quinta-feira, março 22, 2012

Minuto de silêncio - TUTTY VASQUES


O ESTADÃO - 22/03/12

Pela foto dos machucados que Thor Batista postou no Twitter dá pra ver bem: os arranhões provocados pelo atropelado atingiram em cheio os 45 centímetros de pelo menos um dos bíceps que o primogênito do Eike apresentou como cartão de visitas em célebre reportagem da Veja Rio sobre a fórmula de sucesso do cara: “Nunca li um livro inteiro!” – lembra disso?
Não à toa, Luma de Oliveira – mãe é mãe! – está preocupada: toda vez que a família do bilionário ocupa a rede social para exaltar o exemplo de cidadania de Thor diante da fatalidade causada “inadvertidamente” pelo ciclista morto no local, o povo – o, raça! – desconfia. “Aí tem!”
Afora o preconceito indisfarçável com os ricos, brasileiro nenhum acredita na existência de alguém tão politicamente correto circulando em território nacional, ainda mais num sábado à noite qualquer. Muito menos com os antecedentes do motorista em questão.
Se pudesse, ninguém duvida disso, Eike Batista compraria logo 10 ciclistas pobres para repor a perda com sobras e minimizar o sofrimento da tia da vítima, mas o melhor que pode fazer agora é seguir o exemplo da ex-mulher: um minuto de silêncio, por favor, não há mais o que fazer!

Efeito ThorO rapper MV Bill se defende da acusação de ter agredido a irmã a pauladas:
“O air bag dela nem abriu!”

Ponto de bala“QUEM DISSE QUE O ADRIANO ESTÁ FORA DE FORMA?!”
Ronaldinho Gaúcho, ao pedir dispensa do treino matinal de terça-feira no Flamengo, depois de uma noitada com o Imperador em pagode na Barra da Tijuca.

Mercado paraleloSe persistir por longo tempo a proibição sobre a comercialização de próteses mamárias no Brasil, a namorada do cantor Belo, Gracyanne Barbosa, vai acabar desmembrando para colocar a venda seus 450 ml de silicone distribuídos em 98 cm de busto.
Vão valer uma fortuna no câmbio negro.

Basta!A Saúde Pública no Rio é mesmo uma pouca vergonha, mas daí a culpar a rede hospitalar do município pela morte de uma baleia na terça-feira em São Conrado, peralá!
Oposição também tem limite!

Não é sério!Não importa a forma final que tome no Congresso, a tal Lei da Copa – como tantas outras no Brasil –, não vai pegar mesmo na prática.
Não perca seu tempo com essa discussão que está rolando em Brasília. 

Bando de loucosO porco que hoje de manhã caiu de um carro em movimento e foi atropelado na avenida 23 de Maio pode ter sido atirado por integrantes da Gaviões da Fiel.
Só se fala disso na Mancha Verde!

SaudosismoEntreouvido num cafezinho de humoristas na redação da Piauí Herald:
“Falta ao governo Dilma uma primeira-dama como dona Marisa Letícia. Na época do Lula, Brasília era muito mais engraçada!”
Há controvérsias! 

Chantagem e radicalismos - CAROLINA BAHIA

ZERO HORA - 22/03/12

O Planalto pagou para ver e saiu derrotado do primeiro embate com os aliados na Câmara. Descontente com o pouco espaço no governo e com emendas congeladas, o PMDB é um aliado poderoso que cobra a fatura cedo ou tarde. O líder Henrique Eduardo Alves comandou com gosto o motim que impediu a sessão sobre a Lei Geral da Copa. O que está em jogo é a votação do Código Florestal, uma bandeira da bancada peemedebista, que exige uma data para apreciar o projeto, em troca das regras da Copa. É chantagem, mas uma resposta à radicalização do Planalto. Dilma não admite mudanças no texto do Senado. E não há nem clima para negociação. Há quase um ano, o PMDB derrotou o Planalto na votação do mesmo Código. A novela se repete, agora em meio a uma grave crise política. O ministro Mendes Ribeiro (Agricultura) avisa que a votação ficará para depois da Páscoa. E quem paga a conta é o produtor rural, que vive na insegurança jurídica.

País do jeitinho
É uma atitude covarde do Planalto e do Congresso jogar para os Estados a decisão sobre a venda de bebidas na Copa. O compromisso foi assumido pelo governo com a Fifa. Se a própria presidente Dilma disse que o Brasil precisa cumprir seus contratos, deixando de ser o país do jeitinho, é só passar do discurso à prática.

Gula
Antes de deixar a Feira do Polo Naval, em Rio Grande, o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, passou pelo estande de Pelotas. Como o tempo foi curto para provar mais de um docinho, a equipe do ministro perguntou se podia levar algumas das delícias para viagem. Passos saiu de lá com uma caixa de bem-casados e ninhos.

Approach
No lançamento da exposição sobre os 90 anos do PC do B, ontem, o candidato do PMDB à prefeitura de São Paulo, Gabriel Chalita, conversava com o ex-ministro Orlando Silva, na tentativa de estreitar laços na eleição paulista. No clima de chega pra cá com os comunistas, Chalita se aproximou de Manuela D"Ávila e disparou:
- Veja o caso de Porto Alegre. Lá, a minha candidata é a Manuela!

Agora vai
Diante da choradeira de autoridades que não conseguem pagar o piso dos professores, o MEC aposta no Congresso para chegar a um acordo. À frente de uma comissão especial, a deputada Fátima Bezerra (PT-RN) convocará prefeitos e governadores para discussão. Fátima, aliás, é aliada do ministro Aloizio Mercadante (Educação, foto) na defesa do aumento de 22% concedido pela União.

Sonho teu
As ameaças da bancada do PTB ao governo Dilma não são à toa. Deputados estão de olho na secretaria executiva do Ministério do Trabalho. Quem conhece a presidente já avisou que a bancada ficará só na vontade. 

Um ano depois - ROGÉRIO GENTILE


FOLHA DE SP - 22/03/12
SÃO PAULO - Eduardo Braga assumiu a liderança de Dilma no Senado proclamando que a presidente decidiu dar um basta ao fisiologismo. "Chegou o momento de novas práticas na política. A política do toma lá dá cá está no passado."
Se verdadeira, a disposição saneadora da presidente merece, claro, ser elogiada. Mas é necessário um pouco de cautela. Primeiro porque não faz um mês que Dilma nomeou para o Ministério da Pesca alguém (Marcelo Crivella, da Universal) que não entende nada do assunto só para evitar críticas dos evangélicos ao PT na eleição. Isso é a nova política? Outro dado a ser considerado é o fato de que, ao anunciar o "basta", o governo acabou admitindo que o tal "toma lá dá cá" existiu até então. Sendo assim, seria importante que o Senador explicitasse quais são essas práticas com as quais Dilma não aceita mais conviver após sete anos como ministra de Lula e um ano depois do início do seu mandato. Em tempos de julgamento do mensalão, pode ser uma boa contribuição.
Além disso, por mais que o marketing oficial louve a "faxina" que Dilma fez no ministério, a bem da verdade, ela, na maioria das vezes, apenas reagiu ao noticiário. Só demitiu quando a imprensa apontou problemas contra esse ou aquele ministro.
Limpeza, de fato, teria feito a presidente se não tivesse nomeado ou reconduzido ao cargo muitos dos quais foi posteriormente obrigada a demitir e sobre quem há muito já se conhecia a fama ou o currículo. Ou será que Dilma, ao resgatar Palocci, ignorava a história da quebra do sigilo do caseiro? E ao nomear Pedro Novais, não sabia que ele era acusado de gastar verba pública em motel?
Dilma tomou posse prometendo ser rígida na defesa do interesse público.
As declarações do seu líder e a atual crise no Congresso são animadoras na medida em que apontam para essa direção. Mas só o tempo vai dizer se a presidente está efetivamente dando um basta ao fisiologismo ou apenas redividindo o bolo.

Calma, gente - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 22/03/12

Um grupo de “ativistas culturais” convoca pelas redes sociais (http://on.fb.me/GHH0e4) um ato dia 29, às 14h, em frente ao Clube Militar, no Centro do Rio, pela democracia e a favor da Comissão da Verdade. Prometem ir de pijamas em protesto contra militares da reserva que programaram, também ali e no mesmo horário, o painel “64 — A verdade”, pelos 48 anos do golpe militar.

A festa é fora

Um Pelé dos negócios da Copa concorda que a Budweiser, patrocinadora da Fifa, perderá pouco, em vendas, se proibirem cerveja nos estádios. Onde a loura da InBev deve encher o cofrinho é nos Fan Fest Fifa, fora dos estádios. Neles, telões exibem os jogos, com muita música, suor e... cerveja.

Segue...

Estima-se que, na Copa de 2006, cerca de 18 milhões de pessoas tenham passado pelos Fan Fest em 12 cidades alemãs.

