quarta-feira, setembro 28, 2011

ILIMAR FRANCO - Novo referendo?


Novo referendo?
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 28/09/11

O PSDB escondeu até ontem uma mudança importante captada por sua pesquisa nacional de opinião pública. A tese do desarmamento, que no referendo de 2005 foi derrotada por 64% a 36%, teria sorte diferente hoje: 61% dos ouvidos apoiam o desarmamento, sendo 33% contra. A inversão de posicionamento, segundo o cientista político Antonio Lavareda, na reunião com a bancada federal tucana, é que há maiores compreensão e sensibilidade diante do drama da violência.

"Deviam avisar ao Fernando Henrique"Dois ou três deputados tucanos fizeram a advertência acima, ontem, quando o cientista político Antonio Lavareda apresentou à bancada federal a ampla pesquisa de opinião contratada pelo PSDB. O comentário foi a propósito da posição sobre a descriminalização do consumo da maconha: 77% contra e 17% a favor. A pesquisa confirma que a redução da maioridade penal, de 18 anos para 16 anos, tem amplo apoio social: 79% a favor e 17% contra. A maioria é a favor também da pena de morte: 57% x 34%; e contra a legalização do aborto: 73% x 21%. Quanto à política de cotas para negros, há divisão: 49% contra e 43% a favor. Não adianta a tática do avestruz. Para construir o futuro tem que ter o pulso da realidade" - Marcus Pestana, deputado federal (PSDB) e presidente do PSDB mineiro, sobre dados negativos da pesquisa tucana

UMA CPMF PARA OS MAIS RICOS. O Senador Jorge Viana (PT-AC) vai apresentar um projeto taxando em 1% as pessoas físicas que ganham mais de R$500 mil por ano. Esse dinheiro seria destinado, via Imposto de Renda, para a Saúde. Para não contrariar o governo, ele vai votar contra o projeto do irmão, o ex-Senador Tião Viana (PT-AC), atual governador do Acre, que aumenta de 7% para 10% os recursos da União para o setor.

Mais impostoO Senador Aécio Neves (PSDB-MG) apresentou ontem projeto de lei aumentando os impostos das empresas mineradoras. Ele quer aumentar a tributação de 0,2% a 3% do lucro líquido para 5% do faturamento bruto das empresas.

Pai da ideiaO almoço dos Senadores independentes com a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil), na quinta-feira, surgiu de uma conversa dela com o Senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Esse grupo lançou movimento de apoio à faxina.

Petróleo: um alento para o RioA posição assumida pelo Senador Delcídio Amaral (PT-MS), na reunião sobre a divisão da renda do petróleo, ontem no Ministério da Fazenda, foi bem recebida pelos Senadores do Rio. Delcídio, que é de um estado não produtor de petróleo, sustentou que não é razoável que esses estados queiram, de um ano para o outro, uma receita de R$8 bilhões, considerando que a receita total de royalties e participação especial é de R$21 bilhões.

Dois caminhosDivisão no PT por causa da eleição para a prefeitura de Vitória (ES). O prefeito João Coser quer que o partido apoie o ex-governador Paulo Hartung (PMDB). A ministra Iriny Lopes (Mulheres) já lançou seu nome à sucessão de Coser.

RachadoContrariando a direção nacional do PSDB, o presidente tucano no Rio, Luiz Paulo Corrêa da Rocha, abriu processo de intervenção no diretório de Duque de Caxias, para destituir o grupo ligado à deputada Andreia Zito (PSDB-RJ).

EM ENTREVISTA na TV UOL, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), disse: "O acordo (com o PMDB para a presidência da Casa) está mantido".

A MINISTRA Ana de Hollanda (Cultura) e o presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Galeno Amorim, vão hoje à Comissão de Educação da Câmara prestar contas de como será utilizada a emenda de R$36 milhões destinada às políticas do livro e leitura.

O PRESIDENTE da Fundação Palmares, Eloi de Araújo, lança hoje no Rio, no Palácio da Cultura Gustavo Capanema, a segunda edição do Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras.

ALON FEUERWERKER - Começo, meio e fim


Começo, meio e fim
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 28/09/11


Se fosse prioridade mesmo, o governo federal entraria no debate da saúde com um diagnóstico sobre: 1) o que precisa ser feito; 2) em quanto tempo dá para fazer; 3) quanto custa; 4) como arrumar o dinheiro
Infelizmente para o Sistema Único de Saúde (SUS), o debate sobre a regulamentação da Emenda Constitucional 29 (que também vincula a verba do setor ao crescimento nominal do Produto Interno Bruto) corre, por enquanto, pelas raias da propaganda e da esperteza. 
Todo mundo quer tirar uma casquinha. 
Quando " e se " finalmente concluir a votação, o Congresso Nacional posará de benfeitor. Já o governo federal está à espreita, vendo se abre a janela de oportunidade para emplacar um novo imposto. 
Em qualquer caso a votação trará algum ganho social. As autoridades enfrentarão mais dificuldades para classificar como "para a saúde" verbas que hoje desviam rumo a outras finalidades. 
Mas aí virá o problema: como financiar doravante o que até então recebia indevidamente verbas da saúde? 
É legítimo suspeitar que o tal novo imposto não seria para suprir a saúde, mas para tapar buracos provocados pela maior rigidez das regras sobre a aplicação do dinheiro. 
A não ser, naturalmente, que o governo federal se comprometa a colocar na saúde tudo que coloca hoje, e mais o dinheiro do novo imposto. 
Difícil acreditar. 
A saúde é prioridade em qualquer pesquisa com o público, mas não recebe das autoridades o olhar merecido. Parecem estar mais preocupadas com o eventual desgaste de aparecerem como nem aí para o problema. 
Se fosse prioridade mesmo, o governo federal entraria no debate com um diagnóstico sobre: 1) o que precisa ser feito; 2) em quanto tempo dá para fazer; 3) quanto custa; 4) como levantar o dinheiro. 
Uma explicação com começo, meio e fim. 
Será uma pena se toda a energia investida na discussão, na sociedade e no parlamento, acabar desperdiçada. Ou se a montanha der à luz um ratinho. Se o governo reconhece a dimensão da encrenca, cabe-lhe dizer como sair dela. 
Ou então continuará correndo atrás dos acontecimentos. E argumentando que a necessidade de finanças públicas austeras impede oferecer à saúde o necessário para ela funcionar bem. 
Um argumento que vale também para a educação. Vale aliás para quase qualquer coisa. Em outros tempos, a tese de colocar as finanças públicas acima do bem e do mal seria acusada de socialmente insensível e " por que não? " "neoliberal". 
Escasseiam hoje os políticos dispostos a ir por essa retórica. Mas os políticos não são impermeáveis à percepção generalizada de que só falta mesmo dinheiro é para as coisas que atendem às demandas da maioria. Como por exemplo a saúde. 
Esse é o ambiente em que o Senado vai apreciar a proposta minimalista vinda da Câmara dos Deputados. O risco sabido é os senadores reafirmarem o maximalismo que enviaram aos deputados, quando aprovaram o texto do então senador Tião Viana. 
Que propõe dar à Saúde 10% das receitas correntes da União. 
A oposição certamente lembrará, com lógica, que a proposta é de um ex-senador petista, hoje governador do Acre pelo PT. Defenderá que Mateus seja embalado por quem o trouxe ao mundo.
O governo tem como evitar a derrota. Mas se ela vier sempre será possível à presidente vetar, pois a legislação proposta é infraconstitucional. 
O debate do momento no Congresso é sobre a divisão dos royalties do pré-sal. Deputados e senadores ameaçam derrubar o veto do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo movimenta-se para evitar. 
Se derrubar mesmo o veto aos royalties, o Parlamento terá mandado um recado para Dilma Rousseff. E a porteira estará aberta. Derrubado o primeiro, ficará mais fácil ameaçar com a derrubada do segundo. 
A opinião pública bradará contra a irresponsabilidade nos gastos públicos, mas talvez não seja suficiente. O povo, como se sabe, leva em conta apenas parcialmente os conselhos dos chamados formadores de opinião. 
Talvez seja melhor o governo se mexer e aparecer com soluções. E não só lançar advertências.

EDITORIAL O ESTADÃO - País dos impostos complicados


País dos impostos complicados
EDITORIAL 
O ESTADÃO - 28/09/11

O Brasil é campeão mundial de complicação no pagamento de impostos e contribuições. O peso dos encargos - dos mais altos do mundo - é só um dos problemas suportados pelas empresas, quando têm de cuidar da tributação. Além de pesados, os tributos são incompatíveis com a inserção global da economia, porque encarecem toda a atividade empresarial, desde o investimento em máquinas e instalações até a exportação ou a venda final no mercado interno. Tanto no exterior quanto no País, o produtor nacional fica em desvantagem diante do concorrente estrangeiro. Essas características bastariam para fazer do sistema brasileiro um dos piores do planeta. Mas há mais que isso.

As companhias gastam muitas horas de trabalho só para acompanhar e decifrar as mudanças de regras e para seguir todos os trâmites necessários ao cumprimento de suas obrigações. É muita mão de obra desperdiçada numa atividade custosa e sem retorno, tanto para a empresa como para a economia nacional.

As empresas brasileiras gastam em média 2.600 horas por ano com os procedimentos necessários para cumprir as normas tributárias. Isso equivale a 325 jornadas de 8 horas. Foi o pior desempenho nesse quesito identificado em pesquisa anual da consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC) em colaboração com o Banco Mundial (Paying Taxes 2011). Segundo o levantamento, realizado em 183 países, o tempo médio gasto para o cumprimento das normas tributárias é de 282 horas, ou 35 dias de trabalho. O tempo despendido no Brasil é mais que o dobro do consumido no segundo país em pior situação, a Bolívia - 1.080 horas. No Chile, frequentemente classificado como o país mais competitivo da América Latina, gastam-se 316 horas. Na França, 132. Na Alemanha, 215. Nos Estados Unidos, 187. Na Índia, 258. Na China, segunda maior economia do mundo, 398.

