terça-feira, novembro 09, 2010

DORA KRAMER

Repetência federal 
Dora Kramer 
O Estado de S.Paulo - 09/11/2010 

É óbvio para qualquer pessoa que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem problemas graves de execução, assim como é evidente que o Ministério da Educação não tem o domínio nem o controle da situação.

Quer dizer, não dispõe do mapa das deficiências nem sabe como resolvê-las.

Durante anos e numa época de tecnologia incomparável com a de hoje realizaram-se exames vestibulares em todo o País, sem que houvesse nada parecido.

A série de erros gravíssimos - vazamento de provas, troca de cabeçalhos em gabaritos, alteração na ordem das questões nos exames - já comprometeu a credibilidade do Enem.

Mas os desastres não foram suficientes para abalar o prestígio do ministro da Educação, Fernando Haddad, junto com presidente Luiz Inácio da Silva, que, segundo consta, pensa em indicá-lo para permanecer no cargo no governo Dilma Rousseff.

Claro que o ministro não pode ser o único culpado por erros administrativos. Mas, como responsável pela área, deve saber corrigi-los e cuidar para que não se repitam. Nesse aspecto, Haddad foi reprovado, pois pelo segundo ano consecutivo o Enem é comprometido por causa de transtornos de gerência.

Ex-reitor da UnB, ex-ministro da Educação, candidato a presidente em 2006 como porta-bandeira da área, o senador Cristovam Buarque lembra que no futebol não há descontrole nem tolerância semelhantes. "Com dois jogos perdidos, os times trocam os técnicos."

O senador não se refere só ao ministro da Educação - embora se refira também - e estende o conceito de indulgência a todo o sistema. "Falhou a máquina do ministério."

Na opinião dele, o ministério deveria tomar três medidas: reavaliar toda a estrutura do Enem (administrativa, educacional e de segurança), encontrar uma maneira de transmitir segurança emocional aos milhões de estudantes que fazem do exame um divisor de águas em suas vidas e patrocinar uma campanha para recuperar a credibilidade do Enem.

"Sem isso temo que acabemos por matar uma ótima ideia", diz ele. Essa "morte", na opinião do senador se daria de duas maneiras. Uma, as universidades podem começar a rejeitar o exame como instrumento de admissão de alunos; outra, pelo reforço da posição de todos os que são contra exames de avaliação.

"E não são poucos nem só os donos de escolas mal avaliadas: há governadores, prefeitos e professores que contestam o próprio instituto do Enem. Isso é muito ruim."

Cristovam, particularmente, prefere outro sistema de avaliação, o PAS, que implantou em Brasília quando governador. Enquanto o Enem é aplicado no fim do segundo grau, o PAS é feito durante os três anos e, no fim, o estudante é avaliado pela média.

A sugestão dele é que o governo convide gente de notório saber para examinar as razões dos erros e as possibilidades de acerto no que concerne ao exame de avaliação, antes que surja algum movimento pela extinção pura e simples das provas.

Mas o senador duvida que o governo se disponha a abrir esse jogo de forma franca. "Quando formei a CPI da Educação para investigar as causas de o Brasil não sair desse apagão educacional não tinha nada a ver com o governo e mesmo assim o palácio mandou sua base retirar as assinaturas. Por isso imagino que não aceite uma avaliação externa."

O cara. Barack Obama defendeu assento permanente no Conselho de Segurança da ONU para a Índia. Há razões estratégicas, mas digamos que a política externa brasileira de sotaque antiamericano não ajude o Brasil nessa questão.

Em debate. A TV Cultura vai reunir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto e o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, em seminário sobre liberdade de imprensa.

Será nos próximos dias 25 e 26, com transmissão pela internet e os interessados podem se inscrever a partir de amanhã no site www.tvcultura.com.br/seminario.

MERVAL PEREIRA

Estranhamentos 
Merval Pereira 
O Globo - 09/11/2010

O gesto do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de apoiar a presença permanente da Índia num Conselho de Segurança da ONU reformulado tem como objetivo principal enfraquecer diplomaticamente a China antes da reunião do G-20 na Coreia do Sul, cujo tema central é a chamada “guerra cambial”.

Mas atinge diretamente o Brasil, que vem tentando obter dos Estados Unidos uma declaração formal de apoio à sua pretensão de um assento permanente naquele organismo e nunca conseguiu mais do que declarações genéricas e indiretas, desde o governo Bush até hoje.

Há uma expectativa por parte do governo dos Estados Unidos sobre o tom que o presidente Lula usará na reunião do G-20 para criticar o que chama de “guerra cambial”.

Ainda mais porque estará presente à reunião a presidente eleita, Dilma Rousseff, e a linguagem usada deve indicar a direção que seu governo tomará na política externa.

O governo americano avalia que o governo brasileiro tende a culpar mais os Estados Unidos do que a China pelos problemas cambiais que perturbam a economia internacional, e vê essa posição com receio de que represente mais um passo de uma política externa que muitas vezes ganha um tom antiamericano.

Há também, por parte dos analistas americanos, a sensação de que certos setores da diplomacia brasileira têm uma visão muito esquematizada da situação mundial, definida como uma tendência definitiva o crescimento do poder da China e o declínio dos Estados Unidos, o que pode levar a decisões equivocadas.

Na verdade, o Brasil sai prejudicado tanto com a inundação de dólares que os Estados Unidos vêm promovendo, que desvaloriza cada vez mais a moeda americana e valoriza o real, prejudicando nossas exportações, quanto com a política chinesa de manter sua moeda desvalorizada e assim invadir o mercado brasileiro e latino-americano com produtos baratos.

Mas o governo brasileiro tem papel importante nessa crise, pois mantém os juros altos para conter a inflação provocada, em grande parte, pelos gastos governamentais excessivos.

A declaração do presidente Barack Obama na Índia tem ainda sutis recados da diplomacia americana que não são dirigidos ao Brasil especificamente, mas servem para que se avaliem os compromissos que os Estados Unidos requerem de um país para apoiar sua pretensão de ter uma representatividade maior nos fóruns internacionais.

Entre outras coisas, Obama disse que um país para se candidatar a uma vaga permanente tem que se comprometer a trabalhar para que a autoridade do Conselho de Segurança da ONU seja respeitada pela comunidade internacional.

Desse ponto de vista, os Estados Unidos consideram que o Brasil não contribuiu para o fortalecimento da instituição ao votar contra as novas sanções ao Irã, estabelecidas pelas grandes potências no Conselho de Segurança da ONU devido ao seu programa nuclear, em junho passado.

Na ocasião, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que agindo assim o país “preservou” sua credibilidade internacional, e que o voto contrário seria “a única posição correta, honrosa e justa de Brasil e Turquia”.

Da parte do governo americano, o voto do Brasil foi considerado uma afronta à liderança do presidente Barack Obama, que se esforçou pessoalmente para que houvesse uma decisão unânime sobre as sanções.

Já havia causado espanto no Departamento de Estado o vazamento de uma carta de Obama a Lula, como uma tentativa do governo brasileiro de provar que teria negociado com o Irã de acordo com orientações enviadas pelo próprio presidente dos Estados Unidos.

Mas uma leitura atenta da carta deixa claro que houve no mínimo um mal-entendido, ou uma tentativa frustrada de criar um fato consumado que favorecesse o Irã.

Ao se referir aos termos do acordo anterior, de novembro de 2009, Obama deixava explícito que o objetivo dele era fazer com que o Irã ficasse sem material atômico para produzir a bomba.

Está claro que, sem essa precondição, não haveria acordo. Como a proposta do Brasil e da Turquia foi feita em junho, sete meses depois, e exigia a transferência dos mesmo 1.200 quilos de urânio de baixo enriquecimento para fora do país, o efeito seria nulo, pois nesse período o Irã já tivera condições de aumentar seu estoque de urânio.

Para ser efetivo, o acordo que o Brasil e Turquia patrocinaram deveria exigir o aumento da remessa de urânio para o exterior por parte do Irã.

Recentemente, outro tema voltou a acender uma luz de advertência em Washington: o ministro da Defesa brasileiro, Nelson Jobim, apresentou aos Estados Unidos a discordância do governo brasileiro a qualquer interferência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Atlântico Sul, tese que tem mobilizado o governo americano, que levou a ação da Otan ao Afeganistão, por exemplo, utilizando a cláusula que diz que se um dos membros da Organização for atacado, os demais se obrigam a defendê-lo.

O governo brasileiro teme que os Estados Unidos possam promover ações multilaterais através da Otan, prescindindo da autorização do Conselho de Segurança da ONU.

O Ministro Nelson Jobim já havia anunciado a preocupação brasileira em uma conferência no Instituto de Defesa Nacional, em Lisboa, em setembro.

