sexta-feira, fevereiro 26, 2010

WASHINGTON NOVAES

Uma lógica para os transporte

O ESTADO DE SÃO PAULO - 26/02/10


Tal como o tema da transposição de águas do Rio São Francisco, assombração que aparecia e desaparecia no Brasil ao longo de mais de um século, até o projeto ser levado à prática (contrariando cientistas, técnicos, ambientalistas, comitê de gestão da bacia, etc.), outra assombração recorrente volta mais uma vez ao noticiário - o projeto da Hidrovia Araguaia-Tocantins, talvez estimulado pela defesa que dele fez o ministro do Meio Ambiente, ao anunciar o veto às hidrelétricas no primeiro rio, em julho do ano passado, bem como um projeto do governo do Pará de operacionalizar essa hidrovia.

Muitas pessoas menos próximas da realidade concreta até defendem em princípio esse projeto, com o argumento de que hidrovias prejudicam menos o meio ambiente e permitem um custo de transporte inferior ao das rodovias e ferrovias. Mas não é o caso do Araguaia, com seus 2.115 quilômetros de extensão. Porque se situa numa região de formação geológica relativamente recente, onde a movimentação de camadas é ainda muito forte, até mesmo com cones de dejecção de areia de baixo para cima - o que explica não ter o rio um canal navegável permanente, pois a intensa movimentação de sedimentos desloca esse canal a cada ano. Uma medição feito por hidrólogos da Universidade Federal de Goiás em Aruanã, ainda no trecho médio do rio, mostrou que passam por ali a cada ano 5 milhões de toneladas de sedimentos.

Agora, está na pauta projeto apresentado pela senadora Kátia Abreu, também presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária, que propõe a criação, na calha principal do Araguaia, do primeiro "rio parque" do País. Segundo o projeto, ficariam proibidos ali barragens, eclusas, comportas, derrocamento de pedrais e alargamento de canais que "alterem o curso natural do rio ou a calha principal". Se aprovado e levado à prática, o projeto inviabilizará a hidrovia. Porque implantar ali um canal permanente para a navegação de barcos de carga pesada exigiria a dragagem anual, durante séculos, de milhões de toneladas de sedimentos (obra dos sonhos de empreiteiros), que ninguém sabe onde seriam depositados. Da mesma forma, a retirada de uma quantidade brutal de rochas. E tudo isso ainda levaria a prejuízos consideráveis para a diversidade vegetal e animal.

A questão da hidrovia do Araguaia faz parte de um contexto maior, que é o da inacreditável logística de transportes (ou sua falta) no País. Primeiro, a partir da década de 1950, com a prevalência do modelo rodoviário no País e o simultâneo sucateamento da rede ferroviária nacional, que tinha custos de implantação e manutenção muito menores. Depois, com a inviabilização ou postergação de projetos que poderiam ter revertido o quadro. É o caso, por exemplo, da Ferrovia Norte-Sul.

Em 1987, quando foi lançada a licitação para esse projeto, uma denúncia de irregularidades na escolha do consórcio de empreiteiras vencedor levou a que se confundisse tudo e se inviabilizasse toda a obra. Com graves prejuízos para o País. Que perdia a possibilidade de colocar as safras de grãos do Centro-Oeste diretamente num porto do Maranhão (sem precisar viajar até os portos do Sudeste/Sul), com forte redução do custo de transporte para a Europa e países do Pacífico (via Canal do Panamá). Essa redução de custo tornaria os grãos brasileiros mais baratos, por exemplo, que os norte-americanos nos mercados externos - e isso chegou a provocar cogitações de que a denúncia de irregularidades na licitação teria sido provocada por informações vindas de fora do País. Com isso perderam não apenas os produtores de grãos. Desperdiçou-se a possibilidade de contribuir para a descentralização econômica no País, a redução das disparidades regionais, a racionalização da matriz de transportes, avanços na balança comercial.

Quase 23 anos passados, embora desde 1987 se tenha mostrado a enorme vantagem dos custos do transporte ferroviário em relação aos rodoviários (quase 50% menos), a redução do preço dos transportes com a desnecessidade de os produtos do Centro-Oeste viajarem até o Sul - apesar disso tudo a Norte-Sul ainda não se concretizou, continua em obras que ninguém sabe quando terminarão. Em recente viagem do presidente da República a Goiás mostrou-se, por exemplo, que no trecho Palmas (TO)-Uruaçu (GO), apenas 16% estão concluídas; no trecho Uruaçu-Anápolis, 26%; no trecho Palmas-Açailândia (MA), as obras também ainda estão longe da conclusão - e a promessa era de que a ferrovia estaria toda implantada este ano. Na ocasião, o presidente da República anunciou que vai lançar o projeto de ferrovia Anápolis-São Paulo, assim como o da Ferrovia Leste-Oeste, que ligará Ilhéus, na Bahia, ao Tocantins e ao Pará.

Já se passou muito da hora de conceber um plano nacional de logística de transportes que leve em consideração não apenas os fatores econômicos e sociais (muitos deles mencionados neste texto), mas também os chamados custos ambientais. E começar a cogitar de outras questões embutidas na reformulação que será inevitável nas próximas décadas, dos caminhos da produção e consumo. Ela exigirá descentralização da produção (para minimizar transportes, energia, emissões de gases) e mudanças no consumo que levem a resultados na mesma direção. Seria muito conveniente que se antecipasse essa discussão. E também será oportuno e necessário examinar, pelos mesmos ângulos, o projeto da hidrovia do Pantanal e os planos de expansão da cana-de-açúcar nessa região (de novo ameaçada por legislação de Mato Grosso do Sul) e no Cerrado.

Lembra o professor Ignacy Sachs em seu extraordinário livro de memórias (A Terceira Margem, Companhia das Letras) a lição de seu mestre, o economista Michal Kalecki: uma nova ideia costuma levar o tempo de uma geração (20 anos) para se afirmar. Não se deve perder mais tempo.

Washington Novaes é jornalista E-mail: wlrnovaes@uol.com.br

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Vamos dançar "ROUBOLATION"!

FOLHA DE SÃO PAULO - 26/02/10


E o Lula disse: "Fidel está ótimo, conversamos por meia hora". Então ele piorou! Só meia hora?


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! É que tem uma família em São Paulo chamada Querido Pinto. Ueba! Adorei. Eu quero entrar pra essa família. Coerente: sem um querido pinto não há família! E essa: "Padre acusado de oferecer serviços sexuais na internet é expulso". Por quem? Pelo arcebispo BRÁULIO!
TROCA-TROCA NO "BBB"! Eu já sei o que fazer lá no "BBB": trocar o machão homofóbico Dourado pelo Freddy Mercury Prateado. Avisa o Boninho! E a nova versão do "Rebolation". Tá correndo na internet um vídeo hilário chamado "ROUBOLATION"! "Bota a mão na carteira que vai começar/ o "ROUBOLATION", XON, XON/ O "Enganation", xon, xon/ O "Enrolation", xon, xon/ O "Prometion", xon, xon!".
E sabe o que a secretária perguntou pro novo governador do Detrito Federal? "O senhor pretende ficar quantos dias?". E eu tenho recebido centenas de e-mails: eu também quero ser governador do Detrito Federal. O menino pediu pro pai: "Eu quero ser governador". "Calma, meu filho. Antes de você tem o seu irmão, o seu primo e o seu tio-avô!".
E o Lula com o Fidel Castro? O Comandante. Ops, EL COMA ANDANTE! Eu sei o segredo da longevidade do Fidel: sopa de tartaruga. Ele tá a cara daquelas tartarugas de Galápagos. E o Lula disse: "Fidel está ótimo, conversamos por meia hora". Então ele piorou! Só meia hora? Continua com a saúde impecável. Não consegue mais nem pecar. Os legistas fizeram autópsia no Fidel e ele passa bem. E o dissidente morreu de greve de fome. Mas eu pensei que a ilha inteira estivesse em greve de fome. E o Lula ainda cometeu uma gafe: pediu um lanche! Rarará! E eu já disse que três foram as vitórias da Revolução Cubana: saúde, habitação e educação. E três foram os fracassos: café da manhã, almoço e jantar.
E essa notícia: "PSDB lança pré-campanha com cara de Serra". "Noites do Terror" no Playcenter? E sabe o novo apelido do Serra? Vampiro da Ipiranga com a avenida São João! É mole? É mole, mas sobe!
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. É que eu acabei de receber a foto de um cartaz hilário: "PINTAMOS CASAS A DOMICÍLIO"! Ueba! Mais direto, impossível. Viva o antitucanês! Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Urucubaca": Lula visitando Cuba. Urucubaca de urubu com vaca. O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno.

