quarta-feira, fevereiro 01, 2012

O Brasil irregular - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 01/02/12

Tragédias como o desabamento dos três prédios no centro do Rio não são corriqueiras, mas o motivo pelo qual acontecem é. E continuará sendo enquanto o Brasil seguir desprezando as leis, como se lei fosse coisa pra gente sem imaginação. Podemos ter virado exemplo de economia bem gerida, mas enquanto a irresponsabilidade se mantiver como nossa conduta padrão, continuaremos campeões em violência no trânsito, em mortes em corredores de hospitais, em deslizamentos que soterram famílias, em intoxicações e outras “fatalidades”.

Lei existe para determinar o que pode e o que não pode. Parece óbvio, mas muita gente matou essa aula.

Não se pode fazer uma obra sem o laudo de um engenheiro e a autorização da prefeitura. Não se pode dirigir alcoolizado. Não pode um médico faltar ao plantão. Não pode um barraco ser construído de qualquer jeito em cima de um morro.

Transgredir é atraente. Ninguém aguenta passar a vida toda sendo exemplo de santidade. De vez em quando, é bom surpreender e fazer o que ninguém espera, mas até para transgredir existe uma regra, que Cazuza resumiu em letra de música: “Eu não posso fazer mal nenhum, a não ser a mim mesmo”.

Quer sair da estrada convencional e pegar uma rota alternativa? Bênção da tia. Existem diversas maneiras de a gente firmar nossa identidade sem causar nenhum dano à sociedade. As consequências são pessoais e quase sempre calculadas.

Agora virou moda dizer que quem fala mal do Brasil tem “complexo de vira-lata”. Mas tem que falar, tem que comparar. Nos países da Europa e nos Estados Unidos, que estimulam a individualidade e a liberdade em suas mais diversas formas, ninguém é considerado careta por respeitar as leis.

Óbvio que lá também acontecem acidentes de trânsito, desmoronamentos e tragédias similares às de qualquer outro país, só que vira escândalo e quem erra vai preso. Não apenas os pobres, mas os ricos também. A lei não é abstrata nem flexível, é concreta.

O Brasil tem muitas coisas boas: povo alegre, natureza, música e agora a tal economia que arregala os olhos dos gringos. O que falta para nos tornarmos um país desenvolvido de fato? Cumprimento da lei. E na falta desse cumprimento, rigor na punição. Ainda somos, miseravelmente, o país do jeitinho.

Vendemos medicamento sem receita, instalamos “gato” para roubar a luz do vizinho, estacionamos em cima da calçada, molhamos a mão do fiscal, batizamos a gasolina, superfaturamos a nota, tudo malandragem aceita com benevolência, até que uma obra sem supervisão, como tantas outras por aí, escancara nosso desleixo e nos devolve ao subdesenvolvimento. Até quando? Até todos continuarem soltos, bebendo sua cervejinha na paz de Deus e rindo dos trouxas que fazem tudo certo.

Compostura e caldo de galinha - LYA LUFT


REVISTA VEJA

Vejo no noticioso que estamos em último lugar quanto ao retorno,para cada cidadão, dos gigantescos impostos que pagamos mesmo num cafezinho. Em muitas coisas andamos lá na rabeira do mundo, mas parece que nosso ufanismo continua pulsante. Vai daí, acompanho meio distraída a celeuma em torno de alguma cena tórrida numa das camas do Big Brother, programa a que assisti há anos, quando ele se iniciava, achando bobamente que aquilo não iria durar. Depois, vi fragmento e ouvi comentários, o suficiente para notar que a vulgaridade se perpetua e torna sem que se perceba: fica natural. Há quem vá me achar antiquada, alienada, severa. Não imagino que a gente deva usar saia comprida, manga idem, feito freiras de antigamente. Detesto a antiga hipocrisia em assuntos sexuais. Naturalidade e liberdade são positivas, mas a gente não precisa exagerar... Precisamos, já grandinhas, usar saia tão curta que a maioria fica tentando puxar um centímetro mais para baixo, num desconforto idiota? Precisamos, homens e mulheres, fingir que sexo é só o que importa, ou em idade avançada expor peles murchas em profundíssimos decotes como se o tempo nos tivesse ignorado? Um pouco de recato é questão de higiene, dia uma amiga minha, jovem e sensata. Mas haja coragem para nadar contra a correnteza, em quase todos os assuntos e modismos deste nosso tempo.
Aí vem o tal programa BBB, que virou manchete, no qual um casal (nada original, pois a isso eu mesma assisti nos primeiros tempos) faz ou finge fazer sexo embaixo da coberta sabendo que é filmado. Nada novo, isso já se viu ali com alguns parceiros a mais na cama, ou no sofá espiando, pois, se é o olhar voraz do BB que tudo espreita, por que não? Alguém ousou reclamar, mas parece que a maioria achou tudo bobagem, todos estavam gostando, o povo espectador aplaudindo, por que não, por que não? Afinal, não somos tropicais, liberados, avançados, modernos, embora digam que somos Terceiro Mundo – ou exatamente porque somos?

"Minha esperança é que, apesar de tudo, se afirme e se espalhe a velha mania do bom gosto e da compostura, que, como caldo de galinha, nunca fez mal a ninguém."

Não sei se progresso se mede pela vulgaridade. Não sei se avanço se calcula conforme a deselegância, e se ascender socialmente implica baixar as calças, levantar a saia, tirar o que sobrou do sutiã. Tenho dúvidas. Tenho insegurança a respeito do que representam essas drásticas mudanças, do antigo primeiro tímido beijo na boca cheio de encantamento e mistério, e esse ficar atual, muitas vezes ainda na infância, no qual vale quase tudo e meninas engravidam sem saber – e sem saber de quem – nesses falsamente inocentes joguinhos eróticos em salões de festa, quando a luz diminui, ou dentro de piscinas sem adulto por perto, ma com bebida.
Escrevi há tempos dois artigos dizendo que família deveria ser careta: cada dia me convenço mais de que toda a sociedade deveria ser um pouquinho mais careta. Com jovens menos pressionados a enveredar precocemente por uma sexualidade que ainda não é a deles nem psíquicas nem biologicamente. Com adultos que não precisam inventar uma modernidade fictícia, mas ser amorosos e responsáveis – mais naturalmente alegres, não tendo de se expor de corpo e alma, feito, diz minha amiga Lygia Fagundes Telles, “carne em gancho de açougue”. Essa aceleração no escrachado, no pretensamente liberado, essa ânsia de ser uma celebridade, de ser notado (não necessariamente amado), essa exigência de ter imediatamente um emprego bom, fácil, muito bem pago, e todas as sensações que o mundo (da fantasia) pode oferecer, depressa, logo, agora, não têm volta. Pois a construção de uma vida, uma profissão, uma pessoa, importo pouco diante da onde de caricaturas de mulheres, homens ou gays que invade nossas telinhas e respinga no nosso colo. E o mundo gira para a frente. Tudo está virando um grande cenário de reality show? Que reality, aliás? Pois não me parece que essa seja a realidade concreta. E é isso que alimenta minha esperança de que, apesar de tudo, se afirme e espalhe a velha mania do bom gosto e da compostura, que, como caldo de galinha, nunca fez mal a ninguém.