O governo brasileiro tenta convencer membros da Otan parceiros comerciais do Brasil na área militar, como a França (e por isso a importância da compra dos caças modelo Rafale, que deve ser anunciada em breve por Lula) e a Itália, a não aceitarem esse conceito, que parece excessivamente ampliado, permitindo a ação da organização em qualquer parte do mundo e sob pretextos os mais diversos.

Por trás dessa posição está a proteção das reservas de petróleo brasileiras, especialmente as localizadas no pré-sal.

Como os EUA não ratificaram a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982, o governo brasileiro considera que, teoricamente, a Casa Branca não é obrigada a respeitar a plataforma continental de 350 milhas náuticas de distância e os 4.000 quilômetros quadrados de fundos marinhos do Brasil, fixados pela convenção.

REGINA ALVAREZ

Queda de braço 
Miriam Leitão 

O Globo - 09/11/2010

Os cenários para 2011 ainda estão muito confusos. As incertezas sobre a economia americana e sobre as reações do resto do mundo à guerra cambial não ajudam nesse momento de transição por aqui. O mercado está atento a todos esses movimentos e continua a passar seus recados. O mais evidente é em relação à inflação e à taxa de juros.

Ontem, o Banco Central divulgou pesquisa feita com 64 instituições financeiras, que reforça a posição do mercado, endossada pela autoridade monetária. A pesquisa indica que a queda na taxa de juros, sem risco de inflação, passa necessariamente pela redução dos gastos correntes do governo.

Acontece que no governo não há consenso sobre essa receita, nem na atual equipe econômica, nem entre assessores próximos da presidente eleita, Dilma Rousseff.

No discurso pós-eleição, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, tem defendido uma gestão mais austera das contas públicas para “arrumar a casa” e facilitar a transição de Lula para Dilma. Mas a pressão por gastos é muito grande, em parte por compromissos assumidos no ano eleitoral, e o cobertor do Orçamento é curto. Assim, é provável que o novo governo anuncie alguma medida de impacto na área fiscal para ajustar as contas em um horizonte de quatro anos, mas dificilmente haveria um corte nos gastos correntes na ordem de 1% do PIB, sugerido pelo mercado como saída segura para a redução da inflação e dos juros.

Nos bastidores da transição, colaboradores próximos de Dilma buscam tranquilizar a quem pergunta como seria essa estratégia de testar um novo patamar para a taxa Selic, abaixo da atual. Dizem que não seria na “canetada”, nem abalaria o tripé da economia, mas fica cada vez mais evidente que alguma coisa será tentada além do que sugere a cartilha.

Dinheiro verde I

Estudo da FGV e da Pnuma sobre a atuação de bancos públicos no financiamento de uma economia de baixo carbono mostra que a eficácia do credito verde ainda é pequena. De um lado, falta interesse dos empresários nessas linhas pela complexidade e excesso de exigências na liberação. De outro, é baixa a representatividade do tema no planejamento estratégico das instituições. Isso faz com que o crédito fique disperso nas políticas dos bancos.

— As instituições reconhecem a importância do financiamento público como indutor de uma economia de baixo carbono, mas o processo decisório ainda é orientado por objetivos pontuais, de curto prazo e com baixo envolvimento da alta gerência — diz Paula Peirão, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV/EAESP.

Dados do TCU mostram que, entre 2008 e 2009, as linhas de crédito público para sistemas sustentáveis e recuperação de áreas degradadas, por exemplo, tiveram só 25% de utilização.

Dinheiro verde II

A maior parte do crédito é destinado à mitigação da emissão de gases de efeito estufa, mas falta criar produtos que financiem a adaptação das áreas atingidas.

— Áreas que sofrem alagamentos, por exemplo, precisam receber dinheiro para minimizar os estragos.

A mesma coisa em regiões que sofrem com a seca — explica a pesquisadora Paula Peirão.

O estudo, que será divulgado hoje, analisou balanços do BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, e também de Fundos Constitucionais de Financiamento.

Sustentável

O Ministério do Planejamento começa a testar um novo modelo de obras na Esplanada dos Ministérios.

Encomendou a escritórios de arquitetura pré-projetos para a construção de um prédio anexo “ambientalmente sustentável”.

A ideia é usar tecnologia que economize água e energia, tornando o edifício modelo para a construção de outros prédios públicos. O vencedor receberá R$ 2 milhões para a elaboração do projeto. Com o sinal verde de Dilma Rousseff, o edital para a construção pode sair no começo do ano que vem.

Figurinhas

A presidente eleita, Dilma Rousseff, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, embarcaram ontem à noite rumo a Seul, para participar da reunião do G-20, em voo que chegará à capital da Coreia do Sul na quarta-feira.

Serão quase 30 horas de convívio na primeira classe, onde haverá tempo para muita conversa. Mantega figura na lista de cotados para permanecer no cargo no governo de Dilma, mas ainda não foi confirmado.

AGILIDADE: A Confederação Nacional dos Municípios (CMN) lança hoje um novo sistema de pregão eletrônico, com software mais moderno, que atenderá a mais de 4 mil municípios, reduzindo custos de suas compras.

GOSTOSA

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Fiocca e Landim serão sócios em gestora de recursos 
Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 09/11/2010

Dois nomes muito lembrados para cargos no governo Dilma Rousseff sinalizam que não estão disponíveis. Demian Fiocca, ex-presidente do BNDES, e Rodolfo Landim, ex-presidente da OGX, de Eike Batista, serão sócios em uma gestora de recursos. O foco vai estar no setor de petróleo e gás.
Landim, que esteve à frente de todas as aberturas de capital das empresas de Eike, de quem era tido como braço direito no desenvolvimento de novos negócios, construiu carreira na Petrobras.
Foi presidente da BR Distribuidora. Foi em seus tempos na estatal que o ex-"cavaleiro" de Eike, hoje desafeto do empresário, trabalhou com a futura presidente.
"Tenho uma dívida de gratidão com Dilma. Foi ela que me fez permanecer na Petrobras. Mas tenho outros planos", diz Landim.
É o que diz também Demian Fiocca, que foi diretor-executivo da Vale, presidente da Nossa Caixa, e secretário de assuntos internacionais do Ministério do Planejamento.
"Estamos em um mesmo momento. Demos nossa contribuição [no setor público]. Agora cuidaremos da nossa "lojinha'", brinca Fiocca.
A nova gestora, cujo nome provavelmente será Mare, terá sede no Leblon, no Rio, e vai investir em ativos da cadeia de suprimentos do setor de petróleo e gás.
"Não entraremos na área de maior risco que é a de produção e a exploração de petróleo", diz Fiocca.
A ideia é funcionar como um fundo de "private equity", que deverá captar cerca de R$ 2 bilhões, entre investidores internacionais, que serão a maioria, e brasileiros. O empreendimento ainda está em fase de captação de recursos e prospecção de investimentos.
Não há nada totalmente fechado, "mas olhamos principalmente áreas de logística de apoio, infraestrutura e equipamento".
Eles pretendem atuar na decisão de alocação de capital e na gestão de empresas em que investirem. "Sei o que vai precisar de investimento, onde não há suprimento", afirma Landim
A Mare terá ainda dois sócios minoritários: Nelson Guitti, que trabalhou com Landim na Petrobras, e Claudio Coutinho, que vinha atuando na área de crédito para a cadeia do setor.

"Tenho uma dívida de gratidão com Dilma. Foi certamente ela a pessoa que me fez permanecer na Petrobras, a partir de 2003. Mas tenho outros planos. Essa fase passou"
RODOLFO LANDIM
ex-presidente da OGX

DEVO, NÃO NEGO
A inadimplência completa um ano em queda em outubro, na comparação interanual na região metropolitana do Rio e a parcela de financiamentos sobe. Pesquisa da Fecomércio-RJ mostra que 16% das famílias estavam com alguma conta fixa em atraso, abaixo dos 21% em outubro de 2009. Na tomada de financiamentos, em 2009, 51% dos entrevistados pagavam prestações, sendo que 14% deles tinham parcela atrasada. No mesmo mês deste ano, o percentual de famílias comprometidas com financiamentos chegou a 56%, só 9% com atraso.

PODER AQUISITIVO
Os usuários do iPhone, da Apple, gastam mais no cartão de crédito que os donos do Blackberry, Windows Mobile ou Android, segundo levantamento da companhia americana Pageonce.
A fatura média mensal no cartão de quem possui um iPhone é de US$ 6.872, ante US$ 5.693 dos donos do Blackberry.
Os usuários do Android vêm em seguida, com US$ 5.330. A menor despesa registrada é de quem possui o Windows Mobile: US$ 5.076 por mês, em média.
A empresa analisou 275 mil contas selecionadas aleatoriamente de 1º de outubro a 1º de novembro deste ano. Foram consideradas apenas novas compras.

