segunda-feira, junho 06, 2011

ANCELMO GÓIS - Senhorzinho


Senhorzinho
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 06/06/11

Quinta passada, FH estava no Waldorf Astoria, em Nova York, apresentando à imprensa o relatório da Comissão Global de Políticas sobre Drogas, que ele preside e que reúne gente como Kofi Annan e Mario Vargas Llosa. Ontem, foi à favela de Vigário Geral, no Rio, participar, ao lado do AfroReggae, de uma sessão do documentário “Quebrando o tabu”, também sobre drogas, no qual ele é uma espécie de galã. 

Aniversário
Hoje, um grupo de amigos cariocas celebra os 80 anos de FH com almoço na casa do neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho. 

Nova imagem política
O senador sergipano Antonio Carlos Valadares e os deputados gaúchos Onyx Lorenzoni e Pompeo de Mattos fizeram transplante capilar com o cirurgião Miguel Sorrentino. Não é fofo ? 

Calma, gente
Hélio De La Peña, ex-aluno do São Bento, mesmo sem minimizar o incidente envolvendo alunos do tradicional colégio, acha que é hora de baixar a bola. Aliás, o humorista aponta uma solução para o problema: 
— É testosterona demais. O colégio devia aceitar meninas. Daí os meninos, em vez de brigar entre si, ocupariam o tempo azarando as colegas. 

No mais
Lula foi visitar os camaradas Fidel Castro e Hugo Chavez, dirigentes de países onde a Odebrecht tem contratos, a bordo de um jatinho da empreiteira. É como diria um velho bolchevique de Frei Paulo: alguém está enganando alguém.

Batismo de sangue
Será exibido em Paris, dia 17 de junho, o filme “Batismo de sangue” de Helvécio Ratton. Em seguida, o psicanalista francês Jean-Claude Rolland fala sobre o caso de Frei Tito, frade brasileiro torturado na ditadura e que se suicidou na França.

Jandira e o Código
A deputada Jandira Feghali reconhece a dificuldade do PCdoB junto a ambientalistas por causa do apoio de deputados do partido ao novo Código Florestal: 
-— Vamos procurar conversar mais com eles. Acho que o texto preserva o meio ambiente e não estimula o desmatamento ou anistia. Mas não sou dona da verdade. 

Jandira e Ana 
A deputada também nega que esteja de olho no cargo de ministra da Cultura: 
— Presido a frente parlamentar de cultura. Não tenho qualquer interesse em desestabilizar o governo Dilma e muito menos preciso de emprego. Ana de Hollanda foi vítima do fogo amigo do próprio PT. 

Brasil na moda
A American Airlines pediu autorização para um sétimo destino no Brasil: Manaus-Miami. 

Escola olímpica
No lugar do antigo colégio japonês, em Santa Teresa, comprado pela prefeitura do Rio, surgirá a escola Juan Antonio Samaranch, falecido presidente do COI. A escola será destinada a estimular os esportes olímpicos. 

Mais sexy do mundo
Hollywood caiu mesmo de amores pelo Rio. Veja essa: “Transformers: o lado oculto da Lua”, continuação da franquia de sucesso dos robôs alienígenas gigantes, tem sua pré-estreia mundial marcada para Moscou. Mas Michael Bay, diretor do filme (e de outros campeões de bilheteria, como “A Rocha”, “Armageddon” e “Pearl Harbor”), resolveu fazer uma sessão antes, aqui, no final do mês.

Segue
Com ele, vem a estrela do filme, Rosie Huntington-Whiteley, eleita, em maio, a mais sexy do mundo pela revista “Maxim”. 

Copacabana
A Microservice, empresa que fabrica e distribui CDs no país, inicia mês que vem um processo de revitalização do catálogo da velha gravadora Copacabana, a finada brasileira dos discos que atuou entre 1940 e 1990. O arquivo da Copacabana, que tem Dolores Duran, Luiz Gonzaga e João Gilberto, foi licenciado para a Microservice. 

Acertou no milhar 
A primeira tiragem de mil unidades do CD duplo “O samba carioca de Wilson Batista”, lançado há duas semanas pela Biscoito Fino, esgotou. O resultado, por se tratar de compositor antigo e já falecido, surpreendeu.

DILMA NA VERDAEIRA PROFISSÃO


VAI ARRANCAR UM BIFINHO

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO - Insepultos



Insepultos 
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

O ESTADÃO - 06/06/11

O ministro Antonio Palocci se transformou em um cadáver político ambulante. Perdeu aliados à esquerda e à direita. Virou a antítese de Midas, a pessoa menos indicada para coordenar qualquer coisa além de sua defesa. O governo já saiu de Palocci; falta Palocci sair do governo.

Pode-se argumentar que Palocci foi alvo de injustiça pois não há provas contra ele, apenas indícios. Mas o ministro fez a própria cama ao mostrar ser mais leal e preocupado com seus ex-clientes empresariais do que com a atual chefe. Entre o público e o privado, não restam dúvidas quanto à sua preferência.

Virou lugar-comum comparar a atitude de Palocci com a de seu antecessor Henrique Hargreaves, que, sob suspeita em 1993, afastou-se da Casa Civil para não contaminar o governo do seu amigo Itamar Franco. Ele acabou voltando ao cargo meses depois. As diferenças são grandes, porém.

Hargreaves não só voltou ao ministério. Continuou sendo o braço direito do ex-presidente quando este foi eleito governador de Minas Gerais em 1998. Foi seu principal secretário. Hoje, representa o governo mineiro em Brasília. Hargreaves nunca saiu do governo e o governo nunca saiu dele.

Caso Palocci deixe o governo Dilma, o comportamento do ministro durante a crise indica que ele voltará a ser consultor de empresas. Com o sucesso financeiro que Palocci obteve nos últimos anos, quem poderá recriminá-lo se fizer essa opção?

Um inconveniente é que as idas e vindas entre o setor público e o privado provocam incompatibilidades e conflitos de interesse. Palocci foi ingênuo (atendendo a seu apelo por boa-fé) ao dizer que setores atendidos por ele, como o financeiro e de mercado de capitais, não têm interesses diretos no governo, que seus negócios são estritamente privados.

Impostos, taxas, licenças, licitações, normas, regulamentações, leis, julgamentos, contas, publicidade oficial são apenas algumas das muitas interfaces entre empresas de quaisquer setores econômicos e o governo. Sempre há relações entre o público e o privado, e quem tem o pé em ambas as canoas é valorizado por facilitar o tráfego de um lado a outro.

Outra inconveniência é a contaminação. Sobram indícios de que a crise pessoal de Palocci está prejudicando o governo. O melhor indicador são as incontáveis declarações de apoio de próceres do PMDB à permanência do ministro no cargo.

Pode parecer incongruente que a pessoa com quem Palocci discutiu asperamente ao telefone, o vice-presidente Michel Temer (PMDB), seja quem mais repete que o ministro deve ficar no governo. Não é: quanto mais tempo Palocci permanecer, mais Dilma terá de ceder aos peemedebistas. O tal diamante vale muito mais do que R$ 20 milhões, e é pago a prestações.

Se Palocci não é capaz de reconhecer isso, quão hábil ele ainda pode ser como articulador político? É insubstituível para Dilma? A se tomar como exemplo a votação do Código Florestal, não. Numa democracia, os ocupantes de cargos públicos não devem importar mais do que suas funções.

Ceder anéis brilhantes aos aliados não foi a única consequência dos problemas causados pelo principal auxiliar da presidente. Mesmo que o governo não fique paralisado, a crise de Palocci ofusca qualquer outra iniciativa governamental. Mesmo que não haja crise de fato, a aparência é de que há.

