sábado, julho 23, 2011

KÁTIA ABREU - De quintal a reserva legal

De quintal a reserva legal
KÁTIA ABREU 
folha de sp - 23/07/11

O Brasil prosperou, e já não é quintal; mas, como exportador de alimentos, tornou-se réu ambiental


Houve um tempo em que os Estados Unidos se referiam ao Brasil, em tom jocoso, como "o nosso quintal", dito que aqui acatávamos como fatalismo humilhante.
Os tempos mudaram, o Brasil prosperou, não obstante exibir ainda imenso contencioso de problemas. Mas já não é quintal.
No setor agrícola, por exemplo, o Brasil passou, a partir de meados da década dos anos 1970, de importador de alimentos à autossuficiência.
Duas décadas depois, já disputava na linha de frente o mercado mundial como exportador.
Está hoje entre os três maiores exportadores mundiais, com potencial para superar os outros dois.
Nessa condição, deparou-se com outro tipo de pressão. Tornou-se réu ambiental.
Embora toda a revolução agrícola aqui processada, graças ao uso intensivo de tecnologia, tenha ocorrido praticamente sem expandir a área de plantio -a ocupação produtiva cresceu, em meio século, apenas 5%, de 23% para 28%-, o país está na lista negra das ONGs (organizações não governamentais) ambientais -a maioria estrangeiras.
É acusado de predador ambiental, não obstante, nesse período, a área preservada dentro das propriedades tenha aumentado 68,5%, já que nelas passou a ser exigido um percentual de vegetação nativa.
Hoje, o Brasil é o único grande produtor de alimentos a ter 61% de seu território intocado.
Não há nada semelhante no planeta, e os produtores brasileiros jamais postularam a redução dessa área de vegetação nativa, que, na Europa, é de -pasmem- 0,2% e nos Estados Unidos, de 23%, para citar apenas as duas regiões que sediam as ONGs que mais veemente pressão política e moral exercem sobre nossa produção rural.
O termo "reserva legal", que consta do Código Florestal, só existe aqui. É uma jabuticaba jurídica, que não agrega nenhuma função ambiental. Foi-nos imposta por essas ONGs, que não se mostram tão indignadas com a degradação ambiental em seus próprios países. Se "reserva legal" fosse unanimidade, não existiria só no Brasil.
O que está em pauta é uma guerra pelo mercado de alimentos, em que o ambiente é mero pretexto.
Alguns nela embarcam de boa-fé, por inocência e desinformação; outros, de má-fé mesmo. Duvidam?
Pois leiam o relatório "Farms here, forest there" ("Fazendas aqui, florestas lá"), da Shari Fem, David Gardiner & Associados, publicado em dezembro do ano passado.
Já no título, diz-se o que se pretende: que o Brasil arque sozinho com o ônus ambiental, enquanto os Estados Unidos cuidam da produção de madeira e de alimentos.
O documento, disponível no site da ONG Union of Concerned Scientists, faz minucioso estudo sobre os ganhos dos setores agropecuário e madeireiro norte-americanos, se obtiverem o que o relatório propõe: produção, aqui (Estados Unidos); preservação, lá (florestas tropicais -Brasil).
Vejam este trecho do relatório: "A agricultura dos Estados Unidos e as indústrias de produtos florestais podem se beneficiar financeiramente com a conservação das florestas tropicais por meio de políticas climáticas, (...), que poderiam aumentar nossa receita agrícola de US$ 190 bilhões para US$ 270 bilhões entre 2012 e 2030".
Em outro trecho: "Proteger as florestas tropicais através de financiamentos climáticos permitirá aos produtores de biocombustíveis nos Estados Unidos prosperarem com menos preocupações sobre o impacto ambiental de sua produção".
A síntese está nesta frase, de Dwayne Siekman, da Associação de Produtores de Milho de Ohio: "Parar o desmatamento tropical é uma vitória para a competitividade da agricultura dos EUA (...)".
Esses interesses estão mais do que nunca exacerbados com a perspectiva de aprovação, no Senado, do novo Código Florestal. Não se trata, porém, de ambiente, mas de luta por mercados. Querem nos passar de quintal a reserva legal.
O que é espantoso é a adesão entusiástica, quase religiosa, da militância ambientalista do Brasil, endossando as mesmas teses, mesmo as mais desonestas, em nome de não se sabe bem o quê.
Do interesse da população brasileira é que não é.

MÔNICA BERGAMO - 'NÃO SOU BANDIDO'

'NÃO SOU BANDIDO'
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 23/07/11



O dono do Porsche acusado de dirigir a 150 km/h e provocar um acidente fatal diz que o choque foi uma fatalidade e que está sendo estigmatizado

Horas depois de depor na polícia, na quinta, o engenheiro Marcelo Malvio Alvez de Lima, 36, recebeu a coluna para uma entrevista exclusiva. No escritório de seu advogado, Celso Vilardi, com a mãe, Mavilia, e da irmã, Elizabeth, falou sobre o acidente que vitimou a advogada Carolina Cintra Santos, 28, no dia 9. Ele dirigia um Porsche na rua Tabapuã, no Itaim Bibi. E ela, um Tucson na rua Bandeira Paulista. Os carros se chocaram no cruzamento. Marcelo é acusado pela polícia de homicídio doloso, em que há intenção de matar.

A VIDA
Meu sentimento é em relação à vida, ao significado das coisas, enfim, de como elas podem se dar de uma hora para a outra. Eu tinha uma vida boa. Acordo todos os dias cedo, trabalho, vou atrás das minhas coisas. Eu sou engenheiro civil, tenho uma construtora. Comecei meu negócio única e exclusivamente com a minha força de vontade. O meu pai veio de Portugal, foi dono de padaria. Como todo português imigrante, sempre trabalhou para ter as coisas. Graças a Deus eu tive um bom exemplo.

Com a mesma determinação, eu vou continuar. Com a cabeça erguida. Eu não posso desistir. Eu não mereço, as pessoas que estão comigo não merecem. Vou fazer o que estava fazendo. Desenvolver a minha vida, uma possível união com uma pessoa e continuar como qualquer pessoa que pensa na sua vida, no seu bem-estar, enfim.

O meu sentimento... se eu tivesse tomado um gole de água a mais, se o meu celular tivesse tocado, se tivesse acontecido alguma coisa [antes do acidente], cinco segundos a mais se passariam e isso não iria acontecer. E da mesma forma na vida dela. Nós dois nos encontramos no mesmo segundo, no mesmo local. A gente avalia se é uma coincidência ou se as coisas realmente têm que acontecer, têm um porquê.

Eu hoje saí que nem um bandido da delegacia. Eu não sou bandido. Aconteceu um acidente, uma fatalidade.

