sábado, julho 17, 2010

O POLVO E O CANALHA

EDITORIAL - O GLOBO

Sindicatos cooptados lutam por votos
EDITORIAL
O GLOBO - 17/07/10
A crise na Força Sindical devido a um conflito entre tucanos e petistas é apenas a ponta visível de algo maior, o envolvimento de sindicatos no processo eleitoral de uma forma jamais vista desde a redemocratização, em 1985. A briga na Força se trava em torno da decisão do presidente interino da central, Miguel Torres, de assinar um documento de apoio à candidata Dilma Rousseff, sem consultar as bases. Como há nelas correntes tucanas, deu-se a confusão.

Isso acontece porque, em quase oito anos de governo, Lula conseguiu, com extrema competência — devidamente azeitada com recursos públicos —, cooptar a Força Sindical, aproximá-la da CUT — algo improvável há alguns anos — e, com outros agrupamentos sindicais, formar uma extensa frente para apoiá-lo.

No primeiro mandato, dentro da ideia de constituir fóruns multiclassistas para tecer propostas consensuadas e levá-las como prato feito ao Congresso, Lula colocou representantes dos empregados e patrões frente a frente para chegarem a um projeto de reforma sindical e trabalhista. Pouco ou nada se avançou, até porque o governo tinha a palavra final e, quando havia divergência, sempre ficava do lado dos sindicatos dos trabalhadores. Era clara sua opção preferencial.

No loteamento do governo, o Ministério do Trabalho foi doado aos sindicatos. Porém, o gesto mais substantivo para sedimentar a cooptação das entidades foi o reconhecimento das centrais por parte do Estado, para que elas pudessem entrar na repartição do dinheiro fácil do imposto sindical, e sem precisar prestar contas sobre o destino dos recursos.

Um presentaço. No mês passado, estimava-se que CUT e Força Sindical já haviam recebido, em 2010, R$ 50 milhões por conta do novo status. Não espanta que haja relatos de desvios deste dinheiro para financiar mordomias de dirigentes, nem que tenha ganhado força uma indústria de criação de sindicatos, montada para disputar o acesso aos cerca de R$ 2 bilhões anuais retirados compulsoriamente do contracheque dos assalariados.

Lula, desde que surgiu no cenário político, no final da década de 70/início da de 80, até hoje mudou em 180 graus. Ele e, depois, PT e CUT, dos quais foi fundador, nasceram com propostas de sepultar o aparato getulista: acabar com a subordinação dos sindicatos ao Estado e desmontar a CLT. Defendiam, ainda, o fim do imposto sindical e do monopólio cartorial de cada sindicato sobre sua região de atuação.

Foi tudo esquecido. As centrais — CUT à frente, a maior de todas — marcharam alegremente para os braços do Estado, foram se aconchegar no Tesouro e se sentar na mesa do banquete eterno do imposto sindical.

A CLT passou a ser defendida como “conquista do trabalhador” — embora o custo e rigidez dessa legislação mantenham metade do mercado de trabalho na informalidade.

Neopelega é termo justo e adequado para designar a atual liderança sindical. Renasce em cada uma delas a figura daqueles senhores que, à frente de sindicatos, tinham trânsito fácil no Palácio do Catete, sem esquecer, como hoje, a chave dos cofres públicos. Parece uma grande conspiração irônica da História contra a biografia política de Lula.

Retiraram do armário o figurino do pelego getulista

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Rachou de vez?
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/07/10
Assim que aterrissar em São Paulo, quarta-feira, Ricardo Teixeira, da CBF, fará uma cobrança antes mesmo do seu encontro com Alberto Goldman. Quer saber publicamente quais são e de quem são os interesses espúrios, mencionados por Caio Luiz de Carvalho, ex-SPTuris, que estão impedindo que o Morumbi sedie a abertura da Copa.Teixeira, aliás, pediu ao jurídico da Fifa para estudar os procedimentos contra o ex-assessor de Kassab.
Consultado, Carvalho jura que nunca disse algo assim.




Munição?
Goldman tem encontro com Kassab, segunda, para afinar discurso antes da conversa que terão com Teixeira dois dias depois. "Bato na mesma tecla desde o começo da discussão: temos o Morumbi para a Copa", disse o governador à coluna.
Ele afirma não considerar outro estádio, muito menos o Piritubão. Já Kassab...



Destino
Do jeito que as coisas estão caminhando, não será surpresa se Teixeira definir o Maracanã para abrir e fechar a Copa de 2014 no BRASIL.



Premiação
PESQUISA da FGV com 500 administradores de carteiras e analistas de investimentos deu ao Itaú Unibanco o troféu melhor PROGRAMA de RI de 2010 e a Roberto Setubal, título de melhor desempenho. "Credito os prêmios à qualidade e à frequência de reuniões com investidores e analistas do BRASIL e do exterior", comemora Setubal.



Premiação 2
Com um bem-humorado "o judeu aqui sou eu", Alberto Goldman justificou anteontem, olhando para Andrea Matarazzo, da CULTURA, sua decisão de aumentar de R$ 30 mil para R$ 100 mil o valor máximo do Prêmio Governador do Estado.
Extinto nos anos 90 por Quércia, a premiação acaba de ser ressuscitada por ambos.



Outro lado
Gabeira viu lado bom no trânsito infernal no Rio ontem, causado pelo comício de Lula, Dilma e Cabral. "Vão perder um monte de votos", ironizou.



Da vez
Depois de Marina e Dilma, agora é Serra. O candidato participa do almoço debate dia 26, promovido por João Doria, do Lide.



