quinta-feira, outubro 10, 2013

Para (ou contra) o Dia das Crianças - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 10/10

Quando crianças pequenas são reconhecidas como transgênero, para os pais, qual é a escolha certa?


Na semana retrasada, em Buenos Aires, uma criança de seis anos foi autorizada a mudar de nome e de gênero no registro de identidade argentino. Ela tinha nascido menino, Manuel, e declarava ser menina e princesa desde os 18 meses. A criança passa a se chamar agora Luana, nome que ela já tinha escolhido dois anos atrás.

Ela se vestirá de menina, brincará com as meninas e, na escola, frequentará o banheiro feminino. Esse detalhe não é irônico: pouco tempo atrás, nos EUA, uma criança transgênero da mesma idade de Luana, Coy Mathis, teve que recorrer à Justiça para obter o direito de frequentar o banheiro feminino de sua escola.

Simpatizo com os juízes norte-americanos e argentinos, porque sua decisão não foi fácil. Simpatizo ainda mais com os pais de Luana, de Coy e de todas as crianças pequenas que hoje são reconhecidas como transgênero.

Imagino o drama dos pais. Eles podem 1) proibir e coagir para tentar estancar a identificação com o outro sexo, 2) permitir e deixar a coisa se desenvolver sem vaiar e sem aplaudir ou, ainda, 3) tomar as dores de suas crianças e defender o direito de elas mudarem de gênero. Qual é a escolha certa?

Concordando ou não com a escolha dos pais de Luana e Coy, para apreciar sua coragem, basta se lembrar de que poucas décadas atrás ainda se prendia a mão esquerda atrás das costas das crianças canhotas na hora de elas aprenderem a escrever.

Qual será o próximo passo desses pais? Em tese, tentarão contrariar a puberdade administrando à filha o hormônio feminino que ela não produz. Mesmo assim, o corpo de Luana e Coy se tornará mais masculino do que elas esperam, e chegará a hora de recorrer à cirurgia estética e, por exemplo, implantar seios e depilar o corpo inteiro a laser. Quando?

Um recente artigo de Margaret Talbot, numa "New Yorker" deste ano (http://migre.me/giGK1), conta a história de Skylar, criança transgênero de menina para menino, que começou a testosterona e removeu os seios aos 16 anos.

Talbot também mostra que, sobretudo nos EUA, cresce fortemente o número de crianças pequenas que pedem para mudar de gênero.

Ora, a diferença de gênero é muito menos binária do que estamos acostumados a pensar, e acredito mesmo que haja espaço para um terceiro e um quarto gênero. Mas acho sintomática a diminuição progressiva da idade das crianças consideradas transgênero. Sintomática de quê?

Para autorizar uma mudança de sexo, psicólogos e psiquiatras recorrem a critérios sobre os quais é inevitável que se discuta até não poder mais. Mas, de qualquer forma, sejam quais forem os critérios, alguém acha que possamos aplicá-los em crianças de seis anos?

O que significa que um menino, aos dois anos, declare que ele é menina ou princesa? Mesmo que ele não desista nunca dessa ideia, ainda assim ele tem vários destinos possíveis. Talvez, no futuro, ele acorde a cada dia num corpo que lhe repugna, e sua vida só se resolva se ele se transformar concretamente em mulher. Mas uma outra possibilidade (de novo, entre várias) é que, no futuro e durante a vida inteira, ele esconda sua feminilidade e faça dela uma grande fantasia erótica.

A segunda via não é a repressão da primeira: é outra aventura, totalmente. Quem decidirá, diante de uma criança de seis anos, se ela é candidata à primeira ou a segunda via? Ou a outra via ainda?

É preciso idealizar loucamente a infância para incentivar ou satisfazer o desejo de mudar de gênero manifestado por uma criança de seis anos.

Pouco tempo atrás, a uma criança que dissesse suas vontades, só se respondia "cresça e depois a gente conversa". De repente, hoje, parece que o próprio fato de uma criança falar seja garantia da qualidade ("verídica") do desejo que ela expressa (talvez por isso, aliás, não saibamos mais o que fazer quando as crianças dizem que preferem dormir tarde, estudar outro dia etc.). Será que nos esquecemos de que uma criança inventa, finge, mente, que nem gente grande, se não mais?

Sábado é Dia da Criança. Ótimo --que seja um dia em que as crianças possam fazer uma ou outra besteira que lhes der na telha e em que os adultos gastem um dinheiro em presentinhos.

Mas péssimo se o Dia das Crianças for a celebração canônica da infância, que é um ídolo moderno especialmente perigoso. Perigoso? Sim. Espero que não seja o caso de Luana e de Coy, mas as primeiras vítimas de nossa idealização da infância são sempre as próprias crianças.

Não é ótimo, mas diverte - CORA RÓNAI

O GLOBO - 10/10

Percebo que começa a me acontecer, em relação aos DVDs, o que já me aconteceu, há tempos, com os CDs: acho antiga a mecânica de abrir as caixas, pegar os discos e pô-los no player certo


Ando órfã de “Game of thrones”, “Downton Abbey”, “Homeland” e “The newsroom”. Vou para a minha salinha de vídeo — que é apenas o antigo quarto da Bia com um sofá, estantes cheias de DVDs e uma tela de plasma de 44 polegadas — e me queixo, como a perua que não encontra nada para vestir no closet abarrotado: “Não tenho nada para ver!”

Se os céus fossem justos, nessa hora me cairia um raio sobre a cabeça. Ainda não assisti aos novos filmes indianos e coreanos que encomendei, e uma pilha de lançamentos fechadinhos nos seus celofanes espera vaga no player e na estante. Mas percebo que começa a me acontecer, em relação aos DVDs, o que já me aconteceu, há tempos, com os CDs: acho antiga a mecânica de abrir as caixas, pegar os discos e pô-los no player certo. Quero ligar o monitor e encontrar, em alguns cliques, o que estou com vontade de assistir.

Esse processo foi tão radical com os CDs que nem me lembro mais quando foi a última vez que ouvi um deles. Na verdade, nem tenho mais CD player. Tenho, isso sim, dezenas de CDs ainda lacrados — cujo conteúdo conheci pela internet, que é por onde passa a minha música hoje. Descobri toda a extensão do meu comodismo digital quando, um dia, achei mais prático baixar o que estava querendo ouvir do que ir até a sala buscar o CD.

Em tempo: não há incongruência entre essa relação de amor com filmes e músicas em formato digital e a minha resistência aos e-books. Ler é um ato físico que envolve vários sentidos, da visão ao olfato, e algumas das minhas idiossincrasias não cabem num Kindle: dar uma olhada na última página, ler o miolo na diagonal, folhear o livro, saltar capítulos para frente e para trás.

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Olho para a quantidade de bens culturais que me cercam e me censuro pelo momento de tédio. Nenhuma geração anterior à nossa teve tanto saber e entretenimento à disposição. Se eu nascesse na Idade Média e tivesse tido a sorte de ser alfabetizada, teria acesso, no máximo, aos 50 ou cem livros que compunham, nas cidades mais progressistas, as bibliotecas acorrentadas — que têm esse nome porque, nelas, os manuscritos ficavam presos às mesas ou estantes por correntes, para não serem roubados.

Para ouvir música quando tivesse vontade, teria que tocar, eu mesma, o meu próprio instrumento. Ou teria que ter nascido numa família aristocrática muito, muito rica, que pudesse se dar ao luxo de manter músicos a seu serviço. Hoje, porém, estou a um clique de uma legião de mestres, muitos inclusive já falecidos — luxo com que nenhum rei, em toda a sua realeza, foi sequer capaz de sonhar.

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A racionalização consola, mas não resolve. Eu queria um capítulo novo, inédito, de alguma das minhas séries queridas. Na falta, caí em “Scandal”, que alguém me recomendara pelos bons antecedentes: ela é criação de Shonda Rheimes (de “Grey’s anatomy”).

Assisti à primeira temporada sem entusiasmo. A produção (da ABC) é até caprichada, mas o roteiro tem furos risíveis, e os diálogos, sem brilho, tentam compensar a mediocridade pela rapidez com que são ditos. É como se a direção acreditasse que a velocidade pode substituir, ou pelo menos disfarçar, as falhas do conteúdo. A maioria dos atores cumpre o seu papel com a eficiência que se espera de um time de horário nobre — e só.

Mas eis que, ainda sem ter o que ver, emendei a segunda temporada. E não é que gostei? “Scandal” cresce no segundo tempo, talvez porque tenha sofrido alterações de rota, talvez porque as personagens já tenham sido apresentadas, talvez porque a trama se adensa, talvez por todas essas razões juntas. O fato é que, agora, espero a terceira temporada, que acaba de estrear nos Estados Unidos, com curiosidade.

A história gira em torno de Olivia Pope (Kerry Washington), que dirige um escritório de gestão de crises em Washington, e teve um caso com o presidente Fitzgerald Grant (Tony Goldwyn). A cada episódio, seu escritório tem uma bananosa diferente para resolver; o fio condutor de um a outro é a vida na Casa Branca, com seus podres e suas disputas de poder. A CIA e a NSA são apresentadas como as agências sem escrúpulos que são, o que faz com que, volta e meia, a gente se pegue torcendo pelos malfeitores, o que é sempre divertido.

Kerry Washington, que foi indicada ao Emmy e faz um sucesso enorme nos Estados Unidos, não me diz nada. Faz tantas caras e bocas que chega a ser caricata. Goldwyn também não convence como presidente. Mas “Scandal” tem uma primeira-dama perfeita, a morena gelada Mellie (Bellamy Young), um advogado fantástico, Harrison, braço-direito de Olivia (Columbus Short), e o melhor casal homossexual da televisão, disparado, composto pelo chefe de gabinete Cyrus Beene (Jeff Perry) e pelo repórter James Novak (Dan Bucatinsky, que ganhou o Emmy de ator convidado pelo papel).

Os dois funcionam lindamente juntos, se entendem e desentendem com naturalidade e passam, com sucesso, a sensação de uma cumplicidade ma non troppo que, aqui e ali, esbarra nos limites impostos pela ambição.

“Scandal” não se compara a “West Wing” ou a “House of cards”, duas séries políticas de maior densidade atômica, mas acaba sendo, afinal, uma boa diversão.