Prefeitura de SP anuncia PPP de R$ 2 bilhões

A Prefeitura de São Paulo anuncia nesta semana o lançamento da maior PPP (Parceria Público-Privada) já firmada pelo órgão.
Em um contrato previsto em mais de R$ 2 bilhões, a Secretaria Municipal da Saúde vai construir hospitais e centros de diagnóstico, além de reformar os existentes.
O edital de licitação deve sair ainda neste ano, após o período de consulta pública.

Nervos de aço O consumo de inox deve aumentar 25% neste ano, segundo estimativa do Núcleo Inox (associação do setor). As vendas do produto devem retomar o patamar de 2008, antes da crise. Em 2015, o consumo de inox pode alcançar 2,5 quilos por habitante.

Toalha de mesa As vendas do segmento de cama, mesa e banho cresceram 5,5% no mês passado sobre setembro. O levantamento é do Sindicato do Comércio Atacadista de Tecidos de São Paulo, que aponta como uma das causas da alta a demanda de final de ano.

MODELO
Jim Collins, especialista em comportamento de grandes corporações, vai dar hoje uma palestra para executivos do Grupo Pão de Açúcar.
O encontro, que terá 300 convidados, é uma extensão da visita feita pelos diretores-executivos do Grupo a Boulder, Colorado, onde participaram de debates, em junho.
Collins foi trazido ao Grupo por Abilio Diniz, após a leitura de seu best-seller. As análises do pesquisador americano têm servido como reflexão a decisões e modelos adotados pelo grupo.

CELSO MING

Não seja competitivo 
Celso Ming 
O Estado de S.Paulo - 09/11/2010

Há uma boa probabilidade de que a reunião de cúpula de chefes de Estado do Grupo dos 20 (G-20), marcada para quinta e sexta-feira, em Seul, Coreia do Sul, não desemboque em lugar nenhum. Em todo o caso, o governo dos Estados Unidos está conseguindo dois sucessos.

O primeiro deles consiste em desviar a enxurrada de queixas pela sua política de desvalorização do dólar executada por meio do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). E o segundo por levar todos os demais a discutir a única proposta que está sobre a mesa, a do secretário do Tesouro americano, Tim Geithner.

As reclamações são de que o despejo de dólares por meio das operações de afrouxamento quantitativo do Fed estão inundando os mercados, valorizando as moedas dos demais países e, assim, tirando competitividade do produto da vizinhança.

A proposta de Geithner leva em conta que, nas suas relações com o resto do mundo, as economias se dividem entre deficitárias (e o campeão do déficit são os Estados Unidos) e superavitárias (entre as quais estão China, Alemanha e Japão). A ideia é a de que os países deficitários reduzam seu rombo com o exterior a alguma coisa em torno dos 4% do PIB e os superavitários se contentem em faturar menos.

Do ponto de vista matemático, está tudo certo quando se procura o equilíbrio: é fazer com que os dois pratos da balança pesem a mesma coisa. Mas a proposta Geithner produz dois efeitos colaterais. O primeiro é tirar as discussões da órbita do câmbio, onde estavam até recentemente, pelo menos em relação com a China, porque não dá para arrancar manobras cambiais da Alemanha, que não tem moeda própria. O segundo é exigir dos parceiros comerciais que abram mão de vantagens comparativas, princípio consagrado em teoria econômica.

"O crescimento das exportações alemãs não está baseado em trapaças no câmbio, mas na crescente competitividade de suas empresas", lembrou ontem à revista Der Spiegel o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble.

Essa forte competitividade da Alemanha de fato não tem truques. Foi obtida com arrocho de salários e aposentadorias e contenção das despesas públicas. Leva uma alta dose de sacrifício e de disciplina. Assim, impor à Alemanha um corte do faturamento com exportações é o mesmo que exigir da loja que mais atrai a clientela que aumente seus custos e seus preços para que o concorrente do outro lado da rua possa voltar a vender.

O problema é que até agora não apareceu proposta melhor. Ainda ontem, a ministra de Finanças da França, Christine Lagarde, fez um apelo para que as autoridades do mundo criem nova moeda internacional de reserva que ocupe o lugar do dólar. Mas isso é o mesmo que propor que chova ou faça sol. Coisas assim não acontecem só porque alguém quer que aconteçam.

O que os chefes de Estado reunidos no G-20 têm de examinar agora é se entram num acordo com o governo americano e deixam que as empresas de lá voltem a exportar e a empregar pessoal ou se preferem que tudo fique como está.

Nesse caso, o Fed continuará olimpicamente no uso de suas prerrogativas. Seguirá inundando os mercados com dólares despejados pelas suas impressoras. E assim empurrará para o resto do mundo a conta do seu ajuste.

Subindo, subindo...
As cotações do ouro ultrapassaram ontem, pela primeira vez, os US$ 1,4 mil por onça-troy. No acumulado do ano, já subiu 28,3%. Apenas nestes seis dias úteis do mês, avançaram 3,5%. Essa forte alta tem a ver com dois fatores: desvalorização do dólar e redução da confiança dos mercados em uma solução para a crise.

Volta do padrão ouro
Também ontem, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, fez a surpreendente proposta de que o sistema monetário internacional volte a adotar o padrão ouro.

O BURACO

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Menos um 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 09/11/2010

A caravana rumo a Seul para a reunião do G-20 terá uma baixa. Lula e Dilma irão sem Celso Amorim. O ministro mudou de planos e vai para Kinshasa, capital do Congo. Tudo para consolidar o desejo de seu chefe que quer ser reconhecido como o que mais aproximou o Brasil da África. O Itamaraty avalia que Lula dobrou o número de embaixadas no continente africano. Hoje são mais de 30.
Entre elas, a da Zâmbia, cujo presidente Rupiah Banda desembarca por aqui no fim do mês.

Foco errado
O clima era de alta pressão para que nada desse errado nesta edição do Enem. Exemplo? A orientação para as mulheres que aplicariam as provas no fim de semana era: não usar salto alto nem roupas que pudessem desviar a atenção dos alunos. Pena que erros nas próprias provas confundiram os candidatos.

Maremoto
Enem na cabeça, Fernando Haddad desistiu de ir a Moçambique, onde iria inaugurar núcleos universitários com Lula. Fica para uma próxima, a conversa em torno de permanência na Educação.

Chicken inn?
Enem para cá e Eminem para lá, o rapper veio dos EUA com sugestão no bolso. Escolheu o Galeto"s para jantar, na sexta, com equipe e seguranças.

Morcegão
Nem só entre comes, bebes e hotéis vive Rogério Fasano. A H. Stern convidou e o moço desenhou relógio de ouro de edição limitada. Detalhe: o mostrador só exibe horas noturnas, entre 19h e 6h.

Filha de peixe
Julie Pacino, filha mais nova de Al, foi vista almoçando no Fasano Rio, antes de embarcar ontem de volta para NY. Veio mostrar seu Abracadabra, um curta que dirigiu, na Mostra de SP.
Papi deu todo apoio mas não faz parte do filme.

Pandeiro e martelo
A Tom Jobim Emesp, a antiga ULM, principal escola de música gratuita do Estado, é tema de audiência pública, hoje, na Assembleia. Alunos, ex-alunos e mestres pretendem reclamar da ideia de cortar 50% dos professores, do fim de cursos noturnos e de mudança pedagógica.
Prometem barulho.


Do peito
Se depender só de Dilma, Angelo Oswaldo de Araújo Santos, prefeito de Ouro Preto, poderá ocupar a cadeira de ministro da Educação. Ele é amigo da presidente e especialista em patrimônio histórico e artístico.

Extreme makeover
O prédio onde hoje funciona a Daslu deverá ser transformado em teatro. Em 2012, quando a loja migrar para o futuro Shopping JK.

Na real
Dona Marisa e Lula estudam se mudar da cobertura de 186 metros quadrados em que vivem há anos em São Bernardo do Campo.

Gelo da fiel
O Corinthians virou marca de... refrigerador. Será lançada, dia 25, edição limitada de 100 peças estilo anos 50, customizada pela Falmec.

Corda toda
Inês Pedrosa e Caetano Veloso debateram sexta, na lotada livraria Travessa do Rio.
Depois, a escritora jantou na casa de Paula Morelenbaum, sua amiga de longa data. E sábado encarou feijoada na... Portela.


Na frente

Quem deu pinta na balada, sábado, foi ... Fernando Meirelles. Com mulher e filhos, o cineasta circulou pelas choperia do Sesc Pompeia no show do Garotas Suecas.