Cadê o novo MIS? - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 01/02/12


VISTO DE FORA, são só tapumes. Há quem passe pela Praia de Copacabana, ali onde funcionava a boate de saliência Help, e estranhe a demora nas obras da nova sede do Museu da Imagem e do Som. Mas parece que, no caso, é como diz a frase: o que os olhos não veem... o coração não sente. Adriana Rattes, secretária de Cultura do estado, garante que a obra não está parada. “A partir de abril, o prédio vai subir rapidamente”, diz. É que, segundo Adriana, a obra, além de trabalhosa, é muito complexa. “Como fica bem perto da praia, é preciso construir uma espécie de cinturão de concreto em todo o terreno para dar base ao prédio, a chamada parede diafragma.” Vamos torcer, vamos cobrar

Meio Tupi
Sabe aquele poço OGX-63, de petróleo, que Eike Sempre Ele Batista descobriu na Bacia de Santos, perto de Paraty?
Há quem aposte que tenha de 3 bilhões a 4 bilhões de barris — ou meio Tupi. A conferir.

Tempos modernos
Pesquisa encomendada pela Secretaria de estado de Educação do Rio, com 4 mil alunos do ensino médio da rede pública, mostra que 14% não leram um só livro nos últimos cinco anos.
Outros 11 % leram apenas um, e 26%, dois ou três.

Já...
A pesquisa revelou também que 93% dos estudantes têm celular, e 78%, computador.

Porrada no Planalto
A febre do MMA chegou a Brasília. Dia 21 de abril, um ringue será montado no gramado da Esplanada dos Ministérios para um torneio da luta, apoiado pelo governo Dilma, como parte da campanha contra o crack.
O campeão José Aldo lutará.

As voltas que...
Veja outra razão da festa de Obama, outro dia, para anunciar mais vistos para brasileiros.
Um americano que trabalha num shopping de Orlando, amigo de parceira da coluna, disse outro dia: “Parece que só tem milionário no Brasil. As mulheres compram bolsas de US$ 3 mil, US$ 4 mil sem reclamar.”

No mais...
Este americano deveria visitar a Saara carioca, ou a Rua 25 de Março, em São Paulo, para ver o outro lado da desigualdade.

Cafofo virtual
Tia Surica, 71 anos, a querida pastora quituteira da Velha Guarda da Portela, fez um site.
No “Cafofo virtual” (a casa da tia, no Rio, é chamada de “Cafofo da Surica”), dá a receita de sua feijoada. “Não esqueça o louro”, avisa. Veja em tiasurica.com.br.

Se liga, Ana
Jaques Wagner fará grande festa amanhã, Dia de Iemanjá, em Salvador, para apresentar o mais novo baiano filiado ao PT.
É Juca Ferreira, ex-ministro da Cultura, que saiu do PV e passou a namorar o partido de Dilma.

Aliás...
Juca vai ao cortejo de Iemanjá e jogará oferendas no mar.
A Rádio Acarajé diz que seu pedido à orixá é sua volta ao Ministério da Cultura, hoje ocupado por Ana de Hollanda.

Arena Fonte Nova...
Por falar em Jaques Wagner, o governador baiano reclama que as exigências da Fifa têm encarecido as obras dos estádios para a Copa.
Para Jaques, a entidade precisa entender que estádios públicos tiveram licitações com valores determinados — e que novas intervenções aumentam o orçamento.
Cidade da Música
De Eduardo Paes sobre o choro aqui ontem do pessoal da música clássica pelo atraso nas obras da Cidade da Música.
— Cesar Maia nunca nem “inaugurou” aquilo. Para se ter uma ideia, tivemos de tirar todo o teto e todas as cadeiras para pôr tudo que ele, simplesmente, não pôs. A obra é tocada. Não faltam recursos. O problema é que a lambança ali era grande.

Mas...
O prefeito assume que, para ele, concluir a Cidade da Música não é prioridade:
— Não posso deixar de dizer que, com tanta coisa importante para fazer pela cidade, não trato essa obra desnecessária e superfaturada como minha prioridade.
É. Pode ser.

Corredor do Fórum
O juiz Mauro Guita, da 2ª Vara Cível de Teresópolis, RJ, condenou o ex-prefeito Roberto Petto Gomes, o ex-presidente da Câmara de Vereadores Carlos César e a Casa de Saúde N. S. de Fátima, na cidade, a devolverem R$ 385 mil aos cofres públicos, acusados de “improbidade administrativa”.

Cadê minha grana?
Athirson, ex-Flamengo, decidiu processar o showbol e o Futebol 7. É que disputou um torneio e não recebeu.

Calma, gente
Segunda, três alunas da academia BodyTech do Cittá América, na Barra, no Rio, armaram um barraco por causa de uma bicicleta de spinning.
Teve puxão de cabelo e tapa na cara. O caso está na 16ª DP.

O OLHAR MISTERIOSO que brinca de esconde-esconde nos cachinhos é de Cris Vianna, a linda atriz que vive Dagmar na novela “Fina estampa”, da TV Globo. A pose é na festa Bailinho, no MAM

ROBERTO SILVA, o Príncipe do Samba, que faz 92 anos em 2012, canta com João Cavalcanti, do Casuarina, em entrevista ao coleguinha Chico Pinheiro no programa “Sarau”, na GloboNews. Vai ao ar sexta, às 23h30m

Presidente versus partidos - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 01/02/12


Os ministros muitas vezes esquecem que sua lealdade principal deve ser ao país e à presidente, e não ao partido. Na política, eles costumam colocar a agremiação em primeiro lugar


A novela em torno da substituição de alguns ministros indica que em 13 meses de governo os partidos aliados ainda não aprenderam a lidar com o estilo da presidente Dilma Rousseff de triturar auxiliares que ela considera inadequados para determinados cargos. Mário Negromonte, das Cidades, que o diga. Ele não foi convocado para os encontros preparatórios da primeira reunião ministerial, mas continua ali por um simples motivo: Dilma ainda não está segura sobre quem teria o perfil técnico adequado para substituí-lo.

Dentro do PP, o fogo amigo contra Negromonte ferve, com vários parlamentares de olho na vaga. A lista de substitutos é grande, mas a presidente não se decidiu. E, se o PP continuar assim, com esse empurra-empurra pela pasta, pode ver comprometida a sua estratégia de manter o ministério responsável pelo Minha Casa, Minha Vida.

Um dos problemas hoje entre a presidente Dilma Rousseff e seus ministros é o fato de que os indicados muitas vezes esquecem que sua lealdade principal deve ser ao país e à presidente e, não ao partido. Na política, eles costumam colocar o partido em primeiro lugar.

Se alguém for dar uma olhada nas indicações de ministros, verá que todas as legendas que apoiam o governo, sem exceção, têm indicado pessoas com perfil mais político do que técnico. E aí, Dilma torce o nariz, arqueia as sobrancelhas. A nomeação emperra.

Por falar em torcer o nariz...
É preciso que os interessados se deem conta de que o governo é de continuidade, mas muita coisa mudou. Os partidos estavam acostumados a enviar um nome ao Planalto e ponto. Poucos indicados foram barrados no baile nos governos passados. Um dos poucos casos no governo Lula foi o do ministro de Minas e Energia que iria substituir Silas Rondeau. Os nomes cogitados não emplacavam e Nelson Hubner, o secretário-executivo, ficou interinamente como ministro por quase um ano.

