terça-feira, março 01, 2011

TUTTY VASQUES

Carnaval genérico
TUTTY VASQUES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 01/03/11

Tudo bem que o morador do Leblon e adjacências - ô, raça! - esteja à beira de um ataque de nervos com a proliferação de blocos no Rio. Não é fácil viver de frente para uma multidão barulhenta e doida pra fazer xixi, mas daí a reclamar da "baianização do carnaval carioca", francamente, é muito preconceito, né não?
Feita a ressalva politicamente correta, é bom que a turma lá de Salvador, em vez de se ofender com a comparação infeliz, abra o olho para o que está acontecendo com o carnaval do concorrente direto. Ou, não demora muito, vai faltar trio elétrico na Bahia para animar a festa. No último fim de semana, eles arrastaram - do Leme ao Pontal - meio milhão de foliões cariocas.
Teve gente que se trancou em casa com saudade do tempo em que, longe da Marquês de Sapucaí, o Rio de Janeiro, fevereiro e março era uma cidade maravilhosa pra quem não gosta de samba no pé. A melhor época do ano para se ir à praia, ao cinema, ao restaurante ou ao Corcovado, sem precisar meter o cotovelo para abrir caminho.
Agora, com um "carnaval de rua" comparável ao de Salvador, o lugar tranquilo mais próximo do carioca durante o reinado de Momo deve ser São Paulo - tomara que ninguém fique chateado com isso.

Prova de fogo
"FOI MAIS DIFÍCIL FAZER ESTE OMELETE DO QUE APROVAR O SALÁRIO MÍNIMO DE R$ 545 NO CONGRESSO!" Dilma Rousseff, em off, despedindo-se de Ana Maria Braga nos estúdios da Globo

Ti-ti-ti socialista
Luiza Erundina já avisou ao PSB: "Ou eu ou o Kassab!" Preconceito bobo, né não? Só porque ele é solteiro, caramba?

Mal comparando
Se você não anda lá muito satisfeito consigo mesmo, calma: o Ronaldinho Gaúcho também não está jogando nada e, no entanto, é campeão.

Peralá!
O brasileiro precisa parar com essa mania de levar tudo para o lado pessoal. Tem gente por aí achando que o Congresso escalou Tiririca titular da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados só para gozar da nossa cara. Também não é assim, né?

Discurso de quem?
Só para que ninguém faça confusão, O Discurso do Rei não é o filme do Lula. O rei em questão não tem língua presa, é gago! E não se fala mais nisso, OK?

No escuro
De todos os cortes promovidos neste ano pelo governo, o maior é o de luz: o Brasil tornou-se em 2011 líder mundial em apagões.

Só o que faltava!
A Justiça bateu o martelo: Alexandre Pato vai ter de pagar pensão de R$ 50 mil por mês durante dois anos para a atriz Sthefany Brito, ex-mulher do atacante, que alega ter abandonado as novelas da Globo para viver com o atacante do Milan na Itália, coitada! É mais um duro golpe nas comemorações pelo Dia Internacional da Mulher.

Modalidade olímpica
Muamar Kadafi já ensaia o "salto Trípoli" para a sua fuga da Líbia.

GOSTOSA

VLADIMIR SAFATLE

O fim da tolerância?

VLADIMIR SAFATLE


FOLHA DE SÃO PAULO - 01/03/11


Hoje, faz 261 dias que a Bélgica está sem governo. A incapacidade de gerir os conflitos entre flamengos e valões chegou a um ponto dificilmente imaginável em qualquer outro país. Esse seria, no entanto, um fato sem maior interesse para o resto do mundo se não fosse, na verdade, uma espécie de sintoma ampliado da regressão política que assola toda a Europa.
Sintoma que diz respeito à destruição social gerada atualmente pela noção de "identidade nacional".
No fundo, a crise belga é o resultado da crença de que duas identidades nacionais não podem ocupar o mesmo espaço. Uma colonizará a outra com sua língua, seus costumes, suas crenças.
Essa ideia está por trás, por exemplo, do crescimento espetacular do partido xenófobo francês Front National com seu discurso, digno da época das Cruzadas, de que a identidade francesa será destruída pela invasão árabe.
Há alguns dias, saiu uma pesquisa mostrando que sua candidata a presidente, Marine Le Pen, tinha 20% das intenções de voto para a eleição presidencial do ano que vem.
Tal relação paranoica à identidade nacional é ainda o motor do crescimento dos partidos de extrema-direita na Holanda, na Dinamarca, na Suíça, na Hungria, na Suécia, na Itália, entre tantos outros.
Talvez seria o caso de dizer que não conseguiremos nos livrar da guinada extremista enquanto não tivermos coragem de dizer que a era das identidades nacionais acabou. Não há como conservar a noção de identidade nacional sem recairmos na tendência de associar Estado, nação e povo.
Pois uma das maiores conquistas da modernidade foi compreender o Estado moderno como uma instituição que, por só reconhecer relações igualitárias e universalistas, não se submete às tendências comunitaristas que aparece toda vez que alguém levanta a voz para falar da identidade do povo francês, flamengo, brasileiro, judeu, árabe.
Podemos viver muito bem em países que aceitam a mutação constante de suas culturas e línguas e o caráter múltiplo de seus costumes.
Nos últimos dias, David Cameron, Angela Merkel e Nicolas Sarkozy, todos governantes em baixa de popularidade, procuraram fazer seus cidadãos esquecerem da crise econômica que assola seus países colocando na pauta do debate o "fim do multiculturalismo".
Contudo poderíamos dizer que o multiculturalismo fracassou por não ser suficientemente multicultural. Ele nunca conseguiu realmente integrar imigrantes como sujeitos políticos, partilhar poder e compreender que a verdadeira multiplicidade não é a soma de identidades isoladas onde cada um "tolera" o outro.
A verdadeira multiplicidade é o movimento de dissolução das identidades em direção à construção de universalidades realmente inclusivas.

ROBERTO PADOVANI E FELIPE SALTO

O canto das sereias
ROBERTO PADOVANI  E  FELIPE SALTO
Valor Econômico - 01/03/2011

O debate fiscal no Brasil tem sido curioso. A maior parte dos analistas econômicos não acreditava em qualquer esforço fiscal relevante por parte do governo. Quando o ajuste foi anunciado, as avaliações mais comuns chamaram a atenção para a insuficiência do corte ou para as dificuldades de implementação.

Tamanha descrença diz muito sobre o regime fiscal do país.

Independentemente da discussão dos cortes e de sua execução, o ceticismo corrente faz sentido e reflete algo grave: a perda de credibilidade da política fiscal. De fato, a falta de regras críveis na condução da política somada à gestão dos últimos anos fortalecem a desconfiança geral.