O tempo consumido no Brasil para o cumprimento das obrigações se mantém desde 2006. Nesse período, houve reformas tributárias em 60% dos países cobertos pela pesquisa, os sistemas foram aperfeiçoados, tornaram-se menos onerosos e, além disso, os procedimentos foram simplificados. Na média, o peso dos tributos caiu 5%, o tempo de trabalho ficou cinco dias menor. Também houve redução no número de pagamentos efetuados. Na média, cerca de quatro recolhimentos foram eliminados.

Na China, a unificação de procedimentos contábeis e o maior uso de meios eletrônicos permitiram às empresas poupar 368 horas de trabalho e 26 pagamentos por ano. Na América Latina os procedimentos continuam complexos, mas, apesar disso, as empresas dedicam em média 385 horas à administração dos impostos, apenas 14,8% do tempo consumido no Brasil. Houve descomplicação das tarefas em vários países da região, segundo a pesquisa. No Brasil, as mudanças foram insignificantes. Quanto às economias mais avançadas, operam, de modo geral, com sistemas bem mais simples. Também isso contribui para a competitividade de suas empresas.

Pelo menos num ponto a situação brasileira é semelhante à da maior parte dos demais países. O imposto sobre valor agregado (IVA) complica sensivelmente os procedimentos administrativos das empresas. De modo geral, o pagamento do Imposto de Renda é muito menos trabalhoso que o recolhimento das várias contribuições e do IVA (no Brasil, Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, ICMS, cobrado pelos Estados). A empresa brasileira gasta em média 736 horas para cuidar do Imposto de Renda, 490 para administrar os encargos trabalhistas e 1.374 para cumprir as normas dos impostos sobre consumo (principalmente dos Estados).

O caso do ICMS é especialmente complicado, porque as empresas têm de observar 27 legislações estaduais, com diferentes alíquotas, condições de recolhimento e incentivos. Se não houvesse várias outras, esta já seria uma excelente razão para a reforma do sistema. Conseguir o apoio dos governos estaduais, no entanto, tem sido um dos principais obstáculos à racionalização do sistema. Enquanto isso, outros países simplificam, reduzem a carga e ganham capacidade de competir.

CLÁUDIO DE MOURA CASTRO - Escola é empresa?


Escola é empresa?
CLÁUDIO DE MOURA CASTRO
O Estado de S. Paulo - 28/09/2011

Com dedo em riste nos dizem: "Escola não é empresa", "educação não é produto", "avaliação é neoliberal", e por aí afora. Passemos ao largo desses soluços semânticos.

Embora tocar piano seja um ato individual, carregar o dito requer a cooperação de mais de um forçudo. Contudo são justamente as atividades do segundo tipo que mais crescem. Convivemos com empresas, igrejas, escolas, associações voluntárias e inúmeras outras formas de trabalho coletivo, com estruturas tortuosas e exigindo de quem as coordena cada vez mais competência para que cumpram o seu papel.

Curiosamente, por diferentes que pareçam, têm algumas necessidades comuns. Em primeiro lugar, precisam de clareza quanto aos resultados esperados, sem isso boa coisa não vai sair. Se um empurra o piano escada acima e outro, escada abaixo, é encrenca na certa. Portanto, definir objetivos claros é importante tanto para fábricas quanto para escolas.

Qualquer organização busca sempre conseguir mais ou melhores resultados com o mesmo esforço, sejam quais forem os objetivos perseguidos: mais pneus produzidos, Judiciário com decisões mais justas e rápidas, escola com melhor qualidade. Produtividade e eficiência têm que ver com essa relação entre o esforço e o resultado. Portanto, esse nexo será sempre o foco de grandes atenções. O que tem isso de neoliberal?

Para sobreviverem as empresas foram as primeiras a buscar boas regras e boas técnicas para que pudessem ser mais eficientes. Nos últimos anos, explicitam-se os critérios da boa gestão: 1) Definir objetivos claros (o piano sobe ou desce?); 2) quantificar as metas (sem medir não sabemos onde estamos); 3) compartilhar as metas com os colaboradores; 4) criar instrumentos para acompanhar o funcionamento, passo a passo; e 5) criar mecanismos para premiar, punir e corrigir os desvios.

Isso serve para as escolas? Faz alguns anos, pesquisadores europeus identificaram traços característicos das melhores escolas (todas públicas). Descobriram também que eram geridas por princípios muito parecidos com os cinco citados. Não usavam nenhuma das ferramentas modernas de administração, mas é como se as usassem. Ou seja, a lista acima identifica um núcleo duro de regras explícitas ou implícitas que caracterizam a boa gestão.

Nos últimos anos houve várias iniciativas de adaptar para as escolas aquelas ferramentas que se revelaram poderosas para obter melhores resultados nas empresas. Note-se que não falamos de resultados econômicos ou lucros, mas do conjunto de objetivos que os responsáveis escolham, quaisquer que sejam. Pode ser nota na Prova Brasil, pode ser aprovação, menor deserção, disciplina, medalhas.

O INDG (associado ao nome de Vicente Falconi) desenvolveu ferramentas desse tipo e que vêm sendo aplicadas em redes públicas. Marcos Magalhães, em seu projeto Procentro, também está caminhando nas mesmas direções. Como faço parte do Conselho da Fundação Pitágoras (por causa de um envolvimento profissional anterior com o Grupo Pitágoras/Kroton), acompanho mais de perto o Sistema de Gestão Integrado (SGI) dessa fundação. Trata-se de um sistema para melhorar a gestão de redes municipais de educação.

Como as escolas têm pouca clareza quanto aos seus objetivos, o primeiro passo do SGI é estabelecer prioridades. É preciso alinhar o que pretende a secretaria com a comunidade da escola (diretores, professores e mesmo os alunos): vamos combinar, todos vão empurrar o piano na mesma direção. As principais metas tendem a ser baseadas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) ou nas avaliações estaduais. Vale mencionar que as escolas estampam à sua porta metas e resultados, sem causar traumas. Mais ainda, diretores, professores e até os alunos sabem interpretar os gráficos, seja da escola, de cada classe ou as notas individuais.

Há rotinas para avaliar o que está andando bem e o que precisa ser corrigido. Entrei numa classe de primeiro ano e escolhi um aluno ao acaso. Fui direto: Quais as suas prioridades? Quais os problemas desta sala? O aluninho respondeu que sua meta era ler, escrever e fazer contas, seguindo-se uma descrição de problemas com faltas ou conversas na aula.

Nos anos recentes, muitos municípios do interior de Minas Gerais aderiram ao SGI. No intervalo entre 2007 e 2009, a implantação do SGI aumentou de quatro pontos decimais os resultados medidos no Ideb. Isso é duas vezes mais que o crescimento nacional. Até mais surpreendente, os 43 municípios do Vale do Jequitinhonha passaram de 3,2 para 5,1 pontos!

No seu período de implantação, que dura dois anos, o SGI custa um total R$ 27 por aluno. Embora a operação subsequente seja trabalhosa, não gera custos. Assim sendo, a relação entre gastos e resultados é imbatível. O sucesso, contudo, depende da motivação das prefeituras. Ou seja, o SGI oferece ao prefeito uma ferramenta poderosa, mas é preciso que ele queira usá-la.

O SGI também dá certo em municípios mais ricos. Em 2011, a Secretaria de Educação de Sorocaba ganhou o Prêmio Paulista de Qualidade. Aliás, Sorocaba e São José dos Campos são campeões no Ideb, dentre os municípios com mais de meio milhão de habitantes. Ambos têm SGI implantado. Em áspero contraste, há acidentes de percurso. Mudanças de prefeito já resultaram no cancelamento instantâneo do programa.

É irrelevante perder tempo indagando se a escola tem "produto", se ensino é "mercadoria", se "produtivismo" é neoliberal e outras fantasias do mesmo naipe. Importa reter que instituições das mais variadas naturezas e índoles têm muito em comum e que há boas regras e ferramentas que servem para todas. Como o setor produtivo se antecipou aos outros, há excelentes razões para aprender como ele. Com efeito, quem entendeu isso está ganhando qualidade.

ECONOMISTA, ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO

GOSTOSA


ROSÂNGELA BITTAR - Não tucano, não petista, não paulista


Não tucano, não petista, não paulista
ROSÂNGELA BITTAR
VALOR ECONÔMICO - 28/09/11

Nunca a eleição no Senado ou na Câmara para indicar um ministro para o Tribunal de Contas da União, instituição auxiliar do Congresso Nacional na fiscalização de contas do Executivo, teve tantos significados além da sua própria representação quanto a última. Foi eleita a deputada federal Ana Arraes, mãe do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que num pragmatismo insuspeito nele praticamente mudou-se para Brasília para dirigir a campanha, nela jogando toda a sua força política, a do governo de Pernambuco, dos partidos políticos e da maioria dos governadores.

Eduardo Campos teve a seu lado os governadores dos Estados mais importantes e com maiores bancadas no Congresso, entre eles os do PT - Tarso Genro e Marcelo Déda foram os mais atuantes -, três do PSDB que entraram com munição total - Antonio Anastasia, Geraldo Alckmin e Beto Richa, todos os do seu PSB, os ministros dos Portos e da Integração Nacional, sendo que este, até na fila de votação, alcançou deputados para assegurar liberação de verbas para execução de suas emendas ao Orçamento da União. Promessas de campanha que o Palácio do Planalto também faz muito em votações do seu interesse.

Os prefeitos de Curitiba e Belo Horizonte, do PSB, trabalharam com afinco, como também o prefeito Gilberto Kassab, de São Paulo. Os dois primeiros, por honra da legenda, quanto a Kassab, em honra do futuro.

Todos mostraram uma carta, menos ele

Reforço maior entre tudo e todos, porém, foi a contribuição do ex-presidente Lula. A maior parte do PT lulista ficou com o governador pernambucano. As bancadas racharam, e o PMDB, que tinha candidato próprio, deu apenas 47 dos seus 80 a Átila Lins (AM); Damião Feliciano (PDT-PB) foi apoiado por 33 deputados; Milton Monti (PR-SP) obteve 30 votos, e o auditor fiscal Rosendo Severo somou dez votos. A maior votação foi obtida pelo candidato do PCdoB, Aldo Rebelo, representando um partido de 14 parlamentares aliados históricos e sempre desprestigiados do PT.

