensa que vai acontecer.

Nunca entendi por que o famoso filme de Jean Renoir sobre a Primeira Guerra se chamava "A Grande Ilusão". Que ilusão? A de que pessoas de diferentes nações são diferentes entre si? A de que a amizade entre um alemão e um francês pode superar rivalidades? A ilusão é a paz? Ou a ilusão é a guerra?

Graças ao livro de Tuchman, aprendi que "A Grande Ilusão" é o título de um estudo escrito pelo inglês Norman Angell (1872-1967). A obra fez sensação na "belle époque".

Demonstrava-se, ali, a improbabilidade absoluta de uma nova guerra europeia. Os recursos técnicos e humanos à disposição de cada país eram tão vastos que qualquer conflito seria suicídio: mesmo a nação vitoriosa emergiria dele totalmente arruinada e destruída. Num mundo interessado no lucro, quem apostaria em prejuízos de tal monta?

O livro saiu em 1910. Ninguém menos do que o chefe do Conselho de Guerra do Império Britânico, Lord Esher, entusiasmou-se com a tese e tratou de divulgá-la em palestras e cursos. Uma das figuras máximas do militarismo alemão, o marechal Von Moltke (1800-1891), já enunciara ideias semelhantes. As guerras por vir jamais seriam curtas, e o seu preço, mesmo para o país vencedor, seria catastrófico.

Enquanto as previsões iam nessa toada, os planos caminhavam em sentido contrário. Ou melhor: levando em conta os mesmos fatos, conduziam a uma conclusão oposta.

Sabendo-se que todas as potências eram fortíssimas, e que uma guerra longa e custosa poderia acontecer, o único método para garantir a vitória consistiria em atacar de uma vez, o mais cedo possível...

Beneficiando-se de uma ofensiva-surpresa, que passasse por cima da Bélgica, tão fraca e tão neutra, os alemães contavam chegar a Paris em questão de semanas. Do lado francês, o Estado-Maior concluía, em 1913, que "só a ofensiva conta".

Estabelecido o dogma militar, parece pesar pouco a vontade dos participantes no momento em que o drama se aproxima. Esta, pelo menos, é a interpretação de Barbara Tuchman, que narra um episódio arrepiante com o Kaiser alemão.

Não se tratava, evidentemente, de nenhum pacifista. Mas a guerra entre Alemanha e Rússia já estava declarada, e era do interesse de qualquer estrategista evitar que França e Inglaterra entrassem no conflito. Para os alemães, sempre seria um pesadelo dar conta de duas frentes --a do Oeste e a do Leste-- ao mesmo tempo.

Surge uma chance. Eram cinco horas da tarde do dia 1º de agosto de 1914 quando aparece, em Berlim, um telegrama em código informando que os ingleses estavam dispostos a manter-se neutros na guerra, caso os alemães se comprometessem a não atacar a França.

Mas todos os planos para o ataque já estavam em movimento. O Kaiser hesita: e se for um blefe? E se os franceses atacarem antes do mesmo jeito? Conversa com seu chefe de Estado-Maior.

Moltke, o Jovem (sobrinho daquele marechal do mesmo nome que previa ruína e exaustão para os vencedores), já não tinha paciência para com os palpites do imperador. Como se lê em "Os Três Imperadores", de Miranda Carter (Objetiva), Guilherme 2º desde cedo manifestava grande vaidade intelectual, achava que entendia de tudo.

Moltke chorou ao ver aquelas tentativas apaziguadoras do Kaiser. Era hora de deixar a guerra para os militares, que entendiam do assunto. Assim foi feito.

Previsões e planos para 2014? Por vezes, não fazer nada já é uma iniciativa e tanto.

Russos estão chegando - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 08/01

A Fifa está esperando para a Copa do Mundo de 2014, aqui, a chegada de uns 55 mil mexicanos, 50 mil ingleses, 40 mil italianos, 30 mil holandeses e 25 mil russos.
A maioria fará algum tipo de escala no Rio.

Os alcaguetes
A Comissão da Verdade do Rio localizou, no Arquivo Público do Estado do Rio, uma lista de 411 funcionários públicos que, além dos salários, receberiam um dindin por fora para dedurar inimigos da ditadura.
Na lista, entre os alcaguetes, recrutados pelo Dops, está o policial Mariel Mariscotte, acusado de ser do Esquadrão da Morte.

Acadêmicos da seca
O presidente da Cedae, Wagner Victer, estava, sábado, na quadra da União da Ilha do Governador, quando Letícia Martins, rainha do carnaval do Rio em 2014, aproximou-se e disse:
— A casa da minha mãe, em Belford Roxo, está sem água faz tempo!

Mãe boa
Luana Piovani, a atriz e mãe do pequeno Dom, está cada vez mais envolvida com o universo infantil. A bela começa a ensaiar, na próxima semana, seu novo espetáculo para crianças.
Com texto de Adriana Falcão e direção de Gabriel Villela, a peça “Mania de explicação” vai contar a história da menina Isabel, que gosta de inventar novos significados para as palavras.

No mais
Na mitologia nórdica, o mundo tem nova data para acabar: 22 de fevereiro de 2014.
Mas o apocalipse já começou pelo Maranhão de Sarney.

A Igreja se mexe
Papa Francisco mandou mensagem de saudação aos participantes do 13º Encontro Nacional das Comunidades Eclesiais de Base, que vai de hoje até sábado, em Juazeiro do Norte, no
Ceará, terra do “Padim Ciço”.
É a primeira vez que um Papa faz isto.

Como se sabe...
As CEBs, por causa de sua ligação com a luta política no passado, foram satanizadas pela cúpula da Igreja.

A voz da favela
Vários eventos estão sendo organizados para celebrar o centenário de Carolina Maria de Jesus (1914-1977). Trata-se da autora do livro “Quarto de despejo”, que foi traduzido para 13 línguas.
Em abril, ela será homenageada no VI Colóquio Mulheres em Letras, em Minas. A abertura será feita pelo historiador José Carlos Sebe Bom Meihy, autor do livro “Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus”.

Em tempo...
Negra e catadora de papel, ela foi descoberta para a literatura pelo coleguinha Audálio Dantas, numa favela onde hoje fica o estádio da Portuguesa, em São Paulo.

Batalha das Canoas
O Comitê Rio450, como aperitivo das comemorações pelos 450 anos da cidade do Rio, ano que vem, realizará, sexta agora, um evento em plena Baía de Guanabara, na altura do Flamengo. 
De um barco, dom Orani Tempesta, o arcebispo do Rio, fará orações e jogará flores ao mar em memória de índios, portugueses e franceses que morreram na famosa Batalha das Canoas, em 1566.