A convite de Deuzeni Goldman, Petrô Stival comanda desfile em prol do Pedalando e Aprendendo. Dia 18, no Palácio Bandeirantes.

Alessandro Giusberti abre mostra hoje. Na Arte André.

A Lacoste comanda festa, hoje. No MuBE.

Íris Abravanel autografa Recados Disfarçados. Dia 16, na Fnac Pinheiros.

Rosangela Lyra e José de Oliveira, do Hotel Fouquet''s Barrière, promovem almoço da Dior. Hoje, no Charlô. Lyra é a nova Conselheira do Turismo Francês no Brasil.

O livro A Portrait of Oscar Wilde sai amanhã. Na AGain, da dupla Gregorio e Attilo.

Feliz com o Ibope da TV Record, Walter Zagari arrisca: D I L M A também é "Dados do Ibope Levantam Minha Audiência"...


Direto de Porto Alegre

Devidamente pautado por sua assessoria, Paul McCartney subiu ao palco do Beira Rio, domingo, com a firme intenção de conquistar o Rio Grande do Sul. Soltou frases e expressões como "eu sou gaúcho" e "trilegal", não sem antes ter tido aula de meia hora com uma professora de português. O estádio veio abaixo.

O primeiro show da turnê do ex-Beatle na América Latina é de Dody Sirena, o eterno e competente empresário de Roberto Carlos e RBS. Os outros dois, que acontecem em São Paulo daqui duas semanas, são de J. Hawilla e Lulu Niemeyer. E os de Buenos Aires, de Fernando Alterio. Ninguém confirma cifras, mas sabe-se que os de São Paulo custaram US$ 5 milhões. Cada. E raro: o show dispensa totalmente efeitos especiais.

Poucos cariocas e muitos paulistas não aguentaram esperar para assistir ao ídolo nos dias 21 e 22 no Morumbi. Aceitaram convite da RBS para seu camarote gigante - mil pessoas. A festa, entretanto, começou sábado, na casa de Lica e Eduardo Sirotsky Melzer. Esperado, o ex-Beatle fez forfait apesar do seu cozinheiro vegetariano estar a postos. McCartney viaja levando absolutamente todos ingredientes que ingere.

O reflexo da alimentação macrobiótica do músico foi visto no palco. Em 24 horas, o artista passou três ensaiando, gastou outra passando o som e cantou durante mais três. Nas quais não foi visto bebendo um gole de água. Por isso, talvez, o inglês se manteve impecável: nem sequer uma gota de suor.

ANCELMO GÓIS

O taco da Dilma 
Ancelmo Góis 
O Globo - 09/11/2010

Dilma, era inevitável, virou tema de marchinha no concurso da Fundição Progresso para o carnaval de 2010. Foi feita pelo aposentado Pedro Lopes, de Vila Valqueire, no Rio.

Diz: “Dilma Rousseff!/Ela é agora/nossa grande chefe!/Nada de pensar que o Brasil/não vai melhorar/Vamos confiar no taco da mulher/Ela vai saber jogar.”

Caro JK...

Maria Estela, filha de JK, recebeu do deputado Carlos Abicalil (PT-MT) uma correspondência endereçada a seu pai — falecido, como se sabe, há 34 anos.

Nela, Abicalil parabeniza JK por uma homenagem no TCU, em Brasília, amanhã, e pede desculpas por não poder ir

Segue...

Foi, com certeza, mancada de um assessor. A filha de JK enviou a Abicalil esta resposta: — Prezado deputado, caso o senhor não saiba, meu pai faleceu dia 22 de agosto de 1976, e a homenagem é recebida por mim e a família com muita honra

Quem vem

A jornalista americana Roxana Saberi, que ficou 100 dias presa no Irã, vem ao Brasil.

Chega dia 18 para lançar seu livro “Entre dois mundos”, sobre os dias no cativeiro, e, dia 26, faz palestra na PUC do Rio

‘Sleeve’ é o cacete

Acredite. Um bar à beira da praia em Fortaleza fez um cardápio bilíngue dos sucos da casa.

Mas, na tradução de suco de manga, está lá: “sleeve juice”! Em português, “sleeve” é manga, mas... de camisa! A boa fruta, no idioma de Obama, é “mango”.

Veloz e furioso

Sábado, na quadra do Salgueiro, um rapaz estava selecionando moças para levá-las a uma festinha privê num hotel com Vin Diesel.

O ator americano, como se sabe, veio ao Rio para filmar “Velozes e furiosos 5”

Beleza real

BEM FEZ A família real portuguesa, quando, entre as belezas do Rio, escolheu para viver justamente o belo cenário da foto. A Quinta da Boa Vista, do Jardim Zoológico e do Museu Nacional, anda especialmente bonita nestes dias ensolarados de primavera. Comprove com as sapucaias floridas em violeta que emolduram o caminho até o palácio onde viveram os monarcas. O parque, projetado por Auguste Glaziou, paisagista francês que veio para o Brasil em meados do século XIX, tem na aleia de sapucaias uma de suas mais apreciadas paisagens. O caminho foi solicitado a Glaziou pelo próprio Imperador Dom Pedro II, contribuindo para a imponência do palácio. Uma beleza carioca

Angelina é fofa

Angelina Jolie, a linda atriz de Hollywood, escreveu, veja só, a apresentação de um livro que o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, está para lançar.

É que a bela é embaixadora da ONU para refugiados, tema do livro.

“O Brasil tem, generosamente, recebido migrantes e refugiados por décadas”, escreveu ela

Cor da calcinha

Pesquisa da Duloren, gigante das calcinhas, mostra que 65% das mulheres quererem usar lingerie vermelha, cor da paixão, no réveillon.

Amarelas (cor do dinheiro) vêm em segundo (25%), e brancas (paz), em terceiro (10%). Minha preferida é a... deixa pra lá.

Se liga, Gabrielli

Um amigo de Guido Mantega diz que ele toparia presidir a Petrobras no governo Dilma.

Aquele abraço

O sucesso de vendas lá fora do guia Michelin do Estado Rio, lançado em inglês e francês, levou a direção da famosa bíblia do turismo no mundo a propor ao governo do estado uma nova publicação.

A Michelin pretende lançar o Guia Rodoviário do Estado do Rio em 2011.

É que...

As vendas das edições do guia nos dois idiomas surpreenderam a Michelin.

Até agora, já foram vendidos 80 mil exemplares nos países de língua inglesa e 40 mil nos de idioma francês. A TurisRio deve lançar uma versão em português ainda este mês.

O defensor

Nilson Bruno Filho, com 369 votos, está em primeiro lugar na lista tríplice para ocupar o cargo de defensor público geral do Estado do Rio.

Se for nomeado, será o primeiro negro no cargo. Pedro Paulo Carriello e Luiz Paulo Carvalho também estão na lista.

Alô, Juca Ferreira!

Continua a novela dos elevadores do Palácio Gustavo Capanema, no Centro do Rio.

Ontem, as rebimbocas não paravam nos andares programados.

Subiam direto para o último andar e desciam também sem parar até o térreo.

Calma, mãe

Duas mães trocaram tapas e puxões de cabelo durante o show do Jonas Brothers, no Maracanãzinho, domingo.

Uma acusou a outra de tapar a visão do filho.

ESTA LINDEZA é Suzana Castelo, atriz de 24 anos, outro presente da minissérie “Clandestinos”, da TV Globo, aos espectadores.

Na trama, a bela é Estela, estudante de medicina que sonha ser especialista em transplante de coração

REGIANE ALVES, a atriz, recebe Adelaide Chiozzo, cantora da Rádio Nacional e estrela do nosso cinema, nos bastidores da peça “A garota do biquíni vermelho”, do nosso coleguinha Artur Xexéo

PONTO FINAL

David Zylbersztajn, ex-ANP, bateu o olho neste souvernir nos EUA com a foto de Bush e a frase que diz: “Sente minha falta?” O boa-praça David comenta: “Veja do que padece o coitado do Obama. É um ímã de geladeira, vendido que nem água nos EUA. Espero que o mesmo não ocorra por aqui”... Faz sentido.

GOSTOSA

MARCO ANTONIO VILLA

O Nordeste saiu de moda
MARCO ANTONIO VILLA
O GLOBO - 09/11/10

Muitos temas ficaram fora da agenda eleitoral deste ano. A discussão sobre o semiárido nordestino certamente foi um deles. Temos o semiárido mais populoso do mundo. A maior parte dos seus habitantes vive próximo da miséria. Seus municípios sobrevivem de duas fontes: a aposentadoria rural e o Bolsa Família, que injetam recursos que são fundamentais para movimentar o comércio.
Não há economia local. A produção de alimentos mal dá para a subsistência.

