quarta-feira, maio 16, 2012

Tombo da PDG - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 16/05

Veja o tamanho do estrago causado nas ações da PDG no mercado financeiro. Há um ano, a empresa era a maior do setor imobiliário no país, com valor de mercado que beirava uns R$ 11 bilhões. De lá para cá, este valor caiu para R$ 4 bi.

Lobby do amianto

O governador Marconi Perillo, o senador Demóstenes Torres e o deputado Carlos Leréia têm algo em comum, além de relações promíscuas com o bicheiro Cachoeira. Integram o lobby do amianto, que é cancerígeno. A Eternit é dona da mina de Cana Brava, em Goiás.

A volta da capital

Dilma vai despachar do Rio entre os dias 20 e 22 de junho, durante a Rio+20. Será montado um gabinete presidencial no Riocentro.

ONU abelhuda...

Aliás, a ONU está fazendo uma bateria de perguntas a representantes da sociedade civil, de empresas (inclusive CEOs) e do governo interessados em se credenciar para a Rio+20. Entre as questões, acredite, estão cor dos olhos e dos cabelos, a altura e até... o peso, o que tem constrangido algumas mulheres.

Em tempo...

O ex-presidente russo Mikhail Gorbachev também deve vir para a Rio+20.

Os Cachoeiras de lá
A Editora Bertrand lança mês que vem no Brasil o livro “Catturandi”, sobre o trabalho da Divisão Catturandi na caça a grandes mafiosos na Itália. Por segurança, o autor, um policial do esquadrão, assina o livro como IMD.

A esperança é verde
EM TEMPO DE Rio+20, a Escola de Artes Visuais do Parque Lage replantou 20 palmeiras imperiais em seus domínios. Veja as imagens do antes e do depois. A ideia foi preservar o desenho paisagístico original dos jardins do parque. Uma semana após o massacre da serra elétrica de uma construtora que vitimou uma dessas palmeiras em Niterói, mostrado aqui, o gesto sugere que nem tudo está perdido

Além-mar
O juiz Ricardo Pinheiro Machado, de Saquarema, RJ, marcou para dia 30 a audiência de instrução e julgamento do processo em que o português Domingos Duarte Lima é acusado de matar, em 2009, a conterrânea Rosalina Ribeiro, 74 anos. Só não se sabe se o réu, que está em Portugal, vai comparecer.

Segue...

O caso frequenta as primeiras páginas dos jornais portugueses. Duarte Lima, advogado e ex-deputado, teria matado e embolsado uns 5,2 milhões de euros de sua cliente. Há pouco, foi preso em Lisboa, acusado de fraudar o BPN.

Boninho no ringue

Boninho, o diretor da TV Globo, tem feito aulas de muay thai, a luta tão popular na Tailândia quanto o futebol aqui.

Vovô da limpeza
Hoje, Dia do Gari, a Comlurb vai homenagear Jorge Seixas, 81anos, o mais antigo gari carioca. Segundo o secretário Carlos Osório, “o vovô da limpeza” nunca faltou e, em 2013, completará 50 anos no ofício. Viva ele!

É mentira, Terta?

Tony Mayrink Veiga, 83 anos, contou outro dia numa roda de bacanas no Country Club de Ipanema, no Rio, que, numa só caçada, matou, acredite, 30 javalis.

Ilha do Poetinha

“Vinicius no plural. Paixão, poesia e carnaval” é o nome do enredo da União da Ilha para 2013.

Custo do cenário

Liszt Vieira, presidente do Jardim Botânico do Rio, contesta Paula Lavigne, que reclamou do preço da locação de alguns pontos turísticos da cidade. Diz que o parque só cobra em caso de filmagem de comerciais, (“em torno de R$ 10 mil, podendo chegar a R$ 20 mil”).

Psicografado

Hoje, o médium paulista João Alberto Teodoro lança, no Teatro Vannucci, no Rio, o primeiro livro psicografado de Augusto César Vannucci. Ator, diretor e produtor de TV, Vannucci era espírita e amigo de Chico Xavier.

Doença argentina - MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA


A revista The Economist criou o conceito de doença holandesa em 1977, em artigo sobre a má gestão das reservas de gás da Holanda. Seria o efeito de descobertas ou aumento de preços de recursos naturais, que acarretam valorização cambial, desindustrialização e realocação de fatores de produção. Diz-se, com exagero, que há doença holandesa e supostas consequências no Brasil, mas isso é assunto para futuras reflexões.

Agora, inspiro-me na semanal The Economist para examinar outra doença, a argentina: o populismo que flagela o país e o atrasa há anos. Foi assim na recente desapropriação das ações da Repsol na Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF). A presidente Cristina Kirchner a anunciou com estardalhaço e recebeu o apoio de políticos e da população (62% a favor). Prova de arraigado nacionalismo.

A Argentina viveu uma era de ouro entre 1880 e 1930. Em 1929, era uma das dez maiores economias do mundo. Caiu para a 23ª posição em 2008. No centenário da independência (1910), a renda per capita era a oitava. Despencou para a 57ª em 2008. Em 1929, o PIB brasileiro equivalia a 77% do argentino. Em 2011, o argentino representava 17% do nosso.

Em 1909, no otimismo da época, o escritor francês Anatole France (1844-1924) disse que, “ao iniciar-se o século XX, a Argentina ocupa no mundo uma posição quase igual à dos Estados Unidos no começo do século XIX”. O voto secreto foi aprovado em 1912. Em 1929, a classe média constituía a maioria. O país era o quinto em automóveis por habitante. Com 16% da população da América Latina, tinha 45% dos telefones e 58% dos carros. Depois da Inglaterra, era o maior consumidor de filmes americanos.

A Argentina se transformou em celeiro do mundo. Seu êxito decorreu de sete fatores: (1) a estabilidade política, iniciada com a Constituição de 1853, ainda em vigor; (2) a fertilidade natural dos pampas, de altíssima produtividade; (3) a crescente procura europeia por alimentos e matérias-primas: (4) a energia elétrica, que permitiu a frigorificação e a exportação de carne; (5) o navio a vapor, que diminuiu o custo de transporte; (6) a emigração do sul da Europa entre 1880 e 1910, cujo fluxo era proporcionalmente o triplo do observado nos Estados Unidos; (7) a atração do capital estrangeiro, que investiu em frigoríficos e estradas de ferro, fundamentais para a produção e a exportação de carne e trigo.

A Argentina enriqueceu sem instituições para lidar com crises e limitar os gastos dos governos. O sistema político falhou em seu primeiro teste, nos anos 1930, quando despencou o preço das commodities. A agricultura e o país empobreceram. A legitimidade do governo desmoronou. Um golpe militar contra o idoso presidente Hipólito Yrigoyen (1852-1933) foi o primeiro dos vários momentos de instabilidade e violência institucional dos anos seguintes.

A tragédia se acentuou a partir da ascensão de Juan Perón (1895-1974) à Presidência (1946). Perón ganhou popularidade com uma agressiva redistribuição da renda, inclusive mediante gastos sociais. Seu governo derrogou direitos de propriedade. Apropriou-se de parte da renda agrícola para financiar maiores gastos públicos, desapropriações e uma industrialização forçada. Adotou políticas industriais baseadas em subsídios e na substituição de importações. Tudo isso criou interesses e distorções que tiveram consequências adversas para o futuro do país. Depois de Perón, o populismo se tornou atávico.

A reestatização da YPF é mais um elo na cadeia de equívocos da gestão econômica argentina há quase sete décadas. Custa crer que um país tão rico em recursos naturais, dotado de uma população bem-educada e de trabalhadores qualificados, que já conheceu o sucesso, não consiga livrar-se da praga do populismo. Daí por que até a oposição apoiou a desapropriação da Repsol.

A Argentina está dando errado mais uma vez. A inflação, o maior sintoma, é manipulada pelo governo. A autonomia do Banco Central morreu com a nova lei que o vincula ao objetivo de crescimento, incompatível com a estabilidade monetária. É triste.

A ação do governo argentino tem apoio no Brasil. Houve vivas à desapropriação e propostas para adotarmos a mesma política econômica dos hermanos. Vade-retro!

Novos tempos - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 16/05


A lógica desta CPÌ do Cachoeira se inverteu em relação a outras, especialmente a do Orçamento, onde muitos dos parlamentares investigados eram os chefes. Hoje, Demóstenes, por exemplo, aparece mais como prestador de serviços

Houve uma época em que o sujeito preso e acusado de contravenção não via a hora de comparecer à Comissão Parlamentar de Inquérito e falar o que sabia. Foi assim, por exemplo, com José Carlos Alves dos Santos, o pivô da CPI do Orçamento há 19 anos. Mas José Carlos não foi o Cachoeira do seu tempo. Ele era apenas uma peça de um esquema com organograma difícil de desvendar.

Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, está mais para o poderoso chefão. Não por acaso, seu advogado é o mais ilustre da safra de profissionais dessa área trabalhando para personagens do esquema. Márcio Thomaz Bastos foi ministro da Justiça. Por isso, atende o chefe.