A interinidade só terminou quando o presidente do Senado, José Sarney, sacou o nome do senador Edison Lobão, seu fiel escudeiro de todas as horas. Lula, que devia e deve muito a Sarney, aceitou. À época em que Lobão havia sido indicado, houve quem dissesse que ele não era da área e coisa e tal. Aos poucos, entretanto, o ministro conquistou espaço.

Por falar em técnico...
Lobão é hoje um dos poucos sobreviventes entre os que chegaram ao governo sem o perfil técnico que Dilma almeja para sua equipe. Os partidos, entretanto, querem furar esse bloqueio da presidente. No Trabalho, o PDT tenta colocar alguém ligado ao ex-ministro Carlos Lupi. O PR tem feito pressão para fazer do deputado Luciano Castro (RR) ministro dos Transportes. Planeja com a indicação resgatar a área perdida com a saída de Alfredo Nascimento, no ano passado.

No momento, o PP indica um leque de parlamentares para substituir Negromonte nas Cidades. Recentemente, o PMDB fez de tudo para emplacar deputados na Agricultura e outro no Turismo. Dilma deu a volta nos líderes partidários e pinçou dentro do PMDB quem considerava mais leal a ela do que ao partido. Assim, saíram ministros Mendes Ribeiro, na Agricultura, e Gastão Vieira, do Turismo.

Por falar em lealdades...
Dentro do Congresso e fora dele há quem diga que, enquanto essa definição das lealdades não forem resolvidas e entendidas pelos políticos, a tensão entre Dilma e a base não terminará. E para resolver, alguém tem que ceder. Ou os partidos indicam pessoas com perfis mais técnicos, dispensando a cessão dos cargos a parlamentares, ou veremos muitos deputados serem chamados de "santinhos" pela presidente da República. E, dentro do Planalto, quem convive diariamente com Dilma sabe: na hora em que a chefe chama o interlocutor de "santinho" é bom ele realmente começar a apelar aos céus porque, como dizem por aí, "a batata está assando".

Analfabetismo e voto no Brasil - JAIRO NICOLAU


Valor Econômico - 01/02/12


Qual é a escolaridade média dos eleitores brasileiros? Quantos são analfabetos? Quantos terminaram o curso superior? Existem diferenças significativa da escolaridade de homens e mulheres? Estas são perguntas fundamentais para quem trabalha com opinião pública e comportamento político, mas infelizmente, quase impossíveis de serem respondidas com precisão.

A verdade é que não existem estatísticas seguras sobre a escolaridade do eleitorado brasileiro. Os dados publicados pelo TSE, por exemplo, subestimam a escolaridade da população. A razão é simples. Quando tira o título de eleitor pela primeira vez, o jovem com 16, 17 ou 18 anos está, no máximo, cursando os primeiros anos do ensino superior. Esta é a informação que aparece nos dados do TSE. Embora este eleitor possa continuar estudando, ele aparecerá nas estatísticas oficiais como pertencendo a faixa dos eleitores com ensino médio completo ou ensino superior incompleto.

A solução mais óbvia é assumir que a distribuição escolar da população adulta seja a mesma da do eleitorado. Portanto, basta observar como se distribuiu a escolaridade das pessoas com mais de 18 anos na última Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (PNAD), do IBGE, e reproduzir para o eleitorado. Por exemplo, se encontramos 12% de adultos com curso superior, podemos supor que 12% dos eleitores também tenham escolaridade superior.

Mas este procedimento não está correto, por conta de uma especificidade da legislação eleitoral brasileira: o alistamento (e voto) para os analfabetos não é obrigatório. Quantos analfabetos têm o título eleitoral? Não temos como estimar. Se o contingente de analfabetos adultos fosse reduzido, este seria um detalhe. Mas não é. Segundo o Censo de 2010, existem 14,6 milhões (9% dos adultos) de analfabetos no país. Em três Estados, a taxa ainda supera os 20%: Paraíba (20%); Piauí (21%) e Alagoas (23%).

Esta incapacidade de dimensionar a escolaridade do eleitorado gera um desafio para os institutos de pesquisa de opinião (que baseiam suas amostras em "quotas" da escolaridade do eleitorado) e para os estrategistas das campanhas. E ficará como uma incógnita até que, em uma PNAD, seja perguntado aos cidadãos se eles têm o título de eleitor. A PNAD de 1988 foi a última que fez esta pergunta. Os resultados surpreenderam os analistas ao mostrar que o titulo eleitoral era o documento que os brasileiros mais portavam.

Mas o impacto do analfabetismo sobre a estatística eleitoral está longe de ser a questão fundamental, quando observamos como a República brasileira lidou com o relação entre os analfabetos e o voto. É interessante lembrar que os analfabetos não podem se candidatar. Em 2010, esta cláusula foi lembrada quando o deputado Tiririca (hoje um dos mais assíduos nos trabalhos da Câmara dos Deputados) teve que demonstrar que sabia ler e escrever para ser empossado.

Os analfabetos foram formalmente proibidos de votar, a partir de 1889, com a proclamação da República. No fim do Império (1881) uma lei exigia que novos eleitores soubessem ler e escrever, mas não proibiu que os analfabetos já alistados continuassem votando. Eles só conquistaram o direito de votar, um século depois, em 1985. O Brasil foi um dos últimos países a conceder o direito de voto aos analfabetos.

Em um país com a alta taxa de analfabetismo que sempre teve o Brasil, a proibição de 1889 (confirmada nas Constituições de 1891, 1934 e 1946) serviu como uma barreira para a expansão do eleitorado. Por exemplo, em 1950 apenas 52% da população adulta estava alfabetizada; o que significa dizer que metade dos adultos estavam formalmente afastados do processo político.

Alguns estudiosos, particularmente historiadores econômicos têm se dedicado a tentar entender as razões do atraso educacional brasileiro. Por que ao contrário de ex-colônias da América do Norte (Canadá e Estados Unidos) e da América do Sul (particularmente, Argentina, Chile e Uruguai) a política educacional demorou tanto a universalizar o ensino primário? Por que ainda temos um das maiores taxas de analfabetismo adulto do mundo?

Para se ter uma ideia, em 1880, 70 em cada mil crianças em idade escolar (7 a 14 anos), estavam matriculadas em uma escola no Brasil. Em contraste, 900 em cada mil estavam matriculadas nos Estados Unidos. Sessenta anos depois, em 1940, apenas 232 em cada mil crianças estavam na escola no Brasil. Número bem inferior ao de outros países latino-americanos no mesmo ano: Argentina (612), Cuba (516), México (374) e Chile (556).

O economista americano Peter Lindert, da Universidade da Califórnia, estudou o processo de expansão da escola primária nas ex-colônias americanas e na Europa ao longo do século XIX e no começo do século XX. Sua sugestão é que o processo de democratização, particularmente a expansão do sufrágio masculino, antecedeu, em muitos países, a expansão da escola primária. Quando a população mais pobre entra no processo político ela passa a ter canal de comunicação com o governo. Assim, é possível lutar para transferir recursos governamentais para escola pública. Afinal, os filhos da elite já estudavam em escolas particulares.

