segunda-feira, novembro 11, 2013

Lobby por lobby - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA


Eles vão ficar conosco até o fim da nossa vida. Começaram a chegar nas últimas décadas do século XX, trazendo em sua pregação uma ideia simples: estava mais do que na hora, diziam, de proteger o homem de si próprio, pois ele não vinha se mostrando capaz, sozinho, de aproveitar corretamente os frutos do maior período de progresso contínuo jamais registrado na história da humanidade. 
Deixado por sua conta, iria gastar mal o que havia ganhado, cair no desperdício e cometer todos os pecados que as crianças decoram hoje já no primeiro ano do curso primário.
 É possível que as coisas tivessem ido por aí mesmo, levando-se em conta a invencível capacidade do homem de transformar em problema a maioria dos sucessos que obtém. Mas o fato é que os governos e seus funcionários, reforçados por militantes de todos os tipos de causas particulares, foram recebendo cada vez mais a tarefa de decretar como os cidadãos devem se comportar, para o seu próprio bem — e de decidir o que é certo, suficiente, virtuoso e por aí afora. Desde então o mundo não parou mais de regular a si próprio, e hoje já não existe nenhuma perspectiva de que os reguladores venham a dar sua tarefa por terminada: quando se pensa que já regularam tudo o que podia ser regulado nesta vida. aparecem com alguma coisa em que ninguém havia pensado antes, e vêm com regras novas em folha para determinar o que o cidadão pode ou não fazer. De fato, estarão aí para sempre — mesmo porque a soma das suas atividades já forma hoje todo um mundo com vida própria, que dá sustento, trabalho e benefícios materiais a centenas de milhares de pessoas dentro ou fora dos governos, ou mais que isso, movimenta bilhões de dólares, influi nas decisões públicas e privadas de investimento e exerce, em geral, um poder que não lhe foi dado por nenhum instrumento democrático de uso comum. Tomaram-se um sistema com interesses a defender. Não vão parar.

As demonstrações práticas do que é descrito aí acima acontecem o tempo todo. em tudo o que se possa imaginar, e mesmo naquilo que ninguém imagina — as descargas de privadas, por exemplo, para ficar no caso mais recente, e especialmente cômico, de obsessão por regular qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, que passe pela cabeça de um regulador aplicado. Sinceramente: dá para pensar em algo menos sujeito à intromissão da autoridade pública do que o ato de ir ao banheiro? Pois os técnicos da Comunidade Europeia acham que sim, perfeitamente — a visita ao toalete não é coisa tão privada como se pensa, decidiram eles, e não pode mais permanecer nessa situação de liberalismo selvagem em que se encontra hoje. Resultado: após três anos inteiros de labor numa pesquisa que consumiu 100000 euros (sorte dos europeus; não têm ideia de quanto lhes custaria isso num orçamento padrão PAC), rendeu 120 páginas de sabedoria e cobriu os 28 países da organização, eles decidiram neste início de novembro que, a partir de agora, todas as privadas da Europa deverão ter descargas geradas em caixas com 5 litros de água — nem uma gota a mais. Os mictórios terão direito a 1 litro. Serão permitidas meias-descargas, com 3 litros, e fim de conversa — tudo isso, sustentam os técnicos, é fruto de médias aritméticas, cálculos de distância entre as bordas dos vasos e de estudo dos “hábitos pessoais” dos usuários. Quais seriam? A comissão responsável pelo chamado euroflush preferiu ser discreta a respeito — limitando-se a observações menos arriscadas, como a de que a Inglaterra é o país que mais consome água em suas privadas (6 ou mais litros por descarga) ou que só a ducha, no consumo doméstico, gasta mais que uma boa puxada de água no vaso sanitário.

O objetivo de todo esse esforço é salvar a Europa e sua gente da “falta de recursos hídricos”. O estudo indica, alarmado, que há no momento 400 milhões de privadas e mictórios na Comunidade Europeia — algo que, pelo bom-senso, parece ser coisa muito boa, pois mostra que todo indivíduo tem acesso ao mais elementar dos recursos sanitários. Parece, mas não é. Segundo a autoridade pública, isso já é privada demais, e privada tem de ser utilizada com moderação. Pode, uma coisa dessas? Não só pode — é a regra, hoje em dia. Regulamentos do governo para isso ou aquilo sempre houve, desde que a Revolução Industrial começou a gerar efeitos, mas estamos entrando em outra dimensão. Uma das atividades que mais crescem no mundo de hoje é a que se propõe a controlar as atividades dos outros — um lobby tão forte quanto qualquer dos que existem e, por isso mesmo, tão perturbador como todos eles.

Kubrick de olhos bem abertos - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 11/11

Somos seres do desejo, e não de razão. Devoramos tudo em consequência do desejo irracional


Depois de ler sobre pré-história, minha percepção do mundo mudou. Para começo de conversa, o tema da violência na condição humana é melhor compreendido quando olhamos para nossos ancestrais do Paleolítico Superior do que quando tentamos compreendê-lo a partir de ideias como "o modelo social está ultrapassado", apesar de saber que frases como essa dão orgasmo em muita gente.

Somos seres do desejo, e não de razão. Com isso não quero dizer que não sejamos racionais, mas sim que o desejo se impõe à razão. Freud e Lacan bem sabem disso. Schopenhauer e Nietzsche também sabem isso. Devoramos tudo à nossa volta por conta dessa força irracional chamada desejo.

O cineasta Stanley Kubrick (que aliás está "nos visitando" no Museu da Imagem e do Som, o MIS) entendeu bem esse aspecto: é na pré-história e no desejo que melhor entendemos nossa desorganização interna, nossas contradições e a luta que temos cotidianamente contra elas. Refiro-me a dois dos seus filmes, "2001, Uma Odisseia no Espaço", de 1968, e "De Olhos Bem Fechados", de 1999.

O primeiro se abre com o momento descrito como "aurora". Nessa sequência, dois bandos de homens pré-históricos disputam a posse de um pequeno lago. O mais fraco perde. Depois, acuados, comem ervas embaixo de uma pedra, atormentados por predadores à noite.

Um deles, na manhã seguinte, descobre que, tendo um osso nas mãos, consegue ficar mais forte. Matam um animal grande e "se tornam" carnívoros (o vegetarianismo é um comportamento ultrapassado evolucionariamente).

Mais tarde, munidos de ossos nas mãos, atacam o bando que os haviam expulsado do lago. O "novo homem", com uma arma na mão, retoma o lago. Na cena seguinte, joga o osso para cima e este vira uma nave espacial. Chegamos ao futuro da pré-história.

Já na última parte do filme, vemos o primeiro computador com inteligência artificial se "revoltar" contra os dois astronautas da nave. O que o filme nos revela? Que o "avanço técnico" seguramente está associado à violência.

Isso não significa que seja "bonito". Hoje em dia, por causa do modo como se dá o debate público, baseado em caricaturas do outro, difamação e simplificação ridícula (tipo: quem não pensa como eu é racista, "sequicista" e a favor da TFP), torna-se necessário fazermos reparos como esse: reconhecer a relação de implicação entre melhoria material da vida, avanço cultural e uma dose de violência não significa achar isso bonito, mas sim reconhecer o grau de ambivalência que marca nossa condição. Mas, num mundo de mimados, como é o nosso, dizer isso parece ser "gostar" disso.

O que Kubrick está dizendo aqui é que provavelmente nossa história de ganhos técnicos implica um alto grau de risco. O problema é que queremos os ganhos, mas, no mundo da carochinha, no qual vivem os mimados, parece ser possível zerar a ambivalência. Nada disso quer dizer que devemos cultivar a violência, mas que não adianta pintar sua cara com cores de anjo porque só vai convencer gente boba.

No outro filme, "De Olhos Bem Fechados", Kubrick dialoga profundamente com Freud. O filme é baseado, em última instância, num sonho de Freud no qual ele entra num trem e um aviso diz que ali só permanecem pessoas de olhos bem fechados.

O sonho está dentro do processo de "autoanálise" de Freud, no qual ele descobre o complexo de Édipo e sua vergonha pelo fato de o pai não ter reagido a uma humilhação feita por um grupo de antissemitas testemunhada pelo menino Sigmund. O tema envolve a ambivalência dos sentimentos e desejos da criança para com os pais.

No filme, a mulher (a deusa Nicole Kidman) conta para o marido (Tom Cruise) que um dia desejou fazer sexo violento com um oficial da Marinha que ela tinha visto num hotel quando eles estavam num momento "família" (quis ser a "puta" dele). Com isso, ela joga o marido num total desespero, que só se encerra quando ela o chama para trepar ("let's fuck").

O desejo da bela e bem comportada mulher revela ao marido que nem ela escapa da desorganização do desejo sexual "ilegítimo". A vida ordenada está sempre por um triz.

Astroturfing - MARION STRECKER

FOLHA DE SP - 11/11

A Samsung me ensinou o que é astroturfe; algo enganoso, que se faz passar por algo que não é de fato


Já ouviu falar de astroturfing? Eu não conhecia essa palavra até outubro, quando a gigante sul-coreana Samsung foi multada em US$ 340 mil em Taiwan por pagar pessoas para falar mal, na internet, de produtos da concorrente HTC e bem de seu próprio smartphone. Essas falas deveriam parecer depoimentos espontâneos do público.

Duas empresas de marketing que faziam tal servicinho também foram multadas pela Comissão de Comércio de Taiwan (FTC), que considerou a prática similar a uma propaganda enganosa.

