quarta-feira, janeiro 14, 2009

ENQUANTO ISSO NA REPÚBLICA DA BOSTALÍVIA...


Bolívia rompe relações com Israel por ação em Gaza

Da BBC Brasil:

A Bolívia rompeu relações diplomáticas com Israel em protesto aos ataques na Faixa de Gaza lançados contra o grupo islâmico Hamas, anunciou na quarta-feira o presidente boliviano, Evo Morales.

"Quero informar que a Bolívia mantinha relações diplomáticas com Israel. (Mas) diante desses graves fatos de atentados contra a vida e a humanidade, a Bolívia rompe as relações diplomáticas com Israel", afirmou o presidente de esquerda.

Morales anunciou a medida em um discurso feito na presença do corpo diplomático no Palácio do Governo.

Essa posição dos cocaleiros vai mudar a geopolítica mundial. Segundo fontes do BLOG, o govêrno e a população de Israel não conseguiram dormir depois dessa posição da Bostalívia.

COLUNA PAINEL

Efeito cascata


Folha de S. Paulo - 14/01/2009
 

Um dos motivos que levam o governo a pressionar a indústria automotiva contra demissões é a avaliação de que os cortes devem se alastrar na cadeia de produção do setor -autopeças, siderúrgico e máquinas. O Palácio do Planalto se mostrou surpreso pela intensidade da deterioração do mercado de trabalho.
Anteontem, o presidente Lula telefonou para o ministro Carlos Lupi (Trabalho) assustado com a notícia de que 600 mil postos foram eliminados em dezembro. O número final do Caged (Cadastro Geral de Empregados) deve, na verdade, ultrapassar essa marca.
Também houve no último mês de 2008 forte aumento nos pedidos de seguro-desemprego em relação a igual período de 2007, diz o Ministério do Trabalho.

Curativo
Influente na CUT e no governo, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC levará ao governo proposta de mudar a legislação para permitir que contratos por tempo determinado possam ser renovados três vezes, e não duas. "Isso pode evitar muitas demissões na indústria automobilística", diz o presidente, Sergio Nobre, que ocupa lugar que já foi de Lula.

2010?
Recém-empossado prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT) almoça hoje com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). A ideia do petista é implantar o modelo das UPAs (Unidade de Pronto-Atendimento) no município do ABC. 

Luz, câmera...
Já o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), aproveitou ontem a inauguração do programa "Recreio nas Férias", no CEU Sapopemba, para gravar imagens suas brincando com crianças, que vão ao ar no programa de TV do DEM, dia 29. 

Em casa
O ex-prefeito Rogério Farias (PTB), irmão de PC Farias, teve a candidatura à reeleição cassada, mas continua dando as cartas em Porto de Pedras (AL). O vereador Amaro Júnior (PTB), que assumiu a cadeira até nova eleição, nomeou a mulher e a filha de Farias como secretários. O irmão de PC também apareceu anteontem em solenidade de assinatura de convênios. 

Caravana
O roteiro da provável viagem de Lula para promover a ideia de transposição das águas do rio São Francisco começa por Belo Horizonte, ainda no primeiro semestre. O presidente visitaria obras de saneamento que evitam o despejo de esgoto no rio. Em dez dias, ele iria a mais quatro Estados, de navio e helicóptero: Bahia, Pernambuco, Paraíba e Ceará.

Currículo
A Presidência da República contratou por R$ 45 mil, sem licitação, o consultor Caio Marini para fazer um diagnóstico das ouvidorias de agências reguladoras e sugerir mudanças. Especialista em administração pública, é um dos pais do "choque de gestão" do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), frequentemente criticado como exemplo de prática neoliberal por petistas. 

No, you can"t
Um grupo de deputados e senadores organizava uma comitiva para ir à posse de Barack Obama, no dia 20, mas teve seus planos frustrados pela Embaixada dos EUA. A diplomacia norte-americana negou aos congressistas brasileiros assento privilegiado na solenidade. 

Via satélite
"Iríamos em missão oficial, representando a Câmara, mas arcando com os custos. Daí eles disseram que não, que não tinha lugar... Assistir pela televisão, a gente assiste por aqui mesmo", lamenta o deputado Manato (PDT-ES), um dos integrantes da quase-comitiva. 

Indireta
Com a senha dada pelo ex-ministro José Dirceu, petistas começam a falar mais grosso com o PMDB. "Não vamos assistir impassíveis à tentativa do PMDB de presidir as duas Casas do Congresso. Achar que a eleição nas duas Casas não tem relação é irreal", diz a líder petista no Senado, Ideli Salvatti (SC).

