terça-feira, julho 09, 2013

Dois males - JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SP - 09/07

Qualquer orgasmo democrático com o Egito atual corre o risco de ser apenas ejaculação precoce


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como dizia um conhecido conterrâneo meu. Ainda me lembro, com duas lágrimas nostálgicas, dos protestos contra Mubarak no Egito. Quem não se lembra?

O ditador, depois de três décadas de mando, era acossado nas ruas por milhares, milhões de manifestantes. E não houve jornalista ocidental com credenciais progressistas em dia que não tenha escrito os seus poemas em homenagem à praça Tahrir.

Eis a cabeça do progressista típico: Mubarak = Mau; Protestos = Bons; Irmandade Muçulmana = Melhor que Mubarak.

Aqui, uma pessoa alfabetizada sentia uma leve tontura intelectual. Mubarak não era flor que se cheirasse --um ditador é um ditador é um ditador.

Mas os progressistas conheciam mesmo a Irmandade Muçulmana, esse brilhante grupo fundado por Hassan al Banna em finais da década de 1920 que representa tudo aquilo que a inteligência progressista abomina?

Dito de outra forma: os jornalistas que toleravam a irmandade conheciam as posições do clube sobre as relações entre o Estado e a religião, os direitos das mulheres, dos gays, das minorias religiosas, e etc. etc.?

Conheciam os atentados terroristas promovidos pelos seus líderes ou cometidos em seu nome (o palestino Hamas é apenas o melhor exemplo)?

E estariam dispostos a trocar um Egito autocrático por um Egito submetido aos preceitos da sharia (lei islâmica) sem pensar duas vezes?

Perguntas sem sentido. Retorno ao pensamento circular do progressista circular: se Mubarak era mau e os protestos eram bons, a irmandade só poderia ser melhor que Mubarak.

Pena que os egípcios não sejam tão generosos com Mohammed Mursi, agora deposto. Conta a revista "Economist" que 94% da população considera os militares a instituição mais respeitável do país.

A mesma revista informa que o número de manifestantes que tomou novamente as ruas do Egito contra o faraó deposto oscila entre os 10 milhões e os 14 milhões (o país terá 81 milhões). Motivos para tanto ruído e fúria?

Todos e mais alguns. A incompetência do governo Mursi. A corrupção. A venalidade. A insegurança. A fome. A falta de energia. A violência contra minorias religiosas e étnicas. Os crimes contra mulheres --não, não temos espaço nesta Folha. E que dizem os progressistas de ontem sobre as manifestações de hoje?

Estranhamente, não vi os poetas da praça Tahrir com novos sonetos sobre os descontentamentos dos egípcios.

Aliás, a julgar pelos textos publicados, parece que o golpe militar contra Mursi aconteceu por capricho --e não pela ruína política, econômica e social a que ele conduziu o país.

Sem falar da ruína moral: uma das suas nomeações políticas mais notáveis foi indicar Adel al-Khayat para governador da turística cidade de Luxor. Quem é al-Khayat? Digamos apenas que é alguém que entende de turismo. Ou, mais especificamente, de como rebentar com turistas. Em 1997, na mesma cidade de Luxor, foram 58 estrangeiros e 4 nativos em atentado de grupo islamita a que al-Khayat pertence.

Moral da história?

Sim, o presidente Mursi foi eleito democraticamente --uma importante diferença em relação ao seu antecessor.

Mas será que a legitimidade democrática absolve qualquer governante das suas derivas antidemocráticas? Sobretudo quando entre essas derivas está o golpe constitucional de novembro de 2012, através do qual Mursi pretendia governar autocraticamente como Mubarak antes dele?

Ponto de ordem: não se trata aqui de defender o golpe militar. Trata-se, pelo contrário, de defender o direito a não se defender ninguém: nem Mursi, nem os militares, nem sequer Mubarak.

Porque sem instituições democráticas fortes --tradução: separação de poderes; judiciário independente; liberdade de expressão; respeito pela iniciativa privada; e etc. etc.-- qualquer orgasmo democrático com o Egito atual corre o risco de ser apenas ejaculação precoce.

Ao contrário do que pensam as cabeças infantis, a política não é uma luta permanente entre o bem e o mal. Às vezes, é uma luta entre dois males igualmente perversos.

E, nestas matérias, recordo sempre a sagaz observação de Kissinger sobre a guerra Irã x Iraque: "É uma pena que não possam perder os dois."

Lá vem o noivo - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 09/07

Aécio Neves vai casar em breve com Letícia Weber, com quem namora há cinco anos.

Protesto doeu no PIB
Estudo preliminar da Confederação Nacional do Comércio revela que o comércio deixou de faturar na segunda quinzena de junho R$ 38,6 milhões, por conta dos protestos.

Melhor longe
Esta história circula entre alguns políticos de peso. Se non é vero... é ben trovato!
Ao completar um ano como ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho teria procurado Gilberto Carvalho para reclamar que nunca tinha sido recebido por Dilma e que isto era usado contra ele no Rio Grande do Norte. Ao que Carvalho respondeu:
“Sorte sua, Garibaldi. Um ano sem receber um esporro!”

Fator Feliciano
De Nelson Jobim, ontem, num curso de Direito, na FGV, no Rio, falando sobre a grande presença na política das igrejas evangélicas:
— Não foram os pastores evangélicos que procuraram a política. Nós é que buscamos eles de olho no quociente eleitoral. Depois, eles gostaram da coisa.
E como gostaram.

É pirata
Paulinho da Viola avisa aos fãs. Ele não está nas redes sociais. Perfis no Twitter e no Facebook com o seu nome são falsos.

Fôlego de diva
Bibi Ferreira, em plena forma aos 91 anos, vai gravar este ano um tributo a Frank Sinatra.
A diva quer voltar a fazer o espetáculo “Piaf”, que está celebrando 30 anos.

Segredos do Conclave
Gerson Camarotti, da Globo News, lança na próxima semana, pela Geração Editorial, “Segredos do Conclave”. É sobre a eleição do Papa Francisco.
O coleguinha foi um dos poucos jornalistas do mundo a apontar o argentino Jorge Mario Bergoglio como um dos favoritos. O prefácio é do amigo e escritor Ariano Suassuna.

Barcas à deriva
O juiz Luiz Roberto Ayoub condenou a Barcas S.A. a indenizar as vítimas do acidente ocorrido em março de 2012.
Foi quando dois catamarãs colidiram no terminal da Praça Quinze.

De saída
O posto da PF que funciona no Shopping Leblon deve fechar as portas. A conferir.

Viva Dona Regina
Vai ter festa em Cavalcante, bairro carioca onde ela vive praticamente desde que nasceu.
Dona Regina, mãe do coleguinha Sérgio Cabral e avó do governador Cabral Filho, completa 100 anos sexta, agora.

Deus salve o oratório
Ao lado da exposição de obras do Vaticano que será inaugurada hoje, no MNBA, no Rio, estará o mais belo acervo de oratórios do país, da coleção Angela Gutierrez.

Corpo de Cristo
Nada menos que 1.260 ministros da eucaristia e 1.260 voluntários distribuirão 200 mil hóstias, em Copacabana, na missa do Papa Francisco, dia 23.

Funk perseguido
Do MC Leonardo, presidente da ApaFunk, sobre a reestreia quinta, no Rio, do musical “Funk Brasil, 40 anos de baile”, que conta a história do gênero musical no país:
— Hoje, o funk sofre a maior perseguição de sua história. Nenhum dos bailes citados na peça funciona.
E. Pode ser. 

A festa continua 
Depois da festa em Paraty, a homenagem a Graciliano Ramos continua hoje, no Rio.
Othon Bastos e Luís Carlos Vasconcelos lerão trechos de “Vidas secas”, “São Bernardo” e “Memórias do cárcere”, no IMS, no lançamento de DVDs inspirados na obra do escritor.

Nossos ‘hermanos’
A informação foi de um inspetor da 14ª DP, ali no Leblon, para uma jovem que tinha acabado de ser roubada dentro de um ônibus no bairro, na sexta-feira passada.

Chama a atenção o número de bolivianos, peruanos e argentinos que andam assaltando na Zona Sul.
Mas é preciso evitar o preconceito.

Virtude da polidez - ROSELY SAYÃO

FOLHA DE SP - 09/07

Como agir quando uma professora não se veste adequadamente? As crianças não perdoam os 'deslizes'


Uma pesquisa publicada em portais de notícias chamou minha atenção. Por meio dela, fiquei sabendo que diretores de recursos humanos de 19 países, entre eles o Brasil, consideram que a maioria dos profissionais não se veste de forma adequada para o trabalho.

O interessante é notar que a média brasileira é maior do que a geral nessa questão: 9% é a média mundial dos diretores que afirmaram ver profissionais malvestidos com muita frequência e 42%, a média dos que viram o fenômeno ocorrer com certa frequência. No Brasil, os índices registrados foram de 22% e 54%, respectivamente.

Essa notícia me lembrou algumas situações semelhantes que já acompanhei no espaço escolar. Por exemplo: não é raro o constrangimento de coordenadores e diretores quando notam que professoras, principalmente da educação infantil, vão para o trabalho com calças de cintura baixa. Como as professoras sentam-se no chão regularmente com seus alunos, acabam deixando descobertas partes do corpo que deveriam estar protegidas do olhar do outro nesse tipo de situação.

E criança pequena não perdoa: "Mãe, eu vi o cofrinho da professora hoje!", disse em altos brados um garoto de quatro anos assim que sua mãe chegou para buscá-lo. O curioso é que coordenadores e diretores não sabem muito bem como conversar com os professores a esse respeito.