Eu mesma já vi executivo criticar concorrente aproveitando o anonimato na internet. Já vi blogueiro fraudando data de publicação de texto para enganar o sistema de busca do Google. Já vi tuiteiro usar software para aumentar artificialmente sua popularidade, usando seguidores fantasmas criados para esse fim. Já soube de robôs que inflam números de audiência ou resultados de publicidade. Mas para cada veneno há de haver um antídoto.

Por conta da Samsung, descobri que turfe, além de hipismo, quer dizer prado, relva. E que Astroturf é nome de uma empresa que fabrica grama sintética. Por extensão, astroturfe é alguma coisa enganosa, que se faz passar por algo que não é de fato.

O astroturfing marketing consiste em dar a impressão de que há endosso público a algum produto, serviço, ideia ou pessoa, pagando gente para fingir esse apoio. Partidos políticos e sindicalistas fazem isso quando pagam pessoas para participar de comícios, passeatas ou vestir a camiseta de um candidato.

Na mídia, o astroturfing pode se dar em cartas ao editor ou mensagens em murais e fóruns de discussão, incluindo respostas a críticas feitas espontaneamente.

Ainda que antiético e ilegal, hoje é possível contratar empresas no mercado para fazer marketing de detração (quando alguém quer nocautear a imagem de um concorrente), além do marketing de evangelização (quando o assunto é conversão de pessoas a favor de algo).

Os sites de avaliação de produtos, os blogs e as redes sociais são paraísos para astroturfistas.

Há softwares que permitem aos astroturfistas mascarar a própria identidade. Com isso, um indivíduo pode operar com muitas personas diferentes, de acordo com a agenda do cliente.

Estudos sugerem que o astroturfing pode ser eficaz, já que muita gente não sabe que boa parte dos comentários e avaliações que vemos na internet são falsos.

Nosso comportamento é largamente influenciado pela opinião dos outros na vida. Na internet, temos a ilusão da verdade ao ler comentários do público, mesmo quando os comentários são forjados e os autores são inventados.

Bing Liu, professor do departamento de ciência da computação da Universidade de Illinois, em Chicago, estima que um terço das resenhas de consumidores na internet sejam falsas.

Bing Liu é um especialista em "opinion mining" ou análise de sentimento, um campo de estudo que analisa opinião, sentimentos, avaliações, atitudes e emoções a partir da linguagem escrita. É um caminho para empresas que querem soluções de engenharia para problemas éticos.

A era do rebelde chapa-branca - LOBÃO

REVISTA VEJA


Vivemos um momento histórico de uma vulgaridade, obscurantismo e insipidez sem precedentes que, por várias razões entrelaçadas, propiciou a eclosão de um personagem patético, insólito, abundante e que ficará marcado como a expressão máxima deste triste período: o rebelde chapa-branca.

Sim! É ele o protagonista em todas as rodinhas, redes sociais, botequins, universidades e passeatas. Revela-se por duas características inseparáveis: é revoltado contra o sistema e, ao mesmo tempo, chancelado por ele.

Vamos a alguns exemplos. O MST é subvencionado pelo governo, tem o respaldo do governo e, no entanto, não para de reclamar, invadir e destruir terras produtivas. No rap, há um sem-número de rebeldes chapa-branca, mas seu ícone são os Racionais. Fazem campanha para o governo, sobem nos palanques, têm o beneplácito da mídia oficial bancada pelo governo e, mesmo assim, são revoltadíssimos contra o sistema! No seu último videoclipe, Marighella, eles aparecem prontos para assaltar a Rádio Nacional, numa reconstituição de época, exibindo inúmeros trabucos de grosso calibre e conclamando à luta armada, incorporando aquela mímica marrenta um tanto canastrona que lhes é peculiar.

O detalhe é que eles estão no poder. Eles são o poder. Eles são a situação.

No aniversário da morte do nosso Che Guevara tupiniquim, a Comissão da Verdade comemorou a data com solenidade e deferência. Marighella pode ter arrancado a perna de uns, matado outros e lutado para implementar uma ditadura sanguinolenta no Brasil, mas os rebeldes chapa-branca chancelam a festa, impõem a farsa com mão de ferro e ai de quem piar.

Na semana passada, o tal Procure Saber implodiu com a defecção do rei, deixando desnorteados Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque — rebeldes chapa-branca de longa data. O Gil acabou no comando do Ministério da Cultura, onde foi aninhando sua cria, o Fora do Eixo, que tem como ponta de lança Pablo Capilé, um rapaz que afirma ser contra o direito autoral, contra o autor, contra o livro e é pupilo de Zé Dirceu. Tira dos artistas para entregar de mão beijada aos magnatas das redes sociais como o Google, o YouTube e o Facebook. Isso porque não estamos ainda perguntando para onde foi toda a grana que ele recebeu através das leis de incentivo à cultura. É um típico rebelde chapa-branca. Mas o Caetano acha “muderno” esse retrocesso estúpido e desonesto. O Chico, lá da França, assina carta de apoio ao Genoino. São os nossos coronéis chapa-branca solando de cavaquinho.

Temos de ressaltar também a performance fulminante da presidente do Procure Saber, esta sim uma rottweiler de incontestável pedigree, Paula Lavigne. Descontrolada, vem cometendo lambança atrás de lambança, incluindo um ataque covarde à colunista da Folha de S.Paulo Mônica Bergamo. E o que dizer de sua performance no Saia Justa com a Barbara Gancia? Há um mês, ela invadiu o meu Twitter, acompanhada por uma centena de integrantes da seita black bloc, me chamando de nazista, ex-músico, ex-Lobão. amante da ditadura, decadente (tem gente me chamando de decadente há uns trinta anos). Depois de algumas trocas de gentilezas, fui obrigado a bloqueá-la.

Uma das características dos rebeldes chapa-branca é o uso da técnica do espantalho: criam uma figura caricatural, colocam frases fora de contexto (quando não inventadas) em sua boca e tentam fazer acreditar que essa figura patética é você! Um vodu de psicopata.

Uma jornalista chapa-branca de uma revista bancada pelo governo declarou, num momento de búdica inspiração, que é a favor de fuzilamento para determinados casos (quais seriam?). É o tipo de comportamento visto com simpatia e condescendência pelo rebelde chapa-branca, pois a visão assimétrica do mundo, com um peso para duas medidas, é outra marca registrada dele.

Estou inaugurando com muito orgulho e entusiasmo minha coluna em VEJA. Não é fortuito o nosso encontro, assim como não é por acaso que se percebe a sociedade civil começando a se organizar para repensar a nossa condição atual. Tentarei tratar dessa miséria que nos assola como se estivesse praticando um novo esporte: épater la gauche. Essa turma está imprimindo o ridículo em sua própria história. E desse vexame não escapará.

Segredos e mentiras - LUCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 11/11

Com algumas semanas de atraso, um relutante Barack Obama pronunciou a palavra "desculpas", mas a frase escolhida parece não ter aplacado os destinatários da contrição: "Peço desculpas se eles se encontram nesta situação com base em garantias que receberam de mim".

Uau. Se há um prêmio oficial para Eufemismo do Ano, o Prêmio Nobel de 2009 pode arranjar mais uma vaga na prateleira. O presidente se referia ao fato de que repetiu dezenas de vezes, com vídeos on-line para provar, variações desta afirmação: "Se você gosta do seu atual plano de saúde, se gosta do seu médico, nada vai mudar. Ponto".

Desde o dia 1o de outubro, centenas de milhares de americanos começaram a receber cartas de cancelamento de seus planos porque ficam abaixo do mínimo de serviços determinados pela lei do Obamacare. A lei inspirou o Tea Party a fazer o público americano de refém, paralisando Washington durante mais de duas semanas. Obrigar os planos de saúde a fornecer serviços como medicina preventiva e incluir assistência de saúde mental é uma ótima ideia.

Mas uma população que varia, na boca de especialistas, de 300 mil a 10 milhões de americanos vai ter que trocar seu plano e, talvez, seu médico. Até aí, tudo bem. O problema é que a lei excluiu, sob pressão do lobby das seguradoras privadas, a opção do plano público de saúde. E, assim, dependendo do Estado onde vive, uma família americana chefiada por trabalhadores autônomos pode ter um aumento de até 500% na despesa mensal com plano de saúde. Diga isto para os milhões que não conseguiram se reintegrar ao mercado de trabalho desde a grande recessão. Ou para o recém-formado que há três anos não consegue entrar no mercado de trabalho e é jovem o suficiente para arriscar um plano de saúde fuleiro. Ou nenhum plano, como fez esta colunista, durante cinco anos de insensatez, no passado.

A contribuição dessa população de jovens saudáveis e insensatos, que vão pesar muito menos do que os baby boomers na assistência médica mais cara do planeta, é crítica para a sobrevivência econômica do Obamacare e, cada vez que escrevo esta palavra, me lembro de sua origem espúria.

O termo Obamacare foi cunhado com malícia calculada pelos republicanos para ridicularizar o mais ambicioso plano da agenda doméstica do presidente. A definição jocosa foi adotada não só por jornalistas de direita como pelos preguiçosos que cobrem o mundo de pijama no seu sofá. Na campanha de reeleição de 2012, algum mago do marketing presidencial deve ter soprado no ouvido do chefe: tome posse do apelido. E Obama saiu fagueiro nos comícios, assumindo: É isso aí, Obamacare, é a minha lei e eu me orgulho dela. Oh, brother.

