sábado, outubro 24, 2009

MÍRIAM LEITÃO

Fim da era do dólar

O GLOBO - 24/10/09


O dólar está derretendo. Aqui e no mundo inteiro.

O IOF sobre capital estrangeiro provocou polêmica, mas o problema é qual o destino do dólar, que, como lembra Affonso Celso Pastore, é a segunda moeda de todos os países, o ativo no qual as economias constituem suas reservas. Fatos que dão aos Estados Unidos o privilégio de ter metade da sua base monetária carregada pelos outros países.

Mais do que as aflições locais de exportadores, a grande dúvida é se estamos no fim da era dólar. Pastore lembra que a libra esterlina deixou de ser a moeda hegemônica no final da Segunda Guerra Mundial, pelo fortalecimento econômico americano, o grande vencedor da guerra. Mas ele mesmo não acha que seja o começo do fim da era dólar. Conversei com Pastore e o economista José Alfredo Lamy, na Globonews, sobre isso.

Lamy acha que há dúvidas até mais urgentes. Ele acredita que o ano de 2010 será determinado pelo Fed (banco central americano). Inclusive o que acontecerá com o dólar aqui no Brasil. A taxa de câmbio tem menos a ver com medidas como o IOF — que ele define como um ruído de curto prazo —, e mais com o que o presidente do Fed, Ben Bernanke, pretende fazer.

— Nós vivemos ainda um período de exceção; estamos no meio da crise e não vimos ainda o final da história. O Fed jogou os juros para baixo e aumentou muito a quantidade de dólar em circulação com os programas de estímulos e a compra de ativos podres. Isso foi feito num momento de desespero, uma medida de emergência para enfrentar a crise bancária. A estratégia de saída dessa situação determinará o que acontecerá no mercado de câmbio mundial em 2010.

Hoje, pelo excesso de liquidez, existe uma correlação perfeita com 2007, quando estavam em alta as bolsas, commodities e moedas — afirmou Lamy.

Pastore acha que o Brasil continuará atraindo muito capital porque agora ele não vem apenas pelo diferencial de juros, mas pelo diferencial de crescimento.

— Os juros brasileiros, apesar da forte queda recente, ainda são mais altos que os do mundo, mas na crise, quando o investimento direto estrangeiro se encolheu no mundo, aumentou de US$ 20 bilhões para US$ 30 bilhões no Brasil. E por quê? Porque no governo Fernando Henrique e no governo Lula, o país fez uma série de ajustes macroeconômicos em sua economia: reduziu a dívida, desdolarizou a dívida, estabeleceu metas fiscais, se graduou com o grau de investimento.

Foi reduzida a vulnerabilidade brasileira aos choques externos. O Brasil vai crescer de 5% a 5,5% no ano que vem e vai continuar recebendo capital estrangeiro.

Não será o IOF que vai reverter essa tendência — disse ele.

Lamy concorda que o país vai crescer — prevê um pouco menos que Pastore —, mas pensa que não é o sucesso do Brasil que determina a entrada de dólar, porque países que não fizeram as mesmas reformas e ajustes também estão recebendo muitos dólares e tendo alta nas suas moedas e bolsas, como a África do Sul. O que há de comum entre Brasil e África do Sul é que ambos são países exportadores de commodities.

Pastore disse que o dólar só continuará a ser a moeda do mundo se estiver forte, sobrevalorizada: — Os Estados Unidos têm um privilégio exorbitante de que o dólar seja a reserva de moeda do mundo.

Se eles quiserem manter sua posição hegemônica, têm que ter estabilidade de preços e consertar sua crise.

Por enquanto, não pode tirar os estímulos econômicos porque a economia ainda está em depressão. Lá na frente, quando estiver se recuperando, o risco será de inflação. Se ela subir, e os Estados Unidos deixarem, há o risco de o dólar deixar de ser a segunda moeda de todos os países.

Há outros pensadores acreditando que o risco pode ser mais imediato. A própria queda do dólar, frente a quase todas as moedas, não seria um fator que detonaria o seu abandono como a moeda das reservas internacionais dos países? O historiador Niall Ferguson, autor do livro sobre a história do dinheiro, em entrevista recente, considerou que os economistas erram quando consideram que a China não vai reduzir o volume de dólares em reserva (US$ 1,7 trilhão) porque isso seria atirar no próprio pé. Ele argumenta que a China tem a ganhar se outros ativos e moedas que ela também dispõe se valorizarem em relação ao dólar.

Ferguson considera histórica a decisão do Brasil e da China de adotarem suas próprias moedas nas transações comerciais bilaterais.

A medida, na verdade, ainda não está operacional, mas quando estiver será grande. Em 2008, o comércio bilateral foi de US$ 36,4 bilhões. Este ano, até setembro, US$ 27,2 bilhões. A China já representa 14% do comércio brasileiro.

Parece meio inevitável que uma economia com desequilíbrios fiscais e monetários tão grandes como a dos Estados Unidos acabe perdendo a confiança como emissor de uma moeda mais importante do mundo. Mas a história recente provou a força do dólar. Quando a crise se abateu sobre o mundo no final do ano passado, houve corrida para comprar dólares e isso elevou a cotação da moeda. Agora, é o reverso da medalha, ela cai em relação a todas. Pode não ser ainda o fim da era dólar, mas isso nunca pareceu tão próximo.

EDITORIAL - O GLOBO

Cabeça fria

O GLOBO - 24/10/09

Se houver chance de a CPI do MST trabalhar com alguma seriedade, terá de ser discutida a pesquisa realizada pelo Ibope, sob encomenda da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), junto a mil famílias assentadas em nove estados.

Algumas conclusões, embora não surpreendam, são prova concreta daquilo que especialistas dizem há tempos: a modernização da agricultura, pela via capitalista, do mercado, tragou o “latifúndio improdutivo”, e até acabou assumindo função-chave como fonte de alimentos no mundo.

Aos dados: 73% das famílias não geram renda na propriedade; destes, 37% nada produzem, nem para o próprio sustento; 52% adquiriram a terra de outras pessoas, operação ilegal; apenas 8% das famílias haviam recebido o lote em primeira mão. Boa parte, então, vive do assistencialismo (cestas básicas, Bolsa Família). É risível tentar desqualificar a pesquisa por ter sido a CNA quem a pagou; o Ibope é um instituto com nome a zelar, vive da credibilidade, como a imprensa profissional.