Notícia vende revista. Mas ela pode ser justa, pode ser o fato. Tem gente que quer acusar por acusar.

O CARRO

A notícia é porque o carro é de uma determinada marca. Eu não sou herdeiro, eu não sou multimilionário. Se eu tivesse comprado um apartamento de R$ 500 mil, seria [considerado] normal. Só que eu continuei morando com os meus pais. E comprei o carro há quatro meses. Era um sonho meu. Acho lindo, acho bacana. Sempre gostei desse carro, desde criança. Eu trabalhei, eu ganhei dinheiro, eu compro o que eu quiser. Infelizmente aconteceu essa desgraça.

Meu nome virou "dono do Porsche". É um absurdo. Eu tenho nome, família, sentimento. Sou uma pessoa. Nunca me envolvi num acidente. É fácil puxar a minha CNH [Carteira Nacional de Habilitação]. A última multa que eu tive foi com esse carro, eu estava a 86 km/h numa via de 80 km/h, no Guarujá.

O ACIDENTE
Eu estava parado no farol anterior com um carro que chama a atenção. Duas pessoas que olhavam demais para o carro começaram a vir na minha direção. O farol abriu e eu saí um pouco mais rápido. Não sei precisar a velocidade. Eu estava sozinho, não estava apostando corrida com ninguém. Estava sem sono, indo comer um lanche.

Eu posso ter passado da velocidade da via, que é 60 km/h. Mas eu definitivamente não estava a 150 km/h [velocidade apontada pela polícia]. Em 200 metros da rua Tabapuã, é muita velocidade, é absurdo. E eu estava parado no farol anterior. Eu não vinha correndo. E, se o farol da frente [onde ocorreu a batida] estivesse fechado, eu teria parado. Porque eu não passo em farol vermelho. [Pausadamente] Eu não passo em farol vermelho. Isso é um fato.

O farol estava verde, eu passei. Ela surgiu na minha frente. Eu me recordo de um vulto. Ela não estava parada. Ela estava a uma certa velocidade. Se ela estivesse parada, eu poderia desviar o carro, por reflexo. Só que não foi isso. Ela simplesmente apareceu. E cruzou a minha frente. Eu tive o reflexo de brecar.

Eu não sei se desmaiei, se estava acordado. Eu só me lembro de estar sentado no carro, com o telefone na mão, falando com um amigo meu: "Daniel, eu bati o carro, vem me ajudar, vem pra cá". E mais nada. A próxima imagem de que me recordo é já no pronto-socorro, as pessoas me acalmando, cortando a minha roupa. Apaguei novamente e só fui me lembrar de alguma coisa na UTI.

Eu tive fratura no osso do peito, no tórax, tive uma mancha no pulmão. Fiquei cinco dias no hospital, três na UTI. Bati a cabeça, tive que costurar a orelha. O cinto de segurança cortou a minha pele. Meu peito está roxo por conta do impacto.

BEBIDA
Eu tinha bebido não mais do que duas taças de vinho, com água junto, pelo menos uma hora e meia antes do acidente. Uma médica no hospital me disse: "Marcelo, você não estava embriagado. Eu cheirei a sua boca, não tinha presença de álcool. Isso tá no laudo assinado por mim".

IMPORTÂNCIA PARA O CARRO E NÃO PARA A VÍTIMA

Na hora, nada é óbvio. Só é óbvio que eu bati em alguma coisa e que eu tô naquela situação. Não era óbvio para mim: "Ah, eu bati em alguém, a pessoa pode estar ferida". Me disseram que eu falei essa frase [a TV Globo mostrou imagens do acidente em que Marcelo diz: "Bateram no meu carro"]. Se eu tive essa reação... é uma coisa que você pode falar. Mas isso não faz parte da minha natureza.

RESPONSABILIDADE
Eu estou sendo acusado de provocar a morte de uma pessoa. Se ela estivesse viva e eu, morto, eu seria acusado de suicídio? Não. Então aí ela ia ser acusada de ter provocado a morte de uma pessoa.

Eu estava de fato acima da velocidade permitida. Só que, se o farol estivesse vermelho para mim, eu teria parado. Se uma pessoa [a advogada] não passasse no farol vermelho, eu teria continuado.

A Justiça está aí para ser justa. Eu digo a verdade e ela está do meu lado. Meu advogado poderia alegar um monte de coisas. Imaginação não falta, provas não faltam. Não quero nada disso. As coisas se deram da forma que se deram. As pessoas arcaram com as consequências que o fato ocasionou.

Eu poderia ter morrido. Se for provado que a moça passou no farol vermelho, se ela é culpada ou se eu sou o culpado, é a lei dos homens que vai decidir. Só que o peso [voz embargada]... o envolvimento em um acidente em que uma pessoa faleceu é uma coisa exclusivamente minha. Não é do delegado, não é de quem lê revista, não é de quem faz a revista.

Eu queria entrar em contato com a família da vítima. Eu queria escrever uma carta. Eu não sei o que eles acham de mim. Eu só quero que eles saibam que eu não estava interessado no meu carro. Podem ter certeza absoluta de que eu não cometi nenhum ato de irresponsabilidade. A mensagem que eu gostaria de passar é que tudo tem um porquê. A gente tem que aceitar. Aconteceu um acidente, ela faleceu, com certeza isso estava nos planos de Deus.

Dizem que Deus não dá mais do que você pode carregar. Ele quis me mostrar alguma coisa. Se aconteceu comigo, tem um propósito. Vou encontrar esse propósito.

MAVILIA, A MÃE DE MARCELO, PEDE A PALAVRA
A gente não acredita no que está passando. A gente lamenta mais pela família da menina. Eu mandei rezar uma missa de sétimo dia pela menina, na igreja Nossa Senhora de Fátima. E o padre perguntou quem era a mãe dela. E eu me senti no lugar da mãe [chora]. E a dor que eu senti foi tão grande. Eu entendo o que ela está passando. Eu espero que ela perdoe o meu filho. E que entenda o que a gente está sofrendo.

"Meu nome virou 'dono do Porsche'. É um absurdo. Eu tenho nome, família, sentimento. Sou uma pessoa"

"[O carro] era um sonho. Acho lindo, bacana. Sempre gostei, desde criança"

"O farol estava verde, eu passei. Ela surgiu na minha frente. Eu me recordo de um vulto. Ela não estava parada"

"A gente tem que aceitar. Aconteceu um acidente, ela faleceu, com certeza isso estava nos planos de Deus"

CAGOT-SE?