CBF continua no Rio

É muito difícil tirar a CBF do Rio, independentemente de o paulista José Maria Marin, seu novo presidente, ter garantido a Paes que a entidade não sai. É que o estatuto da CBF estabelece que eventual mudança da sede tem de ser aprovada por unanimidade, incluído o voto da Federação de Futebol do Rio.

No mais

Esta semana, bares e botequins paulistas oferecem três opções de petiscos no São Paulo Boteco Week. Bom apetite. Mas... Boteco Week é o cacete. Com todo o respeito.

Música clássica
Nelson Freire, nosso pianista maior, acaba de gravar um CD pelo selo Decca só com compositores brasileiros. Aliás, seu recital em Paris, dia 10 de abril, terá Villa-Lobos e Lorenzo Fernandez, com Beethoven, Schumann e Chopin.

O CAMINHO DO VALONGO, no Morro da Conceição, no Rio, que abrigava um mercado de escravos no século XVIII, vai virar mirante, com vista até para o Redentor. Asobras da prefeitura acabam ainda este mês. Antes cheio de lixo e mato, o local agora tem rede de drenagem, pavimentação, mureta e rampas. Os novos bancos de concreto foram revestidos com granito. Nos próximos dias, o mirante vai receber iluminação. Vamos torcer, vamos cobrar.

Complexo de vira-lata
Economistas parceiros da coluna não sabem por que o governo Dilma apoia, para o Banco Mundial, um ex-ministro da Colômbia (José Antonio Ocampo) e uma ex-ministra da Nigéria (Ngozi Okonjo-Iweala), e descarta o nosso ex-ministro Pedro Malan. — O complexo de vira-lata de que Lula falava ainda ataca o governo? — pergunta um deles.

Na verdade...

Esta é uma briga de cachorro grande. Os EUA, tradicionalmente, têm indicado o presidente do Banco Mundial. Desta vez, o candidato oficial parece ser o ex-ministro Lawrence Summers. Mas na internet já há a campanha Parar Summers.

Cine Dilma

A convite de Dilma, Selton Mello e Paulo José inauguram hoje, às 17h, em Brasília, o Cine Planalto, para que servidores da Presidência assistam a filmes que “ajudem a pensar”. A turma vai ver “O palhaço”.

O perfume de Joel
Joel Santana é a nova vítima dos aeroportos brasileiros. O técnico do Flamengo teve a mala arrombada, sábado, no Santos Dumont, ao despachá-la no voo da Trip fretado pelo clube para levar o time a Macaé, RJ. Só descobriu quando chegou ao hotel. O larápio fez a limpa.

O preju...

O ladrão levou duas calças e três camisas (uma branca e outra preta, de seu uniforme nos jogos, mais uma rubro-negra, que carrega “para dar a amigos”). Joel ficou chateado ao ver até a necessaire arrombada: “O cara levou meu perfume, pô! Um francês, que o vidro é um belo corpo de mulher, Jean Paul Gaultier!”

De volta ao Brasil

Lee Bollinger, presidente da Universidade de Columbia, que chega hoje ao Rio, diz que abrir o Centro Global de Columbia no Brasil tem “sabor especial”. É que, com 16 anos, em 1963, passou um ano em Belo Horizonte, num intercâmbio.

O outro lado

Policiais da Delegacia do Consumidor foram ontem ao Gero, em Ipanema, e checaram as validades dos produtos sem encontrar qualquer irregularidade. O restaurante estranha que a vovó intoxicada supostamente ao jantar ali, motivo de nota aqui ontem, não o tenha procurado.

Retratos da vida

Não quer dizer nada, é só uma coincidência. O carro que Thor, filho de Eike Batista, dirigia ao atropelar o ciclista, um Mercedes SLR McLaren, coisa só para ricos, teria sido comprado do dono da Locanty. 

PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV


8h - Boluspor x Besiktas, Copa da Turquia, Bandsports

12h - Suécia x EUA, Mundial fem. de curling, Sportv 2

16h - Betis x Espanyol, Campeonato Espanhol, ESPN Brasil

16h45 - Inter de Milão x Olympique, Europeu sub-19, ESPN

19h45 - Vélez x Dep. Quito, Taça Libertadores, Fox Sports

20h30 - Torneio Interligas de basquete, Sportv 2

22h - Santos x Juan Aurich, Taça Libertadores, Fox Sports

23h - Treino do GP da Malásia, F-1, Sportv

3h - Treino do GP da Malásia, F-1, Sportv e Sportv HD

O concreto de Haddad - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 22/03/12


Alguns petistas e peemedebistas trabalham uma proposta pra lá de ousada para cumprir o objetivo máximo de derrotar o PSDB em São Paulo: fazer de Fernando Haddad vice de Gabriel Chalita. O difícil é essa ideia de cúpulas passar numa convenção do PT em São Paulo

Paralelamente à série de Comissões Parlamentares de Inquérito em fase de gestação no Congresso, que tentam abalrroar seu governo em pontos sensíveis, a presidente Dilma Rousseff tem sido chamada a mudar o governo por um outro motivo: a eleição paulistana. Em seus encontros mais reservados, o PT convive com uma dura realidade. Nenhum partido da base se mostra animado em seguir ao lado do pré-candidato petista, citado nos bastidores como o "concretado" nos 3% das intenções de voto.

Haddad saiu do ministério em janeiro como a grande esperança de dar ao PT uma roupagem menos sindicalista, caso de alguns ilustres concorrentes das prévias enterradas por Lula, e menos impetuosa, como a estrela Marta Suplicy. Há quem diga, dentro do PT, que, desde então, o ex-ministro andou muito, mas não saiu do lugar, embora esteja todos os dias na mídia.

Tem certa razão a parte do PT que se refere sempre aos índices de Haddad com aquele "Calma, a campanha ainda não começou, o cidadão comum não está interessado em discutir candidato agora". O fator Lula ainda não se fez sentir, uma vez que o ex-presidente ainda não foi totalmente liberado para eventos públicos e ainda ficará pelo menos 60 dias fora dos palanques. Mas não dá para esquecer que os políticos são os primeiros a perceber quando algo vai mal. Aqueles acostumados ao poder, então, nem se fala. Sentem de longe o cheiro de queimado e logo abandonam o barco. Ou, se estão fora, não se esforçam de verdade para ingressar nele, a não ser que levem algo em troca.

Por falar em esforço...
É exatamente nesse ponto que se encontra a pré-candidatura de Haddad. No mercado da política, apoiá-lo hoje custa mais caro do que comprar um apartamento de luxo em Brasília ou no Rio de Janeiro, onde os preços estão astronômicos. Afinal, a turma ainda não sente firmeza na construção. De concreto, ele tem 3% nas pesquisas em geral e precisa desesperadamente de um generoso tempo de tevê para chamar de seu. Coincidência ou não, o governo reabre as portas da esperança para reacolher o Partido da República no primeiro time de Dilma nesse quadro.

Enquanto isso, o PSB faz seu jogo dúbio, ora ouve-se no partido que Eduardo Campos não faltará a Lula, ora os socialistas deixam escapar que a prioridade em São Paulo é a relação com Gilberto Kassab. E assim, o tempo vai passando com os concretos 3% e o PSDB dominando o noticiário e a cena política.

Por falar em domínios...
O sentimento que moveu Lula a escolher Haddad candidato foi o de ampliar o eleitorado do PT e, assim, conquistar o espaço para derrotar o PSDB no maior colégio eleitoral do país. A vontade dos petistas de derrotar o PSDB não reduziu um só milímetro desde então. E, como a pré-campanha ainda não saiu do chão, tem gente pensando numa jogada ainda mais ousada para o PT paulistano: levar Haddad para a vice de Gabriel Chalita, do PMDB.

Assim, alguns petistas e peemedebistas trabalham a vingança perfeita: se unir ao antigo aliado de Serra e, assim, derrotá-lo. Pode ser sonho de uma noite de outono em que faltam pontos na pesquisa, mas já tem gente pensando nisso.

O difícil é convencer o PT paulistano, tão repleto de estrelas, a aceitar essa composição impensável para muitos e rechaçada por grande parte do diretório local. Afinal, em política, tudo o que não é natural termina por dar errado. Vide as alianças artificiais construídas no governo Dilma. A cada dia trazem mais problemas e menos soluções.