Se há dúvidas sobre a qualidade do levantamento, que a CPI convoque o Ibope a dar explicações.

Há estudos anteriores que comprovam a superação do problema agrário, como ele era entendido a partir da primeira metade do século passado. Sequer há população no campo (hoje são apenas 18% do total dos brasileiros que não se encontram nas cidades) para justificar uma redistribuição radical de terras. Tanto que o MST, nas invasões, precisa mobilizar o lumpesinato das periferias de pequenas cidades.

Constatada a falência da reforma como ela continua a ser defendida — o que não quer dizer sonegar aos assentamentos apoio técnico e financeiro, para que se viabilizem —, deve ser repensada a transferência de recursos públicos para o MST, hoje mais uma organização política revolucionária do que qualquer outra coisa. Estes repasses devem ser uma linha de trabalho da CPI, e certamente por isso é que o Planalto tentará controlar a comissão. Há muitos indícios e provas de desvios de dinheiro do contribuinte para financiar ações violentas, ilegais do MST.

Para a preservação da agricultura como um dos mais dinâmicos setores da economia brasileira — principal responsável pelo histórico resgate da dívida externa —, cada vez mais a questão do MST e da terra precisa ser encarada com frieza, sem contaminações ideológicas.

Para não se falar na democracia e no estado de direito, a serem preservados a qualquer custo.

GOSTOSA PELO SISTEMA DE COTAS DO BLOG


CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR

JOSÉ SIMÃO

Socuerro! É o Tiro de Janeiro

FOLHA DE SÃO PAULO - 24/10/09

Perguntas básicas:traficante quando morre vira pó? Vai ter PÓnetone de Natal?

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! É que no Rio Grande do Sul tem uma juíza chamada CLARA SENTENÇA.
E essa é terrível: sabe como se chama um dos PMs envolvidos na morte do coordenador do Afroreggae? CAPITÃO BIZARRO! É verdade! É o que eu digo: não é vocação, é predestinação! Os Predestinados. E essa: "Zelaya dá o terceiro ultimato em uma semana". Então ele criou o penultimato e o antepenultimato!
E a Riolência 2016? Rio de Janeiro vira Tiro de Janeiro! Esses traficantes não estão avacalhando com a paz. Tão avacalhando com o Nobel da Paz! Invadem o Morro dos Macacos pelas avenidas Martin Luther King e Dom Helder Câmara. Se encontram na praça Mahatma Gandhi. E jornalista espanhol fica sob mira de fuzis na favela Nelson Mandela! E traficante tem nome de poodle: Lulu, Dudu, Tuquinha.
E o "New York Times" disse que o Rio é a capital da cocaína e da carnificina. Capital da cocaína, carnificina, gente gostosa, caipirosca, pagode, calçadão, bimbada e bronha! Pelo menos é mais animado que Zurique. E mais perigoso que Bagdá.
Uma carioca me disse que se sente moradora do Ocidente Médio! E duas perguntas básicas: traficante quando morre vira pó? E vai ter PÓnetone de Natal?! E um amigo meu ligou para uma pousada no litoral: "Vocês têm wi-fi?". "Temos sim, vodca com fanta." Rarará!
E o Lulalelé, hein? "No Brasil, Cristo teria que se aliar a Judas." Já sei, ele quer Jesus como vice da Dilma. Aí vem o desmentido-manchete: "Jesus nega ser vice de Dilma". Rarará! De repente o Inri Cristo topa! Rarará! E o Éramos Seis revela o diálogo entre Lula e Jesus: "Ofereço 30 moedas pra você sair vice na chapa da Dilma". "Prefiro me aliar a Judas!" Rarará! E quem se venderia hoje por 30 moedas? Hoje é 30%!
E sabe o que Cristo falou pro Lula? "Pega outro pra Cristo." E o chargista Marco Jacobsen mostra a coalizão com Judas: "Eu quero os Correios, a Petrobras, Minas e Energia, a Câmara, o Senado e em troca eu te dou um beijo na boca". Rarará! E um político perguntou pra Judas: "Topa se coligar comigo?". "Não, você tem a ficha suja!". E onde o Lula falou isso? No cafundó do Judas!? Rarará! É mole? É mole, mas sobe! Ou como diz aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Acareação": companheira que saiu na "Caras"! O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza.
Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

J. R. GUZZO

REVISTA VEJA
J. R. Guzzo

Tempo de trapaça

"Nas demais sociedades civilizadas vale o princípio pelo qual
é permitido tudo o que não é expressamente proibido em lei.
No Brasil é proibido tudo o que não é expressamente permitido"

Todo cidadão que acompanha, mesmo de longe, o noticiário político seria capaz de jurar que há uma campanha eleitoral em andamento no Brasil e que diversas pessoas querem suceder ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 2010. Há a ministra Dilma Rousseff e o deputado Ciro Gomes, do lado do governo, o governador José Serra, pela oposição, e outros mais. Ao mesmo tempo, o público é informado diariamente de que não há nenhuma campanha eleitoral e nenhum candidato à Presidência. Os comícios não são comícios. A propaganda não é propaganda. Os candidatos não são candidatos. O que é isso tudo, então? É exatamente o que parece, mas o governo e a oposição não podem dizer que é. Podem fazer tudo. Mas não podem falar; aí já seria contra a lei, que, na sua ambiciosa lista de regras destinadas a regular tudo, marca o dia 6 de julho do ano que vem para o começo das campanhas. Como se sabe, temos leis eleitorais rigorosíssimas neste país, possivelmente as mais severas do mundo. Enquanto nas demais sociedades civilizadas vale o princípio pelo qual é permitido tudo o que não é expressamente proibido em lei, no Brasil dos tribunais eleitorais a coisa funciona ao contrário: é proibido tudo o que não é expressamente permitido. É uma surpresa, no fundo, que alguém consiga ser eleito com tanta proibição assim – e a saída para os políticos, inevitavelmente, é trapacear. É o que está acontecendo no momento.