A forma como Carlinhos Cachoeira conversa com o senador Demóstenes indica que o senador apenas atendia aos interesses do amigo — se os dois eram sócios, ainda não temos elementos categóricos para afirmar. Mas está claro que a lógica desta CPI do Cachoeira se inverteu em relação a outras, especialmente a do Orçamento, onde muitos dos parlamentares investigados eram os chefes. Hoje, Demóstenes, por exemplo, aparece mais como prestador de serviços.

Por falar em funcionários...
Naquela CPI do Orçamento, a turma encarregada de analisar as cópias de cheques obtidas com a quebra de sigilo bancário se dedicava dia e noite à tarefa. Outros eram encarregados das emendas. Lá estavam Waldomiro Diniz, ex-secretário de Assuntos Parlamentares nos tempos em que José Dirceu era ministro da Casa Civil — a quem uma conversa com Cachoeira pedindo propina derrubou. Também ajudavam nas investigações Bernardo Appy, o ex-secretário de Política Econômica no Ministério da Fazenda, hoje na consultoria LCA. Appy era simplemente Beca. Vale lembrar o trabalho da atual ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, à época assessora dedicada, que vasculhava o Siafi (Sistema de Administração Financeira) como ninguém.

O time do PT, do PDT e do PSDB eram os melhores nessa tarefa, não só seus assessores, como parlamentares. Contaram ainda com o valoroso trabalho da Receita Federal e do Tribunal de Contas da União e do Banco Central. Atualmente, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) parece ser o único da velha guarda que continua dentro de uma CPI, trabalhando com afinco na tentativa de desvendar o grande organograma de Cachoeira. Assessores, na verdade, são bem menos do que os daquela época. E, para completar, avaliam os documentos por palavra-chave nos computadores, e muitos não se dão ao trabalho de ler tudo o que passa pela tela.

Por falar em desvendar...
As duas CPIs têm em comum o fato de os parlamentares tentarem ali proteger governadores. Ocorre que Cachoeira quer continuar protelando seu depoimento — essa história de advogado não ter acesso aos autos logo vai se transformar em falta de tempo por conta do volume de informações a serem analisadas. (Isso nós saberemos logo, uma vez que a CPI convocou Cachoeira de novo). Portanto, será a hora de chamar outras figuras. Nesse caso, os governadores e a Delta Construções, que era de Fernando Cavendish, dificilmente escapam.

Nunca é demais lembrar que, ao abrir para investigar os negócios da Delta com Cachoeira, a Comissão tenderá a se transformar numa CPI das empreiteiras, aquela que o Congresso sempre tentou fazer, mas não conseguiu. Como bem recorda o senador Pedro Simon, que há muitos anos tenta criar essa CPI, as assinaturas para criar esse colegiado vêm e vão como vento ao longo dos anos. Quem sabe agora vai?

Nos próximos dias, a CPI ainda tentará ouvir Cachoeira. Vamos esperar. Mas, como o chefão não quer depor, resta à CPI buscar um outro foco para jogar luz. E se você pensar bem, talvez não seja má ideia. Afinal, Cachoeira já está preso. Faltam os outros.

Dilma x Câmara - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 16/05/12

A despeito da declaração da presidente Dilma, ontem, para os prefeitos, a proposta para os royalties do petróleo, em debate na Câmara, vai redistribuir as atuais receitas. "A Casa quer distribuir o que já está em produção", justifica o relator, deputado Carlos Zarattini (PT-SP). O texto pretende garantir a receita dos estados produtores obtida em 2011 até o ano de 2023, mesmo em caso de queda na produção, que pode atingir o Espírito Santo e municípios do Norte Fluminense.

União resiste a ceder mais
Zarattini esteve com o governador Sérgio Cabral (RJ), apresentando a nova proposta. "O Cabral me disse que este era o melhor projeto até agora (para os produtores), mas que iria à Justiça por uma questão de princípio, pois não concorda em dividir o já licitado", contou Zarattini. Ontem, o relator reuniu-se com a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Márcio Holland (secretário de Política Econômica) e Marco Antonio Almeida (secretário de Petróleo). Ele quer que a União ceda mais, além dos 10% de receita de que já abriu mão. O governo não aceita, mas ainda haverá uma reunião com o ministro Guido Mantega.

Delta
Assim como os contratos federais, senadores querem que os pagamentos pelos governos estaduais à Delta sejam feitos em juízo. A maioria tem contratos com a empreiteira nas áreas de construção, gás e petróleo, lixo e energia.

"Do jeito que está, daqui a pouco vão soltar o Cachoeira e prender o Gurgel!” — Pedro Taques, senador (PDT-MT), para o deputado Vieira da Cunha (PDT-RS)

DUCHA FRIA. Até os integrantes mais otimistas da CPI avaliam que a investigação vai cachoeira abaixo. A comissão virou palco de uma guerra institucional: CPI x STF e PF x MP. “A CPI colocou o pé no freio. Pelo andamento, não vai dar em nada. É desanimador”, resumiu o deputado Delegado Protógenes (PCdoB-SP). A CPI teme que a decisão do ministro Celso de Mello (STF), na foto, de suspender o depoimento de Cachoeira vire uma espécie de jurisprudência que venha a beneficiar todos os acusados pelos inquéritos Vegas e Monte Carlo.

A razão
O Ministério da Justiça atribui o descontentamento da Polícia Federal ao não cumprimento de uma promessa: a de pagar um adicional de fronteira. A verba extra já foi autorizada, mas ainda não há definição da forma jurídica para fazê-lo.

Ah! Ah! Uh! Uh! Eu sou maluco!
Desabafo do líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA): "Os fatos virão à tona. O nosso pessoal precisa ter juízo. Estão transformando o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e a subprocuradora Cláudia Sampaio em vítimas". Mal sabe ele que integrantes da CPI estão querendo propor uma acareação entre a subprocuradora Cláudia Sampaio e o delegado da Polícia Federal Raul Marques de Souza (Operação Vegas).

Expectativa
O Conselho de Ética do Senado aguarda para saber qual a estratégia de Márcio Thomaz Bastos para tentar derrubar a convocação de Carlos Cachoeira. Seu depoimento, como testemunha de Demóstenes Torres, foi marcado para o dia 23.

Quanta diferença
A performance do delegado da PF Matheus Mella Rodrigues, ontem no Conselho de Ética, foi mais acanhada do que na CPI. Ele deixou o loquacidade de lado, falou menos, deu respostas breves e consultou a todo momento o inquérito.

UM GRUPO pluripartidário de integrantes da CPI tem se reunido buscando manter o foco da investigação. Para eles, a prioridade é a corrupção e a ligação da Delta com o contraventor Carlos Cachoeira.

O PRESIDENTE do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), bate palmas para a presidente Dilma na questão dos royalties do petróleo: "Nunca na História do Brasil um presidente teve a coragem de dizer a três mil prefeitos o que eles não queriam ouvir".

PERICLITANTE. Há muito descontentamento no governo com a atuação do Itamaraty para garantir o êxito político da Conferência Rio+20.

Na prática: a Grécia sem o euro - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 16/05

País pode até melhorar daqui a alguns anos, mas saída do euro vai causar colapso social e econômico


OS BRASILEIROS de uns 45 anos de idade têm experiência com troca de moedas. Talvez se lembrem de avós chamando as notas de um cruzeiro de "mil-réis" ou as de um cruzeiro novo de "mil cruzeiros", para grande confusão nossa, crianças no início dos anos 1970.

Mas essas trocas de moeda eram brincadeira de banco imobiliário, mera mudança de papel pintado. Se e quando a Grécia sair do euro, haverá o caos no sentido original da expressão grega: o vazio ou um abismo da confusão.

Trocar notas e moedas será o mais ínfimo dos problemas.

A Grécia terá de se obrigar a sair do euro se não cumprir seus acordos com a União Europeia. Não terá então mais empréstimos europeus. A fim de pagar suas contas mais ínfimas, o governo grego terá, pois, também de "imprimir" dinheiro. Para tanto, terá de ter seu próprio dinheiro, a dracma, digamos.

O governo grego tem deficit (gasta mais do que arrecada) equivalente ao valor de 5% do PIB, afora juros (que deixará de pagar, a princípio). Sem dinheiro europeu, terá de imprimir dinheiro, como já se disse, aumentar impostos e/ou cortar gastos. Quanto menos equilibrado for seu orçamento, mais dinheiro terá de "imprimir" a fim de pagar suas contas. Quanto mais imprimir, maior será a inflação. Os mais pobres ficarão ainda mais pobres.

A Grécia tem deficit comercial (importa mais do que exporta) no valor de uns 12% do PIB. A fim de pagar suas importações, terá de impor controle de capitais: euros sairão do país apenas sob ordem do governo. De outro modo, pode faltar euro para pagar compras de combustíveis, comida, remédios e outras importações essenciais.

Sem crédito internacional, sem conseguir euros por meio do comércio internacional e dada a rejeição geral da dracma (quem as trocaria por euros?), haverá penúria. A Grécia terá de limitar importações.