Mal comparando com uma tragédia real, enquanto não forem descobertos e punidos os assassinos de líderes extrativistas na Amazônia, os fantasmas dessas mortes assombrarão governo e sociedade com a lembrança indelével de que vastas áreas do Brasil estão além do alcance da lei. Casos assim precisam de investigação profunda, até uma conclusão inconteste.

Dilma demonstrou lealdade a Palocci. A contrapartida é discutível. Se demiti-lo por pressão externa parece sinal de fraqueza, mantê-lo insepulto é ainda mais desgastante. O velório interminável atrapalha o governo e enfraquece a imagem da presidente. Falta a pá de cal.

GUSTAVO CERBASI - Para um feliz Dia dos Namorados


Para um feliz Dia dos Namorados

GUSTAVO CERBASI 

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/05/11

Seja menos consumidor e mais romântico; como será um domingo, tire o dia para simbolizar seu amor


DAQUI A exatamente uma semana, muitos relacionamentos de namorados, casados e afins estarão fortalecidos pelo romantismo do Dia dos Namorados, que cairá no próximo domingo.
Pelo mesmo motivo, muitos orçamentos estarão arruinados.
Por mais que saibamos com antecedência da data, é hábito comum deixar para pensar na celebração em cima da hora.
Na pressa, paga-se mais caro, pois, além do presente, estamos adquirindo também a conveniência da pronta entrega.
O roteiro é conhecido. No próximo sábado, muitos pombinhos se darão conta da necessidade de celebrar, e correrão atrás de algo romântico, fortemente simbólico e, obviamente, com "cara" de Dia dos Namorados.
Restaurantes serão uma boa sugestão, mas, além de estarem lotados (como em todos os domingos), ainda terão um sobrepreço pelos tradicionais pacotes especiais de datas festivas.
Flores serão outra boa pedida.
Quer algo mais romântico do que um buquê de rosas colombianas -lindo, cheiroso e custando três vezes o que custaria em qualquer outra data? E o que dizer de uma caixa de bombons em forma de coração?
Não é caro gastar algumas dezenas de reais em um presente assim, certo? Faça as contas do preço que você estará pagando pelo quilo do chocolate e você perceberá o tamanho da armadilha.
É curioso notar como que, para muitas pessoas, a data deixou de ser a oportunidade de demonstrar o amor e passou a ser uma obrigação de demonstrar sua capacidade de pagamento.
A arapuca está armada para prender a caça. O caçador, ao contrário do que se pensa, não é o comerciante, mas sim a falta de planejamento dos consumidores.
Pagamos caro porque não pensamos em um presente criativo com antecedência. Não culpo os lojistas por praticarem preços maiores; afinal, esses preços são necessários.
Para atender à insana correria dos consumidores às compras de última hora, o comércio é obrigado a adotar uma verdadeira operação de guerra.
Entregas urgentes, aluguel de espaço extra para estoques, turnos extras de vendedores e perdas decorrentes dessa correria saem caro -e o consumidor paga por isso.
Deve-se considerar também que o mau hábito de comprar convenientemente e pagando caro em poucas datas arruína a vida financeira dos consumidores, que, endividados, não conseguem manter hábitos regulares de compras ao longo do ano.
Como os comerciantes só vendem nessas raras datas, veem-se obrigados a embutir todo o lucro do ano nas vendas desses poucos dias. É questão de sobrevivência!
Reforço a sugestão que já fiz em outras datas festivas: neste Dia dos Namorados, mude o roteiro.
Seja menos consumidor e mais romântico. Aproveite que a data cai em um domingo, e tire o dia para simbolizar seu amor. Café da manhã na cama, rever álbuns da história do casal, fazer um álbum virtual do último ano, preparar um almoço saudável a dois, em casa, e depois mergulhar em uma sessão de filme romântico sob o edredom não custam caro e significam algo bem claro: tiramos o dia para dedicarmos um ao outro.
Quer um presente para guardar? Tirem fotos do que fizeram no dia, e façam disso uma tradição.
É apenas uma sugestão, algo que costumo fazer. Invente o seu roteiro, mas procure fazer do Dia dos Namorados uma celebração do relacionamento, não de suas dívidas.
Fugir das arapucas comerciais é um presente a mais que o casal se dá.
Creio que os comerciantes não devem admirar muito minha sugestão, mas até eles saem ganhando com celebrações verdadeiramente simbólicas.
Elas reforçam relacionamentos, intensificam a paixão.
Com os casais gastando menos, sobra orçamento para presentear com flores, com chocolates, com jantares e afins mais vezes por ano.
Qual lojista não gostaria de ter clientes fiéis no lugar da bagunça das compras sazonais?

PAULO GUEDES - A descentralização do poder


A descentralização do poder
PAULO GUEDES 
O GLOBO - 06/06/11

As acusações de tráfico de influência que derrubaram Erenice Guerra da Casa Civil em 2010 ameaçam agora o superministro Antonio Palocci. A importância de Palocci como peça de articulação do lulo-petismo com o establishment econômico e financeiro não pode ser subestimada. Foi um dos principais responsáveis pela bem-sucedida continuidade econômica durante uma complexa transição política. Palocci foi fundamental para a boa aterrissagem de Lula na dimensão econômica, da mesma forma como seria mais tarde o ex-presidente Sarney o responsável por sua blindagem na política convencional após o episódio do mensalão.

Palocci já fora alvejado por denúncias e derrubado da Fazenda. Seria um candidato natural à sucessão de Lula. Teria sido derrubado então pelas forças autofágicas de seu próprio partido, como estaria agora ocorrendo novamente? Seria o alvo de políticos situacionistas insatisfeitos por indicações não atendidas pela Casa Civil? Ou seria o alvo de oposicionistas insistindo em um terceiro turno? Houve no governo quem atribuísse o vazamento das informações sobre o súbito enriquecimento de Palocci ao PSD, partido em formação que seria força auxiliar da ala serrista do PSDB em São Paulo. Mas o próprio prefeito Gilberto Kassab, que não desperdiça palavras, segundo seu entrevistador Jorge Bastos Moreno no GLOBO, alegou que, pela natureza dos dados, o vazamento poderia ter vindo do Ministério da Fazenda.

Na superfície, essa é claramente uma crise de Palocci, não uma crise política. Como antes houve a crise da Erenice e também a outra crise de Palocci com seu caseiro. Mas abaixo da superfície temos as águas turvas e turbulentas de uma transição incompleta do Antigo Regime para a Grande Sociedade Aberta. Pois é mesmo extraordinária a concentração de poder econômico e influência política na chefia da Casa Civil. Dos últimos quatro ocupantes, apenas Dilma Rousseff não foi vítima de um balaço, o que lhe permitiu escalar, como prêmio por seu desempenho, uma bem-sucedida indicação presidencial sob as asas da popularidade de Lula.

"Grande parte das crises que estamos vivendo deve-se exatamente à concentração de poder financeiro e político no governo federal. Nós precisamos resgatar a Federação", ensaia o senador Aécio Neves. Descentralizar recursos e atribuições é exigência de uma democracia emergente. Pelo menos descentraliza o tráfico de influência.