É ruim, porque a campanha eleitoral de 2010, como tantas que vieram antes dela, começa em cima de uma falsificação por atacado da verdade. O presidente Lula, por exemplo, viaja sem parar pelo Brasil fazendo comícios e pedindo votos para quem for o candidato do governo – e ameaçando o país com a ruína se o eleitorado cometer a estupidez de preferir um outro nome. Mas ele diz que está "inspecionando obras". (Já da inspeção que a lei manda fazer, a dos tribunais de contas, o presidente vive reclamando.) E os comícios, com ônibus fretado, despesa paga pelo Erário e sorteio de casas entre a plateia? "Qualquer reunião com mais de três pessoas já é comício", diz Lula. Ou seja: o que é que se vai fazer? Afinal, o presidente da República não pode ficar trancado em casa. Se acham que é comício quando ele discursa em lugares onde há gente reunida, paciência. Quanto aos votos que pede para a ministra Dilma, nenhum problema. O presidente diz que está apenas elogiando uma grande servidora do governo – e apenas dando a opinião de que ela seria um colosso como sua sucessora. Que mal haveria nisso?

A ministra Dilma, por sua vez, faz rigorosamente tudo o que os coordenadores de campanha prescrevem para um candidato. Há tempos deixou de comparecer com regularidade ao seu local de trabalho e passou a correr de um lado para outro atrás de votos, seja em shows de música popular com o cantor Dominguinhos, seja em "fiscalização de obras" nas margens do Rio São Francisco; há pouco foi vista inaugurando um estádio de futebol em Araraquara. O que isso tudo teria a ver com as funções que é paga para exercer na Casa Civil? Do lado da oposição, a peça de teatro é estrelada pelo governador José Serra, que quer a Presidência tanto quanto qualquer um dos seus adversários, mas diz que só vai tocar no assunto no ano que vem. Serra não pode fazer campanha aberta como Lula faz; tem de se contentar com os limites impostos pelo seu cargo. Carrega a mão, por exemplo, na propaganda oficial; a última, no gênero, é a decisão da Assembleia Legislativa que autoriza o governo a fazer publicidade de suas obras em outros estados, para "promover o turismo" em São Paulo.

Registre-se, enfim, a notável contribuição do deputado Ciro Gomes, que recentemente passou a ter seu domicílio eleitoral em São Paulo, para manter aberta a possibilidade de candidatar-se ao governo paulista. Mas o deputado não mora em São Paulo; só a Justiça Eleitoral acredita nisso. Tudo o que fez foi passar quatro horas na cidade, no começo de outubro, apresentar um endereço de fantasia e assinar um papel num cartório garantindo que reside ali. Um cidadão "comum", como diria o presidente Lula, não pode ter um domicílio falso; aliás, vive tendo de provar onde mora com contas de luz, correspondência de bancos ou carnês de crediário, e se der um endereço que não é realmente o seu vai, com certeza, arrumar complicação. Já para ser candidato a presidente da República ou governador do estado não há problema nenhum.

Não se sabe, é claro, quem vai ganhar as eleições de 2010. Mas a verdade, desde já, está levando uma surra.

GOSTOSA


CLIQUE NA FOTO PARA AMPLIAR

DIRETO DA FONTE

Eventos

O ESTADO DE SÃO PAULO - 24/10/09


Quatro eventos de peso disputaram as atenções na noite de quinta em São Paulo. Mais de mil "traders" no Sugar & Ethanol Dinner, a inauguração do Teatro Bradesco, a Mostra de Cinema e a abertura do Club A.

Sugar Dinner

O Sugar Dinner, com o nome acrescido de "Ethanol", é um secular jantar inventado em Londres, há mais de 100 anos. Preserva até hoje seu formato "black-tie" que resultou no espaço da Bienal no Ibirapuera tomado de mais de mil "pontos" humanos em preto e branco.
Com raras exceções, como Jamal Al Ghurair, dono da maior refinaria de açúcar do mundo, a Al Khaleej Sugar. Ele foi sem smoking. Como está o mundo do açucar pós-crise? "Não tivemos crise, crescemos", apontou Ghurair. O moço, sediado em Dubai, compra açúcar bruto somente do Brasil. Depois, refina e produz 2 milhões de toneladas para 40 paises do mundo inteiro.
Traders da Índia, da Europa, dos EUA e até da China lotaram o salão. Preocupações? Só de financiamento, a demanda está forte. Do Brasil faltaram alguns usineiros conhecidos, envolvidos com a reestruturação de suas próprias empresas.
Durante o jantar, houve uma tradicional brincadeira. Empresários ingleses do século retrasado, aborrecidos com os discursos de ministros, começaram a apostar entre si sobre quanto duraria o falatório. Quem se aproximasse mais do tempo correto ficava com o bolão. Hoje isto se repete.
Foi Luciano Coutinho, do BNDES, a vítima. Irônico, ameaçou interromper seu discurso para atrapalhar a jogatina. Mas o suspense só acabou aos 14 minutos e meio da sua fala.

Teatro Bradesco

Com direito a tapete vermelho e presença de muita gente da Cultura, a inauguração do Teatro Bradesco teve pompa de noite de Oscar.
Mesmo com três empresas à frente do evento - ou talvez por isso... - vários convidados gastaram uma hora inteira para pegar seu convite.
Algumas celebridades se impacientaram e outras deram bom exemplo. Fernando Meirelles, recém-chegado de Portugal, e Lenine, que veio para a Mostra de Cinema, aguardaram sua vez, na fila, com bom humor.
A cerimônia fugiu ao protocolo: a fala institucional foi substituída por uma criativa abertura, embora igualmente longa, em que Marco Nanini fez as honras da casa, seguido de Eva Wilma. Ana Botafogo e Ivaldo Bertazzo representando a dança. Depois Isaac Karabtchevsky falou em nome da música erudita e Gilberto Gil, da MPB.
Para finalizar, e com chave de ouro, Bibi Ferreira retomou a tradição de Molière e batizou o palco com três batidas de bengala, anunciando as cortinas abertas. A cereja do bolo chegou com os "abuelitos" do Café de Los Maestros. Que, com as vozes de Marisa Monte e Gustavo Santaolalla, conduziram a plateia ao seu papel: o de aplaudir com entusiasmo...

Marilia Neustein


Mostra de cinema

A Mostra de Cinema, no Auditório Ibirapuera, não fugiu às tradições. Com Serginho Groisman apresentando, e o casal Leon Cakoff-Renata Almeida no comando da noite, os discursos foram arrastados - até Orlando Silva, do Esporte, falou.
Com uma hora e dez de atraso, começou enfim a apresentação de À Procura de Eric, de Ken Loach.