Por que o controle de capitais? Quem tem euros vai guardá-los no colchão ou depositá-los em bancos seguros (fora do país, em países do norte da Europa provavelmente). A nova moeda grega, a nova dracma, será impressa aos borbotões. Vai se desvalorizar barbaramente em relação ao euro. Quem puder não vai aceitá-la ou vai se livrar das dracmas assim que possível.

Provavelmente isso já deve estar ocorrendo: sangria dos bancos e fuga de capitais (as pessoas sacam o dinheiro e o enviam para fora). Com a saída do euro, o governo tende a converter todos os depósitos bancários e contratos em dracmas: a converter moeda boa em ruim. Quem puder vai tentar evitar isso. O governo, por sua vez, vai tentar policiar remessas e até fronteiras (gente com mala cheia de dinheiro).

A conversão de dívidas e contratos vai causar quebras, de bancos e empresas: gente com dívidas em euros e captação ou renda em dracmas vai quebrar. As dívidas em euros explodirão. Haverá um tumulto de processos legais, pois os euros serão, na prática, confiscados.

A princípio, haverá inflação, desvalorização brutal da dracma, falências em série, penúria no governo. O valor real do salário vai desabar, tudo ficará mais caro.

Pode melhorar depois? Talvez. Mas, com ou sem Europa, a Grécia ficará mais pobre e terá de enfrentar um tumulto social que talvez tenha consequências políticas graves.

Dilma consolida autoridade presidencial - ROSÂNGELA BITTAR


Valor Econômico - 16/05/12


Dilma, a presidente, está mais à vontade no cargo este ano do que esteve em todo o ano passado, e seu avanço sobre o próprio governo foi possibilitado por dois fatos inesperados e circunstanciais que acabaram lhe dando maior autonomia: o afastamento temporário do ex-presidente Lula da cena política, por razões de doença, e o afastamento definitivo do ex-ministro Antonio Palocci, uma figura muito forte que acabava impondo seu ritmo e seu estilo no Palácio do Planalto.

Até pouco tempo antes de deixar a cena governamental, Lula já era ouvido mais nos assuntos da política e dos políticos do que de governo, e a sua volta, agora, depois de concluído o tratamento de saúde, já encontra uma outra dinâmica instalada. Não que deixará de ser o mais influente e importante dos mentores, mas inclusive pelo afastamento de vários ministros que havia imposto à sucessora, sua ascendência sobre o governo será naturalmente menor.

No que se pode definir como uma nova abordagem do comando, quase do tipo começar de novo, a presidente radicalizou: passou a fazer só o que quer, a desautorizar quem age em seu nome, a resistir a imposições e timings alheios. Por isso a frequência com que se ouve o dito pelo não dito, as esperas prolongadas no tempo para a tomada de decisões. Dilma vai fazendo ao seu modo, nomeando os seus próximos, restabelecendo a rede de confiança e mandando todo mundo se calar. Eles se calam.

Segundo comentários na aliança governista, onde também se vai desistindo de empurrar a ferro e fogo as demandas goela abaixo da presidente, do jeito que está montado o governo, agora, Dilma terá condições de chegar a julho de 2014, no início efetivo da campanha da reeleição ou da hipótese, menos provável, da eleição de um sucessor, "tendo o que dizer à população".

Além dos programas de promoção social e econômica, a agenda de governo da presidente Dilma está, com uma ou outra exceção - de que o exemplo mais citado é o programa Sem Fronteiras, de formação pós-graduada no exterior - voltada para a economia.

Nos discursos dos primeiros meses deste segundo ano Dilma tem reafirmado os problemas que se transformaram em objeto de sua obsessão, todos no trilátero da economia: juros, câmbio e impostos. O enfrentamento dos juros altos se dá às claras e, segundo um intérprete das intenções presidenciais, ela vai até o limite para não ver mais, no Brasil, lucros bancários de um bilhão por mês. Os bancos terão que trabalhar mais para ganhar a dinheirama com que estão acostumados, em resumo. Embora já se admita, depois do primeiro tranco, concessões para que resolvam os problemas que alegam na sua estrutura, não haverá abertura de guarda, será pressão integral. Quanto ao câmbio, o mundo se encarregou de sacudir, e os impostos, Dilma começa a tratar deles agora. A presidente quer não apenas reduzir a carga tributária, mas simplificá-la. Pretende começar negociando com Estados - por exemplo, a renegociação da dívida em troca de uma alíquota única de ICMS - é uma ideia.

O governo se vangloria de ter obtido, até agora, sucesso em 6 das 7 questões que discutiu com empresários em duas reuniões de grupo de representantes com a presidente. O único que não avançou, reconhece, foi o barateamento da energia, por isso escolhido para ser o seu próximo passo. A economia, para crescer, precisa de condições internas e externas, diz-se o axioma no Palácio do Planalto, e as internas serão construídas, como já estão.

Para realizar seu plano e poder chegar a julho de 2014 na situação ideal que deseja, a presidente acredita que não precisará de embates políticos radicais. Ao contrário, pretende evitá-los. Há dois conceitos muito lembrados nos gabinetes do governo. Um, é que "não somos a Argentina, trabalhamos em paz", e suas variações, como a que evita comparações entre Dilma e Cristina Kirchner.

Que ela irá brigar lá na frente com a oposição, não há dúvida, mas agora sua prioridade é governar. "Ninguém governa na guerra", é um dos preferidos lemas no Palácio do Planalto.

Nessa linha de raciocínio o governo gosta de exemplificar a partir da relação da presidente com os principais políticos da oposição, notadamente filiados ao PSDB. Recebeu os sábios do mundo, grupo de que faz parte o ex-presidente Fernando Henrique, para jantar no Palácio da Alvorada; trata o ex-presidente do partido adversário com educação, até com deferência; aprovou a entrega da relatoria da Comissão da Verdade no Senado, assunto delicado e seu grande interesse, ao senador do PSDB de São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira; sua conversa com o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, flui. Enfim, um rosário de exemplos para provar que sua ação, toda, é intencional e formulada com esmero. Ou seja, Dilma também não é Lula.

Por isso, o desgosto com a CPI do Cachoeira, criada com o incentivo do ex-presidente para atender a demandas do PT e do PMDB (Renan Calheiros renasceu com o poder na comissão), além do ex-presidente Fernando Collor. Esse tipo de ocorrência, a CPI, pode levar, ao segundo ano de mandato, o risco que as demissões sucessivas de ministros levaram ao primeiro. Principalmente, o da paralisia do governo.

E o que cria mais tensão para Dilma, hoje, na CPI, é a já histórica ideia fixa, do PT e de Collor, de aproveitar a oportunidade para uma vingança e criminalizar o trabalho da imprensa. "A agenda do PT não é a agenda do governo", diz um interlocutor da presidente. O que se conta, em Brasília, é que a sanha tem dias contados: "Quem mandou começar já mandou parar com essa história da imprensa".

Mas embora não tenha levado adiante ainda o projeto de controle da mídia, deixado a este pelo governo anterior e atualmente revitalizado pelo PT no contexto da CPI, Dilma não o engavetou. Acredita que a lei em vigor é da era pré-Internet e é necessário uma atualização, mas não pode ser algo escrito com o fígado, logo depois da disputa eleitoral, eivada de idiossincrasias e de fissura por controle, como o texto em causa. O projeto será podado de tudo o que ferir a democracia para, um dia, ser lançado adiante. Não será no clima de desvios do foco da CPI do Cachoeira, muito menos num contexto de vinganças, que esse marco regulatório se realizará.

O santo tombo do JPMorgan - ELIO GASPARI


FOLHA DE SP - 16/05


Jamie Dimon, o 'rei de Wall Street' do século 21, perdeu em seis semanas a fortuna do maior banqueiro do 20