Condenar e gostar sem refletir - CLAUDIA ANTUNES


 FOLHA DE SP - 22/03/12



RIO DE JANEIRO - A comunicação eletrônica acelerou nas pessoas o ímpeto de expressar opinião instantânea sobre tudo. Parece démodé dizer isso, mas a rapidez do veículo não justifica a frequência com que se publicam manifestações irrefletidas.
Nesta semana, blogueiros e participantes de redes sociais se apressaram em condenar o filho de Eike Batista pelo atropelamento e a morte de Wanderson Pereira dos Santos, um ciclista pobre. Exibiram a mesma sofreguidão com que Eike correu para fazer da vítima o culpado.
É possível que Thor dirigisse em velocidade acima do permitido ou que trafegasse pelo acostamento, mas pressionar por uma investigação isenta é a atitude justa no caso. Citados na internet, os fatos de que ele seja filho de um bilionário amigo do governador, de nunca ter lido um livro, de acumular multas ou de usar um carro de R$ 3 milhões -ou mesmo de que exista um automóvel tão caro- não bastam para provar culpa no episódio específico.
Outro caso é a propagação do documentário de uma ONG americana sobre o senhor da guerra Joseph Kony, de Uganda, processado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes como sequestro e tortura de crianças. O vídeo bateu o recorde de 100 milhões de acessos em seis dias.
Ativistas de direitos humanos africanos, sem obter o mesmo alcance, criticaram a peça por ignorar os meandros do conflito, desconhecer a ação de grupos locais para erradicá-lo e promover a velha e infeliz tese do homem branco civilizado que chega para salvar os primitivos.
A internet ampliou as vozes na esfera pública, o que é muito positivo. Mas produz, às vezes, uma falsa e autocongratulatória consciência de ação política efetiva. Quando um só rico simboliza a luta de classes e um só criminoso personifica a complexidade de uma guerra, surge a ilusão de que é simples fazer justiça, sem que nada mude de verdade.

O caminho para o PSDB - LUIZ FERNANDO MACHADO

FOLHA DE SP - 22/03/12

Devemos nos agregar por quem tem real chance de vitória: Serra; é preciso que o eleitor se sinta escolhendo entre os melhores, em vez de nomes de ocasiãoA polarização que se evidencia na disputa pela prefeitura de São Paulo entre o PSDB e as forças alinhadas com o governo federal conferiu relevo e visibilidade ao processo de escolha do candidato tucano.
A fórmula de prévias escolhida pelo PSDB coloca, diante do partido, uma rara oportunidade de revitalização e engajamento da militância.
Tudo isso tem impacto no cenário político nacional, dada a condição privilegiada da capital paulista -cujo PIB é superior ao de muitos Estados brasileiros, influente no cenário global e com desafios igualmente vultosos, que afetam mais de 11 milhões de pessoas.
Pela tendência atual da grande maioria das lideranças da legenda, são grandes as chances de ser referendado o nome do ex-prefeito e do ex-governador José Serra.
Respeitando o histórico dos demais pré-candidatos, será esse o resultado que representará o fortalecimento do projeto nacional e de longo prazo do PSDB. Foi com esse entendimento que a bancada de deputados federais tucanos realizou, na semana retrasada, um manifesto ao partido pela unidade em torno de José Serra.
Esse grupo defende, como ponto central da discussão do partido, uma das pedras basilares da política: a ideia de que a agregação de forças se dá em torno de quem detém o poder ou de quem tem a expectativa do poder.
Nesse último caso reside todo o potencial da candidatura José Serra, não apenas para aglutinar a militância vislumbrando reais chances de vitória, mas também quanto à atração de outras legendas que já conhecem e chancelam o perfil de Serra como líder e como administrador. Trata-se de um nome que une.
Mas a candidatura de Serra representa um diferencial desde os aspectos mais prosaicos, como a constatação de que é a única candidatura natural nas eleições paulistas.
Trata-se de um diferencial do PSDB em um cenário político no qual se critica justamente a escassez de perfis e históricos de envergadura nas eleições, de forma que o eleitorado se sinta em uma efetiva escolha entre os melhores nomes, em vez de nomes de ocasião.
Embora o conceito de prévias implique concorrência interna, o PSDB pode e deve transformar o evento -que acontecerá no próximo dia 25- em uma demonstração nacional de força, unidade e senso estratégico.
Nada poderia significar maior revigoramento da militância do que defender um candidato com altíssimos níveis de "recall" e de aprovação, associado a valores como densidade de formulação política e propostas efetivas para a capital de São Paulo.
Em caso de vitória no pleito, Serra irá ratificar e legitimar o jeito tucano de governar naquele que provavelmente é o público mais crítico do país, o eleitorado paulistano.
Neste momento, todas as nossas maiores lideranças estão caminhando no sentido de respaldar a candidatura de José Serra. Este é o caminho para o fortalecimento do PSDB e, em última instância, da democracia brasileira.

O risco de uma Comissão do Acerto de Contas - DENIS ROSENFIELD


Folha de SP 22/03/12



Não combatia pela liberdade quem queria uma ditadura comunista; são maus exemplos os países que, por revanchismo, barram a reconciliação nacional
O compromisso da história, enquanto conhecimento, é com a verdade, não importando o quão cruel possa ser a realidade retratada.
A constituição da Comissão da Verdade deveria ser pautada pela imparcialidade e não por qualquer viés ideológico, algo que só deformaria o seu próprio trabalho. Uma comissão dirigida contra os militares seria um evidente contrassenso, pois, então, o seu nome deveria ser Comissão de um Acerto de Contas.
Nessa história, não há mocinhos nem bandidos. Uma Comissão da Verdade deveria ter, evidentemente, à sua disposição uma abertura irrestrita de todos os arquivos e documentos do período, não importando, para isso, quais poderiam ser os indivíduos ou grupos eventualmente prejudicados.
Uma nação tem o pleno direito de conhecer a sua história, quando mais não seja para que as próximas gerações possam aprender com os seus acertos e com os seus erros.
Não cabe, portanto, um trabalho voltado somente contra militares e policiais torturadores que se desviaram de suas funções.
Seus nomes não deveriam ser preservados quando o seu envolvimento for devidamente comprovado. Ele deveria também abarcar os que procuraram instalar no Brasil uma ditadura comunista e, para isto, utilizaram-se de assassinatos, sequestros, roubos e "justiciamentos" de militantes de esquerda.
Tornou-se usual nesses últimos anos apresentar os que tentaram promover a ditadura comunista no Brasil, em suas vertentes cubana, maoísta, soviética e outras, como se fossem combatentes da liberdade. A deturpação dos fatos é completa. Não lutavam eles pela democracia nem pela liberdade.
O Brasil apresenta, dentre os países da América Latina, um modelo único de transição de um regime autoritário para um democrático.
Seu norte foi o da conciliação nacional, seu instrumento foi a Lei da Anistia, válida para todos os lados, e os seus agentes mais importantes foram os líderes do então MDB, as entidades da sociedade civil, os militares que entraram em uma linha democrática e os políticos defensores do regime que fundaram o PFL.
A transição não foi obra da esquerda armada que tinha sido previamente derrotada militarmente.
Logo, pretender revogar a Lei da Anistia é um ato que tem como objetivo substituir a concórdia estabelecida pela discórdia.
Aduzir como argumento que outros países latino-americanos fizeram essa revisão de nada vale, sobretudo considerando o estado desses outros países, presos a revanchismos e a clivagens internas que impedem uma reconciliação nacional e o próprio desenvolvimento social, econômico e político.
Enquanto isso, o Brasil chega à posição de sexta economia do mundo, graças à sua estabilidade institucional e ao seu ambiente político.
Nessa perspectiva, a posição da presidente Dilma Rousseff de ameaçar punir os militares que reagiram às declarações de duas ministras que propugnaram pela revogação da Lei da Anistia não se coaduna com a imparcialidade que deve presidir a Comissão da Verdade.
Se fosse para chamar os militares da reserva à hierarquia (saliente-se que, na reserva, eles têm direito à livre emissão de posições políticas), ela deveria ter feito a mesma coisa com as ministras envolvidas, desautorizando-as.
Sob essa ótica, os militares têm razão em ter reagido, pois estão defendendo uma lei de pacificação nacional. Ministras não são indivíduos privados, mas pessoas públicas. De fato, o que elas fizeram foi dar um impulso a um processo de formação da opinião pública que viesse a propiciar uma revogação dessa lei.
Decisões do Supremo podem ser modificadas quando os seus membros são substituídos. A Comissão da Verdade não pode se prestar a esse papel, sob pena de se tornar uma Comissão do Acerto de Contas.

GOSTOSA

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Pesando geleiras com um satélite - FERNANDO REINACH


O ESTADÃO - 22/03/12


O aquecimento global está reduzindo o gelo nas cordilheiras e geleiras. Nos últimos anos, cientistas têm tentado estimar a velocidade com que o gelo desaparece. Agora, por um novo método, concluíram que o degelo está ocorrendo mais lentamente do que se acreditava.

Não é fácil estimar a quantidade de água perdida. A primeira dificuldade é que parte do gelo derrete no verão e é substituído por novas precipitações. E existem mais de 160 mil geleiras e topos de montanhas, mas menos de 120 foram estudadas com cuidado. E somente 37 foram acompanhadas por mais de 30 anos.

Com base nessa amostra minúscula, foi estimado o efeito do aquecimento global sobre o estoque mundial de gelo e projetado quanto subiria o nível dos oceanos caso todo esse gelo derretesse.

