quinta-feira, janeiro 24, 2013

O fim do pior cenário - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 24/01

A Europa vive duas situações distintas: o FMI prevê que a zona do euro terá o segundo ano de recessão, o desemprego aumenta, mas as bolsas e o mercado de títulos públicos vivem um período de euforia. Portugal voltou ontem ao mercado, a bolsa da Grécia subiu 60% em seis meses, e a Espanha teve a maior demanda da sua história, na terça-feira, pelos seus papéis.

Em janeiro de 2012, o custo para rolagem da dívida grega era de 35%. Ontem, foi negociado a 10%. Portugal voltou ao mercado pela primeira vez desde que recebeu socorro em abril de 2011. Vendeu ¬ 2,5 bilhões em títulos, mas a demanda foi cinco vezes maior, com mais de 90% de investidores estrangeiros. Aconteceu o mesmo com a Espanha. O governo espanhol, na terça-feira, teve demanda de ¬ 9,6 bilhões para apenas ¬ 2,7 bi de títulos ofertados. Foi a maior procura por papéis do país em um único leilão. Nos últimos seis meses, as bolsas tiveram alta de 35% na Espanha, 30% em Portugal, e 60% na Grécia.

O que explica a melhora é o anúncio feito pelo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, de garantir a compra de títulos dos países, em caso de agravamento na crise, e também de injetar recursos diretamente nos bancos sem que suba a dívida dos governos. Isso tirou do radar o pior cenário: a saída de um dos países do bloco e um possível efeito dominó.

- O anúncio do Mario Draghi controlou o incêndio no mercado de títulos públicos. Sem a ameaça de saída de um dos países, o apetite por risco ficou maior. As bolsas da Europa também estão subindo muito, por motivo semelhante - explicou José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV.

Mas os problemas estruturais da Europa continuam. Ontem, o FMI revisou para baixo a projeção de crescimento da zona do euro este ano, de 0,2% para -0.2%. A taxa de desemprego atingiu 11,8% em novembro. Na Espanha, é de 26,6%, com uma taxa de 56% entre os jovens. A produção industrial do bloco caiu pelo terceiro mês seguido. A dívida bruta do governo português chegou a 120% no terceiro trimestre. A da Itália, subiu a 127%, e a da Irlanda, a 111%. Ou seja, não faltam números ruins.

José Francisco Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, acha que a economia alemã passará por um período de recessão este ano:

- Olhando para títulos e bolsas, parece que a Europa vive o melhor início de ano dos últimos tempos. Mas olhando para o nível de atividade, não. Até a Alemanha deve entrar em recessão. A previsão do banco central do país é de alta de 0,3% no PIB de 2013 e isso implica um período recessivo.

O economista Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor do banco Modal, acha que há um aumento do apetite por risco, de forma geral, não só na Europa. Chama atenção para outro dado: o Brasil parece de fora dessa festa.

- Há melhora de expectativa em relação aos EUA e à China, que pode puxar a Europa. O que vemos é uma volta dos investidores a mercados mais arriscados. Mas pouca coisa tem vindo para o Brasil, porque a percepção de nossa economia, vista de fora, é cada vez pior.

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