Até o mês passado, Jamie Dimon, do JPMorgan, era considerado o "rei de Wall Street". Esteve no páreo para o cargo de secretário do Tesouro dos EUA e é um dos queridinhos do companheiro Obama.
Talvez ele entre para a história da banca, mas por outra porta, a do desabamento da teoria segundo a qual o mercado financeiro deve ser deixado em paz, livre da má influência dos governos e dos políticos.
Dimon é o líder do combate à proposta de Paul Volcker, segundo a qual os bancos não devem arriscar os fundos de seus depositantes, garantidos pelo governo, em apostas especulativas. Quem vendeu ações da Apple em 1985 fez um mau negócio. Quem as comprou, ficou rico, mas a empresa produz coisas que podem ser embrulhadas. Outra coisa é apostar em operações incompreensíveis até mesmo para Dimon. Foi isso que o JPMorgan fez, tomando um tombo de US$ 2 bilhões.
Quando morreu, em 1913, John Pierpont Morgan deixou uma fortuna que, calculada em dinheiro de hoje, valeria US$ 2 bilhões. Em apenas seis semanas, Jamie Dimon e Ina Drew, a chefe do serviço de investimentos, perderam um Morgan.
Até aí, jogo jogado, porque o banco aguentou o prejuízo. Ela perdeu o emprego, mas Dimon continua no seu. Em 2011, a doutora levou para casa US$ 15,5 milhões em salários e benefícios. Segundo a revista "Fortune", era a 8ª mulher mais bem paga do mundo. (Dimon recebeu US$ 23 milhões, ervanário equivalente ao patrimônio que Lord Keynes acumulou ao longo da vida lendo jornais e jogando na Bolsa.)
A Europa está convulsionada, 11 governos caíram, há outros na fila e os Estados Unidos se esforçam para sair da Grande Recessão, mas a banca acha que sabe tudo. Emprestaram dinheiro a governos que não teriam como pagar e pedem "austeridade" aos seus povos.
Há 30 anos, quando essa charanga tocou no Terceiro Mundo, foi possível dobrar os governos (inclusive o brasileiro), mas hoje o truque revela-se insuficiente acima do Equador.
Felizmente a crise de hoje tem no economista Paul Krugman, com seus artigos na imprensa, uma voz de alerta, crítica e frequente. Ele não é apenas mais um colunista, é um Prêmio Nobel de Economia.
Há anos Krugman defende a intervenção dos governos, a alta dos juros americanos e a proposta de Paul Volcker como o melhor caminho para equilibrar o mercado financeiro. Ele nunca acreditou nas mágicas do plano Merkozy (agora sem o sufixo).
Se depois da Primeira Guerra Mundial houvesse um Krugman informando que os barões da finança mundial não eram do tamanho que se pensava, talvez o desastre da Depressão pudesse ter sido evitado. Montagu Norman, o presidente do Banco da Inglaterra, era pancada. Julgava-se capaz de atravessar paredes. O presidente do Fed, Benjamin Strong, tinha saúde precária e vivia períodos na morfina. Hjalmar Schacht, do Reichsbank, tornou-se nazista por oportunismo, e sua mulher, por fé. Ela tinha uma suástica de rubis e brilhantes.
Ina Drew prestou um serviço ao debate. Ela usava em operações especulativas o dinheiro de correntistas de bancos que tinham saldos garantidos pelo governo. O que Paulo Volcker quer é separar o destino dos depósitos. Quem quiser que seu dinheiro entre nessa ciranda às vezes lucrativa, tudo bem. Quem não quiser estará protegido.

As amarras - ANTONIO DELFIM NETTO


FOLHA DE SP - 16/05


O problema da taxa de juros acompanha a sociedade há ao menos 4.000 anos! Já no Código de Hamurabi, quase 2.000 anos antes da nossa era, encontramos taxas fixadas porque registravam grande variabilidade: 33,33% para empréstimos de cereais e 20% para empréstimos de prata -ambos, naquele tempo, exercendo a função de meio de pagamentos.
Quinze séculos depois o juro foi estigmatizado por Aristóteles, que o condenou duramente porque ele era "moeda parida pela própria moeda", um fato contra a natureza...
Apesar de condenado pelos canonistas medievais, nunca deixou de existir. O laxismo da igreja em relação à contradição de condenar o juro, mas aceitar que seus amigos, os banqueiros florentinos, enriquecessem com ele, levou Lutero a atacá-los para atingir o papa.
Foi só nos meados do século 19 que se reconheceu explicitamente -com o apoio da economia política nascente, que acreditava em leis naturais- que a lei dos homens é impotente para impor limite fixo permanente à taxa de juros.
O nível da taxa de juros real não é uma constante da natureza. Ela depende fundamentalmente das instituições que garantem a segurança do credor, da política monetária e do comportamento fiscal do governo.
O Brasil construiu condições para deixar de ter a taxa de juro real teratológica produzida pelo desespero de alguns momentos e que se perpetuou pela cômoda política monetária equivocada que a seguiu.
É por isso que devemos apoiar a firme decisão do governo de enfrentar o problema do juro real. Primeiro, com a mudança da política monetária e, agora, pela correção dos fatores impeditivos de sua livre determinação pelo mercado.
Ter como objetivo uma taxa de juro real parecida com a internacional é mais do que saudável, é absolutamente necessário para uma melhor e mais eficiente organização produtiva geradora do crescimento econômico. Isso não tem nada a ver com "guerra" contra banqueiro. Tem a ver com as restrições institucionais construídas pelo próprio governo e que hoje vão sendo superadas.
A coragem de enfrentar com firmeza o falso dilema das cadernetas de poupança com medidas cuidadosas e sem traumas, depois de ter resolvido o grave problema da aposentadoria do setor público, sugere a disposição do governo de prosseguir na superação das outras "amarras".
Entre esses entraves estão: o aperfeiçoamento do sistema tributário, a efetiva criação de um mercado de capitais, a ampliação das concessões, o fortalecimento da liberdade dos trabalhadores para que a livre negociação de acordos coletivos prevaleça acima das leis sem violar os seus direitos constitucionais etc.

Ilusão à toa - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 16/05/12

Tanto faz como tanto fez. Do ponto de vista da investigação em si é quase irrelevante o adiamento do depoimento de Carlos Augusto Ramos na CPMI que trata das interligações dele no mundo da jogatina ilegal, do tráfico de influência, da espionagem, da corrupção, lavagem de dinheiro e negociatas de natureza público-privadas.

A presença do dito Cachoeira ajuda a animar a cena e a manter em evidência o fato. Mas, de qualquer modo e a qualquer tempo em que vá à comissão, o fará sob a regra do silêncio.

Seja para preservar seu direito constitucional de não se incriminar, seja em obediência aos ditames do sigilo inerente ao esquema de contorno mafioso de que se cuida.

Quanto mais calado ficar, menos chance tem de se enrolar mais do que já está embrulhado nos inquéritos da Polícia Federal e no processo em curso na Justiça de Goiás que, por sinal, acaba de pedir o bloqueio dos bens do acusado de chefiar operações de jogo ilegal, espionagem, corrupção de agentes públicos e privados e lavagem de dinheiro.

Parlamentares com larga experiência em comissões de inquérito não conferem grande valor a depoimentos. Estes têm mais o intuito de manter acesa a chama e de cumprir o rito do direito à defesa.

Surpresas, contradições importantes e informações relevantes quando aparecem vêm de personagens secundários. Já tivemos exemplos de motorista, secretária e até de um publicitário que deram contribuições efetivas para o rumo das investigações.

No caso de Carlos Augusto Ramos isso é altamente improvável. Não há o menor interesse dele nem do sistema interligado de advocacia que atende aos atores principais desse espetáculo, de denotar parceiros e facilitar o desmonte definitivo da organização.

Portanto, é inútil esperar que desse mato saia algum coelho.

De verdade. Em favor da Comissão da Verdade, repita-se o que já foi dito: a composição não obedeceu a critérios partidários e observou o equilíbrio ideológico, descontando os extremos.

Agora o mais importante não são os nomes. É o modo de trabalho da comissão e a observância dos critérios da lei que dá ao grupo dois anos de prazo para reunir informações sobre as agressões aos direitos humanos em tese de 1946 a 1988.

Na prática o levantamento vai se concentrar no período de 1964 a 1985 porque o alvo da comissão são as lesões por motivação política, o que ocorreu no regime de exceção.

Haverá duas polêmicas básicas com as quais a comissão terá de lidar: a apuração dos crimes cometidos pelos grupos que aderiram à luta armada e a questão das punições.

Embora esteja fora do escopo da Comissão da Verdade e ao abrigo da Lei da Anistia, haverá movimentação para que as informações sejam usadas para a abertura de processos judiciais contra os agressores.

Serão revolvidos e revividos conflitos? Certamente, mas é inevitável e indispensável porque sem isso esse passado nunca passará.

De maduro. A Justiça Eleitoral já começou a aplicar multas por antecipação de campanhas, o que denota o aumento do rigor em relação a tempos em que imperava a tolerância.

Por outro lado, porém, evidencia a caducidade da legislação que considera legais apenas campanhas iniciadas a partir de 5 de julho dos anos eleitorais.

A propósito da necessidade de se adaptar a lei (função do Congresso) à realidade e ao princípio da igualdade de condições entre candidatos, o ministro Arnaldo Versiani, do Tribunal Superior Eleitoral, fez observação tão precisa quanto pertinente ao jornal Valor Econômico.

Disse o ministro, no que deveria ser ouvido pelos partidos: "Poderíamos antecipar as convenções até para equilibrar as forças. Quem concorre à reeleição inaugura obras durante o primeiro semestre, ou seja, aparece para o eleitor, enquanto o adversário não pode divulgar sua candidatura".

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 16/05

Cresce expectativa para redução de taxa de fundos

Ao reduzir taxas de administração de três fundos de investimento anteontem, o Santander aumentou a expectativa para que grandes bancos privados acompanhem o movimento.

Em um deles, a taxa foi de 3% para 2,5% ao ano.

"Com o estreitamento dos 'spreads', com a redução de juros, os bancos de varejo terão de cortar as taxas na outra ponta", diz Hiram Maisonnave, diretor vice-presidente do BNP Paribas.

"Mais do que pressão, é sobrevivência. Cobrar 4% ou 3% de fundo de varejo ligado ao CDI é um absurdo."

Para Maisonnave, mesmo nos multimercados, de maior custo de gestão, as taxas cairão. Os principais bancos públicos saíram na frente ao cortar taxas, mas dentro de condições limitadas.