EDITORIAL - O GLOBO

Duas faces


O GLOBO - 26/02/2010



O presidente Lula teve, em sua quarta visita a Cuba, um teste importante para seu elogiado papel de líder emergente de um país que cresce em prestígio e importância no cenário internacional. E foi reprovado.

A trágica morte de um preso político cubano — por crime de opinião —, em greve de fome, coincidindo com a chegada de Lula a Havana, não foi capaz de desviálo, um milímetro sequer, de seu curso de apoio à ditadura castrista, nem de inibir fotos sorridentes com os irmãos Castro, num cinismo que tanto deixa mal o presidente — e sua imagem de líder preocupado com as questões sociais, mas economicamente responsável —, quanto o país que representa. Ainda mais quando se está ao lado de Raúl Castro, no momento em que este dá fantasiosa explicação para a morte de Orlando Zapata Tamayo: a culpa é dos Estados Unidos (!).

O desempenho de Lula tem tido aprovação ampla interna e externamente, mas ele derrapa com frequência na diplomacia, ao refletir (ou concordar com) as ideias de um grupo dentro do governo que vê as relações internacionais com olhos da Guerra Fria e do conflito Norte-Sul. Com isso, o Brasil deixa de usar seu peso crescente na América Latina para promover a democracia — a qual consta, aliás, dos estatutos do Mercosul. Faz o contrário: protege ditadores e caudilhos, como os irmãos Castro e Hugo Chávez. É uma política de duas faces: na crise de Honduras, a diplomacia brasileira se aferrou ao mais estrito legalismo, renunciando à flexibilidade na busca de soluções; mas, no caso cubano, não faz qualquer observação crítica ao fato de o regime da ilha ser uma ditadura stalinista que ainda mata dissidentes políticos. Enquanto, no plano interno, divulga com estardalhaço um plano de defesa dos direitos humanos, externamente se alia a quem desrespeita os mais óbvios desses direitos, como a defesa da vida e da liberdade de expressão.

O respeitado jornal espanhol “El Pais”, em editorial, afirmou ontem: “Com esta visita a Havana, Lula tem a oportunidade de demonstrar que o papel internacional crescente do Brasil não significa sacrificar o principal capital político que ele tem colhido: a opção por uma esquerda capaz de oferecer progresso e bemestar mediante o fortalecimento e a gestão das instituições e dos procedimentos democráticos.” A oportunidade foi perdida. Por conveniências ideológicas, Lula queima parte do capital que acumulou para se credenciar a líder regional capaz de mediar situações difíceis. Aliado intransigente dos Castro e de Chávez, como ficou claro, deixa de ter independência para tal. Num plano mais amplo, ocorre o mesmo ao se deixar usar pelo Irã da ditadura militar e teocrática. Melancólico.

NELSON MOTTA

Os meios e as mensagens


O GLOBO - 26/02/2010



Se é preciso democratizar as comunicações no Brasil, como quer o programa de governo do PT, é porque elas não são democráticas, concluiria o Conselheiro Acácio.

Mas aqui qualquer um pode abrir um jornal, uma rádio ou uma emissora de TV, dependendo de seus recursos para montar e manter o veículo.

E de sua capacidade de conquistar audiência.

Com a infinidade de canais que hoje o mundo digital oferece, é fácil para qualquer sindicato, ONG ou movimento social ter o seu canal de televisão.

O difícil é ter espectadores.

Na internet, ninguém precisa de nenhuma autorização, ou de muito dinheiro, para botar no ar sua rádio, jornal, revista ou televisão — basta ter competência e audiência. O que pode ser mais democrático do que isto? Não é por falta de democracia que as esquerdas não conseguem fazer um veiculo de massa de sucesso popular, mesmo com todas as verbas e a “vontade política” oficial. O último foi o “Pasquim”, menos por ser de esquerda do que por ridicularizar a ditadura que oprimia a todos.

Alguém duvida que a Globo, a Record, a Band, a Rede TV e o SBT disputam cada centavo do mercado, cobrando por cada espectador conquistado? Dezenas de canais a cabo não competem ferozmente por assinantes e anunciantes? Os jornais não estão disputando leitores nas bancas e on-line? Não há livre concorrência? Então que monopólio é esse que eles querem acabar? Por que ninguém vê a TV Brasil? Por que “A Voz Operária” é menos lida do que “O Estado de S. Paulo”? Por que a “Carta Capital” só tem uma fração dos leitores da “Veja”? Não se trata de quem é melhor ou pior, é só uma livre escolha do público.

E nas escolhas democráticas, às vezes, a maioria está errada, mas o que fazer, acabar com a democracia? Ou com a maioria? Quem sabe, com o tempo e mais governos petistas, os brasileiros ganhem educação, consciência política e bom gosto e façam da “Voz Operária”, da TV Brasil e da “Carta Capital” campeões de audiência ? Já em Cuba, na Coreia do Norte, na Venezuela e no Irã, quem falar em democratizar as comunicações vai preso.

Porque lá elas já estão democratizadas, concluiria o Conselheiro.

NELSON MOTTA é jornalista.

JOÃO MELLÃO NETO

Quem tem medo dos populistas?