Mãozinha...
Reza a lenda que durante a Batalha das Canoas a imagem de São Sebastião teria aparecido em meio à fumaça, afugentando os bravos índios tamoios, aliados dos franceses.

A vida não é justa
A Editora Agir vai lançar, este ano, o segundo livro da série “A vida não é justa”, da juíza Andréa Pachá.
O primeiro, com histórias de encontros e desencontros numa Vara de Família, vendeu, até agora, 30 mil exemplares.

Estrela solitária
Uns apaixonados torcedores do Botafogo se juntaram e criaram, como se sabe, o grupo Botafogo Sem
Dívidas, que trabalha para ajudar o clube a pagar o que deve à Receita Federal. Em um dia, a turma conseguiu arrecadar R$ 17 mil.
Agora, só faltam uns R$ 129 milhões.

Cena carioca
Um casal que visitava, sexta passada, o Museu Imperial, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, ficou impressionado com uma cadeirinha de arruar, aquele meio de transporte de tração humana muito comum por aqui nos séculos XVII e XVIII. A mulher soltou:
— Nossa! Cabiam duas pessoas aí? Mas é muito apertado.
E o marido:
— E você ainda reclama da Fiat Uno. Há testemunhas.

CHOQUE DE GESTÃO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 08/01

São Paulo é um dos Estados com maior número de municípios que ainda não assumiram a manutenção da rede de iluminação pública no país, como determina a Constituição. Apenas 145 das 645 cidades paulistas fizeram a transferência para a administração municipal no prazo estipulado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

CHOQUE DE GESTÃO 2
A data limite fixada para o fim de 2013 foi prorrogada para dezembro de 2014. De acordo com a Aneel, apenas 65% dos municípios brasileiros cumpriram a determinação. Além de São Paulo, os Estados mais atrasados são Minas Gerais, Pernambuco, Ceará, Amapá e Roraima. As prefeituras alegaram dificuldade na criação da Contribuição de Iluminação Pública para custear o serviço.

CHOQUE DE GESTÃO 3
A capital paulista é um dos municípios que fizeram a transição. Criou uma empresa pública, a Ilume. Outros optaram pela terceirização. A Secretaria de Estado de Energia preparou cartilha para auxiliar os gestores municipais no processo. A maioria dos prefeitos empurram com a barriga a criação da taxa.

TERRA E AR
A família Guinle deu mais um passo para provar na Justiça que a União rompeu os termos da doação da área que abriga o aeroporto de Cumbica. Em 1940, o terreno foi doado por eles ao Ministério da Guerra para ser um aeródromo militar. O imbróglio começou após o aeroporto ter 51% de seu controle privatizado.

TERRA E AR 2
Em 9 de dezembro, a família registrou ata em cartório para documentar o caso. "Eles (a União) queriam desqualificar a escritura de doação dizendo que era antiga. A ata torna os fatos incontroversos", diz Fabio Goldschmidt, advogado dos Guinle. A Advocacia-Geral da União afirma "que é indevida a tentativa de reverter a doação da área".

TERRA E AR 3
Os herdeiros querem entrar com ação contra a União e a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) até março.

PEIXINHO
o mais novo piloto do clã Piquet, Pedro, 15, vai disputar sua primeira corrida de carro neste fim de semana. Ele está na Nova Zelândia para competir na Toyota Racing Series, categoria de formação disputada em cinco etapas. Será o mais novo do grid de largada.

PEIXINHO 2
Recuperado da cirurgia cardíaca feita no ano passado, Nelson Piquet embarcou com o filho logo após o Ano-Novo. O herdeiro do tricampeão de F-1 leva na bagagem resultados no kart, como o troféu FIA Academy na Itália em 2013, espécie de mundial para jovens.

MEDIDA CERTA
Preta Gil passa temporada no spa Sete Voltas, desde o dia 2, acompanhada do namorado, Rodrigo Godoy, do amigo e apresentador Gominho e de uma assessora. Após perder 7,9 kg no "Medida Certa", a cantora aderiu à dieta de 800 calorias por dia, com muita soja. Myriam Abicair, dona do spa, diz que a hóspede famosa não quer ouvir falar em exercícios, enquanto o namorado malha e não tem restrição alimentar.

DE ESPARTILHO
Adriana Alves vai encarar duas personagens de época no cinema em 2014. Namorada do chef Olivier Anquier, a atriz foi escalada para "Helena", adaptação da obra de Machado de Assis, com direção de Sérgio Araújo. Em "Dona Beja", de Débora Torres, fará o papel de Dona Crioula.

BRINDE NA PAULISTA
Os empresários Sérgio Kalil e Lygia Lopes receberam convidados anteontem no aniversário de 20 anos do restaurante Spot, nos Jardins. O ex-jogador de futebol Raí e a namorada, Viviane Lescher, o ator Tato Gabus Mendes, a blogueira Julia Petit e a designer Nasha Gil foram ao coquetel. A stylist Flavia Brunetti, o cineasta Arnaldo Jabor, os atores Tuna Dwek, Claudio Curi e Linda Conde e o DJ Felipe Venancio também estiveram na comemoração.

CURTO-CIRCUITO
A peça "Pedro e o Capitão" retoma temporada hoje, às 20h, no CCBB-SP. Em cartaz até 19/1. 16 anos.

Fabrício Carpinejar lança o livro "Vida em Pedaços" na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Amanhã, às 19h.

A turnê do Guns N' Roses no país vai passar por Belo Horizonte (22/3), Brasília (25/3), São Paulo (28/3), Curitiba (30/3), Florianópolis (1/4) e Porto Alegre (3/4).

Cobrança indevida - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 08/01

O PP prepara ação, junto ao STF, contra os governos de São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Esses cobram indevidamente o ICMS da conta de luz. Os estados ignoram o desconto concedido, no governo Dilma, de 20% do valor da conta. O usuário paga R$ 80 em conta de R$100. Mas os governos cobram o imposto sobre o valor cheio e não do pago pelos consumidores.

Espelho, espelho meu
A cúpula do PMDB não engole as especulações dos petistas sobre a redução de um ministério do partido. O PT acha que o aliado deve perder uma pasta caso receba o Ministério da Integração na reforma. O PMDB avalia que manter os atuais postos (Minas e Energia, Agricultura, Turismo e Aviação Civil) e ocupar a nova pasta é condizente com o peso do partido no governo Dilma. Eles lembram que, no governo Lula, os peemedebistas tinham maior peso na gestão. O partido comandava a Saúde, a Integração e as Comunicações. Por isso, consideram que, depois de dois anos ocupando postos secundários, já está na hora de o PMDB exercer funções de maior visibilidade política.