Tiroteio

"Mesmo com tanto dinheiro, não se vê uma obra de infraestrutura. Espero que haja explicação para essa incompetência da governadora."

Do senador MÁRIO COUTO (PSDB-PA), sobre a declaração da governadora Ana Júlia Carepa (PT-PA), para quem a "identidade ideológica" do seu governo facilitou a liberação recorde de investimento público em obras para abrigar o Fórum Social Mundial.

Contraponto

Pronto-atendimento

Antes mesmo de começar, a assembleia dos servidores da Câmara que tratou ontem do plano de saúde da categoria já estava tumultuada. Centenas de funcionários gritavam "fora!" e "renúncia!" para a atual diretoria do sindicato, que havia sugerido mudanças no sistema.
Após quase meia hora de gritos e ameaça de agressões físicas, o vice-presidente do sindicato, Eduardo Lopes, pediu a palavra, num raro momento de silêncio.
-Boa tarde. Vamos então começar a assembleia- disse ele, um tanto trêmulo. Ao pedir calma, se atrapalhou.
-Gostaria de pedir que os ânimos se acirrassem...
Os berros recomeçaram com força total.

NAS ENTRELINHAS

Ideias não fazem plástica


Correio Braziliense - 14/01/2009
 


Seria Dilma, seja a austera senhora de antes ou da vaidosa dama de agora, a idealizadora de um plano que fracassou? Será ela a capitã do navio petista rumo a um projeto fadado ao naufrágio?


Temos aí o caso da ministra Dilma Rousseff. Cortou e pintou os cabelos, renovou a pele do rosto, esticou as rugas, tirou os óculos. Diz-se que é o semblante da candidatura presidencial. Os especialistas em propaganda política, chamados a depor, divergiram quanto ao resultado. Mas o debate necessário é bem outro. Que terá o Brasil para exigir de uma mulher postulante ao mais alto cargo público disponível a mudança fundamental, transcendente e irresistível do primeiro olhar? 

Respondo: nada tem o Brasil de errado. Como toda nação civilizada, o país dá sinais de estar pronto para se deixar governar por uma mulher. Pelo menos a candidatura da ministra é cozida sem dissabores, sabotagens ou pilhérias. Está no jogo e sua presença é reconhecida como legítima. Tenha ela a imagem da austera senhora de antes ou da vaidosa dama de agora. 

O que há de errado, nobre senhor, bela senhora, são as muitas contradições que o PT e a própria Dilma carregam. Essas sim, são rugas cavadas pelo tempo como todas as outras, mas para as quais não existe plástica possível. 

O partido já não esconde o espanto por ter se apequenado em relação a Luiz Inácio Lula da Silva. Uso o termo no sentido estrito, de que um tornou-se politicamente maior, mais relevante do que o outro. O presidente governa — de forma bem-sucedida, registre-se — com atos que retoricamente condenava quando militante partidário. Deve ser duro para ele. Mas pior ainda para o PT, ainda hoje defensor de ideias estapafúrdias, sobretudo quanto à política econômica. 

Nessa seara, Dilma é uma espécie de prisioneira. É dela a tese de um grande plano de obras para impulsionar o crescimento econômico tanto no curto quanto no longo prazos, pedra-de-toque do segundo mandato petista. O pilar sobre o qual se ergue a ideia ruiu em outubro do ano passado — era, posto, a abundância de capitais pelo mundo, capaz de financiá-la com sobras até o estouro da represa financeira internacional. 

A alicerçar-lhe, tanto a personagem quanto seu argumento, persiste a crença num Estado forte, interventor, potente. E lá se vão outros senões. A ação estatal prescinde de dinheiro. Quão maiores elas forem, mais lhe é custoso. Ora, o Estado se financia da população, cobrando-lhe impostos. Se ele deve ter a configuração imaginada pela candidata, tenha ela expressão jovial ou bigode japonês, maior precisa ser a carga de tributos apeada no lombo da nação. Que nem uma lágrima verteria se marchasse sobre o bálsamo do crescimento econômico. Só que também isso sumiu com a crise. 

Além disso, é bom lembrar, foi da mão dela que partiu a primeira pedra atirada no então ministro da Fazenda, Antônio Palocci. E o alvo não era a moral do adversário, suas mentiras, farras nem o sigilo do caseiro. Mas a política de infalível rigidez fiscal que ministrava — a mesma que curiosamente produzia as bases do crescimento responsável pelas gordas taxas de aprovação do presidente da República. 

A dama-de-ferro, mal comparando, talhou com o bisturi a de suas velhas ideias a bela face que se exibia orgulhosa na grande economia. 