Do mesmo modo, gestores escolares também não sabem como agir quando alunas do ensino médio vão para a aula excessivamente maquiadas e com roupas com decotes generosos, justas e curtas. Definir uniforme? Proibir certas roupas? Fazer o quê?

A esse tipo de comportamento somam-se outros. Um exemplo é quando alunos de oito, nove anos, em plena aula, se distraem por intermináveis minutos com o dedo no nariz. Novamente, professores ficam constrangidos e não sabem se devem ou não interferir.

A questão permanece em aberto sem uma boa solução, até agora, para as escolas que enfrentam esses tipos de problema. Por que elas não pensam em debater a questão com docentes e alunos à luz do conhecimento?

Essas situações me levaram de volta à leitura deliciosa de um livro que li pela primeira vez há uns dois anos: "A História da Polidez", de Frédéric Rouvillois. A polidez, mesmo sendo considerada por muitos autores como uma virtude menor quando comparada a outras, é necessária para a boa convivência social, além de ser a porta de entrada para as chamadas grandes virtudes.

A Revolução Francesa foi um marco na transformação de comportamentos sociais; hoje, com a existência de celulares, da internet e de uma informalidade radical nos relacionamentos interpessoais, tanto familiares quanto públicos, as normas da boa educação mudaram mais ainda. Entretanto, nos resta uma boa pergunta: e a polidez no sentido de civilidade, ou seja, no que se refere à boa convivência, ao respeito ao outro, a quantas anda? Famílias e escolas têm se ocupado dessa questão na educação dos mais novos?

Certamente ganhamos muito com a transformação das rígidas e precisas regras de etiqueta que já tivemos de atender. Mas a reclamação constante de barulho, do desrespeito de regras básicas de trânsito, da grosseria no trato interpessoal nos apontam a necessidade de rever a educação para a virtude da polidez.

As escolas, por exemplo, poderiam abrir a discussão com seus alunos sobre a adequação das vestimentas em situações diversas, só para voltar ao assunto do início de nossa conversa. E uma boa provocação inicial poderia ser a letra da música "Com que roupa?", de Noel Rosa.

Hoje! Promoção na FAB AIR! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 09/08

Depois que o Pato parou de fazer gol na filha do Berlusconi, resolveu fazer gol no Corinthians!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Feriadão da Revolução! Hoje São Paulo comemora a Revolução Constitucionalista! Que perdemos! Perdemos a guerra mas ganhamos um feriado. Valeu a pena!

E hoje é feriado porque São Paulo brigou com o país inteiro. Aí vai viajar no feriado e briga com o país inteiro: "Se fosse em São Paulo, essa comida já tava pronta".

"Rápido, dez horas pra trazer uma caipirinha?" "Se fosse em São Paulo esse pneu já estava trocado há dias." "Esse macarrão tá uma droga." Rarará! Paulista leva o stress pra passear!

E o Anderson Silva? Foi dançar e dançou! Achou que tava na "Dança dos Famosos"! Anderson Silva X Weidman. Primeiro rolou um beijo na boca na pesagem e depois um nocaute!

E o Sensacionalista: "Surra após beijo na boca faz Anderson Silva recorrer à Lei Maria da Penha".

E um amigo no Twitter: "Quando o Anderson Silva era patrocinado pelo Corinthians não perdia um assalto". Rarará!

E o Felipe Amassa? Ótimo de largada: larga o carro na brita, larga o carro na grama, larga o carro no meio do caminho. Larga dessa vida! Rarará!

E depois que o Pato parou de fazer gol na filha do Berlusconi, resolveu fazer gol no Corinthians!

E Promoção da FAB! O chargista Zedassilva acaba de lançar uma promoção: "FAB AIR! Promoção Exclusiva! Viaje de graça e só pague se descobrirem!". Mas tem gente que não devolve o dinheiro nem quando é descoberto!

O Beto Richa, governador do Paraná, foi pro jogo com jato oficial e diz que não devolve o dinheiro. Então devolve o cargo. Rarará! Todos deviam devolver o cargo: FABalves, Escandalheiros, Richa, etc. Esse jogo do Brasil devia ter sido no aeroporto! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

E em São Paulo agora tá assim: junta mais de dez pessoas já começam a gritar: "Vamos pra Paulista! Vamos pra Paulista". A Paulista virou fetiche. E o orgasmo é o vão do Masp! O auge! O ápice! A Paulista devia ter faixa exclusiva pra protesto!

E trabalhar em feriadão dá ziquizila, calo seco, nó nas tripas, enframação na prósta e dormência numa banda do corpo! E muita preguiça! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Povo cá, governo lá - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 09/07

As manifestações demonstraram que a agenda deste governo está divorciada da agenda da população.

Pode-se argumentar que o povo nem sempre sabe o que quer, reivindica por vias transversas a satisfação de suas necessidades e que, até mesmo nas democracias, cabe aos dirigentes interpretar seus anseios e tratar de satisfazê-los, no que der, já que a política é a arte do possível.

No entanto, ao longo deste governo, em tantas e tantas áreas, não há essa interpretação. A maneira como os atuais dirigentes orientam as despesas públicas nada tem a ver com as aspirações da população.

Nos grandes centros urbanos, por exemplo, o trabalhador leva horas e horas diárias espremido em trens e ônibus ruins, sujeitos a paralisações e congestionamentos, que pioram todos os dias. Transporte público é uma indiscutível prioridade nacional.

E quais são as políticas do governo? É incentivar o crédito e reduzir impostos para compra de automóveis, que entulham ruas e avenidas das grandes cidades, à proporção de quase mil por dia só em São Paulo. É subsidiar o consumo de gasolina, um dos fatores que sangram inexoravelmente o caixa da Petrobrás, cujo resultado é mais congestionamento de trânsito e mais horas perdidas dentro de um veículo.

Em vez de mais metrô, mais ferrovias, mais rodovias e mais portos, o governo empurra o projeto do trem-bala que vai levar mais R$ 35 bilhões.

A população quer melhora dos serviços públicos. Em vez disso, o governo prefere despejar bilhões de reais no sustento de 39 ministérios, na construção e na ampliação de estádios de futebol, estes sim, no padrão Fifa de qualidade. Em vez disso, o governo prefere injetar R$ 10 bilhões do BNDES, que por sua vez, recebe transfusões diretas do Tesouro Nacional, para alimentar os projetos delirantes do grupo Eike Batista, até agora, como a presidente Dilma declarara em 2012, motivo de orgulho e exemplo a ser seguido pelo Brasil.

A população não pede necessariamente mais verbas para saúde e educação. Pede que os enormes recursos injetados nessas áreas sejam gastos com qualidade. Mas isso requer também qualidade de gerenciamento das despesas públicas, hoje altamente precária.

Como ficou claro nas manifestações, a população quer mão pesada contra a corrupção, que inferniza a administração pública e aumenta substancialmente os dispêndios nos investimentos do Estado. No entanto, a resposta do governo é a pretendida instituição do financiamento das campanhas eleitorais com recursos públicos. Com que resultado prático? Será que, além do financiamento privado e suas mazelas, que não terminarão, teremos o financiamento das campanhas eleitorais com recursos que, em última análise, serão tirados da educação, da saúde, de outros custeios e de investimentos públicos?

Antes de chegar ao governo federal, o PT proclamava a excelência do orçamento participativo, que determinava democraticamente a prioridade das despesas públicas. Uma vez lá chegando, desconsiderou as recomendações anteriores. As prioridades orçamentárias passaram a ser determinadas não mais pelas legítimas demandas do contribuinte, mas por fatores que reforçam a percepção de que o objetivo é a perpetuação no poder.

Copom sozinho - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 09/07

Hoje o Copom se reúne, e o mercado formou seu consenso em torno de mais um aumento de 0,5% nos juros, amanhã. Seja como for, o Banco Central, de novo, está naquela situação de sozinho ajudar a derrubar uma inflação que, pela décima vez no governo Dilma, estourou o teto da meta. Os esforços fiscais prometidos pelo governo não convencem, até porque a trucagem continua a pleno vapor.

Os últimos dias foram iguais aos outros que passaram: o governo anunciou novos repasses para os bancos públicos, e os bancos fizeram novos pagamentos de dividendos ao Tesouro, em alguns casos pagando mais dividendos do que os lucros que auferiram. No caso do BNDES, aconteceu o que o jornal "Estado de S.Paulo" anunciou ontem: um estudo do Ibre, da Fundação Getúlio Vargas, mostra que despencou o patrimônio do banco: uma queda de 38% em dois anos. Mas ele continua pagando dividendos cada vez maiores, em vez de recompor o patrimônio perdido na queda do preço das ações que tem em carteira.

Essa movimentação de dinheiro do Tesouro para os bancos públicos, e a volta em forma de lucros, irritou até o ex-ministro Delfim Netto, que na "Folha de S. Paulo" de domingo disse: "Tivemos truques demais. Destruímos coisas importantes. O transparente é esquecer os truques e anunciar um programa para um equilíbrio fiscal de quatro a cinco anos." Segundo Delfim, grande apoiador da política econômica, o presidente do Banco Central "cansou de ter esperança de que a política fiscal ajudasse no combate à inflação".

