segunda-feira, setembro 27, 2010

REVISTA VEJA - O triângulo da corrupção


O triângulo da corrupção
REVISTA VEJA

Investigações mostram as ligações dos governadores do Tocantins, do Amapá e de Mato Grosso do Sul com quadrilhas acusadas de desviar fortunas dos cofres públicos. Ainda assim, os três mantém suas candidaturas à reeleição

Marcelo Sperandio, Júlia de Medeiros e André Vargas
Carlos Henrique Gaguim, governador do Tocantins
O governador Gaguim: no alvo das suspeitas
A edição de VEJA desta semana traz uma reportagem sobre a corrupção no Tocantins. O governador Carlos Gaguim mobilizou 30 policiais militares, armados com fuzis, para tentar impedir, na madrugada de sábado, a distribuição da revista no estado. A ordem era para apreender a revista no aeroporto. Não havia decisão judicial nenhuma autorizando a operação. Leia aqui, na íntegra, a reportagem que o governador queria impedir que chegasse às bancas
Nos anos 90, corria um boato — jamais provado — de que o entourage do então presidente Fernando Collor havia feito uma festa para comemorar o primeiro bilhão de dólares arrecadado pelos esquemas de corrupção de seu governo. Bilhão era, então, uma cifra factível apenas para peixes gordos, desses que habitam o 3º andar do Palácio do Planalto e adjacências. Vinte anos depois, bilhão virou meta de faturamento de chefetes de máfias regionais, como as que desfalcaram os cofres públicos nos estados mais novos da federação — Tocantins, Mato Grosso do Sul e Amapá. Nos três casos, as autoridades obtiveram provas de que a corrupa ocorria com a participação ou conivência dos respectivos governadores, todos candidatos à reeleição. “O governador (do Tocantins, Carlos Gaguim, do PMDB) disse que vamos fazer 1 bilhão de real”, relata o lobista Maurício Manduca, em conversa telefônica captada pela Polícia Federal. O português sofrível denota o nível do tal Manduca, que representava na Região Norte o empresário José Carlos Cepera. Proprietário de seis empresas de limpeza e segurança registradas em nome de laranjas, Cepera contava com a boa vontade de autoridades para vencer licitações superfaturadas no Tocantins — e também nas cidades paulistas de Campinas, Hortolândia, Mauá e Indaiatuba.
 Para os petistas, imprensa ideal é só aquela que elogia

O Ministério Público paulista descobriu que o grupo operava o esquema desde 2004, pelo menos. Segundo os promotores, o bando amealhou contratos fraudulentos com órgãos públicos que somam, no total, 615 milhões de reais. Uma única licitação, lançada pela Secretaria de Educação do Tocantins, responde por mais da metade do total: 332 milhões de reais. Os indícios de superfaturamento eram tão gritantes que logo foi alvo de questionamentos do Tribunal de Contas do Tocantins. Nem por isso Manduca, Cepera e o governador Gaguim deixaram de festejar a bandalha. Em 13 de março último, Cepera pagou um fim de semana cinco-estrelas para a turma em São Paulo. O empresário gastou 19 800 reais para comprar um camarote para sua patota assistir à corrida da Fórmula Indy na capital paulista. Hospedou Gaguim no luxuoso Unique Hotel, ofereceu-lhe um churrasco e deixou um helicóptero à sua disposição. Preocupou-se até em evitar que Gaguim, que deve seu nome ao fato de tartamudear, padecesse da solidão do homem contemporâneo na metrópole fria e impessoal. Mandou-lhe uma moça que se apresenta como Delinda e que, pouco antes, tinha feito uma visitinha a Manduca — que, pelo jeito, provou, aprovou, antes de passar adiante. No dia seguinte, Cepera telefonou a Gaguim para saber se ele tinha gostado do fim de semana. “A carne que o Manduca ofereceu estava boa ou ‘meia’ dura?”, indagou Cepera. Gaguim não titubeou: “Show de bola!”.
O governador merecia tantos mimos porque, segundo o lobista Manduca, havia prometido difundir o esquema de corrupção de Cepera por Tocantins inteiro. Para isso, eles precisavam, no entanto, terceirizar os serviços públicos do estado, hoje executados por 22 000 funcionários admitidos sem concurso. A brecha que permitiria o golpe foi aberta inadvertidamente pelo tucano Siqueira Campos, com quem Gaguim disputa a eleição estadual. Ao suspeitar de que essa massa de servidores iria fazer campanha para Gaguim, o candidato do PSDB fez uma consulta ao Supremo Tribunal Federal sobre a legalidade da manutenção deles. Gaguim, na verdade, esperava que a corte determinasse a demissão de todos, o que levaria seu governo a terceirizar os serviços em regime de urgência. Os promotores paulistas que iniciaram a investigação, por causa de Cepera, descobriram que o plano fracassou porque a ministra Cármen Lúcia, relatora do caso no Supremo, decidiu dar uma chance aos servidores: no próximo ano, o estado realizará concursos para admiti-los.
A investigação dos promotores paulistas é apenas um dos problemas de Gaguim. O prefeito do município de Fortaleza do Tabocão, João Tabocão, diz que enviados do governador quiseram comprar seu apoio político por 300 000 reais. Em junho, Gaguim protagonizou, ainda, um episódio que configura compra de votos: distribuiu a eleitores 3 000 bicicletas. Todas são vermelhas, a cor da sua campanha e das camisas que ele usa. Há dois meses, antes de toda a avacalhação vir à tona, durante um encontro com fiéis evangélicos, o governador fez um mea-culpa que despertou curiosidade: “Sei o pecado que estou cometendo. Sou um desviado. Se o mundo acabasse hoje, eu iria para o inferno”. Resta saber se o governador será condenado nas urnas ou só no Juízo Final.

“Eu não consigo gastar 20 milhões de dólares” - Desbaratado pela Polícia Federal em 10 de setembro, o esquema de corrupção que tomou conta do Amapá foi inteiramente revelado na semana pas sada. Um dos elementos centrais da quadrilha, o governador Pedro Paulo Dias (PP), foi movido pela ganância... e pelo amor, e pela luxúria. Dias, que é casado, nutre uma paixão clandestina de dimensões amazônicas pela loira (falsa, claro) Lívia Bruna Gato, sua secretária de 27 anos. Dos telefonemas trocados por Dias e sua amante, gravados pela Polícia Federal, sobressaem detalhes do esquema de corrupção que envolvia também seu antecessor Waldez Góes (PDT), a ex-primeira-dama Marília Góes, o presidente do Tribunal de Contas do Amapá, José Júlio de Miranda, e outras treze pessoas. Juntos, eles surrupiaram 300 milhões de reais dos cofres públicos. O esquema começou a ser desvendado em agosto de 2009. Então, a Polícia Federal se debruçou sobre uma licitação da Secretaria de Educação para contratar por emergência uma empresa de segurança chamada Amapá Vip. A Polícia Federal entrou no caso porque a Amapá Vip foi paga com recursos da União. Descobriu-se que o governador Waldez Góes, hoje candidato ao Senado, recebia 500 000 reais mensais do contratado para fornecer refeições aos presídios. Também aquinhoado, o presidente do Tribunal de Contas comprou um jatinho, uma Ferrari, uma Maserati e outros três carros de luxo.
O governador Pedro Paulo pretendia, ainda, cobrar 30 milhões de dólares de um grupo indonésio chamado Salim, interessado em investir no estado na agricultura. Em troca, concederia benefícios aos asiáticos. Em um telefonema concupiscente disparado de Jacarta, onde foi negociar a propina, o político apaixonado relata o caso a Lívia Bruna: “Amor, 30 milhões de dólares para esses caras é nada. Por mais que eu gaste uma fortuna, eu não consigo gastar 20 milhões de dólares. Tu tá entendendo?”. Depois, passa a tratar de assuntos mais relevantes. “Minha vida, sabe o que eu quero levar para ti, do fundo do meu coração? Um óculos. Agora eu queria comprar um para ti, um da Armani. Deixa eu comprar?”, derrama-se o governador. Sua amante, que também foi presa, tinha papel essencial no desvio de verbas públicas. Participava das fraudes e era responsável pelo recebimento de propina. É a paixão, é o amor, é a luxúria.

A Máfia de Paletó - Por último, Mato Grosso do Sul. No início do mês, a Polícia Federal desarmou um esquema de corrupção que envolvia praticamente todas as autoridades de Dourados, a segunda maior cidade do estado. No dia 1º, foram presos o prefeito Ari Artuzi, seu vice, Carlos Cantor, onze dos doze vereadores e outros cinquenta políticos, servidores públicos e empresários. Com o desenrolar das investigações, autoridades do governo estadual e da Assembleia Legislativa sul-mato-grossense foram pegas no escândalo. Na semana passada, o caso também engolfou o governador André Puccinelli (PMDB) e seu antecessor e adversário Zeca do PT, que disputam o governo estadual. Os nomes de Puccinelli e Zeca do PT apareceram em uma conversa do deputado estadual Ary Rigo (PSDB) com o principal denunciante da quadrilha, o ex-secretário de Governo de Dourados Eleandro Passaia. Na conversa, registrada em vídeo, Rigo conta que tanto Puccinelli quanto Zeca eram beneficiados por empreiteiras. Na gravação, Rigo diz ainda que Puccinelli se apropriou de 6 milhões de reais da Assembleia Legislativa. Segundo o deputado tucano, os desembargadores e promotores também recebiam propina. Os magistrados recebiam 900.000 reais, e os promotores, 300 000 reais. Rigo não esclarece a periodicidade dos pagamentos. Zeca do PT negou qualquer participação. Puccinelli veio a público para dizer que tudo era mentira, que a lei o amparava etc.
Eleandro Passaia decidiu implodir a quadrilha depois de ser abordado pela Polícia Federal. Para não ser preso e evitar responder a um processo criminal, ele fez um acordo de delação premiada com o Ministério Público estadual. Por quatro meses, não só coletou provas da corrupção na sua cidade e no estado como filmou os envolvidos no esquema com uma microcâmera fornecida pela Polícia Federal. Os documentos e as conversas registradas por Passaia mostram, por exemplo, que sua quadrilha abocanhava 10% de todos os contratos firmados pela prefeitura de Dourados, o que produzia uma receita mensal de 500.000 reais. O prefeito Artuzi ficava com a parte do leão e distribuía o restante entre os demais envolvidos. Uma vez fora do esquema, o delator Passaia arranjou outra forma de ganhar dinheiro: escreveu um livro relatando as podridões de seu bando, cujo título é A Máfia de Paletó. O amigo da onça descreve somente as fraudes cometidas na região do Pantanal.

MARCO ANTONIO ROCHA


Como foi mesmo esse maior negócio do mundo?
Marco Antonio Rocha
O Estado de S. Paulo - 27/09/2010

Tendo o presidente Lula proclamado que a capitalização da Petrobrás foi "o maior negócio da história do capitalismo mundial", é obrigatório que a gente se debruce sobre o assunto. Ele deve saber o que diz, pois, como ex-sindicalista, conhece profundamente a história do capitalismo, apesar de sabermos da sua conhecida tendência de hiperdimensionar quase tudo o que ocorre no seu governo e subdimensionar quase tudo o que ocorreu nos governos dos outros - desde a invenção da República moderna.

É necessário, por isso, ir atrás de detalhes de acontecimento tão importante para a maioria dos brasileiros, principalmente para os que são, ou pretendem ser, acionistas da "segunda maior petroleira do mundo", conforme trombetearam jornais com base nos R$ 120 bilhões alegadamente arrecadados na oferta de ações da gigantesca financiadora da propaganda de si mesma e do governo nos canais de televisão, nas rádios e na imprensa em geral. Aliás, é sempre oportuno lembrar que, se a Petrobrás reduzisse um pouco esses gastos não tão necessários - uma vez que não tem nenhum competidor no Brasil -, talvez pudesse vender um pouco mais barato seus combustíveis e insumos, em benefício do conjunto da economia. Mas esse é um tema para outra ocasião.

No momento o grande esforço de qualquer jornalista deve ser no sentido de explicar em linguagem inteligível a formidável capitalização da Petrobrás.

É o seguinte: dos R$ 120 bilhões, um pouco mais de R$ 74 bilhões vieram, ou virão, do setor público (Tesouro, BNDES, Caixa, Banco do Brasil, fundos de pensão de funcionários, etc.). O restante, que de fato representa dinheiro em caixa, sai do setor privado (nacional ou estrangeiro, bancos, fundos, empresas, pessoas físicas, etc.).

Aqueles R$ 74 bilhões do setor público equivalem à "cessão onerosa de 5 bilhões de barris de petróleo" que a União, maior acionista da Petrobrás, detém como dona de uma parcela do petróleo descoberto pela empresa, no pré-sal ou fora dele. Então, a União como que empresta para a Petrobrás os 5 bilhões de barris da sua parte no petróleo, que passam a integrar o capital da Petrobrás. Com o capital assim aumentado, a relação dívida/patrimônio da empresa - que já estava mais ou menos no limite, dificultando que a Petrobrás tomasse empréstimos para explorar o pré-sal - melhora, elevando o potencial de endividamento de empresa.

Mas esse empréstimo virtual, de 5 bilhões de barris de petróleo que estão no fundo do poço, se materializa num empréstimo real de R$ 74 bilhões em títulos do governo, que a Petrobrás pagará ao longo dos anos, à medida que for vendendo os barris de petróleo ou apurando mais lucros do que hoje em dia.

Bom, essa é a operação em si, contada pelo governo e pelos jornais. E, caros leitores, é uma história que decorei para contar aos leitores - repetindo o que diz meu colega Rolf Kuntz. Mas ficarei embaraçado se me perguntarem se entendi.

Sim, porque há coisas que não estão explicadas direito ou só poderão ser explicadas quando forem desvendadas e exploradas as tais reservas do pré-sal.

Uma delas é como foi que se chegou à conclusão de que os 5 bilhões de barris da tal "cessão onerosa" valem R$ 74 bilhões. Firmas de consultoria estimaram o preço dos barris entre US$ 5 e US$ 12, o que na média dá US$ 8,5 - que, multiplicado por 5 bilhões, dá US$ 42,5 bilhões ou mais ou menos os tais R$ 74 bilhões, com o dólar, digamos, a R$ 1,74. Mas houve um outro cálculo que levou em conta a quantidade e os preços do petróleo que haveria em cada uma das seis áreas a serem exploradas e cuja média ponderada daria US$ 8,51 o barril, curiosamente, quase a mesma coisa da estimativa feita pela média aritmética simples. Mas tanto num caso quanto no outro o preço é pura ficção.

É que nas sete áreas de reservas marítimas que justificaram a gigantesca engenharia financeira só foi feito um furo até agora, cabendo então perguntar: qual a garantia de que dali se poderá extrair os 5 bilhões de barris que a Petrobrás "comprou" da União na operação, mais os que serão propriedade dela?

Finalmente, há que mencionar as nebulosas condições de exploração do pré-sal: quem disse que tirar petróleo de 8 mil metros de profundidade terá custos suportáveis pelos preços por que se consegue vendê-lo? Quem disse que os desafios tecnológicos já estão todos resolvidos, mesmo que a Petrobrás seja especialista em águas profundas? Quem disse que os riscos do empreendimento são previsíveis, depois do que aconteceu no Golfo do México? Quem disse que vai ser fácil e barato encontrar seguradoras para arcar com esses riscos?

Tantas incertezas deveriam afastar, e não atrair, investidores privados. Mas é que não são investidores. São jogadores do cassino financeiro moderno. E, no momento, só estava aberta no salão a "mesa" Petrobrás. Amanhã irão para outra.

Quanto ao maior negócio da história do capitalismo mundial, foi o dinheirinho de fretamento do Mayflower, o navio que levou um punhado de ingleses para a Nova Inglaterra, nos EUA, e que deu, de "lucro", a mais pujante economia do planeta.

MÔNICA BERGAMO

LONGA ESPERA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/09/10

Dez anos depois da morte da jornalista Sandra Gomide, os pais dela, João e Leonilda Gomide, estão prestes a receber indenização de R$ 300 mil de Pimenta Neves, que a assassinou com dois tiros, um deles pelas costas. Dois desembargadores do Tribunal de Justiça de SP votaram a favor da família da vítima. Um terceiro, que será o último a dar o seu veredicto, pediu mais tempo para analisar a causa. O placar, no entanto, já garante maioria aos pais.

FUMACEIRA
O Ministério Público vai chamar o secretário do Verde da capital, Eduardo Jorge, para negociar alterações no contrato da pasta com a Controlar, que realiza a inspeção veicular em SP. A Promotoria contesta o fato de a empresa não entregar um laudo para quem tem o veículo rejeitado na primeira fase da verificação, uma checagem visual do motor, da fumaça e de vazamentos. Os carros são dispensados antes de fazer o teste de emissão de gases e podem continuar poluindo sem que o dono saiba quais as causas do problema.

SELO DE GASOLINA
O MP também vai defender que os veículos sejam abastecidos com o mesmo combustível que foi usado para calibrar as máquinas da inspeção, para evitar distorções no resultado. "Se o governo não garante a qualidade do combustível vendido nas ruas, como vai exigir os parâmetros da verificação?", diz o promotor Silvio Oyama. Sua ideia é que a prefeitura homologue postos com gasolina certificada pela Controlar ou forneça o combustível na hora da inspeção.

NÚMERO UM
O DJ e produtor chileno-alemão Ricardo Villalobos, superastro do minimal tecno e número um do mundo no ranking 2008 da Resident Advisor, vem ao Brasil em janeiro. Ele se apresenta no dia 18, na D-Edge, em SP.

ASAS DO DESEJO
E o cineasta Wim Wenders estará no Brasil, no dia 20 de outubro, para a abertura da exposição "Lugares Estranhos e Calmos", no Masp. A mostra terá fotos tiradas pelo diretor alemão, inclusive da cidade de São Paulo, onde ele esteve em 2008.

ENTRE AMIGOS
José Yunes e sua mulher, Celia, reuniram amigos para comemorar o aniversário dos advogados Paulo Henrique Lucon, Rui Fragoso e do candidato a vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), que fez 70 anos e levou a família para a festa. O anfitrião e o trio fazem parte de um grupo de duas dezenas de advogados e juízes que se reúne religiosamente para almoçar às sextas-feiras.

SEM CAMISA
A boate gay The Week terá um parque aquático em Juquitiba, no interior de SP, para realizar festas no verão. A estreia do "Acqua Play" será no dia 14 de novembro, com show da cantora Wanessa.

CIRCULADÔ
Caetano Veloso e Jaques Morelenbaum farão hoje videoperformance na exposição "Veiled Threats", do israelense Izhar Patkin, no Centro da Cultura Judaica. Eles ficarão dentro da obra "Violins", uma sala com paredes revestidas com pinturas em tule, recitando poemas que inspiraram a criação do artista. A direção é de Fernando Grostein Andrade.

REIS DO GOGÓ
A versão brasileira do musical "Mamma Mia!", baseado nas canções do grupo Abba, terá como protagonistas Rachel Ripani, Kiara Sasso, Pati Amoroso e Saulo Vasconcelos. O espetáculo estreia em novembro.

RITA LEE: "JÁ PEDI PERDÃO DE JOELHOS"


Ao comentar a escolha de Itaquera para abrigar o estádio do Corinthians, Rita Lee disse no Twitter: "Para quem não conhece, Itaquera é o c... de onde sai a bosta do cavalo do bandido". A mensagem repercutiu e apareceu no "Fantástico". A cantora disse que foi ameaçada e deixou o Twitter. Depois, voltou. Ela falou por e-mail à coluna:


Folha - O que achou da frase sobre Itaquera parar na TV?
Rita Lee - Disse merda e recebi merda de volta. Com relação ao "Fantástico", me convidaram para gravar "Repórter por Um Dia" em Itaquera e recusei, porque não sou boba. A última vez que participei do programa foi numa entrevista sobre maus tratos de animais. Fui processada pela "tchurma" de Barretos. Ganhei nas duas instâncias, mas foi um saco não poder fazer meus discursinhos. Estou sabendo que o jornalismo do "Fantástico" quis se vingar jogando gasolina no fogo. É duro ser cigarra no meio de formigueiros. [A assessoria do "Fantástico" diz que "não existe vingança"."Ela fez um comentário público e reproduzimos."]

Qual a pior ameaça recebida?
Uma bala na cabeça foi o mais bonzinho. O pior foram ameaças de morte à família.

Continua corintiana?
Eu já pedi perdão de joelhos a Itaquera, sei quando faço uma cagada homérica, mas jamais disse algo desprezível sobre o Corinthians! Acho mesmo é que o novo estádio será uma baita de uma roubalheira sem tamanho. Por que voltou ao Twitter?
Os amiguinhos tuiteiros me pediram pra voltar. E me divirto pra "carai". Meu mestre João Gilberto me disse que nessas alturas do campeonato posso dizer o que bem entendo, quando bem entendo. Sou apenas o gafanhoto...
Você tuita muito sobre a novela "Passione". Qual o segredo de Gerson?
Primeiro pensei que Gerson nutria um tesão por Mauro desde a infância. Instalou uma câmera escondida no banheiro do outro e ficava espiando pelo computador. Depois, que tinha tesão em ver gente estraçalhada em desastre, tipo Lady Di. Agora, acho que tem tesão pelo computador, um "Macintófilo".

CURTO-CIRCUITO
A exposição "Herança Compartilhada" será inaugurada hoje, às 18h30, no Museu da Língua Portuguesa.
A mostra "Guloseimas", de Suzana Gasparian, começa hoje na Maria Brigadeiro.
O músico Duani faz show amanhã, às 21h, na choperia do Sesc Pompeia. 12 anos.
O 1º Prêmio de Música Digital acontece no dia 23 de novembro, no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro.
com DIÓGENES CAMPANHA, LEANDRO NOMURA e LÍGIA MESQUITA

GOSTOSA

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

De cima para baixo 
Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 27/09/2010

Decidida por um círculo restrito da cúpula da campanha de Dilma Rousseff, a entrada com ação no Supremo Tribunal Federal para tentar derrubar a exigência de apresentação de documento com foto, além do título de eleitor, na hora de votar, divide opiniões.
Alijada da discussão, uma ala do partido, que votou em peso no Congresso a favor da nova regra, acredita que a campanha comprou uma briga desnecessária, pois a influência da exigência no resultado das urnas seria praticamente nula. Expressa ontem, a reação do DEM a favor da manutenção da regra deu novo argumento à turma do deixa disso.


Ruído De um tucano, ao ouvir a candidata do PT dizer que a exigência do segundo documento "vai cercear o direito de votar": "Ué, mas o Lula não sancionou a lei? A eleição nem terminou e a Dilma já está discordando dele publicamente?".

Melhor não Um telespectador notou que, nos últimos dias, o segmento biográfico da propaganda televisiva de Dilma continua a exaltar o papel da ex-ministra na coordenação das ações do governo, mas sem mencionar o termo "Casa Civil".

Concessões 1 Ao pedir voto para o correligionário tucano Antonio Anastasia no trecho final de seu programa de sexta-feira passada, dirigindo-se a eleitores mineiros que vivem perto da fronteira com São Paulo e por isso assistem ao horário eleitoral do Estado, Geraldo Alckmin atendeu a um antigo pedido de Aécio Neves.

Concessões 2 O depoimento de Alckmin foi ao ar uma semana após José Serra, depois de um mês de repetidos apelos, aparecer na propaganda da dupla Aécio-Anastasia em Minas.

No colo Em meio à especulação sobre sua possível saída do PSDB, Aécio Neves sabe que só não será presidente do partido em 2011 se não quiser, caso José Serra perca a disputa pelo Palácio do Planalto. O mineiro ainda conta com a opção de indicar alguém de sua confiança.

Fadiga O atual presidente, Sérgio Guerra, se movimenta para manter o posto. Mas, na esteira do desgaste produzido pela campanha nacional tucana, pouca gente acha que isso seja viável.

Rindo à toa Caso Tiririca se eleja deputado federal com 900 mil votos, como projeta o Datafolha, sua candidatura terá sido um excelente investimento para o PR. A legenda, que injetou R$ 516 mil na campanha do palhaço, poderá arrecadar até R$ 7,7 milhões em quatro anos, via fundo partidário.

Alô, presidente Em mensagem telefônica endereçada aos paulistas, Lula pede votos para João Paulo Cunha, que busca a reeleição e deverá ter um dos melhores desempenhos entre os candidatos do PT de SP.

Sumiu A depender da apreciação pelo TSE, os votos destinados a tradicionais recordistas indeferidos em São Paulo, como Paulo Maluf (PP), Beto Mansur (PP) e Francisco Rossi (PMDB), serão computados como nulos no próximo domingo. Eles só aparecerão na totalização caso sejam revertidas as decisões da Justiça.

Zona de perigo A crer nas mais recentes projeções de composição de bancadas na Câmara, baseadas em sondagens eleitorais, Arnaldo Faria de Sá (PTB), dono da maior série de mandatos consecutivos por São Paulo, corre o risco de não se reeleger para o que seria sua sétima legislatura. Ele é apenas o quinto mais citado de seu partido, que deve fazer dois deputados federais.

Tiroteio

"O pior é que nada disso seria inédito. Já vimos esse filme nas eleições de 2002."


DO DEPUTADO JUTAHY JÚNIOR (PSDB-BA), relacionando a acusação de que esquema de tráfico de influência na Casa Civil utilizaria, para pagamentos, duas contas bancárias no exterior, com o uso do expediente para acertar contas de "caixa dois" na primeira eleição de Lula.
Contraponto

Troca de turno

Certa manhã de 2008, quando era secretário de Desenvolvimento, Alberto Goldman encontrou às 5h, em seu computador, um e-mail em que o então governador José Serra lhe pedia dados sobre a expansão do Centro Paula Souza, responsável pelo ensino técnico.
Diante da rapidez da resposta, Serra, que ainda não tinha ido dormir, retrucou, em inglês:
-Goldman, você ainda não foi pra cama?
A resposta entrou em instantes:
-Não, eu já acordei. Mas não sabia que você se comunicava em inglês nas madrugadas. Good morning!

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Cooperativas de varejo se unem para ganhar escala 
Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 27/09/2010

Cooperativas de consumo, que atuam em sistema de supermercados, assinaram acordo para constituir uma central de negócios.
Com a união, a ideia é ganhar musculatura para ter poder de barganha com fornecedores e negociar preços mais baratos, assim como as grandes cadeias de supermercados conseguem fazer.
A central também quer ganhar escala para alcançar o mercado externo, que as cooperativas de pequeno porte não são capazes de acessar, segundo Marcio do Valle, vice-presidente da maior cooperativa de consumo, a Coop -que ocupa o 12ª lugar no ranking de supermercados da Abras (Associação Brasileira dos Supermercados).
"Também teremos que oferecer contrapartidas, talvez de logística, aos fornecedores. Mas só de ter escala maior já encontraremos melhores oportunidades de negócios", afirma Valle.
A central, que deve começar a operar no início de 2011, já abrange cooperativas de São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina, que registraram juntas R$ 2 bilhões de faturamento anual em 2009.
Outra meta é a integração de projetos de marketing e tecnologia, segundo Edivaldo Del Grande, presidente da Ocesp (Organização das cooperativas de São Paulo).
"A primeira ideia é reduzir o custo operacional das cooperativas. Mas também podem ser desenvolvidos projetos de tecnologia, marketing, padronização de identidade visual e marca", diz Grande.

SOCIEDADES NOS MERCADOS

128 são as cooperativas de consumo no Brasil

R$ 2,4 bilhões foi o faturamento de 2009

2,3 milhões é número de associados às cooperativas de consumo

Fonte: OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras)

SOM NA CAIXA
Com US$ 100 milhões investidos no Brasil desde junho, a multinacional do setor de áudio Harman faz neste mês no país seu maior lançamento no mundo.
Serão mais de cem produtos profissionais e automotivos. Entre eles, a primeira linha de alto-falantes da marca americana JBL que começam a ser fabricados no Brasil.
O grupo quer transformar as fábricas da empresa no Brasil em centro tecnológico para desenvolver produtos em conjunto com a Harman americana e exportar.
A grande proporção de lançamentos que ocorre agora se deve à compra, há alguns meses, da brasileira Selenium, por US$ 75 milhões, segundo Rodrigo Kniest, presidente da Harman do Brasil.
"Como o portfólio deles tem mais de 4.000 produtos, selecionamos alguns agora e traremos outros em breve", afirma.

TECNOLOGIA NO CELULAR
O mercado de telefonia móvel está aquecido. A receita líquida do setor deve crescer 7% no final do ano, para R$ 54 bilhões, segundo projeções da consultoria Lafis.
O aumento das vendas de produtos de tecnologia avançada e de serviços de maior valor agregado, além da elevação da renda do consumidor, deve alavancar a receita das empresas.
"Para 2011 e 2012, a banda larga 3G continuará a ser o serviço mais promissor para as operadoras e a grande aposta para continuar crescendo, sobretudo, apoiadas nas vendas de smartphones", afirma Bruno Sávio Nogueira, analista da Lafis.
A cada 100 habitantes, 98 têm um número de celular no país, segundo dados da Anatel, de agosto.
Foram habilitadas 2,4 milhões de linhas no mês passado, totalizando 189,4 milhões de celulares.

Risco... Mais de 90% dos pedidos de patentes feitos por brasileiros no Inpi podem ter tecnologia copiada no exterior. A patente tem validade nacional e depositantes esquecem de solicitar a proteção no exterior.

...de cópia O Inpi e o Escritório dos EUA de Marcas e Patentes farão apresentações para mostrar a brasileiros como solicitar patentes e marcas. O evento ocorrerá em Brasília, Belo Horizonte e SP, de 6 a 8 de outubro.

Blitz... A Infraero contratará empresa para coletar dados de vendas e serviços nas lojas dos aeroportos de Congonhas e Guarulhos (SP). O objetivo é levantar o faturamento dos concessionários. Propostas serão recebidas até quarta.

...no faturamento O levantamento subsidiará as negociações dos contratos e identificará os motivos das vendas perdidas, segundo o edital. A fiscalização ocorrerá em uma loja de cada aeroporto por mês, durante três meses.

DOS DOIS LADOS
Além das grandes negociações, o país tem visto um grande volume de transações de empresas médias, foco da firma de investimento Hunter Wise Financial Group LLC, com sede na California. O diretor-executivo Anthony Hussain, veio ao Brasil ver de perto o "middle market" local (com faturamento entre US$ 50 milhões e US$ 500 milhões).
Hussain observou o interesse não apenas das companhias americanas no Brasil, como das brasileiras em se internacionalizarem.
O executivo participou de um seminário do escritório Azevedo Sette, que abordou diversas formas de acesso a capital nos EUA, como fundos específicos para aquisição de empresas, emissão de dívida e mecanismos financeiros sofisticados.
"Tenho dito [a americanos] que não verão oportunidades como as do país novamente em suas vidas", afirma. "Mas há muito o que aprender dos dois lados, lá e aqui, em relação à estrutura de governança corporativa. Quando avaliarem uma empresa no Brasil, isso deve ser levado em conta."

VOTE

ANCELMO GÓIS

Um grande negócio 
Ancelmo Góis 

O Globo - 27/09/2010

O espírita “Nosso Lar”, já visto por 3 milhões de pessoas, é um caso raro de filme brasileiro que está dando lucro, quase sem dinheiro público.

Os R$ 20 milhões gastos vieram do banco BRJ e de outros investidores. Só a distribuidora Fox Filmes usou incentivos. Até agora, o filme faturou uns R$ 25 milhões, sem falar que depois vêm DVD, pay-per-view, TV por assinatura, TV aberta e mercado internacional.

Mas...

Até os liberais EUA matam e morrem para ajudar a indústria local de cinema e sua cultura

Calma, gente

Uma das belezas do Brasil é sua tolerância religiosa. Mas ontem, na missa das 10h30m da Igreja da Ressurreição, no Rio, o padre José Roberto, indignado, pediu a um coroinha, de uns oito anos, que contasse aos fiéis o que ouviu na escola.

Missa que segue...

Segundo o menino, aluno de uma escola municipal, sua professora teria dito que todos estavam proibidos de aceitar balas e doces de São Cosme e São Damião porque “são coisas do diabo e que quem desobedecesse teria dor de barriga”. Que horror

Clausura digital

Por falar em Igreja, a Internet ameaça o jornal de papel (valhame, Deus) e a... clausura religiosa.

Outro dia, o deputado Otávio Leite teve permissão para falar às irmãs Clarissas que vivem enclausuradas no Mosteiro de N. S.

dos Anjos, na Gávea, no Rio.

No final, uma das irmãs lhe entregou e-mail para contato.

Sem ex-BBB

A diretoria da Caprichosos de Pilares é má que nem pica-pau.

Decidiu proibir a presença de “celebridades” como destaque da querida escola de samba carioca. Ex-BBBs nem pensar.

Só gente da comunidade, escolhida por concurso.

SÓ DE OLHAR já dá para perceber que o Mirante Guarany, no Alto da Serra de Teresópolis, merece uma baita restauração. A construção neoclássica de 1929/1930 é um dos principais monumentos artísticos da região. Mas acabou deteriorada pelo tempo e pela ação dos vândalos, que cobriram o mirante de pichações e destruíram parte dos seus azulejos. Agora, veja que legal, a Secretaria estadual de Obras, a prefeitura local e o Inepac acertaram com o dono do terreno uma reforma. Já começou uma busca por restauradores capazes de recuperar os painéis de azulejos de Jorge Colaço, que aliás contam histórias da mitologia indígena. Vamos torcer, vamos cobrar

São Francisco

A encrenca em que se meteu o monsenhor Abílio, 77 anos, que foi detido quando ia viajar com C 53 mil não declarados, abortou, acredite, o projeto de restauração da vetusta Igreja de São Francisco de Paula, no Largo de São Francisco, no Rio.

É que o templo, cuja construção foi iniciada em 1759, é administrado pelo monsenhor.

Eu explico...

O Iphan, que ia custear o projeto para restauração da igreja, resolveu sustar a verba. O órgão ficou impressionado com as notícias de que o monsenhor administrava uma boa grana, como o aluguel que a Rede D’Or paga pelo imóvel onde funciona sua unidade da Quinta.

O que diz o Iphan

Diante disso, diz Carlos Fernando Andrade, superintendente do Iphan-RJ, “encaminhamos o assunto à Procuradoria e destinaremos a verba do projeto da Igreja de São Francisco a outro monumento, desprovido de recursos”.

É. Pode ser.
O Pescador

Hoje, a diretoria do Iate Clube do Rio de Janeiro vai dar queixa na Polícia do Rio do sumiço do quadro “O Pescador” (na foto), de Djanira, que fazia parte do patrimônio do clube.

Sumiu...

É que ao assumir, em abril, a nova direção do Iate fez um inventário de bens do clube e concluiu pela falta de “O Pescador”.

“Dado o valor do quadro de Djanira, chamaremos a polícia”, diz Jomar Pereira da Silva, diretor secretário do clube de bacanas.

Cabe todo mundo

Marcelo Cerqueira, candidato ao Senado pelo PPS, fez uma espécie de carta aberta a Lula em que diz que o Brasil é grande e que “nele cabemos todos nós”.

Voltou a elogiar o governo FH, lembrou que Itamar implantou o Real e que Lula ampliou a rede social de proteção. Mas, segundo ele, sem desmerecer os outros, é a hora de Serra, “por sua experiência e honradez”.

Estrela brilhante

O astrônomo Ronaldo Mourão informa: ao anoitecer nesta semana o planeta Júpiter estará nas melhores condições de observação desde 1963.

— Não se deve perder a oportunidade de ver o maior planeta do sistema solar, no seu máximo brilho, pois condições semelhantes novamente só em 2022.

RUY CASTRO

Sair atirando 
Ruy Castro
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/09/10

Um sujeito é demitido de uma empresa, expulso de uma corporação ou alijado de uma sociedade, e não se conforma. Como acha que não fez por merecer, sente-se perseguido e injustiçado. Mas a decisão é irreversível e só lhe resta uma vingança: sair atirando. Manda vir o trombone e o ventilador e bota para fora tudo o que sabe dos ex-patrões. Os atingidos, se puderem, saiam de baixo. É natural.
Suponha agora que não haja nenhuma ameaça sobre o emprego do homem, e ele só terá de sair porque seu contrato terminou. Não apenas poderá cumpri-lo até o último dia como 84 por cento das pessoas não querem que ele saia. Mas, já que ele terá de sair, aceitarão quem quer que ele indique para o seu lugar – inclusive uma mulher de quem nunca tinham ouvido falar. A qual, pelo visto, apenas esquentará o assento para a sua volta triunfal ao emprego daqui a quatro anos.
Daí ser menos natural que este homem, com tudo a seu favor, também tenha de sair atirando. Mas é o que está acontecendo com o presidente Lula, cujo grau de irritação nos últimos dias contra a oposição, a imprensa e as 'elites' deve ter chegado a níveis preocupantes para seus médicos. A economia do país vai às maravilhas, sua candidata à sucessão pode se eleger direto no primeiro turno e o filme sobre sua vida vai concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro – precisava mais?
Soberba é pecado. Lula, em vez de aborrecer-se, deveria seguir o exemplo do palhaço Tiririca, que, do alto do quase 1 milhão de votos que farão dele deputado federal por São Paulo, está disposto a qualquer gesto de humildade para garantir sua posição.
“Tiririca”, no Aurélio, quer dizer erva daninha, graminiforme, difícil de erradicar, famosa pela capacidade de invadir velozmente terrenos cultivados. Significa também pessoa furiosa, muito irritada. Lula está tiririca de graça.

GOSTOSA

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O eleitorado traído
Carlos Alberto Sardenberg
O ESTADO DE SÃO PAULO - 27/09/10


Não sei se ainda está no ar, mas outro dia ouvi uma propaganda de rádio da campanha de Dilma Rousseff que bem poderia ser o ponto de partida de um discurso, digamos, liberal.

Liberal? Posso imaginar o tamanho da surpresa de leitores e leitoras.

Expliquemos: a propaganda, no rádio, trazia o depoimento de um eleitor de Brasília que declarava voto em Dilma porque estava muito feliz com sua vida, com seu progresso nos últimos anos. Contava, então, que havia conseguido montar sua empresa - uma panificadora em Brasília - e que agora podia "pagar um plano de saúde para a filha".

Temos, portanto, um pequeno empreendedor, iniciativa privada. E um cidadão que, ganhando um pouco mais, logo tomou a providência de comprar um plano de saúde privado, para escapar do serviço público de saúde.

Poderia perfeitamente sair daí um programa liberal. Sabe-se que a alma da economia de mercado está exatamente na capacidade empreendedora das pessoas. Sabe-se também que abrir uma empresa no Brasil não é coisa simples nem barata.

Na pesquisa do Banco Mundial Fazendo Negócios, que avalia se o ambiente de negócios é hostil ou amigável ao empreendedor privado, o Brasil obtém uma classificação miserável. Vai lá para o fim da tabela e consegue ser o pior em alguns quesitos, como no caso do sistema tributário.

Não se trata nem da (elevada) carga tributária. Trata-se de quanto tempo, quanto dinheiro e quanta energia uma empresa gasta para manter em dia suas obrigações com o Fisco.

Ora, apresentando aquele depoimento, a candidata poderia derivar daí um programa de reformas institucionais de modo a facilitar a vida de quem faz negócios honestamente neste país. Entre essas reformas estariam, certamente, a da legislação trabalhista, de modo a tornar a contratação mais flexível e menos cara.

Mas os eleitores não viram nada disso na propaganda de Dilma.

Por outro lado, a satisfação do eleitor com a compra de um plano de saúde poderia ser a dica para um programa que estimulasse o setor privado de saúde, que, aliás, foi bastante cerceado no governo Lula.

Em vez disso, porém, a candidata está prometendo mais dinheiro para o Sistema Único de Saúde (SUS), setor público. E não poucas vezes seu padrinho, o presidente Lula, diz que o governo continua precisando da CPMF.

Por que, então, os marqueteiros colocaram aquele depoimento do pequeno empreendedor brasiliense? Só para ilustração, para agradar pela emoção.

E toda uma parte do eleitorado fica de fora. Por toda a sociedade se encontram pessoas querendo tomar conta de suas vidas, montar seus negócios, tocar sua profissão livremente, escolher e pagar seus planos de saúde, colocar os filhos numa escola particular boa, investir em ações, comprar planos de previdência privada. Essas pessoas não estão representadas no quadro político.

Também não aparecem como personagens na campanha do principal opositor, José Serra. Às vezes surge alguma coisa na fala de Marina Silva.

Serra, por exemplo, faz apostas amplas em programas que exigem pesado aumento do gasto público, a começar pela promessa de aumentar para R$ 600 o salário mínimo (e as pensões) e conceder 10% para as aposentadorias acima do mínimo.

Sabem qual o impacto disso no orçamento da Previdência no ano que vem? Nada menos do que R$ 47 bilhões. Isso equivale a cerca de 1,5% do Produto Interno Bruto e praticamente dobra o déficit da Previdência previsto para este ano.

Nem uma palavra sobre como administrar esse déficit.

E entretanto, todo mundo, pensando seriamente por um minuto que seja, sabe que os brasileiros pagam impostos absurdos e que a Previdência, incluindo aqui o INSS e a pública, precisa de uma reforma.

Alguém ouviu alguma ideia dos candidatos mais fortes sobre esses temas? Eles falam em aumento do gasto público, mas ninguém diz, por exemplo, que vai aumentar impostos para financiar essas despesas. Porque, sem aumento de impostos, os programas prometidos simplesmente não fecham a conta. Ah, sim, falam em reforma tributária, mas sem dizer se é para reduzir ou aumentar impostos.

A campanha de Marina é a que avança mais corretamente nesses temas. Sua proposta de fixar uma meta de redução da dívida pública ataca o coração do problema econômico brasileiro de hoje. A redução da dívida abriria espaço para uma redução dos juros, com os enormes efeitos positivos disso. Pena que esse tema aparece, assim, en passant.

No geral, aceita-se por aqui que campanha é uma coisa e governo é outra. De certo modo, é um pouco assim no mundo todo. (Campanha é poesia, governo é prosa, li em algum lugar.) Mas é só um pouco assim.

Nos Estados Unidos, por exemplo, Obama disse, debaixo de uma saraivada de críticas, que ia aumentar o imposto das famílias que ganham mais de US$ 250 mil ao ano - e é justamente o que está fazendo.

Já na França, o presidente Sarkozy não disse que ia aumentar a idade mínima de aposentadoria. Quando precisou fazer isso, o eleitorado reagiu, com razão.

Aqui, o presidente Lula, na sua primeira eleição, não disse que ia fazer reforma previdenciária, mas fez. Por necessidade do momento, apresentou e aprovou um projeto de reforma da aposentadoria dos servidores públicos. Mas, para entrar em vigor, a mudança dependia de legislação complementar. Antes que esta fosse votada a situação econômica melhorou, a receita do governo aumentou e o presidente Lula simplesmente mandou arquivar o tema.

Mas para o Brasil organizar as finanças públicas e crescer de modo mais vigoroso as reformas continuam sendo necessárias. E serão cruciais se o ambiente econômico piorar um pouco que seja.

E aí o eleitorado será traído. De certo modo, sempre é.

FÁTIMA DA SILVA GRAVE ORTIZ

Um assunto delicado
FÁTIMA DA SILVA GRAVE ORTIZ
O GLOBO - 27/09/10



As eleições são momentos privilegiados de debate sobre temas que atravessam nossa vida em sociedade.

Um deles, presente nos discursos e propostas dos candidatos, refere-se à polêmica questão do aborto. Ora criminalizando as mulheres que voluntariamente optam pelo aborto, ora reconhecendo a questão como problema de saúde pública, o fato é que os brasileiros precisam se debruçar sobre este tema, a exemplo de muitos outros países, como recentemente o fez Portugal, que tornou legal a sua prática.

No Brasil, o aborto é legalmente permitido apenas em algumas situações: quando envolvem estupro ou há comprovada existência de anomalia fetal. Contudo, mesmo nestas situações, além de a mulher ter que expor seu caso, a despeito de ampliar seu sofrimento, deve ainda se submeter a autorização judicial, cabendo à Justiça, portanto, a decisão final sobre uma questão de ordem íntima e pessoal. Segue-se a isso o agravante de haver poucas unidades de saúde públicas disponíveis para a realização do aborto.

No entanto, por não se enquadrarem nestes critérios, muitas mulheres optam pela prática do aborto clandestino e inseguro, em alguns casos morrendo ou se submetendo a sequelas irreparáveis. Sempre são criminalizadas e discriminadas porque socialmente a responsabilidade exclusiva pela gestação recai sobre a mulher. Ora, se a "responsabilidade" é dela, por que não permitir que ela realmente decida, tendo em vista os impactos que o aborto provoca na sua vida? São vinte milhões de abortos inseguros no mundo por ano; trata-se da quarta causa de morte materna, e este ônus geralmente recai sobre um grupo específico de mulheres: pobres e negras, confirmando um processo histórico de criminalização de gênero, raça e classe social.

A mulher deve ter o direito de decidir e o Estado laico deve empreender o marco legal necessário para pôr fim à criminalização do aborto, legalizando sua prática e criando serviços especializados com profissionais e rotinas institucionais capazes da sua realização. A legalização do aborto comprovadamente não gera o aumento dos casos. Ao contrário: todos os países que o legalizaram não observaram sua ampliação.

Defender a legalidade do aborto significa reconhecer o direito cidadão da mulher de decidir sobre a maternidade. Significa reconhecer a mulher como sujeito, portadora de direitos civis, políticos, sociais e humanos, entre eles o direito à vida e de ser legitimamente mãe. Coerente com o código de ética que orienta os profissionais, nosso 39oEncontro Nacional dos Conselhos de Serviço Social, realizado recentemente em Florianópolis, aprovou a defesa da legalização do aborto como passo para que esses direitos se tornem realidade.



FÁTIMA DA SILVA GRAVE ORTIZ é presidente do Conselho Regional de Serviço Social-RJ e professora da Escola de Serviço Social da UFRJ.

O ESGOTO DO BRASIL

DENIS LERRER ROSENFIELD

Qual oposição?
DENIS LERRER ROSENFIELD
O GLOBO - 27/09/10



Em recente evento no Secovi-SP, o presidente da instituição, João Crestana, numa mesa redonda, colocou a seguinte questão: "Qual o papel da oposição em um mais que provável governo Dilma Rousseff?" De minha parte, respondi: "Qual oposição? Não consigo bem entender a pergunta!" A questão provocou uma indagação relativa ao que tem sido o exercício das oposições e, mais particularmente, dos tucanos na campanha presidencial.

Com efeito, a oposição não agiu enquanto tal, salvo, agora, de uma forma atabalhoada, quando a derrota se vislumbra no horizonte imediato. Uma oposição digna desse nome deveria ter apresentado propostas, mostrado o seu contraste com o governo, expondo o que fez no passado e sugerindo medidas alternativas. Não deveria ter se escondido enquanto oposição, fingindo ser uma outra forma da situação.

A oposição tucana alçou Lula a um pedestal, como se ele estivesse acima do bem e do mal. Colocou-se em uma espécie de servidão voluntária, na posição de continuação do atual governo, interditando-se qualquer crítica ao atual mandatário. A chiadeira atual de que ele está ameaçando as instituições nada mais é do que o resultado de sua incompetência, o fruto desse reconhecimento preliminar de que a condenação do atual governo não deveria fazer parte de sua agenda política. É o estertor de uma política que não deu certo! Neste sentido, foi forjada a ideia de que Lula não é o PT. Logo, se ele não é o PT, como sua criatura seria a representante mesma do partido? Ela deveria ser "lulista" e não "petista", se essa distinção fizesse sentido. Em certo sentido, porém, ela faz sentido, porque Lula se mostrou maior do que o PT. Entretanto, em outro sentido, Lula é também o partido, sendo seu fundador e seu mais eminente representante. O fato de ele ter se afastado das posições mais radicais do seu partido não o faz um não membro partidário. Lula não existiria sem o PT.

Não deveria, pois, surpreender a declaração do ex-ministro José Dirceu de que a diferença principal entre Lula e Dilma reside em que o primeiro é "duas vezes o tamanho do PT", enquanto Dilma é menor do que o partido.

O que disse foi simplesmente uma verdade. A celeuma, nesta perspectiva, não tem nenhuma razão de ser, na medida em que pode ser constatada por qualquer pessoa preocupada em compreender a realidade tal como ela é. Outra pessoa tivesse dito a mesma coisa, a controvérsia nem teria se estabelecido, nem os juízos de valor sobre a pessoa que o enunciou.

A propaganda eleitoral tucana que trata o ex-ministro como um representante do "mal" é somente uma forma de continuar preservando a figura de Lula como encarnando o "bem", procurando, desta maneira, atingir a candidata Dilma. Não dá para entender. Ficase com a impressão de que José Dirceu é ainda ministro da Casa Civil ou mesmo candidato, ou ainda, que Dilma é sua criatura. A confusão é total. O exministro foi, mesmo, utilizado como bode expiatório do próprio Lula que, assim, se preservou. Em linguagem lulista, uma vez tendo entregue à execração o seu ministro mais importante, dedicou-se, depois, a reescrever a história, apresentando o mensalão como uma "tentativa de golpe". E a oposição o que fez? Vociferou sem muita convicção e caiu no jogo, jogo esse que mostra agora o seu desfecho.

Consequentemente, o PT tende a ter um maior protagonismo no governo Dilma. Nada mais normal para um partido que vence a eleição. Qualquer partido vencedor tende a assumir essa posição.

A questão, porém, não reside aqui, mas no que significa o PT novamente no poder. Formadores de opinião e setores do empresariado contentaramse com os dois mandatos de Lula por ter esse se afastado das posições mais radicais do seu partido. Festejaram a ruptura que não houve, embora tivesse sido anunciada.

Criou-se, assim, a ficção de que Lula não é o PT e que as posições mais revolucionárias do partido estariam descartadas.

Não o foram, pois elas continuam animando boa parte de suas tendências.

Acontece que o PT não é um bloco, que pensa de uma maneira uniforme.

Ele só o é em período eleitoral, porque o objetivo maior, a conquista do poder, torna-se um forte fator de coesão interna. Suas distintas alas se congregam desse modo, embora essa coesão seja também passageira, pois dará logo lugar às divergências explícitas entre suas várias correntes. Trata-se de algo difícil de compreender para os tucanos, que não conseguem se unir nem em período eleitoral, expondo, mesmo, suas divergências em público.

O período que se abre em um mais que provável governo Dilma é o de como o PT vai resolver suas contradições internas. Aquilo que se convencionou chamar de "lulismo", o que outros chamam também de "pragmatismo" petista, expressa a predominância de correntes internas que optaram por abandonar a ruptura com o capitalismo, visando à instauração de uma sociedade socialista autoritária no Brasil. Apesar de o discurso ideológico não ter essa clareza, devido precisamente às disputas internas, o embate que se anuncia é o de se o PT perseverará na gestão responsável do capitalismo, em uma via social-democrata de inclusão social, ou se optará por voltar à suas políticas irresponsáveis de antanho.

O PMDB, não esqueçamos, faz parte da aliança governamental e pelas boas e más razões não embarcará em uma aventura revolucionária. Quando mais não seja para não perder os benefícios que extrai do status quo. A atual situação lhe é mais do que favorável e tudo fará para que ela não se altere. Ele continuará compartilhando do "pão", talvez com mais voracidade. Há um novo jogo aqui, o jogo das disputas internas do PT, que se complexificará com a atuação do PMDB, procurando ocupar os mesmos espaços. As oposições, que sairão derrotadas desse pleito, serão, em um primeiro momento, meras expectadoras.

Terão, preliminarmente, de responder a pergunta "Qual oposição?", se pretenderem, em um segundo momento, um papel de protagonismo.

DENIS LERRER ROSENFIELD é professor de Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

PAULO GUEDES

Fabricando fantasmas 
Paulo Guedes
O GLOBO - 27/09/10
A liberdade de expressão sob ataque", alerta a revista "Veja" em matéria de CAPA desta semana. "Todo poder tem limite", adverte a "Folha de S.Paulo" deste domingo. "O direito de inquirir, duvidar e divergir da autoridade pública é o cerne da democracia. Foi a imprensa que revelou ao país que uma agência da Receita Federal fora convertida em órgão de espionagem clandestina contra adversários políticos. Foi a imprensa que mostrou que o principal gabinete do governo estava minado por espantosa infiltração de interesses particulares", esclarece em editorial "um jornal a serviço do Brasil desde 1921".
Houve tentativas de cercear a liberdade de imprensa com a criação do Conselho Federal de Jornalismo bem como por disposições embutidas tanto no Programa Nacional de Direitos Humanos de 2009 quanto no programa de governo do PT de 2010. Foram rechaçadas por Lula.

A candidata oficial, Dilma Rousseff, foi taxativa: "O único controle social da mídia que aceito é o controle remoto na mão do telespectador." Afinal, a ameaça à liberdade de imprensa é uma perspectiva real para a sociedade brasileira? Ou apenas um fantasma contratado para animar as eleições presidenciais? A boa notícia é que a "esquerda" brasileira foi moldada em combate ao regime militar. Conhece a angústia e a escuridão em que mergulhamos quando se apaga a democracia. A má notícia é que desconhece as desastrosas consequências da hipertrofia e do aparelhamento do Estado sobre o modo de fazer política e os valores morais de uma sociedade.

O inchaço e a politização da engrenagem pública são os ingredientes de uma fábrica de escândalos, como os dos precatórios, dos Anões do Orçamento, do Tribunal Regional do Trabalho (do Lalau), da Sudam, do INSS (da Jorgina), do propinoduto (do Marcos Valério), do Mensalão, dos Sanguessugas, do Senado, da Casa Civil e agora, ainda fresco, "investigações mostram as ligações dos governadores de Tocantins, do Amapá e do Mato Grosso do Sul com quadrilhas acusadas de desviar fortunas dos cofres públicos", conforme registra "Veja" na mesma edição.

São indissociáveis a hipertrofia do Estado e a corrupção a céu aberto. A degeneração da política e a desmoralização dos partidos são consequências não intencionais. A imprensa livre apenas registra o fenômeno. Deflagrar reformas ou reprimir a imprensa? Fantasma eleitoral ou perspectiva concreta? Saberemos. Paulo Guedes é economista 

GOSTOSA

GEORGE VIDOR

Freio em 2011
George Vidor
O GLOBO - 27/09/10


Diferentemente do discurso dos candidatos à presidência, a racionalidade econômica recomenda que no ano que vem o governo federal dê uma trégua nos programas de transferência direta de renda, pois a dinâmica dos mercados já vem garantindo uma melhora social relevante. Transferências indiretas continuariam sendo oportunas, como é o caso do subsídio à habitação popular.

A demanda interna por bens e serviços é determinada pelo consumo (das famílias e do governo) e o investimento. Se esses fatores aumentam velozmente, a oferta doméstica dificilmente conseguirá acompanhá-la no mesmo ritmo, e o resultado pode ser sacrifício de exportações, expansão das importações e alta generalizada nos preços (inflação).

Para pavimentar o caminho do futuro, o próximo governo terá entre seus principais desafios macroeconômicos baixar a inflação para menos de 4% ao ano (que é uma forma de reforçar o poder aquisitivo da população) e conter as taxas básicas de juros em um dígito (menos de 10%).

Para atingir objetivos como esses, o déficit do setor público como um todo terá de diminuir, propiciando uma queda também na relação entre a dívida governamental (a total e a líquida) e o Produto Interno Bruto.

Especialistas no ramo dizem que os índices ideais para uma economia com as características do Brasil seriam de, respectivamente, 50% (dívida bruta sobre o PIB) e 30% (dívida líquida/PIB). No momento esses números estão em 60% e cerca de 40%.

O déficit só encolherá se o governo segurar seus gastos.

O melhor é que não faça isso nos programas voltados para investimentos (habitação, saneamento básico, infraestrutura, educação, saúde, segurança). Não é recomendável também que se protele a manutenção, pois isso acaba gerando necessidade de mais despesas logo à frente.

Então, só resta como opção a trégua nos programas de transferência direta de renda.

De certa forma, é o que prevê a proposta do orçamento da União para 2010, que não estabeleceu dotações para aumento real do salário mínimo, dos gastos com o Bolsa Família, das aposentadorias e pensões do INSS, ou reajustes nos vencimentos dos servidores federais além dos já programados.

Se o Congresso e o (ou a) presidente eleito (a) sancionarem esse tipo de proposta, será meio caminho andado

A Colômbia tem hoje 80 companhias independentes de petróleo operando em seu território, além de uma estatal (Ecopetrol) e das grandes empresas internacionais do setor, incluindo a Petrobras. Os colombianos se basearam no modelo brasileiro de concessões e estão tendo sucesso.

No Brasil, hoje, há menos companhias independentes (60) operando que na Colômbia.

E das grandes companhias, fora a Petrobras, somente produzem aqui a Shell (84 mil barris diários), a Chevron (64 mil) e a Devon (20 mil) como operadoras.

Essa diferença se explica pelo fato de a Petrobras ter sentado em cima dos chamados campos maduros em terra. Como o esforço de produção da estatal está voltado para os campos gigantes no mar, esses poços terrestres ficam em segundo plano. A Bacia Potiguar, por exemplo, que chegou a produzir 110 mil barris/dia, agora anda na faixa de 60 mil a 65 mil.

Esse óleo local abastece a refinaria do Rio Grande do Norte, em Guamaré, capacitada a processar 45 mil barris por dia (quando a expansão de suas instalações for concluída, poderá chegar a 65 mil). Paraíba, Ceará e o próprio RN são abastecidos em querosene de aviação e agora também em gasolina por essa refinaria.

O gás natural da Bacia Potiguar, por sua vez, garante o funcionamento da Termoelétrica do Assu, que torna o Rio Grande do Norte autossuficiente em energia

As grandes distribuidoras de combustíveis acreditam que 30% do etanol vendido nas bombas dos postos de serviço embutem algum tipo de sonegação de impostos.

Isso fica nítido nos preços apurados pela Agência Nacional de Petróleo (ANP).

Mesmo quem estiver vendendo etanol pelos valores médios, teria que arcar com prejuízo se todos os impostos fossem recolhidos.

O pior é que tal acontece às vistas das autoridades, pois o etanol é vendido cumprindose trâmites legais até que chega o momento de recolhimento dos tributos. A usina de álcool emite uma nota fiscal eletrônica na entrega do combustível e fica responsável pelo recolhimento de 40% dos impostos.

Uma distribuidora chamada de "barriga de aluguel" revende o etanol para os postos, também emitindo nota fiscal, só que não recolhe os 60% de tributos restantes. Essa distribuidora vai ficando inadimplente, mas até aí não está caracterizado um crime.

A má fé se torna evidente quando a distribuidora fecha as portas e surge uma nova "barriga de aluguel".

O sindicato que reúne as grandes distribuidoras criou um "sonegômetro", que simula o total de impostos não recolhido. Este ano o valor já teria passado de R$ 1 bilhão.

A Justiça teria que ser mais célere nesse caso, e a Receita Federal idem. Os fiscos estaduais costumam ser mais ágeis. Junto com a ANP, a secretaria estadual de Fazenda de São Paulo desabilitou 800 postos só no ano passado. Mas as "barrigas de aluguel" não desapareceram.

As várias alíquotas de ICMS no país facilitam esse tipo de sonegação. Muitas vendas interestaduais de etanol na verdade só existem para que os sonegadores aproveitem brechas entre uma alíquota e outra.

A reforma tributária atacaria esse problema, mas, diante dos obstáculos para levá-la adiante, as entidades envolvidas nas vendas de combustíveis propõem a adoção de mudanças setoriais, pelo menos. No caso dos combustíveis, as alíquotas de ICMS poderiam ser regionalizadas, e não por estados.

Haveria uma alíquota pra o Nordeste, outra para o Sudeste, e assim por diante

CLÁUDIO HUMBERTO


PT já disputa cargo no eventual Governo Dilma

O PT espalhou que o PMDB já brigava por cargos em eventual Governo Dilma Rousseff, com o objetivo de estigmatizar o partido do candidato a vice, Michel Temer, imobilizando-o, mas são os petistas que promovem a "corrida ao ouro". Antes cotado para a Casa Civil, por exemplo, o ex-ministro Antonio Palocci usa sua força na coordenação da campanha para garantir a presidência da Petrobras, que vale por mil ministérios.


Coutinho sobe

O ministro Guido Mantega deverá entregar a Fazenda a Luciano Coutinho, hoje presidente do BNDES, e retornar ao Planejamento.


PB na Casa Civil

Paulo Bernardo ganhou a confiança de Dilma e conhece como poucos o funcionamento do Governo. Deve ir para a Casa Civil.


Como antes

Henrique Meirelles é lembrado para o Ministério da Fazenda, mas Dilma ainda o prefere na presidência do Banco Central.


Líquido e certo

Helena Chagas deve virar ministra no lugar de Franklin Martins, que trama para ele a fusão da Anatel com o Ministério das Comunicações.


'Insubmissão militar'

O universitário Miguel Mendes de Souza, 26, está preso, há quase um mês, no quartel da Polícia do Exército, no Rio - de triste lembrança na ditadura - por "insubmissão". Aos 18, ele descumpriu o serviço militar obrigatório e, ao tentar regularizar a situação, foi escoltado até o quartel do Exército. Segundo o pai, dois advogados tentaram, em vão, sua liberação. O caso agora passou à Defensoria Pública fluminense.


Dura lex

A assessoria do Exército diz que apenas cumpriu a lei e que o Código Militar prevê pena de até um ano. Miguel não pode sair do quartel.


Dose dupla

O PMDB do Rio Grande do Norte quer as presidências do Senado, com Garivaldi Alves, e da Câmara, com Henrique Eduardo Alves.


Tela quente

Um bom roteiro à procura de um diretor: "Todas as mulheres do presidente", a versão brega-tupiniquim do célebre filme americano.


Interesse público

Ao contrário do ministro Marco Aurélio, para quem o caso Roriz perdeu o objeto, o presidente do TSE, ministro Ricardo Lewandoski, defenderá no Supremo a jurisprudência já seguida no Superior Tribunal de Justiça: a ação continua em razão do interesse público.


Efeito dominó

O efeito Roriz chega ao Pará: a deputada Elcione Barbalho pode substituir o ex-marido, Jáder, em sua candidatura ao Senado. Paulo Rocha (PT) aguarda posição da governadora Ana Júlia Carepa.


Faltou legitimar

Polêmica envolve a OAB, o TSE e o engenheiro Amilcar Brunazo Filho, do Comitê Multidisciplinar Independente, sobre a segurança das urnas eletrônicas. A OAB não teria legitimado o software do TSE, com "erros primários", mas Ophir Cavalcante diz que foi ape nas um mal-entendido.


Aliança histórica

No DF, o candidato ao Governo Toninho do PSOL não tem chances, mas virou grande aliado da turma de Roriz, t irando votos do petista Agnelo Queiroz e fazendo dobradinha nos ataques à aliança PT-PMDB.


PODER SEM PUDOR

A graça de xingar
Robson Marinho era prefeito de São José dos Campos (SP) e estava num clube quando, de repente, um homem começou a gritar para ele: "Ladrão! Ladrão!" Marinho reagiu também aos gritos: "Ladrão! Ladrão!" Um assessor do prefeito não se conteve e aplicou um corretivo no provocador. Mas, para sua surpresa, em vez de elogios, tomou uma bronca do chefe:
- Como você pode fazer isso com o meu melhor parceiro de truco?!
Quem conhece, sabe: a graça do truco - aliás, o jogo favorito do presidente Lula, na intimidade - é blefar e xingar o adversário.