O ESTADO DE SÃO PAULO - 26/02/10


Os populistas voltaram. Sim. Eles mesmos. Já andaram por aqui na década de 1940, ressurgiram na década de 1950 e início da de 1960 e andaram caçando bois em pastos na de 1980. Eles são sempre iguais: adoráveis em curto prazo, perigosos em médio prazo e desastrosos em longo prazo. E não se corrigem. Até porque seus métodos voltam sempre a fazer sucesso desde que o povo se esqueça das catástrofes que causaram em suas últimas atuações. O populismo é uma doença infantil da democracia. Um mal tão perigoso quanto a catapora e o sarampo. E, como eles, parece inofensivo em seus primeiros sintomas.
Populismo, na prática, é como fazem determinados jogadores de futebol que descobrem que fazer gols é muito difícil. Mais cômodo e com melhores efeitos imediatos é "jogar para a plateia". Uma embaixadinha aqui, uma ameaça de drible acolá e pronto, os torcedores já se dão por satisfeitos. Para que lutar por resultados efetivos? De que vale suar a camisa se com muito menor esforço já se consegue agradar ao público?
Medidas e atitudes populistas não costumam agradar à opinião pública em nações onde as instituições já estão maduras e consolidadas. Também não servem para nações onde essas nem sequer existem. Funcionam bem onde já há alguns arremedos de instituições mas elas ainda são fracas, incipientes. É o caso da maior parte das nações da América Latina.
Populismo não tem fórmula pronta e acabada. Tampouco é passível de improvisação. É, na prática, um espetáculo de ilusionismo, mágicas e efeitos especiais. O governante populista não se arrisca jamais a tomar medidas que possam parecer antipáticas. Mesmo que a experiência de seu país, e também dos outros, indique que estas são as únicas que podem surtir algum efeito. Os populistas preferem arroubos retóricos a atitudes eficazes. Num momento de alto desemprego, inflação e estagnação econômica, o que vem à mente de um governante populista? Adotar um receituário econômico de austeridade e severidade? Ou fazer pronunciamientos públicos irados contra a suposta exploração de que seu pobre país seria vítima por parte das nações mais ricas? Não há dúvida de que os populistas optam pela segunda fórmula.
Agir assim é mais fácil, mais cômodo e ainda leva a vantagem de que todos os opositores podem ser tachados de inimigos do bem-estar do povo, ou entreguistas, ou mesmo agentes dos interesses estrangeiros. Ai daqueles que se manifestarem contrários às medidas populistas! Serão tachados, no mínimo, de covardes ou derrotistas. El pueblo, nos momentos críticos, não pode contar com os tíbios e os fracotes. Faz-se necessário, nessas ocasiões, que haja líderes destemidos e impetuosos. Gente "corajosa" a ponto de não temer denunciar as injustiças. E quem seriam eles? Ora, os populistas, é claro!
Infelizmente, as anomalias políticas de cunho populista não são facilmente extirpáveis do corpo social. Afinal, o populismo sempre apresenta alternativas simpáticas, impetuosas e de fácil adoção. É como se no rótulo de todo elixir populista viesse a advertência: agite antes de usar.
Pobres dos que, em oposição aos desmandos populistas, apresentam alternativas antipáticas ou dolorosas ao corpo social. As massas serão instadas a repudiá-los veementemente por se posicionarem contra os interesses maiores del pueblo e de la nación.
Você é daqueles que entendem que os populistas só podem ser bem-sucedidos em países atrasados como a Venezuela de Hugo Chávez, a Bolívia de Evo Morales, o Equador de Rafael Correa ou a ilha da fantasia dos irmãos Castro? Acredita que em povos maduros e mais bem instruídos esse tipo de discurso não pega? Você está sendo otimista demais. Como é que você explicaria o fato de o casal Kirchner permanecer no poder há tantos anos numa nação civilizada e com uma população bem-educada como a Argentina?
Pois Néstor e Cristina Kirchner dominam a cena política por lá há sete anos e seu arsenal de expedientes populistas ainda parece ser inesgotável. Desde tentarem passar ao povo a imagem de que são como que a reencarnação de outro casal de políticos do passado, Juan e Eva Perón (também populistas), até o fato de recorrerem a "atitudes corajosas" como mandar prender comerciantes por eventuais elevações de preços e, mais recentemente, medidas de aparência patriótica como reivindicar a posse das Ilhas Falkland ("Malvinas"), desde sempre propriedade do Reino Unido. Sobre essa disputa, é bom lembrar, já houve uma guerra, vencida pelos ingleses, em 1982. O governo militar argentino de então, como forma de reconquistar o apoio popular, reivindicou as ilhas e as invadiu. Os súditos de Sua Majestade as retomaram em menos de seis meses, com pesados reveses e baixas do lado dos nossos vizinhos. Como agora, o Brasil, de imediato, se posicionou do lado de los hermanos. Desta vez, ninguém sabe dizer no que vai dar. É possível que haja uma saída diplomática. Pode, também, acabar novamente em guerra. Uma coisa, no entanto, parece previsível: a sobrevivência política do casal estará, por um bom tempo, assegurada.
Para aqueles otimistas que acreditam que os brasileiros já amadureceram o bastante para não caírem mais na lábia dos populistas, vale uma advertência. A conjuntura política na América Latina sempre evolui por ondas. Quando eram os militares que ditavam as regras, quase todas as nações de nosso subcontinente adotaram regimes militares. Quando as democracias liberais do suposto Consenso de Washington apareceram, elas proliferaram rapidamente. Por outro lado, nas vezes em que regimes autoritários de cunho populista surgiram, eles contagiaram toda a região. O "regime da moda", agora, aparenta ser esse.
Que a dona Dilma me desminta se eu não estou dizendo a verdade.

João Mellão Neto, jornalista, deputado estadual, foi deputado federal, secretário e ministro de Estado.

EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO

Banda turva

FOLHA DE SÃO PAULO - 26/02/10


Atuação de Dirceu expõe alianças entre empresas favorecidas pelo governo e grupos de interesse que se aninham no Estado

A CADA ENXADADA, uma minhoca. Natural da cidade de Passa-Quatro, no sul de Minas Gerais, José Dirceu certamente conhece esse dito popular, segundo o qual basta procurar para encontrar.
E minhocas não parecem faltar quando o assunto são os negócios de consultoria a que passou a se dedicar o ex-ministro do governo Lula. Desde que deixou a Casa Civil e teve o mandato de deputado cassado pela Câmara, em 2005, acusado de ser o mentor do mensalão, Dirceu tem se mostrado uma figura equívoca. A militância política e a atividade profissional, os contatos no mundo privado e as incursões pelos porões do poder público se misturam nebulosamente na vida deste personagem anfíbio.
O próprio Dirceu, vale dizer, alimenta uma certa mitologia em torno de seu personagem, sem que se saiba quanto disso é lobby de si próprio e quanto corresponde à influência que ainda exerceria sobre setores do Estado e da máquina petista.
Em 2007, numa longa entrevista à revista "Playboy", a certa altura ele explicava seu trabalho nos seguintes termos: "No fundo, o que eu faço é isso: analiso a situação, aconselho. Se eu fizesse lobby, o presidente saberia no outro dia. Porque, no governo, quando eu dou um telefonema, modéstia à parte, é um telefonema! As empresas que trabalham comigo estão satisfeitas. E eu procuro trabalhar mais com empresas privadas do que com empresas que têm relações com o governo".
Primeiro, há esses telefonemas com exclamação, que mais mereceriam pontos de interrogação. Segundo, há o fato incontestável de que Dirceu trabalha, sim, com empresas que têm relações com o governo. Como revelou esta Folha, é o caso da consultoria que prestou ao empresário Nelson Santos entre 2007 e 2009, pela qual recebeu R$ 620 mil.
Dono de uma "offshore" num paraíso fiscal, Santos adquiriu em 2005, por R$ 1, uma participação na Eletronet, empresa em processo de falência que o governo Lula planeja recuperar para usar seu principal ativo -uma rede de 16 mil km de fibras óticas- na oferta de internet a 68% dos domicílios até 2014.
É no mínimo uma coincidência sugestiva o fato de que a massa falimentar da Eletronet tenha sido convertida em ouro pelo governo meses depois da contratação de Dirceu por Santos.
Qualquer que seja o desfecho dessa história, ela constitui o mais recente capítulo do que se tem procurado ocultar sob a retórica do "Estado forte" lulo-petista: a aliança entre empresas privadas favorecidas pelo poder e grupos de interesse aninhados no Estado e no partido.
A operação de compra da Brasil Telecom pela Oi/Telemar, que demandou mudanças importantes na legislação e contou com forte injeção de dinheiro do Banco do Brasil e do BNDES, é um exemplo acabado do neopatrimonialismo em curso no país.
Com seu maquiavelismo de almanaque, Dirceu apenas mostra de maneira mais didática o que se tornou diretriz de governo.

ELIANE CANTANHÊDE

Burns, Hillary, Obama

FOLHA DE SÃO PAULO - 26/02/10


BRASÍLIA - O secretário da Justiça, Eric Holder, veio ontem. O subsecretário de Estado, William Burns, vem hoje. A secretária, Hillary Clinton, virá na terça. E o presidente Barack Obama, provavelmente ainda neste semestre.
Os EUA invadem Brasília, mas com boas intenções. Vamos ser diplomáticos e esquecer que o inferno está cheio delas para focar uma agenda recheada de adjetivos, como "positiva" e "propositiva".
Como essas viagens sempre incluem outros países, é claro que lá pelas tantas eles vão discutir Venezuela, Colômbia, os novos presidentes do Chile e do Uruguai. "Peanuts". A questão hoje é o Irã.
O que estará em pauta, nas reuniões com Burns e Hillary, é "o valor e a eficácia" de ampliar as sanções, como me disse o secretário-geral do Itamaraty, Antonio Patriota, ex-embaixador em Washington.
Os EUA acham que as sanções vão acuar Ahmadinejad. O Brasil está convencido de que provocarão mais radicalização.
Pode haver, porém, consenso em dois outros temas. O Brasil vai admitir maior flexibilização ao reconhecer o novo presidente de Honduras, "Pepe" Lobo, que os EUA apoiaram desde o início, e vai tentar fechar com os americanos o que Patriota chama de "projetos estruturantes" para o Haiti: investimentos comuns na infraestrutura, na indústria, na educação, na saúde.
"Last, but not least", Cuba. A ideia inicial era discutir avanços contra o bloqueio, mas agora não há como fugir da morte do prisioneiro político Orlando Zapata Tamayo, 42, que coincidiu com a visita de Lula à ilha e traz para a agenda do continente a questão dos direitos humanos. Estou curiosa para saber o que o Brasil tem a dizer.
No mais, as relações Brasil-EUA vão muito bem, obrigado, mas os dois países têm de discutir os subsídios americanos ao algodão, com a correspondente retaliação brasileira, mais aquele assunto que paira no ar: os caças da FAB

CELSO MING

Reinício do aperto

O Estado de S.Paulo - 26/02/2010


O Banco Central anunciou na noite de quarta-feira a redução do nível de recursos que os bancos podem ter à sua disposição para as operações de crédito.