Diferentemente de outras áreas, tem-se avançado muito pouco na construção de instituições fiscais sólidas. A Secretaria do Tesouro Nacional, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e a definição de regras formais para a evolução do superávit primário, via sistema de metas anuais, foram avanços inegáveis e fundamentais. Mas, diferentemente da política monetária, as decisões fiscais não são colegiadas, não há o nível de transparência necessário e, muito menos, o "enforcement" para prestação de contas clara e acessível. A contabilidade criativa empreendida nos últimos dois anos, principalmente, e o contínuo descumprimento de metas são exemplos da permissividade institucional atual.

A ausência de maiores garantias institucionais tem implicações práticas importantes. Quanto menor o controle institucional e a falta de transparência das ações da administração pública, tanto maior a dependência da credibilidade fiscal em relação ao "gestor de plantão". Justamente por isso, a política fiscal brasileira vem sendo forte e negativamente contaminada pelo desempenho e discursos baseados em posicionamentos meramente ideológicos.

Os resultados recentes não ajudam a construir uma boa reputação. A expansão fiscal de 2009 teve o mérito de acelerar a recuperação local. No entanto, um novo e forte crescimento dos gastos públicos, no ano seguinte, durante o período eleitoral, começou a produzir efeitos negativos sobre a economia. Os gastos, como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), saltaram de uma média histórica de 16%, nos anos de 2000 a 2008, para 18%, em 2009, e 19% no ano passado. Neste cenário, a pergunta mais comum é: se a defesa enfática do aumento do gasto público federal tem sido uma das características do governo do PT e os quadros da Fazenda pouco se alteraram, por que haveria uma mudança de rumos agora? É nesse argumento que se baseia o ceticismo predominante.

Com poucas restrições institucionais e um passado que condena, resta a confiança teórica nos incentivos políticos e econômicos para que se mantenha a crença na racionalidade fiscal.

Destarte, há um curioso e raro consenso entre economistas, da heterodoxia à ortodoxia. Isoladas as diferenças ideológicas e as preferências de ordem política ou normativa, a racionalidade econômica impôs uma unanimidade de diagnósticos: a expansão fiscal conduz a um desequilíbrio amplo, pressionando a balança comercial, a taxa de câmbio, a inflação e a taxa de juros. Como a instabilidade macroeconômica não interessa a ninguém - a inflação não é mais aceita pela sociedade - todos sabem que o ajuste fiscal é condição necessária para se alavancar o crescimento não inflacionário.

Dessa forma, mesmo com todos os problemas contratados no âmbito fiscal, o ajuste em 2011 deverá ser entregue. Bons sinais, nesse sentido, são o empenho do governo na aprovação do salário mínimo de R$ 545 e o contingenciamento de R$ 50 bilhões anunciado.

Mesmo assim, a maior institucionalização da gestão fiscal é indispensável. A alta recente da inflação, o impacto já esperado sobre as contas públicas do reajuste do salário mínimo em 2012 e as diversas restrições políticas e institucionais para uma correção maior no curto prazo indicam que um ajuste gradual faria sentido. O gradualismo, por sua vez, depende de um quadro institucional mais sólido.

Com um maior formalismo e restrições institucionais, a gestão fiscal convenceria a sociedade de que o ajuste de curto prazo poderia se estender ao longo dos próximos anos. A maior institucionalização da gestão fiscal seria fundamental para assegurar um menor ritmo de crescimento das despesas correntes do governo, ao longo do tempo, independentemente da boa vontade ou da "sagacidade" dos governos.

Tal qual Ulisses, que se amarrou ao mastro do navio para não ser atraído pelo canto das sereias, o Estado precisa criar amarras mais rígidas para evitar que incentivos perversos desviem os governos da rota inicialmente traçada.

Um anúncio fiscal como o que foi feito há algumas semanas, aliado à percepção de que ele teria continuidade ao longo do tempo, poderia trazer resultados imediatos ao mercado e aos formadores de opinião. O mercado financeiro, por dever de ofício, antecipa os impactos das políticas públicas sobre o preço dos ativos. Com maior rigor fiscal, abrir-se-ia espaço para juros mais baixos e câmbio menos apreciado. Da mesma forma, um ajuste fiscal sustentável ao longo do tempo possibilitaria a redução da carga tributária e o aumento dos investimentos públicos e privados. Ou seja, um crescimento econômico maior.

A atual falta de credibilidade na área fiscal, portanto, impede que se antecipe um cenário econômico que, acreditamos, tende a ser positivo. É preciso dar um passo à frente. Precisamos consolidar instituições para fugirmos das confusões e promessas não cumpridas no passado recente. O crescimento econômico agradece.

ARTHUR VIRGÍLIO

A conta da gastança
ARTHUR VIRGÍLIO
O Globo - 01/03/2011

Lula mergulhou o país em grave crise fiscal. A gastança lhe garantiu popularidade recorde e viabilizou a eleição de Dilma Rousseff.

Depois da eleição, a sociedade foi intimada a pagar a conta: restrições creditícias, menos investimentos, exaustão do crédito consignado, inflação renitente, juros mais elevados, desaquecimento da economia. O ministro Guido Mantega anunciou cortes orçamentários de R$50 bilhões e o gesto foi saudado como renovação do compromisso com a "austeridade". Mas diante de Orçamento virtual, inflado pela irresponsabilidade parlamentar, nada mais coerente que cortes fictícios, insuficientes e inatingíveis.

Fictícios porque a peça orçamentária de 2011 prevê R$110 bilhões a mais de gastos que no extravagante ano anterior. Se fosse cumprida por inteiro, as despesas seriam acrescidas em R$60 bilhões, e não diminuídas em R$50 bilhões.

Insuficientes porque não bastariam para atingir a meta de superávit primário estabelecida. Os cortes teriam de atingir R$85 bilhões para cumprir esse objetivo e conseguir, ao menos, estancar a sangria fiscal: paciente estável, mas que ainda não pode ir para casa.

Inatingíveis porque o Orçamento foi manietado, além do que já estava, pelos desnecessários gastos correntes que Lula gerou. O ínfimo percentual destinado ao investimento teria de ser amputado e a gigantesca e inorgânica base "de apoio" ao Governo jamais se conformaria com seus cartórios fisiológicos esvaziados de recursos bilionários que garantem eleições e, em certos casos, até enriquecimento ilícito.

Dilma foge das reformas estruturais. Partirá então para a elevação de certas alíquotas e para o retorno da CPMF com tudo que ela impõe de ruim: incidindo sobre todas as etapas do processo produtivo, reduz a competitividade da economia. E penaliza os mais pobres, a começar por quem não tem conta em banco.

Imposto justo é o de Renda, que cobra muito de quem ganha muito e nada de quem ganha quase nada. Imposto bom é imposto velho e aprovado. A CPMF é "invenção" que fracassou.

Retomar as reformas, sim. Ajuste fiscal falso via aumento de carga tributária, não!