A qualidade dos dados está melhorando. Desde 2002, são coletados dados com um equipamento chamado Gravity Recovery and Climate Experiment (Grace), que permite estimar a massa de gelo em cada geleira e acompanhar sua variação ao longo dos anos.

Os cientistas montaram uma balança muito sensível em um satélite. Como você sabe, o peso de um objeto depende da sua massa e da força da gravidade. A gravidade depende da quantidade de massa que atrai o objeto. Quando o satélite passa sobre o mar, é possível medir o peso do objeto na balança. E, sabendo sua massa, calcular a força da gravidade naquele ponto. Logo depois, o satélite passa sobre os Andes, e o peso aumenta, pois a massa da cordilheira exerce força gravitacional maior.

Com isso, é possível calcular a massa de cada região do planeta. Como o satélite passa de seis a oito vezes por ano, é possível acompanhar a variação da massa ao longo dos anos.

Essa variação foi medida em mais de 20 regiões cobertas por gelo, oito vezes por ano, durante 8 anos. Como a massa da montanha não muda, as diferenças observadas são causadas pela mudança na quantidade de gelo.

Os gráficos mostram que em alguns lugares, como o Alasca, a massa sobe e desce bastante a cada ano, mas a média vai se reduzindo ao longo dos anos (o degelo está ocorrendo rapidamente). Na Islândia, a variação é menor durante o ano e a redução ao longo dos anos também é pequena.

Somando os resultados, é possível calcular quanto gelo o planeta perde nessas 20 grandes regiões. Os resultados confirmam a perda. Na média global, são cerca de 150 gigatoneladas de gelo a menos por ano, o que pode levar a um aumento de 0,41 milímetro por ano no nível dos oceanos. Esse número é um terço das estimativas anteriores, baseadas em algumas geleiras individuais.

A boa notícia é o que parece estar ocorrendo no Himalaia. Lá também estamos perdendo geleiras, mas num ritmo que parece ser um décimo do estimado anteriormente.

Se por um lado esses resultados são animadores, por outro confirmam o que se sabia. O aquecimento global está realmente reduzindo as reservas de água doce e aumentando o nível dos oceanos.

Os 'bandidos de toga' - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S. Paulo - 22/03/12

As investigações realizadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal no Tribunal de Justiça (TJ) do Tocantins, a que a reportagem do Estado teve acesso, constituem uma radiografia de tudo o que a Corregedoria Nacional de Justiça vem combatendo no Poder Judiciário - a começar pela corrupção e passando pela ineficiência e o corporativismo das corregedorias dos tribunais na fiscalização das denúncias de desvio de conduta de juízes, desembargadores e ministros.

Elaborado com base em quatro anos de investigação, o diagnóstico das graves irregularidades do Tribunal de Justiça do Tocantins mostra como 4 dos 12 desembargadores da Corte - com a cumplicidade de 3 serventuários judiciais, 2 procuradores e 7 advogados - montaram um esquema de venda de sentenças.

Eles negociavam favores a políticos do Tocantins. Cobravam propinas para liberar pagamento de precatórios. Confiscavam parte dos salários de assessores por eles indicados para cargos de confiança ou livre nomeação. Usavam recursos públicos para custear viagens de turismo ao exterior. E, decidindo em causa própria, ainda cobravam do Tesouro estadual vultosas indenizações em processos por danos morais.

Com 15 volumes, num total de 5 páginas e 47 apensos, a denúncia do Ministério Público Federal revela que o esquema, além de envolver a venda de acórdãos, chegou ao requinte de "terceirizar" a elaboração de votos de alguns desembargadores, deixando-os a cargo de advogados das partes que aceitavam pagar o "preço de tabela". Em alguns casos, os desembargadores envolvidos não se davam ao luxo nem mesmo de corrigir erros de digitação, pontuação e de gramática dos textos recebidos. E os vídeos e as interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal com a devida autorização judicial mostram como os integrantes do esquema se preparavam para as sessões plenárias do Tribunal, como discutiam a partilha das propinas e como transportavam e guardavam o dinheiro recebido.

Os preços negociados dependiam da importância e dos valores dos processos - num dos casos relacionados pela reportagem do Estado, por exemplo, foram cobrados R$ 100 mil de comissão pela venda de um acórdão. Desse total, 2 desembargadores ficaram com R$ 15 mil cada um e os R$ 70 mil restantes foram distribuídos a advogados e serventuários judiciais.

Fazia parte do esquema a presidente do Tribunal de Justiça do Tocantins, desembargadora Willamara Leila de Almeida. As investigações dos policiais e procuradores federais mostram que ela costumava cobrar uma "taxa de manutenção" de quem ocupava cargos de confiança em seu gabinete e usava o dinheiro para viagens pessoais. Quem não tinha condições de fazer o pagamento à vista, no valor de R$ 300, em média, era obrigado a entregar cheques pré-datados. Amigos da desembargadora Willamara alegaram que o dinheiro não era usado para turismo, mas para propósitos filantrópicos - como aquisição de cestas básicas para pessoas carentes. Independentemente da destinação dos valores, o Ministério Público Federal condenou a origem do dinheiro e a forma de arrecadação.

"A desembargadora constrangeu os servidores para obter vantagens econômicas", dizem os procuradores federais. Em sua defesa, os demais acusados de integrar o esquema alegaram que foram coagidos nos interrogatórios e que as interceptações telefônicas não foram acompanhadas pela OAB, como manda a lei, mas não refutaram a maioria das acusações.

Os processos criminais contra os envolvidos, por formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, tráfico de influência, peculato e concussão, já estão tramitando no Superior Tribunal de Justiça, do qual a corregedora nacional de Justiça faz parte. Quando afirmou que existem "bandidos de toga", no ano passado, defendendo o Conselho Nacional de Justiça contra a tentativa da Associação Brasileira de Magistrados de esvaziar o órgão, a ministra Eliana Calmon já fora informada da denúncia criminal do Ministério Público Federal e já havia lido as 5 mil páginas dos autos. Ela sabia exatamente do que estava falando.

Acordo e veto - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 22/03/12
O ministro da Previdência, Garibaldi Alves, e o líder do governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE), fizeram um acordo, ontem, com o Senado, para aprovar a lei que cria o Funpresp. O STF não aceita dividir com o Conselho Nacional de Justiça a aprovação dos estatutos e dos planos do Funpresp para o Judiciário. Os senadores vão aprovar o projeto como veio da Câmara, e a presidente Dilma vai vetar a referência ao CNJ.

Dilma: pagando para ver
Em reunião com a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), no final da manhã de ontem, os líderes do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP); do PMDB, Henrique Alves (RN); e do PT, Jilmar Tatto (SP), avisaram que não seria possível votar a Lei da Copa sem marcar uma data para a votação do Código Florestal. A presidente Dilma, no entanto, não se sensibilizou e não aceitou negociar. Resultado: a base aliada na Câmara derrubou a votação da Lei Geral da Copa. Aliás, os aliados ironizam dizendo que derrotar o Planalto no Código é ação equivalente à rejeição, pelo Senado, da recondução de Bernardo Figueiredo para a ANTT.

"Colocar um casca-grossa como eu na articulação não parece boa ideia” — Paulo Bernardo, ministro das Comunicações, sobre boato de que ele substituiria a ministra Ideli Salvatti na pasta de Relações Institucionais

PRÁ LÁ, PRÁ CÁ. Sobre a polêmica da liberação de bebida alcoólica nos estádios na Copa de 2014, o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araujo (PE), citando histórico levantado pelo promotor mineiro Antonio Bantou, contou que o artigo 19 do Regulamento de Segurança da FIFA, vigente até janeiro de 2010, proibia, em suas competições, a venda de bebida nos estádios e nas imediações. O tucano criticou os governistas que querem "jogar a responsabilidade para os governadores".

O incendiário
Em sessão já conturbada, o discurso do líder do PT, deputado Jilmar Tatto (SP), ontem, só serviu para colocar gasolina na crise. Ele disse: "Não vamos entrar nessa chantagem que os predadores da agricultura tentam impor ao governo."

Ironia
Depois da fala de Tatto, Bernardo de Vasconcellos (MG), pelo PR, e o líder do PDT, André Figueiredo (CE), anunciaram que iriam obstruir a votação da Lei Geral da Copa e justificaram que o faziam devido "à falta de tato do governo".

PSB: coluna do meio
Um dos caminhos avaliados pelo PSB em São Paulo é apoiar uma terceira via, como Netinho de Paula (PCdoB) ou Paulo Pereira da Silva (PDT), ou uma candidatura própria. Dessa forma, os socialistas não precisariam se indispor com o ex-presidente Lula nem apoiar José Serra (PSDB). O diretório municipal quer se aliar ao tucano. O presidente do PSB, Eduardo Campos, deve tratar do assunto com o ex-presidente Lula nos próximos dias.

