domingo, abril 14, 2013

Lula privatizou a si mesmo - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA

Ministério Público pediu à Polícia Federal abertura de inquérito contra Lula. A base do pedido é a denúncia de Marcos Valério, que o acusa de ter intermediado um repasse de R$ 7 milhões de uma telefônica para o PT. Valério afirmou que foi a Portugal em 2005 para preparar essa operação.

O Ministério Público parece que bebe. Será possível que os procuradores ainda não entenderam? Lula não sabia. Tanto não sabia, que até outro dia afirmava, para quem quisesse ouvir, que o mensalão não existiu. A condenação de seus companheiros mensaleiros, aliás, deve fer sido um choque para ele. Se é que ele já sabe o que aconteceu no Supremo Tribunal Federal.

É uma injustiça essa suspeita de armação petista para sugar milhões de uma empresa privada de telefonia. Todos sabem que o PT prefere extorquir empresas públicas. Até porque as estatais são coisa nossa (deles). Com tanto trabalho para chegar ao poder e passar a ordenhar os cofres do Banco do Brasil, da Caixa Econômica, do BNDES, por que Lula e sua turma perderiam tempo achacando uma telefônica portuguesa?

Ao receber a notícia sobre o inquérito contra Lula por suspeita de envolvimento com o valerioduto, José Dirceu reagiu imediatamente. E disparou o argumento fulminante: o mensalão não existiu. Se existe alguém com autoridade para afirmar isso, esse alguém é José Dirceu. Condenado a dez anos de prisão, ele sabe que essas coisas que não existem podem dar uma dor de cabeça danada. Se Lula não sabia de algo que não existiu, nada melhor do que ser defendido pelo lendário Dirceu, guerreiro do povo brasileiro - personagem que também não existe.

Enquanto o filho do Brasil espera esfriar a denúncia do pedágio colhido com a telefônica, recebe a solidariedade dos fiéis por seu trabalho com as empreiteiras. Sabe-se agora que Lula fez uma série de viagens internacionais bancadas por algumas grandes construtoras brasileiras. Ele explicou que isso foi um ato patriótico - foi ajudar empresas nacionais a fazer negócios no estrangeiro, para o bem do Brasil. Não restam mais dúvidas: a vida é bela. E é feita de gestos nobres como este: um ex-presidente aproveita seu tempo livre para fazer boas ações, ajudando empresários a ganhar dinheiro no exterior, porque país rico é país sem pobreza empresarial.

Aí surge um comovente coro de progressistas, éticos e crédulos para afiançar as turnês lulistas, gritando que Lula não fez nada demais. De acordo com a nova moral da república companheira, não fez mesmo. Qual o problema de o líder máximo do partido que governa o país desenvolver uma relação particular (ou patriótica) com grandes empreiteiras que têm o governo como cliente? Que mal haveria na ajuda de Lula a empresas decisivas no jogo político, com suas doações às campanhas eleitorais? Qual o problema de Lula ter viajado para a Venezuela para arrancar de Hugo Chávez US$ 1 bilhão, devido a uma dessas empreiteiras, que pagou a viagem de Lula? E se essa empresa for a mesma que realizará seu sonho de construir o estádio do seu clube de coração para a Copa do Mundo, fazendo a alegria de milhões de torcedores-eleitores fiéis?

Não tem problema nenhum. Esse é o Brasil moderno, onde as coisas acontecem às claras, inclusive o tráfico de influência. A não ser quando o ministro do Desenvolvimento declara secretos os documentos de financiamentos do BNDES a Cuba e Angola, para obras dessas mesmas construtoras amigas de Lula. Deve ser para a imprensa burguesa não meter o bedelho - sempre uma boa causa. Por acaso, o ministro do Desenvolvimento é Fernando Pimentel, amigo de Dilma que prestou consultorias milionárias à indústria de Minas Gerais. Como se sabe, essas consultorias nunca foram demonstradas. Devem ter sido também apenas um ato patriótico, nova definição para o velho ditado "uma mão lava a outra".

Pelo visto, a mão que nenhuma outra lavou no final das contas foi a do companheiro Valério - logo ele, que lavou tanto para tanta gente. Agora, o operador do mensalão que não existiu quer mostrar a mão grande do chefe. Será mais um susto. Ele não sabia.


A inflação de Dilma - MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA
Dias atrás, na África do Sul. a presidente Dilma disse não concordar "com políticas de combate à inflação que olhem (sic) a redução do crescimento econômico". Disse "Esse receituário, que quer matar o doente, em vez de curar a doença, «5 complicado". E concluiu: "Essa é uma política superada". Depois, com a repercussão negativa da declaração, falou certo: "O combate à inflação e um valor em si". Dilma sabe que a inflação corrói a renda dos trabalhadores, pode derrubar sua popularidade e atrapalhar o projeto de sua reeleição. No Brasil de hoje, inflação descontrolada é suicídio político.

No dia seguinte, o Relatório Trimestral de Inflação do Banco Central (BC) foi bem didático sobre o assunto. 'Taxas de inflação elevadas geram distorções que levam a aumento dos riscos e deprimem os investimentos." A inflação subtrai "o poder de compra de salários", reduzindo "o potencial de crescimento, bem como a geração de emprego e de renda".

Nos Estados Unidos, a inflação anual atingiu 13,5% em 1980. por excesso de demanda. Fato gravíssimo para padrões americanos. Para combater a alta dos preços, o Federal Reserve elevou brutalmente a taxa de juros. E houve recessão e aumento do desemprego, mas a inflação foi dominada. Na Europa, diante do mesmo problema, a esquerda protestou, onde já se viu combater inflação com recessão?

A esquerda defendia outra saída: uma "política de rendas". Trabalhadores e empresários negociariam entre si. Os primeiros moderariam as reivindicações salariais e os segundos sacrificariam parte dos lucros. A demanda cairia e com ela a inflação. O emprego seria mantido. Acontece que isso nunca poderia funcionar. Não ha via como coordenar todos os interesses envolvidos. Seriam necessários muitos estádios para abrigar os negociadores. Eleger representantes era complicado. A solução veio com o velho, provado e eficaz. instrumento: a taxa de juros. O benefício superava o custo.

O Brasil tolerou por décadas uma inflação elevada, que agravou as nossas desigualdades sociais. Surgiu uma cultura de indexação e de defesa: preços, salários e contratos se indexavam á inflação passada. Os preços subiam pelo excesso de demanda, mas a inflação se propagava pelo mecanismo de indexação e se acelerava quando havia más safras, altas do petróleo e mais desvalorizações cambiais. A inflação brasileira tinha, pois. um complicador: a indexação generalizada, que foi vencida em 1994 pelo Plano Real após cinco outras tentativas fracassadas.

Quando a inflação aumentou nos anos 1980. a esquerda brasileira também condenou as ações para combatê-la e defendeu ilusões. Celso Furtado escreveu um best-seller: Não - Não á Recessão e ao Desemprego. Na America Latina, falava-se que a inflação era estrutural e não de demanda. No Brasil, propunha-se vencê-la com mais produção. Acontece que antes é preciso investir, aumentando a capacidade de produzir. A demanda aumenta antes da oferta, agravando o desequilíbrio e a inflação.

Dilma parece prisioneira dessas visões. Dá a entender que acredita ser possível vencer a inflação sem reduzir a demanda. Além disso, em seu governo, o instrumento eficaz. a taxa de juros, se transformou em bandeira política. Até a oposição a elogia pela decisão de impor ao BC a queda da Selic. Por isso. ela resiste à ideia de aumentar a taxa de juros e à sua natural consequência: a queda temporária do ritmo de crescimento. Prefere controlar o preço da gasolina, adiar o aumento de tarifas de ônibus e trens, reduzir tarifas de energia e desonerar a cesta básica.

A experiência mostra que essas medidas alteram preços relativos, podem aliviar momentaneamente a inflação. mas não eliminam suas causas, que estão, vale repisar, no excesso de demanda. Como em qualquer doença, adiar o tratamento pode exigir doses maiores do remédio, que tendem a prostrar mais o doente do que quantidades menores em momentos apropriados. Na verdade, o que mata o doente é a ausência de tratamento ou prescrições equivocadas.

Tudo indica que a inflação do atual governo ficará acima da meta de 4,5. já em si muito alta. Sem o emprego da receita certa, ela pode fugir do controle. Será que a presidente Dilma vai autorizar o BC a agir?

Combate à inflação: a missão impossível - AFFONSO CELSO PASTORE

O Estado de S.Paulo - 14/04

Quando as expectativas de inflação se elevam acima da meta oficial, o Banco Central deveria elevar a taxa real de juros. É isso que faz a inflação retornar à meta. O ajuste não deveria ocorrer de uma única vez, e sim gradualmente, como fazem os bancos centrais de outros países, e como foi o procedimento do Banco Central do Brasil em episódios anteriores de aperto monetário.

Mas quando as autoridades não reagem, contentando-se com argumentos não convincentes de que assistimos apenas a um desvio temporário, estarão dando à sociedade uma prova de maior tolerância a inflações mais altas. A sociedade passa a perceber a existência de uma meta implícita de inflação superior à oficial, caracterizando-se um processo de desancoragem das expectativas. O resultado é o crescimento contínuo da inflação.

Desde o inesperado início do ciclo de queda da taxa Selic, em agosto de 2011, as expectativas vêm excedendo a meta oficial de inflação, e mesmo assim o Banco Central continuou reduzindo os juros. Em agosto de 2011, as autoridades brandiram os resultados de um modelo DSGE, que supostamente lhes daria uma superioridade de informações. O argumento era de que reagiam ao risco de um recrudescimento da recessão mundial, e que o seu modelo DSGE garantiria que a queda da taxa de juros não impediria a convergência para a meta de 4,5% mesmo diante de um choque de 25% do ocorrido quando da quebra do Lehman Brothers. Mas, mesmo dispondo de um DSGE, o Banco Central não conseguiu dimensionar corretamente a queda factível da taxa de juros, exagerando-a. O resultado é que não somente a inflação não convergiu para a meta de 4,5%, como adquiriu uma tendência crescente.

O exagero na queda da taxa de juros mostra que, além da desancoragem das expectativas, a inflação brasileira atual é, também, uma consequência do crescimento da demanda acima do crescimento da oferta. Embora haja um grau elevado de imprecisão nas medidas empíricas da taxa neutra real de juros - a que iguala oferta e procura, estabilizando as taxas de inflação -, há claras indicações de que atualmente a taxa real de juros se situa abaixo da neutra.