MÍRIAM LEITÃO - Longo caminho


Longo caminho
MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 23/07/11

Na campanha eleitoral, a bem sucedida propaganda política mostrava a imagem de Dilma Rousseff sempre viajando pelo Brasil. Nas últimas semanas ela tem enfrentado uma batalha sem precedentes para limpar o Ministério dos Transportes. A luta contra a corrupção no ministério é também a luta por eficiência na logística e na economia do País.

As gangues que tomam o ministério não só desviam recursos, fazem acordos com comparsas para sobrepreços e aditivos, produzem eventos de enriquecimento súbito. Têm feito mais. A estrutura de transportes no Brasil é calamitosa e produz estatísticas aterradoras de mortes e perdas econômicas. As decisões tomadas pela presidente nos últimos dias terão efeito para além do ministério porque podem inibir um pouco a forma sem cerimônia com que se formam os grupos de corruptos que saqueiam os recursos públicos. Alerta e assusta corruptos de outros ministérios.

O desafio é a dimensão da tarefa de limpeza, mas nenhum problema do País se resolve num passe de mágica, mas pela sucessão de passos certos na direção desejada. Essa limpeza é sem dúvida um desses momentos em que o País tem o conforto de saber que está indo na direção certa.

A ação da presidente, contra todas as pressões políticas, abre a possibilidade de que o Ministério dos Transportes comece a fazer o trabalho indispensável de reduzir o enorme atraso na logística do País. O Brasil tem 212 mil quilômetros de estradas pavimentadas; a Índia, com um terço do nosso território, tem 1,5 milhão.

Temos uma malha ferroviária mínima para um país continental. Como mostrei num levantamento feito pelo Contas Abertas , o ministério tristemente famoso pelos desvios não consegue investir o que tem direito a fazê-lo pelo Orçamento: em 10 anos, a média de uso de recursos orçados é 57%. Alguns de seus dirigentes têm sido tão ágeis e criativos no desvio do dinheiro público; mas tão ineficientes em fazer o dinheiro público virar estradas boas e ampliar ferrovias. O ex-ministro Alfredo Nascimento comandou três vezes o ministério em 7 anos; ao todo, 5,5 anos no cargo. Evidentemente, provou que não era a pessoa certa.

Há tanto tempo se ouve que há corrupção no Ministério dos Transportes que o País já achava que era um problema insolúvel. Ninguém é ingênuo de pensar que ele desapareceu, mas estamos diante da maior faxina já feita em qualquer dos antros de roubo de dinheiro público da história recente. Alguns políticos da base fazem ameaças veladas à presidente, de que sua faxina pode abalar a coalizão.

Mas que lógica é essa de que a governante tem, então, de fechar os olhos para as denúncias e indícios gravíssimos, porque do contrário não terá votos no Congresso? Se é assim, o que essa chantagem explicita é um aviso de que a presidente não governe, e que apenas fique como peça decorativa na sua cadeira, para a qual foi levada por 55 milhões de votos.

Se Dilma continuar a limpeza, de que forma governará? Essa é a pergunta dos pragmáticos. Pode-se fazer a pergunta pelo ângulo correto: se ela não enfrentar a corrupção, de que forma governará?

As gangues dos Transportes vinham agindo com cada vez menos cerimônia. Recentemente uma consultoria foi convocada a fazer um estudo preliminar. Ela jamais fez estudos para o governo; nunca ofereceu serviços; foi convidada. Lá, falando com pessoas que jamais encontrou antes, ouviu o alerta de que seu estudo seria contratado desde que pagasse propina. O que deixou o interlocutor boquiaberto foi a maneira natural com que se cobrava propina de um estudo que ele não tinha oferecido, nem se dispôs a fazer.

A impunidade é ambiente propício para que esse tipo de comportamento se multiplique e faça parte da rotina dos órgãos públicos. É o fermento do roubo. Isso é que havia virado natural no Ministério dos Transportes e no Dnit e, infelizmente, não apenas lá.

Quando Dilma inicia essa faxina, ela está abrindo chances para conter casos semelhantes em outros órgãos, para aumentar a eficiência no uso do dinheiro que os cidadãos entregam ao governo através dos impostos, está também criando a chance de aumentar a competitividade da economia brasileira.

O País precisa desesperadamente de boas estradas e logística eficiente. Isso não se conseguirá com a manutenção de pessoas - técnicos ou políticos - flagrados nos casos de corrupção, ou compactuados com eles. As imagens da presidente na campanha eleitoral sempre em deslocamento pelo País foi uma boa jogada de marketing para firmar a ideia da gerente ativa. Mostrava estradas sempre boas. A cena era irreal, porque as estradas são calamitosas em sua maioria. Mas não é impossível sonhar com uma logística eficiente que pavimente o sonho do crescimento.

Combater a corrupção é parte do verdadeiro desenvolvimentismo; não aquele que maquia com um nome bonito avaliações econômicas equivocadas. Quando o Brasil começou a lutar contra a hiperinflação, a tarefa parecia impossível e muita gente dizia que a doença era parte da cultura nacional. A travessia do deserto foi longa. A luta contra a corrupção também será longa. A faxina no Ministério dos Transportes é sem dúvida parte da tentativa de encontrar o caminho certo.

JORGE BASTOS MORENO - NHENHENHÉM - A tosse

A faxina não tem limite

JORGE BASTOS MORENO - NHENHENHÉM
O GLOBO - 23/07/11

BRASÍLIA

Depois de seis meses e 29 dias contados em pauzinhos, feito calendário de cadeia, o ministro do Turismo, Pedro Novais, e eu fomos chamados ao Palácio para darmos explicações sobre nossas saliências. Como primeiro “blogueiro limpo” do governo, fui recebido, com pompas e circunstâncias, no palácio residencial do Alvorada, para um jantar. Não tinha visto ainda o Alvorada depois da reforma. Fiquei embasbacado, ao ponto de a anfitriã, a presidente Dilma, comentar:

— Você está parecendo a filha pequena do Obama, que disse uma coisa bonita ao entrar aqui. Ela não disse Palácio, disse casa: “Esta é a casa mais bonita que já vi na minha vida. Achei lindo!”

Fui fantasiado de repórter: gravador, bloco de papel, iPhone 4 e até caneta. Pensei: vai que num dia cheio como hoje, em que recebeu e negou-se a receber tanta gente, a presidente resolve falar. Suei frio só de pensar que ela quisesse me falar dessa maldita política industrial e, aí, eu tivesse de trabalhar. 

Mas a Dilma estava furiosa era com a Norma Pimentel Amaral. 

— Estou detestando a Norma! Não gosto do que ela faz, do seu jeito de agir. Passei a ter certeza de que, se a Norma Pimentel fosse do Dnit, já tinha sido afastada.