Maldito seja o carro - MARIO SERGIO CONTI

O GLOBO - 10/10

Metrôs e trens são escassos, ônibus parecem feitos para carregar gado, bólidos atolam em ruas coaguladas


De há muito advertimos o Partido Comunista da China acerca dos malefícios dos automóveis. Debalde. A República Popular continua a ser o maior produtor de carros do mundo, tendo fabricado mais de dez milhões até agora neste ano. Os Estados Unidos estão em segundo lugar, em terceiro o Japão, e aí vem o Brasil, que fará quase quatro milhões de veículos até dezembro. Por quê?

Porque é uma aspiração nacional. Há pouco, o vice-presidente Michel Temer a expressou assim: “Enquanto o cidadão puder ir ao supermercado, botar o filho na escola e comprar um carro, a economia do cotidiano não mudou”. Tinha razão Antonio Carlos Magalhães quando dizia que Temer parece um mordomo de filme de terror — a sua frase tem um quê sinistro. Para o vice, queremos comida, colégio e carro. A casa, a saúde, o saneamento e o transporte em comum ficam para o Dia de São Nunca. Como tem sido assim, dobrou o número de automóveis na última década.

Publicado agora nos Estados Unidos, “O carro do povo — uma história global do Fusca” ajuda a entender a concepção de Temer. Bernhard Rieger conta no livro que, no início dos anos 30, a Alemanha era um dos países menos motorizados da Europa. Também pudera, ela usufruía do melhor transporte público do continente, todo ele assentado em trilhos.

Ao chegar ao poder, Hitler decretou que os trens “acabaram com a liberdade individual no transporte” e concebeu o Volkswagen, o carro do povo. No mesmo elã vieram o rádio do povo (Volksempfänger) e a geladeira do povo (Volkskühlschrank). Povo que não incluía os judeus, proibidos em 1938 de dirigir automóveis.

O Fusca foi desenhado por Ferdinand Porsche para levar um casal e três filhos, usar pouco combustível e custar o preço de uma moto. Para que ele circulasse, o nazismo teceu a malha rodoviária que é um orgulho germânico, ainda que Angela Merkel tenha perdido votos devido ao seu desgaste. O limite de velocidade foi abolido porque tolhia a liberdade do motorista ariano.

Remodelada durante a guerra para produzir veículos militares, a fábrica do Fusca usou trabalho forçado. Foi uma das poucas a sobreviver aos bombardeios dos Aliados. Como as rodovias estavam prontas, a Alemanha empobrecera e o Fusca fora testado, o carro do povo acelerou depois do nazismo.

Quando chegou ao Brasil, o Volks não viu rodovias nem metrôs, ônibus ou ferrovias decentes. Ele se virou e virou o mais vendido. A ideia de carro do povo morreu e o Fusca saiu de linha. Seis décadas depois de ele ter chegado, metrôs e trens são escassos, ônibus parecem feitos para carregar gado, bólidos atolam em ruas coaguladas.

Mas vigora a mística de que o carro é o Santo Graal. E tome corte de impostos, prestações em 48 meses, imagens sexy que o associam à limpeza e à fluidez. O indivíduo imagina que é livre numa solitária metálica que solta fumaça e mal se mexe. Porque pior do que ela só a cela coletiva do transporte público. Restou apenas a liberdade de amaldiçoar, como fez W. H. Auden num de seus últimos poemas, traduzido abaixo.

Uma praga

Foi de dor o dia em que Diesel

concebeu o motor sombrio

que te deu vida, invenção vil,

ainda mais execrável e cruel

do que a câmera, monstro de metal,

credo e crise da nossa Cultura,

cruz da nossa Comunidade.

Como a lei ousa proibir

o haxixe e a heroína

e permite o seu uso, que infla

egos murchos e miúdos?

O vício só faz mal

aos viciados, e você envenena

o pulmão de inocentes,

seus urros arrasam gente mansa,

em ruas arruinadas centenas

morrem ao acaso dia a dia.

Inventores, vocês deveriam

se enforcar de vergonha.

O seu engenho fez prodígios,

fez os homens irem à Lua,

fez computadores trabalhar,

fez bombas “inteligentes”.

É um escândalo lento

que vocês não tenham tempo,

que sequer tenham sonhado

o que todo ser são sabe ser o certo:

uma silenciosa, sem cheiro

e suave charrete elétrica.

A recepção - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O Estado de S.Paulo - 10/10

A recepcionista que me recebe na porta do céu é simpática. Digita meu nome no computador, sorrindo. Mas o sorriso desaparece de repente. É substituído por uma expressão de desapontamento.

Ai, ai, ai... - diz a recepcionista. - Aqui onde diz "Religião". Está: "Nenhuma"

- Pois é...

- O senhor não tem nenhuma religião? Pode ser qualquer uma. Nós encaminhamos para o céu correspondente. Ou, se o senhor preferir reencarnação...

- Não, não. Não tem céu só pra ateu?

Não existe um céu só para ateus. Nem para agnósticos. Também não são permitidas conversões "post-mortem" ou adesões de última hora. E me deixar entrar numa eternidade em que nunca acreditei, talvez tirando o lugar de um crente, não seria justo, eu não concordo?

- Espere! - digo, dando um tapa na testa. - Me lembrei agora. Eu sou Univitalista.

- O que?

- Univitalista. É uma religião nova. Talvez por isso não esteja no computador.

- Em que vocês acreditam?

- Numa porção de coisas que eu não me lembro agora, mas a vida eterna é certamente uma delas. Isso eu garanto. Pelo menos foi o que me disseram quando me inscrevi.

A recepcionista não parece muito convencida mas pega um livreto que mantem ao lado do computador e vai direto na letra U. Não encontra nenhuma religião com aquele nome.

- Ela é novíssima - explico. - Ainda estava em teste.

A recepcionista sacode a cabeça mas diz que irá consultar o supervisor. Eu devo voltar ao meu lugar e esperar a decisão. Sento ao lado de outro descrente, que pergunta

- Você acredita nisto?

Eu... - começo a dizer, mas o outro não me deixa falar. - É tudo encenação. Tudo truque. Quem eles pensam que estão enganando?

E o outro se levanta e começa a chutar as nuvens que cobrem o chão da sala de espera.

- Olha aí. Isto é gelo seco! Você acha mesmo que existe vida depois da morte? Você acha mesmo que nós estamos aqui? É tudo propaganda religiosa! É tudo...

Salto sobre o homem, cubro sua cabeça com a camisola, atiro-o no chão e sento em cima dele. Para ele não estragar tudo. Claro que também acredito que aquilo é uma encenação. Mas seja o que for, durará uma eternidade.

TCHAU

Vou dar férias aos meus dezessete leitores. Volto quando novembrochegar. Tchau, e comportem-se...

Que dupla! Marinardo e Eduina! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 10/10

A Marina teve ataque alérgico em plena lua de mel. Por isso que o Eduardo Campos tem aquele olho esbugalhado!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! "Menino entra no hospital para fazer cirurgia da língua e o médico opera fimose na Santa Casa de Ponta Grossa". Isso que é falta de comunicação.

E o médico não era cubano! E por que no Brasil tudo é engraçado? Língua, fimose e Ponta Grossa! Rarará!

Outra: "Guerrero tem lesão diagnosticada no pé esquerdo e é cortado pelo Peru". Erro médico! Isso foi erro médico! Justo pelo Peru?

E essa: "Ideli Salvatti usa helicóptero do Samu em périplos por Santa Catarina". É o chamado IDELICÓPTERO! Tudo certo: como ela se chama Salvatti, usou o helicóptero do Samu! O Samu salvatti a Ideli!

E ainda que ela usa helicóptero. Se for por terra, apavora metade de Santa Catarina! Com aquela cara de cruz credo com a mãe do sarampo! Rarará!

E reparou que só tem neto pra 2014? O Aécio é neto do Tancredo, o Eduardo Campos é neto do Arraes. Isso não é nepotismo, é NETISMO! Netismo 2014: Aécio neto do Tancredo, Campos neto do Arraes. E a Dilma é neta do Shrek! E a Marina é neta do E.T. com a tartaruga da Brahma! Rarará!

E essa dupla Marinardo e Eduina? Lua de mel do barulho! A Marina teve ataque alérgico em plena lua de mel. Por isso que o Eduardo Campos tem aquele olho esbugalhado! "Tô com alergia". "JÁ?". E esbugalhou os olhos! Rarará.

Ele parece o Mike do "Monstros S.A". Aquele monstrinho verde redondo com um olho só ENORME! Fábrica de sustos! O Campos tem um ovo frito de cada lado do nariz!

Eu acho que o Campos, quando menino, viu disco voador, o curupira, o boitatá e a mula sem cabeça!

E adorei a charge do Cazo com a Dilma gritando (A Dilma gritando é pleonasmo): "Avisa pro Obama que eu não irei porque não consigo encontrar o passaporte". "Ele disse que o passaporte tá na sua mesa, terceira gaveta à direita, junto com os arquivos da Petrobras". Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

Os Predestinados! Mais duas para a minha série Os Predestinados. É que em Araraquara tem a nutricionista Nádia REDONDO! Ela devia se chamar Nada Redondo. Porque nutricionista não gosta de nada redondo. E essa outra nutricionista: Daniela Magro! Rarará.

Nóis sofre, mas nóis goza!

Hoje, só amanhã!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Meia-volta, volver - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 10/10

O vice-procurador-geral eleitoral, Eugênio Aragão, considerou improcedente representação assinada por sua antecessora, Sandra Cureau, contra o PT, Dilma Rousseff e Lula por campanha antecipada. Cureau acionou o TSE pedindo multa e cassação da propaganda eleitoral do partido por "referência explícita" à disputa de 2014 e "exaltação" do nome de Dilma em inserções de TV do primeiro semestre. Aragão, em seu parecer, disse que a divulgação é "parte do discurso político".

Em frente No fim de setembro, Aragão havia emitido parecer pela procedência de uma representação feita por Sandra Cureau contra a propaganda do PSDB, também por campanha antecipada.

Veja bem Aragão diz entender que menções a ações de governos são válidas nos programas partidários e que não houve "fulanização" nas peças do PT. Adianta ainda que pedirá o arquivamento de outra representação contra spots com Aécio Neves.

Fogo amigo Governistas que acompanharam os últimos debates dos candidatos a presidente do PT se assustaram com o tom beligerante em relação a Dilma.

Barreira Há queixas sobre a "incompreensão" da presidente quanto a políticas do PT em áreas como direitos humanos, índios, reforma agrária, sindicalismo e comunicação. E cobrança de que "tudo precisa mudar" num eventual segundo mandato.