Até ter lido o trabalho de Lindert, sempre havia pensado o analfabetismo apenas como um dos fatores que impediram a expansão do eleitorado brasileiro. A sugestão do autor é inverter a ordem de causalidade: é a presença de segmentos de menor renda no sistema político que explicaria a expansão educacional. Este é um excelente caminho para pensar o caso brasileiro; uma variável para ser levada em conta se quisermos entender o desastroso desenvolvimento educacional do país.

Remessa de lucros - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 01/02/12

RIO DE JANEIRO- Houve época no Brasil, 1962, por aí, em que as pessoas matavam ou morriam por causa da remessa de lucros. Eram os lucros que, ao fim do ano, as empresas estrangeiras aqui instaladas mandavam para suas sedes, quase todas nos EUA. E essas empresas eram os suspeitos de sempre: Coca-Cola, Shell, Esso, Texaco, Ford, General Motors, Gessy Lever, talvez até o Sonrisal e a pasta Kolynos. Quando um brasileiro tomava banho com Lever, lá se ia a nossa soberania pelo ralo, dizia-se.

Pela remessa de lucros, Leonel Brizola (contra) e Carlos Lacerda (a favor) ameaçavam ir às jugulares. Nos meus 14 anos, eu me sentia dividido. Por um lado, tinha fumaças de esquerda e torcia pelos nacionalistas; por outro, perguntava-me como Hollywood se arranjaria sem os meus caraminguás na bilheteria -somente "West Side Story" eu vira nove vezes naquele ano.

Bem, passaram-se décadas, e leio que, em 2011, as filiais brasileiras das multinacionais mandaram US$ 38 bilhões para o exterior -a maior remessa de lucros dos últimos 64 anos. Não deve ter sangrado cruelmente a nossa economia, porque o Brasil parece podre de rico -nem o governo do PT permitiria tal sangramento, não?

Ao mesmo tempo, nunca tantos brasileiros gastaram tanto lá fora como em 2011, em bagulhos eletrônicos, camisetas do Mickey e cachorro-quente -US$ 21 bilhões, o triplo do que os gringos deixaram aqui. Some a isto (ou subtraia) o volume de dinheiro -menor do que nunca- que os imigrantes brasileiros mandaram do exterior, e as remessas -cada vez maiores- que os estrangeiros aqui residentes enviaram para seus países.

Não faz diferença, o Brasil virou mesmo uma potência. Se a remessa de lucros deixou de ter importância, fico me perguntando se Brizola e Lacerda brigariam tanto se ainda estivessem entre nós.

Desenvolvimento - ANTONIO DELFIM NETTO


FOLHA DE SP - 01/02/12
Desde Adam Smith, os economistas têm se dedicado a encontrar a fórmula que revelaria a condição "suficiente" para a realização do desenvolvimento econômico. Após o término da Segunda Guerra Mundial, o progresso tem sido lento e, de fato, ainda não sabemos se a fórmula existe e se seria de aplicação universal.
Mesmo com o aperfeiçoamento das estatísticas, a construção de infindáveis modelos -muita matemática e econometria (às vezes com uma pitada de história)-, depois de dois séculos e meio na busca do graal cuidadosamente escondido (ou talvez apenas sonhado!), temos resultados práticos pífios.
Talvez tenhamos encontrado algumas condições "necessárias", mas não muito mais do que Adam Smith já conhecia...
Trata-se do mais importante problema a ser esclarecido pela economia. Afinal, por que na longa caminhada desde o neolítico até a segunda metade do século 18 a produção per capita cresceu num ritmo extremamente baixo? Talvez uma armadilha malthusiana. E por que sofreu uma rápida transformação depois de 1750?
Porque, a partir daí, pelo menos uma economia, a britânica, foi capaz de capturar a energia dispersa em seu território (água, madeira e carvão), auto-organizar-se com instituições convenientes e dissipá-la na produção de itens e serviços consumidos por uma população crescente.
Há alguns anos, Gregory Clark ("A Farewell to Alms", 2007) propôs uma interessante hipótese que continua gerando uma enorme literatura. A causa eficiente do desenvolvimento da Inglaterra teria sido a emergência de uma classe média, com seus valores de prudência, poupança e disposição para o trabalho.
Clark reduz o foco do desenvolvimento da "qualidade das instituições" ou, pelo menos, sugere que diferentes "instituições" podem produzir o desenvolvimento econômico.
A hipótese de Clark é compatível com a pesquisa de Acemoglu et. Al (2005) quando afirma que os ganhos do comércio exterior apropriados pelas classes médias da Holanda e da Inglaterra foram a causa eficiente do seu desenvolvimento. A contraprova desse fato foi a estagnação de Portugal e Espanha, onde os mesmos efeitos foram apropriados por uma pequena elite.
Infelizmente, não existe (e provavelmente nunca existirá) a receita que nos diga qual é a condição "suficiente" para garantir o desenvolvimento econômico.
Mas existem, sim, condições "necessárias" observadas na história e racionalizadas na economia, sem as quais ele não prosperará.
Para o Brasil, é muito bom saber que uma forte classe média é uma delas.

Democracia x capitalismo - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 01/02/12


Em Davos, tanto a democracia quanto o capitalismo foram postos em discussão em diversos painéis. Com o surgimento do "capitalismo de Estado", capitaneado pela China, a relação direta entre democracia e capitalismo já não é mais uma variável tão absoluta quanto parecia nos anos 80 e 90 do século passado.

Mas, apesar de as sociedades ocidentais serem mais democráticas que as muçulmanas, o historiador Niall Ferguson, professor da Universidade Harvard, que esteve em Davos em diversos painéis, pega em seus estudos os exemplos de Taiwan e da Indonésia como demonstração de que a democracia pode funcionar muito bem em qualquer tipo de sociedade.

A Primavera Árabe, que também foi objeto de vários painéis em Davos, seria uma demonstração de que o Islã e a democracia não são mutuamente excludentes, mas é preciso controlar os extremistas.

Países e o setor privado têm obrigação moral de ajudar as novas democracias, apoiando suas instituições e economias.

A democracia é mais do que a realização de eleições periódicas: é preciso trabalhar por uma maior inclusão social e a redução das desigualdades.

Ferguson sustenta a tese de que governos representativos, com variados partidos políticos, geralmente produzem maneiras de governar superiores às de ditaduras de partido único, que não são escrutinadas pela oposição nem pela opinião pública.

A corrupção, diz Ferguson, apesar de existir em todos os tipos de governo, é sempre pior e mais nociva do ponto de vista econômico nos países não democráticos.

Por isso, ele acredita que, se China e Rússia permanecerem Estados de partido único, serão mais cedo ou mais tarde superadas por Brasil e Índia, que ele classifica de "tartarugas democráticas", devido à lentidão do processo em relação aos governos ditatoriais.

Um processo lento, mas muito mais sólido de construção de uma sociedade.

Essa tese parece confirmada pelo economista Jim O"Neill, da Goldman Sachs, criador do acrônimo Brics, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Ele acredita que, quando se analisam os países por outros indicadores, como telefones, internet, respeito aos contratos, corrupção, estabilidade política, expectativa de vida e educação, e não apenas pelo PIB, o Brasil ultrapassa a China.

Diversos estudos acadêmicos mostram que um país tende a se transformar em uma democracia quando atinge a renda per capita anual de US$ 10 mil.