Para um executivo do mercado que não quis se identificar, a saída para os bancos é cortar o valor mínimo exigido em aplicações para ganhar escala, como alguns fizeram.

"A redução de taxa de fundo ligado à Selic é inevitável se juros continuarem a cair, mas ajustes em tíquete de entrada [quantia mínima] disponibilizarão produtos mais competitivos para mais clientes", diz Carlos Takahashi, presidente da BB DTVM.

Consultados, grandes bancos afirmaram que o assunto vem sendo discutido internamente. Bradesco e Santander informaram que não tinham porta-voz para entrevista ontem, enquanto o Itaú preferiu não se manifestar por ora.

"Com a Selic em 9% e com perspectiva de queda, se bancos de varejo não agirem, perderão mercado"

HIRAM MAISONNAVE
diretor vice-presidente do BNP Paribas

RESPONSÁVEIS PELA CRISE

A população espanhola é a que menos relaciona a crise com os erros do governo, de acordo com levantamento do BCG (The Boston Consulting Group).

A pesquisa mostra que 84% dos espanhóis consideram que seus governantes têm grande responsabilidade pela atual situação econômica do país.

Nos Estados Unidos, esse índice é de 94%, enquanto na Grécia chega a 100%.

De acordo com o estudo, na Itália e na Espanha, uma em cada três pessoas diz estar insegura profissionalmente. Na China, apenas 12% da população têm medo de perder o emprego atual.

Apesar disso, 83% dos chineses acreditam que a próxima geração terá uma melhor qualidade de vida. Na Inglaterra, na Espanha, e nos EUA, o número é de 28%, 27% e 21%, respectivamente.

Cerca de de 15 mil pessoas de 16 países foram ouvidas.

União Os escritórios ASGV Advogados e Simon Associés assinaram contrato de cooperação que prevê trocas entre as bancas de São Paulo e Paris. Os escritórios passarão a atender clientes pessoalmente nas duas capitais. O ASGV foi fundado em 2011 após a cisão do Gouvêa Vieira Advogados.

Turista perdido Apenas 12,5% dos balconistas de lojas de São Paulo compreendem inglês, segundo levantamento da Companhia de Idiomas. Cerca de 9% conversam no idioma muito bem. Metade dos atendentes dos estabelecimentos visitados para a pesquisa não falam nada.

DESONERAÇÃO

Mais de cem artigos usados por pessoas com deficiência podem ser desonerados em 2013, segundo a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência de SP. Uma comissão se reuniu nesta semana para discutir como limitar a isenção a esse segmento.

"Trabalhamos para desonerar a cadeia produtiva e os itens mais tecnológicos, mas não podemos privilegiar empresas que produzam simultaneamente cadeira de rodas e elevadores", diz a secretária Linamara Battistella.

Para ela, a redução no preço final será de ao menos 10%. A associação da indústria do setor prevê queda de 30%.

"A medida não vigorará em 2013", diz Rodrigo Rosso, da Abridef. No caso das cadeiras de rodas, já há desoneração de ICMS, mas a Abridef considera a medida inócua. "Pagamos imposto para comprar matéria-prima. Não tenho restituição e repasso isso ao consumidor. A isenção é fictícia."

etanol vantajoso

O preço do etanol subiu 2,04% nos postos paulistanos, segundo o índice de preços Ticket Car de abril. O litro do combustível é encontrado em média a R$ 1,89.

Ainda assim, segue com vantagem ante a gasolina, que teve ligeira alta de 0,14% e vale R$ 2,71 por litro.

O etanol mais caro foi encontrado nos bairros Barra Funda e Cidade Jardim (ambos na zona oeste), a R$ 2,09 por litro em média.

No resto do país, o etanol teve retração de 0,05%.

Fogo brando - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 16/05

O bom senso se impôs e a CPI do Cachoeira desistiu de uma disputa vã em torno da convocação do procurador- geral da República Roberto Gurgel, substituindo- a por uma série de perguntas que devem esclarecer oficialmente o mal-entendido sobre o processo contra o senador Demóstenes Torres e suas relações com o mafioso Carlinhos Cachoeira.

Descontando o descontrole emocional do senador Collor de Mello, não parece haver entre os integrantes da CPI posições radicalizadas a ponto de abrir uma guerra com o Ministério Público Federal, e é provável que a pendenga se resolva sem a necessidade de uma disputa judicial entre o Congresso e o Judiciário.

Tudo indica que o procurador- geral agiu de maneira heterodoxa, não seguindo rigorosamente a letra da legislação que manda que em 15 dias o processo seja arquivado, ou novas investigações sejam solicitadas.

Mas o fez de boa-fé, com o objetivo de permitir a continuidade das investigações, que até aquele momento ele considerava insuficientes para fazer provas contra um senador da República.

Diz a subprocuradora Cláudia Marques que não arquivou o caso contra o senador Demóstenes Torres porque o delegado da Polícia Federal pediu mais tempo para investigações, o que é negado oficialmente pela PF.

Esse mal-entendido precisa ser esclarecido, é evidente, mas a primeira reação não pode ser de desconfiança contra a ação do procurador-geral. Se ele estivesse interessado em ajudar o senador Demóstenes Torres, teria arquivado o inquérito por insuficiência de provas.

O que o levou a sobrestar a decisão por três anos se não a vontade de esperar novas investigações, como afirma? O relator da CPI, o petista Odair Cunha, deu o tom do debate ao afirmar: “Não estamos investigando a conduta de qualquer membro do Ministério Público Federal. Nós estamos investigando a organização criminosa criada por Carlos Cachoeira”.

O senador Collor de Mello é um caso à parte nessa CPI. Ele é o mais ativo agente de um setor petista que resolveu usá-la para, no plano imediato, ir à forra contra seus adversários, e criar um clima político de descrédito da imprensa e do Ministério Público com vistas ao julgamento do mensalão.

Interessante é que Lula e o PT foram os principais incentivadores das denúncias contra o então presidente Collor, o que demonstra que a sede de vingança de Collor é seletiva.

Os que estão no poder contam com sua adesão, e sua raiva vai contra a imprensa, que considera responsável por seu impedimento como presidente.

A perseguição ao procurador- geral é um bônus que concede aos mensaleiros. Collor deveria, ao contrário, estar em paz consigo
mesmo, pois na prática está conseguindo com a presidente Dilma o que não havia tido com nenhum dos antecessores, uma espécie de anistia de fato.

Ao ser convidado juntamente com os outros expresidentes vivos para a cerimônia de instalação da Comissão da Verdade, assim
como já o fora no almoço para o presidente dos Estados Unidos Barack Obama, ele tem restituída sua condição de ex-presidente, o que o próprio Lula não reconheceu quando não o incluiu na comitiva que foi a Roma para os funerais do Papa João Paulo II em 2005.

O ex-presidente dos Estados Unidos Richard Nixon, que renunciou para não ser cassado, foi anistiado por seu vice Gerald Ford, mas passou o resto da vida amargando seu gesto.

Afora, portanto, os esgares e caretas de Collor, a CPMI tende a permanecer em fogo brando, porque os governistas já descobriram que não têm força políticapara transformá-la em outra coisa que não seja uma investigação sobre as atividades do bicheiro e da empreiteira Delta, e suas ramificações por vários estados do país.

Pelos depoimentos dos delegados da Polícia Federal, revelando o conteúdo dos inquéritos, e com os novos documentos e gravações que estão chegando à CPI, está ficando cada vez mais claro o envolvimento de Cachoeira com a empreiteira Delta, o que torna inevitável a convocação do expresidente do grupo, Fernando Cavendish, para um depoimento.

Ainda mais agora, que a nebulosa venda da empreiteira para o grupo do frigorífico JBS coloca em dúvida sua verdadeira intenção.

A verdade é que o mais próximo que já chegamos de um Estado controlado por mafiosos foi esse esquema do Cachoeira, que tinha no bolso do colete senadores, deputados, governadores, prefeitos e vereadores e pensou até em fazer do cúmplice, o senador Demóstenes Torres, ministro do Supremo Tribunal Federal.

Um esquema que precisa ser destrinchado, sem que questões políticas como a tentativa de emparedar o procurador-geral da República ou a imprensa tomem espaço do que realmente conta: o combate à corrupção.

Mas dificilmente sairá do depoimento dos principais envolvidos uma revelação que mude o rumo da investigação.

O governo tem uma maioria defensiva na CPI e conta também com uma coincidência a seu favor em relação aos três principais vetores da investigação.

Os advogados Márcio Thomaz Bastos, de Cachoeira; Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, do senador Demóstenes Torres; e José Luiz de Oliveira, da Delta, têm em comum ligações pessoais e profissionais com importantes membros do governo.

Thomaz Bastos foi ministro da Justiça de Lula e continua sendo seu conselheiro. Kakay é amigo de José Dirceu, de quem José Luiz Oliveira é advogado no mensalão.

Como se vê, só surgindo uma ex-mulher ressentida, ou um ex-marido na mesma situação, um motorista ou uma secretária para essa investigação da CPI ir a algum lugar.