A política fiscal, portanto, não é o ponto no qual se possa confiar para derrubar fortemente a inflação, como seria desejável. O superávit primário tem duas funções. Garantir o pagamento dos juros da dívida pública, e com isso aumentar a confiança de investidores internacionais no país, mas também atacar a alta dos preços, porque o governo, ao gastar menos, ajuda a diminuir a demanda agregada. Acontece que a Fazenda tem chegado às metas de superávit lançando títulos do Tesouro, repassando a bancos e empresas, e recebendo dinheiro de volta, por meio de dividendos. A dívida líquida cai, o governo comemora. Mas o mercado olha cada vez mais para a dívida bruta, que tem subido, e a demanda agregada não diminui, porque o governo não está fazendo economia, de fato.

A taxa de inflação de julho certamente será menor do que a de junho, e o acumulado em 12 meses deve diminuir. O problema, como disse o GLOBO de ontem, é a "bomba-relógio armada". As manifestações de rua fizeram os governos recuarem nos aumentos das tarifas. Se não houver nenhum estudo sobre isso, que indique que os aumentos eram indevidos, eles terão que ser concedidos algum dia. Como 2014 é ano eleitoral, a inflação reprimida pode ficar para 2015. O dólar alto tem impacto direto no preço da gasolina para a Petrobras e no preço que as distribuidoras pagam pela energia de Itaipu. Também deixa mais caros vários grãos que são fundamentais para o cardápio do brasileiros, como o trigo, que pressiona o preço dos pães e das massas.

O pessimismo em relação ao desempenho econômico do país está crescendo. Ontem, a pesquisa Focus, feita pelo Banco Central com 100 instituições financeiras, reduziu a estimativa de crescimento deste ano para 2,34%. A confiança na recuperação está tão baixa que a projeção para 2014 caiu, pela primeira vez, abaixo de 3%. Em apenas quatro semanas, saiu de 3,2% para 2,8%.

É nesse quadro que o Copom se reúne esta semana, tendo apenas os juros para lidar com vários problemas. Inflação alta, crescimento baixo, e o governo insistindo em manter a enorme distância entre o que promete e o que faz na área dos gastos públicos.

Afinal, não é o apocalipse fiscal - ANTÔNIO DELFIM NETO

VALOR ECONÔMICO - 09/07

O Brasil vive um paradoxo. Sua situação fiscal não é tão tranquila quanto sugerem as autoridades e nem tão catastrófica como insistem alguns portadores das virtudes da austeridade. Há muitos anos estamos acumulando desperdícios e escolhendo mal as prioridades, juntamente com um controle laxista da gestão dos recursos públicos.
As últimas informações sobre o déficit público (necessidade de financiamento do setor público) e o seu comportamento dinâmico não revelam, entretanto, tragédia iminente. No acumulado de 12 meses, o déficit nominal foi em maio, de 3% do PIB: gasto com juros de 5% do PIB e superávit primário de 2% do PIB. Desde o Plano Real, como se vê no gráfico, tem sido mantido sob controle e lentamente reduzido.
Mas então por que o paradoxo? Por dois motivos: 1) frequentes lacunas de clara comunicação sobre a ação fiscal; e 2) uma propensão por manobras contábeis tão exóticas quanto inúteis, que lançam dúvidas sobre a qualidade das contas públicas. Quando o voluntarismo da autoridade ignora as reações dos agentes privados, é preciso lembrar-lhe que o faz não por sua conta e risco, mas pelo da economia nacional. Todos concordam que as agências de risco antecipam muito mal o risco, mas ignorá-las é um grave risco! Por uma miserável e desagradável razão: sua opinião influi (e em certa medida controla) o comportamento dos operadores do mercado.
O cálculo do déficit, tanto quanto o da dívida, envolve muitos aspectos contenciosos e - sempre - alguma arbitrariedade. Logo, o que precisamos fazer com rapidez é dar maior transparência à contabilidade pública, para restituir-lhe sólida credibilidade. De nada adiantam truques que transformam dívida em receita para construir imaginários superávits fiscais, ou não registrar adequadamente o montante da dívida.
No fundo, bem no fundo, a coisa é clara: quando o registro é fiel (como exige a moralidade pública), o déficit e a dívida de cada exercício se expressam na identidade estimada com os dados abaixo da linha: déficit no ano T = dívida pública total no fim do ano T, menos a dívida pública total no fim do ano T-1, calculados no regime de competência. Parece óbvio, por exemplo, que no cálculo deve ser incluída a variação dos "restos a pagar" não cancelados no último dia do exercício.
Algumas observações são necessárias: 1) a relação dívida pública líquida/PIB introduz maior arbitrariedade na avaliação da situação fiscal. Gera mais sombra do que luz; 2) não há dúvida sobre a importância da dívida pública tanto para o financiamento de projetos de desenvolvimento de infraestrutura como para o exercício da política monetária. Dizia Alexander Hamilton, que criou as finanças públicas dos EUA, que "uma dívida pública não excessiva será para nós uma benção", o que lembra que a natureza da dívida pública é oposta à da privada.
A situação da relação dívida bruta/PIB no Brasil já não era confortável em 2008: era quase duas vezes a dos países emergentes. Com relação à dívida líquida/PIB, é visível que a mudança do seu comportamento está ligada à arbitrariedade da sua classificação a partir de 2008, o que lhe tira a importância. O desconforto se acentua quando lembramos que nossa dívida bruta/PIB já estava, em 2012, no mesmo nível da alemã e francesa antes da crise do Lehman Brothers. A despeito disso, é ridículo supor que estamos às vésperas do apocalipse fiscal.
A dinâmica do déficit nominal e da relação dívida bruta/PIB depende da evolução da conjuntura econômica. A receita tende a variar na mesma direção do PIB e do emprego. Parte da despesa tende a variar no sentido inverso, o que mostra que os efeitos do déficit fiscal precisam ser julgados à luz da conjuntura. Basicamente, quando, por qualquer motivo (não desejado pelas autoridades econômicas), a demanda privada é insuficiente para manter o pleno uso do mais escasso dos fatores de produção, nada mais natural do que suprir essa insuficiência com um aumento da demanda pública, através de um aumento do déficit fiscal. Por outro lado, quando não existem fatores de produção na proporção adequada e o excesso de demanda global se dissipa em inflação e em déficit em conta corrente, a solução é reduzir o déficit fiscal para cortar a demanda pública.
Começamos agora a namorar com o déficit estrutural. Levado a sério demais poderá também dar lugar a exercícios de alquimia. Eles exigem a estimação de parâmetros metafísicos: o "produto potencial" e as elasticidades de receita e despesas com relação ao PIB. Esses estão longe de serem estáveis e estimáveis e perto de serem fixados discricionariamente. Por que não ficamos no arroz e feijão bem feito?

A queda - RODRIGO CONSTANTINO

O GLOBO - 09/07

O valor das empresas do grupo X despencou, enquanto as dívidas pareciam se multiplicar. O BNDES pode perder bilhões do nosso dinheiro


Eike Batista está para a economia como Lula está para a política. O “sucesso” de ambos, em suas respectivas áreas, tem a mesma origem. Trata-se de um fenômeno bem mais abrangente, que permitiu a ascensão meteórica de ambos como gurus: Eike virou o Midas dos negócios, enquanto Lula era o gênio da política. Tudo mentira.

Esse fenômeno pode ser resumido, basicamente, ao crescimento chinês somado ao baixo custo de capital nos países desenvolvidos. As reformas da era FHC, que criaram os pilares de uma macroeconomia mais sólida, também ajudaram. Mas o grosso veio de fora. Ventos externos impulsionaram nossa economia. Fomos uma cigarra que ganhou na loteria.

A demanda voraz da China por recursos naturais, que por sorte o Brasil tem em abundância, fez com que o valor de nossas exportações disparasse. Por outro lado, após a crise de 2008 os principais bancos centrais do mundo injetaram trilhões de liquidez nos mercados. Isso fez com que o custo do dinheiro ficasse muito reduzido, até negativo se descontada a inflação.

Desesperados por retorno financeiro, os investidores do mundo todo começaram a mergulhar em aventuras nos países em desenvolvimento. Algo análogo a alguém que está recebendo bebida grátis desde cedo na festa, e começa a relaxar seu critério de julgamento, passando a achar qualquer feiosa uma legítima “top model”.

Houve uma enxurrada de fluxo de capitais para países como o Brasil. A própria presidente Dilma chegou a reclamar do “tsunami monetário”. Os investidores estavam em lua de mel com o país, eufóricos com o gigante que finalmente havia acordado. Havia mesmo?

O fato é que essa loteria permitiu o surgimento dos fenômenos Eike Batista e Lula. Eike, um empresário ousado, convenceu-se de que era realmente fora de série, que tinha um poder miraculoso de multiplicar dólares em velocidade espantosa, colocando um X no nome da empresa e vendendo sonhos.

Lula, por sua vez, encantou-se com a adulação das massas, compradas pelas esmolas estatais, possíveis justamente porque jorravam recursos nos cofres públicos. A classe média também estava em êxtase, pois o câmbio se valorizava e o crédito se expandia. Imóveis valorizados, carros novos na garagem, e Miami acessível ao bolso.

O metalúrgico, que perdera três eleições seguidas, tornava-se, quase da noite para o dia, um “gênio da política”, um líder carismático espetacular, acima até mesmo do mensalão. Confiante desse poder, Lula escolheu um “poste” para ocupar seu lugar. E o “poste” venceu! Nada iria convencê-lo de que isso tudo era efeito de um fenômeno mais complexo do que ele compreendia.

Dilma passou por uma remodelagem completa dos marqueteiros, virou uma eficiente gestora por decreto, uma “faxineira ética”, intolerante com os “malfeitos”. Tudo piada de mau gosto, que ainda era engolida pelo público porque a economia não tinha entrado na fase da ressaca. O inverno chegou.