Jogo... Assessores presidenciais leram as várias entrevistas de Marina Silva nos últimos dias como fruto de acordo com Eduardo Campos.

... combinado Ao deixar as possibilidades abertas, avaliam, Marina mantém seu eleitorado cativo até a decisão da candidatura, em junho de 2014. Tanto para ser candidata como para transferir esse cacife para Campos.

Camomila Emissários do governador de Pernambuco foram enviados ontem para acalmar o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), alvo de críticas por parte de Marina.

Cartola Hoje, em São Paulo, evento com a presença de Campos celebra a adesão de outro ex-jogador da Seleção de futebol ao PSB: Cafu, o capitão do penta de 2002.

Plataforma As indicações para a cúpula da PPSA, estatal que vai gerir o pré-sal, devem sair hoje ou amanhã.

Sem vazamentos A escolha da diretoria está sendo tocada pessoalmente por Dilma, que cerca de sigilo os escolhidos e elimina os nomes com eventual indicação política. A presidente quer que o novo executivo tenha passado pelo mercado de petróleo.

Língua solta Advogados da Operação Miqueias relatam que foram feitas duas delações premiadas na investigação. A informação consta de despacho do desembargador Cândido Ribeiro, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, quando mandou o processo para o STF.

Confessionário Geraldo Alckmin recebeu a Rede Vida ontem para falar sobre fé, por conta do Dia de Nossa Senhora Aparecida, que ele sempre acompanha na Basílica. Quem fez a entrevista, que vai ao ar hoje, foi o ex-padre Dalcides Biscalquin.

Selada Em setembro, sindicatos e associações de pensionistas dos Correios divulgaram carta aberta a Dilma pedindo providências no Postalis, fundo de pensão da estatal. Ontem, o diretor financeiro, Ricardo Oliveira Azevedo, pediu demissão.

Histórico No texto, as entidades apontavam "investimentos duvidosos que provocaram déficits elevados no plano de previdência", e pediam a saída de Azevedo.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Caetano nos ensinou que cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Não pode querer calar na boca dos biógrafos as notícias ruins."

DA DEPUTADA MANUELA D'ÁVILA (PC do B-RS), autora de projeto liberando biografias não-autorizadas, sobre o apoio de expoentes da MPB à proibição.

Contraponto


Em família
Em evento no Paraná, o deputado federal Sandro Alex (PPS-PR) brincou com uma equipe da TV Globo sobre algumas coincidências que enxergou na minissérie "A Mulher do Prefeito", que conta a história de um político preso por desviar verbas de seu município.

--Essa série vai causar problemas para o meu irmão! Ele também é prefeito, em Ponta Grossa, e o nome dele também é Rangel, como o protagonista! --disse.

O deputado Bruno Araújo (PSDB-PE) retrucou:

--Não se preocupe. Se você preferir, mudamos o nome de "A Mulher do Prefeito" para "A Cunhada de Sandro".

Walter Feldman vem aí - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 10/10

O PSB pode disputar o governo de São Paulo. Eduardo Campos e Marina Silva concluíram que o estado é estratégico para a campanha à Presidência. E que Eduardo não poderia ficar sem um candidato que falasse em seu nome na TV nos programas de segunda, quarta e sexta-feira. As articulações em curso são para fazer do deputado Walter Feldman, um ex-tucano, o candidato da aliança PSB-Rede.

É só o começo?
A ex-candidata Marina Silva expulsou Ronaldo Caiado (DEM) da campanha de Eduardo Campos (PSB). Este, depois de ter convidado o democrata a apoiá-lo, declarou na rádio CBN que "não há nenhuma aliança com o Caiado" As próximas vítimas serão os Bornhausen e Heráclito Fortes? Ambos são egressos do DEM. Ou haverá freio de arrumação? Homem da corte, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB), candidato ao governo de Brasília, foi à tribuna do Senado tecer loas a Marina. Ontem, no "Correio Braziliense" ela disse que apoia Reguffe (PDT) no DF. É como disse o ex-presidente FH, para o Radar On-line de "Veja": "Hoje, é tudo novidade. Dentro de três meses, porém, as contradições aparecerão mais."


"O Eduardo (Campos) não pode mais falar o que pensa. Ele agora é refém da Marina (Silva), dos marineiros e dos sonháticos"
Carlos Sampaio
Líder do PSDB na Câmara (SP), sobre o cartão vermelho para Ronaldo Caiado

Com o peito estufado
Na votação do Mais Médicos, na terça-feira à noite, o líder do DEM, Ronaldo Caiado, zoado por Marina Silva ter declarado apoio a Eduardo Campos, garantia: "Para com isso. Minha relação é com o Eduardo. A Marina não muda nada".

Crise no império
O ex-presidente Lula convocou o ministro Guido Mantega (Fazenda) e o economista Luiz Gonzaga Belluzzo (foto) para tratar dos efeitos do impasse j americano na economia. O debate foi segunda-feira no Instituto Lula. Mantega disse que o Brasil está preparado para o calote americano. Belluzzo previu que o efeito no mundo será devastador.

Deixa disso
A direção do PT não fez drama com a declaração dúbia de seu candidato ao governo do Rio, o senador Lindbergh Farias. Dizem que foi uma "precipitação" e que ele "se expressou mal" Garantem que ele só fará a campanha da presidente Dilma.

As aparências enganam
É verdade, o PPS está indignado com o desfecho da negociação com Marina Silva. O partido, diz um dirigente nacional, sente-se como "o noivo abandonado no altar" Mas as portas continuam abertas para a candidatura Eduardo Campos (PSB). O partido culpa Marina. O PPS só não se entrega já porque há quem ainda acredite que a candidatura José Serra ressurja no PSDB.

Hora do recreio
A presidente Dilma jantou na terça-feira em uma casa no Largo Norte de Brasília. Foi no aniversário de seu acupunturista, o dr. Gu Hanghu. Levou de presente uma camisa e tirou várias fotos com os netos bebês do acupunturista.

O candidato do Nordeste
Pesquisa Vox Populi no Ceará: Dilma, 64%; Marina Silva, 13%; Aécio Neves, 6%; e, Eduardo Campos, 2%. Eunício Oliveira (PMDB) lidera para o governo (37%) e lasso Jereissati (PSDB) para o Senado (38%). Foram 1.600 entrevistas de 29 de setembro a 3 de outubro.

APÓS CONSULTAR o ex-presidente Lula, o governador Sérgio Cabral desistiu de seus planos de virar ministro e deixar o governo do Rio em dezembro.

BEIJO PROIBIDO - MONICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 10/10


Uma moça que foi censurada por beijar a companheira em um hipermercado conseguiu que o funcionário e a rede recebessem advertência por discriminação homofóbica. O caso ocorreu em uma loja do Pão de Açúcar em SP em 2011. No processo, o gerente da unidade afirmou que agiu a pedido de um cliente que se dizia incomodado.

BEIJO 2
A autora da denúncia foi representada pela Defensoria Pública estadual. Em sua decisão, a Secretaria de Estado da Justiça, que aplicou a punição administrativa, afirma que "[são livres] as manifestações de afeto entre as pessoas, o que também compreende afeto entre pessoas do mesmo sexo".

AULA
O Pão de Açúcar declara, em nota, que "repudia qualquer ato discriminatório" e que o episódio "não corresponde ao padrão de conduta exigido" dos funcionários. Informa que o gerente foi advertido e "participou de treinamento de reciclagem e sensibilização sobre o tema".

BELEZA NO PODER
Ex-mulher do senador Jarbas Vasconcelos, 71, Meyrielle Abrantes, 30, escolherá nos próximos dias as fotos de seu ensaio nu para a "Playboy". A ex-miss Pernambuco, que se separou há quatro meses, será capa da edição de novembro, com o mote "a beleza no poder". Ela diz que recusou convites anteriores porque "não ficaria bem para uma mulher casada".

TÃO LONGE, TÃO PERTO
Como o ex-marido, Meyrielle apoia o conterrâneo Eduardo Campos (PSB-PE) para presidente. "Ele é carismático, atencioso", afirma.

NÓS E ELES
O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, está fazendo um estudo comparado da legislação que regula a publicação de biografias em outros países. Ele foi contratado como consultor jurídico de Roberto Carlos para acompanhar a questão, em discussão no STF (Supremo Tribunal Federal).

RÁPIDO E CARO
Kakay aponta que nos EUA, por exemplo, as biografias são liberadas, mas a indenização "é tão grande que pode quebrar as editoras" caso o livro divulgue inverdades. "No Brasil, o sistema judicial é moroso e as indenizações são ínfimas."

COLETIVO
O advogado acompanha o caso à distância, já que Roberto Carlos não tem legitimidade jurídica, como pessoa física, para ingressar na ação que corre no STF. O Procure Saber, grupo do qual ele faz parte, poderá no futuro atuar caso consiga se constituir como associação. A entidade se declara contra a comercialização de biografias não autorizadas.

CHAPA-BRANCA
A ação no Supremo foi impetrada por representantes de editoras que querem declarar inconstitucional o capítulo que só permite a publicação de livros se o biografado autorizar. Autores argumentam que a condição só permite a circulação de obras "chapa-branca".

ALVO
A votação que colocou Marco Feliciano (PSC-SP) como o personagem criticado na edição deste ano da Peruada, tradicional festa dos alunos da Faculdade de Direito da USP, foi apertada. O mote "Contra o ódio do pastor, meu peru é mais amor" recebeu 144 votos dos estudantes, contra 139 do segundo colocado, "Meu peru ninguém abaixa, nem com bala de borracha", com alusão à atuação da PM em protestos.

OUTRO LADO
Feliciano não comenta. No cartaz do evento, marcado para sexta, 18, ele aparece vestido de peru.

SOU DESTE CHÃO
O cantor Zezé di Camargo recebeu convidados no 2º Leilão Nelore É o Amor, anteontem, na Brooks, na Chácara Santo Antônio. Da família Camargo compareceram: Zilu, ex-mulher do sertanejo, as filhas Wanessa, cantora, e Camilla, atriz, e Francisco e Helena, pais dele e de Luciano. A dupla fez show no evento. A ex-miss Pernambuco Meyrielle Abrantes e o empresário Ivan Zurita também circularam pela noite.