GOSTOSA

DENIS LERRER ROSENFIELD - Código Ambiental Internacional


Código Ambiental Internacional 
DENIS LERRER ROSENFIELD
O ESTADÃO - 06/06/11

O Rio de Janeiro organizará, no próximo ano, a Conferência da ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável (UNCSD 2012), denominada de Rio +20, Na ocasião terá lugar igualmente a Cúpula dos Povos para o Desenvolvimento Sustentável - também chamada de Rio +20. Será uma oportunidade de reunião de países, ONGs e movimentos sociais, tendo como objetivo a preservação do meio ambiente. O seu mote é, portanto, uma grande discussão sobre o que a ONU denomina "economia verde" e desenvolvimento em "harmonia com a natureza". A mídia internacional se debruçará sobre esses eventos.

A oportunidade será única para todos os países levarem a sério o que se propõe, e não fazerem uma mera encenação que sirva apenas para impor regras aos países em desenvolvimento, em particular o Brasil, um dos que mais conservaram suas florestas nativas. Não deixa de ser estranho que o país mais preservacionista seja o alvo das atenções mundiais, sobretudo dos países desenvolvidos.

Uma proposta simples e singela seria a elaboração de um Código Ambiental Internacional, que fosse seguido por todos os países, a começar pelos EUA e pelos países europeus. O atual Código Florestal e o próximo estipulam que os empreendedores rurais e o agronegócio em geral devem, em todo o País, preservar a vegetação e a floresta nativas em 20% de suas propriedades, chegando a 35% no Cerrado e na zona de transição para a Floresta Amazônica, e a 80% nesta última. Isso se chama "reserva legal".

Nessa perspectiva, os EUA e os países europeus deveriam também criar o instituto da "reserva legal", estipulando um porcentual mínimo de 20%. Como se trata de países desmatadores, que devastaram sua vegetação e as florestas nativas, teriam um belo trabalho de recomposição de seus biomas originários. Meios científicos, tecnológicos e financeiros certamente não faltariam. Seria uma extraordinária contribuição à preservação ambiental, à "economia de verde" e ao desenvolvimento em "harmonia com a natureza". Não é isso que defendem? Por que não aplicam em seus próprios países?

Imaginem um planeta onde, uniformemente, em todos os Estados, houvesse a preservação de 20% de sua vegetação e das florestas nativas, obrigando os produtores rurais e o agronegócio desses países a renunciarem a tal parcela de suas propriedades. O índice poderia ser até mais alto, dependendo do maior interesse ambiental. Penso que deveriam fazer isso voluntariamente, pois não se cansam de defender essa ideia para o Brasil e outros países, como a Indonésia. Guardariam a coerência e seus discursos não seriam meros disfarces. Não esqueçamos que o Brasil preserva, até hoje, 61% de suas florestas nativas, chegando essa taxa a pouco mais de 80% na Amazônia. Nos EUA e nos países europeus, não chega, em média, a 5%. O ganho ambiental para eles, e para o planeta, seria enorme.

O ministro Antônio Patriota, em recente viagem aos EUA, foi obrigado a se explicar a um "think tank" sobre a legislação ambiental brasileira a partir da aprovação pela Câmara dos Deputados do novo Código Florestal. Como assim, se explicar? Ele é que deveria pedir explicações sobre a pouca atenção desse país à sua vegetação e às florestas nativas. Deveria perguntar por que os produtores rurais americanos e o seu agronegócio não dispõem da "reserva legal". Não deveriam criá-la? Têm medo do lobby desse seu setor? Por que vociferam aqui e se calam lá?

Um princípio elementar da ciência consiste na validade universal de suas proposições, que de hipóteses se tornam, então, verdades científicas. Se, por exemplo, a "reserva legal" ganha o estatuto de verdade científica, ela não poderia ser válida apenas para o Brasil, mas para todos os países do planeta. A SBPC e a Academia Brasileira de Ciências deveriam engajar as organizações congêneres nos EUA e na Europa na defesa da mesma posição, sob pena de ficar patente estarem elas a serviço particular de uma causa em que não haveria ciência alguma, mas tão só uma posição parcial e política.

Imaginem o ganho "científico" se essas entidades congêneres americanas e europeias se engajassem nos mesmos tipos de estudos e, sobretudo, na aplicação de políticas, pressionando os respectivos governos e se comprometendo, como fazem no Brasil, junto às editorias de jornais e dos meios de comunicação em geral.

Continua sendo um enigma, digamos de maneira polida, a omissão de ONGs e movimentos sociais em relação à preservação do meio ambiente nos países desenvolvidos. Ressalte-se que os ditos movimentos sociais no Brasil são, em sua maioria, patrocinados e financiados por entidades religiosas católicas, protestantes e anglicanas, tendo suas sedes em países como Grã-Bretanha, Canadá, Alemanha e Áustria.

Deveria ser provocada uma grande campanha internacional para a criação de reserva legal ou a conservação de áreas de preservação permanente (APPs) nos mesmos índices que são válidos no Brasil. Por que não utilizam, por exemplo, os mesmos critérios para os Rios Douro, Sena, Tâmisa e Reno? Por que não fazem campanha contra as plantações de tulipas na Holanda e o cultivo de uvas e produção de vinho na França, na Alemanha, na Itália e em Portugal? No Brasil não se pode cultivar à beira de rios, encostas e topos de morro e lá pode? De onde provém essa parcialidade?

Ressalte-se ainda que algumas dessas ONGs internacionais, e mesmo nacionais, são atuantes nesses países, algumas tendo neles seus escritórios centrais. Ademais, muitos países europeus financiam ONGs brasileiras, o que mostra uma mistura, diria "impura", entre interesses estatais e atuação ambientalista no Brasil.

A Conferência da ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável e a Cúpula dos Povos para o Desenvolvimento Sustentável, ou seja, o megaevento Rio +20, seriam uma ocasião única para levantar o véu da hipocrisia.

Por que não um Código Ambiental Internacional?

JOÃO LARA MESQUITA - Carcinicultura e os mangues


Carcinicultura e os mangues
JOÃO LARA MESQUITA
O Estado de S. Paulo - 06/06/2011

A discussão sobre o novo Código Florestal, recém-aprovado na Câmara dos Deputados, esconde alguns problemas que passaram despercebidos no noticiário e, especialmente, nos artigos de especialistas que analisaram o assunto. Uma pena. O público saiu perdendo. É em nome dele que proponho esta pequena contribuição.

Não pretendo voltar aos temas polêmicos: reservas legais, anistia para quem desrespeitou a lei, tamanho da mata ciliar, etc. A polarização entre "mocinhos" e "bandidos" causou prejuízos demais.

Eis os fatos.

O relatório de Aldo Rebelo, sancionado na Câmara por 410 votos a favor, 63 contra e uma abstenção, alterou as áreas de preservação permanente em topos de morros, encostas, várzeas e margens de rios. Certo? Errado. Faltou citar um bioma importantíssimo que, da mesma forma, perdeu a proteção: os mangues (assim como as restingas).

O Código Florestal também vale, ou valia, para a zona costeira. Mas a discussão ficou de tal modo centrada entre a "floresta" e a "agricultura" que o litoral, como sempre acontece, perdeu espaço.

Os manguezais eram considerados áreas de proteção permanente por sua importância. Mas o lobby dos carcinicultores - produtores de camarão em cativeiro -, parece, venceu a parada. O novo Código Florestal, se aprovado no Senado, será o réquiem dos manguezais brasileiros.

Os mangues são extremamente importantes por vários motivos, a começar pela proteção que oferecem à linha da costa contra as marés, os ventos, as ressacas, forças naturais típicas da zona costeira. Ficou provado, quando do tsunami na Indonésia em 2004, que as áreas protegidas por manguezais sofreram estrago menor.

Do ponto de vista de vida marinha, os mangues são especiais. Suas raízes aéreas retêm nutrientes, o que os torna berçários importantíssimos. Um sem-número de peixes, moluscos e crustáceos dependem deles para procriar. Os mangues também filtram e melhoram a qualidade da água, enquanto servem como hábitat para diversos tipos de aves.