Seria o caso da Rússia, que já tem US$ 15 mil de renda per capita, e será em breve o da China, que tem US$ 7.500, tudo contabilizado pela paridade de poder de compra.

Mas, se levarmos em conta o que o primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, escreveu no jornal econômico "Vedomosti", associado ao "Financial Times", ou suas atitudes, dificilmente teremos uma democracia verdadeira na Rússia.

No plano político, ele continua jogando pelas regras, mas completamente fora da moralidade.

Vai mudando de cargo, de presidente para primeiro-ministro e agora de novo para presidente, e mantendo o controle político do país, mesmo diante de denúncias de manipulação eleitoral.

Com relação ao capitalismo, Putin deixou claro nesse artigo que não implementará reformas econômicas que estimulem a competição, que é o que pedem os novos empreendedores russos, dispostos a aumentar a competitividade da economia.

Para Putin, os grandes conglomerados estatais serão os orientadores da transição econômica para a alta tecnologia de que o país precisa para competir globalmente.

Para ele, a iniciativa privada já se mostrou incapaz de investimentos que permitam à Rússia competir neste novo mundo da moderna tecnologia, mesmo admitindo que também as estatais não foram eficientes como se esperava.

Mas, para ele, a única maneira de garantir "estabilidade, soberania e um decente padrão de vida para os cidadãos" é o Estado estando por trás dos investimentos necessários.

À medida que a Rússia vem experimentando crescimento de sua classe média, as reivindicações surgem, e as críticas à corrupção, que Putin admitiu ser "sistêmica", aumentam.

Mas a liberdade de imprensa muito restrita, e o controle pelo governo do Parlamento e do sistema judiciário, o que caracteriza um hiperpresidencialismo, impede que a insatisfação crescente se transforme, pelo menos no momento, em uma reação mais concreta para barrar a ascensão de Putin.

No Fórum Econômico Mundial, que terminou domingo em Davos, houve também vários painéis sobre a China, mas o mais instigante de todos foi o que reuniu dois professores de universidades chinesas em torno do debate sobre como a antiga cultura chinesa pode influenciar os tempos modernos.

Daniel A. Bell, um canadense professor de Teoria Política da Universidade Tsinghua, e Yan Xueton, reitor do Instituto Internacional de Estudos da mesma universidade, falaram sobre os pensamentos filosóficos que dominaram a China nos anos anteriores à dinastia Qin (221-207a.C.), que reunificou o país: o confucionismo, que define que o governo deve servir ao povo e ter como prioridade a moralidade, e o legalismo, que prioriza a punição e o forte controle do país.

Ambos concordaram em que, se a China quiser ultrapassar os EUA na liderança mundial, terá que se apresentar como um líder moral.

O professor Yan Xueton chegou a dizer que, se a China tentar se equiparar aos Estados Unidos, estará sempre em segundo plano, pois os americanos já se impuseram no mundo através do poder militar e do domínio cultural.

A China só poderá superá-los se surgir em outro nível de liderança, adotando a filosofia confucionista que valoriza a história cultural do país e o poder moral sobre o poder da força.

Já o canadense Daniel A. Bell considera que a China, ao buscar essa força moral de sua liderança, vai se valer cada vez mais da meritocracia e pode caminhar para a implementação de um sistema político que não será a democracia como nós a conhecemos no Ocidente, mas uma meritocracia que fará com que os escolhidos para o Parlamento possam representar realmente a vontade do povo e não apenas os que têm influência para atrair votos.

A questão é saber quais os critérios para definir essa escolha pelo mérito e quem fará a escolha. Se o Partido Comunista Chinês se delegar essa tarefa, continuaremos na mesma falta de liberdades cívicas.

Baixar armas - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 01/02/12



As centrais sindicais dos trabalhadores capitularam diante do governo Dilma. Na segunda-feira, três aeroportos serão privatizados, e há 13 consórcios privados habilitados para o leilão. Nem a CUT, do PT; nem a CTB, do PCdoB; nem a Força Sindical, do PDT, programaram qualquer manifestação de protesto. Os partidos de esquerda, agora no poder, engoliram a língua. "A necessidade de ter o serviço fala mais alto do que a defesa da presença estatal", justifica o líder do PCdoB, Osmar Jr (PI).

Solução intermediária
A aposta de quem circula pelo STF é que, no julgamento de hoje, o tribunal reconhecerá a competência do CNJ para investigar magistrados antes das corregedorias regionais, mas com restrições. Além de Marco Aurélio, são dados como votos certos contra o Conselho Nacional de Justiça Cezar Peluso e Celso de Mello. Há dúvida se Luiz Fux ficará com esse grupo ou votará pelo poder de investigação, mas com "liberdade vigiada". A favor da investigação ampla estariam Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Ayres Britto e Joaquim Barbosa. Na corrente intermediária, a com restrição, Rosa Weber, Cármem Lúcia e Ricardo Lewandowski.

"Kassab usa o PT para aumentar cacife com PSDB. Não vejo razão para imaginar aliança com Kassab em São Paulo. Seria um tiro no pé da militância” — Ricardo Berzoini, deputado federal (PT-SP)

SEM CONTROLE. Os tucanos estão dando pulos de raiva. A “Revista de História da Biblioteca Nacional” publicou um texto (“O jornalismo não morreu”) que afirma: “‘Privataria Tucana’ prova que a reportagem de investigação está viva e José Serra, aparentemente, morto.” O artigo no site da revista, patrocinada pela Petrobras, diz que é mérito do livro “jogar uma pá de cal na aura de honestidade de certos tucanos”. No expediente, a presidente Dilma e a ministra Ana de Hollanda (Cultura).

O que é bom para...
A presidente Dilma está programando uma viagem de cinco dias aos Estados Unidos, de 9 a 13 de abril. O seu principal objetivo é ampliar nossas exportações, recuperando o volume do comércio do Brasil com os americanos.

A bola da vez
Os líderes da oposição estão apostando todas as suas fichas no PMDB. Eles estão começando a conversar com dirigentes do partido governista para avaliar onde eles topam ajudar a oposição a criar problemas para o governo Dilma.

Responsabilidade compartilhada
O relatório "Pinheirinho: um relato preliminar da violência institucional", da ONG Justiça Global, afirma que "os fatos divulgados publicamente desde então são suficientes para caracterizar violações em massa cometidas durante o despejo" em São José dos Campos (SP). Além das críticas à prefeitura e ao governo de São Paulo, sobra também para o governo federal, "que poderia ter agido muito antes e com muito mais empenho para evitar o desfecho brutal".

Tabajara "english"
Com a cidade se preparando para a Copa, o metrô de Brasília faz um esforço para tentar ser bilíngue. Agora, quando o vagão chega à estação Superquadra 114 Sul, o passageiro é avisado de que está na "one hundred and fourteen ´sul´".

Laços
Matéria de ontem do "Granma", jornal oficial de Cuba, sobre a visita da presidente Dilma diz que os vínculos da ilha com o quinto maior país do mundo são "excelentes". Destaca que o Brasil é o segundo parceiro do país na América Latina.

O MINISTRO Mário Negromonte (Cidades) não apareceu ontem na Casa Civil na reunião do grupo de trabalho do PAC que tratou das enchentes.

