quinta-feira, novembro 06, 2014

Economia política - SÍLVIO RIBAS

CORREIO BRAZILIENSE - 06/11
O que levou a economista Dilma Vana Rousseff, presidente da República, a errar tanto na condução da economia brasileira? Quando estreou no comando do Executivo, em 2011, sua avaliação sobre o momento econômico do país estava corretíssima, a de que o país precisava (e ainda precisa) de novo motor para o progresso, trocando o protagonismo do consumo pelo dinamismo do investimento produtivo. Só que a a receita para alcançar o objetivo é que estava redondamente enganada, divorciada da realidade local e global. Por questão de fé ideológica e das prerrogativas do sistema presidencialista, o Brasil perdeu tempo e dinheiro.

Dilma apostou todas as fichas na capacidade de o Estado liderar grandes projetos estruturantes, despejando recursos do Tesouro e dando papel destacado a novas e velhas estatais, a agentes públicos de financiamento e a órgãos federais de controle, todos contaminados pelas práticas de gestão discutíveis e pelo aparelhamento político. O resultado disso tudo foi a grave desconfiança dos investidores privados, os erros de cálculo, a ineficiência na execução de planos e, ainda, os bilhões de reais drenados pela corrupção.

Com estragos explícitos em praticamente todos os indicadores econômicos, a presidente se reelegeu graças ao voto de confiança dos induzidos pelo terrorismo eleitoral e dos que se agarraram ao único índice positivo da gestão petista, o emprego. Mas esse trunfo é o mais ameaçado pela deterioração dos fundamentos econômicos e pela degringolada da indústria. Diante do espelho e de uma realidade bem pior que esperava, a presidente busca forças em seu interior e no ex-presidente Lula para ceder aos anseios da "gente do mercado" e contrariar o pesamento próprio.

O primeiro e maior dos desafios colocados para o segundo mandato da petista, que já começou, é nomear um ministro da Fazenda simpático ao capitalismo que tenha mínima autonomia em relação à gerente do Brasil. Se ela continuar resistindo aos fatos em nome de um ideário pessoal, só deixará explícito o pior quadro de dificuldades para a economia desde o início da estabilização, há 20 anos.

Voltando à pergunta inicial deste artigo, afirmo que Dilma foi traída pelas próprias convicções. Elas podem ser resumidas numa frase do discurso de homenagem à professora Maria Conceição Tavares, em 2012. A discípula disse ter aprendido com a mestra que "economia deve ser sempre tratada como economia política". Simples assim.

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