Tem mais. De acordo com matéria publicada pelo Estado na quinta-feira (Mangue concentra mais CO2 que floresta na Amazônia, 2/6, A18), relatório do IBGE divulgado na semana passada "revela que as maiores concentrações de carbono no solo da Amazônia estão em áreas de mangue, hoje ameaçadas pelas mudanças nas regras do Código Florestal aprovadas na Câmara". Segundo a geógrafa Rosangela Garrido, citada na reportagem, "o trabalho reforça a importância da conservação de manguezais e o seu papel no equilíbrio climático".

Quando produzi a série de documentários Mar Sem Fim, para a TV Cultura (2005-2007), naveguei desde o Oiapoque ao Chuí, visitando cada palmo da costa brasileira. Conheci, se não todas, a maioria das fazendas de camarão que proliferaram no Nordeste, desde o Piauí até o sul da Bahia, mas não apenas nessa região.

Fiquei horrorizado com o que vi, e aprendi, entrevistando mais de 40 especialistas da academia, raramente chamados para discussões como as da mudança do Código Florestal, diga-se.

Denunciei a carcinicultura com vigor, no meu site, nos documentários e no livro que publiquei ao fim da expedição (O Brasil Visto do Mar Sem Fim - editoras Terceiro Nome, Albatroz e Loqui, indicado ao Prêmio Jabuti na categoria reportagem). No livro, em dois volumes, sem o problema do espaço exíguo deste artigo, não economizei ao mostrar, até com fotos aéreas, o descalabro, espécie de escárnio contra o meio ambiente, provocado pela carcinicultura. Fiz questão de publicar o depoimento dos maiores especialistas em vida marinha e ecossistemas costeiros, unânimes em condenar o modo como ela vem sendo praticada no Brasil, ou seja, transformando imensas áreas de mangues em terra arrasada.

Sobram motivos para a condenação. Para começar, manguezais, áreas públicas, são "doados" aos produtores, que, ao contrário dos agricultores, têm a vantagem de não precisarem pagar a terra onde vão produzir. Curiosamente, descobri, a vasta maioria das fazendas pertence ou a políticos (entre os quais prefeitos, deputados e senadores) ou a grandes grupos empresariais. Desta vez não há a desculpa "dos pequenos produtores".

Uma vez de posse da área, os mangues são arrasados. A vegetação é extirpada até a raiz. No lugar da floresta são construídas as piscinas criatórias. A maioria sem bacia de sedimentação A contaminação do lençol freático quase sempre acontece. Assim fica mais fácil, e barato, sugar a água do estuário, através de bombas, para criar um camarão exótico, originário do Pacífico, o Paneus vannamei.

Ao detonar os mangues, os produtores criam conflitos sociais com as populações nativas que vivem do extrativismo. Constatei. Tenho depoimentos gravados, de várias pessoas dessas áreas, contando sobre ameaças e truculência por parte dos poderosos do camarão. Até um membro do Ministério Público do município de Natal, no Rio Grande do Norte, contou das ameaças que sua família passou a receber desde que entrou na luta contra a carcinicultura.

O desaparecimento de hábitats é o principal responsável pela perda de biodiversidade no mundo. Em segundo lugar está a introdução de espécies exóticas.

A carcinicultura é uma proeza. Faz as duas coisas simultaneamente.

Muitas vezes as fazendas são financiadas com dinheiros públicos, como é o caso das que estão instaladas no Rio Real, entre Bahia e Sergipe, que receberam aportes do Banco do Nordeste (BNB), com recursos do FNE Aquipesca (Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Aquicultura e Pesca do Nordeste).

As diretrizes do FNE (o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste) especificam "tratamento especial aos míni e pequenos empreendedores e preservação do meio ambiente".

Galhofada!

Mais fácil, só sendo ministro. E prestando consultoria, claro.

GOSTOSA

O raio X da corrupção - REVISTA VEJA


O raio X da corrupção
REVISTA VEJA 

Peritos da Polícia Federal descobriram como se assaltam os cofres públicos sem deixar rastros e ao abrigo da lei

Uma dúvida atormentou por muito tempo as melhores cabeças da Policia Federal. Ao investigarem quadrilhas envolvidas em obras públicas, policiais deparavam frequentemente com um quadro incompreensível. Tanto nas conversas telefônicas interceptadas quanto nos e-mails apreendidos, era comum flagrar empresários e executivos falando sobre desvio de dinheiro, pagamento de propina a funcionários públicos, remessas para o exterior por meio de caixa dois e demais assuntos que compõem o repertório clássico da corrupção que emerge sempre que entre o dinheiro público e um fornecedor privado de produtos ou serviços existe um intermediário desonesto. Mas, mesmo com a certeza de estarem diante de um crime, os investigadores muitas vezes não conseguiam responder a uma pergunta crucial: de onde vinha o ganho dos criminosos? Isso porque, apesar das evidências gritantes de falcatrua, quando os agentes da policia analisavam os contratos firmados entre as empresas e os órgãos públicos, chegavam à conclusão de que os preços que elas cobravam estavam dentro dos limites legais – ou seja, não havia superfaturamento. Ora, se não havia superfaturamento, não havia ganho ilegal e; se não havia ganho ilegal, todo o resto deixava de fazer sentido.

Em março, a dúvida dos investigadores deu lugar a uma explicação cristalina. Depois de dois anos de análise minuciosa de contratos públicos, levantamento de notas fiscais, checagem de custos de 554 compras empreendidas em obras do governo e visitas in loco de algumas dezenas de canteiros de obras, peritos da PF descobriram o “pulo do gato” – ou, mais apropriadamente neste caso, do rato. O truque pode ser chamado de “superfaturamento oculto”.

Para entender essa criação genuinamente brasileira, é preciso fazer um rápido mergulho no mundo das licitações. Há muito tempo, o governo federal é cobrado a estancar o desperdício que mina dos contratos de obras públicas e corrói seus cofres. Para dar uma resposta a isso, desde 2003 a Lei de Diretrizes Orçamentárias passou a exigir que os órgãos públicos, antes de fazer qualquer pagamento, observem as tabelas oficiais de referência de preços. Essas tabelas, formuladas em conjunto por diversos órgãos do governo, contêm os valores médios dos principais materiais de construção e insumos usados em obras de engenharia civil. A primeira delas chama-se Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi). A segunda, Sistema de Custos Rodoviários (Sicro). Há oito anos, seu uso é obrigatório. Muito bem. Para órgãos de controle, como o Tribunal de Contas da União, um preço só é classificado como “superfaturado” se estiver acima dos valores constantes do Sinapi e do Sicro. Tudo o que estiver dentro do limite das tabelas é considerado legal.

O que a PF descobriu, e que causa espanto, é que as duas tabelas oficiais já trazem preços muito superiores aos praticados pelo mercado. Uma rápida pesquisa realizada pelos peritos policiais no comércio revelou que os preços dos produtos mais usados em obras de engenharia estão, em média, 20% mais altos do que deveriam.

Se o leitor, por exemplo, for a um depósito para comprar um tijolo cerâmico do tipo “oito furos”, pagará 44 centavos a unidade. O mesmo tijolo, adquirido pelo governo. sairá por 56 centavos. A diferença, de 27%, é carregada para o ninho dos ratos da corrupção. Em produtos como a tinta látex acrílica, ela chega a 128%. No forro para teto, do tipo bandeja, as tabelas trazem valores até 145% mais altos que o usual. Ou seja, basta as empresas seguirem a tabela ao pé da letra para obter uma espécie de “superfaturamento legal”.