Tecnicamente, está exigindo o retorno aos patamares de retenção compulsória dos bancos prevalecentes até as vésperas do estouro das bolhas que deflagraram a crise.

Apenas para quem não está familiarizado com o jargão econômico, retenção compulsória é a parcela dos recursos do depositante ou do aplicador financeiro com que os bancos não podem trabalhar. Tem de ser depositada no Banco Central.

Logo depois que o Lehman Brothers quebrou e semeou o pânico nos mercados, em setembro de 2008, o crédito estancou de repente no mundo inteiro e o Brasil não foi exceção. Os bancos deixaram de confiar até mesmo em outros bancos, todo o mercado se fechou e mesmo as instituições que tinham disponibilidades preferiram mantê-las em caixa.

Foi o que levou os bancos centrais de todo o mundo a operações de injeção direta de recursos para evitar uma trombose do sistema produtivo. É o processo que os técnicos chamam de atuação anticíclica das autoridades monetárias.

No Brasil, o Banco Central abriu janelas de oferta de moeda estrangeira (operações de câmbio) e reduziu a retenção compulsória dos bancos a fim de que sobrassem mais recursos para o giro do setor privado. Apenas em redução da retenção compulsória dos bancos, mais R$ 99,8 bilhões foram injetados no sistema. Desse total, agora está sendo retirado algo em torno de R$ 70 bilhões.

No comunicado oficial do Banco Central ficou explicado que essa operação inicia o processo de "retorno à normalidade". Muita gente estranha que, no Brasil, o nível de normalidade esteja substancialmente acima dos padrões globais. O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola tem uma explicação: os bancos oficiais se abastecem de certo volume de recursos públicos sobre os quais não precisam recolher depósitos compulsórios. Isso leva o Banco Central a aumentar para além do que seria preciso o compulsório dos bancos privados.

Mas o Banco Central diz também que "se antecipa a boas práticas prudenciais". Ou seja, está tomando providências destinadas a apertar a oferta de crédito que, nos últimos 12 meses terminados em janeiro, cresceu nada menos que 15,7%, fator que está acelerando o consumo e - sabemos por outros comunicados do Banco Central - ameaça puxar a inflação para acima da meta de 4,5% estabelecida para este ano.

Fica assim inaugurada a temporada de aperto. Por enquanto, trata-se apenas de aperto de liquidez. A pergunta é até que ponto essa decisão altera o curso da política monetária propriamente dita (política de juros). A próxima reunião do Copom está agendada para 17 de março e a seguinte, para 28 de abril.

Ainda que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, diga que a alteração do nível do compulsório não muda em nada a disposição da autoridade monetária, a suspensão dos alívios do compulsório impõe um movimento de endurecimento da política.

O que precisa ser respondido agora é se esse endurecimento vem para adiar o reinício do aumento dos juros básicos ou se apenas o antecipa.

Confira
Em alta - Os bancos puxaram os juros no crédito, bem antes que o Banco Central tivesse começado a reduzir o compulsório dos bancos. Na tabela estão apenas dois segmentos. Mas a alta é generalizada.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Consumo de asfalto atinge nível recorde

Folha de S.Paulo - 26/02/2010


Com o avanço das obras de infraestrutura, o consumo de asfalto no país atingiu níveis recordes nos últimos 12 meses, segundo a Fiesp e o Sinicesp (Sindicato da Indústria da Construção Pesada de SP).

Entre os meses de janeiro de 2009 e de 2010, o volume total foi de mais de 2,2 milhões de toneladas. Nos 12 meses anteriores, o consumo de asfalto registrado havia sido de cerca de 2,1 milhões de toneladas.

"O recorde anterior era de 1998 e veio a ser recuperado só em 2008 e ultrapassado agora", afirma Manuel Rossitto, diretor do Sinicesp.

Rossitto, que atribui o avanço ao aumento da contratação de obras públicas, principalmente as federais, espera crescimento de 15% para 2010, por ser ano eleitoral.

Janeiro deste ano bateu outro recorde entre os meses de janeiro da série histórica, com a produção de 190 mil toneladas, ante 134 mil toneladas produzidas em janeiro de 2006, o recorde anterior. "O crescimento se repetiu em fevereiro."

A produção de asfalto brasileira não acompanhou o consumo acelerado do material, que, segundo Rossitto, chegou a ser importado no ano passado.

"O Nordeste ficou sem [o produto], e foi necessário importar cerca de 40 mil toneladas. Isso é raro, aconteceu nos anos 60 e em menor escala."

A indústria, diz, preocupa-se com o abastecimento para os próximos anos devido a obras para a Copa e para a Olimpíada.

"A Petrobras, que é a principal fornecedora, tem nos informado que a produção tem como aumentar", afirma o executivo do Sinicesp.

DEMANDA AQUECIDA
A produção brasileira de aço atingiu 2,7 milhões de toneladas em janeiro, crescimento de 67% sobre igual mês de 2009, segundo o Instituto Aço Brasil, que divulga hoje as estatísticas do mês passado. As vendas internas somaram 1,6 milhão de toneladas, 66% a mais que em janeiro de 2009. A volta da demanda será debatida no Congresso Brasileiro do Aço e na ExpoAço, de 14 a 16 de abril, em São Paulo.

RECORDE
A Tivit, empresa especializada em terceirização de serviços de tecnologia, bateu recorde de receita e de lucro no ano passado. De acordo com o balanço da companhia, que será divulgado hoje, a receita líquida atingiu R$ 920,1 milhões em 2009, crescimento de 6,2% em relação ao ano anterior. Já o lucro líquido da companhia aumentou de R$ 14 milhões em 2008 para R$ 68,3 milhões no ano passado.

GRANDE RISCO

A Liberty Seguros, empresa do grupo norte-americano Liberty Mutual, registrou faturamento de R$ 1,5 bilhão em 2009, com aumento de 16% sobre o ano anterior. A empresa divulga hoje o balanço de 2009. Os motivos para o aumento da receita foram o incremento da carteira de automóveis, que é o carro-chefe da companhia, e o início das operações de grandes riscos, segundo Luis Maurette, presidente da companhia no Brasil. Para 2010, as projeções da Liberty são otimistas para o segmento de grandes riscos. "Vamos avançar em projetos relacionados à infraestrutura, à Olimpíada e à Copa do Mundo", diz Maurette.

"SERIAL KILLERS"
Banqueiros centrais estão vendendo a imagem de segurança de títulos do Tesouro, diz Marcelo Ribeiro, da Pentágono Asset. A emissão desses papéis será tão grande que o mundo verá uma série de calotes dos países, os temíveis defaults soberanos, segundo o economista. "Default não ocorre só em emergentes. No último século, "perdemos" a Alemanha e a China por duas vezes, a Rússia, três vezes, e o Brasil, por cinco vezes. "Defaults são frequentes. O que não é frequente são três gerações pagarem por emissões feitas por pessoas que não estão mais por aqui", diz.

DIONÍSIO DIAS CARNEIRO

Nova ordem e novo contágio

O ESTADO DE SÃO PAULO - 26/02/10


Os mercados financeiros descobriram a precariedade da construção econômica por trás do Tratado de Maastricht, que viabilizou o euro. É impossível abandonar o tema que vem motivando nossos comentários neste espaço há três semanas, uma vez que os desenvolvimentos da crise grega têm tomado o pior rumo possível. Surgem agora dúvidas quanto ao paradigma para a política monetária e fiscal que pode acelerar o contágio.

