segunda-feira, janeiro 04, 2010

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

Férias e seguros

O Estado de S. Paulo - 04/01/2010


Férias é época de descanso, de reposição das energias gastas ao longo do ano, de se preparar para um novo período de correrias e atribulações. O mundo está cada vez mais rápido, por isso, aproveitar as férias para recarregar as baterias e se lançar outra vez no tsunami nosso de cada dia é a solução para não perder o bonde do progresso e entrar na briga preparado para vencer.

As férias de verão são férias individuais potencializadas aos milhões. Milhões de alunos, milhões de mães e milhões de pais deixam os afazeres do dia a dia para se entregarem ao ócio merecido, após um ano difícil e cheio de barreiras como foi 2009.

De outro lado, é nos meses de verão que as consequências das mudanças climáticas são mais sentidas no Brasil. É nesta época do ano que as tempestades cobram seu preço, inundando, desmoronando, desabrigando e matando em todo território nacional. Com o aquecimento global a frequência e a violência das tormentas têm aumentado consistentemente, tanto que ainda não estamos no auge da temporada das tempestades e Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo já vão se destacando pelos danos causados por tempestades, vendavais e tornados que se abatem sobre seus territórios.

Em outras palavras, as férias de verão prometem agravar todos os riscos passíveis de sinistros ou de serem cobertos por seguros, tanto de origem natural como de origem humana.

Esta soma de fatores negativos se reflete nos desembolsos das seguradoras, que nesta época pagam uma parte elevada do total das indenizações dos sinistros ocorridos ao longo do ano.

Nada de novo debaixo do céu, apenas mais caro. Como cada vez mais as férias acompanham o ritmo alucinado da vida moderna, ano a ano aumenta o número de acidentes de todos os tipos que causam perdas materiais e corporais.

Por conta humana, aumenta o número de acidentes com veículos, o número de acidentes decorrentes da prática de esportes, o número de acidentes pessoais em geral e o número de mortes acidentais. Aumentam os furtos e roubos, a utilização dos planos de saúde e dos serviços de assistência oferecidos pelas seguradoras em suas apólices.

Por conta da natureza, aumentam as indenizações para veículos e residências atingidos pelas tempestades. São danos causados pelo vento, pela água, pelo granizo, pela queda de árvores, pelo desmoronamento de imóveis de todos os tipos, etc., e que, com o desenvolvimento da atividade seguradora, passaram a ser mais e melhor protegidos.

O aumento dos sinistros, como não poderia deixar de ser, eleva as despesas administrativas, o que também impacta negativamente o caixa das seguradoras, gerando um desembolso maior e obrigando-as a tomar uma série de medidas de proteção para minimizarem a concentração dos sinistros num espaço tão curto de tempo.

Os mecanismos à sua disposição são das mais variadas ordens, indo desde a política de aceitação de riscos até a contratação de resseguros específicos, capazes de limitar suas perdas, por carteira e por evento, para não falar na constituição de reservas técnicas, exigidas pela SUSEP (Superintendência de Seguros Privados).

Através destas ações as seguradoras se defendem de uma realidade agressiva e que poderia levá-las a apresentar eventuais problemas de caixa para fazer frente ao total dos desembolsos concentrados nos meses de verão.

A primeira premissa para a boa gestão de uma seguradora é a certeza de que os eventos que ocorrem ao longo do ano não acontecem matematicamente divididos pelos doze meses. Há épocas com maior concentração de um determinado tipo de sinistro, outras, mais tranquilas, o que faz com que o diferimento dos prêmios não seja suficiente para dar a segurança necessária à gestão do negócio. Com base nisto, e sabendo que os meses de verão concentram uma grande massa de sinistros, as seguradoras implementam regularmente ações estratégicas e pontuais destinadas a fazer com que esta concentração não lhe cause problemas operacionais.

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Antonio Penteado Mendonça é advogado, sócio de Penteado Mendonça Advocacia, professor da FIA-FEA/USP e do PEC da Fundação Getúlio Vargas e comentarista da Rádio Eldorado.

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