Vencedora?
Não apareceu concorrente para a compra do controle da Milpo pelo Grupo Votorantim. O prazo legal para apresentação de propostas pela mineradora peruana acabou quarta-feira.



Nova escolha
Depois da queda do avião russo que matou, em abril, Lech Kaczynski, o então presidente da Polônia, o governo polonês decidiu: vai usar o Embraer EMB 175 como aeronave presidencial.



Golpe novo
Um homem foi visto fotografando vitrines na Vila Olímpia. Questionado, esclareceu ao interlocutor ser da Prefeitura. Horas depois, oito jovens, em três carros, estouraram o vidro e arrombaram a loja Zapälla. Renderam o vigia sem deixar pistas.



Direto de Paulínia
Frio e público pequeno marcaram a abertura do 3º Festival Paulínia de CINEMA, anteontem. O ponto alto ficou por conta da sintonia entre os apresentadores Fernanda Torres e Lázaro Ramos: deram show de improvisação a cada vez que um deles se esquecia do texto.

O ponto baixo, o burburinho na plateia quando o prefeito José Pavan Júnior foi citado. Sua cassação pelo TSE, depois suspensa, deu-se no mesmo dia da entrega do prêmio no ano passado.



Buquê
Julio Baptista, que joga no Roma, embarca para as Ilhas Maldivas depois de se casar em Madri, dia 27, com a modelo espanhola Silvia Nistal, sua namorada há mais de quatro anos.

Ele de fraque Armani, marca preferida de jogadores. Ela de Rosa Clará, com vestido tipo princesa, arco na cabeça e pulseiras cravejadas com diamantes.




Na frente
Abre amanhã, no Ibirapuera, a mostra Transfer. Parceria do Santander com a secretaria municipal.

Beto Pandiani e Igor Bely lançam LIVRO Travessia do Pacífico e exposição fotográfica. Dia 3, no Shopping Iguatemi.

Fred Frank inaugura seu restaurante Vitrô, em Moema. Na terça-feira.

Plínio de Arruda Sampaio radicalizou: tirou o Arruda de seu nome do registro do TSE e do material de campanha. Uma PESQUISA detectou que o eleitor confundia o Arruda do DEM com o Arruda do "bem".

GOSTOSA

MERVAL PEREIRA

O horário do expediente
Merval Pereira
O GLOBO - 17/07/10

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, já havia anunciado que faria campanha para a candidata oficial, Dilma Rousseff, na hora do almoço, que, segundo ele, “é hora da militância”.

Como se deixasse de ser uma autoridade durante as refeições. Agora, é o presidente da República que programa comícios a favor de sua predileta “após o horário do expediente”. Como se presidente tivesse expediente de funcionário público.

Após o comício de ontem no Rio, Lula estará ao lado de Dilma em Recife (23/7), Curitiba (30 ou 31/7), Belo Horizonte (6 ou 7/8) e, por fim, em São Paulo (13 ou 14/8), sempre “depois do expediente”, que ficou convencionado que expira diariamente às 18h.

Ficamos sabendo agora que quem usa, após as 18h, o Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, é um usurpador, pois o presidente de verdade deve estar em outro lugar com sua família, pois só tem direito a usar a residência oficial quando está cumprindo o expediente do emprego público para o qual foi eleito.

Deve ser esse, então, o papel do vice-presidente da República, José Alencar. É ele quem assume a Presidência “fora do expediente”, e nunca ninguém notou essa sutileza tão brasileira quanto a jabuticaba.

E pensar que há muitas pessoas que consideram uma inutilidade a figura do vice-presidente nesses tempos modernos, em que o presidente pode estar à frente dos assuntos do país em qualquer lugar do mundo em que esteja.

Esse hábito tão brasileiro de passar o governo para o vice quando o titular viaja ao exterior, como se não fosse possível assinar documentos, dar ordens e acompanhar qualquer assunto de qualquer lugar do mundo, até mesmo de dentro do Aerolula em pleno voo.

Mas está explicado, o presidente da República na versão do lulismo tem hora de entrada e de saída, e também de almoço, está livre das obrigações do cargo depois das 18h e até as 9h do dia seguinte, e entre as refeições.

É por isso também que o presidente Lula anunciou outro dia que pode aparecer em portas de fábricas a qualquer momento, em cima de um caminhão, para relembrar os velhos tempos de líder operário, fazendo comício para Dilma Rousseff. Ou distribuindo “santinhos” de sua candidata para os operários que chegam para o batente.

Também o governador Sérgio Cabral aderiu à prática, como se um governador que concorre à reeleição sem necessidade de se desincompatibilizar do cargo precisasse dessas sutilezas para separar sua campanha dos atos de governo.

Seria risível se não fosse trágico para a democracia brasileira, e é preciso que rapidamente o
Tribunal Superior Eleitoral regulamente a atuação dos governantes nas eleições, especialmente a do presidente da República, para que o país não viva essa situação esdrúxula de ter durante três ou quatro meses um presidente que bate ponto como um burocrata qualquer, fingindo estar cumprindo a lei.

O presidente que criticou ontem os burocratas que “não tiram a bunda da cadeira”, abusando de um linguajar popularesco e chulo, está agindo como o mais burocrata dos servidores públicos, embora “tire a bunda da cadeira” com muita frequência para viajar pelo país para sustentar a candidatura de sua escolha pessoal.