Aliás, quando eu estava chegando ao Alvorada, recebi um torpedo do diretor de Redação do GLOBO, Rodolfo Fernandes, assim: 

“Pergunta até onde vai a faxina?”

Ora, fui chamado para jantar na intimidade do poder só porque não sou desses repórteres chatos que querem saber de tudo. Eu só quero comer de tudo. A Dilma tinha preparado um banquete para mim, e não ficava bem eu incomodála. Mas chefe é chefe, e tive que cumprir a missão — Presidente, por mim, não tocava nesse assunto chato, mas o Rodolfo Fernandes me mandou perguntar até onde vai a faxina —- perguntei, tremendo de medo.

E ela se derreteu:

— Pois diga que o que ele chama de “faxina” não tem essa coisa de limite. O limite é mudar o Ministério dos Transportes. É transformar o Ministério dos Transportes naquilo que é o seu próprio papel: a base da infraestrutura do país. Mas também é bom que todos saibam que não estamos agindo politicamente contra um partido. A ação é sobre pessoas que agiram de forma errada, e nem todas essas pessoas são de um mesmo partido. Isso precisa ser esclarecido. 

Quando eu ia aprofundar o assunto, a presidente foi salva pelo gongo, com a chegada de uma convidada especial do jantar:

— Eu pedi para a ministra Helena Chagas não te avisar que teríamos a presença da sua nova musa: a ministra Gleisi Hoffmann.

E eu, já gaguejando de emoção:

— Eu fui o primeiro a dizer que ela seria ministra, e meus seguidores do Twitter brincaram que a senhora aceitou minha sugestão.

E a presidente:

— Pode espalhar que você que indicou. Eu deixo. E terás tomado uma das melhores decisões da tua vida. Depois disso, nem foi mais preciso eu perguntar se ela chamava a ministra de “a Dilma da Dilma”.

Eis os principais trechos da nossa conversa:

Solidão do poder
Com um governo tão agitado, Dilma diz ainda não ter experimentado a chamada solidão do poder:

— Passei a conviver, isto sim, com a decisão solitária. Presidente da República tem que decidir e ser responsável pela decisão. É o momento grave, importante, que eu tenho comigo mesma. Posso ouvir e ouço, mas a decisão é minha. Essa é a maior responsabilidade do presidente da República: saber decidir. 

— E, nessa hora sagrada, a senhora não pensa, por exemplo, o que fariam seus antecessores diante de situação semelhante? Sendo mais direto, a senhora não pensa se a sua decisão vai agradar ao Lula ou não?

— Olha, a responsabilidade é tão grande que a gente não pensa em agradar ou desagradar. A gente só pensa em tomar a decisão mais justa, mais correta. A responsabilidade é do presidente da República perante a nação. A responsabilidade do presidente da República é intransferível. Não dá para pensar em ninguém. 

Amizade com FH
Eu não ia entrar neste tema, mas foi a própria presidente que invadiu primeiro a minha intimidade. 

— Você tem que se definir entre a Mariana Ximenes e a Manuela D’Ávila — cobrou ela, sobre um assunto que falo mais adiante. Foi a deixa para eu entrar no tema preferido do colunista Nelson Motta:

— A senhora vive o mesmo dilema. Eu soube que o Lula cobra muito da senhora esta sua amizade com FH. Dilma reage no lance, quase pulando da cadeira: 

— Não é verdade! Isso não é verdade! O presidente Lula nunca tratou desse tema comigo, nem em brincadeira! — Diretamente, não. Mas ele já se queixou para terceiros na sua frente. Diante do fato, a confissão inevitável, e às gargalhadas:

— Meu Deus! Como esse Sérgio Cabral é fofoqueiro! Ah, ele me paga! Pode escrever, ele me paga! E já como ré confessa:

— Realmente, o presidente Fernando Henrique é uma pessoa muito civilizada, muito gentil. É uma conversa muito agradável. Tem gente que fica estarrecida com essa convivência, já que temos pensamentos políticos diferentes. 

Exatamente por isso é que as pessoas devem conversar. O governante, o político, não pode ficar limitado ao pensamento do seu grupo. Eu defendo a convivência dos contrários. Há pessoas muito agradáveis e inteligentes no governo e na oposição. Acho que, não só pelo prazer da boa prosa, mas, como presidente da República, tenho o dever de conversar com os diversos pensamentos da sociedade. Eu não sou presidente de um partido ou de uma coligação partidária, eu sou presidente da República.

E eu insistindo:

— Mas o PT não fica com ciúmes do FH?

— O PT já tá bem grandinho para não ter ciúmes de ninguém. Ciúme é um sentimento juvenil, eu acho. Tento mais uma investida, já na saída do encontro: 

— FH diz ter muitas saudades da piscina daqui. Quando ele era presidente, trouxe Lula aqui. Deixa ele tomar banho na piscina daqui, presidente! 

E a presidente, toda faceira, fazendo-se de desentendida:

— Mas neste frio?

Pronto, FH, bem que tentei te ajudar, mas não consegui.

Moda & musa
Dilma quis saber tudo sobre Mariana Ximenes. O gancho foi fácil, mas quase provoca uma briga entre as mulheres: os meus sapatos. Em resposta aos elogios, informei:

— Presente da Mariana Ximenes. Ela pediu para eu usá-los neste jantar. 

— Lindos — comentou a ministra Helena Chagas.

— Ferragamo — identificou Gleisi.

Respondi:

— Caríssimos!

Helena balança a cabeça de vergonha com a minha indiscrição.

Aí, começou a confusão. A Helena Chagas estranhou um sapato com furos, mas sem cadarço. A presidente zombou: — Helena, está na moda esse tipo de sapatos. Eu já vi vários assim, não tão lindos como estes. É chique: sapatos de cadarços sem cadarços.

Política e apoio
A presidente quis saber a diferença de idade entre a Mariana e a Manuela. Chocou-se ao saber que tinham a mesma idade: 30 anos.
— Gente, eu conheci a Manuela menina. As duas não parecem ter essa idade.

Fiz o comercial da Manu:

— E agora a senhora vai vê-la prefeita de Porto Alegre, se o PT deixar. 

— Mas o Tarso Genro me garantiu que vai apoiá-la! (Ah, se o jornal cortar esta parte!)

Fidelidade a Lula
A presidente sabe a data exata em que ela e Lula passaram a conviver com mais intimidade. — O curioso é que ele falava com todo mundo, menos comigo. Não me dava a menor pista de que eu era a escolhida. Hoje nós nos entendemos só com olhar. Não há como tentar nos separar. 

Mesmo assim, eu tento:

— O Lula tá agora em campanha pelo Nordeste. Campanha para quem?