Club A

Nem Amaury Jr. imaginaria que duas festas iriam repartir a inauguração de seu Club A. Antes de passar pelo tapete vermelho do WTC, os convidados paravam para fotos e entrevistas com o seu sósia do Pânico, o Amaury Dumbo. Com direito a plateia de "não celebrities" clicando tudo.
O novo clube herda o que já foi o papel do Gallery na São Paulo dos anos 80. Com a repaginação necessária, em tempos de celebridades e lotação máxima, dos que buscam a fama por pelo menos um minuto. Andy Warhol era mais generoso com a turma dos flashs: dava 15 minutos.
O clube privado vem acoplado ao Amaury Jr. - que certamente fará do espaço um set para os seus programas de televisão. Para tanto, cada homem terá que desembolsar R$ 4 mil pela carteira, as mulheres R$ 1,5 mil e os casais, R$ 5 mil.
Lá dentro, quase mil pessoas deslumbravam-se com a ambientação. "Parece o Conrad de Punta del Este", extasiou-se uma convidada. "Ai, estou no Burj Al Arab, em Dubai", completou outra.
Os ainda-não-sócios corriam para serem apresentados aos embaixadores. Afinal, só com uma indicação é que é possível ser "member".
No mais, pista cheia com casais dançando cheek-to-cheek.

Doris Bicudo


Na Frente

Marcelo Camelo interrompeu o show, anteontem, na Festa da Rolling Stone. O moço ficou aborrecido com a platéia falante. "Ensaiamos muito para esse público desinteressado".

Bete Arbaitman comanda a noite Talento do Bem, segunda, no Hotel Tivoli-Mofarrej. Em prol da Amem.

O Museu da Casa Brasileira promove, quarta, o Leilão Arte & Design. Em benefício da Casa Taiguara, que acolhe crianças de rua.

Iole de Freitas abre mostra hoje, na Casa França-Brasil.

Entra no ar hoje o site do Prêmio Vladimir Herzog. Elaborado pela Colibri Associados, de Oswaldo Vitta e Silvia Penteado. E patrocínio do Centro de Informação da ONU para o Brasil.

Rafa Barreto mostra seu novo disco, Entre Becos, hoje, no Sesc Vila Mariana.

Com concepção de Eugênia Thereza de Andrade, acontece a leitura da peça Oração para uma Negra. Segunda, no Sesc Consolação.

A Raça Síntese de Joãosinho Trinta, de Paulo Machline e Giuliano Cedroni será exibido, segunda, no Cine Bombril.

Frank Brown, do INSEAD, chega ao Brasil na segunda. Para comemoração da parceria de 20 anos com a Fundação Dom Cabral.

As mulheres serão mais gordinhas e baixinhas. A previsão pessimista - e cruel - é fruto de um longo estudo de especialistas da Universidade de Yale, nos EUA.

Sem muito suor

Minutos depois do anúncio da medida de cobrança de IOF sobre recursos estrangeiros, esta semana, o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, fez lista de previsões no curto prazo.
A curva longa de juros seria alterada; o custo de captação e do crédito sofreria alguma elevação; a rolagem da dívida pública ficaria um pouco mais cara; IPOs e Bolsa sofreriam e as ADR"s agradeceriam.
A insegurança quanto à qualidade da política econômica se elevaria. Seguro, mesmo, somente o aumento da arrecadação de impostos.
E mais: o câmbio não teria uma elevação duradoura.
O fim da semana chegou e... bingo, acertou na mosca.


Haja saúde

José Gomes Temporão é candidatíssimo a imortal. O ministro, que também é médico sanitarista, enviou seu currículo, esta semana, à Academia Nacional de Medicina pleiteando uma vaga.
A decisão, que só sai em janeiro, está a cargo de um colégio de notáveis.


Fechando a porta

Eduardo Azeredo faz o que pode para impedir a entrada da Venezuela no Mercosul.
Chamou para falar na CCJ, na terça, até o vice da Confederação Israelita venezuelana, David Bitttan. Para quem Chávez estimula os ataques às sinagogas do país.

Off diplomacy

A discussão entre o ainda embaixador brasileiro no EUA Antonio Patriota e o deputado democrata americano Eliot Engel, sobre a vinda de Ahmadinejad ao Brasil, foi pior do que se imagina.
Ao que consta, os dois quase se atracaram e Patriota, dedo em riste, defendeu a soberania brasileira a tal ponto que Engel, furioso, convocou audiência para terça. Quando o Congresso, em Washington, discutirá o caso.


Os sem-folga

Serra decretou que segunda será ponto facultativo nas repartições públicas do Estado.
Mas mandou Aloysio Nunes avisar a seu staff imediato que ele terá que trabalhar no Dia do Funcionário.

VILLAS-BÔAS CORRÊA

Em boca fechada não entra mosca

JORNAL DO BRASIL - 24/10/09


AO VENERANDO DITADO cunhado pela sabedoria popular, que o presidente Lula deve conhecer desde os tempos de menino pobre em Guaranhuns, para sua atualização a esta fase caipora, poderia acrescentar-se que, se a mosca não entra em boca fechada, dela também não saem bobagens.

Para o desempenho de uma semana, o presidente perdeu a tramontana. Numa seleção das pérolas mais valiosas, a temerária comparação da sua aliança com a sopa azeda de siglas, muitas com uma coleção de fichas sujas com uma hipotética aliança de Jesus Cristo com Judas. A sentença histórica merece ser citada na integra: “Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse votação num partido qualquer, Jesus teria que chamar Judas para fazer coalizão”.

Ao pé da letra, Lula é novo Salvador do Brasil e do Mundo – e, no papel de Judas, os partidos aliados da candidata Dilma Rousseff, com justo destaque para o PMDB, que já garantiu a indicação do candidato a vice-presidente, e o felizardo é o deputado Michel Temer, presidente da Câmara e o suposto assessor de Judas.

A reação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil foi imediata e dura.

O secretário-geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa, cutucou direto: “Cristo não fez aliança com os fariseus. E, se para governar o Brasil, Jesus teria que se aliar aos fariseus, fica a dúvida: Estamos tão mal assim?”.