O PRESIDENTE do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), avisa que o debate sobre a candidatura tucana nas eleições presidenciais só será deflagrado depois das eleições municipais deste ano. E que, independentemente de sua opinião, ele será um magistrado.

SÃO INTENSAS as pressões para convencer o líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), a concorrer à prefeitura de Goiânia. O senador reluta de olho na eleição presidencial de 2014.

GOSTOSA


MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 01/02/11



Indústria consome só 3% a mais de energia em 2011

O consumo industrial de energia cresceu apenas 3% em 2011, reflexo de redução de investimentos e fechamento de fábricas no país.

O resultado é muito inferior às estimativas de mais de 4% do início do ano passado, segundo Cristopher Vlavianos, da gestora independente Comerc Gestão, que calcula o índice.

O número registrado ao final do ano também se distancia da alta de 4,2% verificada no primeiro semestre.

"O aumento do consumo no ano ficou muito aquém do esperado. A maior queda foi nas empresas que competem com o mercado externo", diz.

Além do impacto da crise na Europa, que compromete exportações, o alto preço da energia no país contribui para o crescimento modesto, segundo Carlos Faria, da Anace (Associação Nacional dos Consumidores de Energia).

"Esse consumo em 2011 também ocorreu porque no Brasil há uma das energias mais caras do mundo. A associação viu muitas companhias postergarem investimentos de ampliação e até fecharem instalações, influenciadas por energia", diz Faria.

O setor de siderurgia e metalurgia teve alta de 5,9%, enquanto o têxtil teve a maior queda, abalado por importações. A CCEE (câmara de comercialização) aponta consumo de 494,9 mil GWh em 2011, ante 478,9 mil GWh em 2010.

PREÇO NO GRÁFICO

O preço da energia elétrica convencional para entrega a curto prazo no Brasil teve, em janeiro, forte queda de 35,2%, atribuída às chuvas do mês, segundo a Brix, plataforma eletrônica de negociação.

No período, o preço mais alto foi de R$ 68,23 MWh, no dia 3 de janeiro.

O índice Brix fechou o mês a R$ 20,03 MWh com desvalorização de 9,57%.

O preço da energia de curto prazo é determinado pela soma dos valores do prêmio praticado no mercado, apontado pelo índice Brix, com o PLD (Preço de Liquidação das Diferenças), que é o valor técnico divulgado pela CCEE.

"Tivemos muita chuva, que influenciou o preço", diz Marcelo Mello, da Brix. O índice representou quase 50% do preço total da energia.

SOB NOVOS ARES

O escritório Machado Meyer, Sendacz e Opice Advogados implantou neste ano uma estrutura de gestão diferente e nomeou uma nova sócia-administradora.

Raquel Novais, da área tributária, é a primeira mulher a comandar um dos quatro maiores escritórios de direito do país.

Foi criado um comitê diretivo que será coordenado por Novais e formado por sócios de cada grande área da firma, além de representantes dos escritórios regionais.

O grupo vai gerir a operação diária do escritório, de forma a alinhar práticas jurídicas e administrativas, segundo Novais. O conselho do Machado Meyer, que completa 40 anos em junho, tomará decisões estratégicas.

Para assumir a gestão por dois anos, Novais participou de um processo de transição durante 2011 e fez um curso de extensão em Harvard voltado para liderança em escritórios de direito.

"Nosso objetivo é continuar a desenvolver as áreas de negócio do escritório e a gestão de pessoas, que, como prestadoras de serviços, são nosso maior ativo", diz Novais. A nova administradora priorizará programas como os de incentivo a advogadas na carreira e a estagiários.

NÚMEROS

320 advogados

50 sócios

150 estudantes/estagiários

7 escritórios*

*São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Nova York

ENTRAVES NO PETRÓLEO

Licenças para novas perfurações ficaram mais difíceis de serem obtidas após o vazamento de petróleo no Golfo do México em 2010, segundo 54% dos executivos ouvidos pela EIU (Economist Itelligence Unit).

O levantamento mostra que apenas 8% dos 185 entrevistados acreditam que as dificuldades não aumentaram.

A ampliação das políticas regulatórias será um dos principais obstáculos nos próximos 12 meses para 32% das empresas ouvidas.

O estudo também aponta que os EUA são vistos como o país que oferecerá um ambiente regulatório mais favorável para as companhias. Canadá e Brasil aparecem em seguida.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

Dito pelo não dito - DORA KRAMER


O Estado de S.Paulo - 01/02/12


Saudada aos primeiros acordes por ser discreta e não falar demais, a presidente Dilma Rousseff tem se notabilizado por falar de menos. Sobre assuntos importantes, notadamente se relativos à política e às relações com o Congresso, quem fala é a assessoria, ministros sob condição do anonimato e todo conjunto de vozes que compõem a entidade "Palácio do Planalto".

Dilma Rousseff mesmo, raramente diz o que pensa. Para ela, resta a vantagem de poder mudar de posição no meio do caminho atribuindo a outrem a divulgação de intenções que nunca teriam sido suas. A reforma ministerial é o exemplo presente, embora haja outros.

Não é o caso, entretanto, do tema Direitos Humanos. Sobre ele, Dilma sempre foi peremptória. Como na entrevista que deu ao jornal americano Washington Post logo depois de eleita: "Por ter experimentado a condição de presa política, tenho um compromisso histórico com todos aqueles que foram ou são prisioneiros somente por expressarem suas visões, suas opiniões".

E para que não se dissesse que a posição seria seletiva, já presidente, disse ao Valor Econômico: "Um País democrático ocidental como o nosso tem que ser um País com perfeita consciência da questão dos Direitos Humanos. E isso vale para todos. Se não concordo com o apedrejamento de mulheres, não posso concordar com gente presa a vida inteira sem julgamento (na base de Guantánamo). Isso vale para o Irã, vale para os Estados Unidos e vale para o Brasil".

Só não vale, pelo visto, para Cuba, onde a presidente não aceitou se encontrar com dissidentes porque, segundo o chanceler Antonio Patriota, não se trata de uma questão prioritária para aquele país.

Assim como não era para o governo do Brasil quando Dilma e tantos outros combatiam a ditadura e chefes de Estado (Jimmy Carter, dos EUA, por exemplo) intercederam, compreendendo o quanto era prioritária a questão dos Direitos Humanos para a dignidade da nação.

A declaração da presidente, em Havana, sobre a responsabilidade multilateral e a impossibilidade de se "atirar a primeira pedra" é mera tergiversação. Sugere a existência de ditaduras amigas e ditaduras inimigas.

Uma maneira de generalizar o tema para se desviar do caso específico, cujo significado é um só: o governo brasileiro põe suas relações fraternais com a ditadura Castro, e todo o simbolismo que tenham para a esquerda do PT, acima do direito universal à liberdade.

E também acima daquele "compromisso histórico com todos aqueles que foram ou são prisioneiros somente por expressarem suas opiniões", com o qual Dilma empenhou a palavra.

Sinuca. A assessoria do governador Geraldo Alckmin nega que a ausência dele em dois compromissos públicos recentes tenha sido proposital para evitar protestos de rua.

Pode ser e pode não ser. Fato é que, ao contrário do inspirador Mário Covas que gosta muito de invocar, Alckmin tem evitado confronto. Faltou à missa na Catedral da Sé no aniversário de São Paulo e não foi à inauguração na nova sede do Museu de Arte Contemporânea. Em ambas as ocasiões houve manifestações.