Os peritos da PF que descobriram o golpe fizeram registrar em seus relatórios um outro alerta: dado que o governo nunca compra só um tijolo – suas encomendas começam invariavelmente na casa do milhar – e quem compra em grande quantidade sempre tem direito a desconto, seria de esperar que nas obras públicas de grande porte os valores unitários acabassem ainda mais em conta. Ocorre que os valores registrados no Sinapi e no Sicro não levam em consideração a escala. Com isso, o governo dá de bandeja mais um motivo para as empreiteiras deitarem e rolarem. Elas cobram preços muito acima dos de mercado, fazem isso à sombra de regras estipuladas pelo próprio governo e, assim, ficam inalcançáveis pela lei – e pelas auditorias do TCU.

Os três órgãos responsáveis por elaborar as tabelas de referência – o IBGE, a Caixa Econômica Federal e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) – alegam que elas representam o teto do que o governo pode pagar, e não a média dos preços do mercado. Ocorre que, obviamente, as empreiteiras sempre preferirão – e darão um jeito de fazer valer seu desejo – receber pelos valores de “tabela cheia”.

Há diversos formas de conseguir isso. A primeira é contar com a conivência de quem organiza a licitação. Segundo o Ministério Público Federal, foi o que aconteceu na licitação para a construção do trecho da Ferrovia Norte-Sul que corta o estado de Goiás. O trabalho foi dividido em sete lotes. Havia diversas empreiteiras interessadas em participar da concorrência, mas a Valec, a estatal que cuida da construção de ferrovias, habilitou apenas sete empresas, uma para cada lote. Ou seja, não houve disputa alguma. Todos os que entraram no certame sabiam que iriam ganhar um lote. Com isso, jogaram o preço lá no alto, cientes de que não seria preciso superar nenhum concorrente. Quando os envelopes da licitação foram abertos, os preços oferecidos pelas empreiteiras para cada um dos lotes eram apenas 0,5% mais baixos do que o teto previsto no edital, com valores baseados no Sinapi e no Sicro. O governo pagou 245 milhões de reais apenas pela construção de um dos sete trechos. Desse valor, concluíram os peritos da PF, 50 milhões de reais foram superfaturados.

A outra forma de conseguir cobrar o preço cheio é adotar o acerto direto entre as empresas – o que se chama, no jargão dos investigadores, de conluio. Os empresários que vivem de obras públicas se reúnem e acertam quem ficará com cada uma das obras tocadas pelo governo. Um não invade o território do outro e todos ficam satisfeitos. Nesse tipo de acordo, várias empresas entram em uma licitação para “fazer número”. Mas apenas uma oferece um preço um pouco abaixo do teto das tabelas. Todas as demais extrapolam os valores. Na contabilidade dos ratos da corrupção, mais vale tocar uma única obra com “tabela cheia” do que conseguir vários contratos com margem de lucro apertada. Os peritos enfileiram uma relação de mais de uma dezena de obras públicas em que, teoricamente, houve licitação, mas as propostas vencedoras, como no caso da Norte-Sul, ofereciam menos de 1% de desconto em relação ao teto das tabelas. “Quando não existe competitividade no certame licitatório e o vendedor oferece desconto irrisório em relação ao orçamento de referência, há uma considerável margem ‘legalizada’ para superfaturamento”, diz o relatório da PF.

Para os investigadores, é dessa margem que as empreiteiras retiram os milhões de reais que doam aos partidos políticos a cada eleição. Não era fácil entender como as empresas desses ramos conseguiam operar com boa margem de lucro, dentro do limite legal, e ainda despejar milhões de reais nas mãos dos políticos. “A margem oculta de negociação muitas vezes é utilizada para manter organizações criminosas”, crava o relatório dos peritos.

Falar em organização criminosa aqui não é força de expressão. Depois de ler os relatórios da PF, o Ministério Público Federal abriu um novo inquérito por suspeita de que as empresas teriam cooptado pessoas das equipes que formulam as tabelas oficiais de preços para inflar as cotações. Nos últimos meses, as descobertas da PF foram compartilhadas com o Ministério Público Federal, o Tribunal de Contas, a Controladoria-Geral da União e a Secretaria de Direito Econômico, ligada ao Ministério da Justiça. O governo já foi informado do descalabro, mas, até agora, não esboçou reação. Já as empreiteiras se mexeram rápido: antes que o trabalho da PF e a investigação do MP resultem em qualquer medida que venha a ferir seus interesses, elas deram início a um lobby frenético para reajustar os valores do Sinapi e do Sicro. Sim, querem subir ainda mais os já inflados valores de referência.

Uma montanha de verbas públicas está prestes a ser despejada nas obras destinadas à Copa do Mundo de 2014. Pelos cálculos da PF, dos 24 bilhões de reais que serão gastos no Mundial, 5 bilhões ao menos podem ir pelo ralo da corrupção com a providencial ajuda das tabelas de referência. O objetivo dos ratos da corrupção é roer o dinheiro público sem deixar rastros. O do governo deve ser exterminá-los - e acabar de uma vez por todas com essa farra.

Apertem os cintos, o dinheiro sumiu - REVISTA VEJA


Apertem os cintos, o dinheiro sumiu
REVISTA VEJA

Uma investigacão da Polícia Federal comprova: nunca se superfaturou tanto na Infraero quanto no governo Lula

Fernando Mello

Os ratos da corrupção infestam a maior parte das repartições do governo. Mas, em algumas, eles reinam. E o caso da lnfraero, a estatal que deveria cuidar dos aeroportos brasileiros e que, ao longo dos anos, se transformou numa máquina de desviar dinheiro público. Essa foi a conclusão a que chegou a Polícia Federal (PF). Nos últimos dois anos, peritos do órgão debruçaram-se sobre uma pilha de contratos assinados entre a estatal e empreiteiras chamadas para realizar trabalhos de reforma e construção em dez dos maiores aeroportos brasileiros. A análise minuciosa desses documentos, aliada à rigorosa vistoria de cada obra, produziu um relatório espantoso, que acaba de ser entregue ao Ministério Público Federal. Nele, os peritos afirmam que, dos 4,2 bilhões de reais investidos nos aeroportos entre 1999 e 2007, foram tungados ao menos 891 milhões de reais, ou 21% do total - dinheiro suficiente para pôr de pé um empreendimento do porte do terceiro terminal de Guarulhos, uma das mais urgentes obras aeroviárias em curso no país. Os autores do relatório destacam que a cifra não é uma estimativa, mas um valor que comprovadamenre decolou dos cofres da lnfraero rumo a bolsos escusos por meio de falcatruas diversas.
Algumas delas deixaram rastros bem visíveis. Quem passa pela sala de embarque do Santos Dumont, no Rio, por exemplo, não imagina que a cobertura de vidros azulados do novo conector de passageiros deu ensejo a um golpe milionário. Pelos termos da licitação da obra, os vidros deveriam ser planos e custar 3 milhões de reais. No entanto, a PF descobriu que, depois de o contrato ser assinado, a Infraero permitiu que as empreiteiras Odebrecht, Carioca e Construcap frocassem os vidros planos por curvos. Com a alteração, o preço foi reajustado para 30 milhões de reais - dez vezes o original. Um acinte. Mas um acinte com verniz legal. Ele está amparado pela assinatura de um "termo aditivo" - instrumento que serve para fazer pequenos ajustes em obras já licitadas, mas que, frequentemente, como no caso do Santos Dumont, é usado para driblar as regras e encarecer o projeto. Em Vitória, no Espírito Santo, os policiais concluíram que as empreiteiras Camargo Corrêa, Mendes Júnior e Estacon, contratadas para ampliar o Aeroporto da capital, embolsaram mais de 15 milhões de reais usando, entre outras coisas, o velho truque de inflar artificialmente a quantidade de barro e areia movimentados na terraplenagem. Em São Paulo, no Aeroporto de Congonhas, as empreireiras OAS, Camargo Corrêa e Galvão venceram uma concorrência para erguer quatro novos fingers. as pontes fixas usadas para o embarque e desembarque dos aviões. Pelo trabalho, cobraram (e receberam) da Infraero a fábula de 8,8 milhões de reais. Mas, diante da farra generalizada, nem ao menos se deram ao trabalho de levar a cabo a empreitada. Para isso, subcontrataram outra empresa, a Brafer, e pagaram a ela 2,2 milhões de reais - o real valor do projeto.
Entre as causas que levaram a lnfraero a se transformar num hangar de corruptos está a decisão do PT de lotear politicamente o órgão. Em 2003, para contemplar a "cota" do PTB, partido aliado, o governo entregou a presidência da estatal a Carlos Wilson. Morto em 2009, ele era um político sem nenhuma experiência na área. De todos os contratos nos quais a PF encontrou provas de superfaturamento, apenas um não foi fechado no período em que Wilson (que mais tarde se filiou ao PT) esteve à frente da Infraero. A presidente Dilma Rousseff diz que pretende entregar o comando da estatal à iniciativa privada. Será a melhor forma de dedetizá-la.