A presidente rebate:

— Lula nasceu no meio do povo. Não imagino o Lula trancado num escritório. Ele é da rua, das praças. Adoro vê-lo beijando as pessoas nas ruas, fazendo um afago na dona Canô e fazendo a festa no Nordeste. 

Os mais queridos

Dilma sobre governadores:

— Tenho uma boa convivência com todos eles, inclusive com os da oposição. Gosto muito, mas gosto muito do Anastasia, por exemplo. E o Téo Vilela, o que é aquilo? Que simpatia, todo manhoso. É difícil não o atender! Eu adoro o Eduardo Campos, adoro a mulher dele, dona Renata. Eu só chamo assim porque o Eduardo Campos só chama ela de “dona Renata”. Ah, deixa eu falar do Jaques Wagner. Meu Deus! Se eu me esquecer do Jaques Wagner, não volto à Bahia. 

Mas o destaque vem mesmo para os meninos do Rio:

— Confesso que, no governo Lula, eu tinha um pouco de ciúmes com o Cabral. Agora deveria ocorrer o inverso: o Lula ter ciúmes do Cabral. Só que Lula também adora o Cabral. Pezão, nem se fala. Pezão é companheiro que todo governante gostaria de ter por perto... — e desanda a falar do vice-governador, chamando-o de “o leão da montanha”, por tê-lo visto trabalhando como louco na tragédia da Serra.

Brinco que, em vez de ciúmes, Maria Lúcia, a mulher de Pezão, fica toda orgulhosa dessa relação. E ela: 

— A Maria Lúcia é um doce de pessoa. Ela sabe, e eu já disse isso pro Pezão, que o marido dela não tem olhos para mim, só para o dinheiro do governo. O Pezão não sabe a cor dos meus olhos. Ele parece a história do Tio Patinhas, que no lugar dos olhos da pessoa só via duas moedas. Ele só sabe pedir e pedir dinheiro. Injustiça a um brasileiro.

Dilma fala com o coração:

— Uma das coisas mais tristes da política é a ingratidão. O exemplo maior é Ulysses Guimarães. Devemos ao esforço dele, à luta dele, o fato de estarmos hoje numa democracia. É muito triste o que fizeram com ele. Foi aí que fiz a minha primeira provocação contra o principal aliado, o PMDB:

— Fizeram isso com ele e farão com a senhora. Aliás, já fizeram: tiraram a senhora e ele do programa de TV. Eu disse ao seu vice que o doutor Ulysses, nesse veto, estava em boa companhia. E a presidente, tampando a boca como se estivesse surpresa e docemente constrangida:

— Você falou isso para o vice-presidente?

A presidente disse que os ensinamentos políticos de Ulysses Guimarães nunca perderão a atualidade. E lembrou uma de suas famosas frases: “O corrupto suja a denúncia que faz. Quando aponta o erro, não quer justiça, quer cúmplice.”

PAUL KRUGMAN - A Pequena Depressão

A Pequena Depressão
PAUL KRUGMAN
FOLHA DE SP - 23/07/11
As negociações de dívida, se derem certo, repetirão o grande erro de 1937: opção prematura por contração fiscal freará a recuperação

Estes são tempos interessantes -no pior sentido. Estamos diante não de uma crise iminente, mas de duas, com riscos de desastre global. Nos EUA, fanáticos de direita no Congresso podem bloquear a elevação necessária do teto da dívida. E, se o plano que acaba de ser acordado por chefes de Estado europeus não acalmar os mercados mundiais, poderemos ver dominós caindo em todo o sul da Europa. Potencialmente, as duas semeariam o caos.
Mesmo que consigamos evitar uma catástrofe imediata, é praticamente garantido que os acordos que estão sendo fechados de cada lado do Atlântico agravem a depressão.
Os responsáveis pelas decisões econômicas parecem determinados a perpetuar algo que chamo de a Pequena Depressão -o período prolongado de desemprego alto que começou com a Grande Recessão de 2007-2009 e continua até hoje.
A grande bolha imobiliária da década passada, fenômeno americano e europeu, foi acompanhada por um aumento enorme na dívida das famílias. Quando a bolha estourou, a construção imobiliária residencial caiu vertiginosamente, assim como os gastos dos consumidores.
Tudo ainda poderia ter dado certo se outros atores econômicos importantes tivessem elevado gastos. Mas ninguém o fez. E os governos tampouco fazem muito para ajudar. Alguns foram, pelo contrário, obrigados a reduzir gastos em vista da queda das receitas. Os esforços modestos de governos fortes (incluindo o plano de estímulo de Obama) mal foram suficientes para contrabalançar essa austeridade forçada.
Portanto, estamos com economias enfraquecidas. O que os governantes propõem? Menos que nada.
Anteontem, os "chefes de Estado ou governo da área do euro" divulgaram seu grande acordo. Não foi tranquilizador. É difícil acreditar que a engenharia financeira que o comunicado propõe resolva a crise grega, que dirá a europeia.
Mas, mesmo que resolva, o que vai acontecer a seguir? O comunicado prevê fortes reduções do deficit "em todos os países exceto os que estão em um programa", a acontecer "até 2013 no mais tardar".
Como os países "que estão em um programa" estão sendo forçados a aderir à austeridade fiscal drástica, isso equivale a planejar que toda a Europa reduza gastos ao mesmo tempo. E nada sugere que em menos de dois anos o setor privado estará preparado para tomar medidas para que a economia cresça.
Para quem conhece a história dos anos 30, soa muito familiar. Se alguma das duas negociações de dívida fracassar, é possível que estejamos perto de um replay de 1931, o colapso global dos bancos que fez a Grande Depressão ser tão grande.
Mas, se elas derem certo, estaremos prestes a repetir o grande erro de 1937: a opção prematura por contração fiscal que fez a recuperação descarrilar e garantiu que a Depressão continuasse até que a Segunda Guerra finalmente deu à economia o incentivo de que ela precisava.
Há um ditado antigo: "Você não sabe, meu filho, com quão pouca sabedoria o mundo é governado". As elites de ambos os lados do Atlântico mostram incompetência em sua resposta ao trauma econômico, ignorando todas as lições da história.

Tradução de CLARA ALLAIN

GOSTOSA

RICARDO BRAND - Guerra fiscal sem controle

Guerra fiscal sem controle
RICARDO BRAND
O GLOBO - 23/07/11

Atire a primeira pedra na política de benefícios fiscais quem entender que o renascimento da indústria naval do Rio de Janeiro poderia esperar a formulação de um pacto nacional sobre incentivos fiscais. Ou, ainda, aqueles que julgam que o Brasil possui carga tributária adequada e bem distribuída, e que eventuais intervenções pontuais e urgentes podem esperar até que os representantes de todos os Estados entrem em um consenso sobre como harmonizar nosso sistema tributário.