Os rendimentos de agricultura e pecuária são desprezíveis. Nos oito anos da Presidência Lula nada foi feito na região. E não faltaram instrumentos como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Nordeste, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas ou a Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste.

O Nordeste saiu de moda. E faz tempo. No pré-64 era tema constante em qualquer roda política. Ligas Camponesas, reforma agrária, Sudene eram temas recorrentes. No cinema, música, teatro e literatura, lá estava o Nordeste seco e suas mazelas.

Durante o regime militar a região continuou em pauta. Várias medidas foram adotadas, como os incentivos fiscais. Com a redemocratização, a região foi caindo no esquecimento. E nos últimos tempos desapareceu do debate político nacional. Nem os velhos setores da esquerda falam do sertão. Até o MST centrou suas ações longe de lá.

A Amazônia acabou ocupando o espaço que foi durante décadas do Nordeste. Saiu do noticiário o latifúndio improdutivo e entrou o meio ambiente.

Basta acompanhar as discussões do Congresso Nacional. Vários temas polêmicos envolvem a Amazônia; já o Nordeste ficou esquecido, como se tivessem sido resolvidos, ou, ao menos, encaminhadas as soluções, os seus problemas seculares.

E seus representantes? As velhas oligarquias continuam firmes e fortes.

E ainda ficaram mais poderosas nos últimos 8 anos. Os órgãos e as agências estatais que atuam na região foram entregues aos oligarcas.

São excelentes cabides de empregos e de bons negócios. Fortaleceram ainda mais seus interesses de classe.

Por outro lado, os sertanejos estão abandonados e cada vez mais dependentes dos oligarcas e de seus instrumentos de dominação, especialmente o Bolsa Família. A maioria das cidades do semiárido tem mais de 60% dos seus habitantes recebendo o benefício.

Mal conseguem se alimentar e não têm nenhuma perspectiva de futuro.

Canudos, no Nordeste da Bahia, é um bom exemplo. É conhecida devido à guerra de 1896-1897 e ao maior clássico brasileiro, "Os sertões", de Euclides da Cunha. Hoje, o município tem pouco mais de 15 mil habitantes, dos quais 2.461 famílias são beneficiárias do programa. Ainda cerca de 500 estão cadastradas e aguardam a sua vez: são um excelente instrumento eleitoral com promessas de que irão fazer parte da lista de pagamentos do programa. As famílias já beneficiadas ficam à mercê do dirigente local: permanecem recebendo o benefício se apoiarem o oligarca local. E como cada família sertaneja, em média, não tem menos que cinco pessoas, hoje representam cerca de 12 mil pessoas, cerca de 80% da população.

No município não há nenhum trator, porém tem 473 motos. A dependência dos recursos da União ou do governo estadual é absoluta. Basta ver que o imposto territorial rural recolhe aos cofres municipais pouco menos de 5 mil reais; já do Fundo de Participação dos Municípios recebem 8 milhões. Dos 15 mil habitantes, pouco mais de 600 são assalariados, e o PIB per capita é de 2.700 reais.

Em 2006, no segundo turno da eleição presidencial, Lula obteve 5.768 votos, e Alckmin, 1.621, isto de um total de 7.389 votos válidos. Quatro anos depois, em um universo um pouco maior, de 7.481 votos válidos, Dilma saltou para 6.454, e Serra recebeu apenas 1.027, isto sendo um político muito mais conhecido na cidade, pela atuação no Ministério da Saúde, do que Alckmin. Se nas esferas municipal e estadual mantiveramse os políticos tradicionais, na eleição presidencial o fortalecimento do domínio petista é inconteste.

E o quadro de Canudos repete-se em centenas de municípios do semiárido.

Foi forjada uma sólida aliança entre o petismo federal e as oligarquias, transformando a população da região em celeiro de votos para os candidatos governamentais. Se nos últimos anos os indicadores sociais tiveram leve melhora, a sociedade local continua petrificada. Os mandões locais continuam tão poderosos como antes. O potencial de revolta foi domado pelos programas assistencialistas.

É como se a roda da história não se movesse. E, para piorar o quadro, o Brasil virou as costas para o Nordeste.



MARCO ANTONIO VILLA é historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (SP).

ARNALDO JABOR

Patrulhas ideológicas e patrulhas pop
Arnaldo Jabor 
O Estado de S.Paulo - 09/11/10


Meu filme A Suprema Felicidade está sendo aplaudido em cinemas cheios. Pensei: "Oba! O filme é legal; estão gostando!" Uma espectadora me escreveu: "Saí do cinema lotado de pessoas que aplaudiam. Parecia que uma seca tinha acabado. Os que se falavam depois do filme, brindavam com olhos úmidos e a alma encharcada na alegria da dor comum a todos, serenamente revelada."

Fiquei feliz com o email, mas logo vi que estava errado... Descobri que sou um mero "mané" que se ilude. São outros os que sabem a verdade. Os críticos da Folha e da Vejinha decretaram que o filme não merece nem uma análise; apenas frases de pichação, breves xingamentos. Eles são taxativos e cruéis como ativos militantes de novas patrulhas "contemporâneas": "Ele não é mais cineasta" ou "a narração é que estraga..." ou ainda "muitos temas, sem foco" e ainda "acaba de repente". Só isso?

É. O filme tem críticas ótimas com bonequinho batendo palma no O Globo e quatro estrelas no Estadão, mas, na minha trêmula insegurança, só penso nos quatro que trataram o filme como um objeto descartável, um lixo ridículo. E mais: criticam-me mais que o filme. Por que essa raiva? Por quê? Será que eles estão certos? Será que as 180 mil pessoas que já assistiram ao filme em 13 dias, e que fazem a renda crescer no cinema com um boca a boca fervoroso, são um bando de idiotas?

Resolvi entender isso. Pensei, pensei, não só pela vaidade ferida, claro, mas também para denunciar a estupidez de cadernos culturais que viraram meros releases de produtos de massa. Cresce no País uma cultura da incultura, a profundidade do superficial, a rapidez do julgamento, num mundo feito de fugazes emails, celulares tocando, filmes com imagens que não podem ter mais de quatro segundos, porrada, corrida, sem saída, até sem "roteiro", essa coisa antiga do tempo em que os homens (e não robôs e transformers) se relacionavam.

Está fora de moda um filme para ser visto, refletido, com choro, risos, vida... Cinema agora é para manipular os espectadores, que são o videogame da indústria. O desejo dos produtores é justamente apagar o drama humano dentro de nossas cabeças. A ação na tela é incessante, o conflito é permanente, de modo a impedir o espectador de ver seus conflitos internos.

Acontece, patrulheiros pop, que A Suprema Felicidade foi feito justamente contra essa tendência - quero que os espectadores se sintam dentro do filme e não que sejam levados por porradas, som dolby e homens explodindo.

Eu sei que vocês foram modificados geneticamente por décadas de videoclipes, eu compreendo que vocês achem o Michel Gondry o novo Goddard e que o flash-back foi inventado pelo Tarantino. Imagino vosso tremor na hora da entrevista de emprego, com o diretor do jornal perguntando: "Conhece literatura, política, antropologia?" "Não, senhor..." "OK... Secretário, bota ele na crítica de cinema..."

Há em vocês uma esperteza ambiciosa por trás de tanta brevidade implacável - é duro passar a vida botando bolinha preta no Piranha. O cara precisa criar eventos que o promovam.

Eis que, de repente, aquele sujeito que fala na TV, escreve em 20 jornais, fala no rádio há 15 anos, resolveu fazer seu nono filme.

Vocês gritam: "Vamos quebrar a espinha dele!"

Compreendo que isso dá prestígio; é um upgrading. O sujeito entra na redação de testa alta e lábio trêmulo: "Esculachei a besta do Jabor..!" E é olhado com cálida admiração.

Ato de violência. Aí, percebi que não apenas a patrulha pop pautou seus críticos. Lembrei da devastadora crítica de Eduardo Escorel na revista piauí - (não confundir com Lauro Escorel, o grande artista que fotografou o filme). Lembro mesmo que corri à piauí com a esperança de aprender teoria com o velho autor de remotos filmes, como a história sinistra de um esquartejador e a adaptação dialética do Cavalinho Azul, de Maria Clara Machado. Dele eu esperava opiniões cultas, conspícuas frases sobre Bergman, Fellini. Eu esperava encontrar André Bazin e dei de cara com Andrei Zhdanov, o supremo censor de Joseph Stalin (olhem no Google, meninos...)