Segunda época
A presidente Dilma e o ministro Alexandre Padilha (Saúde) foram ontem no Rio dar uma mão para o prefeito Eduardo Paes, candidato à reeleição. Relatório da pasta apontou que, nas capitais, o SUS do Rio era o de pior desempenho.

Sectários
Integrante da ala do PMDB que transitou da campanha do PSDB para o apoio ao governo Dilma, o deputado Osmar Terra (RS) desabafa: "Não quero mais ministérios para o PMDB, quero que os ministros do PT nos atendam."

INTEGRANTES da direção do PDT produziram um dossiê contra o deputado Brizola Neto (RJ). Mas atribuem a autoria ao ministro interino Paulo Pinto. A presidente Dilma deve anunciar o novo ministro na sexta-feira, antes de embarcar para a Índia.

A OMC debate na semana que vem a inclusão do dumping cambial na lista das práticas desleais de comércio. O senador Francisco Dornelles (PP-RJ) vai a Genebra acompanhar os debates pelo Senado.

BLAGUE. Ontem foi a vez de o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) ironizar a polêmica sobre a venda de bebida nos estádios na Copa: "A Lei da Copa parece que aqui é a Lei do Copo. Só se discute essa questão".  

O terrorista dorme ao lado - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 22/03/12

De como os jovens de pais imigrantes na Europa se tornam fanáticos e assassinos violentos


PARIS - O presidente Nicolas Sarkozy dialogou indiretamente com Mohammed Merah, suspeito de ter assassinado três militares franceses (dois deles muçulmanos) e quatro judeus de uma escola de Toulouse. Merah, cercado em um apartamento dessa cidade do sul francês no momento em que escrevo, disse aos policiais com os quais negociava que pretendia "colocar a França de joelhos".
O presidente francês respondeu: "a República não cedeu, a República não recuou, a República não se debilitou".
É verdade, mas apenas parte da verdade. Tanto que ao funeral dos soldados em que Sarkozy discursou compareceu praticamente todo o mundo político francês.
O que significa que, se não ficou de joelhos, "a França inteira está emocionada", como escreveu Amélie Rossignol, da revista "Marianne". Completou: "Diante do drama, a economia, a Europa ou a evocação das reformas parecem bruscamente indecentes". Posto de outra forma, a República não ficou de joelhos, mas está congelada.
É compreensível que seja assim: Merah, 24, é francês de origem argelina. Há milhões de outros Merah que, de vez em quando, promovem revoltas nos "banlieus", os subúrbios de Paris ou de outras grandes cidades, o mais próximo possível de uma favela que se podem permitir países ricos e bem menos desiguais do que o Brasil, por exemplo.
Quando menor, Merah envolveu-se 15 vezes em pequenos crimes, o que acontece com inúmeros de seus companheiros de marginalização.
O que o tornou diferente -e capaz dos crimes de que é agora acusado- foi "uma radicalização salafista atípica", na descrição de François Molins, o procurador da República. Salafismo é uma variante radical do islã sunita.
Merah esteve duas vezes na fronteira Afeganistão/Paquistão, em zonas tribais nas quais "há cerca de 200 madrassas [escolas religiosas] que ensinam a jihad [a guerra santa] a futuros insurgentes, ao que se segue treinamento militar", segundo o General Sayed Amir Shah, chefe dos serviços de informação afegãos. Voltou a Toulouse como membro da Al Qaeda, disse aos policiais.
Tudo somado, compreende-se que a França se emocione e se assuste, até porque o editorial de capa do "Monde" de ontem lembra que "o engajamento militar da França em vários teatros exteriores, notadamente no Afeganistão, e sua diversidade ética e religiosa -a França é o país da União Europeia que abriga ao mesmo tempo a mais numerosa comunidade muçulmana e a mais numerosa comunidade judaica- fazem dela um alvo preferencial para a Al Qaeda".
Para o jornal, o que os jihadistas querem "é precisamente impedir a França de ser a França e a Europa de ser a Europa, na sua diversidade e na sua tradição de tolerância".
Pode-se até questionar se a tradição de tolerância não está sendo seriamente arranhada pelo próprio Sarkozy, com suas críticas e ações contra os imigrantes, e pela Europa, com a maré montante da xenofobia.
Mas ao menos ontem o presidente tocou a tecla certa ao pedir que a República não reaja aos crimes buscando vingança, o que criminalizaria toda a comunidade muçulmana.

Armas e influência - KENNETH MAXWELL


FOLHA DE SP - 22/03/12

Em breve, o Brasil decidirá sobre os caças que reequiparão sua Força Aérea. A decisão foi adiada pela presidente Dilma Rousseff no ano passado.
Os concorrentes são o Dassault Rafale, da França, o Boeing F-18 Super Hornet, dos EUA, e o Saab Gripen, da Suécia. Os três países recorreram a lobistas bem conectados.
O pedido inicial será de 36 aviões. Em outubro, a Boeing indicou Donna Hrinak, ex-embaixadora norte-americana em Brasília, como sua representante no Brasil. O ex-presidente Lula, ao que se sabe, favorece os franceses. O premiê sueco visitou Brasília.
A Índia recentemente fez do Rafale sua escolha. A Força Aérea Brasileira, em dado momento, parecia preferir o Gripen sueco. Os EUA prometeram não vetar a transferência de tecnologia. Mas a decisão da força aérea norte-americana de cancelar o contrato de US$ 335 milhões para a aquisição de 20 turboélices leves de ataque Super Tucano reforçou a percepção de que os EUA não são um parceiro confiável.
Integrantes da liderança militar e política brasileira suspeitam dos EUA. Celso Amorim, ministro da Defesa do governo Dilma, e Marco Aurélio Garcia, assessor de política externa do Palácio do Planalto, provavelmente compartilham dessa opinião. Diz-se que Dilma favorece a Boeing.
O Brasil tem potencial para tornar-se participante importante no mercado de defesa. As mais recentes estatísticas do Instituto Internacional de Estudos da Paz, em Estocolmo (Suécia), reportam que os gastos brasileiros com a defesa foram de US$ 28 bilhões em 2011, ou 1,6% do PIB.
Os gastos indianos com a defesa foram de US$ 34 bilhões. O instituto reporta que as transferências de armas convencionais entre 2007 e 2011 foram 23% mais altas que no período 2002-2006.
A América Latina responde por apenas 11% do comércio internacional de armas, a menor proporção entre as regiões mundiais. Mas a importação de armas pela América do Sul cresceu em 77%, com Chile e Venezuela respondendo por 61% do total. As importações venezuelanas de armas subiram em 555% entre 2002 e 2011, e a Venezuela conta com uma linha de crédito de US$ 4 bilhões na Rússia para futuras compras de armas.
O Brasil já elevou suas importações de armas. Um contrato com a França envolve submarinos e helicópteros, e a Marinha encomendou ao Reino Unido barcos para patrulha marítima. A decisão sobre os caças é parte desse processo de modernização.
As Forças Armadas brasileiras ainda não pagaram pelos crimes cometidos durante a ditadura militar. Se o Brasil resolvesse esse problema, ajudaria a definir um papel novo e vital para as Forças Armadas no futuro do país.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