CARTA AO LEITOR - O elo perdido


O elo perdido
CARTA AO LEITOR
Revista Veja

"O ministro Antonio Palocci pode ficar no governo até amanhã. Ou depois de amanhã. (...) Ou até 31 de dezembro, quando termina o mandato do presidente (...). Mas (ele) começou a perder aceleradamente as condições – políticas, éticas, administrativas – de manter-se no cargo." Assim VEJA descreveu na reportagem "O "Paloccigate" e a morte da ética", capa de 29 de março de 2006, os momentos finais da agonia pública do então mais poderoso auxiliar de Lula. A história se repete agora em meio a dramáticas e irônicas coincidências. Palocci caiu em 2006 depois de perder apoio político de seu partido, tendo como lance derradeiro a quebra do sigilo bancário de Francenildo Costa, caseiro que testemunhou ter visto o ministro "dezenas de vezes" em um célebre casarão do Lago Sul, em Brasília, cujos frequentadores se esbaldavam em festas com prostitutas e onde, os indícios apontavam, tratavam da intermediação de negócios de empresas privadas com órgãos do governo. Cinco anos depois, Palocci se encontra acossado pela suspeita de enriquecimento ilícito e, novamente, sem apoio de seu partido, o PT.

Some-se agora aos constrangimentos de Palocci o fato de ele, tendo um apartamento de mais de 6 milhões de reais em São Paulo, pagar aluguel a um morador da periferia de São Paulo chamado Dayvini Costa Nunes. O personagem em pauta é dono da empresa proprietária do apartamento de luxo onde Palocci mora em São Paulo. Primeiro, Dayvini disse a VEJA que nunca soube ser sócio controlador de tal empresa. Depois ele se contradisse e admitiu ter concordado em fazer o papel de "laranja", pessoa cujo nome é usado como fachada para negócios ou para assumir como suas as propriedades de terceiros. Palocci não tem a obrigação legal de checar os antecedentes do seu locador, mas, sendo alguém que dá expediente no Palácio do Planalto, em contato direto com a presidente Dilma Rousseff, deveria ter sido mais cuidadoso.

Melancólica situação de um político que, nos dois governos em que se viu em apuros éticos pessoais, teve atuação pública ao lado das luzes, seja como garantidor da racionalidade econômica, seja no papel de algodão entre cristais na política. Palocci encarna o elo perdido, unindo o país real a uma Brasília imersa em ideologias paralisantes, e nessa condição, em última análise, serve ao Brasil. Não foi o primeiro nem será o último político escanado a incendiar as vestes nas chamas de suas próprias contradições. Mas foi o único na história recente a ser pego duas vezes com a boca na botija – e, pelo menos em parte, pagar por isso.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Construção pesada volta a sofrer roubo de máquinas
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/06/11

Após intervalo de dois anos, voltaram a se intensificar assaltos em canteiros de obras de construção de estradas no Estado de São Paulo.
Há duas semanas, empresários da indústria da construção pesada entraram novamente em alerta devido a novos casos de roubo de equipamentos que chegam a pesar mais de uma tonelada, alguns avaliados em aproximadamente R$ 300 mil.
Entre as máquinas, além de pranchas e eixos, foram levados três caminhões na última semana, segundo o Sinicesp (Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo).
"Já pedimos às empresas associadas que registrem novas ocorrências", diz Helcio Farias, do sindicato.
Empresários do setor e o comando do policiamento rodoviário devem se reunir neste mês para debater medidas preventivas.
Em 2009, a Polícia Militar Rodoviária fez acompanhamento nos canteiros e fiscalização nas estradas, até que a questão foi solucionada.
Naquele ano, quando as ocorrências alcançaram um recorde, foram roubados mais de 15 grandes equipamentos no interior. Em 2008, haviam sido roubadas três máquinas de alto valor. Não houve casos registrados em 2007, além de pequenos roubos de itens inferiores a R$ 10 mil, como britadeiras. Neste ano, em menos de duas semanas, foram cinco casos.
"É imprescindível que haja uma comunicação rápida do fato para que a Polícia Militar possa reprimir e reaver o material", diz o primeiro tenente da PM Moacir Mathias.

AQUISIÇÃO TECNOLÓGICA
A CSC, multinacional do setor de tecnologia da informação, vai anunciar hoje a aquisição da brasileira Vixia.
Com o negócio, a meta é ampliar o atendimento a empresas de serviços bancários, seguros, gerenciamento de investimentos e bens e valores mobiliários, segmentos em que a Vixia tem experiência de atuação no Brasil.
"Somos uma empresa de nicho, especializada em integrações específicas para seguros", diz Geraldo Cavagnari, presidente da Vixia.
O crescimento de microsseguros e a evolução do setor estimularam a decisão. "Os produtos estão mudando, ficando mais complexos, com novos canais de vendas e suportes tecnológicos", diz.
Os detalhes da operação não foram revelados. O faturamento mundial da CSC é de US$ 16 bilhões.

Fundo 
Criado pela Vale em 2009 para investir em projetos sustentáveis sem vínculo com a mineração, o Fundo Vale foi reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. O objetivo do fundo é atrair investidores.

Doce 
O grupo CRM, das marcas Kopenhagen e Brasil Cacau, prevê alta de 15% na venda de chocolates no inverno deste ano, ante igual período de 2010. A Ofner e a Cacau Show esperam aumentos de 20% e 30%, respectivamente.