Em dezembro de 2007, o Senado cumpriu seu dever. Extinguiu a CPMF.

Só a mobilização da sociedade repetirá o feito. Na Tunísia parecia mais difícil.

JOSÉ PASTORE

Desoneração da folha: agora vai
JOSÉ PASTORE
O Estado de S. Paulo - 01/03/2011

Sempre fui combatido por dizer que as despesas de contratação no Brasil são excessivas. Vejo agora sindicalistas, parlamentares do PT e a própria presidente engajando-se na urgente tarefa de desonerar a folha de salários. Felizmente.

Com 102,43% de despesas sobre o salário nominal, o País é um dos campeões de encargos sociais em todo o mundo. Isso tem graves consequências.

Vejam os dados recentes. No quarto trimestre de 2010, o custo médio do trabalho na indústria aumentou 4%, enquanto a produtividade diminuiu 0,46%, em relação ao mesmo período de 2009. É uma perversa combinação que se soma aos problemas do câmbio, juros, impostos e infraestrutura, afetando a competitividade das empresas e a geração de bons empregos. Apesar do bom avanço da formalidade, 50% da força de trabalho do Brasil ainda é informal, sem que muitas pequenas e microempresas consigam contratar com uma carga de 102,43% sobre o salário.

Se está clara a necessidade de desonerar, continua obscuro o modo de fazê-lo. Isso porque todas as contribuições que incidem sobre a folha de salários financiam importantes políticas públicas. É o caso dos 20% para o INSS; 8% para o FGTS; 3,1% para o Sistema S; 2,5% para a educação; 2% para o seguro acidentes; etc.

Onde mexer? O governo acena com uma redução gradual de quatro pontos porcentuais na alíquota do INSS (de 20% para 16%). Essa seria uma grande ajuda para os produtores que precisam competir e para os trabalhadores que precisam se empregar. O impacto final iria muito além dos quatro pontos porcentuais porque a alíquota do INSS incide sobre a remuneração do descanso semanal, o abono de férias, o 13.º salário e muitos outros encargos sociais. A economia final poderia chegar a uns sete ou oito pontos porcentuais. Uma enormidade!

Mas como reparar as perdas imediatas da Previdência? Alguns falam em transferir a base de arrecadação do INSS da folha de salários para o faturamento das empresas com alíquotas adequadas. Parece justo: quem fatura muito e emprega pouco pagaria mais. Quem emprega muito e fatura pouco pagaria menos.

Todavia, a tramitação dessa proposta provocaria uma grande divisão no empresariado. As empresas que são intensivas em mão de obra aplaudiriam - calçados, brinquedos, tecidos, comércio, serviços, etc. As intensivas em capital condenariam - petróleo, mineração, automóveis, aviões, etc.

A mudança de preços relativos tornaria a negociação dificílima. A própria Previdência duvida dessa estratégia, pois nos ciclos de baixa da economia a receita sobre o faturamento cairia muito mais depressa do que a que vem da folha de salários.

Como alternativa, pensa-se em desonerações setoriais. O potencial de conflito interempresarial é menor, mas sua operacionalização é mais complexa. É como criar um cambio duplo ou triplo.

O ideal seria compensar a Previdência Social (no que fosse necessário) com recursos de um imposto sobre valor adicionado federal. Isso teria um menor impacto na produção e seria um bom estímulo ao emprego formal.

Como esse imposto não existe, começam a surgir tentações perigosas como a de ressuscitar a CPMF - ideia inaceitável pelos conhecidos impactos em cascata em toda a economia.

Como se vê, a desoneração da folha seria mais viável no bojo de uma reforma tributária que tivesse por norte desonerar a produção e arrecadar mais da renda, da propriedade improdutiva e do consumo de certos bens e serviços.

Mais lógico ainda seria o equacionamento de uma reforma tributária com uma reforma previdenciária que viesse mudar as regras de concessão de aposentadorias e pensões, contribuindo assim para reduzir o déficit que decorre da enorme informalidade.

Em resumo: desonerar a folha de salários não é impossível, mas requer um conjunto de medidas bem articuladas, para não vestir um santo e desvestir outro.

CELSO MING

A tesoura do governo 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 01/03/2011

O governo Dilma ontem afinal divulgou como e onde vai passar a tesoura de R$ 50,1 bilhões nas despesas do Orçamento da União. Já é uma situação bem melhor do que a anterior, que não desceu a esse varejo. A ligeira redução dos juros futuros verificada ontem mostrou que o mercado está disposto a acreditar.

Apesar disso, depois de tudo o que aconteceu no ano passado, a maior explicitação dos cortes não elimina as dúvidas. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, iniciou, ao lado da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, a explicação do que seria feito, com uma lista de reconhecimentos a que anteriormente não se dera ao trabalho.

Reconheceu, por exemplo, que em 2010 "houve uma aceleração excessiva da economia". Não chegou a dizer que isso se deveu às despesas também excessivas das contas públicas, mas nem foi preciso, porque ele ali estava para apontar os cortes que agora julga necessários.

Declarou também que esses cortes estão sendo feitos para trazer o crescimento econômico "a níveis sustentáveis", com o que fica reconhecido que não estavam, embora há meses Mantega repetisse o contrário. "A trajetória fiscal agora está correta", continuou ele, e esse é outro reconhecimento de que o rumo anterior não estava correto.

Finalmente, Mantega anunciou "a volta ao superávit primário cheio" e esse é o recibo oficial de que a obtenção do superávit primário (parcela da arrecadação destinada ao pagamento da dívida) à custa de mandracarias contábeis, como as de 2010, trouxe problemas.

No entanto, os cortes ontem anunciados ainda estão permeados de incertezas. A primeira delas é o nível do crescimento econômico projetado para 2011. O governo já não trabalha mais com um avanço do PIB de 5,5%, mas de 5,0%. E essa é a principal razão pela qual foi preciso rever para baixo as receitas do setor público. Mas terá sido isso suficiente?

O Banco Central, por exemplo, trabalha com um crescimento econômico de 4,5% e, com base nele, fez os cálculos de preços, evolução da inflação e juros. Enquanto isso, o mercado, tal como aferido pela Pesquisa Focus, passou a projetar um crescimento do PIB em 2011 ainda mais baixo, de 4,3%. E um PIB mais magro exigirá novos cortes. A ministra Miriam lembrou a esta Coluna que estão previstas revisões de programação orçamentária a cada dois meses, a primeira delas deve ocorrer em 20 de março.

Outro ponto de incertezas é a atuação do BNDES. Informações anteriores dão conta de que o banco receberá entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões do Tesouro. Não está claro se essa quantia corresponderá a aumento da dívida pública ou a recursos orçamentários. Apenas na semana que vem será divulgado o detalhamento dessa operação. Mas a ministra avisa que o BNDES cobrará juros mais altos.