O crescimento chinês desacelerou, e há riscos de um mergulho mais profundo à frente. A economia americana se recuperou parcialmente, e isso fez com que o custo do capital subisse um pouco. Os ventos externos pararam de soprar. Os problemas plantados pela enorme incompetência de um governo intervencionista, arrogante e perdulário começaram a aparecer.

A maré baixou, e ficou visível que o Brasil nadava nu. O BNDES emprestou rios de dinheiro a taxas subsidiadas para os “campeões nacionais”, entre eles o próprio Eike Batista. O Banco Central foi negligente com a inflação, que furou o topo da meta e permaneceu elevada, apesar do fraco crescimento econômico. Os investidores começaram a temer as intervenções arbitrárias de um governo prepotente, e adiaram planos de investimento.

A liquidez começou a secar. O fluxo se inverteu. E o povo começou a ficar muito impaciente. Eike Batista se viu sem acesso a novos recursos para manter seu castelo de cartas. As empresas do grupo X despencaram de valor, sendo quase dizimadas enquanto as dívidas, estas sim, pareciam se multiplicar. A palavra calote passou a ser mencionada. O BNDES pode perder bilhões do nosso dinheiro.

Já a presidente Dilma, criatura de Lula, mergulhou em seu inferno astral. Sua popularidade desabou, os investidores travaram diante de tantas incertezas, e todos parecem cansados de tamanha incompetência.

Eike e Lula deveriam ler Camus: “Brincamos de imortais, mas, ao fim de algumas semanas, já nem sequer sabemos se poderemos nos arrastar até o dia seguinte.”

Aposta no vento - JOSÉ PAULO KUPFER

O Estado de S.Paulo - 09/07

O estouro da imensa bolha produzida, nos últimos anos, pelo empresário Eike Batista ainda não provocou todos os efeitos deletérios que tem potencial para produzir. Mas já está claro que as regulamentações e os controles, capazes de assegurar a indispensável transparência ao funcionamento do mercado financeiro, voltaram a falhar. Governo federal, Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Agência Nacional de Petróleo (ANP), bancos públicos e privados estão devendo explicações melhores do que as apresentadas até agora para o acontecido.

Não há ainda um cálculo suficientemente abrangente das perdas impostas pelo desmonte do Grupo EBX. Elas somam algumas dezenas de bilhões de reais e ainda devem disseminar mais prejuízos quando, ao fim do processo de reestruturação dos mirabolantes projetos do bilionário midiático, investidores ou credores de Eike Batista declararem suas perdas. Governo federal - melhor seria dizer contribuintes -, no caso de bancos públicos, e investidores, no caso das instituições financeiras privadas, ainda deverão ser apresentados a novos prejuízos.

Muito difícil entender por que reguladores e investidores não conseguiram detectar a formação da bolha antes do desastre completo. Infladas por uma quantidade anormal de comunicados de descobertas de óleo e gás, conforme deixa claro levantamento publicado pelo Estado, as ações da petroleira OGX, carro-chefe do grupo de empresas de mineração, infraestrutura e entretenimento montado em poucos anos por Eike, protagonizaram trajetória completamente fora dos padrões. Lançados em 2008 a R$ 11,31, os papéis da OGX chegaram ao pico de R$ 23, em 2010. Hoje, com a constatação de que os poços da OGX continham vento ou não ofereciam valor comercial, as ações valem em torno de R$ 0,50.

Tão ou até mais do que a oscilação no valor do papel, impressiona a atração sem sustentação em resultados concretos exercida pela ação da OGX. Com rapidez também fora dos padrões, o papel alcançou índices de negociação inéditos para empresas novas. Depois de responder por 5% do Ibovespa, o principal índice da BM&FBovespa, no início deste mês de julho, já em pleno processo de queima do papel, a ação da OGX ainda representava sozinha por 1,5% do Ibovespa.

Chamaram a atenção, nos últimos dias, as enormes oscilações nas cotações da OGX. Sempre entre os mais negociados, o papel chegou a marcar perdas de 20% num único pregão, seguido de altas de igual intensidade, nas sessões posteriores. Numa tradução desses acontecimentos, pode-se dizer que a ação ingressou em terreno claramente especulativo e a consequência do fato será um aumento do potencial de perdas com o papel da empresa.

Parece ser este o caso, por exemplo, dos muitos fundos de investimento que operam com carteiras que replicam a composição do Ibovespa. Por peculiaridades do índice, que leva em conta, a cada mês, apenas o volume negociado dos papéis nos 12 meses anteriores, quanto mais especulativa for uma ação, maior tende a ser seu peso no Ibovespa. Assim, é possível que, em agosto, quando o índice for ajustado, o peso das ações da OGX aumente, obrigando esses fundos a aumentarem a participação do papel em seus portfólios.

Informações obtidas pelas repórteres Irany Tereza e Mariana Durão, do Estado, dão conta de que a CVM vai agora "analisar com lupa" todos os comunicados (fatos relevantes) publicados por Eike, com especial atenção para os que divulgavam projeções e estimativas de achados de petróleo ou gás, bem como de viabilidade de exploração comercial dos poços inventariados.

É uma providência bem-vinda, que deveria ser acompanhada pela ANP. Ainda que, mais uma vez, a fiscalização prometa apertar depois que a porta foi arrombada, apostas no vento não podem prosperar como prosperaram as das empresas de Eike Batista.

Pacote de bondades - VERA MAGALHÃES -

FOLHA DE SP - 09/07

Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Aguinaldo Ribeiro (Cidades) devem anunciar hoje, na Marcha dos Prefeitos, uma nova linha de crédito do Minha Casa, Minha Vida para os quase 5.000 municípios com até 50 mil habitantes. Os prefeitos receberão conjuntos de até 60 casas a juros subsidiados e promessa de construção até 2014. Segundo interlocutores, o Planalto vai focar nos pequenos municípios para rachar a cúpula da marcha, que já fez críticas públicas a Dilma Rousseff.

No bolso Além disso, os prefeitos dos pequenos municípios serão avisados de que terão boa parte do R$ 1,5 bilhão anunciado ontem por Dilma para a compra de equipamentos para hospitais.

Ibérico Depois de ter lançado o Mais Médicos ontem, o ministro Alexandre Padilha (Saúde) viajará para encontros em Portugal e Espanha, nos dias 11 e 12. Ele vai detalhar os editais de convocação de médicos estrangeiros para os dois novos parceiros preferenciais do programa.

Direitos... No início da cerimônia de apresentação do plano, Dilma pediu a Padilha que perguntasse a Luiz Fernando Pezão se ela poderia citá-lo em seu discurso.

...autorais O vice-governador do Rio é grande entusiasta do programa e usou a experiência de médicos estrangeiros quando foi prefeito de Barra do Piraí.

Na sua Integrantes do governo registraram que Aloizio Mercadante, ao fazer o primeiro discurso do evento, ultrapassou a seara das medidas do programa envolvendo a Educação, sua pasta, e falou até sobre questões específicas da área da Saúde.

Juntos Manoel Dias (Trabalho) pediu um encontro com as centrais sindicais antes das greves e manifestações do dia 11. O ministro quer conversar sobre reforma política com os líderes trabalhistas -- pauta que o PT pretende incluir no movimento.

Barreira O governo vê Eduardo Cunha (PMDB-RJ) como principal obstáculo da aprovação do Marco Civil da Internet. O deputado nega que esteja dificultando o projeto e diz que irá destacar pontos com os quais não concorda durante a votação.

Restituição A AGU divulga hoje números que mostram que fraudes e desvios de verbas públicas são alvos de 15,3 mil ações ajuizadas para reaver R$ 12 bilhões aos cofres da administração federal, direta e indireta. Cerca de R$ 2,5 bilhões, que representam quase 20% do total desviado, já foram devolvidos.

Enviado... A atuação de Franklin Martins como conselheiro de Dilma foi uma sugestão do ex-presidente Lula.

...especial Aliados do petista dizem que Franklin passou a ser chamado para reuniões após avaliação de que o pronunciamento da presidente na TV depois dos protestos foi "pouco político e mais marqueteiro".

Cerco fechado Na semana passada, Fernando Collor (PTB-AL) apresentou projetos que preveem responsabilização civil e penal para auditores do Tribunal de Contas da União por supostos prejuízos em casos de suspensão de contratos de obras.

Onde pega Em maio, Collor chamou técnicos do tribunal de "prepotentes e incompetentes". O Sindicato dos Servidores do Legislativo e do TCU organiza hoje uma manifestação no Senado com mordaça e cara-pintada, símbolo da era Collor.

Bate e volta O deputado Luiz Fernando Faria (PP-MG) esclarece que foi aos EUA na semana passada, mas voltou ao Brasil na manhã de quinta-feira. Portanto, não assistiu à luta do UFC no sábado.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"O governo faz demagogia sem dinheiro: obriga o médico a trabalhar no SUS, mas continua pagando pouco aos profissionais."
DO DEPUTADO ESTADUAL PEDRO TOBIAS (PSDB-SP), sobre a defasagem da tabela de pagamento de médicos nos atendimentos do Sistema Único de Saúde.

contraponto


Guilhotina afiada
Em uma sessão da Assembleia Legislativa paulista na semana passada, o deputado Fernando Capez (PSDB) fez uma longa digressão histórica e citou um episódio da Revolução Francesa durante seu discurso. Depois do pronunciamento do colega, Adriano Diogo (PT) pediu um aparte e apresentou no telão da Casa um trailer do filme "Maria Antonieta", rainha que morreu guilhotinada nos desdobramentos da revolução.

