sábado, julho 09, 2011

ZUENIR VENTURA - Dor e revolta de mãe


Dor e revolta de mãe 
 ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 09/07/11

Marcia Noleto é uma mulher abatida pelo sofrimento. Ela continua chorando a perda de sua filha de 20 anos, Mariana, que estava no helicóptero que caiu no mar em Porto Seguro, Bahia, no dia 17 de junho, com mais seis pessoas. A moça era namorada de Marco Antonio, filho do governador Sergio Cabral, cuja casa ela frequentava desde os 13 anos. Junto com a dor, que ela sabe ser irremediável, Marcia sente revolta pelas circunstâncias envolvendo o acidente, que talvez pudesse ter sido evitado, pois foi um vôo insensato, em noite de chuva, sem visibilidade, comandado por um piloto sem licença para voar (como seu registro expirou em 2004 e o certificado de capacidade física também, em 2006, ele usou o de um colega para pedir autorização à torre). Até hoje ela não recebeu qualquer informação das autoridades aeronáuticas, nenhum relatório ou comunicado oficial sobre as causas do desastre. Ela gostaria de saber o papel da Agência Nacional de Aviação Civil no episódio. “A Anac”, ela diz, “é o órgão que deveria ter inspecionado o voo e proibido a decolagem naquelas condições e averiguado se o brevê do piloto estava em dia ou — é incrível! — se o brevê era ao menos da mesma pessoa que iria conduzir o helicóptero”. Marcia me enviou um e-mail:

“Gostaria de te agradecer do fundo do meu coração abatido o artigo que você escreveu com muita delicadeza, no dia 29 de junho, a respeito do trágico acidente de helicóptero que levou a minha filha Mariana Noleto. Perder uma filha é, com certeza, uma das mais duras provas que um ser humano pode passar. Linda, aos 20 anos, Mariana tinha um futuro que foi interrompido por uma fatalidade. Uma fatalidade cercada de imprudências e abstraída de sensatez. Gostaria muito de saber sobre o funcionamento da Anac. Se a fiscalização tivesse sido realizada corretamente, minha filha ainda estaria ao meu lado, me dando alegria e a felicidade de ser mãe por muitos e muitos anos da minha vida”.

Até para impedir a repetição de erros e irregularidades fatais como os que provavelmente ocorreram no acidente que matou Mariana, Marcia cobra resposta para algumas perguntas:

“Como se faz para tirar um brevê? Como se obtém a autorização para decolagem? Por telefone? Qualquer pessoa liga e basta dar o número de um outro piloto? Não existe um funcionário no heliporto que fiscalize e autorize ou não o voo? A decisão de decolar fica a cargo do piloto e apenas dele? Não se recebe nenhum relatório sobre o acidente? Não existe seguro para helicóptero?”

Responder a essas questões não é um favor, mas uma obrigação da Anac para com uma mãe que, em meio ao luto, quer que a morte da filha tenha pelo menos um caráter exemplar, que não seja em vão.

2 comentários:

Anônimo disse...

A ANAC é ineficiente porque as agências reguladoras existem apenas para beneficiar alguns poderosos, que estão acima dos princípios que deveriam reger a administração pública (impessoalidade, meritocracia, prevalência do bem público...). Eles se aproveitam da mesma impunidade que permitiu à vítima viajar às custas do contribuinte, em mais um "expediente" do sogro que tem seu próprio Código de Ética. Interessante como tais privilegiados só se lembram de cobrar as obrigações do Estado quando são vítimas da sua corrupção e ineficiência; em condições normais, usufruem da incompetência estatal com muito gosto e EM SILÊNCIO.

Anônimo disse...

Desculpem-me. Naõ é normal uma mãe perder um filho. é uma dor tão grande que não existe nome. \\existem o orfão, viúva etc mas naç uma palavra que sintetize a perda de um filho. A ANAC é mais uma cri do PT que para punir os militares, não os de 64, ois a maioria já morreu, começou-se um movimento no governo FHC de corte de verbas para as Forças Armadas culminando por tornar o DAC civil sem militares com seus civis partidarios e burocratas