Sexo e vergonha - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 22/03/12


"Imagine alguém que acaba sua noite com um sexo rápido e intenso, em pé, embaixo de uma ponte, e eis que, uma vez em casa, ele entra na internet e transa virtualmente com uma stripper de site on-line.
Não há gozo que lhe baste: sempre sobra a vontade de mais uma vez, mesmo que seja se masturbando com esforço. Outra noite, depois de ter brincado pesado com uma moça num bar, ele se pega com um cara no labirinto de uma boate gay: na procura por mais sexo, vale tudo.
Mas cada rosa tem seus espinhos. O disco rígido do nosso jovem está repleto de pornografia, até no computador do escritório -o que é arriscado. E, sobretudo, ele está aflito: a vergonha o leva a jogar fora (periodicamente) os apetrechos de sua sexualidade fantasiosa, e ele sente culpa de não conseguir ser o irmão, o amigo -e, quem sabe, o namorado- que ele talvez gostasse de ser.
Se esse alguém pedir ajuda a um terapeuta, alguns colegas tirarão da manga o "diagnóstico" de sexo-dependência ("sexual addiction") e proporão o programa em 12 passos (ensinado nas especializações em sexo-dependência), para que o indivíduo aprenda a se controlar e a renunciar, ao menos em parte, ao sexo, que teria se tornado, para ele, uma espécie de droga.
Mesmo sem acreditar nos 12 passos, outros colegas concordarão com o diagnóstico e simpatizarão com o "óbvio" sofrimento do "sexo-dependente" -afinal, eles imaginarão, essa prática endemoniada do sexo "deve", no mínimo, aviltar o indivíduo aos seus próprios olhos.
Outros colegas ainda (e eu com eles), ao receber o pedido de ajuda de um suposto sexo-dependente, reagiriam de maneira diferente: não se preocupariam nem com as fantasias, nem com as práticas sexuais do paciente, mas com a culpa e a vergonha que as acompanham.
Eu também anunciaria ao paciente que não sei (ninguém sabe) disciplinar o desejo sexual; só posso, se ele quiser, tentar disciplinar a culpa e a vergonha que azucrinam sua vida e estragam seus prazeres.
Quem viu "Shame" (vergonha), de Steve McQueen, percebeu que nosso paciente hipotético se parece com o protagonista do filme.
Em cartaz desde sexta passada, "Shame" é, ao mesmo tempo, ousado e careta. Ousado, pelo retrato da procura sexual do protagonista (muitos, sem dúvida, se reconhecerão), e careta, porque essa procura parece ser necessariamente doentia, culpada e vergonhosa.
Concordo com Cássio Starling ("Ilustrada" de 16/3): o filme é ótimo, mas discordo do destaque do artigo, segundo o qual "McQueen foge do moralismo ao abordar a compulsão por sexo". Quem enxerga o desejo sexual do outro como uma patologia é sempre moralista. Em matéria de sexo, patologizar é o jeito moderno de estigmatizar e policiar (conselho: fuja de parceiros que acham você "doente").
McQueen (na mesma "Ilustrada") declarou que o negócio dele é desafiar as pessoas. Ora, apresentar um obcecado por sexo como um doente que sofre de vergonha e culpa, isso não é desafio algum -ao contrário, é a confirmação de um lugar-comum.
Um lugar-comum confirmado por psiquiatria e psicologia? Nem isso.
Certo, desde o século retrasado, a psiquiatria e a psicologia são regularmente chamadas a substituir a religião, que (digamos assim) cansou de ser a grande ordenadora e controladora do comportamento humano. No caso, a ideia da "sexo-dependência" surgiu nos anos 1970 -provavelmente, como reação contra o interesse "excessivo" pelo sexo durante a dita liberação sexual dos anos 1960.
Mas, sentindo talvez o bafo do moralismo, muitos psiquiatras e a psicólogos receberam essa categoria diagnóstica com desconfiança. Quem a adotou e promoveu foram a imprensa e o grande público (e isso bastou para que surgisse uma pequena indústria de clínicas, programas universitários etc.). Mas por quê, então, esse sucesso popular da "sexo-dependência", na qual McQueen parece acreditar?
Apenas uma constatação: a associação de sexo com vergonha e culpa é um bordão cultural muito antigo, no qual somos convidados a acreditar por todo tipo de poder. A exigência de domesticar o desejo sexual parece ser, aos olhos de todos, um pré-requisito básico de qualquer ordem social.
Além disso, há a eterna inveja dos reprimidos: como dizia Alfred Kinsey, em regra, os que consideramos doentes e maníacos sexuais são apenas os que praticam mais sexo do que a gente.

GOSTOSA


Repartição de danos - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 22/03/12

Na hora da festa foi o governo federal, na figura do presidente Luiz Inácio da Silva, quem recebeu os cumprimentos por ter “conseguido” trazer para o Brasil a Copa do Mundo de 2014. Isso em outubro de 2007.

Agora, quatro anos, cinco meses e um acúmulo de dificuldades depois, o governo federal resolveu socializar o prejuízo transferindo aos Estados a decisão sobre uma questão à qual não se deu a devida importância e acabou virando um enrosco para a aprovação da Lei Geral da Copa: a venda ou não de bebidas alcoólicas nos estádios.

Segundo a última versão do acordo para a votação no Congresso, a Fifa terá de negociar com os governadores (sete) uma forma de transpor o obstáculo contido no Estatuto do Torcedor e nas legislações estaduais àquele tipo de comercialização.

A União reservou para si o papel dúbio de defender a suspensão de um artigo do estatuto, mas sem explicitar de forma inequívoca a permissão para a venda nos termos em que havia sido acertado.

E isso porque o Planalto, embora favorável à manutenção dos termos do compromisso firmado anteriormente, preferiu não decidir. E por quê? Por receio de perder no voto mesmo controlando numericamente 80% do Congresso.

Parte de sua base de sustentação parlamentar é contrapor convicção e parte condiciona a aprovação da Lei da Copa à votação do Código Florestal.

O que uma coisa tem a ver com a outra? No conteúdo nada, mas na forma prevalece o jogo da tensão em detrimento da negociação mediante o exame objetivo dos pontos em discussão e da tomada firme de uma posição.

Todos os partidos da coalizão governista, PT incluído, querem impor de alguma maneira e, cada qual por seus motivos, “mandar um recado” à presidente Dilma.

A eclosão mais recente dos conflitos não está superada. O secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, não traduz a realidade quando diz que está “tudo ótimo”.

Se estivesse, a presidente não teria sido obrigada a jogar no colo dos governadores uma tarefa que não é deles.

E para o desempenho da qual não têm força política comparável ao peso da União. Na interlocução individual com a Fifa já entrarão em desvantagem. Terão de ceder e, assim, o resultado dificilmente deixará de ser o desejado pelo Planalto: a autorização para a venda de bebidas.

Só que para isso o governo federal escolhe dar a volta ao mundo para chegar ao mesmo lugar, em terreno acidentado que renderá atritos explícitos e implícitos com os governadores.

Ou seja, não enfrenta a questão que em tese poderia resolver se a maioria acachapante na prática não fosse um faz de conta, e alimenta o surgimento de novos focos de dificuldades. Dessa vez para além das fronteiras de Brasília.

Cenografia. Os empresários convida- dos para uma reunião hoje com a presidente Dilma Rousseff irão ao Palácio do Planalto de bom grado. Não obstante conscientes de que estão sendo chamados para compor uma cena.

A de coadjuvantes da presidente no desempenho de seu papel preferido: a de cobradora de providências.

Ela reclamará do setor privado mais investimentos e o empresariado, ali representado por uma lista considerada algo “exótica” pela presença meramente simbólica de gente que não faz mais parte da operação efetiva dos respectivos negócios, sairá de lá como entrou.

No aguardo de que o governo lhe forneça sinais concretos de segurança para investir.

Serventia da casa. O senador Ivo Cassol interrompeu votação na Comissão de Assuntos Econômicos da proposta de acabar com o pagamento dos 14.º e 15.º salários dos parlamentares, argumentando que político, no Brasil, “ganha muito mal”.

Ao que cumpriria acrescentar que só é político quem quer. Se a carestia é tanta, basta não se candidatar e fica assim solucionado um problema que não cabe ao público (pagante) resolver. 

Bolsonaro! O amante do Crô! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 22/03/12

Piada pronta: "Encontro da juventude do PMDB!" Juventude do PMDB? Já sei, Temer, Sarney e Simon!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Exclusivo! Desvendado o mistério de Fina Estampa de Bueiro. O amante secreto do Crô é o Bolsonaro!
Ué, os suspeitos não são todos machões homofóbicos?! Então é o Bolsonaro! No topo do infográfico! Pois, como disse aquela biba: "Todo pit bull é uma Lassie enrustida"! Rarará! Quem me enviou a revelação foi o Twitter Bolsonaro Não!
E esta piada pronta: "Gangue das Loiras era chefiada pela única morena". Ou seja, a única que pensava! Rarará!
E adorei a Tereza Cristina: passou a novela inteira com a mesma cara, a mesma roupa e o olho mais puxado do que égua de charrete! A Tereza Cristina não foi plasticada, foi plastificada.
Enfiaram a Torloni numa máquina de plastificar documento! Rarará! Atriz não pode usar botox, senão vai ter que pendurar placa no pescoço: tô alegre, tô triste, tô deprimida. Aí entra em cena: "Tô alegre". "Tá o quê?". "Alegre, ALEGRE! Não tá lendo a placa? Tô alegre!". Rarará!
E só a Lilia Cabral pra fazer sucesso com um nome tão esdrúxulo: Griselda. Eu tinha uma amiga chamada Aldiçéia. E como ela era muito aérea, a gente chamava de Aldiçéia no Espaço! Rarará!
E a Dilma devia chamar a Griselda Pereirão. Pra dar um jeito naquela base aliada! O governo Dilma tá parecendo briga de minhoca, todo enrolado! A base aliada parece filho mimado: "Cadê o meu BlackBerry, me dá a chave do carro, quero um videogame novo e um All Star cano alto!"
E esta outra piada pronta: "Encontro da juventude do PMDB!" Juventude do PMDB? Já sei, o Temer, o Sarney e o Pedro Simon! Rarará! Se tem duas palavras que não combinam, elas são juventude e PMDB. E a juventude do PMDB deve ser Papai Me Descola uma Boquinha! Rarará!
E o Adriano no Barmengo? Ficamos assim: o Adriano finge que joga, e o Flamengo finge que paga. Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é lúdico! Olha a placa dum restaurante na beira de estrada de Baependi, interior de Minas: "Atenção! ARMOÇO!".
E mais uma prova da inutilidade do pronome "se": "Venha-se provar nossa costela de bafo". E esta no interior de Santa Catarina: "Vendo-se Frango-se". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Guerra fiscal - REGINA ALVAREZ

O GLOBO - 22/03/12


O governo entrou de cabeça na briga com alguns estados e está apostando todas as fichas para aprovar no Senado a resolução 72, que pretende acabar com a chamada "guerra dos portos". Ou seja, a política de incentivos que estados como Espírito Santo e Santa Catarina adotam por meio do ICMS cobrado sobre bens importados, que atrai empresas importadoras para seus portos e reforça seus cofres.