A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) não especifica a porcentagem do PIB que definirá o tamanho do superávit primário. Diz apenas que será de R$ 81,8 bilhões. O problema é que, diante das projeções diferentes do PIB, fica difícil conferir o que será o "superávit cheio" ontem garantido por Mantega.

A sociedade civil ainda não tem razões para acreditar inteiramente na disposição do governo de levar a sério a volta à austeridade fiscal. Mas, também como reconheceu a ministra Miriam Belchior, nesse campo não adiantam muito os argumentos. É preciso mostrar ação.

GOSTOSA

MÍRIAM LEITÃO

Tesoura e Tesouro 
 Miriam Leitão 

O Globo - 01/03/2011

O adiamento da compra dos caças é uma das poucas propostas concretas de redução de despesas no anúncio de ontem. O que houve de contraditório no anúncio foi a informação de que um novo aporte ao BNDES será feito na semana que vem. É tirar lenha da fogueira e colocar outra. Tornou-se perigoso hábito o de anualmente o Tesouro se endividar para transferir dinheiro para o banco em supostos empréstimos.

O BNDES sempre viveu com os seus fundos, como o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), o retorno dos créditos concedidos e as capitalizações do Tesouro. Com o dinheiro que será transferido este ano pelo Tesouro, o banco vai acumular perto de R$ 300 bilhões de recursos recebidos desta estranha nova fórmula, desde 2008. Se tivesse se limitado ao período mais agudo da crise, em 2009, seria possível entender. Por ter se tornado prática comum, virou orçamento paralelo. O Tesouro finge que empresta e assim os números não entram na contabilidade da dívida líquida, já que supostamente no futuro o banco vai pagar. Isso não é arriscado apenas do ponto de vista fiscal: reduz a transparência, tira a consistência dos indicadores fiscais, concentra a renda e reduz a qualidade da democracia.

O ministro Guido Mantega disse que os subsídios foram cortados da previsão original. Serão R$ 7 bilhões, dois bilhões a mais do que no ano passado, mas abaixo do previsto. O corte, explicou, é porque serão elevados os juros do BNDES. Ele se referia a um específico programa, o Programa de Sustentação de Investimento, que tem juros ainda mais baixos do que os normais. Todo o subsídio do BNDES deveria estar no orçamento para que a sociedade acompanhe as despesas feitas com o seu, o meu, o nosso dinheiro.

As contas públicas precisam ter transparência porque assim se firma o conceito democrático de que os contribuintes têm o direito de saber de quem o governo recolhe seus impostos e a quem os transfere. Por isso, jornalistas que têm paciência para ficar detalhando cada gasto, entrando nas rubricas, fazendo conta, estudando o orçamentês e transmitindo tudo isso ao público estão, na verdade, fazendo um trabalho de ampliação da democracia. Ontem, vários desses profissionais estavam reclamando da falta de informações durante a entrevista. A ministra Miriam Belchior repetiu inúmeras vezes a expressão “calma, gente”, como se estivesse diante de alunos da pré-escola. Alguns deles são profissionais maduros e com mais conhecimento do tema do que muito funcionário recém- chegado no governo, principalmente os recrutados na militância. O ministro Guido Mantega disse que não distribuiria, naquele momento, as cópias dos slides com os dados dos quais falava porque, do contrário, ninguém prestaria atenção nele. Distribuiria depois. Isso é erro de comunicação. Os dados precisam ser divulgados com antecedência para que os jornalistas especializados possam entender, ver as inconsistências, fazer contas, consultar analistas, e depois tirar suas dúvidas com as autoridades que estavam ali para dizer que estão cortando R$ 50 bilhões do orçamento.

Nem todo corte é bom. Os cortes não são virtuosos por si mesmos. É preciso entender onde mesmo foi cortado, de que forma foram feitos os cálculos, que escolhas fizeram os gestores públicos para entender a consistência ou qualidade dos cortes. Os números não podem ser despejados sobre os jornalistas para que eles os aceitem num ato de fé. É fácil acreditar que vão ser cortadas 50% das verbas de viagens, porque isso depende apenas da ordem de não viajar. Mas como se calcula exatamente o que será reduzido de gasto com o resultado de uma auditoria que ainda não foi feita? Ou como se decide que 10% dos gastos com seguro desemprego serão reduzidos em fraudes que serão encontradas no futuro?

O ministro Guido Mantega fez uma suposição interessante: as despesas com seguro-desemprego devem ter fraude porque estão aumentando num período em que caiu o desemprego. É, pode ser fraude. Mas como está havendo, felizmente, mais formalização, há também um potencial maior de pedidos de seguro-desemprego no futuro, porque, como se sabe, só trabalhadores formais têm esse direito. O ministro Guido Mantega continua com seu contorcionismo para tentar convencer seus interlocutores de três ideias diferentes: de que realmente mudou e agora está convencido de que o controle dos gastos é necessário; de que nunca mudou e sempre foi austero; de que o seu corte de gastos é diferente dos cortes de outros governos porque manterá a economia crescendo no mesmo ritmo. Ele precisa escolher uma versão das três e se concentrar nela para ser convincente para alguém. Desse jeito, sempre confundirá quem o ouve.

Nos últimos anos o governo aumentou muito os gastos públicos e isso se traduz num número que é o mais relevante: ano a ano, nos últimos 16 anos, tem aumentando a carga tributária. O contribuinte está se sentindo asfixiado pelos impostos e já ouve dizer que voltará a CPMF ou algum sucedâneo do imposto do cheque. Falo em 16 anos porque antes disso é difícil confiar nos números; a alta inflação distorcia tudo. Nesse período, houve anos de controle de gastos, como no segundo mandato do governo Fernando Henrique e nos primeiros anos do governo Lula. A crise de 2008 foi usada como pretexto pelo governo para ampliar os gastos sob o argumento de que era preciso mitigar o efeito da recessão vinda de fora. Isso faz sentido. O que não fez sentido foi manter os mesmos estímulos em 2010, quando o país já estava crescendo num ritmo que, ontem, o ministro Guido Mantega disse que não é sustentável.

DORA KRAMER

Orientação pragmática

DORA KRAMER

O ESTADO DE SÃO PAULO - 01/03/11

Nessa história de janelas de infidelidade, fundação de novos partidos e fusões entre legendas, deflagrada pela decisão do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, de deixar o DEM, salvo lapso de memória apenas uma deputada levantou a questão programática.

Luiza Erundina, do PSB, que já avisou: se Kassab entrar por uma porta ela sai pela outra. Pelo motivo mais simples desse mundo e incluído pelo Supremo Tribunal Federal entre os casos em que a troca é permitida sem sanções: mudança de orientação programática do partido ao qual é filiado o insatisfeito.