Mas, mesmo assim, esquartejado, tentei entendê-lo. E tive a revelação, vi a luz!

Eduardo tinha uma missão política, senhores, iluminista mesmo: ele quis salvar o público das mensagens reacionárias que devo ter embutido no filme. Por isso, ele correu a Alphaville, para ver o filme quentinho, ainda no laboratório. Ele correu antes para avisar o povo: "Não vá!... Fuja do demônio neoliberal que fez um filme de época sem mostrar Getúlio ou a luta de classes."

Ele deve ter zelosamente pensado: "Vou pautar também os jovens tenentes das novas "patrulhas pop", porque eu sou egresso das velhas patrulhas ideológicas descobertas por Cacá Diegues e tenho esta missão."

E conseguiu; parabéns, doce Zhdanov com seu lento sorriso superior. Foi um alívio. A sociedade estava salva.

Mesmo assim eu ainda entendo o homem. Sei que grandes frustrações na vida se compensam por elusivas fantasias de grandeza. Sei que a onipotência não realizada, o narcisismo que parou no meio provocam ódio e entendo que ele tenha buscado, digamos, "profissionalizar" seu rancor. Assim, ele descolou esse "bico" para aliviar sua dor interna. Deve ter pensado: "Boa ideia... serei implacável contra todos que ousam fazer filmes corrompidos pelo sucesso e pelo público enganado."

Confesso que admiro sua integridade de não poupar nem amigos nem parentes.

Mas, aí... esbarrei com a frase: "Jabor sempre pareceu mais um "diletante" que um cineasta profissional." Aí, não. Depois de ter trabalhado 30 anos em cinema, fazendo nove filmes, ouvir isso não dá. "Diletante" é você, cara, que fez dois ou três filmes medíocres que sumiram da história de nosso cinema.

E, no final, outro insulto, quando ele diz que, vendo esse filme, ele não tem mais dúvidas de quem sou eu...

Respondo: Se você pudesse saber quem eu sou, você não seria o que é.

E mais, ridículo censor do trabalho alheio: "A dignidade severa é o último refúgio dos fracassados." É só.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Segura aí
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 09/11/10

Michel Temer ouviu ontem de Dilma Rousseff um apelo veemente contra a PEC 300, cuja votação foi prometida pelo presidente da Câmara aos policiais. Para a petista, a eventual aprovação do piso salarial da categoria teria o efeito de ‘abrir a porteira’, deflagrando onda de pressão para que sejam apreciados outros projetos multiplicadores dos gastos públicos.
O vice tentou contemporizar, mas, diante da inflexibilidade de Dilma, sugeriu que, se a proposta for engavetada, a responsabilidade seja dividida com os partidos da base. Há quem diga que chegou a hora de o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT), em campanha pelo comando da Casa, mostrar a que veio.

Bagagem - Empenhado em continuar ministro da Fazenda no próximo governo, Guido Mantega será um dos poucos privilegiados a desfrutar da companhia de Dilma nesta semana em Seul, durante a reunião do G20.

Daqui... - Em conversa hoje com o presidente do PT, José Eduardo Dutra, o PC do B manifestará o desejo de que Orlando Silva permaneça no Ministério do Esporte. O partido quer ainda manter os atuais postos na ANP (Agência Nacional do Petróleo) e na Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).

...para mais - O PC do B também demonstrará interesse por duas novas frentes: uma na área 
institucional (Defesa ou Assuntos Estratégicos), cujos candidatos seriam Aldo Rebelo ou Flávio Dino, e outra ligada a movimentos sociais, como as secretarias de Mulheres, Juventude ou Igualdade Racial. Neste caso, o nome sugerido será o de Manuela D’Ávila.

Mapa do poder - Du­rante a transição, caberá a Dilma a sala que foi de Lula no CCBB. A dúvida é quem ocupará o gabinete que já foi dela ali, quando ministra da Casa Civil. As apostas ontem recaíam sobre Michel Temer.

Bye, bye - Desde agosto, Lula recebeu 372 cartas e 933 e-mails de despedida.

Amigos, amigos... - A ideia de instalar Aécio Neves na presidência do Senado, jogada no ventilador pelo PSB, tem chance zero de vingar. O tucano sabe disso, daí ter vindo a público dizer que não postulará o cargo.

...negócios à parte - A despeito do bom relacionamento com Aécio, o PMDB não considera a hipótese de abrir mão dessa cadeira. Tampouco existem outras forças suficientemente interessadas em questionar o direito do partido, dono da maior bancada da Casa.

Trunfo - Incomodado com a movimentação de Bruno Covas (PSDB) na disputa pela presidência da Assembleia, o tucano Barros Munhoz será premiado com efêmera, mas oportuna passagem pelo Bandeirantes. Primeiro na linha sucessória de Alberto Goldman, ele substituirá o governador a partir de quinta, quando o titular viaja ao Japão. Fica até o dia 18.

Batismo - Recordista de votos em SP, Covas será o relator do Orçamento de 2011. Caberá a ele construir a ponte entre as demandas apresentadas pela equipe de transição de Geraldo Alckmin e a peça enviada por Goldman.

No páreo - Barros Munhoz conta com a simpatia de lideranças de partidos da futura base alckmista, e pesa a seu favor o trânsito com as lideranças da oposição. O adversário tem a preferência do grupo do governador eleito.

Tiroteio
É impressionante como Fernando Haddad se mantém no cargo após tantas trapalhadas. Vão esperar mais uma para reprová-lo?
DO DEPUTADO FEDERAL LUIZ CARLOS HAULY (PSDB-PR), sobre os erros que resultaram na anulação judicial, em caráter liminar, do Exame Nacional do Ensino Médio, aplicado no final de semana a 4,6 milhões de estudantes.

Contraponto

Datapovo

Geraldo Alckmin caminhava pelo centro paulistano na reta final da campanha do segundo turno. Ao lado de dirigentes do PSDB, era cumprimentado por eleitores. Muitos afirmavam ter votado no tucano, que venceu no primeiro turno com 50,2% dos votos válidos.
Impressionado com a recepção calorosa, o governador eleito olhou para um dos correligionários que o acompanhavam e brincou:
- Estou quase pedindo recontagem de votos. Pela amostra aqui, devo ter chegado a 70%...

O MUNDO SEM HUMANOS

JOSÉ SIMÃO

Enem! Eu Não Estudo Mais!

JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 09/11/10


O Enem com gabarito invertido foi ideia do Silvio Santos, para premiar mais e menos pontos



BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
E a Dilma? Comentário machista do dia: com uma mulher na Presidência, o Brasil ou vai pra frente ou vai pra trás!
Porque ESTACIONAR a gente sabe que não vai conseguir. Rarará!
Na próxima eleição vai ter teste de baliza! Rarará!
E o Enem? Enem quer dizer Eu Não Estudo Mais! ENEM EU! Rarará! E MEC agora quer dizer Melhor Estudar em Casa! O MEC devia abrir um MecDonalds!
E a manchete do Sensacionalista: "Enem com gabarito invertido foi ideia do SILVIO SANTOS". Para premiar mais e menos pontos.
E o Seu Silvio ainda formulou uma questão fundamental pro Enem: "Se a pipa do vovô não sobe mais a dois metros de altura e ele estiver em dia com o carnê do Baú, que números ele precisa obter no Pião da Casa Própria para morar num condomínio fechado em Miami?". Rarará!
E um amigo meu foi pro Salão do Automóvel e só viu carrão e gostosa, carrão e gostosa.
E chegou a conclusão: eu tô a pé tanto de carro como de mulher. Rarará.
Por isso que tem aquele motel em Fortaleza: Aceito casais a pé. Rarará!
E Interlagos? Com a dupla de brasileiros: Felipe Amassa e Rubinho Barriquebra!
E o Rubinho? O nosso anti-herói! Consegue façanhas inacreditáveis: bate, queima, quebra, roda, quase mata o Massa com uma mola na cabeça e agora fura o pneu.
O Rubinho fura pneu até de trem. Se fosse corrida de trem, ele furava o pneu!
E se fosse corrida de roda gigante, ele furava o pneu da roda! Despencava todo mundo! Rarará!
E essa do Maluf: "Maluf rouba a cena em Interlagos". Só a cena? Se tivessem revistado direito iriam encontrar quatro pneus e cinco capacetes! Rarará!
E essa: "Faturamento da indústria é o maior da história". Pra desespero da Miriam Leitão. Ops, Miriam Porcão! Rarará!
Nóis sofre mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

ALDO FORNAZIERI

Principal desafio de Dilma é político
Aldo Fornazieri 
O Estado de S.Paulo - 09/11/10


Dilma Rousseff, certamente, terá de enfrentar importantes pontos da agenda econômica no início do seu governo: ajuste fiscal, valorização cambial, aumento do investimento público, principalmente em infraestrutura, alta taxa de juros, controle da inflação, redução da dívida pública, e assim por diante. Mas são problemas em relação aos quais existem estoques de saberes armazenados, técnicas e capacitações humanas disponíveis no âmbito das forças governistas, suficientes para enfrentá-los de forma adequada.