Como estava com a mão na massa, dom Dimas mandou um recado a Lula: o projeto de lei encabeçado pela CNBB, e que recebeu 1,3 milhão de assinaturas, para impedir que pessoas processadas na Justiça possam candidatar-se nas eleições, para vigorar em 2010, está paralisado no Congresso. O apoio da maioria parlamentar governista, amplamente majoritária, bastaria para garantir a aprovação do projeto de lei sem contar com os votos da oposição.

E a oposição não tardou no revide. O líder do DEM, senador José Agripino (RG), apelou para a ironia: “A primeira aliança do presidente foi com o mensalão”.

Não se briga com quem veste saia: mulher, juiz e padre – é conselho que muitas vezes ouvi na casa do meu avô. E que não inclui a imprensa, outro alvo da metralhadora giratória do presidente.

Na entrevista à Folha de São Paulo, Lula deu o seu palpite sobre liberdade de imprensa, inspirado no antigo Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP da ditadura do Estado Novo de Getulio Vargas, mas que deve ter aprendido durante os quase 21 anos da ditadura militar do rodízio dos cinco generais-presidentes.

Textualmente: “Não acho que o papel da imprensa é fiscalizar. É informar”. Didático e profundo, ensina: “Para ser fiscal tem o Tribunal de Contas da União, a Corregedoria-Geral da República, tem um monte de coisas”. O mestre aprofunda a tese: “A imprensa tem que ser o grande órgão informativo da opinião pública. Essa informação pode ser de elogios, de denúncias sobre o governo, de outros assuntos”. E o fecho de ouro do soneto da liberdade de imprensa: “A única coisa que peço a Deus é que a imprensa informe da maneira mais isenta possível, e as posições políticas sejam colocadas nos editoriais”.

A reação óbvia da oposição e a mudez da maioria não encerram o assunto. Imagino a perplexidade e o embaraço do ministro Franklin Martins, filho do bravo e saudoso deputado Mário Martins e responsável pela poderosa engrenagem de divulgação do governo.

Dada a importância e a seriedade do assunto, sugiro ao meu prezado amigo, Maurício Azedo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa, posto avançado da ampla e irrestrita liberdade de imprensa, um convite ao presidente Lula para expor no auditório democrático da ABI a nova política oficial sobre o papel da imprensa.

Na eventualidade da recusa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a agenda pesada com a rotina palaciana e as viagens com a ministra Dilma Rousseff, sua candidata a presidente, para fiscalizar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Minha Casa, Minha Vida, para a construção de 1 milhão de residências, os líderes do governo no Senado e na Câmara poderiam ser convidados para expor e defender a posição da maioria situacionista sobre a liberdade de imprensa e a marcha a ré da tese presidencial.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

DIOGO MAINARDI

REVISTA VEJA
Diogo Mainardi

O bonde do MC Beltrame

"Desde que Lula passou por lá para visitar as obras
do PAC, o Complexo do Alemão transformou-se
num território da paz, mas unicamente para
os traficantes do Comando Vermelho"

Em julho, no Morro da Chatuba, ocorreu um baile funk em homenagem a FB, o chefe do tráfico de drogas no Complexo do Alemão. MC Smith cantou:

"A festa do FB / está tipo Osama bin Laden"

No domingo passado, o Morro da Chatuba assistiu a mais um baile funk. Desta vez, os homens de FB comemoraram o abatimento de um helicóptero da PM. José Mariano Beltrame, a maior autoridade policial do estado do Rio de Janeiro, comparou o abatimento do helicóptero aos atentados terroristas de Osama bin Laden, nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001. MC Beltrame, inspirado em MC Smith, já pode animar um baile funk no Morro da Chatuba.

FB está longe de ser um Osama bin Laden. Os policiais comandados por José Mariano Beltrame sempre souberam onde ele se escondia. Dez dias antes que FB ordenasse o assalto ao Morro dos Macacos, que resultou no abatimento do helicóptero da PM e na morte de mais de trinta pessoas, a deputada federal Marina Maggessi declarou o seguinte a um repórter de O Globo:

"A polícia não entra no Complexo do Alemão por causa das obras do PAC. Está todo mundo evitando tiroteio para não parar as obras do PAC. A bandidagem toda está indo para lá".

O "bonde" de FB (tema de outro funk de MC Smith), formado por mais de 100 criminosos, confirmou a denúncia de Marina Maggessi. Na última semana, ela repetiu que as obras do PAC criaram uma zona franca para o Comando Vermelho. Revelou também que as autoridades policiais foram alertadas sobre os planos de FB algumas horas antes de ele atacar o Morro dos Macacos. O que aconteceu depois disso? As delegacias da região foram impedidas de agir.

Em 4 de dezembro de 2008, Lula visitou as obras do PAC no Complexo do Alemão. Na mesma solenidade, que contou com um espetáculo do grupo AfroReggae, ele atacou o governo anterior e prometeu fazer "uma revolução para resolver o problema da segurança pública", transformando a área num "Território da Paz".

Quase um ano depois, já dá para analisar alguns dos resultados dessa revolução. Primeiro: Lula continuou a visitar obras do PAC e a atacar o governo anterior. Segundo: poucos dias atrás, um dos integrantes do AfroReggae foi morto a tiros e a PM soltou seus assassinos. Terceiro: sim, o Complexo do Alemão transformou-se num território da paz, mas unicamente para os traficantes do Comando Vermelho. De fato, desde que Lula passou por lá para visitar as obras do PAC, a polícia nunca mais realizou uma operação contra seus criminosos. A última delas ocorreu em outubro de 2008. Nesse período, FB aumentou seu arsenal e reuniu suas tropas. Como diz o funk de DJ Will, ecoado por MC Beltrame:

"A PM aqui não entra / Aqui só tem talibã / Terrorista da Al Qaeda"

BRASÍLIA - DF

O que pode e o que não pode

CORREIO BRAZILIENSE - 24/10/09


O governo vai sofrer muitas restrições em 2010 por causa do ano eleitoral, mas continuará gastando porque a Lei Eleitoral abre brechas para isso. Não só os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas outros gastos poderão ser feitos, como a compra dos aviões de caça de Força Aérea Brasileira. Segundo o coordenador de Direito Eleitoral da OAB Nacional, Marcus Vinicius Furtado Coelho, a Lei nº 9.504/97 regulamenta as eleições e contém as condutas vedadas aos agentes públicos no período eleitoral, com veto explícito a qualquer ação que possa afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos.