“A macroeconomia é uma coisa. Mas se a economia do cotidiano estiver bem, a campanha pela reeleição da presidente Dilma será favorecida”
Michel Temer
Vice-presidente da República (PMDB)

Corrida contra o relógio
Os líderes querem acelerar a votação da PEC dos Mensaleiros na Câmara. Aprovada no Senado, ela leva à perda automática do mandato por crimes de corrupção. Querem evitar o constrangimento de votar a cassação de João Paulo Cunha (PT-SP).

Investindo no Sul
O candidato do PSB ao Planalto, o governador Eduardo Campos (PE), gravou inserções regionais que serão exibidas a partir desta sexta-feira em rede de televisão no Paraná. O socialista tem conversado com frequência com Marina Silva (Rede). E ambos têm se confessado impressionados com o volume das tentativas de intrigá-los.

Orientação geral para os socialistas
Os dirigentes regionais do PSB estão sendo orientados a evitar atritos com o PSDB. Onde não for possível uma aliança, eles são aconselhados a lançar candidatos com capacidade de diálogo. O objetivo é limpar os trilhos para o segundo turno.

Explicação para o leiteiro
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, mandou mensagem ao Planalto explicando suas recentes declarações. Ele não nega ter dito que nunca os estádios ficaram prontos tão em cima da hora. Mas fez questão de explicar que sua fala não tinha o tom, ou o objetivo, de apontar a existência de um risco na realização e no êxito da Copa.

A disputa pela vice
Foi o presidente do PMDB mineiro, Saraiva Felipe, dizer que quer ser o candidato a vice na chapa de Fernando Pimentel (PT) ao governo de Minas, que o ministro Antônio Andrade (Agricultura) também apresentou seu nome.

Copa e eleição
O candidato do DEM ao governo do Rio, o vereador Cesar Maia, está prevendo que esta campanha será a mais curta de todas as disputas presidenciais. Sua avaliação é que o fato de a Copa ser no Brasil vai retardar o embate político.

FUGINDO DA RAIA. A oposição mineira tem enorme dificuldades para disputar o Senado. Ninguém quer enfrentar o governador Antonio Anastasia.

O banquete de Roseana - BERNARDO MELLO FRANCO - PAINEL

FOLHA DE SP - 08/01

Com os presídios em chamas, o Maranhão escolherá nesta semana as empresas que abastecerão as geladeiras de Roseana Sarney (PMDB) em 2014. A lista de compras da governadora inclui 80 kg de lagosta fresca, uma tonelada e meia de camarão e oito sabores de sorvete. As iguarias deverão ser entregues na residência oficial e na casa de praia usada pela peemedebista. O Estado prevê gastar R$ 1 milhão para alimentar a família Sarney e seus convidados até o fim do ano.

Fartura O pacote para os palácios maranhenses também inclui 750 kg de patinha de caranguejo, por R$ 39 mil. O governo do Estado comprará ainda duas toneladas de peixe e mais de cinco toneladas de carne bovina e suína.

Para adoçar As residências oficiais receberão 50 caixas de bombom e 30 pacotes de biscoito champanhe. Outro item curioso: R$ 108 mil em ração para peixes.

Jesus tá vendo O edital ainda prevê a compra de 2.500 garrafas de 1 litro de "refrigerante rosado" com "água gaseificada, açúcar e extrato de guaraná". Descrição sob medida para a compra do guaraná Jesus, bebida famosa do Maranhão.

Martelo Com tantas encomendas, o governo fará duas licitações para escolher os fornecedores. O primeiro pregão, de R$ 617 mil, está marcado para amanhã às 14h30. O segundo foi agendado para esta sexta-feira.

Em silêncio Com tradição de enfrentar governos para defender os direitos humanos, a OAB não tem dado um pio sobre a barbárie nas prisões do Maranhão. O presidente da entidade, Marcos Vinicius Coêlho, foi advogado de Roseana no TSE.

Maresia A presidente Dilma Rousseff passou os últimos dois dias de molho no Palácio da Alvorada. Ela voltou das férias na Bahia com uma leve gripe e decidiu despachar de casa.

Vandalismo Com spray de tinta vermelha, vândalos picharam um tridente no marco que sinaliza o local onde o guerrilheiro Carlos Marighella foi morto, nos Jardins, em São Paulo. A placa de metal já havia sido arrancada. A pedra que restou está manchada há mais de um mês.

Levantando a bola Programas esportivos de TV têm turbinado a imagem do técnico de vôlei Bernardinho, convidado a disputar o governo do Rio pelo PSDB. Na véspera do Natal, ele apareceu vestido de Papai Noel em um hospital infantil. No domingo passado, relembrou a ajuda que deu a uma menina com deficiência motora.

Assombrações Em conversa recente, o ex-deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) advertiu o treinador sobre armadilhas da política fluminense. "Para quem vem de fora, é um mundo meio assustador", avisou o verde.

Por sinal... Os últimos dois candidatos que enfrentaram o PMDB do governador Sérgio Cabral deixaram a política. Gabeira, que ficou em segundo lugar em 2010, voltou ao jornalismo. Denise Frossard (PPS), derrotada em 2006, afastou-se do partido e hoje dá aulas de Direito.

Agenda 1 O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) avisou à Justiça que só deve concluir em março a análise do material apreendido nas sedes das empresas acusadas de participar do cartel dos trens em São Paulo. A previsão inicial era novembro de 2013.

Agenda 2 Auxiliares de Geraldo Alckmin (PSDB) temem que, com o atraso, novas informações sobre o caso sejam reveladas às vésperas da campanha eleitoral. Isso prejudicaria o governador, que disputa a reeleição.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"O problema de Eduardo Campos é ser refém de uma vice maior que ele. Por isso, não consegue ditar as regras de sua campanha."

DO DEPUTADO CARLOS SAMPAIO (PSDB-SP), sobre as divergências entre aliados de Eduardo Campos e Marina Silva acerca das decisões da campanha do PSB.

contraponto


Bem na foto
Na inauguração do Hospital de Clínicas de São Bernardo do Campo (SP), em dezembro, Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e o prefeito Luiz Marinho posavam para fotos quando um fotógrafo não reconheceu Miriam Belchior (Planejamento) e pediu que ela se afastasse.

--Moça, moça! Pode dar licença, por favor? --disse.

Sem jeito, Miriam se afastou e a foto foi batida.

--Acho que ela ficou brava --comentou Marinho.

--Que nada! A Miriam deve ter ficado feliz porque foi chamada de "moça". Assim, era até capaz de sair do prédio para não atrapalhar --retrucou o ex-presidente.