A principal justificativa em defesa dessa medida é a proteção à industria nacional. Afinal, se a indústria está sofrendo com a concorrência dos importados e a balança comercial patina com o aumento das importações seria lógico supor que não faz sentido os estados jogarem contra, estimulando as compras externas com esse incentivo. Mas a questão é bem mais complexa, se olharmos todos os atores envolvidos.

O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega fez uma análise sobre essa questão em seu blog, que reproduzo em parte aqui por considerar relevante. Ele lembra que a maioria dos bens importados que recebem os incentivos são matérias-primas, partes, peças e componentes usados pela própria indústria.

"É uma forma de lidar com a perda alarmante de sua competitividade, provocada por problemas estruturais graves. A decisão das empresas está dissociada da guerra fiscal", afirma.

Os empresários, liderados pela Fiesp, estão engajados nesse esforço para aprovar a resolução 72. O que não está sendo colocado com clareza são as consequências prováveis desse mecanismo de proteção à indústria. Especialistas preveem, por exemplo, que os preços de alguns insumos como aço e petroquímicos vão subir sem a concorrência externa.

Maílson lembra que o governo terá que compensar os estados pela perda de arrecadação e de investimentos. O fim do incentivo deslocará as mercadorias para o porto de Santos, já congestionado. Haverá uma piora na logística, aumento do custo das empresas e perda de competitividade das que exportam.

Os estados prejudicados, por sua vez, vão lutar até o fim contra a medida, mobilizando suas bancadas no Senado e rachando ainda mais a base do governo.

A guerra fiscal precisa acabar, diz o ex-ministro, mas isso não pode ser feito de forma tópica, atabalhoada, sob pressão de grupos de interesse, mesmo que alguns tenham razão.

Carimbo de aprovado
O Brasil foi aprovado com louvor em recente avaliação feita por técnicos do FMI e do Banco Mundial sobre o sistema financeiro brasileiro. As conclusões foram que o país possui bancos sólidos, com baixo risco sistêmico, e com capacidade de absorver choques externos. A missão ressaltou que o nível elevado de reservas do Banco Central e o câmbio flutuante foram importantes para lidar com a crise internacional e que as autoridades brasileiras foram rápidas ao adotar medidas para proteger o sistema. A avaliação positiva soou como música aos ouvidos da diretoria do BC. "É o reconhecimento do trabalho realizado e muito importante para a imagem do Brasil lá fora", disse um interlocutor.

Dinheiro no bolso
O gráfico abaixo mostra um dos principais pilares para a recuperação da economia americana. O comprometimento da renda das famílias com o pagamento de dívidas voltou ao nível mais baixo desde 1996. Com mais dinheiro no bolso, a confiança dos consumidores aumenta e, consequentemente, cresce o consumo. O fim da queda livre no preço das residências, a recuperação das bolsas e o longo período de juros zero promovido pelo Fed são fatores que contribuíram para a recuperação.

Calote organizado
A estratégia das autoridades europeias para lidar com a crise grega deu certo em pelo menos um ponto, segundo a economista Monica de Bolle, da Galanto consultoria: o calote grego disparou o seguro CDS (Credit Default Swap), mas não houve turbulência nos mercados. Ela diz que os bancos tiveram tempo suficiente para fazer provisões:

- A operação foi muito bem feita, os bancos aderiram, houve calote negociado, o CDS foi disparado mas quem tinha que pagar teve tempo de se proteger. Também foi fundamental a estratégia do novo presidente do BCE, Mario Draghi, de dar liquidez aos bancos. Eles eram os principais credores da Grécia e isso facilitou a adesão ao programa.

Monica ressalta que isso não significa que o problema na Europa esteja resolvido. A Grécia ainda tem problemas crônicos, de déficit elevado e baixas perspectivas de crescimento. 

Aberração fiscal - CELSO MING

FOLHA DE SP - 22/03/12

A chamada guerra fiscal dos portos, mais que um fato consumado, se transformou em aberração consumada. E é de tal ordem que dificilmente poderá ser erradicada apenas com um ato de vontade do governo federal e do Senado.

Essa guerra consiste na concessão de subsídios estaduais (devolução de ICMS) a produtos importados para que sejam desembarcados nos portos (secos ou marítimos) desses Estados e, assim, proporcionem não só arrecadação extra a seu Tesouro, mas também incentivem a instalação de fábricas no seu território.

As avaliações disponíveis dão conta de que esses subsídios alcançaram mais de 10% das importações de manufaturados em 2011.

Tudo se passa como se os Estados importadores operassem como paraísos fiscais. E a principal consequência é que os produtos importados chegam mais baratos do que os feitos aqui. Terça-feira, o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, disse que esses subsídios têm o mesmo efeito de um dólar 8,9% mais barato em reais.

Nessas condições, os produtos importados fazem concorrência predatória aos nacionais e atuam tanto para a desidratação da indústria brasileira como para a redução de empregos.(Veja no Entenda como foi armada essa guerra.) A proposta em discussão no Senado é unificar em 4% a alíquota interestadual do ICMS sobre produtos importados.

Mas esse caminho enfrenta dois obstáculos: o político e o jurídico.

O obstáculo político está no fato de que essa guerra fiscal se alastrou de tal forma que corre sério risco de que a proposta seja rejeitada pelo Senado, que defende interesses dos Estados.

Um punhado de governadores já avisou que trabalhará contra o projeto, caso seus Estados não sejam satisfatoriamente compensados pelas perdas que terão.

Com os alientado por esta Coluna em outras oportunidades, quando admitiu pagar essa compensação aos governadores, o governo federal ou, mais particularmente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se dispôs a gerar nova aberração: indenizar os Estados por práticas de pirataria fiscal, condenada em lei.

O obstáculo jurídico é o artigo 152 da Constituição, que deixa claro que "é vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino". Como estabeleceria tratamento diferenciado entre o produto importado e o aqui fabricado, se passar pelo Senado a Resolução 72 pode ser declarada inconstitucional.

Mas não é a única guerra fiscal armada no País. Há inúmeras outras. São pacotes compostos de distribuição de créditos de ICMS,concessões de terrenos ede obras de infraestrutura, destinados a atrair a instalação de novas fábricas.

Todas elas constituem aberrações fiscais que solapam as relações federativas do País.

O problema de fundo é a barafunda do sistema tributário vigente, sobretudo as regras do ICMS, que o governo insiste em corrigir com puxadinhos, desta vez jurídicos, como essa Resolução 72 do Senado.

A correção óbvia exige reforma tributária profunda e radical.

Mas esse é um projeto que vem sendo sistematicamente adiado desde 1988, quando entrou em vigor a atual Constituição.

Entenda

Guerra dos portos

São os Estados que cobram o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS). Muitas vezes, a circulação de uma mercadoria, que constitui o fato gerador do ICMS, não se restringe a um Estado. Nesse caso, as receitas nas operações interestaduais têm de ser partilhadas entre os Estados, como prevê a lei.

Como funciona

O Estado por onde a mercadoria é importada cobra de ICMS uma alíquota de 12% ou 7% (conforme a região). No Estado de destino, a taxação é de 12% ou 17%, mas o dono da mercadoria tem direito a descontar o que já pagou no Estado de origem.

Devolução

O subsídio consiste em que o Estado por onde a mercadoria é importada devolve no ato até 75% do valor do ICMS cobrado, mas o proprietário da mercadoria tem o direito de receber a diferença integral no Estado de destino, como se não tivesse a devolução. O Estado de origem ganha com a operação porque normalmente não conseguiria atrair as importações.

Pátria amada - CARLOS ALBERTO SARDENBERG


O Globo - 22/03/12


Já houve um tempo em que era praticamente proibido importar vinhos no Brasil. A produção local era soberana. Depois, começaram a aparecer uns vinhos argentinos muito ruins, de quinta categoria lá, mas tratados aqui como finos. A produção local continuou sem competição.

Não se notou qualquer melhora do vinho nacional nesse longo período de proteção. Ao contrário, o produto fabricado aqui, com uvas locais, só começou a dar sinais de melhora quando a importação se abriu e o brasileiro começou a conhecer o que era um bom vinho. O consumo foi crescendo, por essa razão, o aumento da oferta, mas também seguindo padrões globais de comportamento, nos quais o vinho ganhou até um aspecto cultural. Assim, nos últimos anos, aumentou tudo, consumo, importação e produção interna.