ESSE NEGÓCIO DE COMUNICAÇÃO
Na hora em que surgem situações difíceis de entender e complexas de explicar, as empresas batem à sua porta, diz a jornalista e empresária Maristela Mafei.
Há 16 anos no mercado, quando fundou a Máquina, uma das quatro maiores agências de comunicação corporativa do país, ela acompanha fusões, aquisições, acionistas em litígio, entrada de grupos estrangeiros, imbróglios regulatórios e eventos do showbiz.
"Com as privatizações, o Código do Consumidor e os muitos IPOs, a comunicação passou a ser "core business" principal das empresas, seja qual for o setor", diz. "Há um desajuste entre o que as empresas são e como são percebidas pelo mercado. É preciso mensurar resultados."
De olho nas 120 empresas que atende e nos 246 funcionários que precisa treinar e inspirar, Mafei lança no dia 13, com Valdete Cecato, "Comunicação Corporativa" (ed. Contexto). Ela própria se inspira em clientes. "Se tivesse mais tempo pela frente, faria da Máquina uma Imbev."

com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK e VITOR SION

GOSTOSA

MÔNICA BERGAMO - FRANÇA NA CABEÇA


FRANÇA NA CABEÇA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/06/11

Assediado por França, México e África do Sul, que têm candidatos para a presidência do FMI (Fundo Monetário Internacional), o governo brasileiro deve optar pela francesa Christine Lagarde na eleição para a escolha do novo dirigente da instituição.

FORA DA LINHA
A equipe da presidente Dilma Rousseff acredita que os dois outros candidatos -o mexicano Augustín Casters e Trevor Manuel, ex-ministro das Finanças da África do Sul, que está sondando países emergentes para lançá-lo na disputa -vão trabalhar de forma alinhada com os EUA. A eventual subserviência aos interesses americanos incomoda o governo do Brasil.

PESQUISA

Além do presidente sul-africano, Jacob Zuma, que telefonou para Dilma, também o sucessor de Trevor Manuel no Ministério das Finanças da África do Sul, Pravin Gordhan, está fazendo consultas a economistas e dirigentes de finanças dos Brics para lançá-lo candidato. O Brasil representa 2% dos votos.

AMULETO
Faz sucesso entre ministros do governo Dilma a imagem do "Budalocci" que circula na internet. A figura, que tem o corpo de Buda e o rosto do ministro Antonio Palocci (Casa Civil), promete trazer "sorte nos negócios. Em quatro anos, sua riqueza aumentará 20 vezes". Circula por alguns dos principais gabinetes de Brasília.

CRIME PREFEITO
Quase um em cada três processos criminais movidos contra prefeitos no Estado de SP prescreveu em 2010. Das 26 ações que vigoravam no ano passado, 8 foram anuladas por demora. O levantamento foi feito pelo promotor de Justiça criminal da capital Christiano Jorge Santos. Ele analisou também dados de réus comuns entre 2001 e 2006. O percentual de prescrição foi de 4,62%.

CURTO - CIRCUITO
Bobby McFerrin toca no Via Funchal no dia 28 de julho às 22h. 12 anos.

O SuperExclusivo promove na quinta, a partir das 21h, desfile de moda para o Dia dos Namorados, em seu galpão no Belenzinho.

O restaurante Tanger promove curso hoje, das 19h às 22h30, sobre culinária e ambientação marroquinas para o Dia dos Namorados.

A estilista Cléo Aidar lança a coleção primavera/verão de sua marca hoje.

O restaurante Zeffiro exibe a partir de hoje a mostra "Personas", de Rosina D'Angina.

Waldemar de Oliveira Verdi lança hoje o livro "Meu Prezado" às 19h no Leopolldo Faria Lima.

O livro "História da Moda no Brasil" será lançado amanhã na Casa das Caldeiras às 18h.

SHOW DO SOMBRA
O músico americano Twin Shadow se apresentou na festa Puma Social Club, no Estúdio Emme, em Pinheiros. Foram ver o show a apresentadora Kika Martinez, o cantor Lucas Silveira e a empresária Helena Linhares.

O MUNDO EM UMA CIDADE

O C40 Summit reuniu em São Paulo prefeitos do mundo todo para discutir desenvolvimento sustentável. Estiveram na cidade Eberhard Edzard van der Laan, de Amsterdã, Michael Bloomberg, de Nova York, Mauricio Macri, de Buenos Aires, entre outros. O jantar de abertura do evento foi no Jockey Club.

BONZINHO SALVADOR

Malvino Salvador é o par de Cleo Pires na comédia romântica "Qualquer Gato Vira-Lata", que estreia nesta sexta. "Precisamos fazer mais filmes nesse estilo, inclusive ter atores especializados em romance engraçado", diz o ator amazonense. "E não que fazer comédia seja mais fácil. Nunca é fácil, mas o cinema nacional deve parar de reproduzir só as fórmulas que já deram certo e inovar."

LEGIÃO DE AMIGOS

A cantora Pitty e os músicos Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, ex-Legião Urbana, participarão da estreia do novo show do Jota Quest, no Credicard Hall, no dia 17.

SERRA APLAUDE
Criticada por seguidores do Twitter, a eleição do jornalista Merval Pereira, colunista de "O Globo", para a ABL (Academia Brasileira de Letras) também teve apoio de peso no microblog. José Serra celebrou a notícia há alguns dias em sua página: "Novo imortal. Parabéns Merval!".

NAÏF
A Christie's leiloará em Londres quatro obras de arte naïf brasileiras da galeria Jacques Ardies, neste mês. "João Cambadinho no Reino de Deus", de Iaponi Araújo, está estimado em R$ 12 mil; "Algodão", de José Antonio da Silva, em R$ 16 mil; "Parque Birigui", de Constância Nery, em R$ 5.000. E "Rio de Janeiro", de Lia Mittarakis, em R$ 14 mil. MEMÓRIA
Em entrevista à revista "Playboy", o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) relata em detalhes o diálogo que teve com seu médico, José Carlos, quando fez exame de próstata pela primeira vez. "Não senti nada. Quer dizer, senti aquele dedo entrando e vi que ele tinha umas unhas grandes. "Pô, Zé! Que unhão, hein?". E ele falou: "Ah, o rabo não é o meu! É que eu toco cavaquinho", relembra o parlamentar. "Pelo fato de ser militar da reserva, nós somos, confesso, machistas."

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

MARCO ANTONIO ROCHA - A estratégia é desafiar o público ou debochar dele?


A estratégia é desafiar o público ou debochar dele?
MARCO ANTONIO ROCHA
O ESTADÃO - 06/06/11
O governo do Brasil mostra-se empenhado em enfrentar, desafiar e provocar a opinião pública. É uma antipolítica que se manifesta em diversos ministérios, espalha-se por vários órgãos públicos e dela não se exime nem a Presidência da República. Sinais do fenômeno emanam desde pequenas decisões quase imperceptíveis, locais ou regionais, ou se agigantam com espalhafato nas manchetes, mas sempre com o viés de provocação e desafio ao público.

Muita gente talvez não perceba, por não ligar lé com cré - como se diz - nem atinar com fatos aparentemente desconexos que se casam no contexto maior do enfrentamento que a classe governamental está promovendo contra a população, principalmente contra o eleitorado.

Vamos a alguns.

Fato 1 - Um ministro da Educação destrói sistematicamente a credibilidade dos exames de avaliações do ensino, de estudantes e de escolas. Deixa passar por entre as pernas, como frangueiro, patacoadas de uma administração inepta povoada de energúmenos, tais como cartilhas que consideram que o falar e o escrever errado é que são o certo, a pretexto de tornar a cultura mais "acessível"; ou kits de pretensa propaganda contra a intolerância, mas que na prática encerram intolerância com sinal trocado; ou propostas de reformas curriculares que deixam perplexos os educadores sérios e que não podem ser levadas a sério. Mas nada, absolutamente nada, acontece com o desastrado e desgastado ministro. Ao contrário, o governo não só o defende contra tudo e contra todos, como o estimula a engendrar mais provocações.