Um deputado comentou com colegas no plenário:

--Espero que o destino da protagonista não inspire os manifestantes nos próximos protestos!

O desabafo - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 09/07

Irritada com as especulações de sua queda, estimuladas por aliados, a ministra Ideli Salvatti abre o verbo: “Quem está balançado não passa seis horas no Alvorada domingo”. Relata que recebeu a missão “estratégica” de aprovar o marco regulatório da internet. E nega que o discurso emocionado, na reunião do PT, tenha relação com seu cargo: “Eu não sou de chorar pelos cantos. Vão se catar”.

O recado para os ministros
Num esforço para melhorar sua relação com o Congresso, a presidente Dilma está mandando um duro recado aos ministros. “Não quero mais parlamentar reclamando que não empenhou emenda. Não quero ministério regateando”, afirmou, domingo, no Alvorada. A ministra Gleisi Hoffmann, que nega ter atribuições políticas, recebeu a tarefa de marcar de cima os ministros, para que eles cumpram o acertado com os líderes pela ministra Ideli Salvatti. Questionada ontem, por aliados, a presidente Dilma garantiu que não muda nada. E acrescentou que cobrar dos ministérios já era a tarefa da Casa Civil quando ela ocupava o cargo no governo Lula.

“Ainda não tem ninguém coletando assinaturas para um projeto de decreto legislativo para que seja convocado o plebiscito”
José Guimarães Líder do PT na Câmara dos Deputados 

Plano de voo
Os líderes na Câmara definem hoje: fazer as mudanças na lei eleitoral prontas para votar; criar grupo de trabalho sobre reforma política (com prazo de 90 dias); e debater a realização de um plebiscito junto com as eleições de 2014.

Chapa quente
A diplomacia brasileira prevê que será tensa a próxima reunião do Mercosul, na quinta-feira, em Montevidéu. Há vários temas explosivos na pauta: o retorno do Paraguai; a posse da Venezuela na presidência; o desrespeito pelos europeus ao
presidente da Bolívia, Evo Morales (na foto); e a espionagem praticada pelo governo americano. 

Imposto socialista
O governo Dilma rejeitou acordo com Cuba para a vinda de médicos. O país de Raúl Castro queria um acordo governamental com o qual ficaria com grande parte dos salários. O Mais Médico prevê uma relação trabalhista direta com os médicos.

Inferno zodiacal
O governador Sérgio Cabral está inquieto com sua sucessão. O carioca rejeita a privatização do Maracanã, pois seria sinônimo de ingressos mais caros. A demora na reconstrução da Região Serrana abala a imagem de gestor do vice Luiz Fernando Pezão. O fim do glamour ao empresário Eike Batista afeta seu governo. E a queda de sua avaliação dificulta a tarefa de ancorar Pezão.

Fogo amigo
A oposição está festejando. Parlamentares do PMDB estão admitindo apoiar a criação de uma CPI sobre as empresas de Eike Batista. Os alvos são o governo Dilma e o governador Sérgio Cabral. A comissão já tem até nome: CPIX.

Pressão das bases
Com a Marcha dos Prefeitos, hoje, em Brasília, os deputados vivem dias de pânico. Os prefeitos tomaram conta do Congresso e estão batendo às portas, de gabinete em gabinete, cobrando a liberação de emendas para suas cidades.

AS CENTRAIS SINDICAIS passam por prova de fogo, na quinta-feira, quando a liderança dessas entidades será testada em greves e manifestações pelo país.

O plebiscito - ARNALDO JABOR

O Estado de S.Paulo - 09/07

Pai, o que é plebiscito? - assim perguntava o menino, no conto de Artur Azevedo, em 1890. O mesmo aconteceu comigo.

Estava na sala e de repente meu filho levanta a cabeça e pergunta:

- Pai, o que é plebiscito?

Eu fechei os olhos imediatamente para fingir que dormia. O menino insiste:

- Papai? O que é?

Não tenho remédio senão abrir os olhos.

-Ora essa, rapaz, tens treze anos e não sabes ainda o que é plebiscito?

- Se soubesse, não perguntava.

- Plebiscito, meu filho, é quando o governo pergunta ao povo o que ele acha de determinado assunto importante para o país. Voltou à tona depois que houve as manifestações de rua, com mais de um milhão de pessoas protestando contra o caos brasileiro.

- Que pergunta é importante para o Brasil?

- São muitas perguntas meu filho... quer exemplos? Muito bem... vamos a isso:

-Você é contra ou a favor de 15 bilhões para estádios de futebol, dinheiro que dava para fazer 50 hospitais ou 75 quilômetros de metrô em São Paulo? Você é a favor da reforma politica? Você sabe o que é voto distrital comum ou misto? É contra ou a favor? Aliás, você sabe o que é isso, filho?

-Se você explicar...

-Também não sei, filho... mas, vamos lá... Você é contra ou a favor de haver 28 mil cargos de confiança no governo, se a Inglaterra tem apenas 800 e os Estados Unidos, 2 mil? O Brasil tem mais de 5.700 municípios, com prefeitos, vice prefeitos, 513 deputados federais, 39 ministérios. Não dava para cortar tudo pela metade? E o PAC? Que fez o PAC até hoje? Com a corrupção deslavada, o PAC acabou fazendo pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas leprosas, hospitais cancerosos, esgotos à flor da pele, tudo proclamado como plano de aceleração do crescimento.

Os melhores economistas do mundo dizem que temos de abandonar a politica econômica de estimular demanda e atentar para o crescimento da oferta, pela redução de gastos do Estado, que se apropria de 36% da renda nacional mas investe menos de 3% e consome grande parte dos recursos para sua própria operação. Você entendeu o que falei? Um dia, entenderá.

Você é contra ou a favor de investigar por que a Petrobrás comprou uma refinaria no Texas por US$ 1 bilhão, se ela vale apenas US$ 100 milhões? Você é contra ou a favor da ferrovia Norte Sul que está sendo construída há 27 anos, com mil roubalheiras e ainda quer mais 100 milhões para cobrir o que a Valec desviou quando o Juquinha, afilhado do eterno Sarney, era o chefão?

- Quem é Sarney?

- É o comandante do atraso.

- Ah, legal...

- Você é contra ou a favor da CPI que fez o Cachoeira sumir do mapa para não criar problemas para o Executivo e suas empreiteiras? Você lembra das operações da Policia Federal, com lindos nomes? Cavalo de Troia, Caixa de Pandora (do Arruda), Anaconda, das mil ambulâncias dos sanguessugas? E tantas outras. Quantos estão presos hoje? Você é contra ou a favor de reforma do Código de Processo Penal? Aliás, por que o PT quer tanto o plebiscito? Ele lucra com isso? Sim ou não?

O Lula sumiu de cena mas já declarou que as manifestações são " coisa da direita ". E o PT? É peronista de direita ou de esquerda? Com a volta da inflação, você é contra ou a favor da correção monetária para o Bolsa Família? Você não acha que é fundamental a privatização (ohhh, desculpe, "concessão") de ferrovias, aeroportos e rodovias?

Por que uma das maiores secas de nossa história não é analisada pelo governo? Para não criticar os donos da indústria da seca, por motivos eleitorais? Alias, o que aconteceu com o Rio São Francisco, que disseram que iam canalizar? Parou? Sim ou não?

Sem dúvida, Sergio Cabral foi quem mais se queimou nisso tudo. Mas, pergunto, que será do Estado do Rio de Janeiro com o Lindenberg Farias, ex-prefeito de Nova Iguaçu, com o sigilo quebrado pelo STF, governando o Estado até 2018? Será que o Pão de Açúcar fica em pé?

Você acha legal ou não a importação de médicos cubanos para o País?

Você é contra ou a favor do "trem bala" que custará (na avaliação inicial) cerca de 30 bilhões de reais, que davam para renovar toda a malha ferroviária comum? Aliás, nessa velocidade, qual a altura que ele vai voar, quando os traficantes do Rio puserem pedras nos trilhos?

Você acha que os "mensaleiros" ficaram contentes com o fim da PEC 37 que o Congresso, apavorado, rejeitou?

Você acha normal que o Brasil cobre R$ 36 de impostos sobre cada R$ 100 produzidos? Você não acha o Palocci muito melhor que o Mantega? Por que não chamam o Palocci? Quem é? É o melhor cara do PT, que impediu a destruição do Plano Real durante os quatro anos do primeiro mandato do Lula.

Você entende, meu filho, o governo do Brasil tenta com sua ideia de mudança constitucional transformar problemas administrativos em problemas institucionais. Você não acha que querem disfarçar sua incompetência administrativa? Afinal, quem governou o país nos últimos dez anos? Agora, parece que descobriram que o país precisa de reformas, que o PT não fez nem deixou fazer por 10 anos. Agora, gritam todos: reforma! Por isso, pergunto: será que os intelectuais não veem que a democracia conquistada há 20 anos está sendo roída pelos ratos da velha política? Você acha que a Dilma está com ódio do Lula, por ter finalmente descoberto o tamanho da herança maldita que deixou para ela? Mas Lula não liga. "Ela que se vire..." - ele pensa, em seu egoísmo, secretamente até querendo que ela se dane, para ele voltar em 2014. Você acha, meu filho, que o Lula vai ser candidato de novo? E será eleito como "pai do povo" , para salvar o País que ele destruiu?

E que você acha de todas essas perguntas, filho? Qual a sua opinião?