Ana Arraes recebeu 222 votos, o que significa que, com essa força tarefa, esse arsenal, essa bomba política armada para uma eleição de que participam apenas 513 eleitores, no máximo, ganhou raspando, por mais que a diferença tenha sido louvada. Se houvesse segundo turno, o governador Eduardo Campos perderia a disputa.

Como não teve, sua estratégia incluiu segurar candidatos até o fim para evitar que seus votos se espalhassem entre adversários (caso do PMDB e do PR). Monti ficou para dividir os votos paulistas; Átila para reter pelo menos uma parte do PMDB. Um candidato desistente do PSD foi transladado a São Paulo para uma conversa com Gilberto Kassab. Tudo isso numa articulação pessoal do governador pernambucano, que varava noites promovendo jantares, permanências e desistências. Convenceu uma grande bancada de evangélicos que se admirava, no dia seguinte ao encontro, com o talento convincente do governador. Secretários estaduais concederam audiências a deputados em Brasília, e Eduardo Campos, como se viu, teve ao redor de si, por um período, os principais atores da política em 2012 e 2014.

São conhecidas algumas das razões que motivaram os que acorreram em socorro ao governador Eduardo Campos. O senador Aécio Neves, e o governador Antonio Anastasia, conseguiram antecipar o acordo da chapa para a disputa municipal, o prefeito de Belo Horizonte é PSB; como também o é o prefeito de Curitiba, o que mobilizou o governador Beto Richa. Geraldo Alckmin não quis ficar de fora, tem o PSB no seu governo, e aprovou integralmente o projeto. O mesmo fez o presidente do PSDB, o pernambucano Sérgio Guerra, aliado de Campos no passado. Kassab, como se sabe, joga com o futuro, numa aliança e identificação que, em alguns momentos, já esteve à beira de uma fusão. Cada um com suas razões.

Sobre Lula ter assumido logo a opção pelo apoio ao governador, em prejuízo de todos os demais candidatos de seu campo político que também disputavam, há pelo menos duas explicações.

Em uma delas, Lula quis reter Campos a seu lado. Seja para ser seu vice, seja para ser vice de Dilma Rousseff, seja para evitar que seja vice de Aécio Neves. Um casamento em que poucos creem, visão que aterroriza quem, no PT, acredita em cegonha e Papai Noel.

A segunda hipótese, porém, é sinuosa e melhor engendrada porque conspiratória. Lula estaria apoiando os planos de Eduardo Campos numa estratégia de execução dos seus próprios planos. Também dentro do PT, há grupos representativos que defendem a candidatura Lula na sucessão de Dilma, estando essa ala totalmente afinada com os partidos aliados que querem a volta logo do ex-presidente. Dilma já tem seu próprio exército, e toda vez que Lula intensifica sua permanente campanha, a tensão no Planalto é inevitável e visível.

Em parceria com Lula, o governador Eduardo Campos poderia construir uma segunda via por dentro da base aliada, é a alternativa. A base se dividiria e a presidente não teria como restaurá-la, facilitando o discurso da volta nos braços de sindicalistas e corporações em geral. Assumiria sem maiores constrangimentos o atropelo à reeleição de sua criatura.

Com exceção do Palácio do Planalto, não há ninguém nesta aliança incomodado com a campanha eleitoral já posta na rua pelo ex-presidente Lula. Os partidos aliados gostam dos rodopios por Europa, França e Bahia, principalmente com a passadinha pelas reuniões de bancada para discutir reforma política, aquela inspirada pelo ainda fiel escudeiro e ex-deputado José Dirceu. Lula não se notabilizou pela faxina, uma boa razão para os aliados querem sua volta o mais rápido possível. É o jogo praticamente na mesa.

Completamente oculto, mesmo, só o projeto do governador Eduardo Campos. Quem o conhece um pouco diz que quer ser a alternativa não paulista, não tucana, não petista, a presidir o Brasil, trilhando um terreno que Ciro Gomes e Marina Silva já provaram ser fértil. Recentemente, o governador foi à Casa das Garças, oráculo dos que esperam o embarque para voos altos, no circuito de campanhas. É neto de político importante, como Aécio; jovem; palatável ao eleitor de classe média; apoiado por Lula; e absolutamente, como se tem visto à exaustão, pragmático.

CRISTIANO ROMERO - O mundo de Tombini


O mundo de Tombini
CRISTIANO ROMERO
VALOR ECONÔMICO

Nos últimos dias, motivado pela situação internacional, o mercado passou a apostar que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) aumentaria, em outubro, o ritmo de redução da taxa de juros (Selic) - de 0,5 para um ponto percentual. Ontem, ao prestar depoimento à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o presidente do BC, Alexandre Tombini, não sancionou essas apostas.

Para o dirigente máximo do BC, o cenário não mudou em relação àquele que levou o Copom a diminuir os juros, de forma surpreendente, no fim de agosto. A cena internacional é central na avaliação de Tombini. Ela ocupou metade do tempo de sua exposição no Senado. A outra metade foi dedicada à economia brasileira.

O prognóstico de Tombini é o de que as economias maduras estão entrando num período prolongado de baixo crescimento, com risco de crise soberana (da dívida dos países europeus) e financeira (dos bancos). O reflexo sobre o mundo será desinflacionário, à medida que diminuirá o crescimento das principais economias do planeta.

O quadro pintado por Tombini está em linha com o que pensam muitos economistas e analistas lá fora. O pessimismo aumentou na semana passada durante as reuniões e seminários realizados em Washington, sede dos encontros anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.

O presidente do BC mencionou aos senadores a elevação significativa da dívida bruta de países como Grécia (de 105,4% para 165,6% do PIB entre 2007 e 2011), Irlanda (de 24,9% para 109,3%), Portugal (de 68,3% para 106%), Espanha (de 36,1% para 67,4%), Estados Unidos (de 62,3% para 100%) e Reino Unido (de 43,9% para 80,8%). Pior do que isso são as perspectivas para os próximos cinco anos.

Até lá, o endividamento de países como EUA e Japão deve continuar aumentando fortemente - no caso japonês, para incríveis 253,4% do PIB! Tombini explicou que o aumento da dívida dos países ricos afetou a percepção de risco, pelos mercados, dos títulos dessas economias. Grécia, Portugal e Irlanda, por exemplo, estão com risco soberano superior ao do Brasil desde o ano passado.

Itália e Espanha, duas economias fortes da Europa, também já apresentam risco-país maior que o do Brasil. A França, segundo maior PIB europeu, se aproxima rapidamente. Esse aumento de risco impactou a percepção de risco dos bancos, que possuem em seus balanços títulos dos governos. Isso está elevando o custo de captação dos bancos, principalmente no mercado interbancário, e derrubando o valor de suas ações. O risco dos bancos americanos e europeus, mesmo os da Alemanha e do Reino Unido, é atualmente comparável ao do Brasil - os da Itália, França e Espanha já ultrapassaram.

A combinação dos riscos soberano e financeiro está afetando a confiança de empresários e consumidores. A queda das ações e de outros ativos reduz, via efeito riqueza, a confiança dos agentes econômicos. "Já se fala em contração [do PIB] no quarto trimestre na Europa e no primeiro de 2012, nos EUA", observou o presidente do BC.

Os indicadores antecedentes da atividade industrial caminham para o território negativo nos EUA e já o fizeram na Zona do Euro. Nas bolsas de valores, a destruição de riqueza nos últimos quatro meses chegou a quase US$ 10 trilhões, fato que, enfatizou Tombini, também tem efeito "negativo e perverso" sobre o comportamento dos agentes econômicos.

Para completar o quadro aterrador, o presidente do BC lembrou que as economias maduras têm hoje espaço limitado para ampliar os gastos públicos. "Muitas economias terão que reduzir seus déficits ou mesmo gerar superávits primários", observou. Além disso, essas nações esgotaram os instrumentos convencionais de política monetária - as taxas de juros estão próximas de zero e, em alguns casos, são negativas.

Um dado fornecido por Tombini impressiona. Os dois principais bancos centrais do mundo - o Federal Reserve e o Banco Central Europeu (BCE) - ampliaram seus balanços por meio da compra agressiva de ativos nos últimos cinco anos, uma forma não convencional de expansão da política monetária. No primeiro caso, o total de ativos saltou de US$ 875 bilhões em 2006 para US$ 2,867 trilhões este mês; no segundo, de US$ 1,519 trilhão para US$ 2,856 trilhões.

Quando falou de economia brasileira, Tombini mostrou as defesas do país, defendeu a ideia de que o Brasil está hoje menos vulnerável do que em 2008 e reiterou a aposta de que a inflação começa a declinar no último trimestre do ano e volta à meta de 4,5% no fim de 2012. Aqui, há um problema.

Tombini disse que a inflação média mensal dos últimos cinco meses (setembro incluído) foi de 0,34%, face a 0,77% dos sete meses anteriores. Jogando para 12 meses o 0,34% mensal, o IPCA vai a 4,3%. Ocorre que, no período considerado, a inflação costuma ser mais baixa mesmo. A dessazonalização dos valores mostra, na verdade, um número bem mais alto - 6,9% em 12 meses.

Tombini não falou uma só vez, durante a apresentação, sobre a persistente deterioração das expectativas de inflação e também do repasse da desvalorização do real para os preços (neste caso, provocado por um senador, minimizou-a ao dizer que apenas 5% da perda de valor do real será repassada).

ANCELMO GOIS - Revista íntima


Revista íntima
 ANCELMO GOIS
O GLOBO - 28/09/11

Ontem, o Tribunal Superior do Trabalho absolveu a Eleb, subsidiária da Embraer, acusada de fazer revista ultrajante de bolsas e sacolas dos empregados.

Na visão do TST, a proteção do segredo industrial da empresa, que produz equipamentos aeronáuticos para a indústria civil e militar, justifica a revista diária.

Mas...

O tema é polêmico.

EUA contra Brasil

Os EUA resolveram apoiar o mexicano Rodolfo Taudert na eleição, amanhã, em Londres, para o cargo de diretor executivo da Organização Internacional do Café.

O Brasil, maior produtor e exportador de café, tem candidato próprio: Robério Oliveira Silva.