A questão vai, pois, além dos problemas do governo grego, que não consegue convencer o público interno sobre a necessidade de cortar despesas e reduzir o déficit, que já se agrava por força da recessão. Para os governos dos credores, fica ainda mais difícil explicar aos seus eleitores (que sofrem com o desemprego crescente) que vão usar o dinheiro de seus impostos para financiar um governo estrangeiro cujos líderes não conseguem explicar a seus eleitores que Papai Noel não existe.

E vai além também das consequências da exposição dos bancos estrangeiros ao risco grego (seja soberano, seja privado), que apertam a saia-justa em que se encontram as autoridades reguladoras nos demais países. Uma outra rodada de problemas no sistema dificultaria a estratégia de saída para a bonança monetária anticíclica e aumentaria a probabilidade de uma saída inflacionária.

Os governos dos países que ainda precisam usar o gasto público para suprir a contração da despesa privada ficam sem cartas para jogar. Nessas horas, a independência dos bancos centrais é um trunfo que poucos países poderão exibir.

Mas não é fácil conciliar as duas pontas da política macroeconômica. O consenso que tem sustentado a combinação fiscal-monetária mostra sinais de fadiga de material. Uma nova onda de contágio pode resultar da importância crescente da especulação financeira na determinação das taxas de câmbio e de juros, como ocorreu na crise asiática.

No final dos anos 90, quando o Fundo Monetário Internacional (FMI) instava os países atingidos pela reversão súbita de financiamento externo a contrair déficits e a elevar juros, a recomendação foi denominada de um "jogo de confiança". Os governos já atingidos pela queda de receitas cortariam na própria carne, para mostrar seriedade e conquistar a confiança perdida dos mercados. O selo de aprovação do FMI potencializaria os efeitos positivos da recuperação da confiança.

O resultado foi misto: a recessão dos países asiáticos foi a mais grave desde os anos 30. A confiança só foi recuperada de forma convincente quando a China se tornou uma força capaz de coordenar o soerguimento da região. Os países vitimados pelo contágio reverteram suas posições fiscais e se tornaram superavitários na conta corrente. O FMI perdeu, desde então, o papel de fiador da confiança e a capacidade de restaurar os fluxos privados de capitais. Mas foi substituído, nos últimos dez anos, por um benchmark para o julgamento comparativo da qualidade da política macroeconômica: a generalização de uma postura fiscal voltada para o controle da dívida, combinada com a estratégia de política monetária baseada em metas para a inflação. Os países abriram mão de controlar fluxos de capital para praticar taxas flutuantes e política monetária independente.

Esse benchmark estará com os dias contados? Um par de papers divulgado recentemente pelo FMI sugere mudanças que podem significar um "jogo de desconfiança".

Um paper tem como coautor o economista-chefe do fundo e defende o aumento da meta de inflação. Outro, de economistas do staff, restaura a respeitabilidade dos controles de capital, arguindo o caráter pró-cíclico, portanto desestabilizador, dos fluxos especulativos. Se for possível controlar tais fluxos, abre-se o caminho para o retorno do câmbio administrado. Já a tolerância com a inflação será música para os ouvidos dos governos mais atingidos pela desconfiança, que podem usar a inflação para desbastar a carga da dívida.

Há, assim, um novo tipo de contágio à vista: países como o nosso, que têm escapado razoavelmente ilesos da atual tragédia mundial, podem contar com a aprovação do FMI para abandonar pilares da política macro que foram responsáveis pela situação razoavelmente confortável com que têm atravessado a grave situação internacional. Uma aposta perigosa brilha no horizonte.

*
Dionisio Dias Carneiro, economista, é diretor da Galanto Consultoria e do Iepe/CdG

FERNANDO DE BARROS E SILVA

"Lost"

FOLHA DE SÃO PAULO - 26/02/10


SÃO PAULO - Repare, leitor, nas três cenas seguintes: 1. Franklin Martins exibe um sorriso orgulhoso e abraça Fidel Castro, posando para que o próprio Lula os fotografasse juntos; 2. Irritado com a imprensa, Lula nega ter recebido apelos de grupos defensores dos direitos humanos para que intercedesse em favor do preso político Orlando Zapata: "Se essas pessoas tivessem falado comigo antes, eu teria pedido para ele parar a greve de fome e quem sabe teria evitado que morresse"; 3. Comentando o caso, o assessor de Lula para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, diz: "Há problemas de direitos humanos no mundo inteiro".
Franklin sorri, Lula engambela e Garcia avacalha. A morte do pedreiro Orlando Zapata, condenado a mais de 25 anos de prisão por discordar do regime, carimba de vergonha o passaporte da comitiva brasileira. Viajando com evidente disposição de render homenagens ao ditador e usufruir os dias finais da Disneylândia socialista, o governo Lula se omitiu alegremente, para depois tripudiar sobre o cadáver quando a realidade o emparedou.
Da tolerância com os desmandos do regime à idolatria pela figura de Fidel, subsiste no governo brasileiro (e amplamente na esquerda nativa) a "mitologia do bom tirano" -expressão do filósofo Ruy Fausto.
Em 2003, a onda de repressão aos dissidentes resultou no fuzilamento de três pessoas e em outras várias condenações à prisão perpétua. É isso o que está em jogo novamente. Para quem defende de fato os direitos humanos, pouco importa que a nomenclatura no poder há 50 anos tenha origem numa revolução feita em nome de ideais igualitários. Ela não é menos criminosa por isso.
Marco Aurélio Garcia não gosta dos seriados de TV americanos -"esterco cultural", ele disse. Mas é capaz de baratear os direitos humanos para não atrapalhar a estadia na ilha de "Lost". No congresso do PT, ele já havia dito (e Dilma Rousseff repetiu): "Não aceitamos lições de liberdade de quem não tem compromisso com ela". Bingo, Garcia!

MÔNICA BERGAMO

Saresp: média de português sobe; só 10% atingem nível "avançado"

Folha de S.Paulo - 26/02/2010


Serão divulgadas hoje as notas do Saresp, a prova do governo paulista que avalia o rendimento dos alunos do Estado em português e matemática.

A boa notícia: as médias de 2009 melhoraram em relação ao ano anterior. Na 4ª série do ensino fundamental, subiram de 180 para 190, numa escala que vai até 500; na 8ª série, foram de 231 para 236. Na 3ª série do ensino fundamental, subiram de 272 para 274. Do total de alunos que foram avaliados, só 10% atingiram o nível avançado (um pouco mais do que no ano anterior), enquanto, na outra ponta, 20,9% tiveram notas consideradas "insuficientes" ou "abaixo do básico".

No escalão intermediário, 68,8% tiveram notas consideradas "adequadas".

BOMBA
Já em matemática não há muito o que comemorar: os resultados foram piores do que os obtidos em português.

BILHETE
Integrantes do grupo de Orestes Quércia entabularam conversa com o grupo do prefeito Gilberto Kassab para que ele se mude do DEM para o PMDB em 2011.

AMOR PERFEITO
De acordo com um interlocutor do prefeito, isso dificilmente acontecerá caso José Serra (PSDB-SP) vença as eleições presidenciais em 2010, em aliança com o DEM. "Nesse caso, o partido sobreviverá e Kassab será seu nome mais forte." Em caso de derrota, o partido se desmilinguirá -e a migração para o PMDB paulista seria até um caminho natural, já que Kassab e Quércia se dão às mil maravilhas.

IRMÃO GÊMEO
Ciro Gomes (PSB-SP), eventual candidato ao governo de São Paulo, aparecerá em centenas de anúncios do PSB que serão veiculados no Estado na próxima semana. Estará ao lado do neossocialista Paulo Skaf (PSB-SP), presidente da Fiesp -e integrante da fina flor da elite paulista, que Ciro tantas vezes definiu como deletéria para o país.

PRIMEIRO ATO
Ciro e Skaf, por sinal, foram dirigidos pelo publicitário Duda Mendonça.