- Pai, o povo já respondeu a todas essas perguntas. Então, para que perguntar de novo?

- É técnica de marketing, meu filho. Ideia do Lula, para dar a impressão de que o governo não sabia de nada. Como ele nunca soube.


Freio de arrumação - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 09/07

Há um mês, desde que saíram as primeiras pesquisas de opinião registrando queda na avaliação positiva da presidente Dilma Rousseff - inicialmente de sete e, em seguida aos protestos, de 27 pontos porcentuais - o governo vive sob o efeito de um choque de realidade ao qual ainda não se adaptou.

A popularidade não era inabalável nem a aliança política tão sólida quanto desenhava o cenário de reeleição garantida. A esse novo quadro é que, na avaliação corrente nas bancadas do PT na Câmara e no Senado, o Palácio do Planalto não está dando as respostas adequadas.

O governo caiu das nuvens, mas ainda não conseguiu firmar os pés no chão. Continua operando no modo antigo, trabalhando com tentativas irrealistas de mudar de assunto e de compartilhar responsabilidades sem se concentrar na questão principal que emergiu das manifestações.

E qual é a questão? A existência de um "sentimento oposicionista" (a expressão é de um petista) que atinge os políticos e governantes de modo geral, os de oposição inclusive, mas prejudica muito mais quem detém mais poder e, portanto tem mais a perder: o governo federal.

Por enquanto o referido oposicionismo é difuso e não foi para lugar algum. "Pode ir para qualquer um", diz um deputado referindo-se às forças políticas que disputarão em 2014.

O receio de parlamentares do PT, no entanto, é que esse capital não possa ser recuperado pelo partido se o governo não se concentrar em tomar medidas concretas (e consistentes) na gestão da economia, na melhoria dos serviços públicos, na reconstrução do ambiente de confiança para o investidor, na segurança para o empresário.

De acordo com os que pensam assim, a hora não é de alimentar apelos pela candidatura do ex-presidente Lula - "é ruim para ele, para o governo e para o partido" - nem de insistir em propostas inexequíveis como a do plebiscito sobre reforma política em ritmo de passe de mágica, muito menos de se atritar com o Congresso.

O momento requer um freio de arrumação: parar de escrever por linhas tortas e and ar em linha reta para reconquistar a sociedade governando melhor. A recuperação da competitividade eleitoral e a reconstrução das alianças políticas seriam consequências naturais.

Testemunho. Militar aposentado, Athos Cardoso envia a seguinte mensagem a propósito do uso de aviões da Força Aérea Brasileira por autoridades que se sentem autorizadas a cometer qualquer tipo de abuso.

"Como coronel da ativa comandei o 4º Batalhão Especial de Fronteiras, guarnição mais a Oeste do Brasil, sediada em Rio Branco-AC. Foi de 1985 a 1988. A capital era a única do Brasil não ligada ao restante do Brasil por estrada asfaltada.

"Na época da terrível temporada de chuva amazônica, intransitável a rodovia, o rio ainda sem vazão para transporte fluvial; a cidade, isolada, só recebia suprimentos por via aérea. Faltava do óleo diesel ao papel higiênico.

"A família militar, com raríssimas exceções, passava quase dois anos na cidade sem viajar nas férias. As distâncias eram longas, as passagens aéreas inacessíveis. De 'caronas' pela FAB, nunca soube. Eu, o coronel comandante, viajava de Manaus para o Rio, com a passagem mais barata que existia. A do famoso 'Corujão'.

"Assisto, indignado, à postura do senador Renan, político profissional, rico, cheio de mordomias, viajando de carona na FAB. Ele finge não ouvir o clamor das ruas. Enfrenta e afronta a opinião pública. Pergunto: pode um político como ele comandar as mudanças políticas de que o Brasil precisa?".

Não poderia, não deveria nem estar onde está se o Congresso tivesse mais respeito pela opinião do público.

Descaminhos do governo - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 09/07

Quem está perdido não escolhe o caminho. Na ânsia de dar respostas aos anseios das ruas, a presidente Dilma se embrenha pelo perigoso caminho de tentar jogar sobre terceiras pessoas a responsabilidade pelas carências dos serviços públicos brasileiros, quando não busca respostas diversionistas para apresentar soluções fáceis para questões complexas.

A realização do plebiscito sobre a reforma política, que o bom senso e a legislação indicam ser impossível dentro dos prazos legais, voltou a ser questão de honra para o governo e deve ser uma das reivindicações em manifestações programadas para quinta-feira por centrais sindicais e movimentos sociais governistas, que pretendem ir para as ruas fazer o que o ex-presidente Lula chamou de luta de massas , contra a classe média conservadora que reivindica questões básicas da cidadania.

Dilma também afirmou recentemente que não está acuada e que vai defender o legado de seu governo nas ruas. A insistir nessa aventura, o governo terá contra si, se conseguir impor sua vontade à maioria do Congresso, o que é difícil, o Supremo Tribunal Federal, pois o Tribunal Superior Eleitoral já advertiu que questões que necessitem de reforma constitucional não podem ser resolvidas por plebiscitos.

Alguns juristas admitem que, se o plebiscito for autorizado por 3/5 da Câmara e do Senado, em duas votações em cada Casa, poderia tratar de temas constitucionais, mas essa é questão polêmica cuja discussão poderia ela mesma inviabilizar o plebiscito.

Além disso, há questões concretas a resolver, aparentemente insolúveis: como se formarão as frentes parlamentares em defesa deste ou daquele ponto da reforma, se um mesmo grupo de políticos unido por um dos pontos pode estar desunido entre si mais adiante, quando estiver em discussão outro ponto? Há o exemplo do plebiscito de 2007 na Venezuela, quando as alterações na Constituição foram apresentadas pelo então presidente Hugo Chávez e pelo Congresso.

Os 69 artigos alterados foram separados em dois blocos, o bloco A , com 46 artigos, e o bloco B , com outros 23 artigos, que deveriam ser respondidos por um simples sim ou não para o conjunto dos blocos. A confusão foi tão grande que o povo rejeitou todos os blocos.

Para completar, há ainda uma grave questão, num momento em que se exige gasto transparente do poder público: o custo básico de R$ 500 milhões previsto pode subir sem controle, pois não haverá tempo para licitações referentes à realização do plebiscito.

Anteriormente, o governo brasileiro já havia entrado em choque com a classe médica quando anunciou a contratação de seis mil médicos cubanos para suprir a falta de profissionais no interior do país, uma estranha escolha, pois os cubanos disponíveis são na maioria paramédicos, agentes de saúde, com cursos em média de três anos, que podem muito bem auxiliar na saúde da família, mas não supririam as necessidades de cidades do interior que, antes de tudo, precisam de boas instalações básicas, não necessariamente no padrão Fifa, para que o trabalho dos médicos fosse possível.

Além do mais havia aquela cláusula de que o pagamento seria feito ao governo cubano, que repassaria uma parte, provavelmente ínfima, aos médicos, nos moldes do que existe na Venezuela. Os médicos obedecem a restritas ordens do governo cubano e não podem se movimentar sem comunicar cada passo a uma organização central que controla o convênio, que tem rendido a Cuba muito dinheiro, comparável à verba do turismo. Mais parece uma maneira de poder financiar o governo amigo dos Castro do que de resolver questão crucial dos brasileiros.

Agora, vem o governo com essa ideia estapafúrdia de obrigar os estudantes de Medicina, após seis anos de curso e residência médica, a trabalhar no SUS, recebendo uma bolsa, para ter o diploma. Em vez de preparar plano de carreira no serviço público com estímulos a médicos no interior do país, o governo inventa uma utilização precarizada de médicos iniciantes, comparada pelas associações médicas a trabalho escravo .

Não é a solução para os anseios populares de uma medicina padrão Fifa , mas é mais uma fonte de desgaste com a classe médica.

MENINAS PODEROSAS - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 09/07

Oito em cada dez brasileiros são favoráveis à participação igualitária das mulheres nas Câmaras Municipais, nas Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional. O resultado é de pesquisa do Ibope/Instituto Patrícia Galvão que será divulgada hoje pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência.

PODEROSAS 2
Mesmo entre os homens, o apoio à presença feminina no poder é alto. Para 74% deles, as leis deveriam mudar para garantir que haja o mesmo número de mulheres e homens nos cargos políticos --entre elas, a taxa é de 85%. Foram ouvidas 2.000 pessoas em todas as regiões do país, em abril.

COMPASSO
O projeto para a vinda de médicos cubanos ao Brasil já tinha sido colocado em banho-maria, ainda no segundo mandato de Lula. Em viagem a Cuba, o então presidente chegou a se empolgar com a ideia. Mas a informação de que, dos US$ 4.000 pagos por profissional ao governo da ilha, só US$ 40 ficam com os doutores, fez com que ele desistisse de firmar convênio.

PEDIDO ESPECIAL
Na época, Lula foi informado de que só um país conseguiu contornar as regras cubanas: a África do Sul de Nelson Mandela, que pediu que o pagamento fosse feito diretamente aos médicos.

O DOUTOR SUMIU
E o então presidente Hugo Chávez fez há uma década, na Venezuela, o que o governo brasileiro agora anuncia: abriu vagas para médicos venezuelanos trabalharem em regiões carentes do país. Cerca de 50 apareceram. Ele então firmou o convênio com Cuba, que enviou ao país 20 mil profissionais.

MALA PERDIDA
A cantora Tulipa Ruiz teve a mala extraviada quando viajou de Lisboa a Roma e desde o dia 29 de junho está sem seu figurino para os shows da turnê que faz pela Europa. A cantora afirma que vai acionar a companhia TAP Portugal por danos morais e materiais.

SOTAQUE CAIPIRA
Aécio Neves vai concentrar baterias em SP. A cada viagem que fizer para uma região do Brasil, outra será dirigida ao Estado. Só até dezembro serão dez roteiros pelo interior. "Quero mostrar a centralidade dos paulistas nesse jogo [da sucessão de Dilma Rousseff]", afirma ele. No 27 de agosto, o tucano já visita Barretos (SP).

REGISTRO
O cartunista Laerte, que não entrou em uma festa promovida pela Companhia das Letras em Paraty, diz que não chegou a verificar se seu nome estava na lista de convidados. A editora, diz, teria deixado claro que era para ele ir ao evento. Laerte encontrou amigos e ficou "por ali, mesmo fora". Tinha muita gente na porta e por isso preferiu esperar.

AMIGO
A OAB-RJ foi aceita como "amicus curiae", ou "amigo da corte", para atuar no processo de distribuição dos royalties do petróleo no STF.

BELAS E FERAS
Mariana Ximenes estava tão à vontade na Flip que posou descalça em uma calçada de Paraty, no domingo. A atriz foi uma das convidadas da Casa do Autor Roteirista, evento paralelo à festa literária.

No mesmo cenário, a portuguesa Maria de Medeiros também leu contos --e fez pose ao cair da tarde. "A cidade é encantadora", elogiou a estrela de "Capitães de Abril" e "Pulp Fiction", em cartaz em São Paulo com a peça "Aos Nossos Filhos".

No fim de semana de encerramento, circularam pela Flip o ator Wagner Moura, Lobão e o banqueiro Pedro Moreira Salles (ver fotos). O chanceler Antonio Patriota esteve na plateia do debate sobre as manifestações que tomaram o país em junho.

O ministro das Relações Exteriores aplaudiu inclusive as críticas ao governo feitas pelo historiador T.J. Clark, o filósofo Vladimir Safatle e o psicanalista Tales Ab'Saber. Saiu antes do fim do painel.

Frei Betto ficou até o final. "As análises foram precisas. A esquerda tem que se reformular totalmente. O PT se divorciou dos movimentos sociais", diz ele. "CUT e UNE sofreram esse descolamento."

CURTO-CIRCUITO
A mostra "Mais de Mil Brinquedos para a Criança Brasileira" será aberta hoje, às 11h, no Sesc Pompeia.

No MIS, o Conexão Cultural terá exposições, música e gastronomia. Das 12h às 22h, no Jardim Europa.

A exposição "Tautorama", de Ana Tavares, será aberta hoje, às 15h, no Paço das Artes, na USP.

O musical "Madagascar" chega em 26/9 ao ginásio do Ibirapuera. Livre.

Cinco olhos, todos em você - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 09/07

Governo brasileiro tem mesmo que levar adiante iniciativas na ONU contra 'depredação' da privacidade


De todas as reações ao megaesquema de espionagem denunciado pelo agora célebre Edward Snowden, a mais efetiva foi a do governo brasileiro: além da óbvia "indignação" e do igualmente óbvio pedido de explicações aos Estados Unidos, "o Brasil lançará nas Nações Unidas iniciativas com o objetivo de proibir abusos e impedir a invasão da privacidade dos usuários das redes virtuais de comunicação, estabelecendo normas claras de comportamento dos Estados na área de informação e telecomunicações para garantir segurança cibernética que proteja os direitos dos cidadãos e preserve a soberania de todos os países."

É o que tem que ser feito. Indignação raramente resolve problemas diplomáticos. Explicações, os EUA já deram: o esquema é legal, pelo menos à luz da lei norte-americana.

Além disso, a nota do Itamaraty admite, implicitamente, que algum esquema de monitoramento continuará de pé mesmo que "se estabeleçam normas claras de comportamento dos Estados". Por isso, o objetivo é "proibir abusos", não o esquema em si.

Vigiar o terrorismo é necessário, mas os Estados Unidos, depois do 11 de Setembro, adotaram mecanismos que representam uma "imensa depredação de nossa privacidade", como escreve para "El País" Timothy Garton Ash, da Universidade de Oxford.

Também em "El País", no domingo, o jornalista Duncan Campbell dá novos detalhes da gigantesca operação de coleta de dados: "A organização multinacional de escutas Reino Unido/EUA, criada por vários tratados secretos do pós-guerra entre Estados Unidos e Grã-Bretanha, chama-se hoje a si própria Os Cinco Olhos', [que são] os serviços de inteligência de sinais dos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia".

Que esses "cinco olhos" olhassem para o Brasil pode causar indignação, mas não surpresa: embora o Brasil não seja centro de terrorismo, a complexa integração dos sistemas de comunicação eletrônica faz com que possam passar pelo Brasil ligações do Irã para a China, por exemplo, países sempre suspeitos para os EUA.

É razoável supor que seja essa a explicação que o governo norte-americano prometeu à Rede Globo dar ao Brasil: o objetivo é espionar os outros, não os brasileiros. Basta? Nem remotamente.

Nos documentos que Campbell obteve, "encontram-se numerosos comentários que demonstram que a maior satisfação, para os agentes dos serviços de inteligência, é vigiar tudo, abrir o maior número possível de sistemas de privacidade".

Mais: "Ainda que apliquem com exatidão as normas legais quando intervêm comunicações de seus próprios cidadãos, não têm esse cuidado quando se trata de cidadãos estrangeiros".

A vigilância, informa ainda Dempsey, "não serve somente para combater o terrorismo e o crime, mas também para obter informações econômicas, políticas e pessoais de todo tipo".

Natural, pois, que o Brasil e os brasileiros sintam-se apunhalados pelas costas.

Por isso, é indispensável que o governo vá além da indignação.

Salário e geladeira cheia - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 09/07

Em mais de uma área do serviço público, os últimos dias têm mostrado que, principalmente nas altas esferas do Estado, está ocorrendo uma farra com recursos do governo, em benefício do primeiro escalão.

É peculiar e desanima que isso ocorra também no Tribunal de Contas da União, um órgão que, como o nome indica e exige, deveria ser o primeiro a zelar pelo destino dos recursos oficiais. Pelo visto e provado, isso não ocorre.

Espanta e é desanimador que o TCU tenha metido a mão em pouco mais de R$ 1 milhão, exatamente no programa que, em tese, pelo menos, é destinado a permitir que o órgão seja o principal fiscal do comportamento de agentes do Estado no uso e destino de verbas públicas. E meteu a mão, vale repetir, para quê? Para depositar boa parte desse dinheiro nas contas bancárias pessoais dos próprios ministros do tribunal. Inclusive de seis já aposentados. O nome oficial dessa operação é “pagamento de auxílio-alimentação retroativa”.

O milhão foi partilhado por 12 ministros da ativa e seis já aposentados. É mais um capítulo de tramoia antiga. Trata-se de uma regalia que já foi denunciada há algum tempo, por motivo óbvio e simples: agentes do Estado são remunerados com salários que, até prova em contrário, correspondem ao trabalho que realizam, e são suficientes para a sua subsistência. Exatamente como acontece na iniciativa privada. Não há lógica alguma num pagamento extra para almoço e jantar às custas do Estado. Supostamente, os ministros do TCU são remunerados na medida dos serviços que prestam ao Estado — como todos os demais funcionários públicos. Mas a farra mais recente do auxílio não foi pequena. Alguns ministros ganharam mais de R$ 50 mil.

No fim das contas basta acrescentar o óbvio. A iniciativa privada inteligente remunera seus funcionários com salários pelo menos suficientes para que tenham teto e mesa posta para se alimentarem suficientemente.

É curioso, para não dizer absurdo, que alguns nichos do Estado somem, ao salário corretamente devido — e que não é pequeno no caso dos ministros do TCU —, a benesse de um auxílio-alimentação, que inclui até a legião dos aposentados.

O funeral de César - CRISTOVÃO TEZZA

GAZETA DO POVO - PR - 09/07

Um professor de História dos meus tempos de colégio fazia uma brincadeira para comentar a morte de Júlio César: Marco Antônio mudou o rumo do Império Romano ao transformar o tirano César num herói e Brutus, num traidor assassino, graças ao célebre discurso que Shakespeare escreveu para ele. Guardando as proporções, talvez seja o caso de o Planalto descobrir um Shakespeare que escreva um discurso revitalizando a presidente Dilma, porque a marquetagem não anda à altura da façanha.

Na magnífica cena da peça, a “voz do povo” vai rapidamente mudando de lado ao sopro sutil da retórica – o problema é que Marco Antônio tinha uma convicção e um talento que hoje não se encontram em parte alguma. Provou-se que “altos índices de popularidade” são um veneno paralisante. O que havia era apenas a máquina emperrada vivendo sua traiçoeira calmaria, sem perceber o beco sem saída em que estava entrando. Tranquilamente desprovido de projetos, o governo súbito desabou, passando uma impressão demolidora de não servir para nada.