Eu sou vip

Kadu Moliterno, apresentador do Rock in Rio I, achou que seria convidado para o festival de agora. Até recebeu um telefonema de Carol Sampaio, promoter que chama os vips. Mas a coisa não prosperou.

- Não estou reclamando, claro. Mas queria levar meu filho de 14 anos.

Futebol exportação

O jogo entre Brasil e Argentina, hoje, em Belém, Pará, será transmitido a mais 30 países, incluindo China, Israel e Vietnã.

Aliás...

Os jogadores brasileiros vão entrar no gramado do Mangueirão com faixa a favor da campanha do desarmamento.

Eu apoio.

O peregrino

Wagner Moura, o Capitão Nascimento da franquia "Tropa de elite", está em negociação para viver Paulo Coelho no cinema.

O filme, que vai se chamar "O peregrino", orçado em R$12,5 milhões, terá direção de Daniel Rezende.

O BELO LAGO da Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, veja na foto, começou a receber sua primeira limpeza geral em 20 anos. Ontem, as tilápias foram levadas para o lago do MAM. As cerca de 200 tartarugas de orelha vermelha vão passar uma temporada no Zoo do Rio. Ao fim da limpeza, os peixes voltarão, mas terão a companhia de apenas parte das tartaruguinhas. É que o espaço é pequeno para tantos anfíbios e alguns serão entregues ao Ibama. O trabalho da Secretaria de Conservação termina no fim de outubro

Artefatos bélicos

Este vocalista Lemmy Kilmister, do Motörhead, que usou no pescoço a cruz de guerra nazista no Rock in Rio, é colecionador, veja que esquisito, de artefatos bélicos alemães, inclusive punhais, baionetas e espadas.

Para quem o acha racista, o inglês costuma responder:

- Já namorei seis negras.

Ah, bom!

Tá podendo

Sob o alto patrocínio do Santander, Lula fará palestra amanhã para um grupo de executivos no Museu de História Natural, em Londres.

Imprensa

A partir de janeiro, a "Piauí" terá um novo diretor de redação. É o coleguinha Fernando de Barros e Silva, colunista da "Folha".

Mario Sérgio Conti, atual editor, que vai assumir o "Roda Viva", da TV Cultura, continua como repórter da publicação.

Alvim e Ricardo Cunha Lima falam hoje sobre ilustração no jornal diário em fórum da SIB, no Senai.

Ziraldo autografa hoje edição espe- cial de "Uma professora muito malu-quinha", no Dufry Shopping (Centro).

Carmen Penido faz exposição individual no Museu de Arte da Bahia.

Evandro Tinoco, diretor clínico do Pró-Cardíaco, faz palestra hoje sobre qualidade assistencial no 1º Congresso Nacional de Hospitais Privados.

Fernando Pamplona festeja 85 anos hoje no Salsa & Cebolinha.

Cristiano Piquet lança na Artefacto o empreendimento Trump Soho-NY.

Don Camillo lançou menu primavera.

O escritório C. Martins reforça o jurídico do Flamengo.

A mostra Queremos Miles no CCBB termina hoje com debate .

A Hot Fair de BH começa dia 6.

Bola da fortuna

O argentino Conca, ex-Flu, comprou sete terrenos no condomínio Santa Mônica Jardins, na Barra. É o mesmo de Ronaldinho Gaúcho.

Cada um custa, em média, R$1,4 milhão.

Troca de guarda

Aliás, todos os seguranças do Santa Mônica Jardins foram trocados.

É que mês passado cinco casas de lá foram assaltadas.

MMA na CDD

Agora é oficial. A próxima edição do "Jungle Fight", maior evento de MMA da América Latina, será na Cidade de Deus, dia 22 de outubro.

Aliás, Jungle Fight é... deixa pra lá.

Pastel da Suprema

Depois de 60 anos, a tradicional casa Massas Suprema, dos pastéis e massas caseiras na Rua Santa Clara, em Copacabana, fechou suas portas.

Mestre Villas

O coleguinha Luiz Antonio Villas-Bôas Corrêa, 87 anos, será entrevistado hoje para a série "Depoimentos Para a Posteridade", do Museu da Imagem e do Som do Rio.

Cena carioca

Outro dia, um pai precisou trocar a fralda do filho de sete meses no Porcão, na Barra, mas não havia fraldário.

O gerente interditou o banheiro feminino e o pai trocou a fralda do filho sob aplausos de mulheres que esperavam do lado de fora. Entre elas, a nossa Ana Maria Braga. Não é fofo?

ELIANE CANTANHÊDE - Barraco no Supremo


Barraco no Supremo
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 28/09/11

O supremo Tribunal Federal é aquela Corte solene, onde senhores e agora senhoras vetustos e vetustas, metidos em longas togas negras, fazem discursos intermináveis que poucos ouvem e quase ninguém entende. Mas é nesse cenário e com esses personagens que se fazem a democracia e a defesa da lei e da cidadania. Pelo menos em tese.

Pois não é que está o maior barraco no Supremo? Começou com a AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), que, por corporativismo, entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade tentando limitar os poderes e a abrangência do Conselho Nacional de Justiça, órgão que fiscaliza o Judiciário e, portanto, os juízes.

O pau quebrou, e os ministros se dividiram. Uns contra, outros a favor de deixar o CNJ quase como mero ratificador das investigações e decisões das corregedorias regionais, onde os juízes estão, claro, mais 'protegidos' por colegas e amigos.

Ao criticar o corporativismo e defender a CNJ, a corregedora do CNJ, ministra Eliana Calmon, bateu firme, dizendo que há 'bandidos' que se escondem atrás da toga. Ou seja, que há juízes bandidos.

O mundo caiu!

Extraordinariamente, o presidente do Supremo, César Peluso, abriu a sessão da Corte na terça-feira com uma nota de 12 dos 15 conselheiros do CNJ condenando as declarações 'levianas' de Eliana Calmon, que teria colocado sob suspeição todos os juízes do país e o próprio Judiciário.

É barraco ou não?

E teve aquele detalhe pessoal na reação indignada de Peluso. Na entrevista bombástica à Associação Paulista de Jornais, Eliana Calmon citou especificamente o Tribunal Regional de São Paulo: segundo ela, o órgão só vai se deixar investigar 'quando o Sargento Garcia prender o Zorro'.

Ih! Qual a origem do ministro Peluso? O Tribunal Regional de São Paulo.

JOAQUIM FALCÃO - O dano está feito


O dano está feito
JOAQUIM FALCÃO
O GLOBO - 28/09/11

O dano está feito. De repente o Judiciário mudou sua pauta. Em vez de combater o nepotismo, extinguir adicionais salariais, estabelecer metas de desempenho, implantar digitalização e estimular a conciliação, a pauta é outra. É aumento de salários, brigas públicas, judicialização de conflitos internos. É incrível a capacidade do Judiciário de destruir sua legitimidade. De abalar a confiança dos cidadãos.

Durante mais de 15 anos, impacientes com o nepotismo e a lentidão, a sociedade, o Executivo e o Congresso defenderam o controle externo do Poder Judiciário. O país se mobilizou. O Judiciário foi contra. Negociou-se a criação do CNJ, o controle de juízes, feito por uma maioria de juízes, com representantes de outros setores. O CNJ resulta deste acordo. É um contrato entre Congresso, Executivo, sociedade civil e o próprio Judiciário, a favor da ética e da eficiência judiciais.

Hoje, a Associação dos Magistrados Brasileiros pressiona o Supremo para romper unilateralmente este contrato. Querem retirar o poder do CNJ de julgar e punir os juízes como manda a Constituição. Pretende-se transformar o CNJ em conselho honorário. Não mais uma responsabilidade democrática.

Este objetivo político reveste-se de argumentos aparentemente constitucionalizados, mas no fundo contrários à Constituição. O contrato político que criou o CNJ foi formalizado no artigo 103 B da Constituição, que concede ampla competência ao CNJ para receber qualquer reclamação contra os juízes, sem nenhuma condição. Qualquer do povo pode ir ao CNJ. Não precisa ir antes ao Tribunal local, como quer a AMB. O Congresso deu ampla competência até para de ofício apurar irregularidade. Pode agir por iniciativa própria sem nem mesmo ter denúncia de terceiros. Esta ampla competência constitucional é garantia da própria magistratura. O CNJ a exerce com parcimônia.

Agora, alguns pretendem extinguir o CNJ, deixando-o vivo. Lembro-me de Plutarco, quando disse: a pior das justiças é aquela que é injusta, mas parece justa. O pior CNJ é aquele que inexiste, mas parece existir.

O ataque é indireto. Inexiste um só dispositivo na Constituição que diretamente fundamente a decisão de, em nome da autonomia do tribunal, limitar-se o CNJ. A autonomia dos tribunais não é absoluta. Na democracia não há autonomias absolutas. Ao aprovar a emenda 45, que criou o CNJ, o Congresso disse claramente que seus poderes são compatíveis com os dos tribunais. O próprio Supremo, ao confirmar a constitucionalidade do CNJ em 2005, também.

A encruzilhada levada ao Supremo é falsa. A competência do CNJ não é incompatível com a das corregedorias dos tribunais. Uma não elimina a outra. São concorrentes, como afirma Ayres Britto. Na democracia, quanto mais controle a favor da ética e da eficiência, melhor. A demanda é política e corporativa . Foi derrotada ontem, quer ressuscitar hoje.

A decisão do Supremo não é sobre a morte em vida do CNJ. É sobre valores éticos e sociais. Estão em jogo a concretização da imparcialidade no julgar e a liberdade do cidadão de ir contra os poderosos do momento. Como exigir de um advogado processar um desembargador no mesmo tribunal, a quem mais tarde terá de recorrer no exercício de sua profissão? Onde e como estes valores - a imparcialidade no julgar e a liberdade de denunciar irregularidades - podem melhor ser concretizados: nas corregedorias locais ou no CNJ? Ou nas duas, concorrentemente?

O dano está feito. As consequências da nova pauta serão maior atrito entre os poderes. Entre os magistrados e os demais profissionais jurídicos. Uma mídia mais atenta e investigativa em denúncias. Mobilização congressual. Confiança decrescente na Justiça. O CNJ de alguma maneira apaziguava. Tinha alguém imparcial atento a favor da ética e da eficiência. E agora?