E na política… 
Seria Dilma, portanto, a idealizadora de um plano que fracassou? Será ela a capitã do navio petista rumo a um projeto fadado ao naufrágio, já que todo o cenário em que ele foi construído mudou radicalmente? 

Não se pode dizer com certeza que sim. Afinal, se as perspectivas viraram tão rapidamente para um lado, é possível que o façam com a mesma velocidade no sentido contrário, o que traria tudo ao curso normal, digamos assim. 

Mas uma coisa é certa: a mera existência da dúvida inflama a política, tanto dentro, quanto fora do PT. 

Dilma é filiada ao partido, mas não se pode dizer que seja uma liderança partidária. Era, na verdade, do PDT. A transição é bem mais recente do que gostariam muitos dos petistas mais antigos. Daí nutrem-se os opositores de sua candidatura presidencial no âmbito interno. 

Por outro lado, se a economia não estiver se locomovendo a plenos pulmões, como fez até setembro passado, a probabilidade de sucesso do candidato oficial será sensivelmente menor em 2010. Os partidos aliados sabem disso. E todo brasileiro, vivo ou morto, também sabe que é a expectativa de poder o agente aglutinador de 90% das alianças política no país. Portanto, a ministra estará sozinha se o PAC não puser o Brasil onde ela prometeu que estaria. 

E no PAC, a exemplo das ideias da ministra, ainda não dá para fazer cirurgia plástica.

FERNANDO RODRIGUES

O mérito do recuo


Folha de S. Paulo - 14/01/2009
 

Quando um político recua e desmancha um erro, há motivos para festejar. Ontem foi um desses dias raros, pois Brasília conseguiu produzir algo positivo. 
A Mesa Diretora da Câmara dos Deputados anulou uma bobagem praticada na semana anterior. Cancelou a gratificação de até R$ 1.800 para os funcionários com cargos de chefia. Também ficou, por ora, abandonada a possibilidade exótica de tentar criar um plano de saúde para 12 mil famílias de servidores sem gastar nada. 
Se houver má vontade, enxerga-se timidez excessiva na nota emitida pelos deputados sob o comando do presidente da Casa, Arlindo Chinaglia. Em vez de simplesmente dizer "erramos", o texto lista várias desculpas esfarrapadas. Nessas horas, quanto mais se fala, pior é. No caso do plano de saúde "gratuito", por exemplo, os deputados dizem estar agora interessados em voltar ao tema quando houver uma "proposta fundada em números". Por analogia, conclui-se que na semana passada as excelências tomaram a decisão sem ter uma proposta em mãos. 
Mas, mesmo envergonhado, o recuo dos deputados é positivo. Apesar da verborragia, ficou para as calendas o tal plano de saúde com ou sem a "proposta fundada em números". Esse é o resultado mais relevante: anulou-se um erro. 
O caso também é exemplar para mostrar o pior e o melhor do Congresso. Os deputados são capazes de adotar medidas estapafúrdias numa semana. Na outra, depois de pressionados, voltam atrás. A Câmara é o poder mais devassado do país. Não há na República órgão mais investigado. O Senado fica muito atrás, por sua tradição hermética. O Executivo e o Judiciário estão a léguas de distância quando o assunto é transparência. 
Admitir um erro é doloroso. A Câmara, sempre criticada neste espaço, desta vez acertou ao recuar. 

KÁTIA ABREU

Lembrai-vos de 1943!


O Estado de S. Paulo - 14/01/2009
 
Há seis meses - quando todos supunham estar no céu, salvos e gloriosos, com a bolsa em alta, e todos os indicadores que empolgam o orgulho nacional, como a indústria automobilística, batendo seus próprios recordes, etc., etc. e tal - não havia crise. Mas um setor pouco estimado lastreava de realidade esses bons tempos: a agropecuária.

Como era impossível desconhecê-la - posto que gerava 36% das exportações, o ponto mais relevante e visível do bom desempenho da economia -, apelou-se para o neologismo "agronegócio" como álibi para não revisar os preconceitos, caricaturas, grosserias e, principalmente, infâmias gerados por campanhas ideológicas que estigmatizam os produtores rurais ou ruralistas, setor agrícola ou mesmo agronegócio, como queiram. O importante é identificar o setor da economia que gera 24% do produto interno bruto (PIB) e oferece, por meio de seu l milhão de estabelecimentos, grandes, médios e pequenos, 37% das vagas de trabalho no Brasil.