O fato de Erundina ser exceção nesse debate cujo fio condutor é exatamente a orientação pragmática dos políticos em potencial mutação diz bastante sobre a política brasileira e as dificuldades de se fazer uma reforma digna desse nome.

Kassab, Guilherme Afif, Raimundo Colombo (governador de Santa Catarina) e mais a plêiade de políticos eleitos pelo DEM são socialistas exatamente desde quando?

A menos que tenham se convertido na mesma pia em que o empresário Paulo Skaf, então presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, se batizou socialista para poder disputar o governo de São Paulo em 2010.

Justiça se faça, seguem apenas a prática da total desconexão entre os programas dos partidos, suas ideologias (quando existentes) e o comportamento de seus filiados.

Da Social Democracia o PSDB não guarda resquícios; o PMDB desde o fim da ditadura virou uma confederação com financiamento público de interesses particulares; o PDT de Leonel Brizola desmilinguiu-se ao tornar-se braço parlamentar da Força Sindical; O PTB de trabalhista só guarda o nome; o PT faz qualquer negócio pelo poder.

Mais ou menos ideológico firmou-se o DEM, na tentativa de livrar-se da marca fisiológica do PFL. Recentemente ensaiou afirmar-se como liberal no sentido conservador do termo. Mas, como determinadas teses definidas como de direita remetem à época da ditadura, sucumbiu.

E que não se diga que perdeu espaço por causa do escândalo Arruda, porque nesse quesito outras agremiações deram contribuições mais eloquentes e nem por isso ganharam passaporte para o vinagre.

O problema principal do partido parece ter sido uma combinação de oposição sem trégua ao guia genial dos povos e uma reformulação interna malfeita e com condução ainda pior.

Pois muito bem, e o que tem o PSB para se tornar atrativo de tantos? Ideias, ideais, propostas, plataformas?

Não. Tem um presidente promissor, na figura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, exibiu expressivo crescimento na última eleição, tem trânsito no governo e na oposição e principalmente proximidade com o Palácio do Planalto.

Tradução: representa excelente oportunidade para quem enfrenta dificuldades eleitorais nos partidos atuais e tem o maior interesse em engordar suas fileiras. Ademais, para quem aposta que Lula voltará em 2014 é uma excelente forma de, sem querer querendo, se associar à monumental máquina de produzir votos.

Já o pensamento, a consistência, a identidade ideológica, a luta de cada partido hoje perdedor para se transformar em vencedor corrigindo os próprios erros, sabe como é: dá muito trabalho sem resultado imediato assegurado.

À francesa. O colega Gabriel Manzano Filho garimpou esta: na França o costume, não a lei, manda que ministros abandonem seus cargos quando perdem eleições.

O argumento é o de que o perdedor possa usar o posto para se vingar dos adversários que o derrotaram.

Exemplo: Alain Juppé tinha sido convidado pelo presidente Nicolas Sarkozy para ser ministro do Meio Ambiente. Tomou posse e 19 dias depois disputou e perdeu a eleição legislativa em Bordeaux.

Resultado: precisou renunciar ao ministério.

Por aqui ocorre exatamente o contrário: ao perdedor, se amigo do poder, há sempre um alto cargo reservado como recompensa pelo pífio desempenho.

Tipo da regra que não precisa de lei. Só de mentalidade referida no espírito público.

PASSADO

ANCELMO GÓIS

Rede Cegonha
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 01/03/11

Na entrevista a Ana Maria Braga, gravada ontem no Projac, Dilma anunciou a Rede Cegonha. Promessa de campanha, o programa será voltado ao atendimento de grávidas e incluirá a construção de hospitais para tratamento de doenças infantis de alta complexidade.

Fábrica de chocolate

Dilma ganhou um apelido no Itamaraty: “Willy Wonka”. A presidente faz sucesso que nem o chocolate do filme. Mas, a exemplo do dono da fábrica, vive às ocultas. 

Alto Pinheiro 
Morador há 27 anos de uma casa do Alto Pinheiro, em São Paulo, José Serra foi uma das vítimas da enchente de domingo. O tucano perdeu alguns eletrodomésticos 



Poeta 
Ferreira Gullar aceitou ontem à noite concorrer à vaga de Moacyr Scliar na ABL.

Jejum de sexo
A deputada Myrian Rios, exmulher de Roberto Carlos, disse ontem em entrevista à Rádio Tupi, no Rio, que está há nove anos sem fazer sexo. 

Bruna rodrigueana
A história de Bruna Surfistinha, cujo filme já atraiu 374 mil espectadores, lembra um pouco a de Solange, personagem de Sônia Braga em “A dama do lotação” (1978), sucesso de Neville d’Almeida, baseado num conto de Nelson Rodrigues. Solange, também de classe média, para se satisfazer, fazia sexo com desconhecidos.

A enxada e a lança
O historiador Alberto da Costa e Silva terá sua obra relançada pela Editora Nova Fronteira. O primeiro livro, “A enxada e a lança”, vai sair em março com texto de abertura de Laurentino Gomes, autor do bestseller “1822”.

Lá vão as noivas

Domingo, no voo 1223 das Aerolíneas Argentinas (São Paulo-Buenos Aires), o comandante pediu aos passageiros: — Vamos dar parabéns à nossa comissária que está entregando os formulários de imigração. Após anos de convivência, ela se casará em março com... sua companheira Sandra. Todo mundo aplaudiu. 

Aliás...
Em pouco mais de seis meses de vigência da lei argentina que autoriza casamentos entre pessoas do mesmo sexo, cerca de mil casais já se uniram de papel passado no país de Cristina Kirchner. Eu apoio. 

De mãos dadas
A revista “Bravo!” começa a fazer venda casada com a “Piauí.” A primeira é da Editora Abril, que também tem sociedade com a Editora Alvinegra, de João Moreira Salles, na segunda.

Bzzzzzzzzzzz
Também moradores da Baixada Fluminense poderão ver o Redentor, à noite, graças à nova iluminação a ser inaugurada hoje. Outra bossa é que a tecnologia (LED) evita a morte de mosquitos no choque com a luz. 

Família completa
O clima na família Obama nessa viagem ao Brasil, em março, é um pouco de recreio. Além da mulher, Michelle, as duas filhas, Malia, de 11 anos, e Sasha, de 9, vêm também. 

Sergio K no Rio
A grife Sergio K, marca de sucesso em São Paulo, vai invadir a praia do Rio. Abrirá loja no Fashion Mall. 

Viva Bibi!
Sábado, no casamento de uma neta, na Igreja de N. S. das Graças, em Botafogo, no Rio, Bibi Ferreira, a grande artista, cantou “Eu sei que vou te amar”, a bela canção de Tom e Vinicius. A emoção foi geral. Em 2011, Bibi, 88 anos, faz 70 de carreira. 