Condenar a guerra fiscal é fechar os olhos para uma dura realidade regional. Num país em que a União discute há décadas a reforma tributária, os governadores e prefeitos têm que dar resposta política imediata aos seus desafios econômicos. E, aí, não tem segredo: a política de incentivos fiscais pode significar a diferença entre o desenvolvimento e a estagnação.

Entender o incentivo fiscal como algo positivo ou, vá lá, inevitável significa concordar com todas as iniciativas governamentais nessa área? Claro que não, pois, com tanto benefício na praça, é quase impossível que não haja algo por extinguir, consertar ou aprimorar.

Separar o joio do trigo, eis a questão. Não se trata de uma tarefa trivial. Vivemos em um país pródigo em exemplos de boas intenções, acompanhadas de ideias geniais que se perderam na falta de uma política capaz de manter a sanha dos espertalhões sob controle. Gravadas em nossa memória estão as finadas Sudam e Sudene, que começaram suas trajetórias nos cadernos de economia e terminaram nos de polícia. Reiteremos o óbvio: conceder benefícios sem a preocupação com a transparência e o estabelecimento de controles é o melhor caminho para fomentar um ambiente propício para o saque do erário público. Levando em conta esse histórico sombrio, é imperativo não só discutir benefícios e beneficiados do Rio de Janeiro como também conferir se o poder público tem estrutura para dar transparência e controlar tais incentivos.

No quesito transparência constata-se que ainda há muito que se fazer. Isso porque documentos oficiais como o Orçamento do Estado e o Boletim de Transparência Fiscal editado pela Secretaria de Fazenda ignoram solenemente o tema. Convenhamos, sequer mencionar nos relatórios financeiros um item que alcança, por baixo, a cifra de 12 bilhões é imperdoável. Pressionada pela imprensa e pelo poder legislativo, a administração pública começa a jogar luz sobre o tema. A expectativa é de que a saia justa resulte em uma mudança nessa incompreensível política de silêncio.

Urge também indagar: o Estado do Rio de Janeiro controla os incentivos fiscais que generosamente concede? No calor dos questionamentos sobre o tema, administração da Secretaria de Fazenda admitiu suas limitações e propôs a criação de um cadastro nacional de empresas candidatas a benefícios fiscais. Trata-se de mais uma ideia muito bem-vinda, mas que fique claro que não trata de algo imprescindível para acompanhar de perto quanto se dá e se recebe. Se invocamos a autonomia para conceder os benefícios, não é coerente colocar na conta da federação o ônus do seu controle.

Sabendo-se que recursos humanos e financeiros não faltam à Secretaria de Fazenda, fica a certeza de que basta a vontade política para a correção dos rumos na divulgação e controle dos benefícios fiscais. Que o presente debate sirva para trazê-la à tona. A sociedade agradece.

RICARDO BRAND é auditor fiscal da Receita Estadual do Rio de Janeiro.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Mais que um "dedaço"
RENATA LO PRETE
RANIER BRAGON - interino
FOLHA DE SP

A candidatura do ministro Fernando Haddad (Educação) à Prefeitura de SP deixou de ser tratada no PT paulista como uma bandeira exclusiva do ex-presidente Lula. Ala expressiva do partido, que enxerga na disputa municipal chances concretas de vitória, advoga o nome de Haddad, ainda neófito nas bases petistas, como o único capaz de ultrapassar o teto histórico de votos da sigla na capital, na casa dos 35%.
Com Aloizio Mercadante emitindo sinais de distanciamento do processo eleitoral e a senadora Marta Suplicy na expectativa do ingresso de José Serra (PSDB) na briga, o ministro já ensaia o mantra da pré-campanha. Será apresentado como "o homem que franqueou as faculdades aos menos favorecidos".

O articulador
Num primeiro momento, Lula se empenhará na construção de uma aliança que reproduza o arco que deu sustentação ao seu governo. No PT, é consenso que a exposição do ex-presidente em palanques será "moderada", já que a participação ostensiva tem eficácia duvidosa no Estado.

Prazo de validade 

Primeira mulher a chefiar a equipe de ajudantes de ordens da Presidência, Ester Homsani deixou o cargo no dia 15 de junho. Apesar de continuar lotada no gabinete pessoal, não faz mais o atendimento direto de Dilma Rousseff. Ela foi substituída por Márcia Boueri, também da Marinha. Segundo relatos, o estilo da petista teria contribuído para a troca.

Outro foco 
No primeiro evento regional do Brasil sem Miséria, na segunda-feira em Arapiraca (AL), os grupos Pão de Açúcar, Wallmart e G Barbosa farão a primeira compra de produtos de agricultores familiares. Dilma também assinará decreto que dará início ao Água para Todos, de construção de cisternas e adutoras.

#meengana 
A presidente não deu sinal de vida, em sem mandato, aos seus mais de 700 mil seguidores no Twitter -apesar de sua última mensagem, em dezembro, encerrar com a seguinte promessa: "Vamos conversar mais em 2011".

Sem notícia 

O ex-ministro de Relações Exteriores Celso Amorim, que é amigo do chanceler da Noruega, Jonas Gahr Store, disse estar chocado com o ocorrido em Oslo e que tentou, sem sucesso, contato ontem com a embaixada brasileira no país.

Terceirização
Acuado pela polêmica envolvendo a injeção de verba pública no Itaquerão, o governo paulista ainda pretende reivindicar à Fifa ao menos parte da cifra necessária para custear a capacidade extra que tornaria o estádio apto a abrir a Copa.

Não é bem assim 
A verba adicional que a entidade destina à sede da abertura, porém, diz respeito especificamente às áreas de hospitalidade no entorno da arena.

Imersão 

O PSDB paulistano vai pegar carona no tema: os tucanos já programam workshop para Itaquera em que serão divulgadas as obras da infraestrutura e mobilidade que ficarão como legado para o bairro da zona leste no pós-Copa.

Prêmio vitalício 
A ser preenchida em 2012 por Geraldo Alckmin, a vaga do conselheiro Eduardo Bittencourt Carvalho no TCE-SP é cobiçada por dois deputados: o federal Dimas Ramalho (PPS) e o estadual Jorge Caruso (PMDB).

Bruxo 

O governador Antonio Anastasia (PSDB-MG) ironizou dias atrás protesto de professores em greve por mudanças salariais. Eles usavam fantasias com chapéus roxos de ponta: -"Achei que fosse uma homenagem ao Harry Potter".

