sexta-feira, agosto 23, 2013

Horrores na Síria - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 23/08

São chocantes as imagens que vêm da Síria. Nos vídeos postados na internet, adultos e crianças estrebucham enquanto sofrem com aparente privação de ar. Nas fotografias, contam-se dezenas de mortos enfileirados.

Seriam, segundo ativistas de oposição ao ditador Bashar al-Assad, sinais de que o governo usou armas químicas contra os rebeldes. Embora provável, a hipótese não está comprovada --há dúvidas até sobre quem foi o responsável pelo ataque. O Conselho de Segurança da ONU convocou reunião de emergência para tentar esclarecer o episódio.

Para os insurgentes, que vêm perdendo terreno nos últimos meses, o suposto ataque é uma demonstração de que o regime despreza a comunidade internacional.

Aliados de Assad afirmam que as imagens são parte de uma armação para provocar intervenção externa --o presidente dos EUA, Barack Obama, já declarou que o uso de armas químicas equivaleria a cruzar a "linha vermelha".

Se comprovada, a utilização do gás sarin, agente paralisante que dificulta a respiração, de fato tornaria ainda mais desumano o cenário da guerra na Síria. Após quase dois anos e meio de violência, são mais de 100 mil mortos e quase 1,8 milhão de refugiados --o equivalente a 70% da população de Damasco, capital do país.

É crucial esclarecer as circunstâncias que deram origem às imagens de ambientes repletos de mortos. O chanceler francês, Laurent Fabius, defendeu ontem que a comunidade internacional reaja com força contra Assad se for confirmado o uso de armas químicas.

Não se trata de decisão trivial. Além do princípio da autodeterminação dos povos, a experiência pregressa desestimula a solução militar. Resultaram em desastre, por exemplo, as intervenções na Somália e na Bósnia, nos anos 1990.

No caso sírio, o contexto é ainda mais complexo porque EUA e Rússia --fornecedora de armas de Damasco-- estão em lados opostos na mesa de negociações.

Até aqui incapaz de conter Assad, a comunidade internacional precisa encontrar instrumentos de pressão mais efetivos, antes que a situação justifique uma ação militar sob os auspícios da ONU.

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