Agora ficamos sabendo que o fiasco do website healthcare.gov, crucial para a inscrição no Obamacare, foi não só previsto, como exibe, na origem, seu parentesco com a obsessão pelo sigilo que começa no 11 de setembro, durante o governo de George W. Bush.

Um relatório recente do Comitê Para a Proteção de Jornalistas, sobre a relação de Barack Obama com a imprensa, recolheu depoimentos como estes: "Ele é o menos transparente dos sete presidentes que cobri" (Anne Compton, repórter da rede ABC). "Esta é a mais fechada, bizarramente controladora administração que cobri" (David Sanger, Correspondente Chefe de Washington do New York Times).

Sim, ninguém haveria de sugerir que invadir o Iraque sob falso pretexto equivale em gravidade a jogar um número indeterminado de americanos na incerteza sobre suas opções de assistência médica com um website cuja eficiência está mais para Caracas do que para o Vale do Silício. Mas é fato que o renomado economista de Harvard David Cutler, escreveu, em 2010, um memorando para Lawrence Summers, então principal assessor econômico do presidente, detalhando a impossibilidade de implementar o Obamacare com a equipe de cozinha da Casa Branca e prevendo parte do desastre em curso. Summers bem que brigou, mas foi derrotado pelos consiglieri políticos da câmara de eco em que se transformou a sede do poder executivo.

Mesmo se descontamos o sentimento de perseguição diante de um Partido Republicano disposto a impedir a qualquer preço que 45 milhões fossem integrados aos planos de saúde, a obsessão com o segredo, agora sabemos, se estendeu até a liderança democrata. A gente como a Deputada Nancy Pelosi, a quem Obama deve parte do sucesso da passagem da lei que leva seu nome. O governo tratou o lançamento da mais importante iniciativa social inclusiva dos últimos 50 anos como um Manhattan Project. Mas não alistou um Robert Oppenheimer para comandar a implementação, preferiu contar com apparatchniks trabalhando em segredo.

O sigilo fora de controle no Poder Executivo pode resultar na morte de 100 mil iraquianos ou na escuta do papo de Angela Merkel com o marido. Acaba de reclamar nova vítima, o lançamento do Obamacare.

A demonização da privatização e do FMI - MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA


Nos últimos anos, assistiu-se à desconstrução sistemática dos feitos da administração do PSDB sob a complacência dos tucanos. Nessa missão, o PT demonizou a privatização e o FMI, valendo-se dos preconceitos em relação ao setor privado e da desinformação. Recorreu a surrados conceitos de soberania e à xenofobia, ainda dominantes em grande parte da sociedade, para acusar a oposição de ter malbaratado o patrimônio nacional e submetido o país a interesses alienígenas.

Comecemos pela privatização. A presidente Dilma se convenceu, contra seus instintos estatistas, da necessidade de atrair capitais privados para a infraestrutura de transportes. No pré-sal, o PT já percebera que faltavam à Petrobras robustez financeira e amplitude gerencial para tocar, sozinha, essa vasta província petrolífera. Mesmo assim, Dilma nega que privatize. Falou em rede nacional para afirmar que o leilão de Libra não teria sido uma privatização, mesmo que o Estado controle apenas 40% do campo.

O setor público assumiu, durante anos, o suprimento de serviços de energia, telecomunicações e infraestrutura de transportes, e a produção de certos bens industriais. A decisão se justificava pela falta de capacidade do setor privado e pelo que dizia a teoria econômica. Assim que possível, caberia privatizar e concentrar as energias do Estado onde ele é insubstituível.

O PT era contra a privatização, por razões ideológicas, e não por racionalidade econômica. Isso mudou em parte. Seria estupidez negar os benefícios da venda da Telebrás. O telefone celular, privilégio de poucos, tornou-se amplamente acessível. Empresas estatais viraram êxitos indiscutíveis após a privatização, como a Vale, a Embraer e as siderúrgicas.

Quanto ao FMI, Lula se vangloria de ter resgatado a dívida com o fundo, livrando o país de sua interferência. É como se isso tivesse acontecido por um ato de pura vontade dele, e não por causa de condições excepcionais. Outros países também o fizeram, alguns antes do Brasil. Esperto, Lula explorou a boa-fé dos que enxergam o FMI como um bicho-papão a ser vencido pela valentia nacional. Muitos acreditam que ele pagou a dívida externa.

Em cerimônia recente, Dilma citou o FMI na presença de um tucano paulista, Geraldo Alckmin. "A gente tinha de pedir autorização ao Fundo Monetário para investir. Por isso foi tão bom, né, governador, a gente ter pagado a dívida do Fundo Monetário, que não supervisiona mais as nossas contas.” Não é verdade. O Brasil jamais precisou da autorização do FMI para investir. Acordos com o fundo costumam incluir cortes de gastos públicos para reduzir excessos de demanda, restaurar o equilíbrio macroeconômico e reconquistar a confiança. É o caso atual de Grécia, Portugal e Irlanda. Quem decide o que cortar é o país, e não o FMI. O fundo erra, mas jamais para prejudicar de propósito ou para servir a alguma potência estrangeira, como parecem sugerir certos petistas.

É difícil acreditar que o equívoco da presidente decorra de mero despreparo. Como economista, ela tem procurado mostrar que conhece os meandros da economia e das finanças, nacionais e internacionais. É melhor acreditar que sua provocação a Alckmin foi mero fruto de deselegância e demagogia.

Líderes políticos verdadeiros têm a missão de convencer a sociedade sobre assuntos complexos, incluindo, em muitos casos, a aceitação de sacrifícios necessários à restauração da solvência do Estado, à melhoria da gestão pública, à defesa nacional e ao enfrentamento de privilégios. No Reino Unido, o fracasso das empresas estatais deu lugar às privatizações do governo conservador de Margaret Thatcher, que continuaram em administrações trabalhistas. Ambos exerceram uma ação educativa para realçar a conveniência e as vantagens da privatização. Aqui, os governos do PT, motivados essencialmente por razões eleitorais, exercem papel exatamente oposto, isto é, o de reforçar o equivocado sentimento antiprivatização e tratar pejorativamente o setor privado. Ainda há quem se oponha à privatização por acreditar na utopia socialista, mas a maioria provavelmente se daria conta do contrário se não fosse deseducada por líderes populistas.


Chances desiguais - ANTONIO SERGIO PETRILLI

FOLHA DE SP - 11/11

O diagnóstico precoce do câncer pediátrico é fundamental. Muitas vezes, os sintomas são semelhantes aos de doenças comuns


O câncer infantil corresponde de 2% a 3% de todos os tumores malignos no Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Câncer, estima-se para 2013 a ocorrência de mais de 500 mil novos casos de câncer no Brasil, sendo 11.530 em crianças e adolescentes até os 19 anos, à exceção dos tumores de pele não melanoma.

Assim como em países desenvolvidos, no Brasil, o câncer já representa a primeira causa de morte por doença em crianças e adolescentes.

A sobrevida de crianças com câncer melhorou muito nas últimas décadas. Atualmente, cerca de 75% das 50 mil crianças diagnosticadas a cada ano em países desenvolvidos sobreviverão. No entanto, em países em desenvolvimento, onde vivem 80% de todas as crianças do mundo, apenas 25% das 200 mil crianças diagnosticadas sobreviverão, devido ao acesso limitado aos tratamentos curativos.

No Brasil, existem centros em que a sobrevida é satisfatória, mas diferenças regionais de recursos para atendimento à população dificultam a extensão de tais resultados.

Os mapas das taxas de mortalidade por câncer e indicadores de assistência --internações, quimioterapias e radioterapias-- do Sistema Único de Saúde (SUS) de 2000-2007 mostram a desigualdade no acesso. O volume de tratamentos é menor para moradores nas regiões mais carentes do país --Norte e algumas regiões do Nordeste.

Felizmente, o câncer em crianças e adolescentes é, em sua maioria, sensível ao tratamento quimioterápico e tem alto potencial de cura, se tratado com presteza.

O diagnóstico precoce é, entretanto, o principal desafio, já que vários tipos de câncer nessa faixa etária apresentam sinais iniciais e sintomas que são semelhantes aos de doenças benignas e comuns e geralmente envolvem um curto período de latência com crescimento rápido.

Estudos internacionais indicam que os melhores resultados são obtidos em centros especializados com equipe multiprofissional e infraestrutura adequada. É fundamental o treinamento de pediatras para a suspeita clínica precoce e definição de fluxos rápidos para aumentar a chance de cura.

Até o momento, faltam dados completos sobre a epidemiologia do câncer pediátrico no Brasil, e estes ainda sofrem de muitas fontes de erro, tais como certidões de óbito imprecisas, erro diagnóstico e casos não notificados.

Entretanto, avaliar a incidência de câncer, sobrevida e mortalidade em âmbito nacional é importante para observar mudanças populacionais, gerar hipóteses para estudos causais, medir o impacto de novos tratamentos e orientar futuras pesquisas e políticas de saúde publica.

Um estudo avaliou 14 registros de câncer de base populacional brasileiro e os principais tipos, em ordem de frequência, foram leucemia e linfoma. Entretanto, os tumores de sistema nervoso central, anteriormente reportados como terceira neoplasia mais comum na infância, passaram a aparecer em segundo lugar nos registros de Porto Alegre, Campinas e Aracaju, assim como acontece nos países desenvolvidos. Esse aumento observado na incidência deve ser devido ao maior acesso a exames de imagem.

Diante de tamanha disparidade nacional, a luta em nosso país deve ser focada em garantir maior sensibilidade do sistema de saúde para a detecção dos casos novos de câncer.

Pensando nisso, o Instituto de Oncologia Pediátrica Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer) - Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), por meio de uma parceria público-privada, inaugurou o anexo de seu hospital, que ampliará o atendimento.

Com o novo complexo com radioterapia de alta tecnologia, o Graacc reforça o objetivo de, atendendo 90% de pacientes SUS, diminuir as sequelas a longo prazo e oferecer todos os recursos necessários para alcançar índices de cura de 70%.

Burocracia nos portos - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 11/11

O Brasil encontra-se na 106.ª posição, entre 118 países, em um ranking que avalia a burocracia nos portos. Elaborado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), com base em dados do Banco Mundial, o levantamento mostra que os problemas portuários do País estão longe de se limitar aos já conhecidos gargalos logísticos.

O excesso de exigências para desembaraçar mercadorias é tido por empresários e especialistas do setor de comércio exterior como o entrave mais importante, reduzindo a competitividade nacional. "Os impedimentos para o ingresso do Brasil em cadeias de valor são sérios e nos condenam a exportar commodities", alertou José Augusto de Castro, presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior.

Recente reportagem do Estado apoiou-se no estudo da Firjan para detalhar como a imensa cadeia burocrática tolhe o fluxo de insumos e equipamentos importados para o setor produtivo e cria dificuldades para aos exportadores.

O levantamento mostra que o Brasil leva 5,5 dias para liberar uma mercadoria, contra 3,5 dias na China e 3,4 dias na Índia - a média mundial é de 3 dias. Nos aeroportos, a situação não é melhor: em Xangai, o produto importado é desembaraçado em 4 horas, enquanto em Guarulhos leva 177 horas (oito dias) e no Galeão, 217 horas (10 dias).

A Receita Federal afirma que a maior parte das declarações de importação é liberada em 24 horas, e apenas uma fração leva até 36 horas. Essa conta, porém, não leva em consideração que o despacho é apenas parte de uma via-crúcis: como mostra a reportagem, são três dias entre o atracamento do navio e o armazenamento da mercadoria, cinco dias para o registro de importação e mais cinco dias para que o comprador possa retirar seu produto. Se o desembaraço da mercadoria depender do aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por se tratar de algum medicamento, a demora pode chegar a um mês, segundo despachantes ouvidos pelo Estado.

O tempo perdido no porto representa um alto custo para o negócio. O gasto médio para exportar um contêiner no Brasil é de US$ 2.215, um valor cerca de 35% maior do que o verificado no México, por exemplo. Quando se compara com grandes exportadores, como Estados Unidos, China e Alemanha, a diferença chega a 50%.

O número insuficiente de auditores envolvidos com a aduana é um dos problemas destacados pela Firjan. Segundo o Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindfisco), o Porto de Santos dispunha de 150 fiscais entre 2005 e 2006; agora, há apenas 80. A Receita Federal pediu a abertura de 1.200 vagas para o setor, mas o Ministério do Planejamento autorizou apenas 250.

Outro entrave, talvez mais grave, é que cada órgão envolvido no processo burocrático trabalha como se sua atuação fosse isolada dos demais. São exigidas até 190 informações para a liberação de mercadoria nos portos, e diferentes departamentos muitas vezes cobram a mesma informação.

Para tentar contornar esse problema, o governo lançou em 2010 o programa Porto Sem Papel, que visa a informatizar os procedimentos no porto, criando um sistema de comunicação entre os órgãos burocráticos. No entanto, alguns desses órgãos ainda não aderiram ao sistema, o que obriga os solicitantes a inserir as informações exigidas no sistema e depois imprimi-las em papel para entregá-las a diversas autoridades.

A Firjan defende que o sistema de despacho aduaneiro funcione 24 horas, 7 dias por semana, como previa a legislação até 2003 - desde então, cabe à administração da aduana a prerrogativa de determinar os horários de funcionamento. Segundo a federação, o expediente ininterrupto faria o Brasil passar do 106.º para o 68.º lugar no ranking da burocracia nos portos, reduzindo o tempo médio de desembaraço de 5,5 dias para 2,7 dias. O governo até pensou nisso: criou às pressas, em abril, o programa Porto 24 horas, para contornar o problema das quilométricas filas de caminhões que esperavam a vez para entregar sua carga no Porto de Santos. Mas, como muitas outras iniciativas deste governo, esta também ficou só no papel.

No frio, carioca faz... - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 11/11

Fevereiro, por causa do carnaval, pode até ser o mês nacional da saliência. Mas o carioca, por exemplo, deve usar muito preservativo nesta época. Veja só.
Uma pesquisa da Secretaria municipal de Saúde, entre 2009 e 2011, mostra que novembro — nove meses após o carnaval — foi o mês com menos nascimentos no Rio.

Segue...
O mês recordista de partos é março, indicando que a, digamos, produção de bebês cariocas acontece no... inverno.
Afinal, é como dizem uns versos do “Isto é bom”, de Xisto Bahia (1841-1894): “O inverno é rigoroso/
Bem dizia minha avó/Quem dorme junto tem frio/ Quanto mais quem dorme só”.

Direto das trevas
Três dirigentes — Pak Kun Gwang, Ri Nam Jun e Kang Chol Min — do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte, uma das ditaduras mais fechadas da face da Terra, participarão, quarta, de seminário sobre comunismo, organizado pelo PCdoB, em São Paulo.

Mesmo pacote
A Rádio Corredor diz que o juiz Gilberto Clovis Faria Matos, da 4ª Vara Empresarial do TJ do Rio, vai aceitar a inclusão de duas empresas de Eike Sempre Ele Batista, com sede na Áustria, no processo de recuperação judicial da petroleira OGX.
O MP era contra, alegando que a justiça brasileira não tem jurisdição sobre empresas do exterior.

Viva Zeca!
Zeca Pagodinho é o homenageado da 3ª edição do Sambabook. Jorge Ben Jor e Beth Carvalho são alguns dos intérpretes. As gravações começam em dezembro, na Cidade das Artes, no Rio.

Que Copa, hein?
A TV Globo já está produzindo a próxima novela das sete.
“Além do horizonte”, produção que estreou semana passada, será encurtada por causa da Copa do Mundo. A nova novela que ocupará o horário será “Geração brasileira”, com direção de Denise Saraceni.

Universo particular
O livro “Casa das estrelas”, do colombiano Javier Naranjo, sucesso da Feira Internacional do Livro de Bogotá, vai ser lançado no Brasil agora em novembro, pela editora Foz.
O lançamento será na Maré, numa oficina literária que ele dará para a criançada da favela carioca.

Amor é...
Ao longo de dez anos, Naranjo reuniu mais de 500 definições de crianças, de 3 a 12 anos, sobre o universo dos adultos.
Há verbetes curiosos, como “inveja é atirar pedra nos amigos” e “amor é quando batem em você e dói muito”.

Safadinhos
O mercado das saliências literárias continua quente.
“Paixão sem limites”, romance da americana Abbi Glines, lançado pela Editora Arqueiro, já está em primeiro lugar no iTunes em três dias de vendas.

Democracia e polícia
Os cariocas poderão avaliar o serviço da Polícia Civil. Está em fase de testes, na 16ª DP (Barra da Tijuca) e na 26ª DP (Todos os Santos), um equipamento de avaliação da corporação.
O cidadão pode dar nota de 1 (péssimo) a 5 (muito bom). Após os testes, as “urnas eletrônicas” serão colocadas em todas as DPs da capital.

Beijo na testa, não
As atrizes Fernanda Rodrigues e Ingra Liberato vão ler quarta agora, na Travessa de Ipanema, crônicas do livro “Beijo na testa é pior do que separação”, de Felipe Pena, romancista e terapeuta de casais.
Ele diz que a maioria das separações não acontece por assuntos pesados, como traição ou dinheiro, e sim por questões banais — como um comentário sem importância ou um beijo na testa.

Ele é o cara
Waldemar Solha, que, aos 70 anos, ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante no Festival de Brasília de 2012 e agora está no filme “O Som ao redor”, indicado para representar o Brasil no Oscar, vai ter a leitura de um texto seu transmitida pela internet.
Será amanhã. “A verdadeira história de Jesus, uma fábula baseada na viagem do sol pelo zodíaco”, será lida na Casa da Gávea, no Rio.

Aliás...
Solha é tio da atriz Eliane Giardini, a Ordália, de “Amor à vida”.

Cena carioca
Um empresário saiu, sexta passada, de uma festa no Copacabana Palace e pegou uma van (Leme-Rocinha) para voltar para casa. No meio do caminho, sentiu-se mal e, digamos, devolveu o que tinha comido e bebido, no assoalho do veículo.
O motorista... cobrou duas passagens. Uma por ele e outra pelo... você sabe.

RAP - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 11/11

Flora Matos, contratada pelo selo do rapper Emicida, lança este ano o single "O Jeito"; a música faz parte de seu primeiro disco, que será lançado em 2014 e é produzido por Andres Levin, que já trabalhou com Marisa Monte

MÃOS ATADAS
O governo de São Paulo estuda testar o monitoramento eletrônico de presos provisórios. Um projeto-piloto deve ser feito na capital e na região metropolitana com 1.500 pessoas, que receberiam tornozeleiras ou pulseiras. A proposta está em relatório assinado pelo secretário da Segurança Pública, Fernando Grella.

EM CASA
Monitorados, os presos que ainda aguardam julgamento não precisariam lotar as celas. "Seria uma alternativa ao cárcere na fase processual", diz o advogado Paulo José Iasz de Moraes, da OAB-SP, que integrou a comissão que estudou o tema. "E evitaria a ida de muitas pessoas para as penitenciárias, que são escolas do crime." Cada equipamento tem custo estimado de R$ 3.000.

GRANDE AMIGA
Luciana Temer, secretária municipal de Assistência Social, sai em defesa de Antonio Donato, de Governo. Ela afirma que o petista nada teve a ver com a nomeação da servidora Paula Nagamati para um cargo em sua equipe. "Ela chegou aqui por indicação de Fábio Remesso, era muito amiga dele", diz, referindo-se a seu ex-chefe de gabinete que foi afastado em junho.

GRANDE AMIGA 2
Remesso, que por sua vez foi indicado a Luciana Temer pelo vereador Nelo Rodolfo (PMDB-SP), é apontado pelo Ministério Público como integrante da máfia dos fiscais. Paula depôs como testemunha. Ex-chefe de gabinete da Secretaria de Finanças na gestão de Mauro Ricardo, que comandou a pasta no governo de Gilberto Kassab, ela era próxima também de Ronilson Rodrigues, tido como chefe do esquema.

GRANDE AMIGA 3
Aos promotores do Ministério Público, a servidora afirmou que os fiscais deram dinheiro para campanhas eleitorais de Donato.

O secretário nega ter recebido qualquer tipo de contribuição deles.

ARCO-ÍRIS
Membros dos conselhos municipal e estadual dos direitos LGBT divulgam carta nos próximos dias com propostas para reverter o fechamento da área do parque Ibirapuera conhecida como "Autorama". Ponto de encontro de gays, lésbicas e travestis, o local deixou de funcionar nas madrugadas após denúncias de prostituição, exploração de menores e tráfico de drogas.

ARCO-ÍRIS 2
Entre as sugestões, estão reforço na atuação da Guarda Civil, melhoria na iluminação e visitas do Conselho Tutelar. A prefeitura diz estar disposta a negociar soluções.

CANTO E RISO
A ida do Porta dos Fundos para os palcos, na forma de um musical, deve ficar a cargo da Aventura, empresa dos produtores culturais Luiz Calainho e Aniela Jordan. As negociações entre a companhia e o canal de vídeos de humor, um dos mais populares do YouTube, estão avançadas. O projeto é para 2015.

DIREÇÃO DE ARTE
Marília Pêra vai dirigir Cássio Reis e Silvia Pfeifer no espetáculo "Callas", que estreia no mês que vem no Rio. A peça é um "documentário vivo" sobre os 90 anos que a cantora lírica Maria Callas completaria no ano que vem.

PF DE LUXO
O prato em homenagem ao jogador Neymar no restaurante Paris 6 terá arroz, feijão, ovo frito, farofa de bacon e carne. A refeição custará cerca de R$ 40. Cinco meses após a abertura da primeira unidade carioca, na Barra da Tijuca, no Rio, Isaac Azar, chef e proprietário do estabelecimento, já procura um ponto na zona sul para outra filial na cidade.

LINEU PEDE AUMENTO
O ator Marco Nanini está em cartaz com "A Arte e a Maneira de Abordar Seu Chefe para Pedir um Aumento" no Sesc Vila Mariana. Guel Arraes, diretor da peça, esteve na estreia em São Paulo. As atrizes Virginia Cavendish e Karin Rodrigues assistiram ao monólogo.

NA FORMA DA LEI
O ministro do STJ (Supremo Tribunal de Justiça) Luis Felipe Salomão recebeu convidados no lançamento do livro "Direito Privado - Teoria e Prática", no espaço cultural da corte. A também ministra do STJ Fátima Nancy Andrighi, o presidente do Conselho Federal da OAB, Marcus Vinícius Furtado Coêlho, e o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, foram ao evento.

CURTO-CIRCUITO
A Cachaça da Tulha lança hoje a Edição Única 2013, no bar Ilha das Flores, na Cidade Jardim, às 19h30.

Adilson Paes de Souza autografa hoje o livro "O Guardião da Cidade - Reflexões sobre Casos de Violência Praticados por Policiais Militares". A partir das 18h30, na Livraria Martins Fontes da avenida Paulista.

Fernando Henrique Cardoso será homenageado hoje no Prêmio Marketing Best Sustentabilidade, às 19h, na ESPM.

A exposição "O Prêmio Nobel - Ideias Mudando o Mundo" será aberta hoje, às 19h30, na sede da Fiesp, na avenida Paulista.

O livro "Milton Neves, Biografia do Jornalista Esportivo mais Polêmico do Brasil", de André Rosemberg, será lançado hoje, às 19h, no shopping Frei Caneca.

Cabo de guerra - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 11/11

José Eduardo Cardozo (Justiça) se reúne hoje novamente com o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para tentar contornar o impasse sobre o Marco Civil da Internet. Peemedebistas ameaçam se unir à oposição para derrotar o relatório de Alessandro Molon (PT-RJ) no Congresso caso o governo não abra mão da chamada neutralidade, que veta padrões diferenciados de acesso à rede. Para blindar o texto, os petistas admitem desistir de pontos laterais do projeto, a pedido de outras siglas.

Meio-termo Os governistas podem negociar, por exemplo, o artigo que obriga que os provedores guardem os registros de acesso dos usuários. Se o texto for rejeitado na Câmara, o PMDB aceitará que o projeto seja reapresentado em seguida, abrindo novamente o debate sobre os pontos polêmicos.

Fiquei doce O Senado decidiu enxugar a licitação de compra de alimentos para a residência oficial de Renan Calheiros (PMDB-AL). Foram excluídos os 45 quilos de camarão previstos em uma concorrência anterior. Ficaram na lista 60 latas de leite condensado e 10 quilos de chocolate meio amargo.

A queda A alta abstenção na eleição interna do PT deve resultar no encolhimento de correntes minoritárias da sigla, segundo dirigentes. Petistas demonstraram preocupação com o número de eleitores ausentes e incluíram o tema na pauta de uma reunião do partido no dia 18.

Agenda... Além de gravar entrevista para o "Programa do Jô", hoje à tarde, Eduardo Campos (PSB) aproveita sua estada em São Paulo para se encontrar com empresários do setor agrícola, a convite de Roberto Rodrigues, ministro do governo Lula.

... cheia O pernambucano também vai se reunir com integrantes da CPETur (empresa de turismo e eventos do governo paulista) para conversar sobre a organização da Copa de 2014 em São Paulo.

Quase... O governo paulista mantém na gaveta há pelo menos quatro meses o código de ética do servidor estadual e um decreto que obriga empresas públicas a divulgar os salários de seus funcionários, inclusive diretores.

... transparente O pacote seria lançado em julho, mas o Palácio dos Bandeirantes só quer publicar os documentos depois de prestar contas sobre outro item de sua pauta positiva: o corte de despesas anunciado após o corte da tarifa de transportes. O balanço está previsto para o fim de novembro.

Currículo A indefinição de Geraldo Alckmin (PSDB) sobre a reforma de seu secretariado se deve à falta de substitutos para os atuais chefes das pastas, que deixarão o governo para disputar eleições. O tucano busca nomes que tenham competência técnica e aptidão midiática para enfrentar a campanha.

Contenção Depois que a divulgação das investigações sobre a fraude de fiscais da Prefeitura de São Paulo chamuscou Gilberto Kassab, dirigentes do PT deflagraram operação para blindar a aliança do PSD com Dilma e manter uma relação amigável entre as siglas no Estado.

Danos Irritado, o ex-prefeito disse a petistas que Fernando Haddad (PT) não foi correto no episódio, pois deixou de reconhecer que a apuração do caso se estendeu pelas duas administrações.

Reforço O Brasil ocupará pela primeira vez uma vaga na vice-presidência do comitê gestor do Pisa, avaliação internacional aplicada a estudantes de 15 anos. A tarefa caberá a Luiz Cláudio Costa, presidente do Inep. O governo acredita que esse será um caminho para ter voz nas decisões sobre a prova.

tiroteio
"Lula quer fincar um novo poste em São Paulo, mas a capital já conheceu esse modelo com Haddad e percebeu que ele não ilumina nada."

DO DEPUTADO ROBERTO FREIRE (SP), presidente do PPS, sobre a declaração de Lula de que uma das prioridades do PT será a eleição de Alexandre Padilha.

contraponto


O tempo voa
Convidado para discursar no encontro da Juventude do PSDB de São Paulo, o ex-governador paulista José Serra foi recebido na entrada do evento pela veterana militante tucana Judith Klotzel. Entusiasmado, Serra resolveu abrir sua palestra com uma homenagem a ela.

--Queria fazer uma menção a alguém que pertence ao PSDB desde sua fundação e participa de quase todas as reuniões do partido --afirmou o ex-governador.

Depois, brincou com a origem da militância de Judith.

--Eu não tenho certeza, mas acho até que ela era comuna antes! --disse, provocando risos da plateia.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 11/11

Grupos constroem shopping no interior da BA
As empresas Deltaville e Marca Empreendimentos, que atuam com projetos imobiliários, irão construir um shopping em Barreiras, no oeste da Bahia. O projeto terá aporte de R$ 150 milhões.

"Barreiras e região têm uma economia que se fortaleceu por causa do agronegócio. Há uma demanda reprimida no comércio local", afirma Antonio Guadagnin, presidente da Deltaville.

O centro de compras, o primeiro investimento da companhia no segmento, ficará ao lado de um bairro que foi implantado pela empresa, com cerca de 5.000 lotes.