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio

"Tem tanta besteira no blog do Garotinho que deve ser ele mesmo quem escreve."
DO EX-DEPUTADO INDIO DA COSTA (RJ), sobre texto na internet em que Garotinho o acusa de tentar enfraquecê-lo politicamente no Estado a mando do governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ).

contraponto

Na mira
Michel Temer acompanhava o ministro Nelson Jobim (Defesa) no lançamento de mísseis em uma área de treinamento em Goiás, na quinta-feira, quando um repórter perguntou ao vice-presidente:
- O senhor teme que o PMDB seja o próximo alvo destas denúncias contra o governo?
Temer brincou, levando Jobim às gargalhadas:
- Você está me perguntando sobre alvo porque a gente está na linha de tiro, né? Mas não, aqui a gente só está falando de alvo físico.

MERVAL PEREIRA - Dilma e sua armadilha

Dilma e sua armadilha
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 23/07/11
Pesquisas encomendadas pelo Palácio do Planalto mostram que a opinião pública está gostando do termo "faxina", e o marketing oficial vai investir nesse conceito. Certamente será mais difícil fazer uma campanha publicitária na base da limpeza ética do que foi, por exemplo, nos idos dos anos 1960 para Jânio Quadros, que se elegeu tendo como símbolo uma vassoura para varrer a sujeira que acusava Juscelino Kubitschek de ter produzido.

Mas Jânio era da UDN, e JK, do PSD, um combatia o outro, e a polarização era natural. É interessante até notar que os petistas têm mania de acusar os que denunciam as irregularidades no governo de "udenistas", para transformar as denúncias em meros reflexos de um moralismo hipócrita.

E também é engraçado lembrar que Leonel Brizola colocou no PT o apelido de "UDN de macacão", justamente porque o PT baseou toda a sua luta política, até chegar ao poder, nas denúncias contra os governos do momento, fossem eles quais fossem.

O PT se vendia ao eleitorado como o guardião da ética na política, e hoje se transformou em vidraça, acusando os que o acusam do mesmo moralismo inconsequente.

Hoje, Dilma está no Palácio do Planalto por obra e graça de Lula, e seu papel é o de realizar um governo de continuidade, para isso foi eleita.

Como então fazer uma faxina geral onde se pressupõe o prosseguimento dos mesmos projetos, dos mesmos planos, que aliás eram coordenados por ela, Dilma, que na chefia do Casa Civil era uma espécie de alter ego de Lula, a se acreditar na campanha eleitoral que a elegeu?

A própria presidente Dilma, em conversa recente, declarou-se um "avatar" de Lula.

As circunstâncias políticas fizeram com que a "faxina" tenha começado pelo Ministério dos Transportes, por coincidência (ou não) um dos muitos ocupados por indicações pessoais do ex-presidente Lula.

E, para azar de seus pecados, um ministério onde as principais obras do PAC estão aninhadas, o que equivale dizer que essa "faxina" deveria ter sido feita lá atrás, quando Dilma despachava quase que diariamente com o então ministro Alfredo Nascimento, responsável por todos os órgãos hoje envolvidos nas denúncias de corrupção.

Na crise do ex-ministro Antonio Palocci (outra indicação pessoal de Lula, por sinal), a presidente Dilma agiu com lentidão e acabou tendo sua imagem prejudicada junto com a do seu principal ministro, e justamente por isso nesta segunda crise está agindo mais rápido.

E está dando certo, está sendo bem percebida pela opinião pública. É evidente que ela sai desta crise com maior apoio de setores que provavelmente não votaram nela, uma classe média dos grandes centros urbanos que tende a votar com a oposição justamente devido, entre outras coisas, a valores como a questão da corrupção governamental.

Esses eleitores-cidadãos estão vendo nas atitudes da Dilma uma mudança de posicionamento que lhes agrada, e continuam dando um voto de confiança à presidente para ver se ela está realmente se afirmando nesse combate.

Essa mudança de estilo de governar diz muito, mas ainda não está claro o que surgirá dessa metamorfose. Ela certamente perde apoio no Congresso ao não aceitar que o pragmatismo que marcou o relacionamento de Lula com os aliados prepondere, acima dos valores éticos da atuação política.

Vai ficar muito fragilizada junto a sua base aliada porque, além do PR que está na berlinda, todos os demais partidos da base devem estar muito inseguros com essa mudança de ventos, com a nova maneira de a banda governista tocar.

Ainda mais tendo Lula como padrinho, dando palpites sobre a adequação das medidas e insinuando que os inocentes têm que ser readmitidos.

Não é por acaso que os parlamentares do PR, e até mesmo do PMDB, já estão ameaçando engrossar as assinaturas para a convocação da CPI do Ministério dos Transportes, uma maneira de pressionar o Palácio do Planalto, pois faltam apenas quatro assinaturas para a oposição conseguir convocar a CPI.

Além do mais, a presidente, colocando-se nesse caminho, está armando uma armadilha para si própria, pois vai ter que agir da mesma maneira em qualquer outro ministério em que apareçam acusações de corrupção.

E elas aparecerão, porque o "fogo amigo" vai continuar a atuar firmemente, não há dúvidas de que o PR já está fazendo levantamentos sobre o PT, o PMDB e outros partidos que porventura estejam envolvidos em tramoias, para criar uma situação de constrangimento generalizado, ou até mesmo exigir isonomia no tratamento dos aliados.

Não foi à toa que o diretor do Dnit indicado pelo PT, Hideraldo Caron, acabou tendo que pedir demissão. Ele estava conseguindo se segurar no cargo às custas de muita pressão do partido, mas acabou tendo que sair quando surgiram denúncias de corrupção na sua área de atuação direta.

Antes mesmo das denúncias, porém, a presidente Dilma já o havia tirado das reuniões do PAC em que ele seria o relator do andamento das obras, ocasião em que pretendia demonstrar seu prestígio junto ao Palácio do Planalto.

A presidente Dilma terá que enfrentar uma rebelião em sua base aliada, mesmo que seja uma rebelião surda, que não se explicite em denúncias como as que, vindas do PTB, que também estava na base aliada de Lula, desencadearam a crise do mensalão. Somente um aliado sabe do papel de cada um nas negociações internas, e pode fazer esse tipo de denúncia.

A presidente Dilma está agindo certo, desde que tenha um Plano B para enfrentar essa rebelião previsível. Se suas atitudes obedecerem apenas a um voluntarismo sem base de sustentação política, certamente temos uma crise institucional grave a caminho.