Critérios trocados - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 08/01

O alto comando do bloco PP-Pros se reuniu ontem em Brasília e decidiu que pedirá à presidente Dilma Rousseff tratamento igualitário àquele dispensado ao PMDB. Isso significa, no mínimo, três ministérios, considerando que os peemedebistas têm Agricultura, Turismo, Aviação Civil, e, ainda, Previdência Social. O cálculo é o de que, embora o PMDB tenha mais de 70 deputados, volta e meia seus líderes colocam uma faca no pescoço de Dilma, coisa que o bloco jura não fazer. Ou seja, por esse critério, “pepistas e prosistas” se consideram com direito a mais espaço. A esse argumento, eles aliam o fato de estarem fechados com a reeleição de Dilma, garantindo à presidente-candidata o tempo de tevê das duas siglas. Dizem ainda esses deputados que Dilma, enquanto presidente, não pode ater-se apenas à lógica eleitoral para compor seu governo. Tem que levar em conta a composição das bancadas na Câmara.

Ocorre que Dilma não pensa assim. Seus coordenadores eleitorais vêem o apoio à petista na eleição de 2014 como a espinha dorsal da reforma ministerial. E, nesse quesito, o PP está em baixa porque, apesar do tempo de tevê, faltam os palanques e, para completar, ressurgiu o racha interno na bancada. Essa queda de braço terá longos capítulos.

Reserva de mercado
O PT elencou Saúde, Educação e Comunicações como áreas fora do toma lá dá cá da reforma ministerial. Fazenda, Planejamento e as agências reguladoras são setores que Dilma Rousseff não negocia. Isso explica a briga de foice entre os partidos pela Integração Nacional e o balançar sobre o Ministério das Cidades.

Nem vem
A apresentação de Ciro Gomes para ser o ministro em nome do Pros é tratada como “pessoal e intransferível”. Significa que, se Ciro não quiser vir para o governo no cargo que Dilma oferecer, caberá à bancada e não aos cearenses indicar outro nome para representar a legenda no governo.

Vai render
O setor de comunicação do Senado realmente reformulará a programação da tevê e promoverá corte no contrato de servidores terceirizados, mas não vai tirar 30% do pessoal. Se fizer isso, não terá meios de manter uma cobertura extensiva dos trabalhos da Casa.

Previdência petista
Prevaleceu no PT a ideia de que o ex-deputado Paulo Delgado expôs nesta coluna de que o PT deve ser a previdência de José Genoino. O partido, além de promover a tal “vaquinha” para pagar a multa, ajudará na aposentadoria dele.

Mal-estar/ O ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro (foto), que se cuide. O líder do PP, deputado Dudu da Fonte, reclamou com amigos que o ministro só se preocupou com a Paraíba no fim de 2013 e deixou alguns deputados do partido a ver navios no quesito liberação de emendas.

Interessados/ Os americanos já estão de olho nas eleições brasileiras deste ano. Hoje, o cientista político Murillo de Aragão fará palestra sobre o cenário político e eleitoral do Brasil para uma plateia de banqueiros, analistas e investidores do mercado financeiro, em Nova York. O evento é promovido pela Emerging Markets Traders Association.

Ninguém acreditou/ Embora o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho, tenha dito que não será candidato nas eleições deste ano e permanecerá no cargo, seus amigos estão que nem São Tomé, “ver pra crer”. É que todas as vezes em que foi candidato, Teo Vilela sempre dizia primeiramente que não seria.

Ops!/ A propósito da nota publicada em 2 de janeiro “um novo nome para São Paulo”, Ricardo Young não é mais presidente do Instituto Ethos desde 2010, quando deixou o cargo para concorrer ao Senado pelo PPS. O atual presidente do Instituto é Jorge Abrahão.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 08/01

Auxílio para expatriado é discutido em empresas
Um dos maiores custos que compõem o pacote de expatriações nas empresas, o benefício de auxílio moradia tem sido discutido nas mesas de RH de grupos brasileiros.

Para controlar os gastos, companhias em processo de internacionalização avaliam a possibilidade da coparticipação, modelo em que o funcionário expatriado contribui com suas despesas de habitação no país de destino, segundo estudo da consultoria EY (antiga Ernst & Young) realizado a pedido da coluna.

"É um tema que tem sido discutido pelos grupos de RH em suas reuniões de mobilidade. O benefício de moradia e a escola dos filhos são dois pontos que pesam muito", diz Daniela Brites, gerente-sênior da área de capital humano da EY especializada em mobilidade internacional.

A prática da coparticipação é comum entre organizações americanas, mas ainda é nova entre companhias brasileiras, de cultura mais protecionista, segundo Brites.

O debate levanta o argumento de que o expatriado não deve ser beneficiado ou prejudicado por estar em uma designação internacional, ou seja, se o profissional pagava por sua residência no país de origem, poderia contribuir com o custo da moradia em seu destino no exterior.

Cada caso, porém, deve ser avaliado separadamente. O subsídio para o aluguel do expatriado faz mais sentido nos casos em que o profissional precisa manter sua residência no país de origem.

Sobe número de países de alto risco para investidores
O número de países que apresentam alta ameaça aos recursos de investidores estrangeiros deverá subir para 54 neste ano, em comparação com os 38 em 2013, segundo mapeamento da corretora Marsh, que realiza estudos anuais sobre o tema.

Turquia, Líbia, Nigéria, Tanzânia e Moçambique registraram as maiores variações negativas e aparecem entre as nações com extremo risco político.

"Neste ano, percebemos um agravamento na instabilidade do Oriente Médio e das regiões norte e leste da África", afirma o executivo Kiyoshi Watari, da Marsh.

Nos países da América Latina, quesitos como corrupção, problemas em infraestrutura e falta de visão a longo prazo --como é o caso do Brasil-- derrubam a pontuação, segundo Watari.

Na região, predominam os tons de amarelo claro e escuro, que representam risco médio e alto. "O único vizinho que apresenta baixo risco é o Uruguai", acrescenta.

Apesar das manifestações ocorridas no ano anterior, o Brasil se manteve estável, com risco mediano.

O país tem a posição mais segura entre os Brics, entretanto não está entre os 20 mercados globais com melhores oportunidades econômicas para investidores.

A Índia aparece na liderança dos países mais propícios para se investir, seguida por China, Indonésia, Malásia e Bangladesh.

"Os três primeiros da lista apresentam riscos políticos elevados, mas com tendência de melhora, como é o caso da Índia, ou situação considerada estável, a exemplo da China e da Indonésia."

SOLUÇÃO AMPLIADA
A Resolve Franchising, dona da rede Doutor Resolve, que oferece reparos, reformas e limpeza de imóveis, inicia neste ano uma nova etapa em sua expansão internacional, com a entrada em México, Peru e Chile.

O objetivo é abrir 300 unidades nos três países.