Novos juízes
Vem aí um novo concurso para juiz no Rio. O presidente do Tribunal de Justiça, Manoel Alberto Rebêlo dos Santos, distribuiu ontem aos desembargadores do Órgão Especial o projeto de resolução do concurso. Há um déficit de 150 juízes. 

Primo pobre
A Flip, a festa do livro de Paraty, vai ganhar, digamos, um primo pobre este ano. É o Flup, Festival Fluminense de Poesia, no fim de abril, em Barra de São João, terra de Casimiro de Abreu.

ZONA FRANCA
 Amanhã, às 18h, haverá Bicicletada, na Cinelândia, em protesto em fúria a ciclistas em Porto Alegre.
 Eliane Faria, filha de Paulinho da Viola, ficará com seu show no Cariocando até o fim de abril.
 Dias 23, 24 e 25, a Comissão de Direito Homoafetivo da OAB-RJ realizará o I Congresso Nacional de Direito Homoafetivo.
 Hoje, Pieter Tjabbes, curador da mostra Escher, dá palestra no CCBB, às 18h30m. Grátis.
 É hoje o Miscelânea Odeon com bloco Me Beija Que Sou Cineasta, grupo Tono e DJ Jorge LZ, às 19h.
● O carnaval infantil do Tijuca T. C. terá bailes domingo, dia 6, e terça, 8.

GOSTOSA

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Eu avisei
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/03/11

Não faltou quem alertasse o Planalto, logo no início de janeiro, para o risco embutido no discurso de que a área social e o PAC escapariam ilesos do facão no Orçamento. O detalhamento divulgado ontem, que prevê corte de 40% no "Minha Casa, Minha Vida" e empurra com a barriga o problema em ministérios como o da Integração, onde será praticamente impossível salvar todas as obras com os recursos que restaram, deu argumento aos que consideraram um erro o anúncio prévio da cifra R$ 50 bilhões como alvo global do enxugamento. Dentro e fora do PT, muita gente afirma que a meta foi ousada demais para a realidade.

Contas abertas 1
Petistas sentiram especialmente o corte no "Minha Casa". Lamentam que a vitrine da campanha tenha entrado na tesoura justamente quando surgem as primeiras críticas ao governo, na esteira do salário mínimo de R$ 545.

Contas abertas 2 

Coincidência ou não, ministros que Dilma nomeou a contragosto, como Mário Negromonte (Cidades) e Pedro Novais (Turismo), foram especialmente atingidos.

Aguardemos 
No Planalto, o fato de Emir Sader ter chamado Ana de Hollanda de "meio autista" foi recebido com contrariedade, mas sem surpresa. A possibilidade de a indicação do sociólogo para a presidência da Casa de Rui Barbosa subir no telhado será proporcional à reação da ministra -até a tarde de ontem, nenhuma.

Milhagem 
Durante a passagem de Barack Obama por Brasília, será assinado memorando sobre parcerias na área da educação. Um dos objetivos é aumentar o número de brasileiros que estudam ciências exatas, sobretudo engenharia, nos EUA.

Esperando Battisti 

Do ministro italiano de Exterior, Franco Frattini, sobre o caso do terrorista: "O próximo passo deve ser a extradição". Ele sublinha o "deve".

Redução de dano 1 
O PMDB-SP ofereceu ao prefeito de Barueri, Rubens Furlan, a perspectiva de alçar voos mais altos, como se candidatar ao Senado em 2014. Pai da deputada federal Bruna Furlan, recordista de votos do PSDB para a Câmara, ele ameaçou abandonar o partido depois da troca do comando estadual.

Redução de dano 2 
O caso de Furlan não é o único em que o pessoal de Michel Temer age para conter a debandada do grupo de Orestes Quércia. O novo comando peemedebista prepara evento em Araraquara, cujo prefeito, Marcelo Barbieri, é expoente do quercismo.

Senha 1 
Petistas e tucanos caminham para acordo que garantirá chapa única na eleição da Assembleia paulista. Negociado por Barros Munhoz (PSDB), candidato à reeleição, o pacto prevê uma minirreforma do regimento.

Senha 2 

O pacote, desejado sobretudo pela oposição, reduz de 22 para 12 o número de comissões temáticas e limita as relatorias especiais, hoje usadas para acelerar a votação de projetos do interesse do Bandeirantes.

Desenho 

Embora Hamilton Pereira tenha chegado a entrar no páreo, o petista na Mesa Diretora será Rui Falcão, que deve ficar com a primeira-secretaria, responsável pela administração da Assembleia. A única pendência está na segunda-secretaria, disputada por DEM e PV.

Outro lado 
O instituto Sangari sustenta que não é investigado no âmbito da operação Caixa de Pandora, que revelou o mensalão do DEM no Distrito Federal.
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio


"O povo já percebeu que Kassab não dedica à cidade nem metade da energia que emprega para tentar garantir seu futuro político."
DO VEREADOR ANTONIO DONATO, presidente do PT municipal, relacionando os transtornos enfrentados pela população de São Paulo em razão das enchentes e as articulações do prefeito para abandonar o DEM.

contraponto

Medidas extremas

O criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro foi procurado recentemente por um grande empresário que, em processo de separação litigiosa, queria contratar seus serviços. Kakay, como é conhecido, explicou que não trabalha com direito de família.
O homem insistiu. Contou que sua mulher havia escalado renomada advogada, famosa por arrancar, no mínimo, 50% do patrimônio da outra parte -e que ele era homem de mais de R$ 1 bilhão! Por fim, ameaçou:
-Se você não advogar para mim, vou matá-la!
-Aí é minha área...- respondeu, rindo, Kakay.

MERVAL PEREIRA

Credibilidade

MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 01/03/11

A confirmação pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o Tesouro fará um novo aporte de recursos ao BNDES ofuscou o eventual brilho do corte de R$50 bilhões anunciado pelo mesmo governo. O ministro não revelou de quanto será esse aporte, mas no mercado há quem aposte em mais R$55 bilhões.

Um gesto de contenção de gastos renegado pela repetição da manobra contábil que permitirá que a economia volte a ser estimulada com um impulso fiscal de mais de 1% do PIB, manobra que vem tirando a credibilidade das contas públicas.

Todos os agentes econômicos consideram que o governo só recuperará a credibilidade se adotar medidas legais que impeçam esses truques contábeis.

A partir de 2008, com a eclosão da crise financeira internacional, o governo decidiu expandir a economia para combater seus efeitos.

Mas, para evitar que a dívida líquida aumentasse, em vez de capitalizar o BNDES da maneira tradicional, trabalhou por fora do Orçamento.

Um número que passou a ser observado com atenção, mesmo que não afete as estatísticas fiscais, é o da dívida bruta.

O Ministério da Fazenda está usando o que o mercado identifica como "um truque" para repassar recursos aos bancos públicos sem aumentar a dívida líquida, este, sim, um número que o mercado financeiro acompanha, especialmente sua relação com o PIB.