Embora tenha dito que Dilma já poderia caminhar por suas próprias pernas, o presidente parece na prática preocupado com a atuação de sua pupila, ainda mais agora que ela revela não estar suportando a árdua campanha presidencial.

A utilização do “Dilmamóvel” para que ela não se canse nas caminhadas políticas é um ponto de inflexão nessa campanha.

Demonstra no mínimo que o que se temia está acontecendo: Dilma, que nunca se candidatou a nenhum mandato eletivo, não tem condições físicas para aguentar uma campanha longa e exigente como a que está disputando.

O envolvimento do presidente Lula na campanha, de maneira tão empenhada que nenhuma legislação o impede de atuar, está provocando a reação não apenas do candidato José Serra, do PSDB, que se encontra empatado com a candidata oficial na liderança da corrida presidencial, mas também da candidata do Partido Verde, Marina Silva, que tem tido o maior cuidado quando se refere a Lula, seu companheiro de Partido dos Trabalhadores durante 30 anos.

Também ela mostra-se preocupada com a interferência do presidente, a quem chamou de “general eleitoral”.

“Por mais relevantes que sejam os generais eleitorais, o principal protagonista desse processo se chama sociedade brasileira”, disse Marina em uma entrevista em Goiânia.

Para ela, “é altamente gratificante ver que as pessoas estão (...) mostrando que não basta escolher um candidato e dizer para o povo: ‘vote neste’.

O povo tem o direito de escolher aquele com quem se identifica com as propostas, com as trajetórias, com o compromisso”.

À medida que o presidente Lula se envolve cada vez mais na campanha, desequilibrando a disputa eleitoral com a força da máquina pública de seu governo, além de sua popularidade pessoal, mais os candidatos prejudicados chamam a atenção dos eleitores para o fato de que Dilma Rousseff não consegue andar por suas próprias pernas, e precisa de Lula como muleta.

Por incrível que pareça, em 19 de junho o governo de Cuba foi eleito para a vicepresidência do Conselho de Defesa dos Direitos Humanos da ONU. A vice-presidência é exercida por Rodolfo Reyes Rodríguez, e sua eleição ocorreu por maioria de votos, com o apoio, evidentemente, do Brasil.

O Conselho é o mais novo órgão das Nações Unidas e foi criado em 2006, com o objetivo de defender a Declaração Universal dos Direitos Humanos, “responsabilidade de todos os Estados sem nenhuma distinção de opinião, de política, de sexo, raça ou cor”.

Depois, ainda reclamam do presidente Lula.

IVAN ÂNGELO

Devagar, divagar
IVAN ÂNGELO
REVISTA VEJA-SP



Calma. Viver é devagar. Uma pessoa leva nove meses para nascer, um ano para andar e ganhar dentes, dois anos para falar, seis para ler, dezoito anos de escola para se formar, trinta anos para ficar maduro, noventa anos para morrer. Para que a pressa? Não se estresse. “Apressa-te devagar”, aconselhava o historiador romano Suetônio ao imperador Adriano.
Por que têm pressa os que têm pressa?
A pressa é um perigo. Acontecem 700 acidentes por dia nas rodovias brasileiras, 42 000 pessoas morrem anualmente em acidentes de trânsito, 24 000 só nas estradas. Por que a pressa? As cidades estão lá à espera no término da viagem, as praias estão lá, os hotéis, os parentes, os amigos, nada vai sair do lugar, mas todos têm pressa. Parecem fugir dos quilômetros. “Não há nada que se possa fazer com pressa e prudência ao mesmo tempo”, ensinava o latino Publilio Siro, 2 000 anos antes da invenção do automóvel.
A pressa para ganhar dinheiro amolece a moral, favorece o crime, a corrupção, a bajulação, o carreirismo, a passada de perna. Na última década do século passado, começou a circular, com o peso de um salmo bíblico, a nova mensagem aos jovens: aquele que não ganhar seu primeiro milhão antes dos 30 anos será um perdedor. A pressa entrou em cena nos escritórios, vieram os atropelamentos nos corredores das empresas. Como diz o delinquente do filme 'Notícias de uma Guerra Particular', sobre um par de tênis que viu alguém usando e o qual não podia comprar: “Eu vou pegar, brother”; o jovem da classe média diz sobre o milhão que outros têm: “Eu vou pegar o meu, cara”.
Também no amor a pressa não resulta em grande coisa. A pressa dos conquistadores assusta a presa. A dos ansiosos provoca fracasso na hora H. A dos imprevidentes termina em gravidez. A dos maridos dá origem a mulheres insatisfeitas. A das esposas encoraja adúlteros. A dos namorados os acostuma à falta de capricho no amor. A dos solteirões produz velhos solitários, que não atentaram, enquanto era tempo, para um conselho de avô: “Fuja das mulheres, mas devagar, para que elas possam alcançá-lo”.
Pressa para fazer um trabalho não dá certo. O oleiro sabe que não adianta apressar o barro. Uma mesa benfeita, uma cirurgia precisa, uma casa bem construída, um sapato confortável, uma estrada segura — tudo tem seu tempo, e não é o dos apressados. Lembram-se da cratera da Linha 4 do Metrô de São Paulo? Viram o absurdo urbano do Minhocão? Viram a trapalhada do Plano Collor? “A pressa é o ritmo dos trapalhões”, diz o escritor americano Ambrose Bierce. O povo sempre soube disso, ao criar ditados como “A pressa é inimiga da perfeição”, “Roma não se fez num dia”, “Devagar se vai longe”. Gasta-se tempo fazendo, e outro tanto refazendo. Vamos, pois, desacelerar, ouvindo o que diz um escritor de prosa saborosa, o londrino G.K. Chesterton: “Uma das grandes desvantagens da pressa é o tempo que ela nos faz perder”.
A pressa na arte resulta em obras sem arte. Que de mais grandioso existe entre as obras de arte coletivas do que as catedrais, como as de Paris, Colônia, Milão, Reims e outras? Levaram cinco, seis séculos para ficar prontas. O pior que se pode dizer de um romance, de uma mostra de pintura, de um concerto, de um espetáculo teatral é que são apressados. Arte é concepção, realização e acabamento. E isso toma tempo, tempo de criar, corrigir, aparar, avaliar, polir. Quinhentos anos antes de Cristo o sábio chinês Confúcio ensinava: “Coisa feita com pressa é coisa malfeita”. Viver é divagar.