A atuação no exterior começou em 2013 pela Colômbia com a marca Doctor Solución, a mesma que será usada na ampliação pela América Latina.

"Nossa meta era fechar o ano com 50 franquias na Colômbia, mas chegamos a 110", diz David Pinto, fundador e presidente do grupo.

"Encontramos uma mão de obra mais capacitada fora do país, o que tem sido um facilitador para a expansão."

Além dos 300 pontos no exterior, mais 370 devem ser abertos no Brasil neste ano, principalmente no Norte e no Nordeste. O número inclui o Instituto da Construção, de cursos de capacitação.

Para abrir cada franquia, o custo é de cerca de R$ 80 mil --o que resultará em um total de R$ 53,6 milhões.

EUA no aguardo
A Copa do Mundo do Brasil é o acontecimento menos aguardado pelos americanos (22%) neste ano, aponta pesquisa realizada pelo Pew Research Center, que ouviu 1.005 pessoas

Entre os eventos esportivos que também acontecem neste ano, a Olimpíada de Inverno de Sochi, na Rússia, é o mais esperado, com 58% de respostas positivas.

O Super Bowl, final do campeonato de futebol americano e uma das maiores audiências do ano na televisão do país, gera expectativa em 55% dos entrevistados.

Logo abaixo, com 51%, estão as eleições legislativas de meio de mandato, marcadas para novembro.

A pesquisa também filtrou os acontecimentos mais esperados de acordo com o perfil político dos entrevistados. Para os republicanos, a espera maior é pelo pleito no fim do ano (63%). Nos campos democrata e independente, é pela Olimpíada, com 65% e 54%, respectivamente.

O Mundial anima menos os republicanos (18%) do que democratas e independentes, ambos com 23%.

Meta cumprida e imaturidade reafirmada - MURILO DE ARAGÃO

Brasil Econômico - 08/01

No último dia 3 de janeiro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou o resultado do superávit fiscal. Disse que queria começar o ano dando boas notícias. Mantega ressaltou que os dados ainda não são definitivos e ajustes poderão ser feitos. Normalmente, esse número é divulgado na última semana de janeiro. O ministro quis antecipar o anúncio para sinalizar comprometimento do governo com a austeridade fiscal, depois de um ano de críticas e desconfiança em relação à política fiscal.

O Brasil cumpriu sua meta de superávit primário de 2013. Tempos atrás, afirmei que dificilmente chegaríamos aos R$ 75 bilhões acordados. Queimei a língua. Conseguimos cumprir a meta com sobra de R$ 2 bilhões. No entanto, ela foi cumprida com base em receitas extraordinárias do final do ano, em especial com o programa de refinanciamento de dívidas tributárias e o leilão do campo de Libra. O Refis rendeu ao governo R$ 20 bilhões. Já o leilão de Libra permitiu uma receita de R$ 15 bilhões. Isso sem falar nas receitas com as concessões Não foram feitas mágicas contábeis, mas tivemos de contar com o extra para cumprir a meta. Boa notícia, em termos. Caso tivéssemos feito o dever de casa, teríamos poupado muito além e reforçado a robustez fiscal do país.Conforme artigo de Miriam leitão, no Jornal O Globo (03/01/14), a meta do governo no início era de R$ 155 bilhões. Depois do governo abater gastos com o PAC e desonerações, foi entregue um resultado de R$ 130 bilhões.

Ao anunciar o cumprimento da meta, Guido Mantega deu um recado aos "nervosinhos" do mercado financeiro, que, como eu, achavam que o Brasil não cumpriria a meta. Em pronunciamento anterior, a presidente Dilma Rousseff também foi na mesma linha, ao atacar a "guerra psicológica"
que se faz contra a política econômica. Ambos demonstram certo recalque e imaturidade que não deveriam existir por parte de nossas lideranças.

A credibilidade econômica do país foi abalada por conta de decisões tomadas no âmbito financeiro e fiscal do governo. As idas e vindas nos processos de concessão foram decorrentes de decisões governamentais e não do mercado. Essas decisões podem resultar em um rebaixamento da nota do Brasil pelas agências de classificação de risco. A Standard & Poor"s anunciou que mudanças na nota brasileira podem ocorrer "antes ou depois" das eleições de outubro. De acordo com o responsável pela América Latina da S&P, Sebastian Briozzo, o descontrole do governo com as contas públicas deixou o país sem condições de contar com a política fiscal para estimular o crescimento. A agência está atenta à piora na relação entre a dívida bruta e o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, hoje em 58,8%, segundo o Banco Central.

Considerados os equívocos de condução da política econômica ao cumprir a meta fiscal com base em receitas extraordinárias, era hora de mostrar humildade, sobriedade e consistência. Mas isso não é suficiente. O governo deve reafirmar compromissos com a boa gestão fiscal do Brasil e com mudanças que façam do país um ambiente ideal para investimentos.

Deveria haver também um comprometimento claro com o cronograma das obras de infraestrutura e com medidas destinadas a acelerar o processo decisório do governo. Não é hora de confronto nem de ironias e, muito menos, de trocos. A hora é de reafirmar a intenção de fazer um governo que funcione melhorpara todos os brasileiros.

Revolução ignorada - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 08/01

Um dos maiores acontecimentos da economia global em 2013, com graves consequências para o Brasil e enorme impacto estratégico, foi praticamente ignorado pelo governo Dilma. Trata-se da revolução energética que, em apenas seis anos, deverá tornar os Estados Unidos não apenas autossuficientes em petróleo e gás, mas fortes exportadores em potencial.

O assunto não chega a ser novidade, mas é preocupante que não esteja sendo levado em conta pelo governo Dilma em suas formulações de política econômica. Quando se referiram à economia mundial, os dirigentes brasileiros têm olhos voltados para a crise europeia, para a persistência de altos riscos no mercado financeiro global e para os problemas que poderiam ser produzidos pelo desmonte da política monetária altamente expansionista dos Estados Unidos. Mas tendem a ver a revolução energética nos Estados Unidos somente como aposta de alguns, ainda sujeita a confirmações. Quando acordarem, pode ser tarde.

E, no entanto, como consta no relatório do Departamento de Energia dos Estados Unidos divulgado no dia 23 de dezembro, a produção de petróleo e gás subirá nada menos que 800 mil barris diários a cada ano até 2016, quando atingirá 9,6 bilhões de barris diários. Será, então, batido o recorde de 1970.

Há poucos anos, os Estados Unidos importavam 50% do petróleo que consumiam. Esse número já caiu para 37% e, em 2016, o país deverá trazer de fora apenas 25%. Em 2020, aponta a Agência Internacional de Energia (EIA, na sigla em inglês), os Estados Unidos serão autossuficientes.