Bens públicos e serviços assistenciais não podem ser utilizados em favor de candidatos, seja direta ou indiretamente. Por exemplo, nos três meses que antecedem o pleito, não pode ser realizada transferência voluntária de recursos da União aos estados e municípios, e dos estados aos municípios, sob pena de nulidade de pleno direito. Os recursos destinados a cumprir obrigação formal preexistente para execução de obra ou serviço em andamento e com cronograma prefixado e os destinados a atender situações de emergência e de calamidade pública estarão liberados. Mas não pode haver publicidade institucional dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais.



Pensionistas/ O governo quer votar na Câmara dos Deputados, até 10 de novembro, a proposta que agrega o novo fator previdenciário e o reajuste encorpado para as aposentadorias superiores a um salário mínimo. O pedido de urgência, apresentado pelo deputado João Dado (PDT-SP), deve ser votado quando for aberta uma janela na pauta de votações na Casa. Reunidas esta semana, três das cinco centrais sindicais envolvidas na negociação selaram acordo pelo projeto.

Outro lado/ Candidato a líder do PP na Câmara, o deputado João Pizzolatti (SC) diz que não concorre ao posto apoiado pelo ex-deputado José Janene (PR). “Pelo que sei, ele (Janene) está fora desse processo. Tenho o apoio da maioria dos parlamentares”, afirma. Ele disputa a liderança com o colega Ciro Nogueira (PI).

Diversidade/ Uma associação umbandista pediu apoio às comissões de Legislação Participativa e de Direitos Humanos da Câmara a fim de obter a cessão de um dos plenários dos colegiados para promover encontros de seguidores da religião. O pedido foi encaminhado à Direção-Geral da Casa. Já são comuns reuniões de grupos católicos e evangélicos nas salas, às sextas-feiras, todas com pedidos encabeçados por deputados.


Banda

O presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP), incluiu no “pautão” de votações a proposta que altera as regras do Fundo para Universalização dos Serviços de Telecomunicação (Fust). Se for aprovado, colocará à disposição do governo recursos para o projeto de expandir a rede de banda larga país afora. A partir de 2010, serão R$ 8 bilhões

O perigo

Contudo, a administração continua no período eleitoral, não havendo proibição para a realização de qualquer compra pública. O período eleitoral não a impede. É aí que mora o perigo. O eventual uso político dessa compra, com proselitismo eleitoral, seja direto ou indireto, constitui abuso de poder político, quer esteja no período eleitoral ou não, devendo os responsáveis e beneficiários sofrerem as sanções de inelegibilidade e cassação de registro de eventual candidatura.

Contraponto

Enquanto resiste à revisão dos índices de produtividade, a bancada ruralista no Congresso promete colocar os indicadores de produção das terras cultivadas por entidades ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra no centro dos debates da CPI do MST. “Vamos mostrar quem realmente está produzindo no Brasil”, afirma o deputado Valdir Colatto (foto), do PMDB catarinense, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária.

Rebote

O presidente do PMDB paulista, Orestes Quércia(foto), cospe maribondos contra o deputado Francisco Rossi, do PMDB. Além de ter lançado sua pré-candidatura ao Palácio dos Bandeirantes, Rossi tenta minar o acordo do cacique com o PSDB, tachando-o de um acerto de cúpula. Trata-se do mesmo argumento de que Quércia lança mão para tentar esvaziar o pré-compromisso firmado pelo presidente licenciado do partido, deputado Michel Temer (SP), com o PT.

Uruca

O incidente com um gerador da CEB foi só o começo de uma série de pequenos eventos que marcaram a posse de José Antônio Toffoli no Supremo Tribunal Federal (STF). Por conta da queda de energia, computadores da Corte deixaram de funcionar. O gerador não entrou em funcionamento, tampouco o ar-condicionado. Uma batida entre um táxi e um carro oficial também trouxe transtornos a autoridades que desembarcavam no STF.

PARTILHA

RUY CASTRO

Eu foco, tu focas, ele foca

FOLHA DE SÃO PAULO - 24/10/09

RIO DE JANEIRO - Já tratei do assunto nesta coluna, mas, como diria o Cony, ninguém tomou providências. Continuamos a chamar um filme de "longa", mesmo que ele tenha a rotineira hora e meia de projeção -o que, somando os trailers, os comerciais e o tempo que se gasta indo lá fora comprar pipoca, perfaz uma sessão ideal de duas horas. Então, por que "longa"?
Deve ser para distingui-lo dos "curtas", que têm 12 ou 15 minutos. Mas quantos curtas você vê por ano a ponto de obrigarem um filme normal a ser chamado de longa? Longas, até outro dia, eram "E o Vento Levou", "Os 10 Mandamentos", "Ben-Hur" e "Lawrence da Arábia", que duravam para lá de quatro horas. Se, hoje, qualquer filme é um longa, o que seriam aqueles queridos mamutes?
Ou, quando se trata de filmes do passado -digamos, "A Malvada", com Bette Davis, ou "Barnabé, Tu És Meu", com Oscarito-, lê-se às vezes que eles foram gravados assim ou assado. Só que os filmes do passado não eram gravados. Eram filmados. Quem grava imagens é a televisão, e o cinema, pelo menos o anterior a 1990, sempre dependeu de película, laboratório, revelação e outras práticas ancestrais.
Falando em gravar, não perdemos a mania de escrever que "Fulano entrou em estúdio para gravar seu novo CD". Mas onde queriam que ele o gravasse? Na rua, do outro lado da calçada? "Entrar em estúdio para gravar" é o mesmo que "apostar todas as fichas", "correr atrás do prejuízo" ou "dar nó em pingo d'água". É escrever sem ter de pensar. Uma palavra puxa outra, como uma locomotiva que arrasta vagões vazios.
Mas minha grande birra é com o verbo focar. Quando leio, por exemplo, que "Ronaldo foca voltar à seleção", conjugo imediatamente eu foco, tu focas, ele foca, e imagino o Fenômeno batendo as nadadeiras. Com todo o respeito.