EU QUERO
Protagonista de "Hairspray", que estreou anteontem em SP, Edson Celulari quer ter na plateia o prefeito Kassab, o secretário estadual da Cultura, João Sayad, e o jogador Ronaldo. Pediu que a produtora Lulu Librandi convide o trio para assistir ao espetáculo.

GRANDE ANGULAR
O ator Raoni Carneiro, 28, vai ser amante de Marília Pêra, 67, no seriado "A Vida Alheia", que a Globo deve estrear em abril. Ele viverá um paparazzo da revista de celebridades da qual ela será dona.

SHOW DO MILHÃO
Com o fechamento do Avenida Club, que passará por reformas, o espetáculo "Terça Insana" se muda para o Acústica São Paulo, na Bela Vista. Na nova temporada, que estreia no dia 16, haverá um esquete discutindo as novas mídias, com um "quiz" em que os personagens "sr. Facebook", "sr. Orkut" e "sr. MySpace" não conseguirão responder a perguntas sobre história antiga.

TROTE
Os novos alunos da SP Escola de Teatro vão ser recebidos hoje com "galharufas", amuletos com mensagens de boas-vindas escritos por nomes consagrados dos palcos. Denise Fraga, Leopoldo Pacheco, Cássia Kiss, Antunes Filho, Beatriz Segall e Sandra Corveloni estão entre os padrinhos dos calouros.

ABRIGO
Tramita na Assembleia Legislativa um projeto que prevê a instalação de centros para abrigar pessoas que sofrem do mal de Parkinson. A iniciativa, do deputado Fernando Capez (PSDB-SP), prevê que o doente passe o dia no lugar enquanto seus familiares estão no trabalho. No fim do expediente, eles iriam buscá-lo.

MULHERES DO EGITO
Elenir e João Antônio Zogbi, do grupo empresarial Zogbi, tentam inovar nos eventos para celebrar a união de seu neto Maurício Zogbi Porto com a cantora lírica Luciana Feres, que se realizará em março. Faz parte da programação, por exemplo, uma palestra sobre "O Papel da Mulher no Egito Antigo", que será ministrada por um especialista, amanhã, para amigos do futuro casal.

HOJE É O SEU DIA
Os fãs brasileiros da banda Coldplay estão ensaiando um "Parabéns pra Você" para o vocalista, Chris Martin, que faz aniversário no dia do show da banda em São Paulo, 2 de março. A surpresa vai acontecer depois da música "In My Place", acompanhada por uma ola com luzes de celulares e balões brancos, pretos e vermelhos, cores da turnê do grupo.

CURTO-CIRCUITO
O GRUPO AMERICANO Overkill se apresenta no dia 19 de março, no Clash Club, com ingressos de R$ 90 a R$ 150. 16 anos.

O CLUBE Astronete recebe amanhã a festa Discotexxx, com os DJs convidados Atum, Daniel MS e Leandro Cunha. 18 anos.

COMEÇA HOJE, no shopping Iguatemi, a feira de design e produtos Paralela Gift. Entre os expositores, estão a designer Elisa Stecca e a marca argentina Pic Nic.

O RESTAURANTE Freddy comemora seus 75 anos com o Festival Chateaubriand-Camarão, que começa hoje na casa.

RUY CASTRO

Festa de arromba

FOLHA DE SÃAO PAULO - 26/02/10


RIO DE JANEIRO - Batida da polícia numa festa de aniversário à beira da piscina em Feira de Santana, na Bahia, terça-feira, levou à prisão de 106 "suspeitos de tráfico de drogas ou de associação com o tráfico" -disseram os telegramas. A suspeita tem razão de ser: sobre as mesas, em arranjos artísticos, a polícia encontrou 300 gramas de cocaína, 50 pedras de crack, 2 kg de maconha e uma quantidade indeterminada de ampolas de lança-perfume à disposição dos convivas. Suspeita-se de que fossem drogas.
Fosse o níver celebrado com brigadeiros, balas de coco, guaranás e salgadinhos, os donos da festa estariam livres de qualquer suspeita. Mas o que intriga é que, com tanta droga para os convidados (entre os quais, dez menores) e alguns dos presentes portando 38s em vez de línguas-de-sogra, o recato jurídico e jornalístico ainda aconselhe a chamá-los de suspeitos.
Talvez pela crença, há muito arraigada, de que traficantes não cheiram, não fumam, não se picam e não inalam, porque não são trouxas. E, se estavam todos ali numa alegre confraternização regada a droga, é porque não se tratava de traficantes, e sim de usuários. Donde qualquer associação a tráfico é uma hipótese, e eles serão, no máximo, suspeitos.
Mas, como toda suspeita tem limite, a polícia baiana fez uma triagem no próprio recinto e liberou 31 indivíduos, conservando os 65 restantes, estes decididamente suspeitos. Pode ter ajudado nesta triagem o fato de que muitos dos elementos presentes já tinham um histórico de homicídio, fuga da cadeia e mandato de prisão em aberto.
Cocaína, crack, maconha e lança-perfume não foram as únicas drogas encontradas no ágape. Sabendo-se que era uma festa de aniversário na Bahia, pode-se garantir que a música que tocava pelos alto-falantes era axé.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Onda jovem

O Estado de S.Paulo - 26/02/2010


Está surgindo um novo movimento, totalmente apartidário, composto de empresários, executivos e advogados, cujo nome diz tudo: "Endireita, Brasil".

Chegaram à conclusão de que não adianta ficar sentado reclamando da política e adotaram um famoso pensamento de Platão: "A punição que os bons sofrem, quando se recusam a tomar parte do governo, é viver sob o governo dos maus."
Em tempo: os integrantes são todos jovens.


Resposta adiada

Aberta a bolsa de apostas.
Henrique Meirelles escapou de ter que aumentar os juros em março, com o aumento dos depósitos compulsórios por dois meses.

O BC conseguirá escapar desta em junho?


Saudades...

O primeiro compromisso da delegação brasileira em Havana foi uma visita ao passado. Franklin Martins carregou Lula, Nelson Jobim e Marco Aurélio Garcia, entre outros, para jantar no La Bodeguita.

Seu velho conhecido de outros carnavais.


Saudades?

O Granma, jornal oficial do PC cubano, não havia dado, até ontem à tarde, uma única linha sobre a morte do dissidente Orlando Zapata.

E Yoaní Sanchéz, a blogueira cubana, foi impedida de assinar o livro de condolências de Zapata.


Braços abertos

O Rio recebe, até o fim do ano, grande quantidade de armas. A previsão não é da polícia nem dos bandidos, e sim... do pessoal de cinema.
Estão chegando à cidade três grandes produções americanas, "que exigirão grande importação", explica o presidente da Rio Film Comission, Steve Solot.

Braços abertos 2

A Rio Film está "aparelhando" outras cidades do Rio.Vai levar seus portfólios às feiras de cinema lá fora.


Não, obrigado


Roberto Justus não quer nem pensar em entrar para a política. Recebeu várias propostas para se candidatar... e recusou todas.



Carlos Santiago, da Aster, pede correção de informação segundo a qual sua empresa não faliu.

No entanto, ele emitiu a 14 de julho de 2004 comunicado avisando que a empresa não forneceria mais combustível e que todos os seus quase 600 funcionários tinham sido demitidos.

Essa crise, garante Santiago, já foi superada.


Defesa virtual

Kassab descobriu um jeito de se proteger das críticas.
Está criando site em que empresas que limpam bueiros terão de mostrar, no dia-a-dia, o que estão fazendo.


Calhambeque

Roberto Carlos interrompe em abril, por cinco dias, sua turnê internacional. De 19, seu aniversário, até 25, o artista "sobe em seu novo avião, nas cores azul e branco, para lugar ainda incerto", não revela o produtor Dodi Sirena.

O modelo? Um Gulfstream da Bombardier, canadense.
Essa a Embraer perdeu.


Olho por olho

Salman Rushdie decidiu colocar no papel a perseguição que lhe move, há duas décadas, o governo do Irã. O escritor, confirmado para a Flip, foi jurado de morte pelos líderes islâmicos por ter publicado o livro Versos Satânicos.

Agora, o governo do Irã vai ameaçá-lo com o quê?