Se for coincidência, logo ficará claro pela presença do governador nas agendas públicas concernentes ao cargo. Se não for, a ideia de esconder-se proporcionará significativo aumento de protestos exatamente para marcar o sumiço do governador.

Provocações. De posse da faca (a caneta) e do queijo (a popularidade), a presidente Dilma tem tudo para dar ao presidente do PDT, Carlos Lupi, o mesmo tratamento conferido ao líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves, que duvidou da demissão de um apadrinhado para vê-lo demitido no dia seguinte.

Lupi quer indicar seu substituto no Ministério do Trabalho e se considera em "plena condição moral" de fazê-lo.

Se o governo concordar, restará explicar por que Lupi não serve como ministro, mas serve como fiador.

O cavalo do Spielberg - ROBERTO DaMATTA


O Estado de S.Paulo - 01/02/12


Assisti ao Cavalo de Guerra. Havia tempo que eu não tomava parte do estranho ritual de ir ao cinema para participar da exibição mecânica de um drama que independe de quem o assiste. Pois diferentemente de outros rituais de desempenho - como as celebrações religiosas, cívicas e teatrais - onde os oficiantes dependem da cumplicidade dos espectadores, no cinema somente a plateia pode atrapalhar-se a si mesma, falando alto ou chegando atrasada. O que não atinge o filme que, indiferente como um meteoro, "passa" transformando fotografias mortas numa narrativa viva.

Invejei Steven Spielberg por ter inventado mais um cavalo para a nossa extensa mitologia equestre. Tínhamos o de Troia, o de batalha (que ocorre todo dia no Brasil); o Trigger, do Roy Rogers, um remoto caubói; o Silver, o cavalo prateado do Zorro ex-amigo do Tonto (um índio); e, para terminar uma formidável lista, o cavalo branco de São Jorge que Napoleão, com sua megalomania digna dos presidentes republicanos, tentou roubar. Eis uma modesta mostra de como o cavalo desempenha, ao lado do cachorro, um denso papel na nossa imaginação.

O cavalo detém a força do puro poder e da mobilidade, ao lado de uma contida e disciplinada imponência, ausente nos cães mais indômitos. Mesmo no papel humilde de puxador de um veículo, o cavalo chama atenção pela sua obediência tranquila. Dele é aquele ar bovino, aquele sossego das sujeições serenas: feliz com os seus limites e ciente do seu papel. Mas é dele também o poder de chegar rapidamente a algum destino. Os cavalos permitem voar e alguns são alados...

Ser dono de um cavalo ou montá-lo é sinal claro daquela liberdade igualmente contida da nobreza, como mostra a melhor sociologia do cavalo que li até hoje, a de Câmara Cascudo.

Hoje em dia não temos mais cavalos, diria um leitor cético diante de minhas baboseiras etnológicas. Verdade, mas nas nossas garagens estão centenas de "cavalos de força" devidamente encurralados nos nossos automóveis. Temos centenas de cavalos prontos para galopar sincronizada e perigosamente - em cima dos outros quando nos movemos pra valer!

E continuamos a ter cavalos de guerra que lutam contra ladrões, marginais ou subversivos que infestam nossas cidades mal planejadas e sem fiscalização que julgamos protegidas por São Jorge, o santo inglês que, como diz Gilberto Freyre, tornou-se popularíssimo no Brasil por ser um santo montado num país de escravos a pé e de aristocratas falsos, preguiçosos e gordos. Mais preocupados - como ocorre até hoje - com suas famílias do que com o seu povo.

Esse cavalo de batalha não teme dragões. Ademais, ele é também o símbolo, como assinala o sociólogo Thorstein Veblen na sua pioneira teoria do consumo como um traço básico da identidade social no capitalismo - um penhor de consumo conspícuo ou supérfluo. Um consumo como expressão de posição social e não de necessidade. Sobretudo no papel de "cavalo de corrida".

Dominar um cavalo fazia parte do treinamento dos nobres. Quem mandava num cavalo sabia comandar pessoas. O cavalo eleva e dá capacidade ao seu dono, servindo como perfeita metáfora para uma suposta (ou imposta) superioridade social. Que o leitor preste atenção nas estátuas equestres. Nelas, quanto mais importante o herói, mais sua montaria tem as patas levantadas; e, quanto mais patas no ar, em atitude de movimento grandioso, mais heroico é o gesto e o personagem.

Um dado empolgante da mitologia do cavalo é a sua identidade com o cavaleiro. Quando os dois formam uma só pessoa (ou "conjunto"), como ocorre nas provas equestres, verifica-se um grau de simultaneidade que torna difícil não ver a montaria e o montador como uma só pessoa. Foi assim que os astecas avistaram os espanhóis que os conquistaram e dizimaram.

Essa figura do cavalo como símbolo de poder - como animal de trabalho e como montaria que passa a ser uma arma quando os seus donos entram em guerra - foi o que mais me tocou no filme. Pois o que a narrativa de Spielberg realiza, em estilo de John Ford, é mostrar como cada um dos seus "donos" o vê como uma projeção de si mesmos.

Joey (esse é o nome do cavalo herói) é construído e constrói o seu primeiro e "verdadeiro" dono, o rapaz que se vê obrigado a treiná-lo como besta de trabalho; seu segundo dono é um oficial inglês de Cavalaria que o usa como uma arma de guerra; depois chega a vez de "pertencer" a uma menina francesa e doente que o torna parte de suas delicadas fantasias de adolescente; daí, Joey é de um duro, mas sensível sargento encarregado de puxar canhões para o Exército alemão; até que, aterrorizado e perdido na terra de ninguém e de todos os horrores humanos que é a guerra, o cavalo tenta escapar somente para ficar embaralhado nos arames farpados - típicos de nosso modo de viver - que dividem ingleses e alemães.

Então Joey fica como todos nós ficamos quando a vida nos leva para a terra enlevada do sofrimento, dos pesadelos, das lágrimas e da solidão.

É justamente nesse momento que Joey se torna cavalo e, assim, como o "outro" tanto dos ingleses quanto dos alemães, ele neutraliza a guerra, fazendo com que dois soldados inimigos que tornem parceiros na tarefa de libertar e salvar esse "outro do outro", como diz Viveiros de Castro. Eis a melhor cena do filme e um dos momentos mais belos que vi no cinema. Pois quem somos nós, autointitulados humanos, senão meros cavalos igualmente passando de mão em mão e servindo como veículos para que a vida possa ocorrer por meio de nossas existências?

A banalidade da tunga - ELIO GASPARI

FOLHA DE SP - 01/02/12


Os saques dos magistrados felizardos contra a bolsa da Viúva nada têm a ver com corrupção. É coisa pior. Têm a ver com a banalidade de um regime jurídico e tributário que tira dinheiro do andar de baixo e beneficia o de cima, até mesmo quando ele delínque. Quem paga impostos e tem dinheiro a receber se ferra, mas quem não os paga se beneficia.

Nos anos 90, o Congresso concedeu aos parlamentares um auxílio-moradia que hoje está em R$ 3.000 mensais. Seus defensores argumentam que um deputado do Paraná é obrigado a manter casa em Brasília ou a pagar hotel durante a duração do seu mandato e pode perdê-lo na próxima eleição.