Muitos temem o aumento do viés estatizante no governo Dilma. Um maior protagonismo do Estado na economia, hoje, não é bem um problema de escolha, mas de necessidade, em decorrência da crise de 2008. De qualquer forma, Dilma e os petistas aprenderam o caminho das pedras da economia e ninguém cometerá excessos a la Hugo Chávez. O governo Dilma não deverá ser mais estatizante do que o governo Lula.

O maior desafio de Dilma, nesses termos, situa-se no terreno político. As próprias reformas (tributária, política, previdenciária e trabalhista) dependem da capacidade de direção política. O primeiro ponto que Dilma terá de enfrentar consiste em fugir à regra dos governantes que chegam ao poder pela força alheia: o fracasso. Maquiavel e a História nos ensinaram que governantes que ascendem ao poder não pela força política própria, mas pela força de outros, tendem ao fracasso. Sem comparar personalidades, basta citar alguns exemplos recentes: Cristina Kirchner, Celso Pitta, Luiz Antônio Fleury Filho e George W. Bush. Todos eles venceram pela força política de predecessores e fracassaram em seu mandato ou em sua carreira.

Dilma terá de buscar a exceção. Tendo desenvolvido uma carreira gerencial e administrativa, é como se ela, agora, tivesse de constituir sua personalidade política. Ao vencer as eleições, já percorreu a metade desse caminho. A outra metade terá de percorrê-la no exercício da Presidência e, registre-se, essa será a parte mais difícil.

É preciso notar que existe uma diferença essencial entre ser um bom gerente e ser um bom líder político. Um bom gerente precisa saber coordenar processos e pessoas para atingir metas com eficácia. O principal requisito é que domine métodos e técnicas de gestão. A principal qualidade que se exige do líder político é a de saber comandar, dirigir pessoas, povos, multidões. Deve saber decidir de acordo com a variabilidade das coisas e dos tempos. Deve ser prudente a ponto de se antecipar aos problemas futuros e ousado para enfrentá-los. No âmbito das democracias, o líder político sempre lidará com conflitos. Terá êxito se souber agregar forças e satisfazer as maiorias. O bom líder político deve saber também escolher e valer-se de bons gerentes e administradores.

Há, contudo, a favor de Dilma alguns pontos importantes. Ela não é, simplesmente, uma herdeira parental ou pessoal de Lula. O presidente escolheu-a como candidata não por mero capricho personalista e autoritário. Lula precisava arbitrar a escolha do candidato para evitar que o PT se engalfinhasse numa luta interna fragmentadora, que poderia debilitar o partido na disputa. Dilma também não é uma outsider na política que simplesmente aproveitou a oportunidade que a sorte lhe oferecia. Sem planejar disputar a Presidência da República, mas treinada nos padrões organizativos da antiga esquerda, recebeu do presidente Lula a tarefa de disputar as eleições não como uma dotação do acaso ou da fortuna, mas como uma missão. Desempenhar bem as missões partidárias e políticas faz parte do ethos da formação militante de base em que Dilma se iniciou politicamente. Essa formação, nos momentos de desafios, constitui enorme vantagem em relação a políticos que desenvolveram carreiras meramente individuais.

Dilma foi eleita com a força da liderança política de Lula - liderança no sentido forte do termo - e este é o segundo problema político a ser revolvido. Se Lula fizer sombra a Dilma, estará minando o processo de construção de sua personalidade política como líder e presidente da República. Ao que tudo indica, esse não é um risco considerável, pois Lula é suficientemente sagaz e sabe que não pode projetar poder sobre sua sucessora. Lula deve socorrer Dilma somente em caso de última necessidade e Dilma deve bater à porta de Lula no limite estrito do necessário. Nestes termos, Dilma será a presidente real, legitimada democraticamente pelas urnas. A democracia brasileira atingiu um grau elevado de institucionalização, que não permite arranjos paralelos de comandos coletivos ou de unipresença de personalidades externas às funções constitucionais. Se Lula não foi bonapartista nem mesmo em seu próprio governo, por que haveria de sê-lo agora?

O terceiro problema diz respeito ao perfil do Ministério. O recomendável é que nenhum ministro tenha status de superministro. Tal circunstância, além de gerar disputas indesejadas entre ministros, enfraqueceria a figura da presidente. Para preservar sua autoridade Dilma deve decidir e dar a última palavra sobre as principais questões de governo.

Por fim, o maior risco político que Dilma deve evitar é o do impeachment. Presidentes com escassa força política própria são sempre mais suscetíveis de enfrentar investidas seja de forças da oposição, seja até mesmo de forças aliadas, desejosas de mais espaço e poder. Na crise do mensalão, a oposição, em grande medida, não propôs o impeachment do presidente Lula por causa do seu forte respaldo popular. Levando em conta que 44% dos eleitores votaram na oposição, Dilma deve fazer um esforço para ampliar o apoio da população. O esforço maior, contudo, deve consistir em impedir que o seu governo resvale para escândalos de corrupção. É neles que reside o maior potencial de erosão da legitimidade democrática.

DIRETOR ACADÊMICO DA FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO (FESPSP)

GOSTOSA

RUBENS BARBOSA

E agora, PSDB?
Rubens Barbosa 
O Estado de S.Paulo - 09/11/10


Na época em que servi como embaixador em Londres pude acompanhar de perto os últimos anos do período conservador de Margaret Thatcher/John Major e a gradual reformulação do Partido Trabalhista para voltar a brigar pelo poder. A vitória trabalhista em 1997 fez os conservadores amargarem 13 anos de oposição. O recente final melancólico dos governos de Tony Blair e Gordon Brown mostrou o Partido Trabalhista dilacerado pela disputa de poder entre seus dois principais líderes, que, juntamente com poderoso ex-ministro Peter Mandelson, haviam transformado uma máquina partidária pesada e ultrapassada num novo Partido Trabalhista, moderno e ajustado ao seu tempo.

Recordo esse episódio da história política britânica pela semelhança da situação no Brasil depois da eleição na semana passada.

O PSDB - que emerge das urnas como o principal partido de oposição - está diante de um dilema: ou é refundado, ou tenderá a perder relevância na cena política nacional, até mesmo pela possibilidade de criação de um novo partido, que dividiria ainda mais a oposição. A refundação do PSDB passa pela definição de sua estratégia de médio e de longo prazos. A falta de estruturação de suas bases e de seus quadros para a formação de militância, consequência de uma organização partidária deficiente, demandará liderança e recursos para ser corrigida.

A inexistência de uma oposição crítica, que fiscalizasse as ações do governo e cobrasse os equívocos éticos e políticos, foi um dos fatores mais importantes para o alto nível de popularidade do presidente Lula, decisivo na eleição da candidata do PT. A simples oposição praticada no Congresso Nacional não teve repercussão pública e o resultado da eleição veio provar a atitude equivocada do PSDB em relação ao governo.

Para enfrentar a profunda transformação na vida política brasileira - com a emergência de uma crescente classe média, que quis preservar seus ganhos, mas tem expectativas ampliadas - o PSDB deverá ter uma visão clara de sua plataforma e de seu ideário e, a partir destes, tentar ganhar o apoio das ruas do Brasil inteiro, e não apenas de São Paulo e dos grandes centros. A reformulação passa também pela renovação das suas lideranças nos quatro cantos do País. O PSDB tem uma história, partidária e de governo, que deve ser contada e valorizada (e não escondida). E tem também uma luta de oposição que precisa ser agora retomada. O partido terá tempo para ampliar os seus quadros, definir o que queremos para o Brasil nas próximas décadas e buscar clareza nas suas posições em relação ao novo governo.

Como diria o conselheiro Acácio, a oposição deve fazer oposição, com o objetivo de alcançar o poder. O óbvio nem sempre é evidente, como se viu nos últimos oito anos. O ideal olímpico não se aplica à política. O importante não é apenas competir. O essencial é ter condições reais de se apresentar como alternativa para disputar o poder.

A oposição - por meio dos partidos, e não apenas de suas lideranças individuais - tem de se organizar para ser efetiva, apoiando as iniciativas consideradas adequadas e criticando as que forem percebidas como contrárias ao interesse nacional. Mais do que nunca, é necessária uma oposição coesa para fortalecer a democracia, as instituições e os direitos de cidadania.