Tempo antigo

Mário Bortolotto, ainda com os braços numa tipoia, decidiu contar a história de sua geração, a dos anos 60.

A peça já tem título: Música para Ninar Dinossauros.

Tipo exportação

O MinC entrou na rota das exportações brasileiras. Juca Ferreira e seu colega Ticio Escobar assinam em Foz do Iguaçu, amanhã, acordo para criar 30 "pontos de cultura" no Paraguai.


Axé com rock

Ivete Sangalo, Martinho da Vila, Toni Garrido e Maria Rita estão confirmados para agitar a capital portuguesa, em maio.

No Rock in Rio-Lisboa.


Na frente

Cotadíssimo para coordenar a campanha tucana em SP, Andrea Matarazzo recebe Geraldo Alckmin sábado, em seu programa de rádio. Nos dois seguintes, Aloysio Nunes Ferreira e... Alberto Goldman.

A turma contrária ao Programa Nacional de Direitos Humanos resolveu ir às ruas. Em passeata, domingo no Rio, do Movimento Pela Liberdade.

Madonna faz escola. Chris Martin, do Coldplay, vai ficar no no Fasano, no Rio.
Pouco resistiram às crises brasileiras como o tradicional restaurante Freddy. Priscila Biancalana comemora os 75 anos da casa a partir de sexta.

O projeto Velho Amigo comemora: a noite de lançamento da Casar, dia 18 de maio, na Daslu, será em prol da Instituição.

Será Giorgio Armani o responsável pelo visual de Lady Gaga na turnê The Monster Ball.

A partir de 6 mil fotos da vida e da carreira de Pelé, foram selecionadas 84. Todas elas entram na fotobiografia Pelé 70. Com texto de Vincent Defourny, da Unesco no Brasil.

Em tempos de eleição, será que Lula se sairá com um "nunca antes na história deste País" diante do lucro recordíssimo do Banco do Brasil?

BARBARA GANCIA

Milonga, por supuesto

FOLHA DE SÃO PAULO - 26/02/10


Jorge Luis Borges não disse que o impasse das Malvinas era como "dois carecas brigando por um pente"?

EM SEU ESCRITÓRIO na Casa Rosada, ela aguarda enquanto a ligação é completada. Na parede, o mapa-múndi de Buenos Aires está ao lado da foto daquele jogador que, segundo a imprensa local, foi o melhor do mundo e um dos melhores de Argentina. Finalmente, é estabelecida a conexão com 10, Downing Street.
"Hola, Gordon! Habla Cristinita." Gordon Brown, que tinha acabado de soltar os bofes com uma estagiária que havia entendido "Coca Light Plus", quando, na verdade, ele pedira Coca Zero, ainda está ofegante quando chega ao telefone. "Hello, Cristina, o que manda?" Ciente de que o último bate-papo entre os dois pode ter deflagrado o início do fim do governo trabalhista na Grã-Bretanha, Cristina Kirchner inicia a conversa com cautela. "Vi pelos jornais que você seguiu meu conselho e trocou a nada viril carne de carneiro por carne suína."
"Ora, Cris, você acha que eu abriria mão do carneiro ao molho de menta, só porque você me disse que a carne de porco me daria redobrada potência sexual? Nunca!" Para quem era conhecida como "rainha Cristina" no começo do mandato, até que a presidente está relativamente amena. "Mas, Flash Gordon, você não andou quebrando a mobília de Downing Street e pegando as funcionárias pelo cangote? Pensei que..."
A Coca Zero ainda não deu sinal de vida e Gordon Brown começa a ficar agitado. "Desembucha logo, Miss Piggy, que eu ainda preciso fazer vários telefonemas hoje, um pra mandar o Tony Blair catar coquinho na ladeira por conta do pepino em que ele me meteu no Iraque e no Afeganistão, e outro para aquele queniano dos infernos que está na Casa Branca e que me esnoba a cada encontro. Hoje eu o mando enfiar o porta-aviões dele, o Nimitz, na orelha esquerda."
Cristina Kirchner percebe que é melhor apressar o assunto. "Veja, Gordy: você sabe que minha vida não tem sido fácil, que tenho tido de maquiar os índices da economia para deixar todos felizes, que danço o "rebolation" para pagar as dívidas, que estou em guerra com o campo, que tive um probleminha aí com uma mala de dinheiro vinda de Caracas e sabe também que as duas únicas coisas que unem os argentinos são o futebol e as Malvinas, não sabe?"
"Vem não, Cris. Em 2007, teu marido Nestor cancelou unilateralmente o acordo com a Grã-Bretanha que tratava da exploração de petróleo na região das Falklands. O que você quer de mim?"
"Como ia dizendo, Gordy baby, só o futebol e as Malvinas unem de fato os hermanos. E, como o nosso futebol está nas mãos de Deus, que aqui a gente chama de Diego Armando, vou ter de fazer uma encenaçãozinha em torno das Malvinas, OK, lindão? Mas, liga não, que as empresas que vão explorar petróleo na região também atuam fortemente na Argentina e, no fim, fica todo mundo contente, pode ser?"
Gordon Brown reflete. "Não foi um escritor argentino que disse que o impasse das Falklands era como "dois carecas brigando por um pente'? Então tá, fazemos uma ceninha e depois lucramos todos, inclusive aquele barbudo tapuia que faz mais sucesso do que eu, sendo que entrei na faculdade aos 16 anos e ralei feito louco e, hoje, todos me tomam por desequilibrado e a ele, por sábio. Posso desligar agora?"

ANCELMO GÓIS

A conta oficial

O Globo - 26/02/2010


Sabe quantos litros de xixi e cocô foram coletados dos banheiros químicos durante o carnaval do Rio? Acredite: 500 mil litros. Os dejetos foram encaminhados para a Estação Alegria, onde estão sendo tratados.

Gois na Copa I
Lula pretende mesmo ir à África do Sul para a inauguração da Casa do Brasil, que o Ministério do Turismo vai montar em Johannesburgo, na Copa, e também assistir ao jogo de estreia da seleção, dia 15 de junho, contra a Coreia do Norte.

Gois na Copa II
De lá, Lula, que deixa o governo em dezembro, deve fazer um giro de despedida por alguns países africanos.

Gois na Copa III
Dunga e Jorginho viveram ontem grande emoção. O técnico e o auxiliar visitaram Nelson Mandela, 91 anos, o grande herói e pacificador da África do Sul, em sua casa, no bairro de Houghton, em Johannesburgo.

Os dois levaram uma camisa da seleção com o nome do líder sul-africano. Já Mandela falou das duas vezes em que esteve no Brasil, em 1991 e 1998, com grande saudade.

Berlusconi no Rio
Silvio Berlusconi vai passar o fim de semana do dia 6 de março agora no Rio, hospedado no Copacabana Palace O primeiro-ministro italiano verá Lula dia 9. Na pauta, certamente, o caso do italiano Cesare Battisti, preso no Brasil, acusado na Itália de ações terroristas.

‘Minha Marrom’
Alexandre Pires, que finaliza, pela EMI, um novo CD, compôs e gravou um samba em homenagem à nossa Alcione, que ainda nem sabe.
Chama-se “Mulher das estrelas”.
Trechinho: “Ela canta demais/Ela sabe o que diz/Ela é minha Marrom”...

LULA E CABRAL entregam dia 8 agora este complexo esportivo na Rocinha, ao lado do Ciep Ayrton Senna. Veja na foto acima como já está e aqui à direita como era antes. Terá área de lazer, piscinas semiolímpica e infantil, quadras poliesportivas (cobertas e descobertas), campo de futebol, pista de skate, escolas de surfe e judô, além de salas que serão ocupadas por cooperativas da comunidade. Cerca de 1.600 jovens serão treinados ali. “Vamos transformar a Rocinha num celeiro de atletas para 2016”, diz a medalhista olímpica Adriana Behar, que coordenará projeto neste sentido

Sai fumaça
Lula partiu de Havana com a mala cheia de charutos cubanos.
Só que o presidente tenta parar de fumar desde janeiro, quando teve problemas de pressão alta.