MUNDO FASHION
O estilista Alexandre Herchcovitch lançou anteontem o "Guia de Viagem - Nova York, Londres Paris e Tóquio", que reúne suas dicas turísticas. A modelo Ana Claudia Michels, o ator Milhem Cortaz, o arquiteto Arthur Casas e a bailarina Luiza Lopes estiveram no evento, na Livraria da Vila da alameda Lorena.

CURTO-CIRCUITO
O Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural lança hoje o livro "Caciporé Torres - A Áspera Poesia da Forma", às 19h, na Cinemateca Brasileira, na Vila Mariana.

Lucas Santtana, Luisa Maita e outros fazem show coletivo no Auditório Ibirapuera, hoje e amanhã, às 21h. Grátis. Livre.

O espetáculo "Dez Mil Seres" abre a mostra "+ Sentidos", hoje, às 20h30, no teatro Sérgio Cardoso. Livre.

Novo alento ao Brasil - RAUL VELLOSO

O Estado de S.Paulo - 10/10

O impressionante nas entrevistas sobre os 25 anos da Constituição de 1988 é que ninguém sabe direito o que ela assegura. Na empolgação da época, a nova Carta serviria para resgatar a "dívida social" acumulada ao longo de vários anos. Mas mexeu em tanta coisa que é difícil fazer uma síntese das principais mudanças.

Trabalhei em vários governos no auge de sua implementação e percebi a dificuldade futura para cumprir todas as promessas ali embutidas. Preocupava-me, principalmente, a instalação do Estado de Bem-Estar Social, a meu ver sua marca principal. Mesmo sendo um país pobre relativamente à média do mundo ocidental, o Brasil resolveu adotar uma rede de proteção comparável às vigentes nas principais democracias.

O resultado é que hoje a União paga benefícios assistenciais e previdenciários a 50 milhões de pessoas, comprometendo 60% do Orçamento. E deve atender, com transferência de dinheiro financiada por impostos, mais da metade da população, se admitirmos que cada contracheque beneficia duas pessoas. Um exagero para um país no estágio do nosso, pois os programas assistenciais nem sempre contemplam os efetivamente mais pobres.

Ainda somos uma economia de renda média, e, mesmo com uma população relativamente jovem, o porcentual de idosos cresce a uma velocidade avassaladora. Em parceria com analistas amigos, estimei que o gasto real total com benefícios previdenciários e assistenciais deve simplesmente dobrar nos próximos 40 anos. Como vamos dar conta de pagar tudo isso? Uma agravante: boa parte desses benefícios paga um salário mínimo, obra da Constituição de 1988. Uma vez que atualmente ele é reajustado pela inflação mais o crescimento do PIB, a conta implícita é explosiva.

Outro grande obstáculo é a exigência constitucional de o serviço público empregar exclusivamente por meio do regime estatutário, responsável por estabilidade no emprego e aposentadoria integral. Primeiro, porque, em muitas atividades, a existência de um regime de pessoal mais flexível é fundamental para assegurar serviços de qualidade mínima. Segundo, porque cria um grupo privilegiado de trabalhadores, admissível apenas em casos muito especiais.

Para financiar todos os aumentos de gastos, a carga tributária subiu assustadoramente nos últimos anos, situando-se hoje perto de 40% do PIB, acima da média de qualquer grupo de países onde se costumam aglutinar as estatísticas macroeconômicas. A carga atual sufoca a população e impede o Brasil de ter um desempenho econômico comparável à média dos países emergentes.

Restam ainda mais duas limitações cabeludas a merecer consideração. Uma é a forte contração dos investimentos públicos nas últimas décadas, legando aos brasileiros uma das piores infraestruturas do mundo. Outra é a ineficácia do investimento feito, pois, mesmo nas áreas contempladas com maior volume de recursos públicos - educação, por exemplo -, os indicadores de desempenho se situam abaixo da média de países comparáveis ao nosso em termos de renda per capita.

O capítulo final desses constrangimentos é o viés estatista predominante em muitas administrações do País. Sabe-se que o Estado é ineficiente, ou seja, ao atuar, corrói recursos da sociedade e dispõe de cada vez menor volume de dinheiro para investir. Ainda assim, os governos insistem em impor ao setor privado a prestação de serviços de qualidade a preço de banana nas várias áreas em que o Tesouro não tem condições de atuar.

A proximidade das eleições de 2014 traz óbvias limitações a uma discussão profunda do tema e ao alinhamento de reformas destinadas a evitar uma grande crise no futuro. Espero, no entanto, que o alerta das manifestações de junho e a mexida no tabuleiro político ocorrida no fim de semana proporcionem uma oportunidade de discussão mais profícua dos grandes temas nacionais. São perspectivas que trazem novo alento à sociedade brasileira.

Entre o mercado e o social - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO - 10/10

Lula e Dilma inventaram os truques para aumentar o gasto público e a dívida total. O resultado aparece na inflação mais alta, no baixo crescimento, na falta de investimentos, no Custo Brasil recorde, e na situação delicada de estatais



Ouvi Eduardo Campos falar para empresários e investidores de São Paulo — e o pessoal gostou muito do que o governador contou sobre sua administração em Pernambuco e sobre sua visão de Brasil. Não estavam no grupo aqueles nomes tradicionais, tipo chapa-branca, que, no fundo da alma, não gostam do PT, mas, do fundo do bolso, desgostam mais ainda de brigar com o governo. E acham que sempre se pode arrumar negócio bom mesmo numa administração ruim e/ou hostil ao capital privado.

Estavam no grupo pessoas de dinheiro, é claro, preocupadas, por exemplo, com o imposto sobre grandes fortunas. Aliás, perguntaram ao governador e adoraram a resposta. Campos disse: há impostos demais no Brasil; é preciso reduzi-los e torná-los mais progressivos; ricos devem pagar mais, mas não se pode esfolar o investidor e a empresa; e, finalmente, que o imposto sobre grandes fortunas é tecnicamente ruim, arrecada pouco e cria muita desconfiança. Ou seja, muito barulho ideológico para pouco dinheiro.

Perguntaram também sobre o chavismo e os bolivarianos. Campos aproveitou bem a deixa para mostrar seu lado “gauche”. Atacou ferozmente as velhas oligarquias venezuelanas (e, por tabela, as latino-americanas) que enriqueceram à custa de privilégios e verdadeiros assaltos ao Estado. Esse contraste entre uma elite muito rica e um povo muito pobre deu origem a Chávez e seus seguidores. Trata-se de um caminho equivocado, um atraso contra outro atraso, disse Campos, mas a forma de escapar disso é um regime moderno, democrático, capitalista e social.

Me lembrei de Tony Blair. Ou Bill Clinton. No Velho Continente, existia (ainda existe) uma esquerda socialista, estatizante, que se opunha à direita liberal tipo Thatcher. Blair inventou aí a Terceira Via: economia de mercado, ambiente de negócios amigável ao empreendedor, liberdade financeira, com forte investimento estatal nas áreas sociais, sobretudo saúde e educação. Mas, atenção: o setor público deve seguir as regras de eficiência do privado, com metas e meritocracia.

Campos encantou aquela plateia quando falou de sua gestão nas escolas de Pernambuco — diretores, professores e alunos premiados por bom desempenho, medido e avaliado regularmente — e nos hospitais, vários entregues à gestão privada.

Nos EUA, Clinton claramente colocou-se entre Ronald Reagan, seu antecessor, e a esquerda do seu Partido Democrata, esta representada por seu vice, Al Gore, e agressivamente contra o que chamava (e chama) debig money e suas variações (big oil, big pharma etc.).

FHC e Lula, o do primeiro mandato, ajudaram a formar essa Terceira Via por aqui, ainda que em condições bem diferentes. Nunca tivemos nossa Thatcher (ou nosso Reagan), de modo que FHC, um social democrata europeu, teve que tocar boa parte da agenda liberal para conquistar a estabilidade macroeconômica (metas de inflação, abertura comercial, câmbio flutuante, privatizações, responsabilidade fiscal). Começou também os programas sociais — Bolsa Escola, por exemplo, e o aumento real do salário mínimo —, seu lado esquerdo. Mas perdeu o ímpeto reformista no segundo mandato.

Lula, de origem, digamos, mais socialista, foi obrigado a manter a base da estabilidade e, ainda, sob influência de Palocci, avançou nas reformas microeconômicas, especialmente nas leis e regras que garantiram a concessão e ampliação do crédito. E mais o Bolsa Família e os aumentos do salário mínimo.

No segundo mandato e depois da crise de 2008/09, Lula começou a estragar tudo, tarefa seguida por Dilma Rousseff. Inventaram os truques para aumentar o gasto público e a dívida total, sem o confessar, e expandiram a intervenção estatal — da regulação e controle cada vez maior do setor privado ao avanço forçado das estatais, incluindo bancos, e à tentativa de aceleração de grandes obras. Sem contar o ambiente de incerteza criado por decisões do governo e dos tribunais que a todo momento criam novas obrigações e custos aos negócios. Cabe aqui a mão pesada do Fisco na interpretação e criação de regras que geram impostos e multas bilionários, numa ação ao mesmo tempo hostil ao grande capital e com o objetivo de gerar receita perdida com os subsídios aos setores privilegiados.

O resultado aparece na inflação mais alta, no baixo crescimento, na falta de investimentos (pela desconfiança do setor privado e ineficiência do setor público), no Custo Brasil recorde, na situação delicada de estatais como a Petrobras e as elétricas.

É curioso: quando se apresenta como terceira via entre PT e PSDB, Campos, na verdade, parece querer recuperar os lados positivos de FHC e Lula e mais a agenda de reformas que ficou pelo caminho. Como? Com Marina?

Voltaremos.

Historinha de uma agonia - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 10/10

'Nova política econômica' murchou; precisamos de crise para nos mexermos?


A ÚLTIMA MUDANÇA relevante na política econômica ocorreu em 2008-09. Foi quando Lula pegou o bonde mundial das intervenções estatais contra a crise medonha que estourou em 2008, o que deu no desenvolvimentismo acidental dos anos recentes.

Os "experimentos" econômicos mundiais legitimaram medidas excepcionais anticrise que, enfim, se tornaram um programa de intervenções estatais mal-ajambradas, um desenvolvimentismo improvisado, acidental.

Vieram o financiamento estatal da criação de oligopólios e megaempresas privados, a estatização do crédito bancário e métodos inusuais de administração da moeda e do crédito (política monetária).

Mais tarde, Dilma Rousseff aumentaria a dose e a mistura dessa vitamina. Gastou mais, tentou controles mais ou menos indiretos de preços, "política de rendas", "gerenciamento" do investimento privado (via tapas e beijos) e outras expansões estatais (como no pré-sal).

O fiasco da tentativa de colocar a economia em marchinha forçada não produziu nem estrépito, nem crise, nem nada. Embora genuinamente espantado com o fiasco, o governo apenas começou a mudar de assunto.

Não trata mais de lucro e juro alto de banco. De inventar empresas "campeãs nacionais", as "múltis brasileiras". De turbinar bancos públicos por meio de endividamento público. De estropiar ainda mais as contas públicas. De enfiar estatais em concessões malfeitas ao setor privado, embora nesse caso o cachimbo ainda tenha deixado a boca bem torta.

Provavelmente, o governo jogou a toalha devido ao efeito pífio dos anabolizantes fiscais e de crédito, ao descrédito doméstico e externo da sua política e, enfim, à falta de meios para continuar na mesma toada.

O governo não tem como gastar muito mais sem risco de crise. A inflação ficou em torno de 6% e caiu na boca do povo. O deficit externo se aproxima do número mítico de 4% do PIB. Haverá menos capital barato no mundo. Acabou o gás.

Mas não há "crise", tumulto. O desemprego é baixo, a renda sobe, não estamos perto de colapso fiscal (governo sem crédito) ou externo (sem dólares). Um observador com pouca paciência poderia dizer que ainda podemos fazer besteira por algum tempo antes de nos metermos em convulsão.

O que vai nos tirar da modorra? Em geral, crises fazem o serviço. Porém, mesmo uma crise horrível, como a hiperinflação de 1981-94 num país mais desigual e que empobrecia, foi empurrada com a barriga. Isto é, com planos econômicos milagreiros, com a morfina da correção monetária e com esperanças de mudança imediata derivada da política (democratização, Constituição).

A crise financeira mundial de 1997-98, mais os desequilíbrios do real, produziu alguma mudança econômica sob FHC (desvalorização de 1999, metas de inflação e maior controle fiscal). As crises do apagão e de 2001, mais o medo de Lula, levaram ao colapso de 2002-03, que colocou o governo no trilho "ortodoxo" (em termos) de 2003-07. Como se escreveu acima, a crise de 2008 abriu a porteira para o desenvolvimentismo acidental.

Vamos precisar de outra crise a fim de nos mexermos?

Não é pelos 20 centavos - ENIO ROBERTO DOS REIS

ZERO HORA - 10/10

Demagogia não compra ônibus nem remunera mão de obra. Nós temos muitas perguntas



Este foi um ano atípico. De grandes manifestações como há muito não se via. Diferente do que alguns podem pensar, a mobilização social no país foi positiva para as empresas de transporte coletivo. Foi a partir dela que passou a ser atraente, aos olhos do poder público, a ideia de priorizar uma política para o setor. Nunca se falou tanto em desoneração de impostos para ônibus e outros meios de massa. As manifestações alavancaram a discussão. E isso era o que precisávamos há muito tempo. Que reconhecessem a importância do serviço que prestamos e que debatessem medidas de incentivo.
Mas, durante o percurso, avaliações desastrosamente repetidas desencadearam problemas que até o momento não têm solução. Muito se falou que não era pelos 20 centavos. Nós também endossamos o coro. Não é pelos 20 centavos _ ou 26, mais precisamente, que é o que falta hoje para um valor que comporte os custos. É, sim, pelo que representa essa diferença na prestação do nosso trabalho. É pela quantidade de indefinições que temos e respostas que não recebemos.
Dentro de três meses, se iniciarão as negociações de dissídio que atingem os mais de 9 mil funcionários das 13 empresas de ônibus de Porto Alegre. Como faremos uma boa proposta se não temos indicativos do que está por vir? Não sabemos se a tarifa será reajustada, se teremos algum subsídio ou se as isenções serão revistas. Até que ponto será possível impedir uma mobilização provocada pela desmotivação e insegurança que experimentamos? Não temos a resposta.
Até agora não sabemos qual método será utilizado para calcular a tarifa. Ninguém sabe. Será a metodologia que diz a lei, baseada em estudos e aplicada com convicção durante anos, ou será a que alguém inventar? Não temos sinalização do poder público sobre questionamentos do edital de licitação, nem a certeza sobre a implantação do metrô ou sobre o início da operação do BRT. Não sabemos quando poderemos renovar veículos. Somente neste ano, deixamos de comprar 200 novos ônibus; no ano que vem, serão mais 200 que não vamos adquirir. E assim caminhamos para um sucateamento da frota difícil de ser revertido.
Como vamos investir, ou como vão investir potenciais interessados no sistema de Porto Alegre, sem que as regras estejam claras? Não cabe usar demagogia nesse quesito. Demagogia não compra ônibus nem remunera mão de obra. Nós temos muitas perguntas. Quem tem as respostas?


Alívio temporário - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 10/10

Como era previsto, em setembro a inflação em 12 meses medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu para nível inferior aos 6,0% ou, mais precisamente, para 5,86%. O resultado não deixa de passar certa sensação de alívio. Tudo indica que o ano fechará com um avanço do custo de vida mais ou menos nessas proporções. Mas não dá para garantir que a desaceleração será duradoura.

O ponto positivo é que, apesar da esticada nos preços do pão, não se confirmou nova onda altista na área dos alimentos, em geral a maior fonte de pressão sobre o orçamento do consumidor médio.

No entanto, a inflação continua espalhada e resistente. O índice de difusão, que é o número de itens da cesta de consumo com aumento de preços, ainda é relativamente alto (57,8%), o que sugere uma demanda acentuada causada por um volume excessivo de moeda no mercado. Para a mesma direção aponta a inflação dos serviços, que atingiu 0,64% em setembro e 8,73% em 12 meses. São preços que não sofrem a concorrência do produto importado. Essas são as principais razões pelas quais o Banco Central continua puxando para cima os juros básicos (Selic).

Em médio prazo, os preços continuam pressionados pelo menos por dois fatores: (1) pela excessiva despesa do setor público, que tende a acentuar-se à medida que esquentar a temporada eleitoral; e (2) pelo aperto do mercado de trabalho em situação de pleno emprego, que continua puxando os salários acima dos ganhos de produtividade. A temporada das vendas de final de ano, que demanda mais emprego de mão de obra temporária, deverá acentuar a escassez de pessoal, especialmente no comércio.

Também é preciso levar em conta que certos preços controlados pelo governo continuam fortemente represados, como é notório na área dos combustíveis. Os preços monitorados tiveram um avanço acumulado em 12 meses de apenas 1,13%, muito abaixo da inflação. Mais cedo ou mais tarde, o governo terá de admitir correções que se propagarão por outros segmentos da economia, especialmente sobre os transportes. Não se pode desprezar, também, o risco de novo avanço sazonal nos preços dos alimentos. E, no início de 2014, espera-se mais uma paulada nos custos do ensino (mensalidades e material escolar).

Em compensação, espera-se certo alívio nos repasses da alta do dólar para os preços da cesta do consumo. A indicação da economista Janet Yellen para ocupar a presidência do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) deve ajudar a desarmar a principal bomba de efeito retardado que ameaçava a disparada das cotações das moedas estrangeiras também em reais. Sua nomeação para o cargo agora é praticamente certa. Yellen deverá ser cuidadosa na esperada operação de reversão da atual política monetária excessivamente expansionista. Isso significa que a temida volta da turbulência dos mercados em consequência de repentina escassez de dólares poderá ser evitada ou, se não isso, reduzida. Menos mau.

Um século depois - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 10/10

Foram 100 longos anos até chegar o momento em que houvesse a indicação de uma mulher para presidir o Fed. E o que tem isso? Ora, por que não uma mulher? Janet Yellen tem todas as credenciais de outros postulantes e não tem alguns dos defeitos do que se retirou da disputa quando era o favorito do presidente Barack Obama, o conflituoso Lawrence Summers.

a política o principal problema econômico americano. Por isso, a economista Monica de Bolle acha ociosa a discussão sobre se Yellen é "pomba" ou "falcão"; categorias nas quais os economistas dividem os mais brandos e os mais duros em questões monetárias.

— Não faz mais sentido dizer que com Yellen o ritmo de retirada dos estímulos monetários seria mais lento. Neste momento, essa redução dos estímulos ficou para segundo plano. O mais urgente é evitar os danos econômicos da paralisação do govemo americano. O Congresso pode até encontrar uma solução para evitar a moratória e manter o govemo parado. A interrupção das atividades governamentais afetará os fornecedores diretos e indiretos para a máquina pública elevar essas empresas a demitir, exatamente quando o emprego estava se recuperando — diz Monica de Bolle.

Ela define Janet Yellen como sendo uma "acade-micona" no sentido de ter passado a maior parte da sua vida dentro da academia, como Bernanke, apesar de ter a intensa experiência recente da vice-presidência do Fed:

— Sim, ela será cautelosa na redução dos estímulos monetários, mas deve seguir um plano de voo muito parecido com o do Bernanke. O que precisa ser entendido é que o Banco Central americano tem duplo mandato: emprego e inflação. Atualmente, a inflação não preocupa e o emprego começou a se recuperar, mas de forma frágil. A paralisação do govemo impede até a divulgação do dado do desemprego que já deveria ter sido divulgado.

Ontem foi divulgada a ata da última reunião do Fed, de 16 a 17 de setembro. Eles dizem que foi bem apertada a decisão de adiar a retirada dos estímulos. Hoje, no entanto, o contexto é outro. Houve um agravamento da tensão política. Yellen, ao comentar ontem sua indicação, disse que é preciso fazer mais para fortalecer a recuperação.

O Fed foi criado em dezembro de 1913 e começou a funcionar no final de 1914. Sempre teve presidentes homens. Yellen foi a primeira vice-presidente e agora assumirá a presidência. O fato de ser mulher faz diferença?

— É uma boa sinalização o fato de o Fed ser capitaneado por uma mulher, principalmente porque ela vem com um excelente currículo, que nada fica a dever aos outros postulantes e, neste caso, por que teria que ser alguém do sexo oposto ao nosso? — pergunta Monica.