Foi ainda nesse tempo bonança que começamos a refletir sobre um programa de institucionalização do setor a partir do binômio Afirmação & Ruptura, em que agora nos empenhamos como um programa de profunda revisão das relações do setor rural com a sociedade brasileira. O objetivo é ao mesmo tempo definir o que somos (de onde viemos e para onde vamos, realisticamente) e repelir, refutar, desmentir, desmoralizar, desfazer a enorme e insuportável carga de conceitos e ideias que não correspondem à nossa verdade.

E um dos primeiros temas - o primeiro, de fato - foi a questão dos trabalhadores da agropecuária.

Partindo do princípio de que o trabalhador rural é protegido pela lei de forma irrenunciável - ou seja, é a sociedade que lhe assegura direitos, independentemente da sua própria vontade -, ele não é escravo, empregado de segunda categoria ou diferenciado, mas reconhecido pela Constituição como qualquer outro trabalhador brasileiro.

Apresentou-se, então, a questão das denúncias sobre trabalho escravo. Mergulhamos seriamente no tema para compreender os episódios descritos.

A evolução desigual da atividade agrícola no Brasil resultou em lamentável e inquestionável defasagem entre os produtores, seja regionalmente, marginalizando e isolando as regiões remotas, seja em função das culturas cujo processo produtivo evoluiu extraordinariamente em algumas áreas e em outras estacionou. Não se inserindo, por exemplo, na dinâmica produtiva do agronegócio. Sem que se possa justificar ou tolerar, verificaram-se concretamente casos de negligência e desrespeito às regras trabalhistas, pronta e legalmente registradas, denunciadas. Não importa que tenham sido casos isolados, resultado de ignorância e descuido, embora não seja possível, por esses motivos, apelar para qualquer contemporização que estimule o desrespeito à lei. Esta é a nossa afirmação: os produtores rurais defendem intransigentemente a realidade e o respeito à lei. O princípio da legalidade democrática, primeiro e principal compromisso do empresário rural brasileiro.

Passemos, então, à ruptura. Temos de nos livrar não apenas da carapuça do trabalho escravo - que nos jogam na expectativa de que assumamos a ilegalidade e nos comprometamos, pela solidariedade. Mas não podemos deixar de resgatar os que incidiram no erro por atraso ou despreparo. Sindicatos rurais do País inteiro - sob a liderança da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) - estão organizando equipes multidisciplinares que irão de propriedade em propriedade treinando e atualizando os produtores para que não apenas se adaptem exemplarmente à legislação - no que não fazem nenhum favor, pois são obrigados a cumpri-la -, mas atinjam a excelência nas relações com seus empregados. Para nos tornarmos um eficaz observatório das desproteções sociais que afligem os trabalhadores rurais, vítimas dos vazios institucionais que os privam dos serviços de educação, saúde, cultura, lazer disponíveis, não importa como, mas pelo menos existentes, nas cidades.

Na verdade, trata-se de boa oportunidade para discutir um episódio importante da história da agropecuária brasileira. Aconteceu em 1943, quando a demagogia e o populismo excluíram os trabalhadores rurais da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A exclusão criminosa foi oferecida como consolação aos produtores rurais pelo tabelamento irreal dos produtos agrícolas. Por mais dramático e difícil que fosse a adaptação, o princípio da equiparação universal dos direitos do trabalhador não poderia ter sido desdenhado. Muito menos a atividade econômica da agricultura poderia prosperar, engessada, para garantir a estabilidade dos preços dos alimentos. Correram juntos o processo institucional de desvalorização perversa do trabalhador do campo e a marginalização econômica do produtor rural.

Passaram-se 45 anos até que a Constituição de 88 eliminasse irreversivelmente a diferença. O troca-troca imoral ostensivamente consagrado pela CLT desafiava a condição humana - por que o tratamento diferenciado entre trabalhadores urbanos e rurais? - e a teoria econômica, como se fosse possível uma atividade produtiva (francamente inserida no mercado) levitar sem poder reajustar preços conforme seus custos. Ou seja, negaram-se aos produtores rurais os suportes concedidos à indústria. Até hoje prevalecem sequelas dessa diferença de tratamento. 

Querem um bom exemplo?

Com a queda dos preços das commodities - que envolve os principais itens da produção agropecuária do País e deve chegar a até 23%, em dólar -, é estarrecedor que a sorte dos empregos no campo não esteja recebendo a mesma atenção que é dada, por exemplo, aos trabalhadores da indústria automobilística e outras.

ÉLIO GASPARI

Obama não é Roosevelt, nem Lincoln


O Globo - 14/01/2009
 

Daqui a uma semana o companheiro Barack Obama estará na Presidência dos Estados Unidos. Sua chegada será uma festa. No mínimo ela significa a partida de George Bush. Noves fora isso, pela primeira vez na vida, ele precisará mostrar a que veio. Terá que abrir a quitanda todas as manhãs com mercadoria para vender e troco para dar à freguesia. 