O ESGOTO DO BRASIL

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

Contrabando eleitoral
EDITORIAL
O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/07/10
A política do vale-tudo adotada pelo governo para eleger a candidata do chefe, a ex-ministra Dilma Rousseff, desafia a Justiça Eleitoral, a imprensa independente, a sociedade organizada e todos aqueles que sabem que não basta o voto livre, secreto, universal e devidamente contabilizado para assegurar a integridade do mais importante rito da democracia.
A garantia da chamada lisura do pleito e o ideal da igualdade das oportunidades eleitorais exigem desde muito antes da ida às urnas a ativação de tantos contrapesos quantos concebíveis dentro da lei e da ética pública à decisão do presidente Lula de perverter a administração federal em instrumento de campanha de sua escolhida. Já seria demais se fosse apenas ele, "nas horas vagas", o arrimo de Dilma.
Na realidade, Lula lidera o mais desenvolto processo de captura do governo central para fins eleitorais de que se tem memória no Brasil desde o tempo das eleições a bico de pena. Nesta semana, a ponta do iceberg foi a desfaçatez do presidente em fazer propaganda da ex-ministra duas vezes seguidas ? primeiro, em um evento oficial na sede do governo; depois, ao tornar a louvá-la no mesmo momento em que dizia se desculpar pelo ilícito da véspera.
Num dia, aparece o secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, afirmando que só em 120 dias ? não antes do primeiro turno, portanto ? divulgará as conclusões da sindicância interna sobre a violação do sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, com o mais do que provável intento de descobrir munição para alvejar a candidatura José Serra.
No outro dia, fica-se sabendo, em reportagem de Christiane Samarco e Leandro Colon publicada neste jornal, que o governo contrabandeou para dentro de um kit com materiais de defesa do voto em mulheres um discurso de 6 páginas de Dilma. O conjunto, com 3 mil livros, 20 mil cartazes e 215 mil cartilhas, foi produzido e distribuído pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, vinculada à Presidência da República.
O conjunto foi elaborado em 2008 e 2009, mas só foi impresso em maio último, aparentemente por atraso na liberação dos recursos. O custo total foi da ordem de R$ 70 mil, bancado por um convênio com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Dilma está presente no livro Mais Mulher no Poder: uma questão da democracia & Pesquisa Mulheres na Política com uma palestra que proferiu no ano passado em um seminário.
No texto publicado, a então ministra lembra a sua participação no combate ao regime militar e descreve a sua trajetória no governo, destacando o fato de ter sido a primeira mulher a ocupar a Casa Civil. A primeira reação da Secretaria foi negar qualquer intuito de promover Dilma. Mas em 2009 Lula já estava em campanha aberta por sua apadrinhada. E vinha de dois anos antes a informação de que ele a escolhera candidata.
A revelação de mais esse episódio de uso eleitoral da máquina administrativa acendeu o sinal vermelho no comitê da candidata. Com o jornal nas bancas, o assessor jurídico da campanha, Márcio Silva, apressou-se a procurar o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, para prevenir o risco de um processo por abuso de poder econômico. Chegaram a pensar em recolher os kits incriminadores. Depois de consultar o Planalto, resolveu-se parar com a distribuição do material.
"Acabou, não tem mais", disse Márcio Silva. Por via das dúvidas, opinou que "o material não é propaganda eleitoral". Não é bem assim. Em primeiro lugar, só acabou porque a operação se tornou pública. Segundo, se não se trata de propaganda, por que a outra presidenciável, Marina Silva, do PV ? que também foi ministra ?, não foi chamada a contribuir para o livro ou a cartilha?
Por último, não se pode dissociar da campanha legítima pela maior participação da mulher nos centros de decisão política a dificuldade enfrentada até aqui por Dilma em reverter a preferência da maioria do eleitorado feminino por Serra, registrada nas pesquisas. E no Brasil há mais eleitoras (69,4 milhões) do que eleitores (64,4 milhões).
Mas isso é problema dela. O do País é frear as violações acintosas da lei eleitoral pelo governo Lula. 

PAINEL DA FOLHA

A volta de Walfrido 
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/07/10

Réu no processo que investiga o valerioduto tucano, o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia assumiu a coordenação-executiva em Minas Gerais do movimento suprapartidário de prefeitos pró-Dilma Rousseff (PT). Aliado de Lula e do PT, Walfrido já havia oferecido neste ano uma casa sua para uso de Dilma em Brasília, mas o PT achou por bem declinar. 
Filiado no ano passado ao PSB, o ex-ministro integrou em 98 a coordenação da campanha do tucano Eduardo Azeredo ao governo de Minas - “laboratório” do mensalão do PT, segundo o Ministério Público. Walfrido já participou de duas reuniões do movimento, a última no comitê central de Dilma, na terça. 