Ontem, estava reunido o Copom e houve nova alta dos juros. Chega a ser insultuosa a unanimidade masculina naquele grupo. Uma foto publicada neste fim de semana, de uma reunião do Copom, mostrou que nem mesmo no corpo técnico, que se senta atrás dos diretores, há uma única mulher. O Brasil anda para trás. O Comitê já foi mais diverso. Na reunião de ontem, decidiram elevar em 0,5 ponto percentual os juros.

A escolha de Yellen representa continuidade da política monetária, mas, como disse Monica, o fato político é determinante agora:

— Ela vai demorar a subir juros e a retirada dos estímulos será lenta, não pelas características de Yellen, mas pelo grave quadro político formado pelo impasse entre o Partido Democrata e o Partido Republicano em torno da discussão orçamentária.

O mandato de Bernanke vai até 31 de janeiro do ano que vem, mas ele pode sair antes. Yellen assumirá o cargo em um momento difícil da política e da economia americana.

Para romper a inércia do atraso - JOSÉ SERRA

O Estado de S.Paulo - 10/10

Na segunda-feira um homem falou comigo simpaticamente no elevador do prédio onde está meu escritório: "Olhe, desculpe-me a liberdade de lhe perguntar, o senhor nem me conhece, mas o que vai acontecer na disputa eleitoral do ano que vem?". Eu tinha apenas alguns segundos até chegar ao meu andar e sorri: "Francamente, não sei. E se alguém lhe disser que sabe, é porque está por fora, não compreende nada do que está acontecendo".

Uma certeza, no entanto, é possível ter: a diversidade e o tamanho dos problemas que o presidente que vier a ser eleito terá de enfrentar a partir de 2015 para administrar o País e corresponder às expectativas da população. O problema n.º 1 será o desequilíbrio externo da economia, que trava o crescimento com qualidade. O indicador mais sintético é a evolução do déficit em conta corrente do balanço de pagamentos, perto de 4% do PIB este ano - cerca de US$ 75 bilhões. O Brasil, na última década, não utilizou a notável bonança externa - juros internacionais baixíssimos e preços de nossas exportações agrominerais nas nuvens - para investir e fortalecer a competitividade. O modelo lulista transformou os recursos dessa bênção em consumo privado e público, substituindo boa parte da produção doméstica da indústria, que vem regredindo em marcha forçada, perdendo mercado interno e capacidade para exportar.

O desequilíbrio no balanço de pagamentos não vai ser atenuado durante o próximo mandato por algum novo surto de bonança externa: pode não ocorrer um desabamento dos preços das commodities, mas não haverá novo salto para cima. E os juros internacionais vão subir, pois, tudo indica, as economias desenvolvidas vão puxar o crescimento mundial. Assim, o governo terá de enfrentar duas questões difíceis: a desvalorização do real, pressionando a inflação, e os juros reais domésticos elevados, a fim de atrair capitais para fechar as contas externas. As grandes reservas de divisas do Brasil não são panaceia nesse caso. Este ano o Banco Central já vendeu US$ 50 bilhões a câmbio futuro para segurar o valor do real.

O próximo presidente será o herdeiro da falta de uma política de comércio exterior, uma anomalia para uma nação continental e tão dependente do exterior. A ponta do novelo dessa aberração está no Mercosul, um monumental equívoco. Ao eliminar a soberania comercial brasileira, forneceu pretexto à inércia nos acordos bilaterais e à doutrina do dolce far niente do Itamaraty.

A inflação será o terceiro grande problema: não é explosiva, mas, no mundo de hoje, é alta, mesmo sendo reprimida. O novo governo não terá raio de manobra para expandir os atuais preços controlados - haverá pressão para absorvê-los. Até quando os preços de combustíveis e tarifas de transporte podem ser reprimidos? Mais ainda, o próximo presidente terá de lidar com a indexação da economia, ampliada e intensificada no último decênio.

Dominará a agenda uma quarta questão: a da infraestrutura de energia e transportes, hoje em estado crítico em razão da incapacidade das gestões petistas de investir, seja diretamente, seja mediante parcerias com a área privada. Nessa área, o PT não revelou apenas impaciência para aprender. Contaram também a ideologia, a propaganda e a malandragem com dinheiro público. Exemplo eloquente em transportes: o frete de livros brasileiros impressos na China, por navio, é inferior ao custo Rio-São Paulo.

Será preciso também encarar a estreiteza do espaço para manobras fiscais. Não há perspectiva de desastre até 2015, mas cessou o repertório abusivo do último decênio, que permitiu sustentar o consumo governamental, fazer financiamentos públicos sem critérios e, em suma, desperdiçar recursos. Nem mesmo é possível elevar a carga tributária, hoje a maior do mundo em desenvolvimento, expediente principal do combate ao déficit público desde a segunda metade da década de 1990. Essa carga explica três quintos do custo Brasil, que corresponde ao acréscimo de 25% nos preços da produção doméstica na comparação com a média dos nossos parceiros comerciais!

Essa perda do raio de manobra fiscal vai limitar não apenas a gastança em consumo governamental, mas também a chamada "bolsa BNDES" e, mais amplamente, a atuação do Tesouro Nacional como fonte transbordante de crédito da economia. Acrescente-se que o próximo presidente é que terá de arcar com os inevitáveis micos na cobrança dos juros e do principal desses financiamentos.

Um sexto problema, mas não nessa ordem, será o enfrentamento das demandas de saúde, principal item de insatisfação no Brasil de hoje. A demonização da classe médica é só uma cortina de fumaça que esconde os problemas de má gestão e de encolhimento relativo dos gastos do governo federal no setor em relação a Estados e municípios. Com realismo, sem uma recomposição para cima da distribuição das despesas as dificuldades prosseguirão, com ou sem a fantasia dos recursos do pré-sal.

Os nós da educação são ainda mais difíceis de desatar. Apesar do expressivo aumento de despesas públicas, o setor é administrado com mediocridade e controlado pelo corporativismo. Os números da propaganda mal escondem a incapacidade de atrelar a educação à questão do desenvolvimento. Só por isso o setor é considerado estratégico mundo afora. Por enquanto, entende-se a educação só pelo viés de uma suposta justiça social. É evidente que isso faz sentido, mas é só primeiro passo da equação. Há ainda questões prementes como a epidemia de drogas ou a sustentabilidade ambiental, ignoradas pelo petismo.

O fecho da lista de problemas é a necessidade de um novo estilo de governar, que aposente a estridência publicitária e a balcanização do Estado brasileiro. Esse modelo não só não resolve as dificuldades, como cria entraves adicionais. O primeiro passo para romper a inércia do atraso é o reconhecimento de que os problemas existem. E as respostas certamente não podem ser dadas por quem fez dessas dificuldades a razão de sua força.

Ao trem pagador - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 10/10

No que depender do pragmatismo de seus aliados, a presidente Dilma Rousseff corre sério risco de acabar ajudando a ex-senadora Marina Silva a construir um cenário bastante compreensível ao senso comum sobre o contraponto entre a velha que vigora e a nova política que vem pregando.

Por enquanto, a união de Marina com Eduardo Campos provocou só efeitos políticos. Nesse ambiente, o lance foi recebido como nada menos que magistral. Faltam, contudo, as consequências eleitorais, no momento, impossíveis de serem previstas, pois reféns das circunstâncias e da tão propagada quanto indispensável combinação com os "russos". Vale dizer, o respeitável público.

Ninguém sabe como reagirá o eleitorado nem tão cedo essa resposta aparecerá nas pesquisas de opinião. Já a reação do baronato do fisiologismo grudado nas glândulas mamárias do governo (qualquer um) já se desenha com a clareza de sempre.

Os partidos que haviam recolhido as armas temporariamente quando a presidente da República recuperou pontos expressivos na popularidade e resolveu amenizar o tom das conversas com eles, depois do anúncio do último sábado começaram a mostrar as garras preparando-se para o que um experiente ator da cena política qualifica como um legítimo "escalpo".

Na falta de cerimônia que lhes é peculiar reivindicam mais espaços no governo, endurecem as exigências para alianças e providenciam as facas para espetar o pescoço da presidente. A maior ou menor pressão, o sucesso ou fracasso da empreitada vão depender do resultado da combinação com os russos referida acima.

Se a aliança entre Campos e Marina der sinais de prosperidade eleitoral a rapaziada que sente esse tipo de aroma de longe vai exigir mundos e fundos (principalmente fundos) - não necessariamente com a intenção de entregar o prometido apoio - e o governo não terá saída a não ser ceder. Nesta hipótese, em nada remota, Dilma ficará diante do eleitorado com o ônus da face mais carcomida da política.

Duplex. Lula e Dilma não fazem uma dobradinha na linha dois em um? Então, Campos e Marina adotarão modelo parecido, que ficará demonstrado no modelo do programa do PSB que irá hoje ao ar.

Até agora só o PT contava com essa dupla militância em prol de uma candidatura, agregando forças dos setores mais pobres aos de classe média.

O PSB entra em campo com o governador falando a linguagem da administração eficiente, sensível ao empresariado, e a ex-senadora fazendo o discurso do bom combate para a modernização da política, tão caro às ruas.

O PSDB perdeu a oportunidade de fazer algo semelhante em 2010 quando não levou adiante a ideia da chapa puro-sangue entre José Serra e Aécio Neves.

Consultivo. O governador Eduardo Campos tem ouvido de amigos e aliados ponderações para que deixe de lado a discrição dos últimos meses e aproveite o momento para circular, falar e se dar a conhecer ao grande público.

Se não se mostrar, ponderam, não haverá aliança que o faça subir nas pesquisas.

Outro conselho que vem recebendo: preservar o pacto de não agressão com Aécio Neves e investir na construção de coligações com os tucanos nos Estados a fim de retirar palanques do governo.

Painho. Se a Venezuela é um país onde há até "excesso" de democracia, como disse uma vez Lula da Silva, se o projeto de poder do falecido Hugo Chávez é visto como símbolo de justiça social, do que reclamam os petistas quando Marina Silva se refere ao "chavismo" do partido?

A coerência aconselharia a tomarem a expressão como elogio.

Frente de oposições - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 10/10

BRASÍLIA - Em meio a tantas notícias e a tantas emoções, a coluna do mestre Elio Gaspari no domingo (6) está no topo da lista de importância, ao mostrar o que aconteceu com o núcleo dos "campeões nacionais", ou seja, das empresas que receberam perto de R$ 20 bilhões do BNDES para mergulharem no fantástico mundo das grandes mundiais.