O sebo e o céu - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 16/05


Num dia 30 ou 31 de dezembro, fui visitá-lo na Elizart, seu sebo na rua Marechal Floriano, no velho centro. Na saída, soltei uma frase: "Quando morrer, não quero ir para o céu. Quero ir para um sebo". Ele gostou e anotou.
Manuel Mattos, ou Manel, à antiga, era assim. Vivia pelas palavras, ditas ou impressas.
Se minha ideia era a de ir para um sebo depois de morto, Manel fez melhor: praticamente nasceu em um, fundado por seu pai, e passou a vida nele. O mundo era só uma extensão das estantes. Não se contentava em comprar livros raros e machucados, às vezes sem capa, dar-lhes um trato -como copiar à mão o sumário e aplicá-lo à guisa de capa- e em exibi-los em bancadas para o primeiro que passasse. Conforme o livro, tinha de procurar a pessoa que, a seu ver, fora feita para ele.
Quando lhe disse que estava pesquisando sobre Maneco de Almeida, autor de "Memórias de um Sargento de Milícias", cumulou-me de livros, revistas e recortes raros sobre seu xará, material que tirou de sua reserva particular. Não contente, subiu comigo ao morro da Conceição, um dos cenários do livro. Manel sabia tudo sobre cada esquina daquele e de outros berços do Rio.
Pouco depois, caiu doente. O câncer castigou-o por mais de um ano. Mas, a cada má notícia, ele se superava e vencia mais uma etapa.
Até que, no dia 12 de abril, ligou-me no fim da tarde. Esperava viver mais um dia -só mais um-, mas sabia que não seria possível.
"Não pensei que fosse acabar como peru, morrendo de véspera", ele riu. Citou minha frase pela última vez. Despediu-se tranquilo e partiu poucas horas depois.
Visitá-lo na Elizart no último dia útil do ano já era uma tradição. Continuarei a fazer isso. O sebo estará lá, tocado por seus irmãos e seu filho. E sei que, de muitas maneiras, Manel também estará. Afinal, é o seu céu.

A angústia no bolso - MARCELO COELHO

FOLHA DE SP - 16/05


Fizeram o diabo com a "Mona Lisa". Duchamp pintou-lhe um bigode; Botero copiou-a, acrescentando vários quilos à sua figura, e Mauricio de Sousa desenhou a Mônica na mesma pose. De alguma forma, o quadro de Leonardo da Vinci resiste a essas paródias. É até provável que tais brincadeiras tenham o objetivo inconsciente de "testar" o poder da Gioconda.
Por mais banalizada que a imagem esteja, acho que seu mistério continua. Não tenho certeza se "O Grito", de Edvard Munch, aguenta a superexposição que lhe aconteceu nos últimos tempos.
Desde o espetacular arremate do quadro, num leilão no começo do mês, vê-se "O Grito" em toda parte.
Serve de símbolo, entre outras coisas, para o "Veta, Dilma"; funciona bem quando uma revista semanal quer falar da alta de preços ou da corrupção; pode ser posta no Facebook como retrato de qualquer usuário que se sinta atulhado de compromissos ou tonto com muitas chamadas no celular.
Nesse sentido, "O Grito" é bem o contrário da "Mona Lisa". Qualquer significado "cola" no quadro de Munch, porque não faltam motivos para um ser humano dar seus gritos de desespero de vez em quando.
Nenhum rótulo funciona direito na "Mona Lisa". Como disse o crítico Walter Pater (1839-1894), ela "é mais antiga do que as rochas entre as quais está posando".
Como o vampiro, continua Pater, "ela esteve morta muitas vezes, e aprendeu os segredos do sepulcro; mergulhou em mares profundos, e guarda consigo o dia que neles se extinguiu".
Captando bem a indiferença jocosa do retrato, Pater conclui que, para a Mona Lisa, "tudo (e o termo sugere todos os desastres da história humana) nada mais foi do que o som de liras e de flautas".
Certamente, não é desse tipo de sons que está tratando "O Grito". O homenzinho do quadro nunca esteve morto, nem mergulhou no mar; parece prestes a atirar-se da ponte.
Não é ele quem grita, embora sua boca aberta dê essa impressão. Segundo o poema de Munchque acompanha o quadro, "eu estava andando na rua com dois amigos/ o sol se punha, o céu se avermelhou como sangue/(...) meus amigos continuaram o caminho, eu fiquei para trás/ tremendo de angústia:/ senti um grande grito na natureza".
É a natureza quem grita, o que aliás torna razoável a apropriação do quadro pelos ambientalistas. O homenzinho, por isso, tapa os ouvidos com as mãos.
Munch pintou uma ponte perto da casa onde morava, na vizinhança de um matadouro -e também do manicômio onde sua irmã estava internada. Os gritos de loucos e de animais abatidos, numa paisagem de sangue, não eram tão simbólicos e psicológicos assim.
Mas não deixa de ser sintomático o modo como a imagem é interpretada atualmente. O grito vem de nós, e não de fora. É o desespero de alguém que se sente diminuído pelos problemas à sua volta -pouco importando quais sejam, o atendimento da TV a cabo ou o excesso de solicitações de amizade no Facebook.
Esse disparate entre a intensidade da angústia e a pequenez do problema combina bem, infelizmente, com o quadro de Munch. A razão para isso é que o personagenzinho tem muito de figura de cartum. Poderia ser o Gasparzinho, Homer Simpson ou um E.T.
Sua face é como um balão, a ponto de esvaziar-se. A grande beleza do quadro, como em Van Gogh ou na arte expressionista em geral, está no fato de que natureza e ser humano, o "fora" e o "dentro", se comunicam. A paisagem e o homem são retratados na mesma ventania de pinceladas, na mesma tormenta, no mesmo fluxo.
A "Mona Lisa" se mantém soberana, muito além da paisagem do fundo, também atormentada e irreal. A subjetividade de "O Grito" extravasa para todos os lados, mas é uma subjetividade enfraquecida.
Para o teórico Fredric Jameson, com o pós-modernismo desaparece a "estética da expressão", e a obra de arte deixa de ser sinal da angústia para assumir uma superficialidade irônica e vazia.
O "Grito" ficou pronto para ser parodiado e consumido. O que foi vendido por US$ 120 milhões de dólares na Sotheby's é apenas uma, dentre as quatro versões da obra feitas pelo pintor.
O próprio Munch, quem sabe, estava tentando exorcizar aquela imagem por força da repetição. E o espanto do homenzinho, sem dúvida, tem outro motivo agora: como é alto o preço que se paga para pôr toda essa angústia no bolso!

O BC em busca de um novo equilíbrio - CRISTIANO ROMERO


Valor Econômico - 16/05/12


Nos últimos dias, o Banco Central (BC) se comunicou à farta com a sociedade, tentando esclarecer seus movimentos e antecipando como deve agir daqui em diante. Algumas mensagens são muito claras. Uma delas é a de que, a exemplo do que fizeram outros bancos centrais, como o da Turquia na crise de 2008/2009, o BC procura um novo equilíbrio para a economia brasileira, baseado em juros baixos e taxa de câmbio menos apreciada. Em outro recado importante, admitiu a convivência do país por um período maior de tempo com uma inflação superior à meta de 4,5%.

A questão central da comunicação recente do BC diz respeito à taxa básica de juros (Selic). Todas as mensagens dão conta de que o Banco Central aproveitará o ambiente de crise nas economias avançadas, de baixo crescimento no Brasil e de desaceleração da economia chinesa, com reflexos desinflacionários no mundo e aqui, para testar novos patamares de juros.

Neste momento, a Selic está em 9% ao ano. No próximo dia 30, se agir com "parcimônia", como sinalizaram o presidente do BC, Alexandre Tombini, e o diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve reduzi-la para 8,5%, a menor taxa nominal desde o início do Plano Real. O movimento de baixa não deve parar por aí.

Não é de agora que Tombini defende a necessidade de um novo equilíbrio para a economia brasileira. No auge da crise de 2008, quando era diretor de Normas do BC, identificou oportunidade para redução acentuada dos juros. Em outubro daquele ano, menos de um mês após a quebra do banco Lehman Brothers, chegou a propor, sem sucesso, reunião extraordinária do Copom para um corte imediato de três pontos na Selic, então fixada em 13,75% ao ano.

A ideia subjacente de Tombini, defendida na ocasião também pelo atual secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, era a de que, se o BC fosse obrigado a elevar os juros mais tarde por causa de um possível repique da inflação, o faria a partir de um patamar mais baixo. O presidente do BC reprisou esse argumento em entrevista ao repórter Fernando Dantas, de "O Estado de S. Paulo".

Se alguém tinha alguma dúvida, não deve ter mais: este BC vai reduzir os juros a limites ainda desconhecidos da política monetária brasileira. Fará isso, evidentemente, em discordância direta com as expectativas de inflação dos agentes econômicos, que seguem se deteriorando - IPCA de 5,22% para 2012 e de 5,53% para 2013.

No seminário que o BC promove anualmente sobre o regime de metas para inflação, Tombini realçou o papel das medidas macroprudenciais (por exemplo, o aumento do requerimento de capital por parte dos bancos em determinadas operações de crédito) não apenas como instrumento para assegurar a estabilidade financeira, mas também para ajudar a alcançar a estabilidade econômica. Em português claro, significa dizer que o BC não considera apenas os juros para moderar a atividade econômica e segurar os preços.