JOAQUIM FALCÃO é professor de Direito Constitucional da FGV-Rio.

ROBERTO DaMATTA - Solidão: a crônica sem destino


Solidão: a crônica sem destino
ROBERTO DaMATTA
ESTADÃO - 28/09/11 

A solidão tem muito com a vida e muito com a morte. Os mortos estão sós e são abandonados. Devem estar dormindo profundamente, como disse Manuel Bandeira. Por algum tempo eles detêm toda a nossa atenção mas são em seguida abandonados. E esquecidos.

São entregues, sob o brilho das nossas lágrimas, a si mesmos e ao cosmos cuja totalidade não temos condições de abranger. Ao nos aproximarmos deles desmentimos radicalmente a boutade segundo a qual "de perto ninguém é normal" porque eles não são mais ninguém e são agora de todos. Viram memórias, tornam-se lembranças e saudade. Saudades cheias de luz. Uma luz fugidia e opaca. Todos os segundos e dias de suas vidas são especiais, como disse o Thornton Wilder de Nossa Cidade. Sua normalidade impressiona pelo silêncio e pela mais completa perfeição. O sono profundo é um pedaço do seu mistério.
Aliás, não há condenação mais ambígua do que a morte, exceto o exílio (ou a morte social) que, como revelou o magnífico historiador Fustel de Coulanges, era pior do que a morte entre os antigos romanos. E talvez seja assim entre nós, igualmente romanos quando damos mais importância às relações do que às pessoas e não o contrário.

Entre os fatos maiores da morte e, para além dela, do morto amado que leva um pedaço do nosso coração senão toda a nossa alma ou uma de nossas pernas, jaz um mistério: para onde foi aquela vitalidade que tem como centro a necessidade de falar, trocar, cantar, escrever, construir e comunicar? De dizer como foi, como acontece nas grandes aventuras, experiências e viagens? Como é horrível para nós, vivos e predestinados a ser, um dia, esse morto, o mutismo inviolável dessa experiência que transforma a pessoa em mais uma estrela.

Espantoso como a morte - a mais importante experiência humana - seja, por isso mesmo, a única que jamais pode ser socialmente compartilhada. Daí a sua tremenda negação em toda as culturas e sociedades, em todas as crenças e ideologias.

"Força", dizem os amigos nos olhando de esguelha e já pedindo licença para sair de perto. "Foi desta para melhor", dizem outros consolando e negando veementemente o fato de que estamos todos condenados a algo pior do que inferno, pois sofremos sem saber por quê. Temos uma descabida consciência das ferramentas do sofrimento - rejeição, injustiça, ódio, descaso, inveja, esquecimento, para não falar das mais variadas formas de doença, agressão e acidentes em suas mais temíveis combinações - mas não nos é dado conhecer os fins. As causas e os motivos que levaram de nossa humilde esfera de vida um ente querido que, afinal de contas, importava mais para nós do que para todos os outros. Essa pessoa que tinha mais valor do que todas as barras de ouro e era mais amada do que todos os poderosos somados juntos. Assaltados, como a bíblica caravana, por ladrões infames e jamais detidos como o mal de Parkinson, o de Alzheimer e outras enfermidades cujo nome grandioso é sinal de sofrimentos inenarráveis, nos deparamos com a inconsistência entre o poder da doença e a fragilidade do doente tão tímido, tão pequenino, tão sereno, tão celestial na sua banal, frágil e corajosa inocência humana e o pomposo e estranho nome do funesto atacante. Espantoso descobrir alguém que compartilha de nossa vida, tendo a sua vida afligida por essas doenças impronunciáveis.

***
A solidão tem um sintoma trivial. Você é testemunho do seu próprio choro e não deseja (porque não precisa) que ninguém lhe veja chorando. O choro do amor é para o outro - quem quer que seja esse outro. O choro da solidão é para dentro e para esse outro que vive em você. É a prova de que somos muitos e que o tão desdenhado corpo é quem tem o duro papel de juntar em si todos esses atores. Temos muitos demônios e anjos interiores, mas um só palco e um só cenário dentro do qual eles podem se manifestar. Na pior situação, o corpo deve surgir uniformizado. Com as emoções mais díspares devidamente orquestradas e reveladas (ou não) por um corpo que é instrumento, ator e palco de tudo que passamos. A alma em frangalhos, o corpo sereno. Ajoelhado, como manda o figurino cristão. Ou o corpo em frangalhos e a alma serena no seu perpétuo diálogo com todos os seus demônios.

Outro dado estranho da solidão é não se sentir sozinho. Parece paradoxal mas não é. Um torcedor do Fluminense no meio da torcida do Flamengo é a pessoa mais solitária do universo. Se o diálogo que você tem com os seus outros for positivo; se você fala com todas essas estranhas criaturas que estão dentro de você, inclusive e sobretudo com os seus mortos e doentes, a solidão lhe traz uma estranha paz. A paz de Deus é a melhor metáfora para esse sentimento que chega com a vida na sua plenitude. Numa conversa franca com você mesmo como bandido, como covarde, como ignorante, como invejoso, como sovina, como boquirroto, e como renegado. Você apara suas arestas, acerta suas contas e entra em contato com aquela outra letra que segue o "A" (do amor) e o "B" (da bênção). Refiro-me ao "C" que escreve coração e compaixão. Porque sem compaixão, amigos, não há serenidade nem só nem acompanhado. Amém.

GOSTOSA


MERVAL PEREIRA - Prioridades


Prioridades 
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 28/09/11

Enquanto o debate sobre a necessidade ou não da criação de um novo imposto para financiar o sistema de Saúde do país vai se desenrolando, vai ficando cada vez mais evidente que se está discutindo uma questão de escolha, de prioridades. Os dados mostram que o governo, de uns anos para cá, reduziu o que gastava com a Saúde e aumentou a verba para os programas assistencialistas.
Ora, o governo define suas prioridades no Orçamento da União que envia para o Congresso todos os anos, e se for aprovada a decisão de gastar 10% na Saúde, como define o texto original da Emenda 29, terá que redistribuir as verbas.
A presidente Dilma não gostou da declaração da ministra Ideli Salvatti, das Relações Institucionais - que é quem, em última análise, terá que negociar com os partidos a eventual criação do novo imposto -, dando como certa a sua criação.
Embora a declaração reflita o que o governo pensa, os articuladores palacianos acham que a ministra não deveria ter sido tão explícita com tanta antecedência, pois provocará reações.
O próprio presidente da Câmara, deputado petista Marco Maia, já declarou que não vê nenhuma chance de ser aprovado um novo imposto este ano e muito menos no ano que vem, quando serão realizadas as eleições municipais.
A tese dos governistas a favor de mais um imposto é que a Saúde surgirá como a prioridade dos eleitores, o que facilitaria a aprovação no Congresso.
Mas nada indica que quando o povo diz que a Saúde merece mais atenção do governo, esteja dando um aval ao aumento de impostos. Está apenas dizendo que o governo tem que rever suas prioridades.
Ao contrário, o que deve acontecer é um estranhamento da sociedade sobre as prioridades do governo.
Se a Saúde é o problema número um do país, por que se gasta mais em outros setores?
O interessante é que a proposta de fixar um percentual mínimo para a União, que agora a oposição e setores governistas independentes querem ressuscitar no Senado, é de autoria do ex-senador Tião Viana (PT), atual governador do Acre.
Nos últimos 10 anos, de acordo com reportagem do jornal "Folha de S. Paulo", o governo alterou suas prioridades, aumentando as verbas para os programas assistencialistas de distribuição de rendas, turbinadas por reajustes do salário mínimo e programas como o Bolsa Família, e reduzindo as verbas destinadas à Saúde.
Seguindo a mesma linha já anunciada pelo empresário Jorge Gerdau, responsável pelo programa de melhoria da gestão pública do governo Dilma, que acha que antes de pensar em novos impostos deve-se pensar em melhorar a eficiência da máquina pública, o projeto Brasil Eficiente, do Instituto Atlântico, tendo à frente o economista Paulo Rabello de Castro, está fazendo uma campanha pela regulamentação de partes da Lei de Responsabilidade Fiscal que ainda não estão em vigor.
A principal medida que não está em vigor por falta de regulamentação é a criação de um Conselho de Gestão Fiscal, que seria um instrumento que facilitaria muito o trabalho de Gerdau de reduzir o desperdício nos órgãos públicos.
A Lei de Responsabilidade Fiscal, um instrumento fundamental para o equilíbrio das contas públicas, determina, por exemplo, que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) tenha metas de receita, despesa, resultado primário e resultado nominal.
O próprio Ministério da Fazenda tem um manual que orienta estados e municípios a cumprirem a LRF, e nele manda que coloquem em seus orçamentos metas de resultado nominal.
Apesar disso, nunca um governo obedeceu a essa regra, embora não ter meta nominal seja contra a lei. Nunca nenhum governo fixou essa meta desde a aprovação da LRF, aí incluídos os governos tucanos, e tanto o Congresso quanto o TCU nunca questionaram essa falha.
No passado, a LDO já teve metas de travar o gasto corrente, impedindo que ele subisse, uma medida semelhante à proposta que Antonio Palocci fez, quando era ministro da Fazenda de Lula, de não subir os gastos acima do crescimento do PIB. Ou de não subir os gastos além dos investimentos governamentais, como chegou a ser proposto e vetado pelo governo.
Na prática, essa meta não foi cumprida e, como não havia punição, não aconteceu nada.
Outra previsão da LRF, por exemplo, é o limite para a dívida federal, mas o Congresso e o Senado sequer iniciaram a votação.
O que falta é completar a implantação da lei, aprofundar a cultura, e não aumentar impostos sempre que um setor da vida do país entre em colapso.
O novo imposto da Saúde, de acordo com os cálculos governamentais, recolheria pouco mais de R$45 bilhões ao ano, mas na última vez em que cobraram o CPMF, foram recolhidos 36 bilhões. O que quer dizer que o governo está querendo não apenas criar um novo imposto, mas aumentar a mordida no bolso do contribuinte.