Com previsão de entrega para 2016, o shopping terá espaço para 140 lojas, em uma área bruta locável de 17 mil metros quadrados.

"Pelo menos 60% das unidades serão ocupadas por lojistas da própria região", diz Avelino Cortellini Junior, dono da Marca, responsável pela concepção do centro de compras e também sócio do empreendimento.

"Não é o objetivo do projeto se transformar em um concorrente predador [do comércio local]", afirma.

Os aportes no shopping serão feitos com recursos próprios e de investidores, segundo os empresários.

A área onde será erguida a estrutura poderá, no futuro, agregar outros projetos, como um hotel e um centro médico, diz o presidente da Marca.

Além de loteamentos urbanizados na Bahia, a Deltaville atua no mesmo segmento nos Estados do Pará, do Maranhão e do Ceará.

A Marca, por sua vez, trabalhou no desenvolvimento de cerca de 30 shoppings, o último deles em Bauru (SP), de acordo com Cortellini Junior.

TÍTULO IMOBILIÁRIO
O grupo paranaense Barigui, que atua com revenda de veículos e serviços financeiros, decidiu entrar no segmento de securitização.

A nova empresa, com sede na cidade de São Paulo, transforma projetos imobiliários, corporativos ou privados, em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs).

"É um mercado maduro, que tem muito espaço para crescer. Atualmente 90% das operações se concentram nas mãos de quatro a seis companhias", afirma Paulo Abreu, presidente da Barigui Securitizadora.

Com o objetivo inicial de alcançar 10% de market share em 2014, a empresa pretende figurar entre as quatro maiores do mercado nos próximos anos.

As operações de créditos consignados representam 70% da atuação do braço financeiro do grupo.

O segmento hipotecário, que inclui as operações de securitização, correspondem a apenas 30%.

"A tendência é que invertamos essa relação", acrescenta o executivo.

Pirelli quer ampliar fatia de mercado nos países andinos
Apesar de pretender diminuir de 45% para 35% a participação da América Latina em seus resultados operacionais (Ebit), a Pirelli planeja ganhar mercado nos países andinos e no Chile até 2017.

"Queremos que o Ebit cresça em dois dígitos nessas regiões e que o market share dobre", disse o presidente da companhia na América do Sul, Paolo Dal Pino.

No Chile, por exemplo, a empresa tem cerca de 5% de participação, afirmou o executivo na quarta-feira, após apresentação do plano industrial para o mercado financeiro em Londres.

"Quase 80% do mercado [chileno] é dividido por 140 marcas. É muito pulverizado. Por isso, ganhar 1% ou 2% de market share é uma luta", acrescentou o chefe de operações na América Latina, Gianfranco Sgro.

Na Venezuela e na Argentina, a inflação deve dificultar o trabalho do grupo para atingir metas.

Hoje, a maior parte da receita latino-americana da fabricante de pneus é gerada no Brasil.

VESTINDO O QUIMONO
Com a redução do número de brasileiros no Japão e da operação do Itaú no país asiático, o Banco do Brasil se prepara para atender aproximadamente 30 mil novos clientes, que espera receber do concorrente brasileiro.

A instituição financeira também incrementa a sua atuação com empresas.

"O banco vem se reposicionando e teve um aumento significativo nos negócios de atacado, entre 2010 e 2013, além do fortalecimento na atuação com clientes brasileiros", afirma o vice-presidente Paulo Caffarelli.

O crescimento da captação com empresas no Japão no mesmo período foi de 52%. Com bancos naquele país, por sua vez, o aumento da captação nos últimos três anos alcançou 958%.

Cerca de 58 instituições financeiras aplicam recursos no Banco do Brasil no Japão. A companhia brasileira tem aproximadamente cem mil clientes no país.

O banco passou a atuar naquele país com um veículo, o BB Móvel, que leva o atendimento bancário a regiões que não possuem agências da instituição ou a eventos de grande concentração de brasileiros no Japão.

QUEDA DE BRAÇO
A taxa básica de juros deverá seguir em alta em 2014, mas isso não será suficiente para trazer a inflação para o centro da meta do Banco Central, de acordo com projeção feita pela consultoria EY (antiga Ernst & Young).

A Selic deverá fechar o ano em 9,75%, de acordo com a empresa, o que significa 8,2% em juros reais anuais. Para 2014, a consultoria projeta mais aumento dos juros reais, que devem ficar em 9,7%.

No caso da inflação, o cálculo feito pela companhia aponta uma taxa média de 6,1% em 2014, ainda acima do centro da meta que foi estabelecido pelo Banco Central, de 4,5% ao ano.

O crescimento real do PIB em 2014, por sua vez, deverá ficar em 1,9%.

"Para alavancar mais esse PIB, o país precisa ampliar sua taxa de investimentos", afirma André Ferreira, sócio de mercados estratégicos e emergentes da EY.

Para 2014, a previsão feita pela consultoria sobre o dólar é que a moeda americana deverá oscilar em torno de R$ 2,40.

Surpresa... O ministro Guido Mantega apareceu de surpresa ao encontro de Márcio Holland, secretário de Política Econômica da Fazenda, com economistas-chefes de bancos.

...de Mantega Durante a reunião, na sexta, Mantega disse que os próximos resultados da área fiscal serão melhores.

Meta... O ministro disse que o governo tem condição de cumprir a meta de R$ 73 bilhões (1,5% do PIB). E que pretende reverter desonerações, sobretudo na área de consumo.

...mantida Desonerações da folha de pagamento e do investimento, no entanto, serão mantidas, afirmou.

Espectador ou protagonista? - PAULO PEDROSA

CORREIO BRAZILIENSE - 11/11
O Brasil tem sido um espectador pouco atento da revolução energética em torno do gás natural. Diante do movimento liderado pelos Estados Unidos - que estão revigorando sua economia graças à oferta competitiva do shale gas -, nossos esforços são tímidos. Mantido o ritmo, atingiremos o sonho do gás competitivo em um futuro muito distante. Nossas indústrias podem não sobreviver para participar dessa realização.
Atentos à reviravolta na competitividade entre nações e à verdadeira reindustrialização da economia americana, muitos países priorizam a energia competitiva como desafio nacional. Argentina e Peru buscam soluções para desenvolver suas reservas de gás e, ao mesmo tempo, fomentar a produção local. O insumo tem grande relevância no novo plano energético do México e até mesmo na política externa da China, que procura desenvolver suas reservas e assinou protocolo de cooperação com os Estados Unidos para aprendizados na área de faturamento hidráulico.

Não podemos deixar de celebrar as boas notícias, como a atuação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para retomar os leilões de novas áreas de exploração e em favor dos aperfeiçoamentos regulatórios. Vale citar particularmente a defesa pelo regulador da desverticalização do setor. Em nota técnica sobre a atividade de carregamento de gás, a sinalização é impedir que as atividades de administração de gasodutos e carregamento de gás sejam realizadas por um mesmo grupo econômico.

Reconhecida a validade da tese, a separação dessas atividades deveria ser estendida aos gasodutos existentes; trata-se de um passo fundamental para que o mercado inicie um processo de otimização da atividade de transporte, sinalizando preços reais compatíveis aos serviços prestados, o que favorecerá a redução dos preços.

Juntamente com as projeções que indicam que o Brasil tem potencial de triplicar a oferta até o fim da década, essas ações estão em linha com as necessidades da indústria, que vê no gás natural um aliado fundamental para o desenvolvimento nacional. Mas o desafio é a urgência dessa aliança: o gás natural em grandes volumes e em condições competitivas é uma necessidade imediata. É a oportunidade de o país iniciar um ciclo de competitividade estrutural a partir de uma política industrial que estimule novos investimentos, ganhando escala e inovação em seus processos produtivos.

Temos de antecipar o futuro e construir as condições de transição que permitam que a indústria sobreviva até lá. Se a cadeia do insumo não for estruturada de maneira eficiente e competitiva, há risco de a maior parte do gás natural do pré-sal e até mesmo do gás que poderá ser produzido a partir dos recursos não convencionais ser desperdiçada em usos menos nobres, como a reinjeção, queima, liquefação para exportação, e mesmo no uso prioritário para geração de eletricidade na boca dos poços, inibindo a construção de gasodutos.

Um dos principais pontos a serem equacionados é a definição do preço do gás e a recuperação da sua competitividade. A transparência nesse processo é fundamental para que possa ser estabelecido um regime em que os preços correspondam aos custos e ao retorno dos investimentos eficientes da cadeia produtiva. Dessa forma, haverá incentivo às atividades de exploração e produção, bem como ficarão preservados a manutenção e o contínuo acréscimo das reservas. Tudo isso com custos competitivos aos consumidores finais.

Essa estratégia de precificação será possível apenas com o amadurecimento do mercado, favorecido pela evolução da regulação setorial e pelo ingresso de novos agentes. O problema é que dificilmente isso acontecerá na velocidade necessária se mantidas as atuais condições. A alternativa, portanto, é a retomada temporária da imposição de referências de preços máximos ao insumo, que reflitam aqueles que seriam obtidos num processo competitivo, conforme previsto na Lei nº 9.478/97, a Lei do Petróleo, devido aos efeitos do monopólio de fato verificado no segmento.

O Projeto + Gás Brasil procura contribuir com o debate a partir da visão de que as decisões sobre o gás não podem ser tomadas com base na lógica da sua cadeia produtiva, e sim nos efeitos do insumo para a economia. O projeto está ciente, também, de que, muito mais do que um combustível competitivo em um momento em particular, é necessário organizar o mercado para que o preço baixo seja resultado da competição e da inovação, em um ciclo virtuoso e perene de investimentos sustentáveis. Mas têm de ser dadas condições para que essa engrenagem de competitividade entre em operação.

Quem faz sabota as leis - RICARDO NOBLAT

O GLOBO - 11/11
"Serra deve dar um tempo. A vez é de Aécio".
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, ex-presidente


O que distingue um grande escândalo de um pequeno ou médio? O valor total dos bens desviados? A identidade dos envolvidos? Por ora, o rombo de R$ 500 milhões nas contas da prefeitura de São Paulo não passa de um pequeno escândalo, se comparado a outros denunciados há mais tempo, sem que isso tenha resultado em cadeia para alguém. Mas ganhará ares de grande escândalo se envolver políticos de vários partidos.

NO CASO, a quem interessará a identificação dos políticos e partidos beneficiados pela máfia dos fiscais que negociava a liberação de alvarás e a redução no valor de impostos? Ao prefeito Fernando Haddad, que depende da Câmara Municipal para governar? Ao governador Geraldo Alckmin, acossado pelo escândalo dos trens do metrô? À presidente Dilma Rousseff, ansiosa pelo apoio da maioria desses partidos para se reeleger?

A FAXINEIRA ÉTICA aposentou-se, desde que demitiu meia dúzia de ministros e, em seguida, voltou a conviver com os esquemas que facilitavam a roubalheira. O dia exato da aposentadoria foi aquele em que Dilma negou-se a mandar investigar o ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Este jornal descobriu que, antes de ser ministro, Pimentel fora remunerado por consultorias que não prestara.

PARA NÃO incomodar Pimentel, seu dileto amigo, Dilma alegou que as consultorias datavam de antes do seu governo. Portanto, ela nada tinha a ver com isso. De resto, Pimentel não lhe devia explicações. Antonio Palocci perdeu a chefia da Casa Civil da Presidência da República porque foi consultor antes de assumir parte da coordenação da campanha de Dilma à sucessão de Lula. Não era amigo de Dilma como Pimentel é.

NA SEMANA passada, o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou ao Congresso a paralisação de sete obras públicas federais nas quais foram detectadas irregularidades. Dilma não se conformou: "Eu acho um absurdo paralisar obra. Você pode usar vários métodos, mas paralisar obra é uma coisa extremamente perigosa porque depois ninguém repara o custo". Dilma não disse a que métodos alternativos se referia.

UMA DAS sete obras suspensas é a BR/448. Ela foi superfaturada em R$ 90 milhões. O TCU calcula que sua atuação na fiscalização de obras, este ano, poderá representar uma economia de R$ 1,2 bilhão. É pouco ou muito? Estamos diante de um grande ou pequeno escândalo? O que nos garante que não estamos diante de um escândalo que produz outro? Primeiro superfatura-se. Depois, aposta-se que ninguém será punido - e ninguém é.

HÁ ESCÂNDALOS que parecem minúsculos, mas que assumem importância porque revelam o grau de infiltração dos maus costumes nos poderes públicos. A Justiça determinou que a Câmara dos Deputados remetesse ao Ministério Público Federal todas as rubricas que "compõem as remunerações" dos seus servidores com a respectiva identificação dos funcionários. É a caça aos super salários, proibidos por lei.

QUE FEZ a Câmara? Segundo reportagem de Vinicius Sassine e Chico de Gois, publicada ontem, aqui, no primeiro envio de dados, a Câmara omitiu 76 rubricas, o que impediu o exame a ser feito. Da segunda vez, mandou todas as rubricas, mas em planilhas separadas. O volume de dados impediu a associação dos nomes às remunerações. Por que a Câmara agiu assim? Para evitar o corte de pagamentos acima do teto recomendado pelo TCU.

SE O PODER que aprova as leis sabota a aplicação das leis, como cobrar dos cidadãos que as respeitem?

A austeridade venceu - FABIO GIAMBIAGI

O GLOBO - 11/11

Chegamos a assistir ao ridículo de a Venezuela, com sua inflação descontrolada, pontificar regras a serem seguidas pelo resto do mundo, como se o chavismo fosse receita



Há dois meses, cumpriram-se 5 anos da quebra do Lehman Brothers, episódio que para muitos foi a “queda do Muro de Berlim do capitalismo”. Nos anos posteriores, houve uma coleção de obituários. Em maior ou menor grau, uma plêiade de analistas não hesitou em qualificar o episódio como o enterro do capitalismo.

Na sequência, a maior intervenção do Estado na economia foi saudada como a prescrição certa a ser seguida, independentemente das circunstâncias vigentes. Diversos governos latino-americanos não apenas não escondiam seu regozijo pela situação, como davam-se ao luxo de dar conselhos. Chegamos a assistir ao ridículo de a Venezuela, com sua inflação descontrolada, pontificar regras a serem seguidas pelo resto do mundo, como se o chavismo fosse uma receita séria a ser copiada. Aqui também, nossas autoridades não perderam a oportunidade de dizer aos “brancos de olhos azuis” que deveriam esquecer suas recomendações ortodoxas e seguir as práticas locais, baseadas na noção de “mais Estado e pau na máquina”. Vistas em retrospectiva, tais declarações, de singular bizarrice, cobrem o país de opróbrio. Mais uma vez, como tantas vezes na História, comprova-se que “as consequências vêm depois”. Estamos começando a pagar a conta de nosso desprezo pelas normas que regem o sucesso dos países.

Há 200 anos, no seu magnífico “A democracia na América”, Tocqueville nos dizia que “é preciso que os governantes se apliquem em dar de novo aos homens esse gosto pelo futuro e que, sem o dizer, ensinem a cada dia aos cidadãos que a riqueza, o renome, o poder, são os preços do trabalho; que os grandes triunfos se encontram situados ao cabo de longos desejos, e que nada se obtém de durável senão aquilo que se adquire com dificuldade”. É essa concepção que levou os EUA a serem a potência que são hoje e é essa filosofia que explica, por exemplo, o espetacular sucesso da Alemanha.

Em contraposição a essa filosofia, que foi que nossos governantes tentaram incutir na sociedade no atual século? Qual foi o recado? “Vinde a mim e eu vos protegerei”, era a mensagem do pai-Estado. Enquanto aqui deitávamos falação sobre as bondades da intervenção estatal e continuávamos a aumentar o gasto público acima do crescimento da economia, numa torcida indisfarçável para que a área do euro implodisse — caracterizando o fracasso da estratégia alemã de abordagem da crise — havia três movimentos acontecendo, que o país ignorou olimpicamente.

O primeiro foi a consagração da Alemanha, que fez um ajustamento notável da sua economia e hoje voltou a ser a locomotiva da Europa, baseada na competitividade, na produtividade e nos mesmos princípios que geraram décadas de prosperidade no pós-guerra.

O segundo foi o ajuste gradual da periferia europeia, não apenas no sentido de que os países desajustados da área do euro — com destaque para a Espanha — começaram a dar sinais de melhora de alguns indicadores de competitividade, mas também pelo poder de atração que a perspectiva de um euro fortalecido implica para os países que inicialmente ainda não pertenciam à área, como os que compõem a região dos Bálcãs.

Por último, o terceiro foi o reerguimento dos Estados Unidos, que combina os resultados de um fenômeno inerente ao capitalismo — a renovação provocada pelo shale gas, com seu enorme potencial dinamizador — com os efeitos benéficos da persistência na redução do déficit público, tendência claramente delineada desde 2010 e que, com um ajustamento fiscal de 5% do PIB em quatro anos, aponta para a perspectiva de retorno do desequilíbrio fiscal para menos de 3% do PIB em horizonte de prazo relativamente curto.

Em 2010, quando Lula era “o cara” e a economia brasileira estava “bombando”, aproveitando os últimos minutos de glória do ciclo das commodities, acreditamos que a política de gastar a rodo e financiar tudo e todos era a prescrição certa a fazer, em vez de perseguir objetivos de longo prazo baseados no que mestre Sérgio Buarque de Holanda em “Raízes do Brasil” qualificava como “esforços sem perspectivas de rápido proveito material”. Três anos depois, as consequências estão aí: temos um crescimento fraco, nossas contas fiscais pioram ano após ano — e, no mundo que conta, a austeridade venceu. Fizemos a escolha errada.

Estranho modo de responder aos críticos - JORGE J. OKUBARO

O Estado de S.Paulo - 11/11

Na tentativa de responder às críticas à sua política fiscal, mais intensas à medida que são conhecidos os números comprovando a contínua e cada vez mais rápida deterioração da situação das contas públicas, o governo vem demonstrando notável capacidade de fornecer mais argumentos aos críticos.

Resultados recentes mostram claramente a persistência de dificuldades para equilibrar suas contas. Entre janeiro e setembro deste ano, por exemplo, suas despesas totais tiveram um aumento real de 7,2%, na comparação com o mesmo período do ano passado, muito maior do que a expansão da receita líquida, de 2,2%.

Mas números como esses - que apontam para o surgimento de problemas fiscais graves, caso sua tendência se mantenha - não parecem preocupar o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Mesmo diante dos péssimos resultados acumulados nos nove primeiros meses do ano, quando o superávit primário, necessário para o pagamento dos custos da dívida pública, foi 49% menor do que o de 2012, o ministro garantiu que tudo está sob controle e que problemas, se existem, são localizados.