O exílio de Jobim
Há quem veja razões políticas na decisão dos cubanos de hospedar o ministro Nelson Jobim no Meliá Habana e não na Casa de Protocolo, no Laguito, onde Lula e outros ficaram. Será?

Hebe e o Rei
A TV Globo liberou Roberto Carlos para ir ao programa de Hebe Camargo, em sua volta à TV, no SBT, dia 8 de março.

Cegonha
Daniela Sarahyba e o marido, Wolf Klabin, vão ter um bebê.

Metrô da Barra
Dia 20 de março haverá festa para marcar o início das obras do metrô para Barra.

Esquina do medo
A juíza Márcia Cunha, da 2aVara Empresarial do Rio, parou num sinal do Leblon, ontem de manhã, e... “Mãos ao alto!” Num impulso, a juíza acelerou (que perigo, meritíssima), escapou e chamou a PM, que prendeu o bandido. O ladrão, de 56 anos, já tinha quatro ocorrências na ficha criminal.

Pracinhas
As Forças Armadas vão badalar os 50 anos do Monumento aos Mortos da II Guerra, no Aterro do Flamengo, em agosto.
Haverá até exposição de carros de combate, cedidos, veja só, pelo músico João Barone, dos Paralamas, que é colecionador.

Conduta errada
A polícia do Rio prendeu quarta, no Maracanã, um torcedor de 18 anos, da Zona Sul, que mirava com uma lanterna de laser o juiz e os jogadores.

Mata o velho
De um gerente da Caixa Econômica de Icaraí, Niterói, RJ, ontem, a uma mulher que chiou do tempo de espera de mais de uma hora na fila: — Foi a senhora quem inventou o idoso? Nem eu.

Cena carioca
Terça, na Cidade Nova, por volta de meio-dia, um flanelinha tirou do bolso um... iPhone, para a surpresa de um motorista que estacionava: “Chique! Vai ligar?” E o flanelinha: “Não. Só estou conferindo o site de notícias.”

DANI MONTEIRO, a bela apresentadora do “Extremos”, do Multishow, faz graça em ensaio fotográfico, na Barra, antes de voar para nova aventura, em Santo Angel, maior cachoeira do mundo, na Venezuela

ARNALDO ANTUNES, o músico, grava com Inez Cabral, filha de João Cabral de Melo Neto, textos do genial poeta para exposição no Centro Cultural da Justiça Eleitoral, no Rio

PONTO FINAL

No mais
O advogado Thiago Bouza informa que, em 14 dias de prisão, Arruda já perdeu cinco quilos.
Num spa normal, para atingir esta meta, o governador teria de manter uma dieta diária de 600 calorias e cumprir um extenso programa de atividades físicas. E desembolsaria, no período, um mínimo de R$ 20 mil.
Estes cálculos todos foram feitos por um gaiato, defensor da tese de que, até na adversidade, há sempre um lado bom. É só procurar.

UM PUTEIRO CHAMADO BRASIL

MÍRIAM LEITÃO

Ilha presídio

O Globo - 26/02/2010



Foi constrangedor ver a cena do presidente Lula e seus assessores rindo do lado dos Castros de Cuba, enquanto o governo cubano prendia os amigos de Orlando Zapata que tentavam comparecer ao enterro.

A mãe de Zapata disse que ele era torturado sistematicamente; o desespero foi tal que ele ficou 84 dias sem comer. E lá estava o nosso presidente sorrindo e brincando com os ditadores.

Tenho dito aqui que concordo com a necessidade de se apurar as torturas e mortes de opositores durante a ditadura brasileira, mas o governo fica sem moral para defender que, no Brasil, os militares que torturaram e mataram sejam punidos, se aceita se confraternizar com quem tortura e mata integrantes da oposição em Cuba.

Os detalhes da morte de Orlando Zapata Tamayo lembram os piores regimes.

A casa dele, onde o corpo foi velado, ficou cercado de seguranças.

Pessoas tentavam chegar perto do livro de condolências e não conseguiam.

Alguns amigos dele permanecem presos só por querer ir ao enterro.

A mãe, Reina Zapata, disse que o filho era “prisioneiro de consciência” e pediu que o mundo cerre fileiras em defesa dos outros prisioneiros políticos de Cuba. Ou o governo Lula acha normal a tortura e a morte de dissidentes, e aí tem que abonar o passado brasileiro, ou então tem que declarar sua defesa aos direitos humanos dos cubanos.

E que não se diga que isso é assunto interno dos cubanos, porque terá que dizer que a queda de Manuel Zelaya era um assunto dos hondurenhos.

Em Honduras, o governo brasileiro ficou desde o primeiro momento contra o golpe. Nisso estava certo, mas exagerou quando permitiu que a embaixada fosse usada como aparelho político.

Parecia um governo disposto a ir às últimas consequências para defender os princípios democráticos.

Até hoje não reconhece o governo que foi escolhido pelos hondurenhos no voto, alegando que a eleição não foi legítima, ainda que não tenha sido constatada nenhuma irregularidade.

A resposta do presidente Lula em Havana foi toda inadequada. Ele disse não ter recebido a carta do dissidente em greve de fome, mas que se recebesse tentaria demovê-lo do protesto.

Ora, um preso de consciência em regime ditatorial às vezes nada pode fazer a não ser apelar para a última forma de manifestação que lhe resta.

Raúl Castro mentiu descaradamente.

“Em meio século, aqui não assassinamos ninguém. Aqui ninguém foi torturado. Aqui não houve nenhuma execução extrajudicial.” Para acreditar nisso é preciso ser um E.T. que acaba de desembarcar no planeta.

Em 2003, quando vários dissidentes foram executados, o então embaixador brasileiro no país Tilden Santiago disse que o governo cubano tinha “o direito de se defender” e mais não falou, alegando que era constrangedor criticar alguém “da família”. Assim o governo Lula se sente em relação aos ditadores cubanos: eles podem tudo porque são “de casa”, ditadores amigos.

Como disse o ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, em entrevista à “Folha”, o governo brasileiro é omisso nas violações dos direitos humanos praticadas por amigos, e estridente com os outros países.

Lampreia pode dizer de cadeira, porque quando esteve em Cuba, em 1998, manteve reuniões com dissidentes, ignorando a irritação do governo de Havana.

Durante a ditadura brasileira, era comum visitantes estrangeiros ignorarem a irritação dos generais e manterem reuniões com opositores ou críticos do regime.

Foi assim que em 1978 o então presidente americano Jimmy Carter se reuniu com D. Paulo Evaristo Arns e o reverendo Wright, autores do relatório sobre tortura “Brasil Nunca Mais”. E sua mulher Rosalyn Carter foi a Recife visitar D. Helder Câmara.

Carter recebeu de D.

Paulo uma carta com o nome de 27 desaparecidos políticos e foi ao presidente Geisel e perguntou onde eles estavam.

Quando o então presidente venezuelano Carlos Andrés Perez veio ao Brasil, se encontrou com opositores do regime militar, entre eles Fernando Henrique Cardoso.

O próprio Lula foi visitado por representantes de outros governos. Fidel Castro sempre que vinha ao Brasil, depois do restabelecimento de relações diplomáticas no governo Sarney, reuniase com o PT e uma vez participou de um comício petista em Niterói.

Estar com representantes da oposição não é se envolver em assuntos internos, é ouvir todas as partes do país; porque quem é oposição hoje pode ser governo amanhã; e quem é governo não é dono do país. As relações permanentes não são com os governantes, mas com os países. Na Venezuela, o Brasil ficou excessivamente marcado como “amigo de Chávez”, a ponto de ter havido, em 2003, manifestação em frente à embaixada brasileira.

O que nos interessa de forma permanente é uma boa relação com a Venezuela.

O governo brasileiro usa o princípio da não ingerência em assuntos internos quando lhe convém e para encobrir os abusos de governos dos seus amigos como Hugo Chávez e Fidel e Raúl Castro. No caso de Honduras, o Brasil disse que estava atuando em defesa do princípio democrático.

Existe uma forma de conciliar não interferência em assuntos internos com defesa de princípios e valores democráticos. O governo Lula é que não sabe achar o ponto de equilíbrio.