Em resumo, foram para o vinagre, ou acabaram fundidas, ou perderam abrupto valor de mercado, o grupo OGX, a "supertele" Oi, o frigorífico Marfrig, a campeã do ramo de laticínios LBR, a Fibria e o Bertin. Gaspari deixou uma pergunta no ar: quanto custou a brincadeira?

Além do dinheiro jogado fora, há aí toda uma questão altamente política. A outra pergunta que não quer calar é se os tais "campeões nacionais" valiam por si, ou valiam pela então capacidade de sustentar o projeto de 20 anos do PT no poder.

O BNDES, portanto, vem se somar à Petrobras como carro-chefe do discurso de oposição ao PT e a Dilma nas eleições de 2014, invertendo o uso político. Se as duas instituições foram usadas a favor do projeto petista, serão agora usadas contra ele.

Isso é mais evidente na campanha de Aécio Neves, mas o que está se desenhando para o ano que vem não é mais a polarização entre PSDB e PT, mas, sim, uma frente de oposições contra a reeleição, unindo Aécio, Eduardo Campos e Marina Silva.

É melhor para Dilma forçar a vitória no primeiro turno, e é nessa direção que Lula se move, mas esse cenário parece cada vez mais distante.

Na hipótese de segundo turno, Aécio não tem outra alternativa senão apoiar a dupla Eduardo Campos-Marina Silva (que tende a ser nessa ordem, mas não necessariamente). E Campos e Marina tenderão a apoiar Aécio, pois entraram numa rota de oposição que não tem volta.

No quadro de hoje, Dilma é franca favorita. Mas os "anões" --como João Santana ironizou os candidatos de oposição-- dessa vez têm discurso e um objetivo comum.

Ruas sem nome - DEMÉTRIO MAGNOLI

O GLOBO - 10/10

Amarildo foi executado e seu corpo desapareceu porque ele residia num lugar não cartografado pelos Correios



Procure no Google Maps. Na vasta faixa da Rocinha, apenas duas vias têm nome: a Estrada da Gávea, na superfície, e o Túnel Zuzu Angel, no subterrâneo. Os Correios não dispõem de um mapa de ruas da Rocinha. Na favela, só recebem cartas em casa os assinantes dos serviços do Carteiro Amigo, empresa formada por antigos recenseadores do IBGE que cartografaram a área e criaram um cadastro informal de CEP. Amarildo de Souza morreu sob tortura, executado por policiais da UPP da Rocinha, porque não era reconhecido como indivíduo e cidadão, mas apenas como integrante de uma “comunidade”. José Mariano Beltrame narra a tragédia como um evento singular: o produto da ação de um bando de “maçãs podres” da PM. A narrativa verdadeira é outra: o destino de Amarildo evidencia o fracasso da política das UPPs.

O conceito das UPPs não foi elaborado no governo de Sérgio Cabral, mas no de Anthony Garotinho, pelo então secretário de Segurança Pública Luiz Eduardo Soares, que tentou substituir a política de invasões de favelas pela implantação de unidades policiais permanentes. Garotinho interrompeu as iniciativas embrionárias, mas a ideia estava semeada: a presença policial deveria funcionar como passo inicial para a plena integração das favelas à cidade. Pacificadas as favelas, o Estado não mais teria desculpas para deixar de prover os serviços públicos universais a seus residentes. Cabral disseminou UPPs, mas pouco avançou na etapa seguinte. As ruas sem nomes oficiais são atestados eloquentes da recusa do poder público de cumprir suas obrigações.

Favela é a “outra cidade”, a cidade formada por ocupações, que carece de títulos de propriedade de terrenos e imóveis. Na novilíngua empregada por autoridades (e artistas), a palavra precisa caiu em desuso, cedendo lugar a “comunidade”, um termo que, tanto na Biologia quanto na Sociologia, não designa um espaço geográfico, mas uma coletividade distinta e singular. Involuntariamente, os inventores da nova palavra estão dizendo aquilo que, de fato, pensam: os moradores de favelas vivem (e devem viver) segundo normas particulares, diferentes daquelas vigentes na “cidade legal”. A causa mortis de Amarildo encontra-se exatamente nessa persistente rejeição do Estado a reconhecer os direitos de cidadania dos habitantes da “outra cidade”.

Para que as UPPs tenham futuro, explicou Soares numa entrevista concedida quase dois anos atrás, seria preciso “refundar” as polícias. “Enquanto uma UPP é criada, a PM continua incursionando em favelas de forma irresponsável, policiais militares criam novas milícias e promovem mais execuções extrajudiciais”, alertou o ex-secretário. Cabral soube converter o programa das UPPs em sedutor ativo eleitoral, mas recuou diante do imperativo de refundar as polícias, um passo que demandaria ousadas rupturas políticas. Beltrame aceitou conduzir uma política amputada, que ruma previsivelmente para o abismo. Como consequência disso, condenou-se ao papel deplorável que cumpre hoje, quando tenta enquadrar o assassinato de Amarildo na moldura da fatalidade.

Na Zona Oeste, longe do foco das câmeras de TV, as milícias articulam-se à sombra das UPPs e disputam poder com o tráfico. Na Favela do Jacarezinho, que tem uma UPP desde janeiro, o comércio fechou as portas em 19 de abril, cumprindo ordens de traficantes que decretaram luto coletivo devido à morte de dois dos seus. Na Cidade de Deus, onde inaugurou-se uma UPP em 2009, crianças continuam a vender drogas no varejo. A casa de um sargento da PM na Praça Seca, no centro da Favela da Chacrinha, que serve como base da milícia local, foi pintada com o padrão de cores e a inscrição “UPP”. A mensagem, dirigida aos residentes, não exige esforço de tradução: os chefes da área avisavam que a “polícia do B” é uma costela da polícia oficial. A causa mortis de Amarildo está aí, na teia de relações que borra as fronteiras entre a polícia e o crime organizado.

Os registros estatísticos indicam que, somente em 2010, 854 pessoas — entre as quais, 463 menores — foram mortas em ações policiais no Estado do Rio de Janeiro. “Há duas mortes que precisam ser mais bem investigadas: a morte da pessoa e a morte do inquérito”, enfatizou o sociólogo Michel Misse, que participa da campanha Desaparecidos da Democracia. A corajosa juíza Patrícia Acioli foi executada em agosto de 2011 por policiais decididos a matar os inquéritos sobre a guerra suja nas favelas, que não foi interrompida pelas UPPs. Ela se tornou um cadáver ilustre sobre o pano de fundo do cortejo de mortos sem nome e, não poucas vezes, até mesmo sem corpo. Amarildo seria apenas um número adicional nas estatísticas macabras, não fosse a circunstância fortuita de que seu “desaparecimento” coincidiu com a onda de manifestações populares iniciadas em junho. Não, Beltrame: Amarildo não é uma mancha acidental no tecido limpo da política de segurança pública de Cabral.

“O importante agora é manter a integridade da UPP da Rocinha, que tem a aprovação da grande maioria dos moradores”, declarou Beltrame na hora da prisão dos dez policiais acusados de tortura, execução e ocultação de cadáver. A UPP da Rocinha foi inaugurada, com direito a discurso de Cabral, em setembro do ano passado. O comandante da UPP, agora afastado, está entre os indiciados. Ao longo dos últimos seis meses, segundo o inquérito da Polícia Civil, pelo menos 22 moradores sofreram torturas infligidas por policiais da unidade. O que significa, nesse contexto, “manter a integridade” da UPP da Rocinha? A linguagem orwelliana de Beltrame deve ser classificada com os adjetivos apropriados: acinte e desaforo. É essa “integridade” a causa mortis de Amarildo.

Amarildo foi executado e seu corpo desapareceu porque ele residia numa rua sem nome, num lugar não cartografado pelos Correios. O inquérito policial não basta. Precisamos de um inquérito político.

No jogo eleitoral - PAULA CESARINO COSTA

FOLHA DE SP -10/10

RIO DE JANEIRO - Se a surpreendente filiação de Marina Silva ao PSB de Eduardo Campos bagunçou a sucessão presidencial, o cenário eleitoral no Rio pode ser definido com termos como indefinido ou superlotado. Existe um congestionamento de nomes, sem que haja até o momento um favorito absoluto.

Há competidores já estabelecidos (mesmo que não confirmados) como o vice-governador, Pezão (PMDB), o ministro Crivella (PRB), o senador Lindbergh (PT), os deputados federais Garotinho (PR) e Miro Teixeira (Pros) e o vereador Cesar Maia (DEM).

Mas dois outros têm potencial para desequilibrar o jogo eleitoral: o deputado e ex-jogador Romário (PSB), que voltou poderoso ao partido, mas diz preferir disputar a prefeitura em 2016, e o técnico de vôlei Bernardinho, que resiste à ideia, mas se filiou ao PSDB e é o sonho dos tucanos.

No xadrez eleitoral de 2014, o Rio poderá representar papel importante no arranjo presidencial e na distribuição de poder regional. E o fator Marina poderá ter peso significativo. Está em jogo o futuro político de Cabral --que já representou uma esperança de renovação para o PMDB--, o sucesso do PT --o Rio é um dos Estados em que o partido tem chance de ganhar-- e o destino dos votos de quem apoiou Marina Silva em 2010.

Foi aqui que ela teve o segundo melhor desempenho da última eleição presidencial, tendo recebido 2,76 milhões de votos, ou 31,5% do total do Estado (no país, conseguiu 19%).

Como analisa o deputado Alfredo Sirkis (também uma opção do PSB), o voto presidencial é mais "sonhático". Na eleição para o governo, o eleitor tende a ser mais pragmático. Ou seja, é difícil prever para onde vai o simpatizante de Marina e aqueles que estão nas ruas desde junho.

Se até ela se confundiu no sábado ao definir sua aliança como pragmática ou programática, o eleitor tem motivos de sobra para sentir-se perdido ou alienado do jogo até aqui.

O grande trunfo - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 10/10

Em todas as rodas do Congresso que discutem política o tema recorrente é a nova aliança entre Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pré-candidato do PSB à Presidência da República. E há uma razão básica para isso: os dois juntos hoje formam uma dupla praticamente inatacável pelos adversários. Do ponto de vista estratégico, nem o PT de Lula e Dilma Rousseff nem o PSDB de Aécio Neves e José Serra podem se dar ao luxo de bater neles. Daí, a perspectiva de uma eleição de gigantes, muito além do “jogo dos anões” vislumbrado pelo marqueteiro João Santana que, por sinal, terá que se desdobrar para enfrentar antigos aliados de Lula.