ARI CUNHA

Mensalão engasgou

CORREIO BRAZILIENSE - 24/10/09


Para ouvir tanta gente indiciada no processo do mensalão, o ministro Joaquim Barbosa não perdeu a paciência. Porém, adotou medida corretiva. Os juízes têm autorização do STF para ouvir os implicados, principalmente onde eles residem. Parlamentares culpados começaram a tremer. Com tal decisão, o Supremo deseja apressar a Justiça. De outra forma, ela seria passada para trás. Os fujões perderam a vez. O processo pode demorar mais do que eles pensavam. O ministro Barbosa aperta a porca e tem ferramentas jurídicas para tanto. Essa a razão de se reconhecer que o cidadão sem culpa deve acreditar na Justiça. Afinal, ela é o lenitivo para quem não precisa espernear. Basta esperar que a lei entrará em choque com os predadores do dinheiro do Brasil.


A frase que não foi pronunciada

“A arca de Noé foi construída por amadores; profissionais construíram o Titanic…”
» Pensamento de quem gosta do que faz e faz bem feito.




Corrupção

»
Evandro José Silva é um herói quase anônimo. Daqueles que se dedicam a resgatar vidas perdidas pela falta de política pública. O grupo AfroReggae é um dos milhares de projetos espalhados pelo país, coordenados por pessoas que lutam pelo poder transformador. São eles os merecedores de honras. Evandro José Silva morreu assassinado pela corrupção.

Charge

»
Desenho de Samuca, nosso chargista, ironiza o futebol. “Quatro times têm algo em comum. Perto do rebaixamento, o Flu acredita na salvação. Vasco especula sobre quando voltará à Série A. Caminhos e números do Fla e do Botafogo se cruzam domingo. Flamengo planeja o G-4 e o título. Bota foge do rebaixamento.”

Imagem

»
Se dona Dilma estava pescando, não recebeu nada do mar. Pela maneira como balançava a vara, nenhum peixe beliscou a isca.

Aposentadoria

»
Chegam notícias de leitores contra aposentadoria de Lula. É chover no molhado. O mínimo que o presidente merece é crítica. Há outras razões que os signatários não disseram. Não são escondidas nem escondíveis.

Banalização

»
A Polícia Federal está investigando a paquera de políticos. Daria para fazer sarapatel de boa qualidade. Tudo corre em segredo de Justiça. O ministro Ayres Brito, do STF, sentencia: “A regra constitucional não é o segredo. A publicidade, sim.

Renova

»
Aos poucos, o papa Bento XVI avança. Depois da notícia de que a Igreja Católica aceita adesão de fiéis anglicanos, uma parceria incomum: católicos do Brasil vão colaborar com o Ministério da Saúde na prevenção da Aids. O diagnóstico precoce pode salvar vidas. Esse é o argumento comum.

Denúncia

»
O leitor João Andrada reclama que, no Detran de Brasília, o artigo 267 do Código de Trânsito não funciona. Ele dá a alternativa de impor como advertência infração de natureza média ou leve, desde que o infrator não seja reincidente. Antes de analisar, a resposta é contundente. É multa e pronto.

Abrangência

»
Na quinta-feira, o senador José Sarney anunciou a caça aos funcionários fantasmas. Em sincronia, a CEB deixou a Câmara dos Deputados, o Senado, os ministérios, o Judiciário e a Câmara Legislativa sem luz. Por enquanto, nenhum fantasma assustou de verdade.

Resposta bizarra

»
Captação de recursos estrangeiros criou para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, expressão pouco civilizada ao se referir à Bovespa. “Estão chorando de barriga cheia, e não podem pensar só no seu umbigo.”



História de Brasília

Nos últimos dois dias, os balcões das companhias aéreas se converteram em muro de lamentações. Todo o mundo implorando lugares para o Rio, Recife, Salvador e outros centros de batucada. Isso leva a crer que o jovem momo brasiliense terá uma corte mais bem fantasiada do que o esperado. (Publicado em 12/2/1961)

GOSTOSA


RUTH DE AQUINO

ÉPOCA
O mito da mulher triste
Sou feliz - e não sou exceção. O mundo de hoje não é de mulheres tristes, mas de lutadoras
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

Não me convenço de que a mulher seja mais triste que o homem. Ou que a mulher seja hoje mais infeliz que no século passado. Pesquisas com 1.500 pessoas, feitas anualmente de 1972 a 2006 nos Estados Unidos, revelariam essa “crescente tristeza” da mulher e “crescente felicidade” do homem. ÉPOCA publicoureportagem na edição passada sobre isso. Depois, a revista Time deu capa. Antes que todo mundo acredite na tristeza feminina, queria dizer: acordem. Isso não é verdade.

Lembro que minha mãe, hoje com 87 anos, me dizia: “Tenha filhos homens, porque mulher sofre muito. Homem tem mais liberdade”. O tempo dela, em que a mulher não tinha como controlar o número de filhos, precisava pedir dinheiro ao homem, era malvista caso se separasse do marido, enfrentava como dramas seus ciclos biológicos... esse tempo passou. Felizmente.

O estudo “descobriu” que as mulheres estão cada vez mais tristes por uma única medida, totalmente subjetiva. A pesquisa não se baseou em nenhum histórico de internações ou rebeldia no trabalho e em casa. Americanas entrevistadas dizem que estão menos felizes.

Imediatamente, concluiu-se que as mulheres no mundo estão mais tristes que nunca. Homens citam amigas sem namorado como provas irrefutáveis da tese. Alguns dizem que a mulher foi “enganada” pela revolução sexual – talvez a solução fosse ter um homem só a vida inteira. Eles citam a obsessão de uma minoria em parecer mais jovem, recorrendo a cosméticos e plásticas. Especialistas entendem que, claro, foi o feminismo que entristeceu as mulheres. Só pode ter sido o trabalho fora de casa o grande vilão, pela dupla jornada que sobrecarrega a mulher.

Leio as interpretações dessa pesquisa como uma ficção. Tendenciosa. Sou feliz. E não sou exceção. Mulheres bem-sucedidas no trabalho não são necessariamente mais felizes do que donas de casa. Mas o inverso também é falso. O mundo que eu encontro como jornalista nas ruas da minha cidade, nos países que visito, não é de mulheres tristes. Mas de lutadoras. Mulheres inquietas, não acomodadas, que discutem desde a relação amorosa até seu lugar no mundo. Não lhes basta que seu time de futebol ganhe o campeonato para que ela se diga feliz.