Desde junho de 2008, o volume de crédito do BNDES, que era insignificante para as contas públicas, subiu bastante, ficando em torno de 5% do PIB.

A dívida líquida do setor público, critério mais usado pelo governo e pelo mercado, que representava 61% do PIB em 2002, em janeiro de 2011 caiu para 40.1%.

Já a dívida bruta, antiga metodologia que foi usada até 2007 e que é a mais compatível com a adotada pelo FMI e pela maioria dos países, subiu para 63.9% do PIB.

Países que têm investment grade como o Brasil possuem uma dívida bruta em torno de 40% do PIB, embora os Estados Unidos já tenham chegado aos 80%, devido às medidas que tomou por conta da crise.

São várias as maneiras que o governo encontrou para maquiar as contas públicas. No ano passado, uma manobra fiscal da União na capitalização da Petrobras rendeu R$31,9 bilhões e levou a um superávit primário recorde em setembro, de R$26,1 bilhões. Sem a manobra, haveria déficit de R$5,8 bilhões.

No final do ano a Caixa recolheu R$4 bilhões de imposto por conta de uma briga judicial com a Receita Federal, um prejuízo que no seu próprio balanço não estava previsto porque a Caixa teria ainda um longo caminho a percorrer com recursos judiciais antes de pagar.

E, mesmo que tivesse que pagar ao fim de todos os recursos, poderia descontar do próprio governo, de quem é credora em R$15 bilhões.

As despesas de custeio - gastos do dia a dia do governo -, que sempre são pagas no mesmo ano, foram transferidas de dezembro do ano passado para janeiro, e, por acaso, o que o governo economizou em dezembro foi o que aumentou no custeio em janeiro, indicando que apenas se adiou a despesa para melhorar os números de 2010.

Há dez dias, foi anunciado que a Caixa receberá do Tesouro R$2,2 bilhões em ações da Petrobras e da Eletrobras, o que vai alavancar em cerca de R$30 bilhões sua capacidade de empréstimos, enquanto o BNDES receberá R$6,4 bilhões só em ações da Petrobras, que ampliarão em R$100 bilhões sua capacidade de financiar projetos, tudo sem impactar a dívida líquida do governo.

Outro truque que está sendo utilizado pelo governo é usar a rubrica "restos a pagar", adiando às vezes em anos pagamentos que deveriam ter sido feitos.

Esses pagamentos já chegam a mais de R$120 bilhões. Quando, nos anos 80 do século passado, o então ministro da Fazenda Delfim Neto acertou com o FMI essa contabilidade, os "restos a pagar" nem entravam na contabilidade oficial da dívida porque representavam muito pouco.

Mas hoje esses "restos" ganharam uma dimensão própria e transformaram-se em mais uma distorção das contas públicas.

Houve uma arrecadação recorde em janeiro de impostos que normalmente as empresas só costumam pagar em março, quando divulgam seus balanços.

Há a desconfiança no mercado de que foram empresas estatais pagando imposto antes da hora.

Perdeu-se o referencial, ninguém sabe se esse resultado de janeiro é bom mesmo ou se fruto de mais uma manobra.

Os créditos do Tesouro junto ao BNDES desde 2008 até dezembro de 2010 já ultrapassam R$230 bilhões, tendo chegado ao seu máximo em 2010 com R$107,5 bilhões, ou 2,9% do PIB, quando já não era necessário o governo estimular a economia, que vinha num ritmo de recuperação bom.

Agora então, que é preciso conter o ritmo da economia com cortes do gasto público, fica mais incongruente ainda fazer novo aporte ao BNDES.

GELO ERÓTICO

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

União entre banda larga e energia será avaliada
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/03/11

A Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústria de Base) vai começar a mapear todo o sistema de transmissão de energia elétrica do país para identificar e avaliar os pontos de congruência que podem ser compartilhados com o serviço de banda larga.
Uma parcela do sistema de transmissão de energia do país está equipada com uma estrutura de cabos chamada OPGW, que funciona como para-raios e também como condutor de fibra ótica, para transmitir comunicação.
"O que pretendemos levantar é se, com essa possibilidade de transmissão de dados com objetivo de banda larga, esses cabos estão dimensionados para agregar mais banda larga ou se seria necessário trocar alguns cabos", afirma Paulo Godoy, presidente da Abdib.
"Também veremos se há cabos em que a estrutura está ou não preparada para suportar o peso, ou se seria necessário reforçar torres."
A ideia é também reconhecer investimentos necessários para compatibilizar sistemas nos pontos em que ainda não há duplicidade, segundo Godoy, que diz que a iniciativa de desenvolver o estudo foi tratada em diálogo com o ministro Paulo Bernardo (Comunicações).
O trabalho pode ser posteriormente usado pelo governo, segundo Godoy.
"Temos cerca de 100 mil quilômetros na rede básica do sistema interligado nacional. Faremos o levantamento dessas linhas e levaremos aos órgãos reguladores", diz.

Brasileiros gastam 50% a mais com cartão no Canadá
Os gastos com cartão de crédito dos turistas brasileiros no Canadá aumentaram 50% no ano passado ante 2009, de acordo com levantamento realizado pela Visa.
As operações de brasileiros clientes da empresa movimentaram US$ 117 milhões (cerca de R$ 194 milhões) no país da América do Norte.
O principal motivo para o crescimento foi a realização dos Jogos Olímpicos de Inverno, em fevereiro do ano passado, em Vancouver.
Os norte-americanos são líderes de gastos com cartões da empresa no Canadá, com cerca de R$ 5,8 bilhões.

NA FORMALIDADE

As micro e pequenas empresas foram responsáveis por quase 80% da geração de empregos formais em janeiro, segundo o Sebrae, com base no Caged.
Foram gerados 152.091 empregos formais, alta de 0,42% ante o mês anterior.
A maior parte das vagas (69,6%) foi gerada por empreendimentos que têm até quatro trabalhadores.
Os setores que mais geraram vagas em janeiro foram serviços, indústria de transformação e construção civil. Vinte e um Estados expandiram o nível de emprego, com a liderança de São Paulo, seguido de Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

INTERIORIZAÇÃO

A rede Spoleto abrirá 35 unidades em 2011 e pretende aumentar a sua influência fora das metrópoles do país.
Hoje, 140 das 263 lojas da companhia estão localizadas nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
"Queremos conquistar o interior desses Estados e as regiões Sul, Norte e Nordeste", afirma Gianni Carboni, um dos sócios da marca de culinária italiana.
Serão abertas lojas em Itaguaí (RJ), Marília (SP), Palmas (TO) e Petrolina (PE).
O preço médio para a criação de uma unidade da rede é de R$ 350 mil.
"A adoção de um novo fogão elétrico, que gasta menos gás e energia, baixou o custo por loja", diz Carboni.
Com as novas franquias, que receberão investimento de cerca de R$ 11 milhões, a Spoleto espera crescer 13% neste ano e atingir faturamento de R$ 391 milhões.