Quando isso ocorre, o crescimento da demanda excede o crescimento da oferta e, ainda que o país cresça pouco, ocorre a inflação. Uma evidência desse comportamento vem do mercado de trabalho, no qual a taxa de desemprego é a menor em toda a história, e ao lado disso assistimos ao crescimento da taxa de participação da força de trabalho e dos salários reais, acarretando uma inflação de serviços que há mais de dois anos supera 8% ao ano.

Taxa cambial. Em um quadro como esse, no qual a inflação somente vem sendo precariamente contida pelos baixos reajustes dos preços administrados, o Banco Central já deveria ter iniciado um ciclo de elevação da taxa de juros, e provavelmente terá de fazê-lo em breve. Mas a sua tarefa não será fácil.

A primeira razão prende-se ao comportamento da taxa cambial. Se, a exemplo do ocorrido em episódios anteriores de aperto monetário, a taxa cambial pudesse se valorizar, a política monetária poderia atuar através do canal do câmbio, elevando a sua eficácia no controle da inflação. Mas a valorização cambial esbarra no objetivo de recompor a margem de lucro das indústrias. Contrariamente ao setor de serviços, que não sofre a competição das importações, o setor industrial é mais aberto ao exterior, e não tem a mesma liberdade de repassar aumentos de custos para preços.

Desde o início de 2010, as margens de lucro da indústria vêm caindo continuamente, por causa do aumento do custo unitário do trabalho medido em reais, que é em grande parte uma consequência do superaquecimento do mercado de trabalho. A isto se soma a redução de margens de lucro gerada pelo câmbio, que permanece valorizado apesar da tentativa (frustrada pelo aumento da inflação) de forçar uma depreciação iniciada em maio do ano passado.

Se combinarmos estes dois indicadores em um único - o custo unitário do trabalho medido em dólares -, veremos que a perda de competitividade da indústria brasileira nos últimos anos foi maior do que em qualquer outro país na América Latina. Com isso as margens de lucro da indústria se estreitaram, reduzindo os investimentos, que é uma das causas do baixo crescimento brasileiro atual. O setor industrial somente retomará taxas de investimento mais elevadas se: a) elevar as expectativas de lucros futuros, aumentando suas taxas esperadas de retorno sobre o capital fixo; b) elevar suficientemente os lucros retidos para financiar uma boa parcela de seus investimentos.

Se o superaquecimento do mercado de trabalho pudesse ser revertido, levando à queda do custo unitário do trabalho medido em reais, teríamos uma elevação de margens de lucro, mas politicamente o governo rejeita ações que levem ao aumento do desemprego. Se fosse possível evitar que a inflação erodisse a depreciação do câmbio real, esta levaria a uma recomposição parcial da competitividade. Mas, para que isso ocorresse, a depreciação do câmbio nominal teria de ser acompanhada de um forte aperto das políticas fiscal e monetária, que elevaria a taxa de desemprego, sendo também rejeitada pelo governo. Não há disposição política de pagar os custos necessários para corrigir a penalização que vem sendo imposta à indústria e, nesta situação, torna-se impossível permitir a valorização cambial, que agravaria ainda mais este quadro.

Política fiscal. A segunda razão vem da política fiscal. Se essa política pudesse se tornar contracionista, aliviaria a carga sobre a política monetária. Mas o governo parece acreditar mais no efeito sobre a inflação vindo de desonerações que afetem preços relativos, do que na potência da política monetária. Para isso, vem reduzindo impostos com efeitos temporários sobre a inflação. Porém, em um prazo um pouco mais longo, a queda consequente do superávit primário gera mais inflação, aumentando a carga suportada pela política monetária.

O segundo propósito das desonerações é favorecer os setores produtivos com quedas de custos. Como temos de conviver com os efeitos do elevado custo unitário do trabalho e do câmbio real apreciado sobre o lucro das indústrias, o governo procura compensá-las com desonerações atingindo setores específicos. Por isso a política fiscal torna-se cada vez mais expansionista.

A última razão, e talvez a mais importante, é de natureza política. O reconhecimento de que a popularidade da presidente depende do baixo nível de desemprego levou um ministro de Estado a afirmar que "o PIB do pobre é o emprego e o salário elevado". É isso que está por trás da proposição de que "o combate à inflação não se faz com a redução do crescimento", porque o que se quer preservar é a popularidade vinda do baixo desemprego.

O objetivo da reeleição se sobrepõe a todos os demais. Não há como provar que a relutância do Banco Central em cumprir o seu mandato - o combate à inflação - venha de sua obediência à diretriz de não permitir a elevação da taxa de desemprego. Mas não é necessário que haja qualquer interferência explícita, porque na prática tudo funciona "como se" ela existisse, dado que o Banco Central assiste passivamente ao crescimento da inflação, sem esboçar qualquer reação.

Como é grande o risco de uma desancoragem ainda maior da inflação, é possível que em algum momento o governo decida elevar os juros. Mas, dado o constrangimento de que o crescimento não pode ser afetado, e o canal do câmbio não poder ajudar, o mais provável é que se veja uma elevação cosmética dos juros, visando apenas afetar as expectativas e mostrar que o Banco Central está atuando. Se esta for a motivação, as expectativas permanecerão desancoradas.

Temos um Banco Central extremamente tolerante à inflação, ajustado a um diagnóstico errado e aos objetivos políticos do governo. O próprio governo alimenta a inflação através da política fiscal, que além de permanecer pródiga no aumento dos gastos correntes, vem sendo utilizada para temporariamente "aplainar" elevações de preços. Por isso, combater a inflação no Brasil é, atualmente, uma missão impossível.


MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 14/04

Cassidian negocia para participar de concorrência
A Cassidian, empresa do grupo EADS que opera em sistemas de defesa e segurança, está em negociações com grandes grupos brasileiros para fechar uma parceria e participar da concorrência do Sisgaaz (Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul).

Por "Amazônia Azul", entenda-se a fronteira marítima e o pré-sal.

O novo sistema envolverá satélites, sensores, radares, inteligência, câmera, mísseis e outros equipamentos.

Nesta semana, os executivos no Brasil receberam da matriz europeia o sinal verde para a parceria.

"Confirmo que estamos falando com a Embraer, além de outros grupos que prefiro não mencionar", diz Christian Scherer, vice-presidente mundial da empresa, que esteve no Rio de Janeiro até a quinta-feira passada.

Scherer afirma não saber a quantas empresas se associará. "Dependerá do cliente."

A expectativa é que a primeira fase da licitação ocorra neste ano.

O custo estimado é de cerca de R$ 6 bilhões, mas o valor ainda depende de especificações finais.

A Cassidian, que teve 5,8 bilhões de euros de faturamento em 2012, é especialista em monitoramento de fronteiras e faz um gerenciamento semelhante ao do Sisgaaz na Arábia Saudita, na França e no Catar, segundo Scherer.

No ano passado, a Cassidian encerrou uma joint venture com a Odebrecht Defesa e Tecnologia. Juntas, as duas companhias concorreram à licitação do Sisfron, em que a Embraer saiu vencedora.

"Mantemos boas relações e estamos conversando também com a Odebrecht", diz.

Economia reduz crescimento na construção civil para 2,3%
O mercado da construção civil deve fechar o ano com um crescimento menor do que o previsto, segundo a consultoria LCA.

A alta projetada, de 2,8%, no início de 2013, caiu para 2,3% após uma revisão no fim do primeiro trimestre.

"A queda não era esperada, pois havia um otimismo grande no início deste ano", diz Paulo César Neves, economista da consultoria.

Para ele, dois aspectos contribuíram para a piora da expectativa para o setor.

"O mercado imobiliário não reagiu o quanto imaginávamos e os investimentos em infraestrutura nesses meses iniciais foram menores do que o projetado", afirma.

Mesmo com o recuo, o ritmo de crescimento ainda é considerado bom, segundo o economista.

"Não teremos retração. A expansão deve se manter, principalmente por causa dos desembolsos previstos pelo BNDES", afirma Neves.

o que estou lendo
Abilio Diniz, empresário
Na semana em que passou a acumular as presidências do conselho do Grupo Pão de Açúcar e do conselho da BRF, Abilio Diniz lê "Conscious Capitalism" (Capitalismo Consciente), de Raj Sisodia e John Mackey.

"Lucrar é fundamental para a vitalidade de um negócio, mas não pode ser a sua única razão de existir, nem a mais importante", diz Abilio. Para o empresário, o conceito de capitalismo difundido pelos autores é o modelo mais eficiente para o desenvolvimento de uma empresa.

"Ter um propósito maior nos leva a levantar todo dia para fazer nosso trabalho, serve como um norte nos tempos mais difíceis, motiva as pessoas", acrescenta.

Por isso, as companhias que atuam assim são capazes de inspirar e gerar comprometimento em funcionários, clientes, fornecedores e acionistas, afirma.

"Ter esse propósito é fazer com que todos os envolvidos permaneçam satisfeitos e felizes. Isso é capitalismo consciente", conclui.

PARA DENTRO DO PAC
Na reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, de quarta-feira passada, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) propôs ao governo a inclusão no PAC de 207 projetos de infraestrutura considerados prioritários nas regiões Norte, Nordeste e Sul do país.

As rodovias, ferrovias, hidrovias e portos demandariam investimentos de R$ 54,7 bilhões até 2020, mas proporcionariam uma economia anual de R$ 13,1 bilhões em gastos com transporte nas três regiões, segundo a CNI.

"Procuramos selecionar os projetos que cortariam custos no escoamento da produção e dariam um ganho de produtividade. E consideramos o prazo de amortização de todos eles", diz Robson Andrade, presidente da CNI.

"Algumas obras já estão no PAC e propomos outras que deveriam entrar no programa também", acrescenta.

A região Norte tem projetos de hidrovias fundamentais para atrair investimento e reduzir o custo de exportações agrícolas", exemplifica.

BICHO CARIOCA
O Pet Center Marginal vai abrir as suas duas primeiras unidades no Rio de Janeiro, entre julho e agosto deste ano. Uma será em Manilha, próximo a Niterói, e a outra será na Barra da Tijuca.

"Fora de São Paulo, temos uma loja em Brasília. Com as duas do Rio, marcaremos presença nos três principais eixos do setor pet do país", afirma Sérgio Zimerman, dono do Pet Center.

A marca terá também um ponto em São Caetano e em mais três locais a serem definidos. O investimento total deve superar os R$ 20 milhões, segundo Zimerman.

A Europa vai ficar para trás? - JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS

O Estado de S.Paulo - 14/04

1. O Japão surpreendeu o mundo com seu agressivo programa de estímulo monetário, que vai injetar quase US$ 1,5 trilhão em dois anos. Busca sair de vez da deflação, e levar os preços a subirem até 2% ao ano. Busca também consolidar a atual desvalorização do iene, que caiu 25% frente ao dólar e ao euro, entre novembro e o início de abril. A indústria japonesa, que ainda preserva muitas áreas de grande competência, deve elevar suas exportações e puxar algum crescimento, especialmente se os Estados Unidos consolidarem, em 2014, uma expansão da ordem de 3,0% a 3,5%, como acreditamos. Se algumas reformas no mercado interno puderem também avançar, poderemos ver, finalmente, a terceira economia do mundo começar a andar.

2. Os dados de emprego recentes deixaram nervosos vários analistas da economia americana, mesmo tendo-se em conta que os números dos últimos meses foram revisados para melhor. Entendo esse resultado mais como uma flutuação numa tendência de melhora da economia, que deve continuar. Os fatores de expansão ainda estão ativos. Chamo a atenção para a elevação no valor das residências, que vem melhorando a posição patrimonial das famílias. De fato, nos últimos anos as mesmas recapturaram mais de US$ 1,5 trilhão de riqueza perdida no início da crise. Não é de se surpreender que o crédito ao consumo tenha voltado a crescer.

Ao mesmo tempo, o chamado precipício fiscal tem cada dia mais jeito do "bug do milênio" (aquele evento na passagem do século que iria gerar um caos no mundo, parando todos os computadores, o que nunca ocorreu, apesar do medo que gerou). Os cortes automáticos de gastos estão acontecendo, sem o mergulho na recessão previsto por muitos. Em parte, porque segundo fontes que conhecem bem o problema, o corte nas despesas da Defesa não tem afetado muito o setor, isto é, colocado a segurança em risco, tal o desperdício típico de segmentos que recebem por muito tempo dinheiro em excesso (será que isso tem alguma semelhança com gastos do nosso governo?). O ajuste fiscal americano está longe de ser o ideal, mas está avançando sem gerar uma recessão, como se temia.

Continuamos trabalhando com o crescimento do PIB dos EUA da ordem de 3,0% a 3,5% em 2014.

3. Chipre: a solução à crise bancária organizada pela chamada troica (FMI, BCE e União Europeia) foi muito ruim, mesmo que se diga que Chipre não é igual aos outros países que assinaram programas de ajuste. Quatro observações são relevantes: na primeira proposta do plano de resgate havia uma tributação sobre os depósitos até 100 mil. Ora, essa garantia vale para os 17 países da zona do euro e a proposição colocaria dúvidas em toda a região, aumentando a desconfiança. Mesmo essa proposta tendo sido retirada na segunda versão do pacote, fica a desconfiança.

A perda enfrentada por depositantes e investidores também leva a uma incerteza quanto ao futuro de outros locais que têm sistemas bancários muito alavancados, como Malta, Luxemburgo, etc. Todos esses países também se dizem diferentes dos casos onde acabou por haver alguma intervenção.

Em terceiro lugar, a colocação de controles de capital foi inevitável, uma vez que a desconfiança levaria a um generalizado êxodo de capital para outros países. Com isso, parece-me pouco provável que os controles sejam aliviados em prazo curto. Como consequência, temos dois absurdos: controle de capital numa união monetária e, em segundo lugar, um euro que vale menos em Chipre do que no remanescente dos países. O caso da ilha mostra como a Europa ainda tem muito com o que se preocupar.

4. A Eslovênia rapidamente se colocou como uma das novas fontes de dificuldades. Segundo a OCDE, o país está em profunda recessão e enfrenta uma severa crise bancária. O prêmio de risco subiu rapidamente nas últimas semanas. Alguma coisa terá de ser feita com esse pequeno país.

5. A Europa vai ficar para trás? Se nossas expectativas estiverem mais ou menos corretas, os EUA crescerão bem no próximo ano, a China deve sustentar com facilidade uma expansão da ordem de 8,0%, o Japão pode começar a andar, implicando que os três maiores PIBs nacionais do mundo (algo da ordem de US$ 30 trilhões) crescerão mais que neste ano. Quase todos os outros países asiáticos seguirão numa velocidade de crescimento superior a 5,0%, e mesmo na América Latina, Chile, Peru, Colômbia e México terão uma expansão significativa.

Ao mesmo tempo, o melhor cenário da Europa é continuar estagnada, provavelmente por vários anos.

6. Argentina e México: embora este texto tenha como foco a Europa, não posso deixar de fazer duas observações. O desmonte da economia argentina não tem fim e a política econômica é cada vez mais louca. Um colapso cambial pode acontecer, pois como dizia Mario Henrique Simonsen, "a inflação incomoda, mas o câmbio é mortal". As empresas brasileiras estão desistindo de operar na Argentina em grande quantidade. Vale e Deca já anunciaram sua decisão. Petrobrás, JBS e ALL colocaram ativos à venda. Muitas outras estão tentando organizar sua saída, o que não é fácil, por pressão do governo e pela impossibilidade de remeter divisas para o Brasil. Nesta semana, duas empresas me disseram que não vão mais exportar para lá, tão grandes são as dificuldades para obter permissões e receber o dinheiro.

Por outro lado, a imprensa tem tratado a atração exercida pelo México de forma que me incomoda. Em praticamente todas as matérias, fala-se que o México é o novo queridinho do mercado, sugerindo uma coisa de moda e volubilidade. Volto em outro momento para discutir isso com mais cuidado, mas chamo a atenção para quatro coisas: a competitividade do país aumentou muito, inclusive com relação à China; o México investiu em portos no Pacífico e ferrovias que os ligam aos centros industriais no norte do país; o gás natural lá custa pelo menos quatro vezes menos que no Brasil. Finalmente, enquanto formamos 45 mil engenheiros por ano, o México forma 105 mil, tendo uma população que é 60% da brasileira.

Sua Excelência, o tomate! - JOÃO BOSCO RABELLO

O Estado de S.Paulo - 14/04

Ao contrapor a realidade como limite ao excesso de idealização, o deputado Ulysses Guimarães dizia a interlocutores "sonháticos" que na política manda "Sua Excelência, o fato", agora representado pelo tomate inflacionário, vilão que trouxe para as ruas a preocupação econômica até então circunscrita aos especialistas.

O fato impõe sério revés à estratégia do Planalto de manter no âmbito técnico o debate sobre a economia e põe em xeque o diagnóstico precoce de que sua fase negativa não afetaria o bolso do eleitor a tempo de influir na campanha presidencial de 2014.
Mais cedo ainda do que supunham mesmo os mais pessimistas, as imagens de consumidores revoltados em supermercados ganharam espaço nos telejornais exibidos no horário nobre, o tomate virou piada nacional nas redes sociais, e os candidatos de oposição à presidente Dilma Rousseff ganharam a munição eficiente para difundir a dúvida sobre sua capacidade gestora.

"Sua Excelência, o tomate", é o figurino recente da "velha senhora", a inflação, dada como a única ameaça à reeleição da presidente se, em médio prazo, não for contida. Para enfrentá-la, aumentam-se os juros o que, por sua vez, encarece investimentos e põe um freio na anestesia do consumo, ópio do eleitorado.

O governo, que receia mais do que demonstra, prepara-se para essas providências, cuja protelação pretendia estender, dispondo-se a pagar o preço após a reeleição da presidente Dilma.

Mas a conta chegou mais cedo, combinando inflação e falta de investimentos e exibindo a insuficiência das desonerações em série como antídoto eficaz.

O relógio de Campos

Pressionado pela antecipação da campanha presidencial pelo governo, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, começa a viver a angústia de ter antecipada a saída do PSB da base aliada, com a consequente entrega dos cargos do partido na estrutura federal. Seu plano original previa o desembarque em outubro, um ano antes da disputa, mas segundo um interlocutor de sua confiança, a eventual aprovação da Medida Provisória dos Portos pode precipitar esse prazo. A MP retira dos Estados a autonomia da gestão dos portos, agravando o discurso crítico de Campos e reduzindo a viabilidade de manter-se aliado e candidato por muito mais tempo.
Ritmo lento

A favor do governador pernambucano soma o veto do governo ao relatório da MP dos Portos, do senador Eduardo Braga (PMDB-AM), que prorroga por 10 anos, os contratos assinados até 93. A proposta contraria o Planalto e retarda a tramitação da MP que já recebeu 600 emendas na comissão mista que a examina.

Beltrame

Em busca de nomes do Sudeste para a chapa presidencial, Eduardo Campos convidou o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, para se filiar ao PSB. E pensa no prefeito Eduardo Paes, do PMDB. Mas aí, admitem seus pares, é sonho: Paes que já foi cotado para vice do pré-candidato ao governo, Luiz Fernando Pezão, quer ir até o fim do mandato na prefeitura credenciando-se para chegar ao governo no tempo certo.

Leilão

Já o senador Aécio Neves (PSDB-MG) oferecerá ao PP, a cabeça de chapa na disputa estadual mineira, que iria para Alberto Coelho, atual vice de Antonio Anastasia. O PP é cobiçado também pelo PT e já deu seu preço: o ministério das Cidades e a garantia de manter sua cota se Dilma Rousseff for reeleita.

Portal da esperança - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 14/04

O PMDB nunca foi tão feliz. Pelo menos, no que se refere a atendimento por parte do governo. A cada semana, tem um ministro na Câmara, instalado na sala de reuniões da liderança do PMDB, dedicado especialmente a ouvir os pedidos dos parlamentares do partido. O primeiro foi o ministro da Agricultura, Antônio Andrade. Ninguém prestou muita atenção, porque, afinal, Andrade é do partido, deputado por Minas Gerais, estava “em casa”. A romaria começou a chamar a atenção na última quarta-feira, quando o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, passou duas horas e meia dedicado aos peemedebistas. “Sou uma UPA móvel”, brincou Padilha, referindo-se à sigla das Unidades de Pronto Atendimento.

Padilha atendeu pelo menos 50 parlamentares. Chegou ao PMDB no início da noite e saiu já passava das 21h. Na sala do líder, os deputados esperavam a sua vez de conversar com Padilha, já separando as emendas que querem ver atendidas. A próxima a fazer esse périplo no partido deve ser a ministra do Desenvolvimento Social, Teresa Campelo. “É muito mais fácil assim. Em pouco tempo, o ministro consegue atender vários parlamentares”, dizia o deputado Júnior Coimbra.

Essa romaria ao PMDB é inédita como prática de gestão. No governo Fernando Henrique Cardoso, os ministros sempre atendiam na Liderança do Governo na Câmara. E, invariavelmente, esse atendimento individual coincidia com a data de alguma votação importante para o projeto do presidente da República. No governo Lula, a tradição de ministro despachar na liderança se manteve, mas não era tão comum quanto no antecessor. As conversas se davam mais nos jantares.

Enquanto isso, nos demais…
O convite aos ministros partiu do líder, Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro, como forma de tentar estreitar o relacionamento da bancada com o governo do qual o partido é associado. E o pronto atendimento por parte do Executivo deixa clara a prioridade que a presidente Dilma Rousseff e sua equipe pretendem dar ao PMDB, o único partido hoje “amarrado” ao projeto da reeleição dela, junto com o PT.

O PMDB não tem escolha. O fato de ter seu presidente licenciado, Michel Temer, como vice-presidente da República fecha as portas a projetos alternativos para 2014. O máximo que os peemedebistas tentarão até lá é obter o poio do PT a projetos estaduais estratégicos para o partido, caso do Rio de Janeiro. O Planalto registrou o recado de Sérgio Cabral, publicado esta semana pelo Panorama Político do jornal O Globo, onde o governador pede que tenha a primazia de fazer o sucessor, assim como Lula teve para eleger Dilma Rousseff com o apoio do PMDB. Mais claro do que isso, impossível. Resta saber se Lula intervirá para tirar Lindbergh Farias do campo ou se deixará o barco correr. Até aqui, nada foi feito.

Enquanto o PMDB força a porta para seus candidatos a governador, os demais partidos aliados do governo colocam um pé em cada canoa. Talvez, o maior aliado de Dilma hoje, depois do PMDB, obviamente, seja o PSD de Gilberto Kassab, que a conta-gotas, vai levando seus diretórios estaduais ao apoio a Dilma. O PSD ainda não marcou visitas de ministros a seus parlamentares e ali há quem considere que não seria de bom tom, uma vez que o partido se declarou independente do governo. Mas, certamente, começará agora uma pressão de outros partidos para que os ministros repitam o procedimento com suas respectivas bancadas. O problema é que, hoje, os demais não estão assim tão fechados com a presidente quanto está o PMDB.

… e nas votações…

Esse tipo de relacionamento onde o ministro vai à liderança anotar os pedidos é a prova mais cabal de que a política consiste num jogo de toma-lá-dá-cá, onde os deputados terminam transformados em despachantes dos pedidos das prefeituras municipais. Sendo assim, sobra pouco tempo para cuidar dos temas para os quais foram eleitos, tornar a legislação mais ágil e fiscalizar as ações do Poder Executivo. Vira tudo meio “brother”, “parceiro”. Se a relação seguir nessa batida, não terá oposicionista capaz de acabar com essa irmandade.

Esse modelo no qual o ministro vai aos partidos anotar pedidos é a prova mais cabal de que a política consiste num jogo de toma-lá-dá-cá em que os deputados terminam transformados
em despachantes das prefeituras municipais

Ansiolítico eleitoral - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 14/04

Apesar do recuo no consumo em supermercados e do estouro da meta da inflação, a previsão compartilhada por ala expressiva da equipe econômica do governo é a de que o índice de preços ceda em até um ponto percentual até setembro. A análise tem sido usada no Planalto para tranquilizar os que temem impacto da crise na campanha de Dilma Rousseff. Auxiliares da presidente entendem que produtos sazonais, caso do tomate, representam 60% da alta dos últimos meses.

Caderninho O otimismo é tamanho que governistas catalogam declarações dos presidenciáveis sobre economia. Falas sobre risco de "desemprego" e "inflação" serão usadas para acusar Aécio Neves e Eduardo Campos de "torcer contra o país".

Zero... Não há previsão de ida de Dilma para inaugurar a Arena Pernambuco, que será entregue hoje tendo só o governador como estrela. A presidente lançou estádios em Fortaleza e Salvador.

... a zero O governo do Estado diz que o ato de hoje será técnico e que está sendo discutida outra data para Dilma inaugurar a obra.

W.O. Para não irritar o governo, a Fifa desistiu de mandar mensagem de Joseph Blatter ao evento de hoje em Recife. O ministro Aldo Rebelo (Esporte) não irá.

Titanic O próximo encontro de Dilma e Campos será em maio, quando será lançado o novo navio do estaleiro Atlântico, de Pernambuco.

Dupla cidadania Após confirmar ida ao seminário do PT amanhã, em Belo Horizonte, a mineira Dilma informou a dirigentes da sigla que participará também da escala da caravana de Lula em Porto Alegre, onde morou, dia 24.

Abin O governo vai monitorar o comportamento do PDT no projeto que barra acesso de novas siglas ao fundo partidário e tempo de TV. Auxiliares do Planalto cobram lealdade do partido após ingresso de Manoel Dias no Ministério do Trabalho.

Onde pega Um dos mais ativos líderes pedetistas, Paulo Pereira da Silva (SP), presidente da Força Sindical, diz estar prestes a reunir as assinaturas necessárias para criar seu "Solidariedade".

Carinho 1 Diante da resistência de Renan Calheiros (PMDB-AL) em promulgar a emenda que cria quatro Tribunais Regionais Federais, parlamentares da base aliada veem tentativa de agradar Joaquim Barbosa, presidente do STF e crítico do projeto.

Carinho 2 Às vésperas de o peemedebista assumir a presidência do Senado, em fevereiro, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, enviou à corte denúncia contra ele por três crimes.

Recordar é viver Quando a PEC foi aprovada no Senado, peemedebistas lembram que Renan não apenas votou a favor como encaminhou voto favorável à questão como líder da bancada.

Força-tarefa Escritórios de advocacia que representam réus do mensalão reforçaram as equipes para se dedicar à leitura das milhares de páginas do acórdão do julgamento, que deveria ter saído na semana passada, mas teve a publicação atrasada.

Algorítimo Empresas de informática também foram contratadas para dissecar a peça, a fim de que apenas os votos referentes aos clientes sejam analisados. A ideia é otimizar o tempo, exíguo para verificar eventuais lacunas e contradições no texto.

Bolsa novela Dilma usará a necessidade de digitalização do sistema de TV para estimular a compra de receptores e conversores de alta definição. Além da anunciada desoneração dos aparelhos, está em gestação programa para subsidiar a compra por famílias de baixa renda.

On-line Fabricantes de TV fizeram chegar a interlocutores do governo que, em 2014, 80% dos televisores produzidos no país serão conectáveis na internet.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio
"José Dirceu disse algo inimaginável a respeito de um ministro do STF. Para quem nega o mensalão, já vimos o tamanho da mentira."
DO LÍDER DO DEM NA CÂMARA, RONALDO CAIADO (GO), sobre a declaração do ex-ministro de que Luiz Fux teria prometido absolvê-lo no julgamento.

contraponto


Rá-tim-bum


"A presidente Dilma Rousseff, ministros e amigos do casal Lula da Silva se reuniram há uma semana em São Paulo para comemorar o aniversário da ex-primeira-dama Marisa Letícia.

Havia um bolo com bonequinhos dela e de Lula. Mas como era aniversário de Guido Mantega (Fazenda), foi providenciado um cupcake.

--Olha! O Pibinho! --gritou alguém diante do bolinho, provocando risadas discretas e constrangidas.

Simples, fácil e comum - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 14/04

Tenho mergulhado numa questão que parece prosaica, mas é de importância vital para melhor conduzirmos os dias: por que as pessoas rejeitam aquilo que é simples, fácil e comum?

O mundo evolui através de conexões reais: relacionamentos amorosos, relacionamentos profissionais e relacionamentos familiares – basicamente. É através deles que nos enriquecemos, que nossos sonhos são atingidos e que o viver bem é alcançado. No entanto, como nos atrapalhamos com essas relações. Tornamos tudo mais difícil do que o necessário. Estabelecemos um modo de viver que privilegia o complicado em detrimento do que é simples. Talvez porque o simples nos pareça frívolo. Quem disse?

Não temos controle sobre o que pode dar errado, e muita coisa dá: a reação negativa diante dos nossos esforços, o cancelamento de projetos, o desamor, as inundações, as doenças, a falta de dinheiro, as limitações da velhice, o que mais? Sempre há mais.

Então, justamente por essa longa lista de adversidades que podem ocorrer, torna-se obrigatório facilitar o que depende de nós. É uma ilusão achar que pareceremos sábios e sedutores se nossa vida for um nó cego. Fala-se muito em inteligência emocional, mas poucos discutem o seu oposto: a burrice emocional, que faz com que tantos façam escolhas estapafúrdias a fim de que pelo menos sua estranheza seja reconhecida.

O simples, o fácil e o comum. Você sabe do que se trata, mas não custa lembrar.

Ser objetivo e dizer a verdade, em vez de fazer misteriozinhos que só travam a comunicação. Investir no básico (a casa, a alimentação, o trabalho, o estudo) em vez de torrar as economias em extravagâncias que não sedimentam nada. Tratar bem as pessoas, dando-lhes crédito, em vez de brigar à toa. Saber pedir desculpas, esclarecer mal-entendidos e limpar o caminho para o convívio, ao invés de morrer abraçado ao próprio orgulho. Não gastar seu tempo com causas perdidas.

Unir-se a pessoas do bem. Informar-se previamente sobre o que o aguarda, seja um novo projeto, uma viagem, um concurso público, uma entrevista - preparar-se não tira o gostinho da aventura, só potencializa sua realização.

Se você sabe que não vai mudar de ideia, diga logo sim ou não, para que enrolar? Cuide do seu amor. Não dê corda para quem você não deseja por perto. Procure ajuda quando precisar. Não chegue atrasado. Não se envergonhe de gostar do que todos gostam: optar por caminhos espinhentos às vezes serve apenas para forçar uma vitimização. O mundo já é cruel o suficiente para ainda procurarmos encrenca e chatice por conta própria. Há outras maneiras de aparecer.

Temos escolha. De todos os tipos. As boas escolhas são divulgadas. As más escolhas são mais secretas e, por isso, confundidas com autenticidade, fica a impressão de que dificultar a própria vida fará com que o cidadão mereça uma medalha de honra ao mérito ao final da jornada. Quem acredita que o desgaste honra a existência, depois não pode reclamar por ter virado o super-herói de um gibi que ninguém lê.

ELA É DO BABADO! - AGAMENON

O GLOBO - 14/04

Só se fala noutra coisa! Num gesto ousado de coragem, a cantora Daniela Marketing revelou ao Brasil que estava casada com uma mulher do mesmo sexo! Ora, eu também sou casado com uma mulher do sexo feminino, a Isaura, a minha patroa, e ninguém fala nada! Daniela, assim como outras celebridades, estão aproveitando para sair do armário (quer dizer, sair do closet) para protestar contra o pastor José Miliciano, quer dizer, José Feliciânus. O presidente da Comissão de Direitos Humanos é atualmente o sujeito que fala mais bobagem no Brasil e olha que é muito difícil atingir essa posição no nosso país porque a concorrência é grande! O pastor cego José Feliciano agora resolveu dizer que John Lennon foi assassinado e os Mamonas Assassinas morrerem num acidente aéreo porque falaram mal de Deus. Eu acho que esse pastor está indo longe demais! Por que é que o Caetano, o Jean Willys e o Capitão Nascimento não pegam esse camarada e dão uma surra nele para acabar com essas declarações violentas e preconceituosas?

Ao assumir a sua condição de cantora eclésbica, Dachinela Mercury acaba de inaugurar mais um ritmo baiano: a sapataxé music. E ela não vai parar por aí! No próximo carnaval, a cantora pretende introduzir várias novidades musicais como o samba- aranheggae, a lambida e o axéxerec. Sempre empreendedora, Sapatela Mercury também vai patrocinar o afoxota Filhas da Glande além de apresentar novas bandas: a Chiclete sem Banana e o Asa de Lábia.

O Brasil não é mais aquele país careta e conservador do passado, aliás, nunca foi. Hoje em dia, as pessoas não tem o menor pudor de expor as suas preferências sexuais. Vejam o caso do cartunista Laerte que, depois de muitos anos, resolveu assumir que era transgênero e seu sonho era se vestir de Margareth Tatcher. Também temos o caso da filha da Gretchen que, desde jovem mostrou suas tendências fanchonistas, mesmo sem ser cantora de MPB (Música da Periquita Bonitinha). Outro caso notório de “outing” é o da top model Léa T, a filha do Toninho Cerezzo, que, num gesto de caridade resolveu extirpar o próprio pênis e doá-lo para os famintos da África. Por ser filho (a) do bem dotado jogador brasileiro, dizem que essa parte inútil da ex-travesti deu para alimentar mais de 100 famílias da Somália por vários meses.
Mas o que só eu, Agamenon Mendes Pedreira sei é que, em breve, mais uma celebridade famosa vai sair do armário: a presidenta Dilma Roskoff irá ao ar em cadeia nacional para revelar a todo o mundo que é mulher!

FIGURAÇA DA SEMANA

Margareth Tatcher – a Dama de Ferro foi uma mulher polêmica : muitos a odiavam enquanto outros queriam ver a sua caveira. Autoritária, mandona e sem papas na língua, Tatcher governou a Inglaterra com mão de ferro e outras partes mais rígidas de sua anatomia também. Enfrentou e derrotou a greve dos mineiros comandada por Tancredo Neves, Carlos Drummond de Andrade e Ziraldo. Apesar de não ser cantora de MPB, Margareth Tatcher era mulher macho sim senhor. Quando a ditadura argentina resolveu invadir as Ilhas Falklands como se fosse o MST, Tatcher não deixou por menos. Veio pessoalmente com a Marinha Inglesa retomar as minúsculas olhotas, quer dizer, ilhotas, matou a cobra e mostro o pau. Ao verem o tamanho de seu poder, os militares argentinos, humilhados, botaram o rabo entre as pernas e bateram em retirada. Adepta fervorosa do neoliberalismo assassino, Tatcher privatizou tudo na Inglaterra : o Big Ben, a Torre de Londres, o Museu de Cera de Madame Tousseau, a BBC e o Príncipe Charles.

***
Aproveitando a onda de neoliberalismo sexual no Brasil, a inflação também resolveu sair do armário. Indignado, o Ministro Guido Manteiga botou a culpa no tomate, no quiabo cru e no damasco seco.

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Agamenon Mendes Pedreira não é cantora de axé mas também gosta de mulher.


O medo, o luxo, a PEC - DANUZA LEÃO

FOLHA DE SP - 14/04

Nos dias de hoje é preciso ter cuidado, há quem fique a favor de qualquer invasão, quando ouve falar em luxo

Tem dias que a gente acorda e fica com medo; isso me aconteceu esta semana.

Tive medo quando vi as fotos dos índios que invadiram o hotel Fazenda da Lagoa, no sul da Bahia. Há pouco tempo, um ou dois meses, conheci o hotel, através de um programa de TV sobre arquitetura; o local parecia o paraíso sobre a terra.

Era mesmo muito bonito, e dizer que era um hotel de luxo é maneira de falar; na verdade, os bangalôs, a decoração feita apenas com o artesanato local, os jardins, era tudo que podia haver de mais simples e mais brasileiro, e de um enorme bom gosto, o que o tornava luxuoso, no sentido puro da palavra (nos dias de hoje é preciso ter cuidado com esta palavra, pois há quem fique a favor de qualquer invasão, quando ouve falar em luxo).

Saber que uma propriedade foi invadida traz insegurança, e fico pensando no que deve ter sido para os donos que trabalharam dez anos para fazê-lo admirado no mundo todo. A Funai fez com que os índios saíssem do hotel, mas e se eles voltarem, qual a solução? Botar um bando de seguranças em volta do hotel, no meio dos coqueiros?

Por mais que o mundo seja hostil, não há refúgio que nos pareça mais seguro do que nossa casa, seja ela um castelo ou um casebre; é nela que nos sentimos protegidos, e quando se imagina que esse espaço pode ser violado, vem o grande medo.

Já me aconteceu: há muitos anos, cheguei em meu apartamento e encontrei-o todo revirado; tinha sido assaltado. Foi terrível ver minhas gavetas abertas, minha cama usada, a casa toda mexida. O roubo não teve importância, diante da violência que foi a invasão de minha casa.

E agora vamos a meu assunto predileto, atualmente: a PEC das domésticas, e são duas historinhas verdadeiras. Uma amiga foi contratar uma empregada, e se surpreendeu com a proposta da candidata: por razões pessoais, ela propôs um horário de 16h às 21h.

Minha amiga ficou radiante: ela sai de casa para o trabalho às 10h e chega, dependendo do trânsito, entre 18h e 19h. Assim, teria quem lhe preparasse um jantarzinho, mas aí, pensou, seria hora extra noturna o que para ela seria muito caro.

A pretendente ao emprego só estava disponível nesse horário, e como não encontrava trabalho, abriu mão da hora extra noturna, só queria um bom salário. Se acertaram, mas aí criou-se o problema. Segundo a PEC, mesmo as duas partes estando de acordo e assinando um contrato, não pode, pois fica fora da lei. E agora?

Outro caso: um casal muito muito rico, tem duas empregadas há uns 15 anos, que dormem no emprego. Quando veio a PEC, a dona da casa -que não suporta a ideia de ter um livro de ponto em casa, e ao mesmo tempo quer ter o direito de pedir um chá às 10h da noite-, fez as contas com o contador, soube o quanto lhe custaria pagar as horas extras, e chamou as duas para conversar.

Nenhuma delas queria virar diarista, pois estavam gostavam do emprego e tinham, cada uma, seu quarto confortável, ar condicionado e televisão; foi combinado, então um bom aumento. Os principais direitos elas já tinham, foi então acrescentado o FGTS, e como nenhuma das duas pretendia ter filhos, os auxílio creche e maternidade estavam fora da questão.

O que o empregador não aceitava era se sentir vigiada pelo Grande Irmão, de George Orwell, a cada vez que pedisse um chá às 10h da noite. As partes se acertaram, mas talvez estejam vivendo na ilegalidade.

Tenho a impressão que o governo está interferindo um pouco mais do que o tolerável na relação entre empregado e empregador no trabalho doméstico.

P.S.: O prefeito do Rio inventou uma multa altíssima para quem jogar um só amendoim nas ruas da cidade.

Quem comprar um chiclete no jornaleiro vai ter que engolir o papel, pois as (poucas) latas de lixo do Rio são do tamanho de uma sacola Chanel.

Aquele Joãozito - HUMBERTO WERNECK

O Estado de S.Paulo - 14/04

Um ano depois da morte do filho famoso, lá fui eu conhecer dona Chiquita, numa casa na Pampulha, em Belo Horizonte. Quando saí, horas depois, tratei de reter no papel um pouco do que me contara a mãe do Joãozito, quer dizer, João Guimarães Rosa, naquela tarde de 1968. Queixava-se da memória fraca - e no minuto seguinte se desmentia:

"Joãozito pegava o jornal e ficava perguntando ao pai o nome das letras. Ou os números pintados nos trens que passavam. O Florduardo achava uma graça, comprou lápis de cor e papel, fez assinatura do almanaque Tico-Tico. Quando abrimos os olhos, o Joãozito estava lendo e dando notícia de tudo. Tinha só 4 anos, um fenômeno."

Daí a pouco estava fazendo um jornalzinho. Desenhava as pessoas, o Juca Bananeira, que depois virou personagem de histórias suas. A avó guardava os jornaizinhos, mas um dia houve uma inundação - e foi assim que ficamos sem conhecer o jornalista Guimarães Rosa.

"Brincava sozinho. Fazia uma fieira de sabugos de milho, formando carros de boi. Ou bichinhos de chuchu, principalmente bois, sua mania. E os gatos! Adorava! Basta dizer que não estava presente quando a filha Vilma teve o primeiro filho: sua gata predileta também estava dando à luz a primeira ninhada."

Outro brinquedo era de missa. Improvisava uns paramentos, ajeitava o altar e convocava os fiéis - meninos das vizinhanças. Foi coroinha na igreja de São José, em Belo Horizonte. E durante a vida inteira carregava um terço, rezava em todo lugar, na rua até, em tempo de ser atropelado.

"Joãozito pegava um livro - lia de tudo, até uns livros nada recomendáveis para a sua idade. Sentava na calçada, os outros iam chegando, ele largava o livro e ficava contando histórias. Gostava também de ouvir, especialmente a dona Jerônima, a mesma que me contava histórias quando eu era menina. Não dizia palavra se a gente não lhe desse fumo para mascar."

Com 6 anos, trocou sua Cordisburgo por Belo Horizonte. Foi estudar no Grupo Escolar Afonso Pena. Depois, no Colégio Santo Antônio, em São João del Rei. Mas não se acostumou com a comida e com uns colegas que lhe faziam medo, e voltou para a capital. Matriculado no Colégio Arnaldo, fugia quase toda noite - pela janela! Porque além de sonâmbulo o Joãozito tinha uma saudade enorme de casa.

"Era magrinho, fraco, o médico mandou cortar qualquer excesso. Os estudos demais da conta, as leituras. Mas o Joãozito não tinha jeito: de manhã, eu achava livros embaixo do travesseiro dele. Rapaz, lia até altas horas, os pés na bacia de água gelada para não dormir. O avô dava dinheiro aos netos, e o dele ia todo para livros e doces - era com isso que se enfiava no quarto, lendo e comendo."

Dona Chiquita foi fazer uma visita e levou o Joãozito. O menino ficou rodando pela casa - e surpreendeu um casal de namorados se beijando. Dia seguinte, na farmácia, dá com o rapaz do beijo comprando um vidro de purgante: "Uai, moço, pegou indigestão de beijo?!"

"A primeira namorada era filha de alemães. Quando ela se mudou para São Paulo, ficou desesperado. Arranjou emprego, chegou a vender o violino, que começava a aprender. Mas voltou de São Paulo muito desiludido e começou a namorar uma vizinha, que acabou sendo sua primeira mulher."

Nunca foi de cinema. Uma vez, saiu com a irmã para a matinê. Começaram a demorar e a mãe foi atrás deles. No cinema, encontrou um guarda conhecido da família: "O filme já terminou, dona Chiquita, mas os meninos ficaram dormindo na cadeira e eu tive pena de acordar".

"Gostava de conversar, horas e horas. Vinha aqui e a casa se enchia, ele falava, ria, abraçava todo mundo, contava casos. Conosco, era meigo, carinhoso que só vendo. Não faço diferença entre os filhos, mas o Joãozito era diferente. Comigo e com o pai, então! Mandava coisas, dinheiro, telefonava. Ainda hoje, quando pego no telefone, me lembro é dele, do jeito que tinha pra dizer 'mamãe', carregando a palavra de carinho. Tão amoroso. Sabe, às vezes penso que por isso é que ele morreu tão moço (aos 59 anos), era comoção demais em tudo."

Ciência e paciência - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 14/04

Nem sempre a sabedoria dos mais velhos ajuda os mais jovens. O jovem quer errar, precisa errar


Houve época em que a idade era tida como qualidade, mas, de uns tempos para cá, caiu em descrédito. Nos anos 60, tornou-se comum dizer-se que não se devia confiar em ninguém que tivesse mais de 30 anos. Descobriu-se, então, que ser jovem era o único valor real e que a chamada sabedoria dos mais velhos era simples balela.

Os que diziam isso, naquela época, hoje têm mais de 50 anos e não sei se continuam a afirmar a mesma coisa ou se ensinam a seus filhos o que aprenderam com a idade.

Por exemplo, que o consumo de drogas, a que se entregavam entusiasticamente naquela época, levou muitos amigos seus à loucura ou à morte precoce. Mas, se o fizerem, correm o risco de ouvir deles que não confiam em ninguém que tenha mais de 30 anos de idade, pois foi o que aprenderam com os próprios pais.

De fato, aos 20 anos, a gente não sabe muito da vida. Tampouco os mais velhos sabem tudo. Se aquela frase irreverente expressava a necessidade de uma geração de romper com os valores estabelecidos e entregar-se ao desvario beatnik, há que levar em conta que cabe aos jovens inventar a própria vida e, para isso, têm que, às vezes, não ouvir os conselhos dos pais.

É que nem sempre a sabedoria dos mais velhos ajuda os mais jovens. E mais que isso, o jovem quer errar, precisa errar, porque é errando que se aprende. Não adianta a mãe advertir o filhinho de não tocar o dedo na chama da vela, pois fogo queima. Ele só acreditará depois de queimar o dedo.

Bem, toda essa conversa vem a propósito de minha irritação com a barulheira desta rua onde moro. Desta vez, foi um vendedor de laranjas que apregoava as virtudes de sua mercadoria, berrando num alto-falante posto em cima de uma caminhonete.

Minha filha Luciana, que me visitava na ocasião, preocupada com meu estado de espírito, aconselhou-me a mudar de apartamento e buscar uma rua tranquila, como aquela onde mora. Minha reação a seu conselho deve tê-la surpreendido.

-- Sair eu deste apartamento onde moro há 30 anos?! Nunca! Já pensou na quantidade de livros que teria que transportar e rearrumar na outra casa? Prefiro enlouquecer aqui mesmo.

Foi a minha primeira reação. Logo, mudei de tom e lembrei-lhe de que, mal me instalara aqui, descobri que, sob meu quarto de dormir, funcionava uma boate. Iniciou-se uma luta que durou anos e que terminei vencendo. Se não saí naquela época, não seria agora que o faria.

E quando os meninos da vizinhança passaram a jogar bola embaixo de minha janela? Era todos os dias, no final da tarde. Eles, na verdade, menos jogavam do que gritavam, se esgoelavam. Um inferno.

Desesperado, comecei a engendrar um plano para acabar com aquilo e concluí que o mais eficaz seria quebrar meia dúzia de garrafas e jogar os cacos de vidro na calçada. Encontrada a solução, fui dormir naquela noite mais conformado, sem calcular as consequências daquele plano. Sucedeu que, dois dias depois, à hora de sempre, não houve a pelada. Nem no dia seguinte, nem nunca mais.

Achei ótimo, mas não me dei ao trabalho de refletir sobre o fato. Não muito depois, foi um vendedor de uvas que, todos os dias, a partir das três da tarde, começava a gritar num alto-falante: "Uvas por dois reais! É só hoje e não tem mais!".

Isso durou semanas, mas um dia acabou também. Senti-me aliviado e não pensei mais no assunto, mesmo porque o que nos desagrada a gente trata, se possível, de esquecer.

E não é que, certa noite, dois caras começaram a conversar aos berros debaixo da minha janela. Além do berro em si mesmo, irrita-me especialmente o fato de que o sujeito está junto do outro, mas berra como se estivesse do outro lado da rua.

Tive vontade de descer, ir até eles e lhes dar um esporro. Mas pensei um pouco, fui até a cozinha tomar um gole d' água e, quando voltei à sala, eles tinham ido embora ou se calado. Então refleti: se eu tivesse dado um esporro neles, teria ganho dois inimigos e eles, para me irritar, estariam possivelmente berrando até agora. E ainda teria ganho dois inimigos.

Terminei aprendendo: espere passar, pois tudo passa. A sabedoria é ter paciência e não se estressar nem brigar. Mas isso só se aprende com a idade.

Duas damas - SUELY CALDAS

O ESTADO DE S. PAULO - 14/04

Há algumas semelhanças e muitas diferenças entre Margaret Thatcher e Dilma Rousseff. Nas semelhanças, o papel de Thatcher cresce por ter sido a pioneira, a principal responsável pela introdução mundo afora de uma bem-sucedida agenda econômica liberal hoje aceita e praticada até em países comunistas (China, por exemplo). Com as privatizações e redução de impostos de seu governo, Dilma Rousseff reprisa parte da agenda que Thatcher criou e aplicou no Reino Unido, nos anos 80, e que o rival Partido Trabalhista condenou na época, tachando-a de neoliberal. Aliás, foi quando a palavra neoliberal - simplesmente uma doutrina econômica -passou a ser pronunciada como xingamento pela voz da esquerda.

As diferenças se dão principalmente no terreno político. A começar pela aversão ao paternalismo de Estado que Thatcher professou desde o primeiro dia de seus 11 anos de governo, por considerar que todo homem é responsável por si mesmo. Dilma acredita no Estado provedor e não só para os pobres, mas também para empresários escolhidos a dedo que encontram no BNDES um caixa generoso para seus negócios. Enquanto a inglesa eliminou subsídios, favores e privilégios de empresas viciadas em depender do Estado, a brasileira distribui facilidades com recursos públicos para grupos empresariais eleitos.

As diferenças também se acentuam na política social: ao concentrar esforços em recuperar a combalida economia inglesa quando se tomou primeira-ministra, em 1979, Thatcher eliminou programas sociais e reduziu verbas para saúde e educação, ainda hoje mantidas sob controle do Estado. Já Dilma aumentou os repasses para o Bolsa-Família, criou outros programas sociais, mas manteve intacta a porção de política social que privilegia os ricos e pouco investe em saneamento básico e combate à violência. Dilma dá ênfase ao ideal de igualdade e Thatcher, ao de liberdade

Mas entre elas há uma diferença fundamental, que transcende seus mandatos, ganha dimensão e cresce para ocupar lugar na História: independentemente de erros e acertos, Thatcher trouxe para sua gestão um Programa de Governo com letra maiúscula, políticas com rumo certo, com as quais assumiu compromissos e se manteve coerente até seus últimos dias de governo. Mérito reconhecido até por rivais políticos históricos. Centrado na desregulamentação do setor financeiro, flexibilização do mercado de trabalho e privatização de estatais, o programa de Thatcher modernizou a Inglaterra, tirou a economia do atoleiro, derrubou a inflação de 13% e impulsionou o crescimento.

E exatamente o que falta a Dilma. No governo Lula, mal ou bem, ela ensaiou um plano de governo com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Mas, ao chegar ao Palácio do Planalto, ela se desorientou, perdeu o rumo, vive de apagar incêndios, não sabe para onde ir. De início, acreditou que bastava aumentar o emprego, a renda e o consumo que investimento e crescimento viriam a reboque. Não vieram. Aí despertou para expandir a infraestrutura, mas sua equipe não consegue preparar licitações capazes de atrair investimento. Além disso, as miúdas interferências do governo, freqüentes mudanças de regras e agências reguladoras fracas e submissas ao poder político acabam por assustar e afastar os melhores investidores. O País passou a conviver com inflação em alta e crescimento em baixa. Para onde ir? É pergunta sem resposta.

Nos 32 anos que separam o início das gestões de Thatcher e de Dilma, o mundo mudou, o sonho socialista desmoronou com o Muro de Berlim, posições ideológicas também mudaram. Tanto é que a autonomia do Banco Central -bandeira da direita atacada pela esquerda nos anos 80 - não teve a adesão de Thatcher e chegou à Inglaterra pelas mãos do trabalhista Tony Blair, em 1991. Também no Brasil o PT sempre fez oposição estridente às tentativas de discutir essa questão no Congresso. Pois não é que agora o jovem senador petista Lindbergh Farias (RJ) virou defensor da ideia e promete levá-la à votação na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado!


A verdade dói - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 14/04

O alemão Paul Breitner fez críticas duras e corretas ao atual futebol brasileiro


Apesar de presunçoso, em alguns momentos, Paul Breitner, campeão do mundo pela Alemanha, em 1974, mostrou, em entrevista à ESPN Brasil, um grande conhecimento do futebol mundial e foi duro e correto nas críticas ao atual futebol brasileiro. Isso gera diferentes reações.

Uma, prepotente, geralmente dos técnicos brasileiros, é a de que não temos nada a aprender. Outra, nacionalista, é a dos que concordam com as críticas, desde que não venham de fora. Foi o que ocorreu durante a Copa de 2010, quando Cruyff, antes de a seleção ser eliminada, disse que não pagaria para ver o Brasil jogar. Muitos brasileiros sentiram-se ofendidos.

A terceira reação, a do complexo de vira-latas, é a de valorizar demais as críticas de fora. Há ainda os que entendem do assunto, que não têm rabo preso e que sabem separar as coisas, como escreveu o mestre Juca, na quinta-feira.

Breitner enfatizou a falta de velocidade do futebol brasileiro e, ao mesmo tempo, elogiou bastante Espanha e Barcelona, que trocam muitos passes curtos e que usam pouco a velocidade nos contra-ataques, característica do Real Madrid. Parece contraditório.

Imagino que ele falou da mobilidade e da velocidade na troca de passes, como diz uma antiga máxima brasileira, que quem corre é a bola, e não o jogador. Hoje, o que mais existe no Brasil, do meio para frente, são jogadores velozes, que correm demais com a bola e que trocam poucos passes.

O Bayern, o Borussia e a seleção da Alemanha costumam unir os estilos do Barcelona e do Real Madrid.

O Bayern contratou Guardiola porque gosta mais do estilo do Barcelona. O clube quer a sintonia fina entre segurar a bola e tentar uma jogada decisiva, entre pensar e correr. Querem ainda a marcação por pressão, o que o Barcelona fez muito bem contra o Milan e, com frequência, fazia com Guardiola, e que não fez contra o PSG.

Quando o Barcelona avança na marcação e não toma a bola, abrem-se grandes espaços na defesa, para o contra-ataque. Se ocorrer o mesmo contra o Bayern, o time não chega à final. Guardiola vai torcer para o Bayern ou para o Barcelona?

Sobre Neymar, Breitner disse que ele precisa jogar na Europa, para evoluir e para o mundo saber se ele, ao lado e contra os melhores times e jogadores, é realmente um fora de série. Penso que, se Neymar for, em pouco tempo, será candidato habitual a melhor do mundo.

O futebol brasileiro está atrasado, como disse Breitner.

A verdade dói. A solução não é retornar ao passado. O mundo e o futebol mudaram. Nem é copiar tudo o que os outros fazem. Independentemente do que ocorrer na Copa, é necessário mudar nomes e conceitos, dentro e fora de campo, desde as categorias de base, e criar uma identidade. Chega de politiqueiros e de incompetentes.

Thatcher e seu fiel consorte - DORRIT HARAZIM

O GLOBO - 14/04

Por tamanha enrascada ninguém esperava, até porque Margaret Thatcher já estava fora do poder há 23 anos e, debilitada e com demência há mais de cinco, sequer aparições públicas mais fazia. Parecia destinada a ocupar levas de historiadores do século XX, como a mulher que maior poder político exerceu na arena mundial. E continuaria a gerar montanhas de análises sobre as transformações que impôs à sociedade britânica como chefe de governo. O que ninguém previu foi que a Dama de Ferro ainda ressuscitaria velhas paixões depois de falecida.

O anúncio de sua morte, na segunda-feira passada, gerou previsíveis manifestações de pesar, respeito e reverência para quem foi a figura mais dominante da Grã-Bretanha desde Winston Churchill em 1940. Só que o monopólio da narrativa apologética durou pouco. Paralelo ao luto oficial de quem vê em Thatcher a líder que salvou e modernizou o país, brotou a céu aberto o rancor armazenado por milhões de excluídos por sua política. Sindicalistas, mineiros, servidores públicos, todo o tecido social da Inglaterra de espinha dorsal quebrada que teve de se adequar à era Thatcher pelo visto não esqueceu. Nem perdoou.

Ninguém estranha quando mortes de ditadores e tiranos são festejadas por opositores que a eles sobreviveram. Já o falecimento de líderes ou ex-líderes de países democráticos suscita, no máximo, indiferença em quem não quer se juntar ao luto nacional. Ofensas e regozijo são considerados de mau gosto. No caso de Margaret Thatcher, contudo, está valendo tudo.

Ruidosas chopadas em Brixton e Glasgow se sucederam alegremente desde o anúncio fúnebre que enlutou a nação. Enquanto se programa o solene e grandioso enterro de quarta-feira próxima, ao qual comparecerá a rainha, até mesmo um membro da força policial britânica já postou um tweet saudando "o mundo agora melhor, com esta morte que chegou 87 anos atrasada". Foi expulso da corporação, é claro. Passeatas, protestos, acrimônia na internet não arrefecem. Polêmica em vida, Margaret Thatcher reemergiu além-túmulo com todo seu potencial divisionário.

Em um único quesito, pode-se afirmar sem medo de erro, a primeira-ministra sempre obteve aprovação unânime: na figura do fiel consorte que ocupou 10, Downing Street a seu lado durante os anos no poder.

Denis Thatcher era um executivo de sucesso na indústria petrolífera, recém-aposentado, quando Margaret Hilda Roberts, com quem casara mais de duas décadas antes, se tornara líder do Partido Conservador. Além do sobrenome, deu à esposa a segurança financeira necessária para que ascendesse na política fazendo carreira solo.

Quando Margaret chegou ao topo, como primeira mulher a comandar uma potência ocidental, não existia protocolo nem roteiro nem título nem job description para um consorte masculino. E ainda menos para um consorte tão claramente desinteressado em alterar o estilo de vida privado que levara até então. De início, foi um prato cheio para caricaturistas e humoristas. Pouco a pouco, porém, Denis foi ganhando a simpatia nacional ao definir os limites mínimos de sua obrigação e temperar suas poucas aparições públicas com o humor leve e solto que faltava à mulher.

Preencheu o papel com inteligência intuitiva, sem provocar arranhão na agenda pública da mulher - o que é notável, sobretudo se comparado ao desempenho de tantas primeiras-damas mundo afora. De ideias ainda mais conservadoras do que as da própria esposa, ele teve o bom senso de manter as suas em círculo fechado. E teve a sorte de um célebre descuido seu só ter se tornado público quando Thatcher já estava fora do poder: "Mantenha a Suíça branca", aconselhara ele ao presidente daquele país, durante um jantar em 1984.

O low profile mantido pelo inquilino adjunto da residência oficial de Downing Street se apoiava no pouco apreço que ele reservava aos jornalistas. Chamava-os de "répteis". Um provérbio aprendido com o pai lhe ensinara a arte de não dizer nada: "O homem só mata a baleia quando ela esguicha."

Denis Thatcher também caiu no gosto popular por nunca ter parado de tomar o seu gim de todas as horas, boas ou más (em eventos oficiais em que bebidas alcoólicas não eram servidas, encarregava o agente de segurança da esposa de abastecê-lo de "água especial"). Atravessou com cavalheirismo uma estrutura familiar oposta à moldura conservadora do seu entorno social. "Casei com uma das mulheres mais grandiosas que o mundo já produziu. Já o que eu produzi, soa pequeno: lealdade", concluiu, ao final..

Denis Thatcher morreu dez anos atrás, aos 88 anos, e recebeu louvas em uníssono de todos os partidos. Alguns, como é de praxe, se excederam. "Ele foi um verdadeiro grande homem. Sem ele, seria impossível imaginar a sra. Thatcher alcançando o sucesso que alcançou", proclamou o líder conservador Duncan Smith. Bobagem.

Fato é que em onze anos numa posição propícia a jogos de poder e intrigas palacianas, o sr. Thatcher passou ao largo desses exercícios. E ainda deu uma contribuição espontânea à cartilha do enxugamento do Estado, tão cara à primeira-ministra: ele não dispunha de funcionários a seu serviço, não gerou despesa, não inventou nenhuma obra de caridade para se ocupar.

"Centavos não caem do céu, é preciso trabalhar aqui na terra para ganhá-los", ensinou Margaret Thatcher durante a cruzada privatizante que transformou tão profundamente a Grã-Bretanha. Sugestão insolente enviada esta semana à comissão organizadora do cortejo fúnebre e exéquias: em respeito às ideias defendidas pela falecida, o enterro, que custará perto de 15 milhões de libras esterlinas (algo próximo a R$ 45 milhões), deveria ser privatizado, numa operação calculada para dar lucro ao governo.


Deus vence pleito, mas não governa - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 14/04

A identificação com Chávez, alçado aos altares, pode dar para vencer hoje, mas não serve para administração


Marie Metz, enviada especial da revista "The Atlantic", faz uma comparação perfeita entre a campanha eleitoral de outubro de 2012, em que Hugo Chávez venceu Henrique Capriles, com a que termina hoje com o mesmo Capriles enfrentando Nicolás Maduro: "Em outubro de 2012, Hugo Chávez era um líder sem medo, um homem extremamente poderoso cujo carisma (e benefícios monetários) causavam a adulação de muitos. Hoje, Chávez não é mais esse homem. Ele é Deus".

Deus não pode perder eleição, o que significa teoricamente que Maduro, o representante de Chávez na Terra, pode considerar-se eleito.

Mas, se a deificação de Chávez é uma bênção para o ex-motorista de ônibus, será também um problema por uma coleção de motivos. O principal deles: Deus ganha eleição, mas não pode governar, a menos que se transforme em um "pajarito" que apareça diuturnamente no Palácio de Miraflores, a sede do governo, para soprar o que fazer.

É improvável que apareça, ao menos a julgar pelo que diz uma autoridade no tema, o arcebispo de Caracas, cardeal Jorge Urosa: "Chávez é um ser humano, como todos nós. Não pode ser comparado a Cristo".

Que um cardeal tenha que perder tempo com um, digamos, esclarecimento do tipo diz bem do clima de misticismo com que Maduro cercou a sua campanha. Espero que não acredite no que ele próprio diz, sob pena de termos um fanático enlouquecido governando um dos principais países da América Latina, ainda por cima membro do Mercosul, o bloco comercial que o Brasil gostaria de liderar.

A coleção de problemas para Maduro por seu abraço a "deus" Chávez começa na própria noite eleitoral: se o apadrinhado obtiver menos que os 8 milhões de votos conseguidos pelo padrinho em 2012, já será sinal de que nem todos os cidadãos cumpriram o juramento espalhado por toda Caracas: "Chávez, te lo juro, mi voto es para Maduro".

Pior ainda: no comício final, Maduro pediu 10 milhões de votos. Se não os conseguir, provará que seu apelo está longe de se equiparar ao de Chávez, por mais que se tenha enrolado no manto do líder morto e açulado a emoção provocada pela perda do "comandante".

Terminada a apuração, instalado Maduro em Miraflores, virão problemas que mesmo um Deus de verdade teria dificuldade para resolver, a saber:

1 - A inflação, só em março, foi de 2,8%, sugerindo uma taxa anual de 30%. O Brasil, como se sabe, está assustado porque a sua taxa anual acaba de bater em 6,6%.

2 - A escassez de alimentos básicos só faz aumentar: passou de 11% da cesta básica em novembro para 17,7% em março.

3 - O deficit das contas públicas chegou a 15% do Produto Interno Bruto, taxa que até Deus consideraria insustentável.

4 - A produção automotriz, setor de peso na indústria, caiu 51,07% no primeiro trimestre, em relação a idêntico período de 2012.

Sem falar na violência, a maior preocupação dos venezuelanos.

A devoção popular a Chávez permitiu passar por cima desse tipo de dificuldades. Mas Maduro ainda não tem lugar no altar.

Um projeto drogado - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 14/04

Proposta quer os viciados em drogas registrados num cadastro; eles não teriam benefício algum com isso


A Câmara esteve na iminência de votar quarta-feira um projeto com graves implicações sociais, que precisariam de ampla discussão pública, mas a população nem ao menos sabia da votação prevista. (O jornalismo brasileiro tornou-se muito original). A votação está apenas adiada, em princípio, para terça agora.

De autoria do peemedebista gaúcho Osmar Terra, o projeto quer os viciados em drogas registrados em um cadastro nacional. Os viciados não teriam benefício algum com a medida. Mas, além disso, os futuros recuperados, os recuperáveis e as famílias dos viciados ficariam sujeitos a danos incalculáveis. Expostos, desde o registro e pela vida afora, aos efeitos das visões preconceituosas no mundo do trabalho e nas relações humanas.

A proposta para a formação do cadastro é ainda mais perturbadora. Os profissionais incumbidos do atendimento e de internações estariam obrigados à pronta informação, para o cadastro, sobre o dependente atendido ou, se internado, beneficiado por alta. E aos professores e diretores de escolas caberia a obrigação de mandar para o cadastro os nomes dos alunos consumidores de droga ou com indício de sê-lo. A respeito, não é preciso dizer nada além disso: Alemanha, anos 1930.

Está difícil, e não há esforço algum para facilitar, a compreensão ampla de que ninguém é viciado por querer, seja qual for o vício. No máximo, pode haver indiferença ou conformismo com o vício e suas consequências. Mas todo vício é um sofrimento, porque é dependência e toda dependência é opressiva. O traficante, sim, trafica porque quer, ainda que sob o impulso do próprio vício. Não tem cabimento, portanto, a emenda que o PSDB quer apresentar ao projeto, eliminando o proposto aumento da pena mínima para traficante, em associação com a retirada do cadastro de consumidores de drogas.

A iniciativa de adiamento da votação foi do PSDB, para que a bancada revisse o projeto a pedido de Fernando Henrique, e do PC do B, sem que isso signifique apoio dos demais partidos às barbaridades propostas. Não há indicações de como estão as bancadas partidárias quanto aos itens do projeto. Até por isso, o adiamento por apenas uma semana é a continuada falta da discussão pública do projeto. E agora também das emendas, sejam quais forem, mencionadas pelo líder do PSDB, Carlos Sampaio, para atender a Fernando Henrique.

O projeto tramita há mais de dois anos e, apesar disso, chegou à pauta de votação como uma monstruosidade incólume. Inclusive sem emendas saneadoras do PSDB e do PC do B. O necessário, portanto, é adiá-lo sem data de votação e tentar submetê-lo a algum debate nos meios de comunicação (comunicação?).

Exclusiva com o comandante Borges - JOÃO UBALDO RIBEIRO

O GLOBO - 14/04

-Comandante, ainda bem que você veio. Ontem me disseram que você não queria mais dar a entrevista.

- É, mas pensei melhor. Se eu prometi, está prometido. Alguém tem que manter a palavra neste país. Mas isso não impede, sem querer ofender ninguém, que eu ache esta entrevista uma palhaçada.

- Não entendi.

- Não vai sair nada do que eu disser, a imprensa está toda no bolso do governo, devendo à Previdência e à Receita e mamando as verbas de publicidade. A imprensa está aí para ajudar no fingimento de que há liberdade, vontade popular, opinião pública e essas besteiras feitas para declamação. Isto mesmo que eu acabo de dizer quero ver sair, não sai. Está gravando?

- Estou.

- Você está perdendo seu tempo, não vai sair nada. Grave aí que eu acho que essa democracia é para as negas deles, o que eles fazem é entrolhar todo mundo e fazer tudo da veneta deles. Você viu a do ensino? Agora é obrigatório botar o filho na escola aos 4 anos! A quem que eles perguntaram? Eles não conseguem dar conta nem de metade dos que já têm direito e inventam mais? Estamos cheios de grandes escolas públicas para todos, todo mundo na escola de barriga cheia desde os 4 anos, que beleza! Eu não sou otário, eu não sou otário! Eu queria que eles compreendessem que eu não sou otário!

- Eu pretendia chegar a assuntos como esse, sei que você tem opiniões muito firmes. Mas minha primeira pergunta ia ser outra, mais pessoal.

- Ah, desculpe, eu às vezes me exalto um pouco. Pode perguntar o que você quiser. Se eu contar coisas pessoais, também não sai, eu não sou pervertido, a imprensa só se interessa quando é a vida pessoal dos pervertidos. Não vai sair nada, mas eu respondo a qualquer pergunta.

- Bem, a pergunta é uma curiosidade minha. Frequentamos este mesmo boteco há não sei quantos anos e nunca vi você chegar dando risada sozinho, como vi hoje, na hora em que você estava descendo da sua famosa bicicleta elétrica. Dá para dizer qual foi a razão?

- Dá, eu não escondo nada. Não era riso de satisfação, nem de felicidade. Era uma risada mórbida que deu para me atacar de uns tempos para cá, uma espécie de humor negro. Eu estava me lembrando de um comercial. Não sei do que era, só me lembro da cena. Era um casal fazendo um piquenique romântico na Lagoa à noite, sentadinho com um pano de mesa estendido, luz de velas, cestinha de comida, parecia uma aquarela campestre. Aí eu fiquei pensando e me deu uma crise desse riso mórbido. E, na hora de minha chegada, não sei por que, me lembrei de novo. Sempre que eu lembro, rio novamente, é incoercível. Piquenique na Lagoa é demais, não é, não?

- Demais como?

- Você não entendeu? Piquenique na Lagoa, piquenique na Lagoa! Só pode ser Walt Disney, e dos anos 50! Quando o casal tivesse acabado de estender a toalha, já não ia ter mais cestinha, nem garrafinha, nem vela, nem piquenique nenhum! Seja sincero e realista e me responda quantos segundos você daria para um casal começar um piquenique à noite na Lagoa e o piquenique ser todo comido e possivelmente o casal também. Dou 90 segundos, mas ganha quem der um minuto. Aí eu fico pensando no que poderia acontecer a esse casal e o piquenique deles e tenho essas crises de riso, é tudo humor negro mesmo. Uns dois dimenores liquidavam tudo numa boa.

- Você tem uma birra com os menores, não tem?

- Eu não, eu só sou contra o que eu vou lhe figurar. Eu sou João Narigolé, traficante que de vez em quando precisa de outros serviços, notadamente os que envolvem dar cabo de alguém. Aí, quem é que eu chamo para fazer o serviço? Vou ao banco de dados de menores pistoleiros... Deve haver vários bancos de dados desse tipo, é capaz até de já ter no Facebook. Vou lá, escolho um, ofereço uma graninha e ele faz a execução. Se for preso, não pega nada e recebe a grana pelo serviço. Se me dedurar, sabe que eu posso mandar outro dimenor para rechear de azeitonas a cabeça dele e assim por diante, é um esquema perfeito. O dimenor é um grande patrimônio da criminalidade nacional.

- Então você é a favor da diminuição da maioridade penal.

- Eu não! Não distorça minhas palavras! A favor da diminuição geral, não, cada caso é um caso! Eu só tenho propostas sérias e eficazes, esse negócio de fixar idades com base em invencionices psicológicas não resolve nada. Eu sou a favor de uma coisa muito simples: teve idade para apontar a arma e dar o tiro, tem idade para ir em cana. Não é simples? É a coisa mais óbvia para qualquer um e somente os intelectuais é que não concordam, porque as soluções simples dão desemprego para eles, tudo aqui é em função do emprego.

- Você não acha que a responsabilidade penal do menor...

- Ninguém mais é responsável por nada! Isso era antigamente, agora todo mundo é vítima e qualquer sacanagem que apronte recebe um nome artístico, dado pelos psiquiatras! Um nome artístico e uma bolinha e está tudo resolvido, a culpa não é de ninguém, é da síndrome! A culpa não é dele, é das condições socioeconômicas! A culpa não é dela, é dos traumas de infância! Ninguém tem mais culpa de nada, ninguém fica preso, ninguém paga do próprio bolso as multas às empresas, ninguém é responsável por nenhum desastre, todo mundo rouba e mata, há muito tempo que isto é uma esculhambação! O que nós precisamos é de Robespierre! Nada de faxina! Para quem propina, rapina e assassina, o correto é guilhotina! Quero ver isso sair no jornal!