No caso do PT, a impossibilidade de ataque vai além do embate político atual. Tanto Marina quanto Eduardo são frutos do processo político resultante do governo Lula. Marina, por exemplo, já foi tratada como “Lula de saias”. Eduardo, por sua vez, foi fundamental no momento em que o presidente enfrentou o processo do mensalão na pré-campanha pela reeleição, em 2006. O máximo que Lula pode dizer é que Eduardo está indo com muita sede ao pote, que Marina não tinha nada que ter brigado e por aí vai. Mas ele sabe que eles têm a legitimidade de defesa do governo Lula, daí a dificuldade de ataque.

O PSDB também evitará ataques por causa de um raciocínio diametralmente oposto. No papel de candidato a presidente da República, o senador Aécio Neves poderia até dizer que Eduardo e Marina são cópias melhoradas do governo Dilma, pois também são crias de Lula. Mas não o fará por um único motivo: O PSDB também pleiteia a vaga no segundo turno e, sendo assim, não baterá em quem pode virar um potencial aliado.

Nesse jogo, fica cada vez mais claro que os embates ferrenhos daqui para frente não se darão entre potenciais candidatos. A briga para valer terá como palco os estados, onde os adversários dessa nova construção política tratam de semear a discórdia no ambiente de Eduardo e Marina. Não faltaram deputados e senadores para dizer a José Antônio Reguffe, do Distrito Federal, que ele tem mais é que insistir na candidatura própria ao governo, ainda que se afaste do senador Rodrigo Rollemberg. Reguffe, até onde se sabe, não mordeu a isca. Tem dito apenas que prefere esperar para ver o que acontecerá lá na frente.

Enquanto isso, no Planalto...
A presidente Dilma Rousseff está ciente desses detalhes. Tanto é que já orientou o marqueteiro João Santana a deixar de lado adversários futuros, evitar entrevistas arrogantes e manter o trabalho focado nos resultados do governo. Ela não está brincando quando diz que qualquer sucesso eleitoral passa antes por realizações de projetos governamentais e pelo bom desempenho da economia. E, até aqui, pelo menos no que se refere à economia, o Copom sinaliza aumento de juros e, em termos de infraestrutura, as obras que parecem caminhar em maior velocidade são as dos estádios da Copa do Mundo.
Paralelamente à governança, a presidente avalia a reforma ministerial de dezembro. Já está praticamente definido que o Ministério de Portos ficará com o Ceará de Ciro e Cid Gomes. Ainda que a indicação seja técnica deverá ter o aval deles. O mesmo ocorrerá no caso dos outros 11 ministérios incluídos na reforma. A ordem com a consulta aos partidos é evitar que Eduardo Campos e Aécio Neves arrebanhem insatisfeitos com as mudanças no primeiro escalão.

E em São Paulo...
Enquanto Dilma trabalha com a reforma e a economia, Eduardo trata de seu programa. Hoje, ele se reúne com os economistas que apoiaram Marina Silva, André Lara Rezende e Guilherme Leal, da Natura. Começa aí a montagem do projeto de economia sustentável para apresentar em 2014. Aécio cuidou do tema em sua viagem a Nova York. É 2014 em plena avenida nessa reta final de 2013.

E por falar em 2013...
Muita gente estranhou a falta de um discurso da presidente Dilma Rousseff na cerimônia de comemoração dos 25 anos da Constituição de 1988, ontem na Câmara. Mas era para ser assim mesmo. Não estava previsto pelo cerimonial. Foi, aliás, o único momento de paz do parlamento nos últimos tempos. Tão logo terminou a solenidade, voltaram as rusgas em torno do Mais Médicos, do orçamento impositivo e da luta pelos cargos no governo, conflitos, que, sinceramente, ainda vão ocupar muitas páginas de jornal.

Estruturas de poder - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 10/10

A tentativa de quebra da polarização entre PT e PSDB na disputa presidencial, independentemente do candidato que surja como a terceira via, não tem sido exitosa em nossa História política, e o cientista político da PUC-Rio Cesar Romero Jacob é cético quanto ao êxito dessa empreitada, pois, desde a redemocratização, não há repetição de uma terceira via solidamente implantada no território, que é onde se faz a política, com máquina, militância, uma ação no plano do territorial.

Seriam três os pilares das estruturas de poder que viabilizam a disputa eleitoral para presidente: as oligarquias nos grotões; os pastores pentecostais e os políticos populistas na periferia; e a classe média urbana escolarizada. Essa constatação fragiliza em parte a tese de que o eleitor vota no candidato, não no partido, pois o partido é fundamental para o candidato ter consistência eleitoral. A terceira via tem sido questão muito episódica, lembra Romero Jacob.

Em cada eleição houve uma preponderância: Brizola era bem votado no Estado do Rio e no Rio Grande do Sul; Enéas, no entorno metropolitano; Ciro Gomes era muito centrado no Nordeste; Garotinho, muito no Rio e nos territórios evangélicos; não há a repetição, de uma eleição para outra, de uma terceira via com uma mesma base territorial. Isso se deve, segundo o cientista político, ao peso de São Paulo no jogo eleitoral: o estado tem 1/3 do PIB nacional e 1/4 do eleitorado, e os partidos solidamente implantados em São Paulo são o PSDB e o PT, o que, na sua opinião, condiciona o resto.

Ele ressalta que, em eleição presidencial, nosso sistema é bipartidário, no Parlamento é que há fragmentação eleitoral. O PSDB é forte na capital paulista e nos municípios do interior, e o PT no entorno da capital e no cinturão industrial. Esta é a primeira vez em que não há, por enquanto, candidato paulista na disputa, mas ao mesmo tempo Dilma e Aécio contarão com forças políticas importantes no estado de São Paulo.

Romero Jacob chama de maldição do terceiro colocado o que tem acontecido com os candidatos que a cada eleição surgem como novidade, mas não se firmam como alternativa de uma terceira via eleitoral que se contraponha à polarização entre PT-PSDB. Desta vez é Eduardo Campos quem aparece nesse papel.

A ex-senadora Marina, que não conseguiu partido para se candidatar e teve de entrar para o PSB como coadjuvante, pelo menos até agora vive essa maldição . Segundo Romero Jacob, a maldição pode ser medida pelo retrospecto dos candidatos que chegaram em terceiro lugar nas recentes eleições presidenciais após a redemocratização.

Ninguém emplacou na eleição seguinte. Brizola, em 1989, teve 16% dos votos, quase foi para o segundo turno contra Collor. Em 1994, teve apenas 3%; em 1998, foi vice de Lula; e terminou a carreira política sendo derrotado para senador. Enéas teve 7% de votos em 1994, caiu para 2% em 1998 e, em 2002, candidatou-se a deputado federal. Ciro Gomes teve 11% em 1998; 12% em 2002; mas, em 2006, se candidatou a deputado federal.

Garotinho teve 18% dos votos em 2002; em 2006, o PMDB não lhe deu legenda para concorrer. A senadora Heloisa Helena teve 6% dos votos em 2006 e não se elegeu senadora em Alagoas. Eles se tornam políticos regionais, caso de Ciro e Garotinho, ou locais, como Heloisa Helena, hoje vereadora em Alagoas.

Um trabalho da PUC-Rio que Romero Jacob coordena mostra que, até agora, a terceira via não se mostrou possível porque não se observa nada em comum, do ponto de vista eleitoral ou geográfico, entre os terceiros colocados nas eleições anteriores. Na verdade, cada uma das situações que levaram um candidato ao terceiro lugar foi pontual. Romero Jacob diz que nos seus estudos só há um registro de transferência de votos no segundo turno, o de Brizola em 1989, que transferiu para Lula todos os seus votos. Em 2002, por exemplo, Ciro teve 12% dos votos, e Garotinho, 18%, e os dois propuseram apoio a Lula, mas os votos foram meio a meio para Lula e Serra. Isso porque os votos de Ciro na Bahia não eram dele, mas de Antonio Carlos Magalhães, que estava em dissidência, os votos no Maranhão eram de Sarney. Assim como Garotinho, que não tinha votos na Amazônia, onde sua força vinha da Assembleia de Deus, cujo voto ele não decidia.

Em 2010, apesar de sua grande votação, Marina não transferiu votos para o Partido Verde, pelo qual concorreu. O mesmo pode acontecer com sua ida para o PSB.

O xadrez de Marina - ROGÉRIO GENTILE

FOLHA DE SP - 10/10

SÃO PAULO - Eduardo Campos não é um "zero", como Ciro Gomes o chamou na sua tola e habitual verborragia, tampouco é o estrategista político formidável, tal qual passou a ser pintado em Brasília após a surpreendente filiação da ex-senadora Marina Silva ao seu PSB.

O governador de Pernambuco é um construtor de pontes, paciente e habilidoso, que consegue se manter como interlocutor de quase todo o mundo, de Lula a Serra, de Bornhausen e Ronaldo Caiado a Marina. É um conciliador que parece mais mineiro do que o próprio Aécio Neves.

É evidente que esses traços o ajudaram a se posicionar no momento em que Marina precisava achar uma saída para o imbróglio em que se meteu ao não conseguir oficializar a tal Rede Sustentabilidade --não se filiar a um partido significaria abdicar totalmente da eleição presidencial; entrar numa sigla qualquer apenas para ser candidata seria um gesto personalista que poderia arranhar a imagem da nova política, que Marina tanto cultiva.

Mas, na prática, o governador pernambucano foi um agente passivo nessa história toda. Se alguém anteviu alguma coisa, foi Marina. A ex-senadora criou o principal fato político desde a eleição de Dilma e ainda jogou sobre Campos a responsabilidade de crescer nas pesquisas em pouco tempo, ao deixar claro que, se o governador não se viabilizar, ela pode concorrer.

No cenário anterior, Campos seria um vitorioso se terminasse a eleição presidencial do ano que vem com cerca de 15% dos votos. Atingiria seu objetivo de tornar-se um nome nacionalmente conhecido a fim de, quatro anos depois, disputar a sucessão para valer.

Agora, após o empurrão da ex-senadora, se Campos não atingir esse patamar nos próximos meses, antes mesmo de a campanha eleitoral começar, poderá ser forçado a abdicar da candidatura em favor de Marina. Sob o risco de ficar com o ônus de ter atrapalhado a real terceira via.