A posse do companheiro será a primeira grande celebração do século. Ele prestará o juramento constitucional com a mão sobre a Bíblia de Abraham Lincoln e fará um discurso memorável, mas a quitanda continuará lá: Casa Branca, Pennsylvania Avenue, 1.600. 

Por maiores que sejam as expectativas (digamos torcida), Obama surfou os últimos meses sem colocar uma só ideia no pano verde. 

Compreensivelmente, especula-se o início de seu governo olhando-se para o retrovisor. A crise econômica chama o exemplo de Franklin Roosevelt e algumas atitudes de Obama, como a nomeação da rival Hillary Clinton para a Secretaria de Estado, alimentam paralelos com Abraham Lincoln. A primeira semelhança embute o desejo de que a liderança de Obama tire os Estados Unidos da crise. Infelizmente, ela se baseia num entendimento rudimentar das virtudes de Roosevelt. A associação com Lincoln, estimulada por seus marqueteiros, é um benevolente disparate. 

Roosevelt assumiu a Presidência em 1932 com a economia americana em estado de dissolução. A recessão estava no terceiro ano, a taxa de desemprego encostara nos 20% (10 milhões de trabalhadores), cinco mil bancos haviam quebrado e os demais tinham fechado as portas ou limitado os saques. Quando ele morreu, em 1945, a Depressão era coisa do passado e os Estados Unidos detinham metade da riqueza do mundo. 

Quem reativou a economia americana não foi o new deal (grafado em letras minúsculas antes de se tornar um plano de governo), mas a Segunda Guerra Mundial, que levou o país ao pleno emprego. O legado do New Deal não foi a reorganização da economia, mas algo muito maior: a reorganização da sociedade, com a criação de um capitalismo capaz de trazer a patuléia para dentro do sistema. 

As propostas de incentivo econômico oferecidas por Barack Obama podem levar a uma recuperação, mas para que o paralelo com Roosevelt feche o círculo fica faltando a guerra. Em benefício do companheiro, ele se assemelhou a Roosevelt quando rebarbou a reunião do G-20 de Bush dizendo que "os Estados Unidos têm um presidente de cada vez". 

O paralelo com Lincoln é uma extravagância. Obama, como ele, fez política no Illinois e chegou à Casa Branca com a simples experiência de senador. E só. A crise de Obama é econômica. A de Lincoln era política. Ele assumiu com sete estados rebelados, achando que acomodava a encrenca. Foi o maior presidente da História americana porque decidiu preservar a União. Tentou conter a secessão do Sul com generais de parada e só achou o caminho de casa quando chamou dois matadores: Ulysses Grant, a quem Mary Lincoln, sua mulher, chamava de "açougueiro", e William Sherman, que explicava: "A guerra é o inferno." 

A partir de quarta-feira, Obama terá de abrir a quitanda e, antes de ser Roosevelt, terá de batalhar para não ser Herbert Hoover. Em 1928, quando ele assumiu, era o homem mais respeitado dos Estados Unidos. 

Na crise, denunciou a "orgia de louca especulação", mas foi destruído por ela.

ILIMAR FRANCO

CPI do Votorantim

Panorama Político -
O Globo - 14/01/2009
 

A oposição vai começar a colher assinaturas para a criação de uma CPI para investigar a compra de ações do Banco Votorantim pelo Banco do Brasil. O negócio é de R$4,9 bilhões, e o controle do Votorantim se manteve nas mãos do grupo Ermírio de Moraes. Para a oposição, o governo usa dinheiro público para socorrer um banco privado, cujos controladores tiveram prejuízos de R$2,2 bilhões em operações com derivativos.

"Uma história mal contada" 

A oposição quer ouvir os presidentes do BB, Antonio Lima Neto, do Votorantim, José Ermírio de Moraes Neto, do BC, Henrique Meirelles, e da CVM, Maria Helena Santana. O presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), e o líder do PPS, Fernando Coruja (SC), articulam a investigação. Petistas também querem transparência. O ex-ministro José Dirceu, em blog de sexta-feira, diz: "A compra não parece aceitável nem republicana porque trata-se de uma história mal contada. Por que nenhum banco privado se interessou pelo Votorantim? Os contribuintes têm o direito de saber o que aconteceu no Votorantim e em operações de derivativos". 