Mas isso não está bom, na opinião de associações de produtores locais. Pediram e o governo abriu uma investigação para avaliar a aplicação de salvaguardas - cotas ou mais tarifas de importação sobre o vinho (a atual tarifa é de 27%, já muito alta, mas não se aplica aos países do Mercosul, Argentina e Uruguai, e ao Chile, que tem acordo especial).

O caso ainda está em estudos no Ministério do Desenvolvimento, mas o discurso da presidente Dilma aos produtores, feito no Rio Grande do Sul, deixou todos eles muito animados.

Hoje, o vinho nacional alcança níveis razoáveis de qualidade. Mas perde na relação custo/benefício. Com o preço que se paga por um bom nacional compra-se um argentino ou chileno bem superior. E esses estrangeiros já chegam aqui muito mais caros do que em seus países de origem. O pessoal das vinícolas chilenas se espanta quando sabe do preço cobrado pelos seus produtos no Brasil.

Mais ou menos na mesma época em que não se podia importar bons vinhos, era proibido importar carros, bons ou ruins. Esse mercado era totalmente fechado e protegido.

Quando se abriu, no início dos anos 90, verificamos que décadas sem competição haviam deixado as famosas carroças. A indústria só começou a avançar quando submetida à concorrência externa.

De 2000 para cá, a estabilização da economia, a consequente volta do crédito e a expansão global puxaram o crescimento do país. O mercado chegou a 3,5 milhões de carros, o quarto ou quinto do mundo.

Mas também não está bom para os produtores locais, todos multinacionais. O setor pediu e já conseguiu várias formas de proteção contra os carros importados.

O governo, conforme têm dito a presidente e os ministros Guido Mantega e Fernando Pimentel, não vai fazer o papel de bobo e deixar que os estrangeiros venham aqui conquistar nosso mercado.

Há situações em que a produção local pode e deve ser protegida. A legislação da Organização Mundial do Comércio, à qual o Brasil está submetido, prevê esses casos. Por exemplo: exportações predatórias, a preços artificialmente baixos, podem ser barradas. Também admite dar um tempo de proteção até que uma determinada indústria local nasça e/ou ganhe mais musculatura.

Mas, no geral, o comércio internacional e a abertura dos mercados constituem fatores de desenvolvimento global e nacional. Isso mesmo, importação é bom. Os países ganham com as importações. Ganha a produção local, com a aquisição de tecnologias e insumos modernos, e ganha o consumidor, que tem à sua disposição uma maior variedade de produtos de qualidade.

Nenhum país precisa produzir tudo que consome. E um país do tamanho do Brasil nunca será essencialmente importador. É mais negócio produzir neste mercado tão grande. Hoje, por exemplo, apenas 18% das compras externas são bens de consumo.

Assim, o nacionalismo não passa de um falso discurso. Não chegaram a tanto, mas estão quase nos dizendo que importar é um ato de lesa-pátria. E estão nos vendendo gato por lebre. Dizem que as medidas protecionistas se enquadram no programa de criar condições de inovação e ganhos de eficiência para a indústria nacional. É falso.

O que estão fazendo, simplesmente, é exportar o custo Brasil. Sim, está difícil a vida da indústria no Brasil. Mas não é por causa do ataque dos estrangeiros. Está difícil porque é caro produzir no Brasil. É caro fazer negócios no Brasil, inclusive no comércio de importados.

O dólar é parte do problema, mas hoje certamente está longe de ser a parte principal. Reparem: a moeda chilena também está valorizada e o vinho deles, melhor, sai mais barato que o brasileiro; idem para a moeda mexicana, e o carro deles também sai melhor e mais barato.

Proibir, limitar e taxar os importados não trará qualquer ganho de eficiência nem de escala à produção local. Apenas tornará todos os produtos, nacionais e importados, mais caros.

Resumo da ópera: como é difícil ter um plano de médio prazo para a redução do custo Brasil e a eliminação dos entraves à eficiência nacional; e como é difícil justificar tecnicamente as medidas protecionistas, parte-se para esse falso e perigoso patriotismo, que é o ataque ao estrangeiro.

Como o governo e produtores argentinos fazem com a gente.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 22/03/12

Operadoras de turismo devem crescer 10% em 2012

Apoiado na crise europeia, que ajudou a levar mais viajantes para o continente, o mercado de operadoras de turismo cresceu 26% em 2011, segundo dados que a Braztoa (associação do setor) vai divulgar hoje.

O crescimento é maior que a estimativa anterior, de 15% ante 2010. Para 2012, porém, são esperados apenas 10%.

"Será um avanço grande, muito superior ao crescimento do PIB", diz Marco Ferraz, presidente da Braztoa.

Aliado a fatores como câmbio favorável e alta de consumo, o impulso registrado em 2011 está ligado também à elevação do número de empresas associadas à entidade, segundo Ferraz.

O número de membros subiu de 87 para 94 em 2011, segundo dados da Braztoa, que representa 90% dos pacotes de lazer vendidos no país.

Apesar do momento favorável à liberação de vistos para os EUA, com redução de filas e maior flexibilidade de critérios, são as viagens para a Europa que se destacam no crescimento mensurado.

"Para os EUA, os preços estão um pouco acima do ano passado. As pessoas estão indo para a Europa", diz Ferraz.

"Nunca aconteceu desse jeito. Cresceu muito o fluxo para lá. Com crise, há espaço nos hotéis e voos. Dá para conseguir pacote com US$ 1.500."

O faturamento no setor foi de R$ 9,58 bilhões em 2011.

Consumidor... O consumidor paulistano está menos otimista em março, segundo a FecomercioSP. O ICC (Índice de Confiança do Consumidor) caiu de 170,2 pontos em fevereiro para 164,4 pontos neste mês, em escala que varia de zero a 200 pontos e aponta otimismo quando está acima da marca dos cem pontos.

...desconfiado A variável que mede o grau de satisfação dos consumidores com o momento atual da economia diminuiu 3,3%. A maior queda foi registrada pela retração da confiança do público feminino, de 4,8%. Houve também queda de 3,5% no índice que mede a percepção futura dos consumidores.

Empresas puxam a recuperação nos Estados Unidos

O lucro das empresas do índice de ações S&P 500 dos EUA avançou mais que o dobro do PIB americano no quarto trimestre de 2011.

O lucro por ação aumentou em média 8% ante igual período de 2010. O PIB americano cresceu 3% nos últimos três meses do ano passado.

No índice há exportadoras, como a Ford e a Cisco.

"Isso [o avanço das empresas] vai em linha com o que a presidente Dilma está dizendo. Há nos EUA política proposital de queda do dólar, embora não admitam isso, que devolve aos EUA competitividade e prejudica países como o Brasil, cuja indústria sofre com alta da moeda e do custo do trabalho", diz Tony Volpon, analista da corretora Nomura. Paul Edelstein, da consultoria IHS, relativiza o renascimento da indústria.

As manufaturas dos EUA perderam 2,3 milhões de empregos do início da recessão, em dezembro de 2007, ao início de 2010. Foram recuperadas 392 mil vagas.

"A indústria americana ainda enfrenta competição de China e emergentes."

Volpon diz que há alta contínua da rentabilidade, apesar do ambiente macroeconômico. A taxa de desemprego americana segue elevada, apesar de sucessivas quedas.

ECONOMIA SOB ANÁLISE

A avaliação do desempenho econômico brasileiro foi uma das que mais caíram em março, segundo pesquisa da Ipsos.

A queda foi de seis pontos percentuais ante fevereiro (mesmo número foi registrado na Polônia e na Argentina).

Apesar da retração, 44% dos brasileiros ouvidos acreditam que o estado geral da economia é bom.

A média em 24 países ficou em 29%, comportamento estável na comparação com o mês anterior.

PATENTE REGISTRADA

O número de pedidos de registro de patentes cresceu 13,8% no ano passado, de acordo com dados do Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).

O número de patentes concedidas, no entanto, teve alta de apenas 5,1%.

O Inpi espera chegar no final dessa década com 60 mil pedidos por ano. Hoje são cerca de 30 mil.

O aumento das solicitações reflete o maior investimento no setor de pesquisa e desenvolvimento do país.

ALUGUEL COMERCIAL EM SP

O preço de locação dos imóveis comerciais em Alphaville é metade do registrado em São Paulo, segundo estudo da consultoria imobiliária CB Richard Ellis.

O valor em Alphaville costuma ficar entre R$ 50 e R$ 60, por metro quadrado.

Na região da marginal Pinheiros, por sua vez, os aluguéis variam de R$ 110 a R$ 120, por metro quadrado.

Além da maior procura, a diferença é justificada pelas vantagens tributárias de Barueri, como a redução de ISS, segundo a consultoria.

NÚMERO

R$ 55 é o preço médio do aluguel de imóvel comercial em Alphaville, por m2