Mantega voltou a afirmar, como fizera também o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, que o governo federal cumprirá sua parte na obtenção do superávit primário para este ano (que em junho foi reduzido de 3,1% para 2,3% do PIB), o que corresponde a R$ 73 bilhões. Pode até ser que isso ocorra. Mas, considerando-se que, até setembro, o superávit primário ficou em R$ 27,9 bilhões, está claro que, nos três últimos meses do ano, o governo terá de multiplicar por 2,6 tudo o que fez nos nove primeiros. Para Mantega, no entanto, os resultados de outubro (a serem conhecidos no fim deste mês) serão melhores e continuarão a melhorar até o fim do ano e ao longo de 2014.

Também para a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, a situação continua normal na área fiscal. Há dias, ela afirmou que a política fiscal em 2014 "já está dada" - ou seja, nada vai mudar. Recordou que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2014 definiu a meta do superávit primário em 3,1% do PIB para todo o setor público (igual à originalmente fixada para 2013, mas que depois foi reduzida). Dessa meta, o governo poderá abater até R$ 67 bilhões, mas, de acordo com o projeto de lei do Orçamento para 2014, pretende cortar R$ 58 bilhões, o que a reduziria para 2% do PIB.

Ao tentar demonstrar, só com palavras, a normalidade de uma situação vista como preocupante até por economistas que até há pouco vinham dando forte e irrestrito apoio às suas iniciativas - entre os quais o ex-ministro Delfim Netto -, o governo procura justificar sua postura, de nada fazer nesse campo. Ou seja, reafirma que não haverá mudanças relevantes nos próximos meses. Agindo desse modo, no entanto, acaba por instilar mais desconfiança naqueles que já desconfiavam. Consegue piorar o que não ia bem.

Também com o que efetivamente fez e continua a fazer na área fiscal, o governo só consegue alimentar o pessimismo. Insiste em medidas que podem produzir resultados melhores, mas de curta duração. Como se observou, reduziu a meta do superávit primário, o que não é ilegal, mas mostra suas dificuldades para manter o aumento dos gastos pelo menos no ritmo do crescimento da receita.

Nem reduzida, porém, a meta poderia ser alcançada sem o recurso a outros mecanismos criativos, a que o governo acabou recorrendo. Entre eles está a apropriação antecipada de dividendos de empresas estatais e até a extensão dos benefícios na renegociação de dívidas tributárias a bancos e a empresas multinacionais, que não estavam incluídos entre os que poderiam aderir ao chamado Refis da Crise. Lembre-se que o próprio Refis da Crise foi reaberto, com a extensão do prazo para os interessados aderirem a ele. Trata-se de um benefício que, sistematicamente, a Receita Federal tem criticado, com sólidos argumentos técnicos, porque prejudica os contribuintes que pagam em dia os tributos devidos, desautoriza as ações da fiscalização e de cobrança judicial das dívidas e estimula o atraso de pagamentos, pois gera a expectativa de que novos programas desse tipo serão aprovados no futuro. Desta vez, no entanto, o governo reabriu e ampliou o Refis porque espera o recolhimento imediato de algo entre R$ 7 bilhões e R$ 12 bilhões, o que aliviará a pressão fiscal imediata.

Igualmente a pressa na realização do leilão do campo de pré-sal de Libra deveu-se menos à política de energia do governo do que à premente necessidade de fazer caixa, pois o consórcio vencedor terá de recolher o bônus de R$ 15 bilhões antes do fim do ano.

Com medidas desse tipo, o governo tenta compensar as perdas de arrecadação em que incorreu com as desonerações concedidas nos últimos anos, sob a justificativa de estimular a produção e o emprego em setores vitais da economia afetados pela crise internacional. Os resultados do ponto de vista da atividade econômica e dos investimentos são pouco perceptíveis, mas o efeito dessas medidas sobre a receita do governo foi muito forte.

O crescimento real, em 12 meses, da receita tributária até julho de 2011 tinha sido de 13,8%, mas nos 12 meses até abril de 2013 o resultado foi uma queda real de 0,1%, calcula o economista Raul Velloso. A própria Receita Federal estima que, em 2013, as desonerações resultarão em queda de arrecadação de R$ 13,4 bilhões, valor que subirá para R$ 27,7 bilhões em 2014 e ficará em R$ 23,8 bilhões em 2015.

O governo considera prioritários os programas sociais, o que é perfeitamente justificável num país com tantas desigualdades como o Brasil. Mas é preciso que a preservação dos gastos sociais, num momento de redução do crescimento das receitas, seja compensada por medidas de restrição em outras áreas.

Há quem considere que o superávit primário não precisa ser tão alto. Mas é preciso que, ao reduzi-lo, o governo o faça com clareza - e mostre que tem disposição e meios para alcançá-lo. De outro modo, só gerará mais desconfiança.

O bom senso chega à Petrobras - RAUL VELLOSO

O GLOBO - 11/11

Ao achatar os preços praticados em vários mercados sob seu controle, o governo envolveu-se numa armadilha. Lembra dramático processo semelhante em curso na Argentina.

Quando se olha a evolução recente do IPCA, índice oficial de inflação, o impacto dessa política tem sido expressivo. Com a inflação acumulada em 12 meses atingindo 5,8% em outubro, a taxa relativa aos preços administrados até esse mês foi de apenas 1% ao ano. Sem intervenção, o teto do intervalo de metas, de 6,5% ao ano, provavelmente já teria estourado. Vitória de Pirro, pois uma hora a velha "inflação corretiva" vai aparecer. Para atenuá-la, o Banco Central terá de contar com queda no valor do dólar ou promover nova subida da taxa de juros.

Outro problema é que a fatura a ser paga nas contas públicas já chegou. Paira uma onda de pessimismo sobre a situação fiscal do país, em grande parte devido ao forte impacto das desonerações tributárias na arrecadação, o que se fez, em boa medida, para viabilizar o achatamento de certos preços.

O quadro externo desfavorável impedirá a apreciação da taxa de câmbio, e a elevação dos juros será penosa para um governo que elegeu o fácil acesso ao financiamento como um dos pontos salientes de sua política macroeconômica.

A proximidade do ano eleitoral acentua o tamanho da enrascada. O governo tentará evitar tudo que signifique mais inflação, maior taxa de juros, fuga de capitais e a conseqüente depreciação da moeda, e assim por diante. Eleger-se a qualquer custo implica agradar a todos.

Finalmente, há os impactos desfavoráveis sobre a evolução dos setores afetados pelo achatamento de preços e o que resulta para a economia como um todo. Entre os segmentos onde a pressão tem sido particularmente prejudicial destacam-se os de energia elétrica e petróleo. O correto seria que os preços refletissem o respectivo custo de oportunidade, e não um valor arbitrário abaixo dele.

Na geração de energia elétrica, a busca exagerada de tarifa acessível a todos - modicidade - leva à expansão do consumo além do ponto ótimo e, por conseqüência, à necessidade de acionar usinas com custo operacional mais oneroso para atender ao aumento do consumo. Na melhor hipótese, o regulador fixa uma tarifa que nem sempre contempla a adequada remuneração do capital investido, calculando uma média entre as usinas mais e as menos custosas.

A tarifa tende a se situar abaixo do custo marginal (da última térmica a ser "despachada" para não faltar energia, normalmente a mais cara). Esse é o custo de oportunidade que deveria prevalecer na fixação de preços, pois proporcionaria o aumento dos investimentos no setor, com redução das tarifas a médio e longo prazo.

No fundo, ao comprimir as tarifas o governo cria uma abundância artificial para os consumidores, quando o dado real é a escassez ditada pelo custo da última usina acionada, com um custo do kilowatt acima da tarifa achatada. Nesses termos, a energia vale menos para o consumidor do que ela custa para a sociedade. Não é por outro motivo que as luzes de muitos prédios da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, conforme a TV Globo denunciou na semana passada, ficam acesas de noite, quando os funcionários, cansados de um duro dia de trabalho, já se recolheram aos seus lares. A luz é barata...

Se o preço fosse o correto, cairia o consumo e os recursos seriam redirecionados para onde seu uso fosse mais eficiente. Se o problema é proteger as camadas mais pobres da população, isso se resolve com subsídios públicos específicos e transparentes e não com achatamento tarifário.

Em petróleo, o custo de oportunidade é, basicamente, o preço internacional dessa commodity, convertido em reais à taxa de câmbio em vigor.

Com preços internos abaixo desse indicador, a Petrobras tende a operar com menores lucros na parte relativa à produção interna, e certamente no vermelho no caso do petróleo importado. A conta pode ser paga diretamente pelo governo ou, como vem ocorrendo, pela empresa, com prejuízo para acionistas minoritários. Em qualquer caso, recursos são transferidos aos consumidores internos em detrimento das outras partes. Além disso, preços achatados implicam maior consumo interno de combustíveis, maior uso da combalida infraestrutura, mais poluição etc, reduzindo a produtividade total da economia e impondo custos generalizados. Sem falar que a Petrobras terá menos recursos para investir na expansão do parque petrolífero, gerando menos recursos adicionais para seus sócios e para a União.

Na energia elétrica, como nos pedágios e nos leilões de aeroportos, prevalece infelizmente a visão equivocada de modicidade tarifária a qualquer custo. Já no petróleo, a Petrobras acaba de anunciar, supostamente com aprovação do Planalto, nova metodologia de precificação, que prevê reajuste automático dos derivados em periodicidade a ser ainda definida, com base no preço externo de referência e na taxa de câmbio, e ponderação associada à origem do derivado vendido, se refinado no Brasil ou importado. Se assim for, parabéns presidente!