Dilmasia - O convite a Walfrido foi feito pelo coordenador-geral do movimento em Minas, o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), expoente do grupo de apoio ao tucano Antonio Anastasia para governador e Dilma para presidente. 

Outros tempos - Ex-petistas chamavam a atenção para a panfletagem que convidava ontem a população do Rio para o comício de Dilma, Lula e Sérgio Cabral (PMDB). No lugar de militantes, moças bem vestidas distribuíam convites azuis - nada do vermelho petista - com a foto dos três e sem nenhuma mensagem política escrita, outro “atentado” contra costumes petistas. 

Hit - Na concentração para o comício da Cinelândia, enquanto esperavam por Lula para tomar o avião rumo ao Rio, ministros, assessores e seguranças do presidente se divertiam com o vídeo do “Dilmaboy”, sucesso na rede. 

Abrigo - Pouco antes de discursar em Diadema (SP) na inauguração de um projeto de urbanização, ontem, Lula “afanou” as luvas do ministro Márcio Fortes (Cidades) para enfrentar o frio. 

Tal filha - A prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), lançou a mãe, Luiza Lins (PT), candidata a deputada estadual. 

Troco - Vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas preparou ação por danos morais contra a União. O secretário da Receita, Otacílio Cartaxo, afirmou que o sigilo do tucano foi acessado umas “cinco ou seis vezes”. 

Máquina - No comando da campanha de José Serra, as desculpas que Lula pediu por ter citado Dilma em evento oficial foram vistas como um sinal de que o presidente tende a maneirar daqui em diante. Apesar de não acreditarem em punição concreta, avaliam que manifestações como “abuso de poder político” e “mau uso da máquina”, vindas da vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, soam mais ameaçadoras do que multas. 

Bloco na rua - Durante reunião do comando do PSDB com diretórios estaduais e aliados, na segunda, surgiram as primeiras queixas de demora no envio de material de campanha de Serra aos Estados. Responsável pela área, Sérgio Kobayashi prometeu que a primeira leva ficará pronta até o final da semana que vem. 

Repaginou - Marina Silva (PV) apareceu em Goiânia ontem com um novo visual: a candidata verde trocou o coque rígido por um rabo de cavalo, arrematado numa presilha de capim dourado.

Alerta - Apesar dos sinais tranquilizadores do PSB, causou apreensão em Brasília a “volta” de Ciro Gomes (PSB) ao noticiário afirmando ter sido “feito de bobo”. 

ABC - A lei veta a candidatura de pessoas que não sabem ler e escrever, mas seis candidatos a deputado declararam ser analfabetos.

Tiroteio
Ao contrário do governo federal, em São Paulo não se engole sapos políticos em matéria de licenciamento ambiental. 
DE XICO GRAZIANO, ex-secretário estadual de Meio Ambiente e coordenador do programa de governo de Serra, sobre a afirmação de Lula, segundo quem São Paulo cria dificuldades para fazer obras. 

Fora do padrão 

Em campanha para retornar ao governo de São Paulo, Geraldo Alckmin participava na segunda-feira de caminhada no município de Araras, leste do Estado. Nem bem havia percorrido uns poucos metros na companhia de aliados, o tucano foi abordado por um vendedor ambulante que carregava um cesto de rosas: 
- Leve uma para dona Lu, candidato! 
Alckmin agradeceu, mas achou melhor recusar: 
- É complicado... Eu nunca apareço com flores. Se aparecer hoje, ela é capaz de ficar desconfiada... 

GOSTOSA

MÍRIAM LEITÃO

Fantasma na festa
Miriam Leitão
O GLOBO - 17/07/10

Por 87 dias o óleo vazou no fundo do mar do Golfo do México. Durante este tempo o mundo pensou seriamente no outro lado do produto: indispensável para a vida moderna, mas capaz de espalhar destruição, morte e ameaçar o próprio Planeta. A festa que o presidente Lula quis fazer tinha uma sombra. Exorcizar o fantasma é melhor do que fingir que ele não existe.

O presidente Lula preferiu atacar este jornal, esquecer fatos, confundir geografia, e apelar ao nacionalismo para tentar manter o mesmo ritmo da festa que havia programado para o dia em que pudesse sujar as mãos no petróleo do pré-sal. Mas o mundo do petróleo mudou nestes quase três meses em que vazaram milhões de barris destruindo vida marinha, estilo de vida de populações, aves, praias e certezas.

As estimativas ainda estão imprecisas, mas podem ter vazado até cinco milhões de barris de petróleo; no Exxon Valdez foram 257 mil barris.

Mesmo se for confirmado o melhor cenário que é o de ter estancado definitivamente o vazamento da British Petroleum, os próximos anos serão consumidos na grande operação de faxina na região. O fantasma continuará entre nós, como até hoje há sequelas do vazamento de 1,3 milhão de litros de óleo na Baía de Guanabara há dez anos.

Petróleo é ainda indispensável, mas o mundo caminha para um imposto sobre carbono para tentar empurrar empresas, consumidores e governos para um uso menos intensivo de fontes fósseis e, desta forma, reduzir as emissões dos gases de efeito estufa. É o que garantirá o futuro do Planeta. É bom que o Brasil tenha reservas, as encontre e seja capaz de extraí-las, mas ignorar o alerta dado por essa tragédia é insensatez.

— Este acidente é um marco da história da indústria mundial de petróleo e é fundamental não perder a oportunidade de aprender com os erros dos outros.

Nós somos um dos países com maior produção off shore e por isso acho que boa regulação deveria ser pautada por três atributos: inteligência setorial, transparência e comunicação.

Acho que a ANP deveria ser pró-ativa, estar todo o dia na mídia mostrando de que forma está acompanhando o acidente e se está ou não pensando em revisar os dispositivos regulares — disse o professor Helder Queiroz Pinto, do Grupo de Economia da Energia da UFRJ.

O prejuízo para a empresa é colossal, e ainda está longe de estar completamente contabilizado. A BP recebeu até agora 100 mil pedidos de indenização, já pagou US$ 201 milhões. Teve que instalar 35 escritórios ao longo do Golfo para receber as reclamações. A companhia foi obrigada a constituir um fundo de US$ 20 bilhões, mas outro de US$ 100 bilhões está sendo criado por determinação do governo.

Esses fundos são para garantir os afetados, caso a empresa deixe de existir. O que é uma possibilidade.

O fim do vazamento não é o fim dos seus efeitos. “É como colocar um band-aid em um homem morto”. Foi o que disse o pescador Jeff Ussury numa entrevista ao “New York Times”. Pescadores da região são diretamente afetados e muitos podem ter perdido para sempre a chance de exercer sua atividade.

Diante de tão arrasadoras consequências para as pessoas, empresa, meio ambiente, vida marinha, economia, o melhor a fazer é levar tudo muito a sério.

Para isso é que existe o princípio da precaução. Seria bom acreditar que nada disso jamais vai nos acontecer, porque, como diz o presidente: “190 milhões vão ajudar a Petrobras a tirar com carinho esse petróleo do fundo do mar.” O mais racional a fazer é a empresa prestar informações objetivas sobre o que nos protege contra um risco semelhante, e a agência reguladora se comportar como uma agência reguladora e prestar as informações pertinentes. Mais do que isso, empresa e agência precisam rever processos, equipamentos, rotinas e normas de segurança. A extração de petróleo, no qual o presidente Lula pôs suas mãos esta semana, está longe de ser a prova de que o desafio está dominado. Os outros campos de pré-sal são muito mais profundos do que os do Espírito Santo e representam um desafio tecnológico muito maior.

Por causa do vazamento, a agência Moodys classificou como negativa a perspectiva para o setor de petróleo nos próximos 12 a 18 meses. Ela inclui nesse cenário não só as grandes companhias de petróleo de exploração em águas profundas, como também as menores que fazem exploração em terra. “O derramamento de petróleo no Golfo do México coloca enormes incertezas para companhias de exploração e produção de petróleo.” A agência acha também que os custos ficarão mais altos para as atividades das empresas, e as reservas do fundo do mar perderão valor.

A Fitch acha que os bancos exigirão taxas maiores para financiamentos a empresas de petróleo.

O professor Celso Kazuyuki Morooka, do Centro de Estudos de Petróleo da Unicamp, explica que as dificuldades de operação a 1.700 metros de profundidade são semelhantes às encontradas pelos astronautas no espaço. Por isso, tudo foi tão lento no Golfo: — Todos os procedimentos foram adotados no Golfo, mas o vazamento continuou.

Agora a engenharia terá que apurar o que aconteceu e atualizar seus procedimentos de segurança.

É isso: princípio da precaução, reforço da segurança, revisão dos processos, desenvolvimento de novas tecnologias, prestação de contas à população, aos acionistas, aos investidores sobre a situação brasileira. Isso é o mais sensato. O insensato é achar que os outros são incompetentes e os nossos riscos são “assimiláveis”, como disse a ANP a esta coluna.

Corre mais risco quem pensa que o risco não existe.

MAURO CHAVES

Pacto do mérito e da liberdade
MAURO CHAVES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/07/10
Os abaixo-assinados e rubricados, candidatos a presidente da República, assumem perante a Nação os seguintes compromissos, irrevogáveis e irretratáveis:
1. Comprometemo-nos a respeitar a plena liberdade de expressão, por considerá-la, além de valor cristalinamente consagrado em nossa Constituição, uma condição indispensável à preservação do Estado Democrático de Direito, que é o sistema de exercício de poder de Estado que a sociedade brasileira escolheu e do qual em hipótese alguma pretende abrir mão.
2. Consideramos que muito mais importante do que o direito de jornalistas e veículos de comunicação transmitirem notícias, informações ou opiniões é o direito de os cidadãos as receberem, para que possam fazer, livremente, suas próprias avaliações, sobre a verdade dos fatos, o comportamento das pessoas públicas e tudo o mais que diga respeito aos interesses, conflitos e projetos da comunidade social.
3. Repudiamos quaisquer projetos de imposição de um pretenso "controle social" da mídia, por julgar que iniciativas desse teor jamais escaparam ? ou escaparão ? das práticas liberticidas adotadas por governos autoritários e ditaduras, já que a estes sempre falta a verdadeira substância da vida democrática, que é a capacidade de tolerância à crítica.
4. Julgamos que apenas o público receptor de informações ou opiniões veiculadas pela mídia ? seja o constituído por leitores, rádio-ouvintes, telespectadores ou internautas ? tem condições de realizar suas avaliações qualitativas, não cabendo a agentes do Estado ou a integrantes de quaisquer conselhos ou comissões oficiais determinar o que seja ou não "correto" na atividade dos profissionais da comunicação.
5. Achamos que, pelas qualidades históricas do povo brasileiro, caracterizado pela mistura fértil de etnias e de culturas provenientes de todas as partes do planeta, numa rica miscigenação de valores, a luta pela vida, no Brasil, deve assentar-se muito mais no reconhecimento do talento, do mérito, no empenho pela competição justa e pelo saudável esforço do aprendizado do que no recebimento de bolsas de sustento pessoal (sem a contrapartida educacional), ou na garantia de cotas privilegiadas de acesso (ao ensino ou emprego públicos), independentemente de comprovações de mérito, ou ainda na suposta evolução baseada nas ligações de compadrio.
6. Achamos que talento e mérito devem ser as molas propulsoras do Brasil, muito mais do que as fidelidades grupais, as adesões submissas a quaisquer lideranças ? por efetivas e até legítimas que estas sejam ? ou mesmo a gratidão para com aqueles que nada mais fazem do que cumprir a pública obrigação. Consideramos que o talento e o mérito devem constituir o principal eixo de motivação do desenvolvimento pessoal e que o esforço real pelo aprendizado deve se tornar a principal retribuição de tantos quantos sejam beneficiados pela ajuda pública, tendo em vista que alcancem o melhor padrão de dignidade de vida humana, a partir de um verdadeiro sentimento de independência e elevada autoestima.
7. Comprometemo-nos a manter um bom relacionamento comercial com os mais diversos países, em consonância com a reciprocidade de nossos interesses econômicos, mas jamais violentando os princípios e valores cultivados pela sociedade brasileira, como significaria apoiar, prestigiar ou, simplesmente, acobertar ditadores, governos autoritários ou violadores contumazes dos direitos humanos.
8. Entendemos que é necessário buscar a governabilidade por meio da persuasão política, e não da compra partidária. Assim, procuraremos utilizar o melhor argumento para convencer os parlamentares, sejam os da base de sustentação partidária do governo, sejam os da oposição, de que nossos projetos são os que mais atendem às necessidades públicas, por terem sido bem planejados e se mostrarem consistentes no escopo de prestar o melhor benefício a toda ou a parte significativa da população brasileira. Comprometemo-nos, no entanto, a não utilizar quaisquer métodos inescrupulosos de convencimento de parlamentares ou de lideranças políticas, tais como a oferta de cargos de confiança para apadrinhados, apaniguados ou funcionários fantasmas.
9. Comprometemo-nos a não fazer pouco das leis e da Justiça, considerando-as apenas sob o critério do custo-benefício (político) de respeitá-las ? o que só contribuiria para fortalecer o perverso sentimento popular de impunidade ?, mas, ao contrário, liderarmos o cordão dos que se curvam à lei e à Justiça, imbuídos da devoção com que as nações verdadeiramente civilizadas se postam ante o altar da democracia. Comprometemo-nos a assumir a responsabilidade objetiva pelos atos suspeitos, ilegais ou imorais de nossos subordinados, sem jamais alegar desconhecimento das falcatruas perpetradas nas antessalas de nossos gabinetes ou por pessoas de nossa estrita confiança.
10. Asseveramos que, para nós, a motivação maior da atividade política é o prazer. Não consideramos a vida pública um sacrifício, como tantos a pintam, mas sim um trabalho prazeroso. Só que não é o mero prazer do desfrute, mas sim o prazer da frutificação. Não é um sonho de consumo, mas sim um sonho de produção e de criação. Achamos, de fato, que servir é bom e nos faz felizes, porque nos dá o sentido maior de nossa existência, porque nos traz uma sensação de bem-estar muito mais profunda do que quaisquer confortos ou vantagens propiciadas pelas posições de poder. Reconhecemos que nada se compara à sensação de construir algo de bom e duradouro para a sociedade em que vivemos, ou de descobrir soluções para os problemas reais das pessoas do Brasil.
Brasil, 17 de julho de 2010.
JORNALISTA, ADVOGADO, ESCRITOR, ADMINISTRADOR DE EMPRESAS E PINTOR. 

O ABILOLADO E A MENTIROSA

DORA KRAMER

De fora para dentro
DORA KRAMER
O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/07/10