MARCELO COELHO - Chorando em chinês


Chorando em chinês
MARCELO COELHO
FOLHA DE SP - 28/09/11 

Seja como for, é difícil acreditar que saia alguma obra-prima de um curso de poesia para a terceira idade


Um dos maiores compositores do século 20, Béla Bartók (1881-1945) dava aulas de piano, mas nunca quis ensinar composição. "Isso não se ensina", dizia ele.
Será verdade? Em certo sentido, imagino que sim: aula nenhuma poderá transformar uma pessoa medíocre em gênio criador. Em outro sentido, Bartók estava errado. Linguagens se aprendem, e toda arte, afinal, é uma linguagem.
O professor pode ensinar a técnica, a "gramática", os truques da composição (do desenho, da pintura, da poesia) e, sobretudo, pode mostrar a seus alunos onde "erraram": os clichês, as transições malfeitas, as repetições involuntárias, as intenções mal exploradas. Seja como for, é difícil acreditar que saia alguma obra-prima de um curso de poesia para a terceira idade.
Não digo obra-prima, mas um belo filme nasceu desse ponto de partida. Chama-se precisamente "Poesia" e ganhou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes. Dirigido por Chang Dong-Lee, o filme coreano está agora disponível em DVD, para quem (como eu) perdeu a chance de vê-lo no cinema. Aliás, é um daqueles filmes que funcionam bem na tela da TV.
A paisagem urbana que se vê no filme é das mais desinteressantes, e o diretor não quer mostrar quase nada dela -exceto aqueles ônibus, igrejas, conjuntos habitacionais e terrenos baldios que poderiam ser tanto de Seul quanto de São Paulo ou de Porto Alegre. O que se vê em "Poesia" é a aparência, banalíssima, de seus personagens. E, mesmo assim, o rosto da atriz principal (Jeong-hie Yun) interessa mais pelo que está ocultando do que pelos sinais de emoção que possa revelar.
Talvez seja este o aspecto mais "oriental" (o único, na verdade) de um filme que trata de sentimentos capazes de merecer uma qualificação bastante fora de moda: universais.
Tem sido tão grande a insistência na incompatibilidade entre as culturas (e em nossa necessidade de respeitar o "exótico", o "diferente", o "outro") que a palavra "universal" se tornou quase proibida. Virou sintoma de pretensão, cegueira e etnocentrismo, quando deveria ser justamente o contrário.
Nenhum filme, nenhum livro, nenhuma lenda, nenhum poema de outra cultura poderia ser visto, lido ou traduzido se não possuísse, além das suas peculiaridades de linguagem e referências específicas, uma verdade humana que vai além de seus limites geográficos e temporais.
Tome-se, por exemplo, o curso de poesia para a terceira idade que a protagonista do filme (uma senhora não muito velha que começa a ter sintomas de Alzheimer) resolve acompanhar. Querendo estimular seus alunos, o professor lhes pede que contem, diante da classe, qual a experiência mais feliz que tiveram em suas vidas.
Um homem magro, encabuladíssimo, rosto muito vincado pelo trabalho, vai à frente e se espreme numa série de sorrisos. "Nunca tive muita felicidade na vida..." Conta que sempre foi muito pobre e que morou a maior parte do tempo num porão, num barraco ou coisa assim; os pais e os vários irmãos compartilhavam o mesmo quarto.
"Muito mais tarde", conta, "consegui dar entrada num apartamento". Entrou na sala vazia, sozinho, e deitou-se no chão. "Aquela sala parecia enorme... e eu me senti o dono do mundo." Está chorando, aos arrancos, quando termina de falar.
"Poesia" não se concentra muito nas cenas desse curso: gira em torno do suicídio de uma menina e das dificuldades da velhota em conversar sobre o assunto com seu neto adolescente. Contar mais estraga o filme. Passo então a outro choro, de outro personagem, também nascido do outro lado do mundo. Em "Um Conto Chinês", filme argentino de Sebastián Borensztein, o excelente ator Ignacio Huang contracena com Ricardo Darín numa engraçada e pungente história de completa incomunicação.
Huang é um chinês que procura a família na Argentina, sem saber uma palavra de espanhol. Darín é um argentino que, mestre como sempre na expressão idiomática, na "tipicidade" portenha, não quer conversa com ninguém. Vem um telefonema, entretanto, uma torrente de palavras em chinês, uma sequência de assentimentos de cabeça, um choro longamente represado, e entendemos tudo. Não é tão difícil assim, mesmo sem saber a linguagem.

MARTHA MEDEIROS - Sem explicação


Sem explicação 
MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA - 28/09/11 

Estive no cais do porto, onde estão algumas exposições da Bienal, e deparei com uma série de instalações artísticas que, sem a ajuda dos mediadores, parecem sem sentido. Algumas funcionam pelo impacto visual, mas o que querem dizer? Se a gente não pergunta para os profissionais que ali estão, instruídos para explicar cada obra, fica-se boiando. O vídeo de um homem andando de bicicleta sob uma esteira rolante, por exemplo. Ele pedala sem sair do lugar. Monótono.

Aí consultamos os monitores e descobrimos a questão filosófica que está por trás, assim como, em outra obra, a razão de tantas formigas circularem entre bandeiras feitas de areia, alterando seu desenho original. Inusitado, apenas.

Mas aí vem a explicação: é uma forma de alertar para a precariedade dos territórios em meio à crise econômica mundial. Incentiva a nos perguntarmos o que é uma nação e como ela se comporta diante das migrações. Hum. Entendi.

Muitas coisas não têm explicação. Aliás, nem precisariam, mas nos sentimos mais seguros quando sabemos o porquê, a razão, o motivo. A coisa gratuita desperta nossa fragilidade, nos coloca em estado de ignorância. Tudo o que não entendemos zomba de nós.

Assim é nas relações amorosas, que pouco se valem da racionalidade, e assim é também o mistério da existência humana, que provoca teorias diversas e nenhuma certeza absoluta. Há muitas coisas que a gente não compreende, mas que continuam existindo à revelia do nosso desconhecimento.

Toda ausência de justificativa provoca uma certa vertigem, e foi essa vertigem que senti ao ler sobre o menino de 10 anos que, depois de balear uma professora, correu para um canto da escola e atirou contra a própria cabeça.

O tiro na professora deve ter sido acidental, um erro no manejo de uma arma que jamais deveria estar em suas mãos, mas atirar contra si próprio tem um propósito – ou deveria ter. Qual? Segundo a família, os amigos, os colegas e a própria professora atingida, o garoto era tranquilo, saudável, sem distúrbios de comportamento. Por que se suicidou?

Provavelmente entrou em pânico com o próprio gesto, temeu ser castigado, ficou com vergonha e atendeu ao impulso de sumir dali, daquele lugar, daquela situação absurda e violenta demais para seus míseros 10 anos. No ápice da tensão, fez o impensado.

Outra explicação? Poderão descobrir um histórico de agressões na família, excesso de jogos de computador inadequados para sua idade, algum transtorno psicológico que nem deu tempo de ser averiguado. Haverão de furungar, de querer saber.

Mas o mais provável é que o pequeno garoto não tivesse como explicar o tiro que havia disparado contra a professora. E, mesmo tão inocente, intuiu: sem explicação, nada se sustenta.

Faltou o mediador.

PAULO SANT’ANA - A dor nos pertence


A dor nos pertence 
PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 28/09/11 

Expus minha dificuldade a um amigo e ele me disse: “Se Deus quiser, vais te livrar desta dificuldade”.

Respondi : “Mas como? Estás querendo dizer que existe a chance de Deus não querer e me fazer continuar com minha dificuldade?”.

Esta expressão “se Deus quiser” é um tanto confusa. Dá a entender que Deus pode não querer.

Mas, quando se diz “se Deus quiser”, não está implícito que Deus quer o meu bem e, portanto, como ele é a fonte de todas as misericórdias, ele vai com certeza resolver o meu problema?

Ainda anteontem, eu estava vendo, às quatro horas da madrugada, a pregação do pastor Silas Malafaia, na TV Bandeirantes.

Uma vez escrevi que estava ainda à espera na televisão de um grande pregador religioso. Eu estava enfarado e desiludido com os pregadores religiosos de televisão, todos se mostravam vulgares, abruptos, incompetentes para atraírem minha atenção de potencial fiel.

Até que meu pedido foi atendido e surgiu a milagrosa figura do pastor Silas Malafaia.

É um encanto para a mente e para o coração ouvir Silas Malafaia na televisão. Começa que ele recita incontáveis capítulos e versículos da Bíblia, ilustrando seu assunto, sem auxílio da leitura. Tem na memória a Bíblia inteira.

Além disso, suas afirmações sobre teologia são deslumbrantes. Anteontem, ele estava explicando o que são as misericórdias de Deus.

Ele disse que misericórdia é ter afeição pela dor alheia, é respeitar a dor alheia e providenciar para que ela acabe.

Por sinal, acontece de a gente por vezes contar a uma pessoa das nossas dores e a pessoa dizer assim: “Isto não é nada, vai passar”.

Mas, como, não é nada? Então eu faço um relato de uma aflição que está me massacrando e aquela pessoa vem me dizer que aquilo não é nada?

Foi assim quando eu estava no início de minha carreira jornalística. Numa cirurgia, me deceparam inteiramente o meu nervo facial.

Tive obviamente paralisia facial. Eu parecia um Frankenstein. Minha boca entortou totalmente, meu olho esquerdo não fechava e, como isso deslubrificava minha córnea, corria o risco de gangrena oftalmológica se eu continuasse a não piscar.

Virei um quadro triste de ver.

E eu no hospital. E dezenas de pessoas foram me visitar. E todas elas diziam-me o seguinte: “Isto não é nada, em seguida tudo volta para o lugar”.

Pensava: “Como, não é nada? Será que estou ficando louco?”.

Até que foi me visitar Maurício Sirotsky, fundador da RBS, que me olhou atentamente e disse o seguinte: “É grave o que tens. Seria grave em qualquer pessoa, mais grave ainda em ti, que trabalhas em televisão. Vamos fazer tudo para que teu rosto volte para o lugar”.