A revolução energética está sendo obtida graças ao emprego de nova tecnologia de exploração das reservas de xisto, que são rochas fortemente impregnadas de petróleo e gás. Essa tecnologia consiste em um bombardeio a alta pressão das camadas de xisto por uma mistura de água, areia e produtos químicos, que liberta o óleo e o gás aprisionados na rocha.

Os impactos econômicos serão impressionantes. O relatório do Departamento de Energia dos Estados Unidos prevê que o preço médio do barril (159 litros) de petróleo, que esteve em US$ 112 em 2012, baixará para US$ 92 em 2017, queda de 17,9%.

Os baixos preços do gás, que começam a ser negociados a US$ 4 por milhão de BTU (ante os US$ 14 a US$ 16 por milhão de BTU vigentes aqui e na Europa), deverão atrair novos projetos de indústria, não apenas na petroquímica, mas também nos setores eletrointensivos, como química básica, cimento, vidro, cerâmica e metalurgia eletrolítica.

Do ponto de vista da indústria brasileira, que já está alijada dos grandes centros de suprimento global, se for confirmada, essa revolução não implica apenas perda de competitividade em relação à indústria americana. Implica, também, risco de migração da indústria brasileira para lá ou desistência de projetos no Brasil.

Do ponto de vista estratégico, a independência energética dos Estados Unidos forçará mudanças importantes na política voltada para o Oriente Médio, grande centro exportador de petróleo. O atual equilíbrio de forças na região parece ameaçado. O impacto sobre a Venezuela, maior exportador da América Latina, também poderá ser dramático. Hoje, a economia está altamente dependente do faturamento com petróleo, cujos preços cairão em três anos.

O governo do México, outro grande exportador, entendeu o que está em jogo e tratou de criar as bases de sua própria revolução do petróleo. Acabou com o monopólio estatal exercido pela Pemex e também vai tratando de explorar suas reservas de xisto.

Enquanto isso, o governo brasileiro segue excessivamente confiante com as descobertas de petróleo no pré-sal e seus dirigentes preferem desconversar a respeito das consequências sobre a economia brasileira. Alegam que os problemas ambientais causados pela tecnologia do craqueamento hidráulico do xisto acabarão por desencorajá-la. Provavelmente não serão, porque a tecnologia do craqueamento hidráulico está sendo aperfeiçoada. Pode ser mais uma grave omissão do governo Dilma.

O ministro nervosinho - ALEXANDRE SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 08/01

A falta de compostura do ministro compromete mais sua já escassa capacidade de formulação de política


Muito embora o ministro da Fazenda tenha afirmado que sua decisão de antecipar o anúncio do resultado fiscal do ano passado (presumindo que não esteja errado, como esteve em outubro) fosse destinada a "acalmar os nervosinhos", não é preciso muito esforço para perceber que são seus próprios nervos que se encontram à flor da pele.

Caso não estivessem, talvez lhe fosse possível perceber a futilidade da sua iniciativa. A começar porque só alguém muito divorciado da realidade poderia acreditar que a divulgação de um número tão conspurcado quanto o dado oficial do superavit primário poderia moderar os receios do mercado.

Ainda que, segundo o ministro, este tenha atingido um valor em torno de R$ 75 bilhões, sabe-se que apenas em novembro o montante de receitas não recorrentes atingiu nada menos do que R$ 35 bilhões, quase metade do saldo do ano. Na verdade, até novembro do ano passado, as receitas de concessões, dividendos e o Refis (o refinanciamento de dívidas tributárias em condições favoráveis) chegaram a R$ 59 bilhões. Assim, enquanto o número oficial do governo registra um superavit federal equivalente a 1,9% do PIB nos 12 meses terminados em novembro, o número corrigido --reflexo mais fiel do esforço fiscal-- mal alcança 0,3% do PIB.

Nesse sentido, como todos os analistas sérios são capazes de corrigir tais dados (com pequenas diferenças de abordagem), ninguém deve ter ficado particularmente impressionado com o anúncio autolaudatório. Se o ministro esperava fanfarras em resposta à sua entrevista, deve ter ficado muito decepcionado.

Mais decepcionado, porém, ficou o mercado. Ao antecipar um resultado que nada vale e se esquivar de qualquer comprometimento mais firme acerca do desempenho fiscal futuro, a mensagem passada ao setor privado não poderia ser mais clara: não há nenhum plano que contemple a possibilidade de um ajuste fiscal neste ano que se inicia, nem talvez sequer nos próximos, dadas as convicções do governo sobre o tema.

A reação negativa, expressa na desvalorização da moeda e na elevação das taxas de juros, não ocorreu, assim, nem por acaso nem por força de fatores internacionais, mas sim em razão da percepção cada vez mais disseminada de piora dos fundamentos do país. Mais um tiro, enfim, que saiu pela culatra, marca registrada hoje em dia da gestão de política econômica no país.

Isto dito, o nervosismo do ministro também se escancara em sua relação com o mercado. Ao contrário de seus antecessores imediatos, que reagiam de forma serena mesmo quando divergiam da análise do setor privado, o ministro quase sempre busca o enfrentamento, apenas para mais tarde reconhecer --forçado pelas circunstâncias-- seus equívocos crescentes, como, mais recentemente, no que se refere às mudanças de regras para as concessões de infraestrutura.

É natural, em face do desempenho medíocre da economia, que o ministro da Fazenda esteja sujeito a toda sorte de pressões, inclusive do próprio governo, cujos objetivos políticos dependem, em certa medida, de crescimento mais vigoroso do que o ostentado pelo Brasil nos últimos anos.

O que se espera, contudo, é que o titular do cargo tenha as condições de suportar essas tensões e que seja capaz de formular respostas efetivas aos problemas enfrentados no front econômico. Em particular, que suas falas não contribuam para o aprofundamento da crise de confiança que hoje assola o país.

Nesse último aspecto, a falta de compostura do ministro da Fazenda, mesmo depois que quase oito anos no cargo, revela sua inabilidade para trabalhar sob pressão e compromete ainda mais sua já escassa capacidade de formulação de política.

Num mundo caracterizado por preços elevados de commodities e liquidez mundial abundante, é mais fácil controlar os nervos; quando essas condições, porém, alteram-se para pior, quem não tem preparo fica mesmo "nervosinho".

Freio de arrumação - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 08/01

A desaceleração da indústria automobilística este ano precisará mesmo de um freio ABS. Ela vai sair de um ritmo de crescimento de 9,9% para o ponto morto de 0,7% de previsão de crescimento. A explicação dada pelo setor surpreendeu: a redução se deve à Copa e ao Inovar-Auto. A Copa, pelos feriados, e o regime feito para proteger o setor, pelo aumento temporário das importações.