Hospedagem... 

O Sebrae e a Abih (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) lançam hoje em São Paulo um programa para aprimorar a qualidade do serviço de hotéis com até 50 quartos para a Copa do Mundo de 2014.

...para Copa 
A formação é voltada para empreendimentos nos circuitos turísticos de Águas Paulistas, Serra da Mantiqueira e Costa da Mata Atlântica. Os pequenos hotéis dessas regiões oferecem 14 mil quartos, segundo a Abih.

Viagens...
 
Oito agências de turismo da América Latina, entre elas duas brasileiras, lançam roteiros pelo continente durante a feira de turismo de Berlim, em março. Com o projeto, as empresas esperam faturar US$ 7,7 milhões.

...de luxo 
Os pacotes, que incluem viagens de trem e avião e podem ter como destino as regiões da Patagônia, Amazônia e os Andes peruanos, serão comercializados a partir de US$ 4.000 (cerca de R$ 6.600).

PLATEIA DE DOUTORES

A participação da área de medicina nos eventos de negócios na capital paulista cresceu no ano passado.
O setor representou 27,6% do total de eventos em 2010, ante 23,6% no ano anterior, segundo a São Paulo Convention & Visitors Bureau.
Quase 18% foram relacionados a ciência, tecnologia e comunicação e 14,9% do segmento técnico e científico.
Foram cadastrados 1.741 eventos no ano. Grande parte das feiras e congressos de saúde ocorre na região da avenida Paulista e centro.

Gestão... 
Uma pesquisa da Serasa Experian aponta que empresas do setor comercial que usam o Modelo de Excelência da Gestão (MEG), da Fundação Nacional de Qualidade, tiveram um aumento de 85,7% no faturamento em 2009. Companhias que não usaram o modelo tiveram alta, em média, de 64,2%.

...eficiente 
No setor de serviços, a alta no faturamento foi de 32,7% contra 25,3%. As indústrias que utilizam o modelo, por sua vez, tiveram aumento menor do que as que não o fazem -ficaram com 26,6% ante 38,6% das demais, de acordo com o mesmo levantamento realizado pela Serasa Experian.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK, VITOR SION e ANDRÉA MACIEL

BENJAMIN STEINBRUCH

Tentar sempre vale a pena
BENJAMIN STEINBRUCH
folha de são paulo - 01/03/11

As últimas maravilhas eletrônicas mostradas semanas atrás na Consumer Electronics Show, feira de Las Vegas, me fizeram lembrar de peripécias de Nissim, amigo de longa data, com seu computador. Ele é muito engraçado quando conta esse caso.

A história começa com a compra de um PC novo, porque Nissim estava cansado da lentidão e dos problemas do velho. "Um avião, com 500 gigas no disco rígido, 10 gigas de memória etc. etc. etc." A máquina ganha elogios, funciona muito bem durante alguns meses até que, aos poucos, passa a escravizar o pobre Nissim.

Provavelmente, "a droga de um vírus apoderou-se dos arquivos", diz Nissim. Tão logo o PC abre, começa a ser baixado um programa que ele não sabe de onde veio nem para que serve. "‘Continuar ou parar?", pergunta o programa. Nissim clica em parar, o computador abre, mas no dia seguinte vem a mesma coisa. Até que, quebrando a cabeça, consegue desativar um dispositivo e o intruso desaparece.

Mas por que esse computador afinal demora tanto para abrir? Meu amigo se irrita com isso. Tem uma conta para pagar no banco pela internet e não quer perder tempo. Mas o computador roda, roda, roda. Está "inicializando".
Nissim se considera jovem, mas se lembra das TVs do tempo da válvula, que demoravam uns dois minutos para esquentar. Será que computador tem válvula? "Não, a máquina precisa rodar os programas antes de abrir", explica-lhe um entendido. Mas, afinal, não poderia rodar mais depressa?

A regra número um para os escravos do computador é não ter pressa. Nissim apela para um técnico e observa quão paciente ele é. Espera calmamente baixar um programa, entra em diversos sites em busca de ajuda, não se incomoda com a ampulheta virando, virando, preenche sem tédio formulários de identificação e reinicia a máquina quantas vezes forem necessárias.

Valeu a calma do técnico. O "avião" do Nissim volta a voar. Não por muito tempo. Logo aparece um aviso: "Seu antivírus está desatualizado e seu computador está em perigo". Estava mesmo. Outro ataque faz estrago em um arquivo qualquer.


"Quer atualizar seu antivírus?" Nissim quer, mas fica pensando se o que lhe oferecem é mesmo um remédio ou outro intruso, outro invasor oportunista abusando de sua pouca experiência virtual.

Aí meu amigo se irrita muito e decide "fechar essa droga". E cai no "gerenciador de tarefas", que lhe pergunta: "Finalizar agora?". Ele diz que sim, mas o computador não finaliza nada. Lá se vão mais alguns minutos com a máquina pensando e a ampulheta virando até que Nissim fica furioso, aperta ctrl-alt-del, mas o PC se recusa a apagar. Então ele apela para o botão "power".

Em vez de desligar e acabar com a sua agonia, a máquina faz uma nova ameaça: "Você decidiu fechar o programa Internet Explorer. Informe este problema à Microsoft. Deseja enviar relatório de erros?".

A primeira coisa que Nissim pensa é "não vou enviar coisa nenhuma", porque teme o risco de que esse endereçamento o faça esperar ainda mais. Mas ele se lembra de um colega que sempre clica no "enviar", só para castigar a grande companhia multinacional fabricante do sistema operacional. E envia, mas jamais saberá se a mensagem chegou ao destinatário ou se serviu para alguma coisa.

Enfim, o computador desliga, mas no dia seguinte, Nissim não escapa de outra ameaça. "O Windows não foi desligado corretamente", blá-blá-blá, blá-blá-blá, blá-blá-blá. "Deseja reiniciar?"

Sim, o Nissim deseja reiniciar. Não o faria se o computador não fosse tão necessário. Com a internet, virou pau para toda a obra. Lembra do número de coisas que já faz pelo PC: paga contas; transfere recursos de um banco a outro; faz compras sem tirar o pé de casa, inclusive de ingressos para cinema e teatro; lê jornais e revistas; consulta dicionários e enciclopédia; baixa músicas; até vê filmes e televisão ao vivo.

Nissim reflete sobre isso tudo e, com muita pena, pão-duro que é, decide colocar a mão no bolso e trocar o PC outra vez. "Um ‘avião', com uma velocidade incrível", gaba-se meu amigo. E começa tudo de novo.

Diretor-presidente da CSN, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp