quarta-feira, setembro 11, 2013

Para onde vai o real? - CRISTIANO ROMERO

VALOR ECONÔMICO - 11/09
As economias emergentes exportadoras de commodities estão enfrentando dois choques: a perspectiva de normalização da política monetária dos Estados Unidos e o desaquecimento da China. O primeiro vai dificultar o financiamento da conta de capitais daqui em diante; o segundo mudará os termos de troca (a razão entre preços de exportação e importação) e a conta corrente. Diante disso, para onde vai o real?
O economista Tony Volpon, diretor-executivo e chefe de pesquisas para mercados emergentes das Américas da Nomura Securities, calcula que o real terá que se desvalorizar ainda mais em relação ao dólar - para R$ 2,65, em 2015 -, para que o país possa equilibrar o saldo em conta corrente. Ele acredita que a primeira onda de enfraquecimento do real, quando se moveu de R$ 1,60 em 2011 para R$ 2,00 no ano passado, foi provocada pela queda do PIB potencial.

Naquele período, o país teve desempenho pior que o de seus pares nos mercados emergentes e quebrou o vínculo histórico do real com preços de commodities. Com o PIB potencial se movendo de algo em torno de 4% para algo mais perto de 2%, alguém poderia ver uma queda no valor da moeda e taxas de juros reais menores , diz o analista.

Curiosamente, o governo, diz Volpon, viu essas mudanças como resultado do sucesso de suas políticas, acreditando que elas acelerariam o ritmo de expansão da economia. Na verdade, sustenta ele, tanto o real mais fraco quanto os juros menores decorreram de choques negativos de produtividade que reduziram o crescimento do PIB.

A queda do PIB potencial também explica um aparente paradoxo: o enfraquecimento do real com ampliação do déficit em conta corrente. De fato, a moeda brasileira se desvalorizou mais de 50% desde o pico de 2011, enquanto a conta corrente saltou de um déficit de 2% para 3,4% do PIB. PIB potencial em queda significa que a economia ainda estava absorvendo mais mercadorias e serviços do que podia produzir, levando a um déficit em conta corrente crescentemente maior (e a uma inflação maior), a despeito do baixo crescimento , explica.

A segunda onda de desvalorização do real, verificada desde o fim de maio, está relacionada aos dois choques mencionados (EUA e China). A questão é saber como a reação aos dois choques determinará o nível de equilíbrio do real.

A tese de Volpon é a de que o déficit em conta corrente no Brasil é explicado pelas mudanças nos termos de troca e no volume (ou quantum) de exportações e importações. Ele acredita que o país é um tomador de preços no mercado internacional, logo, os termos de troca são determinados por outras economias. Dados os termos de troca, mudanças na taxa de câmbio real devem determinar o quantum. Essas mudanças devem gerar sinais de preços relativos entre bens comercializáveis e não-comercializáveis, bem como efeitos de renda e riqueza que determinariam o nível de absorção doméstica (a soma de todas as mercadorias e serviços consumidos e investidos).

A diferença entre volumes de exportação e importação a um determinado nível de termos de troca, diz Volpon, determina o déficit em conta corrente. Embora tenha uma economia razoavelmente fechada, o Brasil sustentou o boom da década passada graças a termos de troca favoráveis. Isso permitiu importar mais bens para atender a demanda doméstica. Apesar disso, o país começou a gerar déficits em conta corrente, a partir de 2008, para financiar a diferença entre absorção e produção domésticas.

Com a piora dos termos de troca, o Brasil enfrenta o seguinte dilema: ou mantém o consumo dos últimos anos e é obrigado a financiar um déficit em conta corrente maior; ou reduz o déficit fechando a diferença entre absorção e produção domésticas, na prática, estreitando a diferença entre volumes de importação e exportação.

Volpon diz que os preços das exportações brasileiras, das quais 70% são commodities, podem ser explicados por mudanças defasadas na produção industrial chinesa. Já os preços das importações, 31% das quais são compostas por bens de capital e duráveis, são explicados por mudanças na produção industrial da Alemanha. Olhando as mudanças que estão ocorrendo nesses países, Volpon estima que os termos de troca do Brasil cairão 2014 ao nível do primeiro trimestre de 2009, um declínio de 33% desde o pico, em setembro de 2011.

O economista sustenta que os termos de troca e a razão entre os volumes de importação e os de exportação (o que ele chama de quantum de troca ) explicam mais de 96% das mudanças na conta corrente brasileira desde 2000. Termos de troca crescentes melhoram o saldo em conta corrente, enquanto uma maior proporção de importação sobre os volumes de exportação piora a conta corrente.

Diante disso, Volpon trabalha com três cenários (real de julho deste ano ou com desvalorização adicional de 5% e 10%) para saber em que medida o quantum de troca precisará se desenvolver para manter as contas externas brasileiras financiáveis. No cenário em que o real não se desvaloriza, ele prevê queda no quantum de troca aos níveis vistos em 2010. Para fechar o déficit em conta corrente em 2015, a taxa de câmbio real teria que se depreciar mais 10%.

Podemos também, ao fazer suposições razoáveis sobre diferenciais relativos de inflação, projetar os níveis de taxa nominal de câmbio que teriam que ser atingidos de forma a determinar um dado nível de conta corrente. Para alcançar um equilíbrio no saldo em conta corrente, o real precisaria cair para R$ 2,65 no fim de 2015 [ontem, o dólar fechou a R$ 2,28] , calcula Volpon, que divulgará hoje estudo sobre o tema aos clientes da Nomura.

A saída para enfrentar essa nova realidade, recomenda o economista, é o país adotar iniciativas para aumentar o PIB potencial, o que, por sua vez, ajudaria a fortalecer a moeda. Para tanto, é preciso resgatar logo a confiança dos agentes na política econômica, o que em certa medida, reconhece, o Banco Central já está procurando fazer.

Os choques globais recentes já levaram a políticas melhores no Brasil, uma vez que a era da política de experimentação heterodoxa acabou , observa Volpon, acrescentando que o maior risco, neste momento, está na tentação que o calendário eleitoral representa para a continuidade das medidas que vêm melhorando o ambiente.

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