DILMA CABEÇA OCA

FERNANDO RODRIGUES - O astral de Dilma

O astral de Dilma
FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 23/07/11
BRASÍLIA - A conversa estava marcada para as 11h30. Às 11h34, Dilma Rousseff começou o encontro ontem com cinco jornalistas numa sala do terceiro andar do Palácio do Planalto. Eis aí uma característica rara nos políticos, a pontualidade.
Ela surgiu calma, usando um terninho preto e aparentando estar mais magra. E a saúde? Respondeu de maneira telegráfica a essa pergunta: "Está muito bem".
A presidente parece sorver com prazer o seu atual momento. Demonstrou segurança ao falar da razia que protagonizou no Ministério dos Transportes. Queria dar uma informação pontual. Encaixou o dado na parte final da entrevista: vai mandar embora todos os diretores do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Valec, a estatal federal do setor de ferrovias.
Dilma parece satisfeita com esse primeiro round da disputa entre o Planalto e uma parte da fisiologia mais abjeta da micropolítica nacional. Não está claro qual será o resultado final do embate, mas certamente ela hoje está em vantagem sobre a turma da rapinagem.
A presidente falaria por 30 minutos. A conversa durou uma hora e meia. Não se permitiu gravar o áudio nem fazer fotografias.
Houve poucas menções ao trabalho da mídia. Uma delas: "Tem coisas que saem no jornal que não correspondem à realidade. Eu entendo que dá manchete ter crise". Era uma referência às relações conturbadas entre o Planalto e o Congresso -que correspondem à realidade, como se sabe.
A partir da próxima semana, a presidente deve ficar mais fora de Brasília. Participa em Arapiraca, em Alagoas, de uma cerimônia do Brasil sem Miséria. No meio da semana, estará no Peru, na posse de Ollanta Humala. E no sábado, vai ao Rio para o sorteio das eliminatórias da Copa do Mundo. Dilma está mais solta. As demissões fizeram bem ao astral do Planalto. Quanto vai durar isso, ninguém sabe.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Eu acho que não precisava (tanta demissão)”
Hideraldo Caron, ex-diretor do DNIT, na porta do Palácio do Planalto, após sua demissão

Negromonte e Lupi na mira do Palácio 
A presidente Dilma Rousseff não descarta uma minirreforma ministerial antes de dezembro. E dois ministros estão na mira da chefe: o do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), e o das Cidades, Mário Negromonte (PP). Não só por conta do desgaste nas pastas, mas também pelo descontrole deles sobre os líderes do PDT e PP na Câmara, Paulinho da Força e Nelson Meurer, que não economizam críticas ao governo pela imprensa.

Gritaria no gramado 
O Palácio não engole Paulinho com o movimento da Força Sindical pela PEC das 40 horas, e pela PEC 300, a do salário padrão dos policiais.

Te cuida 
Lupi e Negromonte já foram avisados para segurarem suas bancadas ou haverá retaliação. Por enquanto, eles se fazem de surdos.

Metralhadora giratória 
Dilma ficou abalada com a demissão de Erenice Guerra por Lula. E decidiu que pau que dá em Erenice, dá em Palocci e outros.

Leilão 
Após deixar o PSDB, o ex-deputado Gustavo Fruet (PR) é assediado por PR, PSC, PV e PDT. Os dois últimos oferecem o controle do diretório.

Líder do PR “negociou” igreja de jogador 
O líder do PR na Câmara, o deputado e pastor Lincoln Portela (MG), ajudou a Igreja Batista Solidária, da qual faz parte, a comprar o templo da Igreja Pentecostal Vida com Deus, do ex-jogador da Seleção Müller, em Belo Horizonte.
O negócio fechado há dois meses passou de R$ 1 milhão. Portela atuou como consultor. O templo fundado pelo ex-jogador estava abandonado há cinco anos. Müller ainda conta os prejuízos.

Eike x Artur
Dono dos grandes contratos terceirizados no Rio, Arthur Soares, morador de Miami e conhecido financiador, perde espaço no governo do Estado.

Pergunta na sacristia 
Lula está pedindo que esqueçam o que ele escreveu, dizendo agora que “é bobagem” o que a Bíblia fala sobre o reino dos céus para os pobres?

Você já sabia 
A notícia da “agilização” da Anac na concessão de licença para pilotos, arriscando a segurança dos voos, foi antecipada nesta coluna, dia 8. 

Essa Jurema... 
A Construtora Jurema, dos irmãos do deputado Marcelo Castro (PMDB-PI) e clientes vips do Dnit no Estado, também faturou mais R$ 4 milhões do Departamento de Estradas e Rodagem do Piauí, administrado por Severo Eulálio, que é... irmão do deputado estadual Kleber Eulálio.

The check is on... 
A Uninorte, em Manaus, aumentou a mensalidade do curso de Comunicação sem explicações, de R$ 532 para R$ 569. Controlada por um grupo americano, tem em seu conselho o ex-presidente Bill Clinton.

Silêncio na arquibancada 
O PCdoB, histórico defensor da meia entrada para estudantes e hoje na organização da Copa, lavou as mãos. A Fifa proibiu o desconto em qualquer ingresso para os jogos. Os comunistas se calaram.

Compasso de compadres 
Arquiteto da Infraero para reforma do Aeroporto JK, Clerton Assunção foi convocado pelo superintendente da estatal André Barros para reformar a casa da família em Brasília. Diz que foi um contrato particular. Tá bom.

Bambu x Marmita 
O prefeito de Mariana (MG), Geraldo Sales (PDT), o “Bambu”, que perdeu o mandato e o reconquistou por força da Justiça no mesmo dia, perdeu também a compostura. Na terça, desferiu um soco num Guarda Municipal, Allisson Santos, o “Marmita”, porque ele criticou sua gestão.

Contramão 
O aspone top-top Marco Aurélio Garcia e o chanceler Antônio Patriota reafirmaram ao governo sírio a confiança do Brasil nas “reformas” do ditador Assad, que prende, tortura e mata opositores há meses. 

Mega 
Acabaram os “problemas operacionais” noticiados na coluna, dia 7, que ameaçavam a inauguração de seu Glória Palace para a Copa no Rio: Eike Batista ganhou empréstimo de R$146,5 milhões do BNDES.

Ronda do mal 
A Noruega pagou ontem o preço da liderança em tecnologia, qualidade de vida e bem-estar social, atacada pela horda de fanáticos que treinam crianças e mulheres para se explodirem nas ruas em nome de seu Deus.

Pensando bem... 
Lula agora também é “consultor para assuntos divinos”. 

PODER SEM PUDOR
Olho no lance 
A presidente Dilma Rousseff ciceroneava os convidados da base aliada em coquetel no Palácio do Planalto, há duas semanas, quando a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, a interrompeu: 
– Presidente, temos que terminar o encontro. 
– Mas quem tem que ter pressa aqui sou eu – rebateu a chefe. 
– É que tem jogo do Brasil, e eles querem assistir... 
– Ah, então vamos tirar a foto logo – concluiu a presidente, que não perde um jogo da seleção brasileira.