Viram a diferença entre o que diz um sábio e o que dizem outras pessoas?

O seu Maurício entendeu a extensão da minha tragédia e sensibilizadamente atinou para a dor e a apreensão que eu estava sentindo.

Como, é nada?

É imprescindível que meçamos a dor íntima das pessoas.

LYA LUFT - Drogas: o labirinto

Drogas: o labirinto
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MIRIAM LEITÃO - Custo da crise


Custo da crise
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 28/09/11

O Banco Central pode dizer, como fez ontem o presidente Alexandre Tombini, que previu o agravamento da crise internacional. Mas ele ainda não pode garantir que isso vai provocar "pressão deflacionista" na economia brasileira. Na apresentação feita por Tombini no Senado um número chamou a atenção: a destruição de riqueza foi de quase US$10 trilhões no mundo.

Esse é o tamanho da desvalorização das ações listadas em bolsa nos últimos quatro meses. É mais do que dois terços do PIB americano.

Em qualquer medida é muito maior a perda que houve desde que a crise começou, em 2008. O PIB dos Estados Unidos saiu de um crescimento médio de 2,6% entre 2000 e 2007 para uma média de -0,3% no período 2008-2010; a Zona do Euro foi de 2,2% para -0,7%. Os emergentes perderam, mas bem menos: de 6,6% para 5,4%. O Brasil, apesar de emergente, ficou com crescimento menor do que o do seu grupo.

Impressionante é o custo social desta crise, que levou o desemprego de menos de 5% nos Estados Unidos para 11% e aos atuais 9%. Na Zona do Euro, o desemprego é hoje de 10%.

A crise elevou o endividamento de todos os países que Tombini definiu como "de economias maduras" e que alguns definem como "economias avançadas". Hoje essa classificação fica estranha. Na Zona do Euro há países como Grécia, Portugal, Eslovênia, Eslováquia, que não são exatamente maduras ou avançadas. Mas na falta de melhor nome, fica este. O mais importante é que na apresentação de Tombini ele explicou que a dívida desses países continuará crescendo, com raras exceções, nos próximos anos. Isso pelo efeito do déficit que os governos acumularam. Essas economias estão prisioneiras de um círculo vicioso porque a alta da dívida aumenta o risco soberano, isso reduz o valor dos títulos emitidos pelos governos, e a baixa perspectiva de crescimento econômico eleva a relação dívida/PIB.

Essa percepção de risco elevada não afetou apenas as economias menores da Europa. A falta de uma solução rápida para a crise está fazendo com que piore até a avaliação sobre as duas maiores economias da região, principalmente da França, que se descolou da Alemanha, como se pode ver no gráfico abaixo.

Como os bancos da Europa são os que carregam os títulos dos países da região, a percepção de risco dos bancos também subiu fortemente, principalmente dos italianos. Resultado: mais um círculo vicioso.

Com a desconfiança em alta, os empresários investem menos, os consumidores consomem menos. Nada disso é novo, tudo vem acontecendo desde 2008. O que Tombini pôde dizer é que o agravamento recente da crise não o pegou de surpresa, porque a ata da última reunião veio repleta de alertas.

O que continua destoando é sua conclusão sobre a economia brasileira. Ele garante que tudo isso levará a inflação a cair, ficar dentro do intervalo de flutuação no fim do ano e convergir para o centro da meta no ano que vem.

Não há qualquer garantia disso. E o problema é que o Banco Central tem como principal tarefa no regime de metas de inflação garantir que as taxas ficam na meta.

Ele está apostando que a inflação cairá um pouco a cada mês até maio do ano que vem. Hoje, ela está em 7,3%. Cairia dois pontos percentuais nesse período.

Não considera que a alta do dólar - ainda que tenha parado - anulou o efeito da queda das commodities. Que alguns alimentos não cairão por problemas de safra. Que o salário mínimo elevará custos de serviços e demanda.

De fato, o acumulado em 12 meses tem chance de cair a partir de outubro. Mas quanto ao ano que vem não há ainda qualquer garantia de que a queda continuará e será dessa dimensão.

Tombini garantiu aos senadores que apesar de toda a confusão do mundo está tudo dominado: hoje o BC tem R$186 bilhões a mais de compulsório do que em 2008, tem US$147 bilhões de reservas a mais, e tomou medidas que impediram o superendividamento das empresas. Disse que o BC tomou medidas que moderaram o ritmo de crescimento do PIB de 7,8% em 12 meses, em janeiro, para 4,4%. Tudo isso para explicar por que derrubou - e pelo visto continuará derrubando - os juros mesmo com a inflação acima do teto da meta.

ROLF KUNTZ - A aposta do BC e o calote


A aposta do BC e o calote
ROLF KUNTZ
O ESTADÃO - 28/09/11

Com o agravamento da crise no mundo rico, pelo menos uma aposta do Banco Central (BC) parece dar certo.

Mais que isso: se o governo grego der um calote desordenado e causar um estrago maior nas finanças da Europa, o Comitê de Política Monetária (Copom) poderá ganhar status de oráculo.

Talvez seja proposta uma canonização coletiva, se os bancos europeus perderem os €300 bilhões estimados num dos piores cenários do Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas não será necessária uma catástrofe dessa proporção. Para justificar o corte de juros anunciado no dia 31 de agosto, o comitê alegou, entre outros pontos, a perspectiva de uma boa e simples desaceleração da economia mundial - mesmo sem recessão e sem quebradeira.

Segundo o argumento, uma expansão menor da economia mundial deverá atenuar ou eliminar as pressões inflacionárias. Além disso, as pressões já diminuem no Brasil.

Para completar, o governo da presidente Dilma Rousseff está comprometido com uma política fiscal mais moderada, abrindo espaço para uma redução dos juros básicos. O conjunto parece bem arrumado. Mas será realista? Só um dos pontos alegados pelo Copom, a piora do cenário mundial, parece confirmado. Mas nem esse dado é definitivo.

Tudo poderá piorar, se as medidas anticrise propostas pelos governos da Europa e dos Estados Unidos forem rejeitadas pelos parlamentos, ou se apenas uma parte for aprovada. No caso dos Estados Unidos, o quadro será bem melhor se o Congresso aceitar todo o pacote apresentado pelo presidente Barack Obama ou, pelo menos, seus componentes mais importantes.

Nessa hipótese, a economia americana poderá crescer 2,8% no próximo ano, um ponto acima da atual projeção do FMI, segundo explicou ao Estado o economista-chefe da instituição, Olivier Blanchard. Na Europa, os governos pressionam os parlamentos para aprovar o novo modelo do fundo de estabilidade financeira. Se os parlamentares alemães concordarem, seus colegas de outros países da zona do euro serão estimulados a seguir o mesmo caminho. Nem todos os problemas serão resolvidos, mas a insegurança deverá diminuir e o financiamento das dívidas públicas poderá ser mais fácil e menos custoso. Bastaram algumas boas notícias, ou mesmo rumores positivos, para animar os mercados europeus nos últimos dois dias. Disso resultou a boa aceitação de novos papéis emitidos pelos governos da Itália e da Espanha. Ainda há, é claro, um perigoso déficit de liderança e de coordenação entre os governos, mas, até por falta de alternativa, os dirigentes dos dois países mais importantes, a Alemanha e a França, vêm tentando, unidos, apontar o caminho.

Algum resultado têm conseguido.

Se bastasse o quadro internacional para justificar o corte de juros, seria difícil criticar a decisão do Copom. Mesmo na hipótese de uma evolução mais favorável das condições externas, a ação preventiva ainda seria defensável. Mas a nova política monetária foi explicada com uma argumentação mais ampla e muito mais discutível.

Segundo o presidente do BC, Alexandre Tombini, a inflação estará abaixo do teto da meta, 6,5%, no fim deste ano. As projeções do mercado financeiro e das consultorias independentes são menos otimistas.Mas essa não é a questão mais importante. Uma fraçãozinha a mais ou a menos, até dezembro, fará pouca diferença.

Importa mesmo saber onde estará a inflação no próximo ano. Segundo as projeções independentes, estará perto de 5,5% em dezembro de 2012. Se houver um bom fundamento para essa estimativa, a pergunta será inevitável: continua em vigor o regime de metas? Segundo o BC, sim. Mas esse regime só funciona com uma boa administração de expectativas.

Quando surgem dúvidas sobre o compromisso e sobre a autonomia do BC, o sistema tende a perder eficácia.

Os sinais de desaceleração da economia brasileira continuam pouco claros.

Também isso pesa nas avaliações.

Os dados de crédito publicados ontem pelo BC reforçam as dúvidas, porque os empréstimos continuam crescendo.

A única novidade importante é a piora da linguagem: "A expansão do crédito bancário registrou aceleração em agosto, mantendo, porém, a trajetória de moderação observada ao longo do ano", etc. Aceleração na trajetória de moderação? Finalmente, há a aposta no compromisso do governo com uma política fiscal moderada. É uma alegação muito estranha, quando o projeto de Orçamento para 2012 tem como base uma estimativa de expansão econômica de 5% e inclui a perspectiva de um desconto no superávit primário, com abatimento de R$ 40,6 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Esse desconto equivale a 1% do PIB projetado. Por enquanto, só a piora do quadro internacional parece confirmar as hipóteses do Copom. Talvez um calote grego provoque um estrago suficiente para tornar irrelevantes todas as dúvidas. Só falta alguém do BC torcer por isso.

MÔNICA BERGAMO - TERCEIRO TEMPO



TERCEIRO TEMPO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 28/09/11

Paulo Skaf assumiu o terceiro mandato à frente da Fiesp em solenidade, anteontem, no Theatro Municipal. Ricardo Lewandowski, presidente do TSE, Benjamin Steinbruch, da CSN, o governador Geraldo Alckmin, os ministros Garibaldi Alves e Orlando Silva e o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, assistiram à cerimônia.

BURACO DA FECHADURA
O Banco do Brasil vai colocar seus técnicos para fiscalizar a verba que o Ministério do Turismo destina à realização de festas nos municípios brasileiros. A ideia do governo é sanar irregularidades na prestação de contas dos eventos, alimentados principalmente por dinheiro de emendas parlamentares. O banco, que já fiscaliza a aplicação de recursos do Minha Casa, Minha Vida, teria profissionais com experiência nesse tipo de tarefa.

PORTA FECHADA
Ronaldo não deve voltar tão cedo à bancada do "CQC": o craque, que sempre prestigiou o programa e participou de suas brincadeiras, considerou ofensivas declarações feitas por Rafinha Bastos sobre a cantora Wanessa Camargo, mulher de seu sócio Marcus Buaiz na 9ine. "Eu comeria ela e o bebê", afirmou o humorista, ao falar sobre a gravidez da cantora. O ex-jogador e até sua mulher, Bia Antony, chegaram a reclamar com a direção da TV Bandeirantes sobre o episódio.

ALERTA
A Band também transmitiu a Rafinha Bastos a discordância da empresa em relação ao episódio. Disse que ofensas desse tipo estão em desacordo com a linha da emissora. Já a assessoria do humorista informou ontem que ele não tem nada a declarar sobre o fato.

ALERTA 2
Marcus Buaiz estuda abrir um processo contra o humorista. Procurado, o empresário não quis se manifestar.

MAR REVOLTO
Datena diz que a entrevista que Jorge Kajuru teria feito com o goleiro Bruno é "igual a cabeça de bacalhau: ninguém viu". Kajuru declarou que tinha enviado a reportagem a Datena. "Ele é meu irmão. Mas não me mandou nada. Só me disse que tinha [a entrevista]. Eu disse a ele que não sei se tenho interesse [em veicular]. Eu acho que o cara que está preso tem que falar por meio de seus advogados", diz o apresentador.

A VIDA NA TELINHA
A TV Globo fez festa para lançar sua nova novela das 6, "A Vida da Gente", no La Luna. No elenco estão Fernanda Vasconcelos, Regiane Alves, Thiago Lacerda e Marjorie Estiano, entre outros.

PEQUENA ÁREA
A Record sonha em ter o ex-jogador e deputado Romário (PSB-RJ) como comentarista da emissora nos Jogos Pan-Americanos.

SHOW DO MILHÃO
O apresentador Luciano Huck lança no dia 1º de outubro a marca de camisetas Huck, em parceria com a grife Reserva. A cada semana uma nova estampa ficará à venda por sete dias na loja virtual. A primeira traz a frase "Os 40 são os novos 20".

A ESCOLHIDA
A soprano americana Janice Baird dará vida a Brünhilde, protagonista da ópera "A Valquíria", de Wagner, que será encenada no Theatro Municipal de SP em novembro. A direção é do brasileiro André Heller-Lopes. Os ingressos para as cinco apresentações estão esgotados.

SOL NASCENTE
A cantora Blubell, uma das revelações da nova cena musical, foi convidada pela embaixada brasileira no Japão a fazer uma turnê no país em outubro. Ela apresentará canções do disco "Eu Sou do Tempo em que a Gente se Telefonava" em Nagoya, Yokohama, Kamakura e Aoyama.

HOTEL CENTRAL
O Centro Paula Souza assina hoje convênio para ter cursos de gastronomia e hotelaria na Etec que será construída na Nova Luz.
O Instituto Italiano de Culinária para Estrangeiros treinará técnicos em cozinha, hospedagem, bar e restaurante. O prédio da Etec, com 4.000 m², terá um mini-hotel com quatro apartamentos, para as aulas práticas.

CURTO-CIRCUITO

Geraldo Azevedo faz shows neste sábado e domingo no Sesc Belenzinho. Classificação: 12 anos.

Gisela Rao lança hoje o livro "Não Comi, Não Rezei, mas Me Amei", das 18h30 às 21h30, na Livraria da Vila do shopping Pátio Higienópolis.

O espetáculo "Hermanoteu na Terra de Godah", da Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo, volta a SP nos dias 21 e 22 de outubro, no Citibank Hall. Classificação: 14 anos.

A premiação do programa Para Mulheres na Ciência acontece hoje, às 19h, no Copacabana Palace.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

JOSÉ SIMÃO - Hoje! Selecinha x Nojentinha!


Hoje! Selecinha x Nojentinha!
 JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 28/09/11 

Os bancos estão em greve. Oba! Banco no Brasil só serve pra duas coisas: pagar conta e rolar dívida


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Oba! Pensamento do dia: "Se sua vida está ruim, pense no cara que cuida do banheiro do Rock in Rio". Rarará!E hoje é dia da Selecinha. Brasil x Argentina! Selecinha x Nojentinha! Vai ser aquela peladona. Peladona em Belém. No estádio do Mangueirão. E tá proibido fazer trocadilho com Mangueirão! Tipo: o Mano viu o Mangueirão entrar!
E outra bomba: os bancos estão em greve. Oba! Banco no Brasil só serve pra duas coisas: pagar conta e rolar dívida. E o gerente ainda tem que estar de bom humor!
E como disse a Hebe Camargo do Twitter: "Banco em greve na minha idade é falta de lazer. O que farei pela manhã?". Acabou o lazer dos aposentados: alugar gerente de banco!
E os grevistas que se cuidem. Sabe como se chama o presidente do Bradesco? Luiz Carlos TRABUCO! Rarará! E sabe como se chama o superintendente de ouvidoria do Bradesco? Guilherme CALLADO!
E o cheque especial está tão alto, mas tão alto, que já tão chamando de cheque ESPACIAL! E reparou que toda foto que a gente tira no Brasil aparece uma agência do Bradesco atrás? Toda rua no Brasil tem duas coisas: igreja evangélica e agência do Bradesco! E o Palmeiras também tá em greve. Greve de vitórias! E a minha conta vive em greve! E um amigo meu entrou em greve de fome. Só pra não comer a mulher! Rarará!
E essa a gente se esqueceu de comentar: o Galvão Urubueno na F1! Mais rouco que a Foca da Disney! Mandou o Hamilton procurar um psiquiatra. Por que não vão os dois? Tem beliche no psiquiatra? Fica um em cima e outro embaixo!
E diz que um psiquiatra falou pro paciente: "Qual o seu problema? Me conte tudo desde o início". "No início eu criei o céu e a terra." Então o paciente era o Galvão Bueno. Rarará! E essa: "PSDB aposta em neto de Mário Covas para renovação em SP". Renovação? Renovação do PSDB: o neto do Covas em São Paulo e o neto do Tancredo em Brasília! E ainda coliga com o neto do ACM Neto. Rarará!E reparou que São Paulo tem fixação por anel? Rodoanel e agora Ferroanel! Transportes via anel! Rarará! Paulista bota o anel na roda. Só se locomove pelo anel. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje só amanhã.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

ANTONIO PRATA - Não funciona


Não funciona
ANTONIO PRATA
FOLHA DE SP - 28/09/11

Com o intuito de facilitar um pouco nossa passagem pela Terra, fiz uma pequena lista com alguns estorvos


SE OS princípios da seleção natural valessem para os objetos criados pelo homem, estariam extintos há muito tempo o chuveiro elétrico, o repelente em espiral e o sachê de ketchup. É curioso: enquanto a natureza, esse monstro acéfalo, paga regiamente seu tributo à perfeição, mandando pro beleléu tudo o que não se adapta (alô, Neandertal!), nós toleramos uma quantidade absurda de inutensílios, como se suas existências fossem incontornáveis feito a morte, os impostos e a trilha sonora do vizinho. Não são! Com o intuito de facilitar um pouquinho nossa tão atribulada passagem pela Terra, fiz uma pequena lista com alguns desses estorvos.

Sachê de ketchup. A pior realização da humanidade, depois da versão orquestrada de Ilariê. Nas lanchonetes sempre nos dão logo cinco saquinhos, pois sabem que não conseguiremos abrir os quatro primeiros, mesmo que nos atraquemos com unhas e dentes àqueles sarcásticos dizeres: "Rasgue aqui".

Chuveiro elétrico. A segunda pior realização da humanidade, depois do sachê de ketchup e da versão orquestrada de Ilariê. A água só esquenta de verdade se não abrirmos quase nada a torneira: sob o fiozinho escaldante que escorre da ducha (sic), é como se você estivesse com o cocuruto no Saara, a barriga no Ártico, a bunda na Patagônia e os pés -bem, não se preocupe com os pés, pois após cinco minutos eles terão congelado e perdido toda a sensibilidade.

Repelente em espiral. Tem um cheiro gostoso, remete-me à infância e é bonito de ver queimando no escuro; mas, enquanto me deleito em meio ao torpor hippie-praiano, pernilongos e borrachudos deleitam-se com meu sangue. Repelente em espiral só repele os mosquitos de si próprio. E olhe lá...

Rede. Rede é lindo, rede é Brasil, é um objeto maravilhoso -mas não para se deitar. Quando você encontra a posição das pernas, perde a da cabeça, quando ajeita a cabeça, desarruma as pernas... Acho que as redes deveriam ser penduradas abertas na parede, como um quadro, uma peça de tapeçaria.

Secador de mãos a ar. Funciona muito bem -se você não tiver mais nada a fazer pelo resto da tarde, além de ficar virando as mãos de um lado pro outro, dentro de um banheiro público, só para que o dono do estabelecimento economize R$ 0,05 em folhas de papel. E não me fale em ecologia, pois o secador é elétrico, somos todos adultos e sabemos que a eletricidade não vem da cegonha: por mais limpa que seja, é sempre fruto de alguma sacanagem com o ambiente.

Embalagens de plástico duro. Estou há uma semana tentando tirar meu mouse novo de uma dessas armaduras plásticas. Ontem, fui comprar uma tesoura e -inferno!- ela vinha com a mesma inviolável carapaça.

Quando nossa civilização acabar e só restarem ruínas, essas embalagens resistirão, incólumes. Sobre nós, dirão os homens do futuro: "Eram ignorantes, crédulos e autodestrutivos, mas, caramba, que embalagens produziam!".

A lista das coisas que não funcionam é longa, caro leitor, mas a coluna é curta, de modo que devo parar por aqui. Prometo retomar o assunto noutra oportunidade e abordar uma variação muito importante do tema: as ideias que não funcionam. Adianto aqui algumas delas: pintar a própria casa, camping e relação a três. Até breve.