Donde se conclui que nada é suficientemente bom para o setor automotivo. O governo fez tudo para agradar: aumentou barreiras às importações, enfrentou problemas na OMC por causa dessas barreiras, reduziu o IPI em sucessivas reedições. Agora eles dizem que não vão crescer e que o número maior de montadoras no país deve elevar o nível de estoques.

O Inovar-Auto é exatamente esse aumento de tributos na importação de carros de quem não está instalado no Brasil. Trazer carro de fora é muito mais barato para as montadoras aqui instaladas, por isso a participação dos veículos importados no mercado caiu de 27% em dezembro de 2012 para 18,8% no fim do ano passado, depois que o programa entrou em vigor.

Só que o programa prevê que as montadoras que estiverem em processo de instalação terão uma cota maior de importação enquanto não estiverem produzindo.

— O calendário de importações este ano será mais forte, mas isso é temporário e não se repetirá em 2015. Será um ano também com muitos feriados por causa da Copa do Mundo, o que vai afetar as vendas e a produção — disse o presidente da Anfavea, Luiz Moan.

Nos dados de 2013 há boas e más notícias. A produção cresceu quase 10%, mas os licenciamentos caíram 1,1%. Máquinas agrícolas tiveram um aumento de 20%. O setor conseguiu exportar mais 26,7%. Se olharmos um horizonte mais longo, o mercado brasileiro saiu de 1,685 milhão de carros em 2003 para 3,740 milhões. Para esse resultado, o governo abriu mão de bilhões de impostos, subsidiou o combustível e entupiu as avenidas e rodovias do Brasil. Eles tiveram novo regime tributário, fechamento do mercado e subsídios.

O presidente do Centro de Estudos Automotivos, Luiz Carlos Mello, acha que uma desaceleração do ritmo de crescimento é natural, mas está mais otimista do que a Anfavea. Em vez da previsão de crescimento de 0,9% feito pelo órgão oficial do setor, Mello acredita em 3%. E isso porque o desemprego continua baixo, a renda cresce e a oferta de crédito permanece. A Anfavea acha que o setor de máquinas agrícolas em 2014 não vai crescer quase nada.

Economistas que acompanham o setor acham que a indústria automobilística, com as novas empresas que entraram, aumentou sua capacidade de produção e ficará, em parte, ociosa. Ótimo momento para que haja uma boa competição de preços no setor e caiam as margens de lucro. Os executivos, no entanto, não falam dessa possibilidade. Explicam a enorme diferença de preços com os carros em outros países pela carga tributária.

De qualquer maneira, o que os últimos anos mostraram é que para garantir o crescimento do PIB não basta estimular o setor automobilístico com barreiras à entrada de produtos importados e reduções setoriais de tributos. Tudo o que se consegue é antecipar decisões de compra. O aumento das vendas acaba quando o imposto volta a subir.

O pior na política de estimular por crédito, subsídio e renúncia fiscal a compra de carro é que o país colheu como resultado o agravamento da crise da mobilidade urbana. Isso só faria sentido se houvesse também um investimento em infraestrutura e transporte coletivo.

O setor entra em 2014 com o pé no freio. Pelo menos se sabe que é freio ABS, porque a proposta de adiar a instalação desse item de segurança para ajudar o setor foi arquivada depois das críticas à ideia, que chegou a ser defendida pelo ministro da Fazenda.

Sai dos fundos, entra na poupança? - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 08/01

Caderneta atrai cada vez mais dinheiro, mas em 2013 não rendeu nada em termos reais


A POUPANÇA teve um ano excepcional em 2013, soube-se ontem. A quantidade de dinheiro nas cadernetas aumentou 20,5% em um ano (captação bruta). Já para o bolso de seus investidores, foi a decepção habitual, com rendimento de 5,85% no ano.

Tal rendimento não bate nem a inflação, que deve ter ficado em torno de 5,8% (medida pelo IPCA). Ou seja, quem depositou na caderneta viu seu dinheiro render coisa alguma, zero, em termos reais. Apenas manteve seu poder de compra.

Ainda assim, a poupança atraiu mais dinheiro, em termos relativos, do que o conjunto dos fundos de investimento, que até novembro tiveram uma captação bruta de 8,8%.

Os fundos tiveram um ano agitado, com tombos no valor das cotas devidos aos tumultos de meados do ano (com altas de juros nos EUA e no Brasil naqueles meses de "disparada do dólar). Os fundos chamados de "renda fixa" e os multimercados juros e moedas sofreram as maiores sangrias de 2013.

Além do mais, o setor continua a oferecer opções horríveis, careiras, com taxas de administração tão altas que levam vários fundos a perder até do rendimento ruim da poupança.

Considerados todos os pesares e a perda relativa de espaço para as aplicações em cadernetas, os fundos resistiram. Até novembro, os depósitos na poupança representavam 23,8% do total do patrimônio líquido nos fundos.

Desde 2004, as aplicações na poupança têm representado entre 20% e 25% do patrimônio dos fundos. As cadernetas têm ficado mais gordas nos anos de governo Dilma Rousseff, quando as taxas de juros caíram, expondo os rendimentos pífios de muito fundo de investimento.

O pobre do poupador comum, pois, tem estado entre a cruz e a caldeirinha. Se é trabalhador com carteira assinada, vê seu dinheiro guardado no FGTS perder valor (pois a remuneração do FGTS perde feio da inflação). Se aplica na caderneta, no máximo consegue evitar que sua poupança suada seja corroída pela inflação. Se faz um plano de previdência privada, em geral paga muito pela comodidade de não administrar sua aposentadoria.

Faz tempo, a melhor aplicação em renda fixa é, de longe, o Tesouro Direto (emprestar dinheiro diretamente para o governo, comprando títulos públicos). No título indexado, de vencimento mais curto (maio de 2017) e atraente em termos tributários, é possível conseguir rendimento de uns 4% ao ano mais inflação.

Em novembro passado, o estoque de dinheiro investido no Tesouro Direto, no entanto, não passava de R$ 11 bilhões, menos de 8% do total do dinheiro aplicado na poupança.

O problema do Tesouro Direto é que a aplicação é difícil para o investidor comum (aliás, para quase todos os investidores). É preciso escolher os títulos; é preciso entender que não se pode vendê-los antes do vencimento sem o risco de perdas fortes.

Em suma, é necessário ter algum conhecimento básico de finanças. Mas dá para entender parte do básico pelo site do Tesouro Direto e vale a pena fazer algum esforço adicional de aprendizado. Do jeito que andam as opções no mercado, há grande chance de o seu dinheiro suado não estar rendendo nada. Preste atenção.