Sou feliz – e não sou exceção. O mundo de hoje não
é de mulheres tristes, mas de lutadoras

Mulher reclama mais. Sempre reclamou – isso não mudou. Ela precisou ir à rua, ser presa e espancada para conquistar direito de voto. “É a natureza da mulher”, diz Carmita Abdo, psiquiatra e professora da USP. “Por característica biológica, o homem guarda muito mais o que sente, porque mostrar fragilidades não é viril. A mulher se expressa mais, na alegria ou na tristeza. O fato de ela se questionar mais não pode ser confundido com infelicidade. O dia em que a mulher parar de reclamar, vai enfartar tanto quanto os homens, porque doenças cardiovasculares resultam muito de emoções reprimidas.”

Como no pós-guerra, a mulher foi convocada a trabalhar fora para complementar o orçamento familiar, quem sabe agora, na crise do capitalismo americano, convém espalhar que é melhor ficar em casa? Os índices de desemprego diminuiriam se as mulheres todas resolvessem de novo se domesticar.

Os cursos à noite – de ioga, dança de salão ou filosofia e arte – estão lotados de mulheres depois dos 50. Elas viajam sozinhas ou em grupo. Vivem sete anos a mais do que os homens porque cuidam da saúde. “A mulher, quando se aposenta, vai pintar uma tela, tecer o tapete, aprender jardinagem. O homem se arrepia só de pensar em se aposentar e ficar em casa”, diz Carmita.

Talvez toda a humanidade esteja mais triste e sobrecarregada com a sociedade moderna. Homens e mulheres sentem falta de tempo físico e mental para os filhos e para o lazer absoluto. Há superposição de funções.


Simone de Beauvoir disse, em O segundo sexo, que a questão da mulher não é a felicidade, mas a liberdade. Dos quase 200 comentários em epoca.com.br, pinço um de Camila, de São Paulo: “Será mesmo que as mulheres eram mais felizes quando tinham que ficar em casa sendo destratadas, traídas, sem liberdade para sair? Para um homem é fácil falar. Eu quero provas”. Camila, não temos provas. Isso é um mito.

PAINEL DA FOLHA

PMDB na balança

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 24/10/09

O mapa da convenção que decidirá, em junho, se o PMDB marchará mesmo com Dilma Rousseff (PT) mostra o peso excepcional de cinco Estados, nesta ordem: Rio, Minas, Paraná, Ceará e Pará. Dadas as peculiaridades da geopolítica peemedebista, eles somam 40% dos 805 votos da convenção.
Desses cinco, o Ceará é o único em que a disputa regional com o PT está mais ou menos equacionada. Nos outros quatro ainda há muito conflito a mediar. A boa notícia para Dilma é que São Paulo, Pernambuco e Bahia, Estados em que a possibilidade de acordo é remota, têm peso menos expressivo (SP, por exemplo, responde por menos votos do que Goiás).



Memória. Em 2006, a convenção do PMDB ocorreu sob ameaça de contestação judicial e terminou com placar de 351 votos a 303 a favor da ala governista, que enterrou a intenção de Anthony Garotinho (hoje no PR e aliado de Lula) de concorrer à Presidência.

Ai, que calor! A República em peso suou em bicas durante a posse de José Antonio Toffoli no STF. Uma pane de energia nos arredores deixou o tribunal sem ar-condicionado durante a cerimônia.

Pé na estrada. Residentes em Marília, no interior paulista, familiares do novo ministro do Supremo fretaram um ônibus para ir a Brasília prestigiar a posse.

Carona. Já o advogado José Carlos Seixas, tio de Toffoli, foi de avião com José Serra (PSDB). O governador levou também seu secretário da Justiça, Luiz Antônio Marrey, o secretário de Transportes e de Serviços da prefeitura paulistana, Alexandre Moraes, e o advogado Ricardo Penteado.

Não foi. Chamou a atenção a ausência de Marco Aurélio Mello. O ministro tinha compromisso previamente assumido em SP. As posses no Supremo costumam ocorrer de terça a quinta, dias de sessão.

Concorrido. Foram distribuídos 3.200 convites para o evento de ontem, número comparável apenas ao da cerimônia que levou Gilmar Mendes à presidência do tribunal.

Para ontem. Enquanto o PSDB empurra a definição do candidato ao Planalto, os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) vão iniciar uma temporada de viagens. "Não dá mais para falar só para os militantes dos nossos partidos. Eles precisam interagir com a sociedade, falar com os que estão fora", defende o presidente da sigla, senador Sérgio Guerra (PE).

Telinha. O PT anuncia, na próxima terça, a rádio e a TV que funcionarão no site do partido. Até a semana passada, foram desembolsados R$ 480 mil na montagem de um estúdio na sede em Brasília.

Candidato. O senador Lobão Filho (PMDB-MA) trabalha para ser vice na chapa reeleitoral da governadora Roseana Sarney (PMDB) no Maranhão. Ele é réu no Supremo, sob acusação de manter uma TV pirata. Ela responde a processo na Justiça Eleitoral.

Vespeiro. A pedido de Carlos Minc (Meio Ambiente), a área técnica do ministério apresenta nos próximos dias proposta de redução de emissões de gases-estufa na região do cerrado e no setor da siderurgia. O encontro com Lula para bater o martelo sobre a meta brasileira que será apresentada na reunião do clima em Copenhague será dia 3.

Chumbo trocado. Se os ruralistas, em sua maioria "demos", articulam-se para quebrar os sigilos bancário e fiscal de entidades ligadas aos sem-terra na CPI do MST, na bancada do PT a ordem é juntar votos para tentar fazer uma devassa nas contas da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), chefiada pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO).


com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"Se a oposição continuar a protestar contra as viagens do Lula, vai obrigá-lo a se licenciar do cargo para fazer apenas isso. Não sei se é uma ideia muito inteligente da parte deles."

Do senador ALOIZIO MERCADANTE (PT-SP), sobre as reações negativas aos três dias de caravana presidencial para visitar as obras de transposição do rio São Francisco.

Contraponto

Liberou geral Até dias atrás o segundo homem na hierarquia do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães é também um dos mais temidos professores do Instituto Rio Branco, formador dos quadros do Itamaraty. Quase nenhum aluno se atreve a responder quando ele faz a pergunta que acabou se tornando um bordão:
-Estou certo ou errado?
Pouco antes de deixar o cargo para virar ministro de Assuntos Estratégicos, Guimarães arrancou risadas dos alunos ao fazer sua pergunta tradicional e acrescentar:
-Olhem, a partir de hoje, vocês podem se considerar autorizados a dizer que eu estou errado!