terça-feira, abril 08, 2014

Sangria petista - CARLOS ALEXANDRE

CORREIO BRAZILIENSE - 08/04
O deputado petista André Vargas pediu licença do mandato por 60 dias para elaborar uma defesa plausível de que os negócios públicos e privados com o doleiro Alberto Youssef, preso em março por suspeita de envolvimento em um megaesquema de lavagem de R$ 10 bilhões, obedecem a uma ética republicana. Na semana passada, o parlamentar admitiu em plenário que a carona no jatinho de Youssef foi uma imprudência e afirmou desconhecer as atividades obscuras do "empresário" e amigo de longa data. Não bastou.
Mensagens eletrônicas e conversas entre Vargas e Youssef, reveladas no último fim de semana, esmiúçam a parceria da dupla em empreitada milionária, com o intuito de forjar um contrato fraudulento no Ministério da Saúde. "Acredite em mim. Você vai ver o quanto isso vai valer. Tua independência financeira e nossa também, é claro.", assegura Youssef ao parlamentar, conforme trecho publicado pela Revista Veja. Mais uma vez, o Legislativo vai examinar a situação de um integrante - diga-se, o vice-presidente da Câmara dos Deputados - acusado de praticar malfeitos em benefício próprio, ao arrepio do interesse público. Estaria Vargas a caminho do cadafalso?

Por uma questão de lógica, sim. Em primeiro lugar, porque o ex-senador democrata Demóstenes Torres perdeu o mandato e o título de arauto da moralidade após se desmoralizar ante a indecorosa e insustentável relação com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Em segundo lugar, ano eleitoral é sempre um período propício para o governo, dono de maioria no Congresso, reforçar a imagem no eleitorado de que não compactua com a corrupção em sua bancada. E, por último, a cassação do mandato de Vargas seria uma prestação de contas do PT após o recente epílogo do julgamento do mensalão, ainda com as cinzas em brasa em alguns círculos da legenda partidária.

Do ponto de vista do governo, o episódio Vargas constitui uma sangria que é preciso estancar rapidamente. A dor de cabeça provocada pelo deputado amigo de doleiro incomoda, mas significa bobagem se comparada à perspectiva de uma CPI para apurar indícios de corrupção e de desmandos na Petrobras. Somada aos problemas políticos, a conjuntura econômica desfavorável completa o cenário complicado para o PT, a seis meses da eleição.

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