Sobrevida para a OMC - MARCELO DE PAIVA ABREU

O Estado de S.Paulo - 08/01

Os resultados da reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) realizada em Bali, no começo do mês passado, foram encorajadores. Dadas as expectativas extremamente pessimistas quanto à possibilidade de a Rodada Doha ser salva do naufrágio, foi um feito memorável do diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, evitar o desastre.

A OMC estava necessitada de resultados significativos depois de revezes notáveis pelo menos desde Seattle, em 1999. A reunião de Bali manteve a OMC viva, mas foi marcada por clara inapetência dos países desenvolvidos, voltados para negociações de mega-acordos preferenciais. É preocupante que a organização se mantenha viva com base numa sequência de "fugas para a frente", para evitar o desastre. Um caminho que tende inexoravelmente ao esgotamento.

Os resultados concretos da reunião foram modestos. O principal foi um acordo sobre facilitação de comércio que simplificará e aumentará a transparência de procedimentos alfandegários. As estimativas correntes sobre o seu impacto parecem exageradas, talvez na tentativa de mostrar que os resultados de Bali foram melhores do que pareceriam à primeira vista. Foi também negociado limitado acordo sobre desenvolvimento que beneficia os países menos avançados. Mais uma vez, o impasse principal teve como foco a agricultura. As juras do passado, quanto à eliminação total dos subsídios às exportações em 2013, foram arquivadas. A Índia bateu o pé e, em nome da segurança alimentar, manteve os seus subsídios agrícolas ao abrigo de uma "cláusula da paz", até que se encontre solução permanente para a questão global dos subsídios agrícolas.

Bali sublinhou as dificuldades que enfrenta a OMC para viabilizar um processo decisório baseado em consenso, no qual cada país tem um voto. No passado, quando o Gatt era chamado de "clube de ricos", o processo decisório era muito mais concentrado, com frequente recurso a reuniões restritas a um número reduzido de partes contratantes, o mítico green room. É grande o contraste, do ponto de vista de governança, entre a OMC, com seus anseios consensuais, e o Fundo Monetário Internacional (FMI), onde as pequenas economias europeias se agarram ao seu poder de voto superdimensionado. Tais dificuldades de governança contribuem para desviar o interesse dos grandes protagonistas para negociações de âmbito mais restrito.

Do ponto de vista brasileiro, Bali não foi um sucesso, embora a diplomacia brasileira tenha sido protagonista na remoção de resistências de Nova Délhi e Havana que poderiam ter resultado no fracasso da reunião. Bali com resultados tépidos torna ainda menos críveis os argumentos do governo brasileiro de que a inexistência de acordos preferenciais relevantes poderia ser justificada pela obtenção de resultados significativos na esfera multilateral. As dificuldades com a Índia em Bali reiteraram a fragilidade do G-20 agrícola, formado, após Cancún, em 2003, em oposição aos EUA e à União Europeia. Sua heterogeneidade foi explicitada no fracasso da reunião de Genebra, em 2008, com Índia e China divergindo do Brasil.

Resta o caminho das negociações de acordos preferenciais. Está muito próxima a hora da verdade, quando o governo brasileiro, se de fato estiver disposto a negociar seriamente acordos preferenciais relevantes, terá de conceder prioridade ao objetivo de convencer a Argentina a moderar suas propensões protecionistas. Há quem pense que a oferta de bons negócios à Argentina poderia cumprir um papel na remoção de tais dificuldades. Mas a insegurança jurídica explicitada em diversos episódios recentes envolvendo interesses brasileiros na Argentina sugere que tal caminho está repleto de obstáculos.

E há uma dificuldade adicional: será que o governo brasileiro, cuja atuação recente tem sido marcada por diversos episódios protecionistas, será convincente em convencer Buenos Aires?

Caiu a ficha - ANTONIO DELFIM NETTO

FOLHA DE SP - 08/01

A grande vantagem do calendário é que ele, psicologicamente, define um período ao qual damos significação. Temos a sensação de que 31 de dezembro encerra um período. Em 1º de janeiro inicia-se outro, novinho, como se houvesse uma descontinuidade física no tempo vivido.

Tudo se passa como se os fogos do Ano-Novo tivessem consumido consigo as alegrias e decepções, os erros e acertos de 2013. As contas são fechadas de forma inexorável e definitiva. É inútil ficar triste. É inútil blasfemar. É inútil arrepender-se. É inútil recorrer a contrafactuais que eram então oportunidades mas foram perdidas. O tempo terminou: 2013 foi o que nossas escolhas (do governo e do setor privado) fizeram dele! O que está feito está feito. Não pode ser não feito! Talvez possa ser refeito!

O problema é que a realidade física do mundo de janeiro é a mesma de dezembro à qual insistimos dar nomes diferentes na busca de novas esperanças que não se concretizarão se não houver convergência mais rápida do entendimento da realidade (e das limitações que ela impõe) por parte do governo e do setor privado. Três anos de desconfianças, suspeitas e incompreensões do setor privado e de um longo aprendizado do governo no tempo contínuo de 1.095 dias produziram um resultado pobre: 1) taxa de crescimento do PIB de 6%; 2) taxa de inflação de 19% e 3) deficit em conta corrente de US$ 187 bilhões.

Pobre, mas em relação a que? Àquilo que era razoável esperar, descontado o efeito da menor expansão mundial: 1) crescimento de 3% ao ano (ou 9% no período) contra os 6% (2/3 do esperado); 2) uma taxa de inflação declinante, a partir dos 5,9% de 2010, de 0,5% ao ano, para entregar a "meta de 4,5%" em 2013. Algo como 16% contra os 19% verificados (20% acima do esperado) e 3) um deficit em c/c de 2,7% do PIB, contra 1,8% do triênio anterior, o que o aumentou de US$ 127 bi para US$ 187 bi (47% acima do que ocorreu no triênio anterior cujo PIB cresceu 13% contra os 6% atuais!).

Não adianta sofisticar os diagnósticos e as receitas que eles sugerem. Com a enorme desconfiança recíproca entre o governo e o setor privado empresarial, existente até há pouco, não havia política econômica que funcionasse. Felizmente "caiu a ficha": a Casa Civil e os ministérios da Fazenda e dos Transportes, que "escutavam, mas não ouviam", passaram a "ouvir". E o setor privado, por sua vez, entendeu que "modicidade tarifária" não era "socialismo". Os primeiros resultados são visíveis: os sucessos dos leilões de infraestrutura mostram que o diálogo está restabelecendo a confiança. Com ela virão os investimentos!

Talvez essa seja mesmo uma descontinuidade temporal que fará um 2014 melhor do que a média do triênio 2011-13.