O dia exato ainda não foi definido, mas será em agosto a primeira reunião do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral para cuidar do projeto de reforma política de iniciativa popular, a ser discutido durante a campanha eleitoral e apresentado ao presidente da República eleito em novembro e encaminhado ao Congresso no início da nova legislatura, em fevereiro de 2011. A inspiração óbvia é o projeto que exige ficha razoavelmente limpa de quem pretende se candidatar a mandatos eletivos. Se a Lei da Ficha limpa foi aprovada contra todas as expectativas por pressão de fora para dentro do Congresso, a reforma política também pode ser, raciocinam os inspiradores do movimento que mandou o projeto para a Câmara em setembro de 2009 com 1,7 milhão de assinaturas.
A ideia agora seria superar em muito essa marca. Mas, segundo o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante, antes de começar a recolher as assinaturas é preciso escolher quais pontos farão parte do projeto.
No encontro de agosto, a OAB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a Associação dos Magistrados do Brasil, a Associação dos Procuradores da República e outras entidades que queiram se integrar ao MCCE vão escolher dois relatores para organizar o texto da proposta e discutir a melhor maneira de incentivar a participação da sociedade.
Há o estímulo da movimentação em torno da Lei da Ficha Limpa. Mas há também a evidência de que o momento da virada de posição do Congresso foi específico por causa da eleição presidencial.
Além disso, a reforma política contém assuntos nem sempre estimulantes do ponto de vista popular. Alguns, como o financiamento público para campanhas eleitorais, de difícil aceitação, e outros de difícil compreensão, como a mudança do sistema de voto proporcional para distrital.
“É preciso escolher uma abordagem que desperte nas pessoas a vontade de participar”, diz o presidente da OAB. Na opinião de Ophir Cavalcante, dois temas teriam o poder de mobilizar a opinião pública: o fim da reeleição e do voto obrigatório.
A OAB pretende, portanto, propor a realização de um plebiscito para a população dizer sim ou não à continuidade do voto obrigatório ou à instituição do facultativo.
“Uma pesquisa recente do Datafolha mostra uma situação de quase empate, o que demonstra o interesse do público no tema”, diz. 
A pesquisa foi divulgada em maio e registra empate rigoroso: 48% das pessoas são favoráveis ao voto obrigatório e 48% preferem o facultativo.
Apesar disso, o Congresso nunca inclui esse item nos vários ensaios que faz sobre reforma política. A última vez que discutiu o tema foi na Constituinte, em 1988.
Um ponto que não constava na lista inicial por ser considerado técnico demais - o voto distrital - já recebeu a primeira sugestão de abordagem popular mais sugestiva. Quem faz é o economista, vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, Roberto Macedo.
Ele detalhou o tema em artigo no jornal “O Estado de S Paulo” na última quinta-feira, propondo que se associe o voto distrital ao conceito de eleição direta para o Poder Legislativo
“Enquanto no voto proporcional são eleitos os candidatos mais votados em cada partido, o que faz muitos eleitores votarem numa pessoa e ajudarem a eleger outra, no distrital a eleição é direta. Ocorre num espaço geográfico reduzido, facilitando o controle do eleitor e diminuindo os custos da campanha”, argumenta.
A Ordem dos Advogados convidou quatro candidatos à Presidência - Dilma Rousseff, José Serra, Marina Silva e Plínio Arruda Sampaio - para discutir a reforma política no mês que vem e em novembro aproveitará os 80 anos da entidade para fazer um seminário sobre o mesmo assunto.
Na ocasião já terá o projeto pronto e em processo de coleta de assinaturas para entregar ao eleito. Na posse dos congressistas, seria a primeira proposta a abrir a nova legislatura.
E o que garante que desta vez o Congresso faria a reforma?
Segundo Ophir Cavalcante, o mesmo que fez a Lei da Ficha Limpa: “A consciência da sociedade de que pode ser agente de mudanças.” 

ANCELMO GÓIS

RESPEITEM A EUROPA
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 17/07/10
 
O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que visita o Brasil, usou o futebol para mostrar que, apesar da crise, a Europa está de pé. 
Ele lembrou que o New York Times deu uma manchete durante a Copa, quando as seleções da América do Sul ganhavam, falando no fim da hegemonia europeia. No fim, os três primeiros lugares ficaram com Espanha, Holanda e Alemanha.

MORAL DA HISTÓRIA 
Durão concluiu:
– Não subestimem a Europa. Ela passa por dificuldades mas vai se recuperar. 
É. Pode ser.

BOLSA AVIÃO
A compra, pela Azul, de 40 aviões turboélice da franco-italiana ATR é uma aposta do americano-paulista David Neeleman, dono da aviadora, na classe C, que reúne cerca de 93 milhões de brasileiros em ascensão.
O avião carrega 70 passageiros e é apropriado para cidades de médio porte.

DUOPÓLIO TAM-GOL
Ao intensificar sua presença na aviação regional, a Azul tenta crescer pelas beiradas num setor cujo duopólio TAM-Gol continua quase intocável. Juntas, as duas detêm mais de 80% do mercado doméstico.
Até agora, a Azul alcançou apenas 5,8%.

MÚSICAS DO CORAÇÃO
Djavan lança um disco exclusivamente como intérprete, em agosto, pela Luanda Records/Biscoito Fino.
Ária trará algumas canções preferidas do artista, compostas por Gil, Caetano, Chico Buarque e Cartola.

RELIGIÃO E CIÊNCIA 
Frei Betto e o físico Marcelo Gleiser estão desde quarta trancados no Hotel Santa Teresa, debatendo religião e ciência para o livro Conversa sobre a fé.

ALIÁS... 
A obra, que sai em novembro pela Nova Fronteira, integra uma coleção que já reuniu Luís Fernando Verissimo e Zuenir Ventura entrevistados por Arthur Dapieve.
Os dois debateram em Conversa sobre o 
tempo temas como família, amigos, sexo, morte, etc.

EU VIM DA BAHIA 
O baiano Nizan Guanaes está soltando fogos. A Pereira & O’Dell, agência do Grupo ABC, sediada em São Francisco, EUA, foi eleita a Agência do Ano, pela Advertising Age, em uma das categorias.

FALTOU O TAPETE 
O voo da TAM JJ 3250 (Congonhas-Tom Jobim) chegou por volta das 21 horas de anteontem, taxiou, parou, abriu a porta – mas ninguém pôde pôr os pés para fora.
As aeromoças seguraram todo mundo porque o tapete vermelho, característico da companhia, não tinha chegado.

SEGUE... 
É claro que não prestou.
As moças, coitadas, foram atropeladas pelos apressados e o desembarque dos “sem tapete” aconteceu em meio a gargalhadas.

ALÔ, ALÔ!
A partir de segunda agora, o trote telefônico em serviços emergenciais vai custar caro.
É que Sérgio Cabral sancionou lei que prevê multa pesada para o bobo, a ser cobrado 
na própria conta do telefone de onde partiu o trote.