Nossa posição é não contaminar a Câmara com o Senado, mas é impossível desconectar completamente" - Ideli Salvatti, senadora (PT-SC)

PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE. O Iphan enviará para a Unesco, em março, um pedido de concessão do título de Patrimônio Mundial da Humanidade para uma série de bens no país. Na lista constará o Palácio Gustavo Capanema, no Rio, um dos primeiros exemplares da arquitetura moderna no Brasil. Quando um item é reconhecido, a Unesco passa a apoiar ações de proteção com recursos do Fundo do Patrimônio Mundial.

Cuba 

No Fórum Social Mundial será instalada a tenda "Cuba 50 anos". Além de debates, promoverá almoços com comidas típicas para angariar recursos para a ilha, além de uma "noite latina". E haverá marcha contra o bloqueio dos EUA.

A defesa do cabide 

A oposição bate no governo Lula por causa do loteamento político de cargos. Mas, no caso dos adidos agrícolas no exterior, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) critica o fato de a função ser privativa de técnicos do Ministério da Agricultura.

Chinaglia: caiu a ficha 

Desgastado, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), tentou buscar ontem uma saída técnica para justificar seu recuo na transferência do plano de saúde dos servidores para o sindicato da categoria, o Sindilegis. No sábado, ele disse a um deputado que teria sido mal assessorado. Ontem, ele foi alertado de que a Mesa Diretora seria desmoralizada, pois a assembleia dos funcionários rejeitaria a proposta. 

Carta de Ciro Nogueira 

Candidato a presidente da Câmara, o deputado Ciro Nogueira (PP-PI) enviará uma carta aos colegas esta semana. Dirá que a Casa está perdendo espaço para os outros poderes; que seu presidente não pode servir a um partido político, em uma referência ao presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), seu adversário; e que sempre esteve próximo dos deputados, enquanto alguns teriam se aproximado apenas por causa da eleição, em outra alusão ao peemedebista.

EM REUNIÃO ontem com reitores, o ministro Fernando Haddad (Educação) confirmou que ameaçou pedir demissão por causa do corte em seu orçamento. "Pedi mesmo", disse ele. 

O PRESIDENTE do PMDB, Michel Temer (SP), recebeu ontem o apoio de 30 deputados do Rio à sua candidatura à presidência da Câmara. 

O SENADOR José Sarney (PMDB-AP) ainda não conversou com o presidente Lula porque estava abatido por uma forte gripe. A conversa será hoje.

DORA KRAMER


A volta de quem não foi

O Estado de São Paulo 14/01/08

Os exemplos são muitos, mas os casos de Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho são as mais expressivas demonstrações de que políticos envolvidos em denúncias e escândalos podem até ser reconduzidos pelo voto às antigas tribunas, mas nunca mais são os mesmos.
De um modo geral, não recuperam o prestígio e o poder perdidos. Senadores, poderosos, caciques de seus partidos, PFL e PMDB, ACM e Jader tinham comando sobre a chuva e o sol na política, até se virem obrigados a renunciar aos respectivos mandatos. Antonio Carlos em maio de 2001, acusado de violar o sigilo do painel eletrônico na votação de cassação do então senador Luiz Estevão; Jader em setembro do mesmo ano, alvo de denúncias de desvio de verbas no Banpar
No ano seguinte, ambos foram reeleitos ao Congresso: ACM ao Senado e Jader à Câmara. Nenhum dos dois jamais foi sombra do que já tinham sido. O senador baiano morreu em 2007 reverenciado pelo passado, mas sem influência no presente e o deputado paraense dá as cartas nos bastidores graças a uma aliança com o PT nos planos regional e nacional, mas não é uma companhia benquista.
Como eles, muitos outros. Vários retornaram depois de muito tempo à vida pública, alguns nunca saíram dela e há até os que estrearam recentemente nos papéis de protagonistas de escândalos depois de anos de serviços prestados ao discurso na probidade na oposição.
É o caso dos mensaleiros do PT e também de Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, apontado como o mandante da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, tido como possível candidato do PT ao governo de São Paulo ou ministro de novo se o Supremo Tribunal Federal rejeitar a denúncia da Procuradoria-Geral da República.
A decisão é esperada para o próximo mês, assim que o Supremo voltar do recesso. Se a Corte julgar improcedente, Palocci fica, em tese, livre desse peso e, segundo se diz no governo, pode voltar ao ministério e retornar à lista de candidatos do PT a cargos majoritários.
Teoricamente é possível mesmo. Mas só na teoria. Na prática, a situação não é tão tranquila. Para ministro, um pouco menos complicado. Basta uma decisão do presidente, a disposição de deixar passar a fase inicial de questionamentos e a consciência de que o fantasma das denúncias sobre irregularidades na prefeitura de Ribeirão Preto ainda está à espreita.
Para o PT fazer de Palocci candidato, o quadro é mais difícil. Enfrentar eleição majoritária com investigações em aberto e todas as evidências produzidas no episódio Francenildo é um risco; equivale a fazer metade do serviço para o adversário.
Muito se fala a respeito da leniência das leis e da tolerância do eleitor no tocante a uma (ou muitas) nova oportunidade. Mas não se confere o devido peso a um dado da realidade: políticos, quando moralmente condenados ou atingidos, têm cortadas suas cordas vocais. Na melhor das hipóteses continuam podendo agir, mas não dispõem mais da mesma capacidade de falar e ser ouvidos.
Comparemos o deputado José Genoino de hoje ao Genoino de antes do escândalo do mensalão que o alcançou na presidência do PT e, nessa condição, avalista dos empréstimos fictícios ao partido intermediados por Marcos Valério.
O político vivaz, falante, participativo deu lugar a um homem amargo, retraído, silencioso, ressentido. Envergonhado. Um dos raros, diga-se.Por inteligência e atributo de caráter, Genoino tem noção do que se passa; o constrangimento impede o atrevimento.
Não é o caso de José Dirceu. Mesmo confrontado com acusações graves, deixou a Casa Civil disposto a “governar da Câmara”. Pretendia, como parlamentar, liderar a bancada governista e até presidir a instituição. Tal pretensão não teve a duração de um discurso, que não conseguiu sequer terminar, questionado em sua legitimidade. Pouco depois seria cassado e hoje aguarda o julgamento do Supremo agindo como se nada tivesse ocorrido. Ele fala – tem direito –, mas não influencia.
O senador Eduardo Azeredo. Foi governador de Minas Gerais, presidente do PSDB, é investigado pelo STF pelo uso de esquema Marcos Valério, dispõe ainda do mandato, mas aniquilou-se a atuação política. Quanto mais quieto, mais contribui.
O ex-presidente do Senado, acusado por quebra de decoro e absolvido por seus pares, Renan Calheiros, quer desmentir as escrituras e, como líder do PMDB, tentar recuperar o antigo poder. Como quem repõe pasta de dentes no tubo esvaziado e assaz danificado.

Morder e assoprar

Presença de espírito – ou senso de oportunidade, para fins profissionais – não falta ao presidente Lula.
O arremesso de sapato ao jornalista na visita à Couromoda prestou-se à diluição do mal-estar provocado pelas declarações segundo as quais imprensa faz mal à saúde (dele).
Lula troca a figura do intolerante pela imagem do governante brincalhão e, por isso, inimputável.

ALI KAMEL

Gaza

O Globo

Eu acredito em eleições. E acredito que o povo sempre tem a capacidade de julgar o que considera bom para si. Isso não quer dizer que o povo acerte sempre: não são poucas as vezes em que a decisão mostra-se errada no futuro.

Não importa, no momento em que comparece às urnas, certo ou errado, o povo é responsável por suas escolhas.

Por que essa conversa? Porque isso não me sai da mente quando vejo, chocado, os bombardeios em Gaza. Em 2006, houve eleições para escolha do primeiro-ministro palestino. Era um contexto em que os EUA clamavam pela democratização do mundo árabe. Quando o Hamas saiu-se vitorioso, muita gente, diante dos lamentos dos americanos, riu, dizendo algo assim: "Ora, não queriam democracia? Agora o povo vota, escolhe o Hamas e os EUA lamentam? Então democracia só vale quando ganham os aliados?" Na época, escrevi que a simples presença do Hamas nas eleições mostrava que aquilo não era uma democracia: porque democracia não é o regime em que todas as tendências disputam o voto; democracia é o regime em que todas as tendências que aceitam a democracia disputam o voto. Como o Hamas prega uma teocracia, um sistema político que o aceita como legítimo aspirante ao poder não pode ser chamado de democracia. Seja como for, tendo sido democráticas ou não, aquelas eleições expressaram a vontade do povo: observadores internacionais atestaram que o pleito transcorreu sem fraudes.

E o que pregava o Hamas na campanha de 2006? Antes, para entender o linguajar, é importante lembrar que o Hamas não aceita a existência do Estado de Israel, chamado de "Entidade Sionista".

Assim, quando se refere à "Palestina", o Hamas engloba tudo, inclusive Israel.

Destaco aqui três pontos do programa eleitoral (na disputa, o grupo deu-se o nome de "Mudança e Reforma"): "A Palestina é uma terra árabe e muçulmana"; "O povo palestino ainda está em processo de libertação nacional e tem o direito de usar todos os meios para alcançar esse objetivo, inclusive a luta armada"; "Entre outras coisas, nosso programa defende a 'Resistência' e o reforço de seu papel para resistir à Ocupação e alcançar a liberação.

A 'Mudança e Reforma' vai também construir um cidadão palestino orgulhoso de sua religião, terra, liberdade e dignidade; e que, por elas, esteja pronto para o sacrifício." Deu para entender? O Hamas propôs um programa segundo o qual não há lugar para judeus na "Palestina", o uso da luta armada deve ser reforçado para se livrar deles, e os cidadãos comuns devem estar preparados para se sacrificar (morrer) pela religião, pela terra, pela liberdade e pela dignidade.

Havia alternativa? Sim, apesar da ambiguidade eterna, o Fatah do presidente Mahmoud Abbas (e, antes, de Yasser Arafat), na mesma eleição, pregava a saída de Israel dos territórios ocupados em 1967, a criação de um Estado Palestino com sua capital em Jerusalém e uma solução para os refugiados de 1948 com base em resoluções da ONU, uma agenda que só parece moderada porque é comparada à do Hamas. Embora estimulasse e declarasse legítima a resistência à ocupação, a novos assentamentos judaicos e à construção do muro de proteção que Israel ergue entre a Cisjordânia e seu território, o Fatah declarava expressamente: "Quando o imortal presidente Arafat anunciou em 1988 a decisão do Conselho Nacional Palestino, reunido naquele ano, de adotar a 'solução histórica', que se baseia no estabelecimento de um Estado independente Palestino lado a lado com Israel, ele estava de fato declarando que o povo palestino e suas lideranças tinham adotado a paz como uma opção estratégica." E qual foi a decisão dos palestinos? Num sistema eleitoral que adota o voto distrital misto, o Hamas ganhou tanto no voto proporcional quanto nos distritos, abocanhando 74 dos 132 assentos do Parlamento. Ou seja, diante do desgaste de 40 anos do Fatah, e das denúncias de corrupção que pairavam sobre o movimento, os palestinos deixaram a paz de lado e optaram pela promessa de pureza divina e dos foguetes do Hamas. Meses depois, uma luta interna feroz entre os dois grupos teve lugar e resultou numa divisão territorial: o Fatah ficou com a Cisjordânia, onde a situação é de calma, e o Hamas ficou com Gaza, de onde continuou pregando o programa aprovado pelos eleitores: enfrentamento armado, mesmo tendo consciência do que isso acarretaria, Diante disso, dá para dizer que os palestinos de Gaza são inocentes vítimas do jugo do Hamas e de uma reação desproporcional dos israelenses? Olha, eu deploro a guerra, lamento profundamente a morte de tanta gente, especialmente de crianças, vítimas de uma guerra de adultos. Vejo as bombas, e fico prostrado, temendo que o bom senso nunca chegue. Mas isso não me impede de ver que a guerra, com suas consequências, foi uma escolha consciente também dos palestinos de Gaza. Retratá-los como despossuídos de todo poder de influir em seus destinos não é mais uma verdade desde 2006.

Parecerá sempre simplificação qualquer coisa que se diga num espaço tão curto, em que é preciso deixar de lado as raízes desse conflito e a trama tão complicada que distribuiu culpa e vítimas por todos os lados. Mas não consigo terminar este artigo sem dizer: para que haja paz, os dois lados têm de ceder em questões tidas como inegociáveis, o apelo às armas tem de ser abandonado, o Estado Palestino deve ser criado ao lado de Israel, cujo direito a existir não deve ser questionado.

Se isso acontecer, muitos árabes e israelenses daquela região não se amarão, terão antipatias mútuas, mas viverão lado a lado.

Utopia? PS: Peço desculpas por ter dito, em meu último artigo, que os "professores não ensinam" quando quis dizer que as escolas não ensinam.

O IDIOTA


QUARTA NOS JORNAIS


Globo: Acordo em SP reduz jornada e salário para evitar demissão

Folha: Emprego industrial tem maior queda em cinco anos

Estadão: Hillary anuncia mudança na política externa dos EUA

JB: Rio ganha R$ 4,7 bi para linhas do metrô

Correio: Adeus, bolsa-chefia

Valor: Custo do trabalho sobe e sinaliza mais demissões

Gazeta Mercantil: Queda nas vendas de veículos acirra disputa em seguros

Estado de Minas: Desemprego faz fila em BH

Jornal do Commercio: Celpe vai parcelar resíduo em 12 vezes