Antes da crise de 2008, disse Tombini, prevalecia o entendimento, especialmente nas economias avançadas, de que a regulação prudencial não era um instrumento de política macroeconômica. Essa percepção está mudando. A estabilidade de preços, observou ele, é condição necessária para a estabilidade macroeconômica, mas não é suficiente.

Nas últimas décadas, os países ricos conviveram com inflação baixa e pouca volatilidade do produto, caracterizando o período conhecido como a "Grande Moderação". Isso não impediu, entretanto, que essas economias mergulhassem, a partir de 2007, numa crise profunda e longa.

A crise, de acordo com Tombini, mostrou que a adoção de forma isolada de medidas microprudenciais para corrigir problemas no sistema financeiro não tem alcance sistêmico. "E os riscos sistêmicos, quando se concretizam, criam espiral negativa que pode levar instituições ou mesmo o sistema à insolvência, com implicações macroeconômicas desastrosas", argumentou.

No Copom, Tombini começou a defender a adoção de medidas macroprudenciais, em vez do aumento puro e simples de juros, desde os tempos em que era diretor de Normas. "Mesmo que conduzidas com o foco em objetivos distintos, as políticas monetárias e prudencial são complementares. As ações de uma afetam os objetivos da outra no curto, no médio e no longo prazo", afirmou.

Tombini estuda as interconexões entre ambiente macroeconômico e sistema financeiro desde os tempos de estudante. Sua tese de doutorado, concluída em 1991 na Universidade de Illinois, desenvolve a ideia de que, diante de crises provocadas por choques exógenos (as crises do petróleo nos anos 70, por exemplo), os sistemas financeiros não são neutros. Na verdade, amplificam os impactos desses choques.

No seminário, Tombini defendeu, também, a necessidade de os bancos centrais se comunicarem de forma mais explícita, sem hermetismos. Isso justificaria as novidades que o BC vem introduzindo em 2012, como a sinalização de que a Selic cairia a um dígito e, depois, o anúncio de que diminuiria a um nível próximo do mínimo histórico (os dois objetivos foram abandonados).

A mudança constante de sinalização também é justificada. "Estamos vivendo um período excepcionalmente complexo para a economia global: é possível que estejamos nessa fase da crise com equilíbrios múltiplos e com uma grande variância no cenário internacional. Basta observar a rapidez com a qual se modificou nas últimas semanas a perspectiva de crescimento nos EUA, a probabilidade de resolução da crise na zona do euro ou até os dados, por vezes contraditórios, sobre o pouso suave na China. Para quem projeta dados macroeconômicos a vida está mais difícil. Por essa razão, todos os bancos centrais têm buscado fornecer indicações e comunicações explícitas, acompanhadas com uma repetida mensagem de que esses indicativos sempre estão condicionados ao conjunto de informações disponível a cada momento. E se esse conjunto é mais volátil, naturalmente isso se reflete na necessidade de ajustar-se mais frequentemente aos desdobramentos do cenário existente", disse Tombini.

Falta de sintonia - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 16/05

A tensa participação de Dilma Rousseff na Marcha dos Prefeitos, que resultou na primeira vaia pública da presidente, serviu de alerta para os governistas quanto aos obstáculos que ela deve enfrentar até 2014 em decorrência de sua conhecida aversão a "fazer política".

Num evento tradicionalmente marcado pela divulgação de benesses federais aos municípios, Dilma disse mais "não" que "sim" a administradores, muitos dos quais ávidos por ajuda federal às vésperas da eleição.
O protesto surpreendeu o Planalto, que surfava na alta aprovação de Dilma. "O calendário dela é um, o nosso é outro. As urnas estão aí", diz um prefeito aliado.

Nua e crua Oficialmente, o Planalto afirma que Dilma sabia dos riscos de enfrentar protestos, mas preferiu "não mentir" aos prefeitos.

Que fase! Depois de ter responder por contatos com aliados de Carlinhos Cachoeira, o subsecretário de Assuntos Federativos do Planalto, Olavo Noleto, enfrentou a ira da presidente, que queria números para responder aos prefeitos. "Os dados, onde estão os dados?", reclamou ela.

Dança... Insatisfeita com a Comissão de Ética Pública, Dilma fará mudanças no órgão, mas tomará cuidado para evitar a sensação de "tutela oficial". Dos 7 membros, 5 saem entre junho e julho. Os mandatos de Sepúlveda Pertence e Américo Lourenço só vencem em 2013 e 2015.

...das cadeiras O Planalto se queixa de não ser comunicado previamente sobre as decisões anunciadas pelo colegiado. Entre os casos que causaram incômodo estão a censura pública ao ex-ministro Antonio Palocci e o processo contra Fernando Pimentel (Desenvolvimento).

Pegadinha No pedido de esclarecimentos formulado a Roberto Gurgel, a CPI quer saber quando o procurador-geral foi informado sobre a Operação Monte Carlo. A ideia é derrubar, com a discrepância de datas, a tese de que ele paralisou a Vegas por conta da outra investigação.

Data venia Na decisão que livrou Cachoeira de depor à CPI, o ministro Celso de Mello usou trecho de "Prerrogativas Profissionais do Advogado", de Alberto Toron, ex-auxiliar de Márcio Thomaz Bastos, defensor do bicheiro.

Termômetro Dilma convocou os 38 ministros para a instalação da Comissão da Verdade, prevista para hoje. "Dá até para fazer reunião ministerial'', brincou um deles, em alusão às raras ocasiões em que o alto escalão é recebido pela presidente.

Mártires Em vídeo que vai ao ar hoje no portal da Copa-2014, Pelé elogia Dilma, "que quase morreu pelo país", e diz que seu papel é apaziguar pendengas regionais entre torcedores quanto aos estádios-sede: "Aceitei [o convite] para ver se a gente acaba com essa briga".

Vai que é sua O conselho político de José Serra agirá para atrair PP e PTB, que negociam com Gabriel Chalita (PMDB). Os dois partidos estão instalados no governo de Geraldo Alckmin, sobre quem recai a pressão para persuadir Paulo Maluf e Campos Machado.

A conferir Alheio às tratativas de alianças, Luiz Flávio D'Urso (PTB) informou ontem à OAB-SP que se licenciará da entidade na última semana de maio para se dedicar à campanha eleitoral.

Plumas O PT trata com especial atenção o seminário de educação amanhã, que será a estreia da ex-tucana Claudia Costin e da "ex-marineira" Maria Alice Setúbal ao lado de Fernando Haddad.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio
"Embalado pelo boom da construção civil em São Paulo, o 'Aprov' da administração de Gilberto Kassab se transformou na mais bem-sucedida imobiliária da cidade."
DE RAIMUNDO BONFIM, DA CENTRAL DE MOVIMENTOS POPULARES, sobre o responsável pela aprovação de empreendimentos da prefeitura paulistana, Hussain Aref Saab, ter adquirido 106 imóveis num intervalo de sete anos.

Contraponto

Não tá fácil para ninguém

Durante a Marcha dos Prefeitos, em Brasília, antes de ser vaiada Dilma Rousseff anunciava a distribuição de retroescavadeiras e motoniveladoras para municípios com até 50 mil habitantes. Foi aplaudida ao dizer que a medida valeria para este ano. Em seguida, corrigiu:
-Na verdade, a seleção é este ano e a entrega possivelmente seja no fim de ano...
Diante do coro de decepção da plateia, a presidente encerrou o tema já preparando o terreno para o protesto:
-É, a vida é dura!

Obama e o casamento gay - BORIS FAUSTO


O ESTADÃO - 16/05/12


As declarações até certo ponto surpreendentes do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, endossando o casamento entre pessoas do mesmo sexo (dia 9 de maio) vem suscitando interpretações as mais variadas. Do lado negativo, há quem considere a tomada de posição inócua porque Obama não se dispõe a promover uma legislação federal a esse respeito, deixando a questão à competência dos Estados. Estes, em grande maioria, desaprovam o casamento gay. A constatação é verdadeira no plano dos fatos materiais, mas esquece a ampla dimensão simbólica da fala presidencial. Quaisquer que sejam as implicações de curto prazo, Obama passará à História como o primeiro presidente a apoiar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Cabe lembrar também que o respaldo presidencial colocará a controvérsia, mais ainda, na ordem do dia.

Há quem afirme que esse pronunciamento resultou de pressões exercidas pelo impetuoso vice-presidente Joe Biden, figura política que bem representa a ala populista do moderado governo Obama. Dias antes, Biden fora à televisão para apoiar o casamento gay, embora, curiosamente, tenha pedido desculpas ao presidente por suas declarações horas antes de Obama fazer seu pronunciamento. Seria injusto afirmar que Obama agiu como decorrência de pressões à sua volta. Ao longo de seus quase quatro anos de governo, ele não ignorou o tema da igualdade dos direitos civis, aí incluídos os direitos dos homossexuais. Foi ele quem tratou de pôr fim à discriminação no âmbito das Forças Armadas; foi ele quem, no ano passado, decidiu não exigir, perante os tribunais, o cumprimento de uma lei federal, assinada por Bill Clinton, que define o casamento como a relação entre um homem e uma mulher.

Indo adiante, há quem considere tudo um jogo de cena, com o objetivo de produzir efeitos eleitorais positivos, com vista às eleições de novembro próximo. Afirmação combinada com o fato de que são gays muitos dos grandes contribuintes da campanha do atual presidente. Se esta última hipótese parece desproporcionada, a primeira é difícil sustentar. Negros e latinos se opõem em maioria ao casamento gay, assim como muitos católicos e evangélicos. Mas, ao mesmo tempo, é certo que o pronunciamento de Obama terá efeitos positivos na atitude dos votantes americanos menores de 30 anos, que majoritariamente, num porcentual em torno de 60%, apoiam ou aceitam o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

De qualquer forma, o presidente não deu um prato cheio aos adversários republicanos. Mesmo porque entre 50% e 55% da população americana, segundo as pesquisas, apoia ou aceita o casamento gay. Há também aqueles que ficam em cima do muro, o que equivale a não se opor à ampliação do conceito de casamento. É o caso, por exemplo, de um eleitor de Mitt Romney, de 70 anos, zelador de profissão, citado nas páginas do jornal The New York Times: "Não é comigo. Não precisamos falar sobre disso. Não sei dizer se sou a favor ou contra. Não sei o que meus netos serão".

Os dirigentes do Partido Republicano, num primeiro momento, preferiram não dar maior importância ao pronunciamento presidencial, considerado em alguns círculos conservadores como uma manobra para desviar a atenção do eleitorado de temas mais sensíveis, em especial o desemprego e a situação econômica em geral. Logo, porém, as diversas organizações da direita, assim como os assessores de Mitt Romney, perceberam que as declarações presidenciais precisam ser incluídas como um tópico importante da campanha, quanto mais não fosse, para que o candidato republicano ganhasse o voto evangélico, reticente diante do fato de ele ser um mórmon. Embora seja cedo para constatações definitivas, não parece, entretanto, que a questão tenha papel decisivo na escolha dos eleitores, independentemente de sua grande repercussão social.

É compreensível a ênfase que se tem dado à inclinação à direita da política americana, assim como à crescente influência de correntes religiosas, nas decisões de um Estado definido como leigo. De fato, figuras retrógradas passaram a ditar a linha do Partido Republicano; e as correntes religiosas ganharam força, borrando, por vezes, a linha divisória entre as igrejas e o Estado, tudo culminando com os oito anos do governo de George W. Bush. Entretanto, a onda do conservadorismo social não chegou a dominar a sociedade americana. Uma tendência significativa, sustentando valores e princípios libertários, ganhou forças, ao longo dos anos. A união estável e o debate sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo são um bom exemplo das transformações que vêm ocorrendo nos Estados Unidos. Basta retroagir dos dias de hoje ao ano de 1973. Foi só em dezembro daquele ano que a Associação Americana de Psiquiatria eliminou de seus documentos oficiais a menção à homossexualidade como doença mental tratável.

Vale a pena ressaltar as razões que Obama arrolou em sua fala, para explicar porque evitara lançar, até aqui, um pronunciamento em favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo: "Eu hesitei na questão do casamento gay porque pensei que uniões civis seriam suficientes. Era sensível ao fato de que, para muita gente, a palavra casamento era algo que invoca poderosas tradições e crenças religiosas".

Jogada de efeito diriam os inimigos, que os há em grande quantidade, assim como os céticos. Para mim, um líder político precisa ter coragem para fazer essa afirmação, a poucos meses das eleições presidenciais, com um tom pessoal que inclui a hesitação, o respeito por convicções arraigadas. Muita gente parece não se dar conta do fato de que, se a representação de interesses poderosos domina a política americana, os princípios ainda valem, em questões cruciais.

Pequena ajuda - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 16/05/12

O empresário Walter Torre, da empreiteira W/Torre, está agendando conversa com Lula. Quer que o ex-presidente interfira junto a Gilberto Kassab (PSD-SP) para que o prefeito libere a abertura de seu shopping, o JK Iguatemi, na Vila Olímpia, em SP. "Estou procurando quem se preocupa com o Brasil, quem tem vergonha na cara", diz ele.

BRAÇO CRUZADO
Torre diz que 3.500 funcionários podem ser demitidos. "Com as lojas fechadas, eles não têm onde trabalhar." A prefeitura diz que o shopping não concluiu obras no trânsito da região.

LINHA DIRETA
José Dirceu (PT-SP) também se ofereceu a Torre para "ligar para o Kassab".

REFORÇO
E Lula está usando bota ortopédica. Ele teve um dissabor há alguns dias: levou um tombo dentro de casa.

MISSÃO
O ex-ministro Antonio Palocci telefonou para João Roberto Marinho, das Organizações Globo, anteontem. Tentava convencer a TV a exibir os comerciais da campanha de Fernando Haddad à prefeitura. Marinho reafirmou que a Globo seguiria a norma eleitoral e não poderia abrir exceção para o PT.

RITMO
Joesley Batista, da JBS-Friboi, que administra e pode comprar a empreiteira Delta, não descarta demissões na empresa. "Se ela for declarada inidônea, serão 35 mil pessoas na rua."

PREÇO BAIXO
Ele afirma não acreditar, porém, que governos suspendam contratos. Se isso ocorrer, prevê uma grande batalha jurídica. "As licitações foram legais, a empreiteira ganhou pelo preço." Mas diz que apoia o pente-fino que o governo federal faz na Delta. "Eu também estou fazendo auditoria lá dentro."

MUITO PRAZER
Joesley afirma que até a semana retrasada, quando foi "apresentado" à Delta por um banco de investimentos, "nem sabia que ela existia". Depois do escândalo, passou a achar "que era uma 'empreiterazinha' do [Carlinhos] Cachoeira lá em Goiás".

DOU-LHE UMA
O quadro "Visão", pintado em 1982 pelo gaúcho Iberê Camargo, será leiloado pela casa britânica Christie's no dia 22. O lance inicial é de US$ 50 mil. A obra pertence a um colecionador americano.

EU TUÍTO
A cantora Wanderléa decidiu entrar no Twitter. Sua conta na rede de microblogs é @WandecaOficial. Até ontem no começo da tarde, ela tinha 20 seguidores.

BOLA ROLANDO
O Museu do Futebol em SP vai inaugurar biblioteca para pesquisadores do esporte ainda neste ano. Ela contará com jornais e coleções de revistas como a italiana "Guerin Sportivo" e a americana "Sports Illustrated".

BRASIL EM CANNES
O curta-metragem "Os Mortos-Vivos", da carioca Anita Rocha da Silveira, 27, integrará a seleção de curtas da quinzena dos realizadores do Festival de Cannes, que começa hoje. O filme fala sobre a paixão "em um mundo mediado por instrumentos de 'vigilância afetiva' - Skype, Facebook, SMS- e por outro, dominado por afetos efêmeros", diz a diretora.

EXPRESSO
Em até 15 minutos, moradores de 39 municípios paulistas poderão descobrir se têm sífilis. Os exames gratuitos serão oferecidos a partir de junho, no SUS (Sistema Único de Saúde), por meio de coletas de sangue feitas com seringa ou com aparelhos que fazem um furinho no dedo para obter a amostra. Até 2013, o Programa Estadual de DST/Aids quer alcançar 145 cidades de SP.

HOLOFOTE ELEITORAL
Acompanhado da mulher, Ana Estela, e da filha, Carolina, Fernando Haddad, pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, ganhou jantar em sua homenagem na casa do advogado Ernesto Tzirulnik e de sua mulher, Lili, em Higienópolis, anteontem. Entre os convidados, Luiz Nascimento, da Camargo Corrêa, Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, o ex-ministro José Dirceu e o empresário Joesley Batista, do grupo JBS.


LUZES, CÂMERAS

O Prêmio ABC 2012, da Associação Brasileira de Cinematografia, foi entregue no fim de semana na Cinemateca Brasileira. A atriz Maria Fernanda Cândido, acompanhada da irmã, a empresária Karina, foi a mestre de cerimônias. Circularam pelo evento o cineasta Walter Carvalho e a atriz Guta Ruiz. O filme "O Palhaço" ganhou na maioria das categorias.

curto-circuito

Amir Slama, estilista brasileiro de moda praia, ganhou reportagem no domingo no jornal italiano La Repubblica.

O Instituto Moreira Salles lança o livro "Crisálidas" no dia 21, às 19h30, no Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura da av. Paulista.

Adriana Praça inaugura loja, hoje, nos Jardins.

A peça "Véspera" estreia na sexta, às 21h, no Teatro Itália. Classificação: 14.

Jerry Adriani faz show gratuito no sábado, às 16h, no bulevar São João. Livre.

O grupo Bom Gosto lança o DVD "Deixa Eu Cantar Meu Samba" com show na sexta, às 22h, no Credicard Hall. Classificação: 12.

com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER e LÍGIA MESQUITA