O ano de 2013 vai dar pano para a manga de muita especulação teórica que tente explicar o que está acontecendo – os fatos e a gritante imaturidade para responder a eles, como essa proposta um tanto patética de plebiscito “para ontem”. E não faltou nem um providencial deputado corrupto atrás das grades (o que, pela espantosa raridade, sempre é bom). Mas sente-se algo de ruim na atmosfera brasileira, e é esse espectro inefável que deixa o país inquieto. A lista é grande, a começar pela sequência de crimes violentos de uma inaudita barbárie, mais o clima de guerra civil em todas as periferias das cidades; e, na outra ponta, os índices da educação básica, nossa única porta de saída consistente, patinam teimosos no mesmo lugar há praticamente uma geração (talvez não por falta de vontade, mas de um bom diagnóstico). Ao mesmo tempo, ativistas religiosos (num leque que vai do messianismo sincero à simples exploração política) solapam todos os dias o fundamento laico do Estado brasileiro, uma das boas coisas que conseguimos manter. Para completar, a produção de riqueza, via indústria ou agronegócio, afunila-se por onde quer que tenha de passar.

Pouco antes dos grandes protestos, a massa de gente nas filas da Caixa, atravancando-se em pânico pelos trocados do Bolsa Família, criou a percepção difusa de que algo errado acontecia (o que é injusto com os realmente necessitados). Em toda parte, sentia-se a catatonia política, refestelada em seus privilégios. Nesse panorama de desastres, em que reduções de IPI parecem ser a grande arma estratégica do Estado, dois únicos projetos iluminam o governo: o trem-bala e a Copa do Mundo, esses presentes de grego. Há um perfil trágico na figura de Dilma, ao não entender o porquê da ingratidão popular que irrompeu no país. E falta um Marco Antônio para lhe salvar a pele.


'Revolução' - VLADIMIR SAFATLE

FOLHA DE SP - 09/07

Um dos revisionismos mais evidentes da história brasileira diz respeito às leituras do levante que se iniciou em 9 de julho de 1932.

Faz parte do exercício da historiografia conservadora, em sua matriz paulista, vender a ideia de que uma típi- ca revolta oligárquica teria sido uma revolução popular. Dessa maneira, somos obrigados, desde 1997, a comemo- rar as aspirações da elite paulista de outrora em retomar o controle do país.

Não se trata aqui de fazer a apologia do varguismo, o que seria um exercício míope e equivocado.

A ditadura instaurada por Getúlio Vargas a partir de 1937 foi um dos momentos mais sombrios da história brasileira. Querer vender, entretanto, a ideia de que os paulistas se revoltaram para fundar uma institucionalidade democrática e defender a legalidade constitucional é algo da ordem da piada malfeita.

Expulsa do poder por ser o eixo de uma República de fachada, assentada sobre os piores laivos autoritários e periodicamente sacudida por revoltas populares, a eli-te paulista procurou criar para si uma história de gló- ria e resistência.

O descontentamento po- pular com os pilares da Re- pública oligárquica e com a sua política dos governado- res era de ordem tal que go- vernos como o do mineiro Arthur Bernardes somente fo-ram possíveis sob estado de sítio permanente.

Outros, como o do presidente Washington Luís, governaram sob a Lei Celerada, de 1927, que censurava a imprensa e restringia o direito de reunião. Contudo, na defesa entusiasta do "espírito insubmisso de nosso povo", tal descontentamento desaparece.

O fato impressionante é como tal momento é usado atualmente por alguns que procuram recriar nossa história como se ela fosse a luta contínua contra o "perigo populista".

Estes que têm um cuida- do especial para com o risco populista, sempre prontos a denunciar as pretensas derivas em direção às modalidades de "chavismo", são estranhamente complacentes com os fundamentos oligárquicos dos Poderes no Brasil e em nosso Estado de São Paulo. Talvez porque eles gostem mesmo é de uma República nos moldes da que existia no país até 1930.

Isso apenas demonstra como o escritor George Orwell estava certo ao lembrar que "quem controla o passado controla o futuro".

Os embates históricos têm a característica de nunca terminarem completamente, de ressoarem como matriz de compreensão das lutas presentes. Por isso, quando levarmos hoje nossas crian- ças para desfiles, seria bom nos perguntarmos o seguin- te: o que estamos mesmo comemorando?

Fogueira bizarra - XICO GRAZIANO

ESTADÃO - 09/07

Na época da Revolução Constitucionalista, em 1932, o Brasil passava por uma profunda transformação. O País essencialmente rural cedia espaço à nascente industrialização. Cresciam as cidades, mudava a sociedade. A oligarquia agrária perdera sua hegemonia no poder republicano.

Pouco antes, em outubro de 1930, o gaúcho Getúlio Vargas assumira a Presidência da República no bojo de outra revolução, mais significativa na História, encerrando a chamada República Velha. Até então, por longo período predominara a famosa "política do café com leite", durante a qual os Estados de São Paulo e de Minas Gerais fizeram um rodízio no mando do Brasil. O golpe militar tramado pela Aliança Liberal impediu a posse de Júlio Prestes, eleito naquele março com apoio de 90% dos votos paulistas.

No fundo, quem perdia mesmo eram os fazendeiros do café e seus mercadores. Após o ciclo da mineração, e com a mudança da capital do País para o Rio de Janeiro, a vida econômica da Nação havia se deslocado. Os cafezais, já por volta de 1850, tomavam conta do Vale do Paraíba e rumavam para as terras roxas de Campinas, atingindo depois, no estertor do século, a região de Ribeirão Preto. Finda a escravidão, implantou-se o colonato do café, constituído principalmente com imigrantes italianos, reforçando o poderio da economia paulista, cujas ferrovias escoavam o valioso "ouro verde" até o Porto de Santos. Época gloriosa.

Após 50 anos de prosperidade e bonança, começaram os problemas advindos da superprodução de café. Em 1905, segundo o historiador Caio Prado Jr. (História Econômica do Brasil, Ed. Brasiliense), os estoques de café estavam em 11 milhões de sacas (60 kg), cerca de 70% do consumo anual mundial. Os preços, obviamente, se rebaixaram, mobilizando os produtores a favor da intervenção pública na sustentação da sua renda. O governo interveio no mercado, realizando maciças compras da mercadoria, agradando momentaneamente aos cafeicultores. A política, porém, executada por duas décadas, alimentou um desastre.

Acontece que o mecanismo da formação de estoques públicos, ao manter os preços artificialmente elevados, continuava, como consequência, estimulando o plantio de novos cafezais. Crescia o desequilíbrio entre produção e consumo. A safra de 1927/1928 rendeu 26,1 milhões de sacas de café, 10% acima do consumo mundial no ano. Os estoques continuavam aumentando, onerando o governo e empurrando o problema para a frente. Comandando politicamente o Estado, em acordo com os interesses de Minas Gerais, a oligarquia cafeeira paulista progredia lançando notas promissórias contra o futuro. Tudo funcionou até chegar o craque da Bolsa de Nova York, em outubro de 1929. A quebradeira foi geral.

Cozinhadas durante toda a década de 1920, as insatisfações políticas somaram-se à crise econômica. Nesse contexto, a posse de Getúlio Vargas significava uma derrota do poderio econômico de São Paulo. A troca no comando político do País favoreceu os novos agentes empreendedores, ligados às nascentes classes médias e aos interesses das burguesias regionais, que se sentiam excluídas pela dominação cafeeira. Nas palavras de Boris Fausto, em seu extraordinário A Revolução de 30, o fim da hegemonia oligárquica forneceu ao Brasil um "atestado de ingresso na maioridade política". A burguesia do café, nas palavras dele, acabou "apeada do poder".

Nesse rompimento da História, quando a velha ordem agrícola é substituída pela lógica urbano-industrial, se escondem algumas das razões que geraram, dois anos depois, a Revolução Constitucionalista. Oficialmente, na visão construída pelos derrotados de 1930, a "Guerra Paulista" forçava a promulgação de uma nova Constituição para o Brasil. Embora seus argumentos fossem cívicos, sempre em defesa da democratização, a revolta de 1932 parece mais ter sido uma revanche política - que resultou frustrada - dos paulistas àqueles que lhes haviam surrupiado a centralidade do poder.

Talvez por essa razão até hoje a data cívica mais importante do Estado de São Paulo nunca tenha sido bem compreendida pela população. Nas escolas a meninada decora, mas não entende o porquê daquela encrenca. Parece uma fantasia da História. Na zona rural de vários municípios paulistas, porém, encontram-se vestígios das batalhas que envolveram cidades fronteiriças. Em Águas da Prata, na subida da Serra da Mantiqueira para Poços de Caldas, volta e meia se descobrem utensílios e munições enferrujadas como que a provar que, de fato, soldados por ali brigaram. Na região de Campinas, em Atibaia, Itapira, Bragança Paulista; no Vale do Paraíba, em Caçapava, Lorena, Cruzeiro; na divisa com o Paraná, em Buri, Guapiara, Itararé; todos esses lugares guardam duvidosas lembranças de uma incompreendida guerra.

Rendida a tropa constitucionalista, Getúlio Vargas nomeou Armando de Salles Oliveira interventor em São Paulo, reconciliando-se com a classe política paulista. A partir desse momento, todos se juntaram para resolver a mais difícil equação da história da política agrícola brasileira: o que fazer com as montanhas de café que se haviam formado nos armazéns por causa das compras públicas, desde 1906. Velhos, ardidos, mofados, os absurdos estoques pareciam invendáveis.

A solução encontrada foi a mais bizarra de todas: queimar os grãos. As fogueiras que esfumaçaram e aromatizaram a atmosfera destruíram, entre 1931 e 1943, cerca de 72 milhões de sacas de café em grão. Uma enormidade. Ocorreu, assim, na feliz expressão cunhada por Celso Furtado, uma "socialização dos prejuízos".

Nunca mais o Brasil pegou em armas para guerrear internamente. Nem cometeu de novo a insanidade de queimar café.