Fato 2 - Um projeto descabelado, perdulário e hostil sob todos os pontos de vista, mas principalmente sob os aspectos ambiental e social, tecnicamente absurdo, de uma hidrelétrica cuja produção consumirá três vezes mais recursos para ser transportada até onde possa ser usada, é descartado até por empreiteiras que poderiam encher os bolsos com ele - pois seus donos temem terminar atrás das grades, quando algum governo sério resolver reexaminar o assunto. No entanto, o atual governo e o principal órgão de proteção do meio ambiente batem o pé, numa atitude que parece de pura birra, e se acham a ponto de empurrar o projeto goela abaixo da Nação, à custa do erário e da paciência do público.

Até a Anistia Internacional entrou no circuito, pedindo a suspensão da tresloucada obra. Mas o governo faz ouvidos moucos. Por que será? Só porque a padroeira da obra é a nossa presidente? Não pode ser. É a síndrome do desafio que infecta o governo brasileiro desde que o PT ascendeu (já apresentara um surto bravo no tempo dos militares). É interessante ver quanto o governo do PT se assemelha, e não só nesse aspecto, ao dos militares.

Fato 3 - Para não alongar, temos agora o caso do mais bem-sucedido consultor de empresas do planeta. O ministro que multiplicou 20 vezes o seu patrimônio pessoal em apenas um ano e em cuja defesa se envolve todo o governo, não para pedir a ele alguma explicação plausível para o fenômeno, e sim para tentar descobrir quem foi que dedou o malsinado, se foi gente do PSDB ou do próprio PT, ou até do PMDB. Embora constasse da notícia original, da Folha de S.Paulo, que a grande mandracaria se dera em quatro anos, o seu autor esclareceu que foi no último ano do período que ocorreu a multiplicação de pães e peixes, quando seus clientes, afinal, pagaram seus serviços. Portanto, na prática, segundo suas próprias palavras, o tsunami de dinheiro entrou em um ano apenas. O que nos conta, a respeito, a solerte Receita Federal? Nada. Os dados do contribuinte são sigilosos, a não ser quando ele é adversário do governo. Quem sabe o poderoso ministro já não foi notificado para se apresentar à Receita e dar explicações? E por que nós não estamos sabendo? Porque as explicações também são sigilosas?

Mas, afinal, o que realmente importa tanto nesse episódio quanto nos anteriores não é a explicação que o ministro alinhave sobre o seu estranho enriquecimento. Seja qual for essa explicação, ninguém acreditará mesmo. O fato é que uma montanha de dinheiro entrou nas contas da sua empresa - que até então tinha faturamento medíocre - justamente no ano em que ele funcionou como tesoureiro da campanha da candidata à Presidência. O ministro não precisa, pois, explicar nada, todo mundo já entendeu. Quem deve explicações é o governo: por que manter, preservar e defender um alto funcionário que está sob profunda suspeita de todos, até de aliados? Só para desafiar os adversários? Mas o desafio aos adversários toma agora o lugar da satisfação ao público?

Por que essa desesperada tentativa de salvação do desastrado, com mobilização do ex-presidente e de um poderoso trio de zaga - Temer, Sarney, Calheiros - "de inenarrável beleza moral", como diria Assis Chateaubriand?

Por que tirar os holofotes desse assunto, providenciando um factoide de lançamento de um repeteco do Bolsa-Família - durante o qual o ministro é fotografado embaixo do slogan "Brasil sem Miséria"?

Isso é desafiar os adversários? Ou já é, simplesmente, debochar da opinião pública?

TÁ EXPLICADO

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO - O nefasto efeito Palocci


O nefasto efeito Palocci
EDITORIAL
O Estado de S. Paulo - 06/06/2011

Só há uma maneira de colocar um ponto final na crise política provocada pela revelação do prodigioso enriquecimento de Antonio Palocci antes de se tornar o principal ministro da presidente Dilma Rousseff: seu afastamento da chefia da Casa Civil. A exoneração tornou-se iminente a partir do instante em que Palocci desperdiçou a última oportunidade de colocar a situação em pratos limpos, ao não apresentar em sua defesa nenhuma informação nova e relevante nas entrevistas seletivas e tardiamente concedidas na sexta-feira à Rede Globo e à Folha de S.Paulo.

O ministro se limitou a protestar inocência diante das suspeitas de tráfico de influência, negando-se a fornecer qualquer informação ou esclarecimento sobre seus clientes ou sobre a natureza dos serviços a eles prestados. Não fez mais do que deixar no ar um apelo que, nas circunstâncias, soou patético: acreditem em mim.

Os dois argumentos principais apresentados por Palocci em sua defesa são, primeiro, o de que não ficou comprovada nenhuma "ilegalidade" nos fatos que lhe são imputados e o ônus da prova cabe a quem acusa - o que seria correto se a questão fosse apenas jurídica - e, depois, o de que está eticamente impedido de divulgar os nomes de seus clientes porque não pode "expor terceiros nesse conflito". As duas alegações são insubsistentes.

A primeira porque o escândalo assumiu proporções tão graves que, até pela necessidade de dissipar a crise política criada dentro do governo, já havia algum tempo se impunha, para além de qualquer consideração jurídica, a necessidade de que explicações cabais fossem dadas à opinião pública. Era mais do que hora, portanto, de Palocci provar a improcedência das suspeitas que sobre ele pesam. Na mesma linha de raciocínio, o impedimento ético para nomear as empresas às quais prestou serviços se anula diante da maior relevância da exigência de atender ao clamor público por transparência no comportamento de uma figura proeminente do governo.

Mas Palocci frustrou com suas negaças as expectativas de que lançaria alguma luz sobre mais esse escândalo em que se vê envolvido. Tendo comprovadamente mentido uma vez no episódio que provocou sua saída do Ministério da Fazenda, em março de 2006 - sem falar nos nebulosos episódios que marcaram suas duas gestões à frente da Prefeitura de Ribeirão Preto -, é demais esperar que ele possa contar agora com a indulgência de quem quer que acredite que o exercício de funções públicas exige compromisso com a probidade. Chegou, portanto, ao fim da linha em mais esta passagem, desta vez muito breve, pelos altos escalões da República.

Sendo a substituição do titular da Casa Civil um fato que só não se consumará por conta de alguma enorme improbabilidade - por exemplo, Dilma Rousseff assumir, diante do desgaste seu e do governo, um risco que nem mesmo Lula se dispôs a encarar em 2006 -, resta tentar compreender o que esse episódio, qualquer que seja seu desfecho, sinaliza para o futuro político e administrativo do País a curto e médio prazos. Se os contratempos que enfrentou nesses primeiro cinco meses de governo, tais como as dificuldades para preencher os cargos de segundo e terceiro escalões, refletem a preocupação da presidente de impor critérios mais técnicos e menos fisiológicos na maneira de conduzir o governo, o novo escândalo Palocci provavelmente a fará, se já não o fez, se dar conta de que, daqui para a frente, dificilmente se livrará da condição de refém da maneira lulopetista de governar e de sua regra de ouro: pela "governabilidade" paga-se qualquer preço.

Boa parte dos petistas reza por essa cartilha há muito tempo. O mensalão foi apenas o começo. Agora, foram os primeiros a lavar as mãos e até mesmo pedir a saída de Palocci aqueles que perceberam que podiam tirar vantagem disso. E o PMDB de Sarney e companhia, que nunca iludiu ninguém sobre os motivos de sua aliança com Lula, dando um exemplo que foi imediatamente seguido por outras legendas da base aliada, não teve o menor constrangimento de chantagear o Palácio do Planalto em troca de suposto apoio ao fragilizado primeiro-ministro.

É o País que retrocede politicamente, não pela demissão de um ministro, mas por tudo que esse lamentável episódio coloca a nu.