O pronunciamento inicial da presidente eleita foi positivo quando assinalou compromissos democráticos e de avanços sociais e políticos pela via da negociação pluripartidária. Seu gesto de estender a mão à oposição deveria ser respondido, até para testar a efetiva vontade de negociação. Colocando os interesses do Brasil acima das divergências pessoais e partidárias, o PSDB deveria aceitar esse desafio e propor ao novo governo, em seu primeiro ato de oposição, uma agenda mínima, que vem sendo adiada há mais de 15 anos, para ser aprovada nos primeiros cem dias de governo. Não se trata de adesão nem de manobra oportunista. Cada partido manterá sua independência, mas haveria uma trégua, com prazo definido, para a obtenção do entendimento para aprovação de matérias de efetivo interesse do País.

Com a perspectiva de 16 anos na oposição, com Dilma ou com Lula eventualmente de volta, o fantasma do controle absoluto do Estado por um partido é uma grave ameaça. As primeiras medidas a serem anunciadas pelo novo governo indicarão se algumas propostas controvertidas e divisivas do programa do PT serão ou não postas em marcha. Se efetivadas, aí, então, justificar-se-ia a abertura de trincheiras.

A inexistência, nos últimos oito anos, de uma estratégia coerente de oposição aconselha a adoção de uma inovação na política brasileira. Emprestando do sistema inglês uma prática que pode tornar o debate civilizado e bem fundamentado, o PSDB deveria acompanhar de perto as ações do governo federal. A partir de janeiro de 2011, deveria ser instituído o sistema de "shadow cabinet", isto é, um governo informal paralelo que fiscalizaria os atos mais importantes do futuro governo em alguns setores, como economia, políticas sociais, meio ambiente, direitos humanos, agricultura, comércio exterior e política externa. Não se trata de fazer oposição a tudo com base em preconceito ideológico, mas acompanhar no dia a dia as medidas do novo governo para poder manifestar-se, em bases técnicas, sobre sua viabilidade e sua oportunidade, a começar pela proposta de volta da CPMF.

Como resultado dos sucessos dos dois últimos governos, o Brasil terá de enfrentar, nos próximos anos, novos desafios internos e externos. Os eleitores definiram quem vai responder às demandas globais, regionais e nacionais. O governo e a oposição têm a responsabilidade de oferecer condições para que o País possa afirmar-se como uma das mais pujantes e competitivas economias globais.

FOI EMBAIXADOR EM LONDRES (1994-1999) E EM WASHINGTON (1999-2004)

CLÁUDIO HUMBERTO

“Não postulo, não articulo, não serei presidente do Senado”
SENADOR ELEITO AÉCIO NEVES (PSDB-MG) FORA DA DISPUTA PELA SUCESSÃO DE JOSÉ SARNEY

DILMA AUMENTA SUA EQUIPE E SE AFASTA DA TUTELA 
A presidente eleita Dilma Rousseff ampliou o grupo que a assessora na transição, convidando para integrá-lo os atuais ministros Paulo Bernardo e Alexandre Padilha. Na prática, ela desautorizou o trio que a assessorou na campanha: Antônio Palocci, José Eduardo Dutra e José Eduardo Cardozo queriam “fechar a porteira”. A decisão foi recebida no Planalto como uma declaração de que Dilma não aceitará ser tutelada.

CANDIDATO A TUTOR 
Na campanha, sobretudo diante de jornalistas, Palocci fazia questão de mostrar “ascendência” sobre Dilma. Ela também percebeu isso.

AVISO À PRAÇA 
Assessor próximo de Dilma afirma que a presidente só deve lealdade a Lula: “Ela é quem decidirá com quem e como vai governar”.

CONTRAINFORMAÇÃO 
Herr Franklin Martins, o ministro da Propaganda, garantiu ontem que “a imprensa deve ser livre”. Preso mesmo, talvez só o jornalista. 

BONEQUINHAS DE LUXO 
Se Dilma levar mesmo todas as mulheres da família para o Palácio Alvorada, não teremos presidente, mas matrioshka. 

NO DEM, SÓ O ‘PASSE’ DE KASSAB ATRAI O PMDB 
As negociações envolvendo a fusão do DEM ao PMDB, reveladas com exclusividade nesta coluna, esbarram na resistência de grande parte dos democratas, que não suportam a ideia de compor a base de apoio ao governo do PT, e do próprio PMDB, que se interessa apenas pelo “passe” do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM). Apesar disso, o PMDB-SP é um dos principais focos de resistência à fusão.

VELA ACESA 
Mais por fora do que o DEM das urnas, o deputado Ronaldo Caiado (GO) descarta fusão com PSDB ou PMDB: “Somos o fiel da balança.”

PERGUNTA SEM REMÉDIO 
Será que na inauguração da fábrica de medicamentos, os angolanos tiveram de aturar de Lula o “nunca antes na história de Moçambique”? 

SOFÁ CENSURADO 
O MEC tirou o sofá da sala de aula, ameaçando processar o repórter do Jornal do Commercio, do Recife, por “furar” a segurança do Enem.

ELES MERECEM 
Vacina contra meningite e remédios são raridade nos hospitais públicos de Brasília. Mas o Haiti está bem servido: a ilha já recebeu do Brasil os US$ 2 milhões em medicamentos contra o cólera e médicos. 

ISOLANDO 
O PSB Numa reação tipo “pagando pra ver”, raposas políticas do PMDB devem convidar o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente do PSB, para “discutir a proposta” do cearense Cid Gomes de apoiar o tucano Aécio Neves para a presidência do Senado.

GUERRA DO LIXO 
Três homens foram presos com um caminhão da Prefeitura de São Paulo (administrada pelo DEM) descarregando lixo em Guarulhos (prefeitura do PT). O crime é inafiançável, dá cadeia de até cinco anos.

ENERGIA NA ANTENA 
Irritada com o oitavo apagão em seis horas, uma cliente ligou para a CEB (Cia Energética de Brasília), a pior do País. Perguntaram-lhe: “Está nublado aí?” Ela respondeu: “Energia agora chega por satélite?”

INEP REPROVADO 
Usando como fonte o livro “1808”, de Laurentino Gomes, a prova do Enem trocou 1808 por 1810 ao citar a data da abertura dos portos, no Brasil. O erro não é do autor, mas dos incompetentes do Inep, o Instituto de Pesquisas do MEC, responsável pela elaboração da prova.

PROVA DOS NOVE 
Teste do Enem para 2011: marque com um x a resposta correta – a) a gente somos inútil; b) a gente não aprendemos a fazer teste; c) a gente precisamos demitir o Inep; d) a gente ignoramos a resposta: e) todas. 

BANCO NO TELHADO... 
Subiu no telhado o credenciamento do BMG para crédito consignado do funcionalismo do Paraná. O governo anterior propôs R$ 3 milhões – credenciando o Cruzeiro do Sul e outro por R$ 1 milhão cada. 

...E SINAL DE FUMAÇA 
O governador tucano Beto Richa “melou” o negócio, ligando para o ex- vice de Serra, Índio da Costa, primo do dono do Cruzeiro do Sul, para acionar o Ministério Público. O ex-governador Pessutti está “queimado”. 

PENSANDO BEM... 
...Lula deve estar Tiririca com o MEC. 

PODER SEM PUDOR 
CACIQUE RECIFENSE 
Fundador do PMDB, Liberato Costa Júnior cumpria o sexto mandato na Câmara Municipal do Recife quando foi chamado ao Palácio do Campo da Princesas pelo amigo e governador Miguel Arraes, que decidira lançar-se candidato a deputado federal e tinha a perspectiva de eleger (como elegeu) seis candidatos com a sobra dos seus votos. 
– Liberato, você pode ser o representante de nosso grupo na região metropolitana. 
Liberato não se impressionou:
– Arraes, Brasília é muito longe. Lá, ninguém me conhece. Além disso eu gosto de almoçar em casa todos os dias. 
Aos 86 anos, o Velho Liba se elegeria vereador para o 10º mandato no Recife.

BRAZIU: O PUTEIRO

TERÇA NOS JORNAIS

Globo: Juíza suspende Enem, mas o MEC não anula as provas

Folha: Justiça Federal suspende Enem

Estadão: Justiça decide suspender Enem, e MEC admite erros

JB: Maconha com crack se alastra no Rio

Correio: Justiça dá nota zero para o Enem

Valor: G-20 quer 'alarme' antidesequilíbrios

Estado de Minas: Enem vira alvo de batalha judicial

Jornal do Commercio: MEC briga na Justiça para manter o Enem

Zero Hora: Suspensão do Enem aumenta a pressão para refazer exame