Pouco a ver com a magistratura, função vitalícia, de servidores inamovíveis fora de regras estritas.

Em 2000, o Supremo Tribunal Federal estendeu o auxílio-moradia aos desembargadores (que vivem nas capitais e delas não são transferidos). Com o direito reconhecido, os doutores tinham direito aos atrasados.

Tome-se o exemplo do juiz Cezar Peluso, atual presidente do Supremo. Ele entrou na carreira em 1968, aos 26 anos, e passou pelas comarcas de Itapetininga, São Sebastião e Igarapava. Nessa fase deveria receber um auxílio-moradia. E depois? Em 1972, ele foi para São Paulo, onde viveu os 21 anos seguintes. (O crédito de Peluso teria ficado em R$ 700 mil.)

Os magistrados poderiam ter caído num regra perversa da Viúva: “Devo, não nego, pagarei quando puder”. Em juridiquês ela se chama fila dos precatórios.

Tome-se outro exemplo, de um policial aposentado que teve reconhecido pela Justiça um crédito de R$ 1 milhão. Ele foi para a fila da choldra.

A dos magistrados seria outra, mesmo assim, os Tribunais de Justiça autorizaram pagamentos por motivos especiais. Um desembargador foi atendido porque estava deprimido; outro, porque choveu na sua casa; um terceiro adoeceu.

No andar de cima, alguns doutores levaram o seu. O policial, no de baixo, ficou na fila até que surgiu a mágica do mercado paralelo de precatórios. Em 2009, uma emenda constitucional permitiu que os créditos fossem negociados, e o policial vendeu o seu por R$ 250 mil.

Tudo bem, problema de quem comprou seu lugar na fila. Não. A emenda permite que os créditos dos precatórios sejam usados para que sonegadores quitem dívidas tributárias.

Diversos Estados regulamentaram esse comércio. No início de janeiro, no Rio, o governador Sergio Cabral promulgou uma lei da Assembleia pela qual os sonegadores de impostos podem quitar suas contas, livres das multas, com abatimento de 50% nos juros de mora, pagando 95% com papéis de precatórios e 5% em dinheiro.

Fica-se assim: o magistrado recebeu de uma vez tudo a que tinha direito. O policial aposentado cansou da fila e preferiu receber 25%. O sonegador que comprou seu precatório transformou R$ 250 mil em R$ 1 milhão.

Admitindo-se que ele devesse R$ 1,2 milhão, livrou-se de R$ 200 mil das multas e quitou o débito gastando R$ 300 mil.

O sonegador economizou R$ 900 mil. Para arrecadar um ervanário desses, a Viúva precisa que um policial cujo salário é de R$ 6.000 mensais pague todos os impostos que lhe deve, ao longo de 32 anos.

Tudo na mais perfeita legalidade.

Agenda cubana - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 01/02/12
SÃO PAULO - A expectativa era que a presidente Dilma Rousseff, ex-presa e torturada, não abordasse a questão dos direitos humanos em sua viagem a Cuba. Mas ela decidiu falar e, jogando um pouco de relativismo -mencionou violações em Guantánamo e no Brasil-, acabou por coonestar o regime castrista. É pena.

Embora nenhum país apresente credenciais impecáveis nessa seara, não dá para ignorar a diferença de natureza entre sociedades abertas, como EUA e Brasil, e regimes despóticos, como Cuba. Basta lembrar que os ilhéus não são livres para entrar e sair do país na hora em que bem quiserem, como ocorre nas democracias.

O fato de a ditadura cubana não ser tão sanguinária quanto congêneres africanas e asiáticas não justifica seu autoritarismo, especialmente porque ele é desnecessário no que diz respeito aos dois ou três sucessos que a revolução logrou obter.

Por mais que deploremos certas práticas de Fidel Castro, é forçoso reconhecer que ele fez um bom trabalho em saúde e educação. A Universidade de Havana não compete com Harvard, mas praticamente todos os cubanos sabem ler e frequentaram a escola básica, o que não é regra no Caribe nem em algumas nações bem mais ricas.

Já na saúde, os indicadores de Cuba, se não muito manipulados, são melhores até que o de algumas regiões dos EUA. O segredo é prevenção e atendimento primário. A coisa muda de figura quando se necessita de intervenções de alta complexidade, hipótese em que é melhor estar nas mãos de um médico americano.

Até os dirigentes cubanos já se deram conta de que o modelo comunista é inviável e vêm adotando, ainda que timidamente, uma série de reformas liberalizantes. Dilma poderia ajudar a levar esse processo a um desfecho benigno, deixando claro que o respeito aos direitos humanos é um princípio universal que até aliados cobram. E deve mostrar a mesma intransigência quando estiver nos EUA e, principalmente, no Brasil.

GOSTOSA


As mentiras do PT sobre Pinheirinho - ALOYSIO NUNES FERREIRA

FOLHA DE SP - 01/02/12

Não houve nenhum massacre em São José dos Campos como anunciou o governo do PT, e a operação foi planejada por mais de quatro meses

Em face da reintegração judicial de posse da área conhecida como Pinheirinho, em São José dos Campos, o PT montou uma fábrica de mentiras para divulgar nas próximas campanhas eleitorais. Em respeito aos leitores da Folha, eis as mentiras, seguidas da verdade:

Mentira 1: "O governo federal fez todos os esforços para buscar uma solução pacífica".

Verdade: Desde 2004, a União nunca se manifestou no processo como parte nem solicitou o deslocamento dos autos para a Justiça Federal. Em 13 de janeiro de 2012, oito anos após a invasão, quando a reintegração já era certa, o Ministério das Cidades -logo o das Cidades, do combalido ministro Mário Negromonte- entregou às pressas à Justiça um "protocolo de intenções". Sem assinatura, sem dinheiro, sem cronograma para reassentar famílias nem indicação de áreas, o documento, segundo a Justiça, "não dizia nada", era uma "intenção política vaga."

Mentira 2: "Derramou-se sangue, foi um massacre, uma barbárie, uma praça de guerra. Até crianças morreram. Esconderam cadáveres".

Verdade: Não houve, felizmente, nenhuma morte, assim como nas 164 reintegrações feitas pela Polícia Militar em 2011. O massacre não existiu, mas o governo do PT divulgou industrialmente a calúnia. A mentira ganhou corpo quando a "Agência Brasil", empresa federal, paga com dinheiro do contribuinte, publicou entrevista de um advogado dos invasores dando a entender que seria o porta-voz da OAB, entidade que o desautorizou. A mentira ganhou o mundo. Presente no local, sem explicar se na condição de ativista ou de servidor público, Paulo Maldos, militante petista instalado numa sinecura chamada Secretaria Nacional de Articulação Social, disse ter sido atingido por uma bala de borracha. Não fez BO nem autorizou exame de corpo de delito. Hoje, posa como ex-combatente de uma guerra que não aconteceu.

Mentira 3: "Não houve estrutura para abrigar as famílias".

Verdade: A operação foi planejada por mais de quatro meses, a pedido da juíza. Participaram PM, membros do Conselho Tutelar, do Ministério Público, da OAB e dos bombeiros. O objetivo era garantir a integridade das pessoas e minimizar os danos. A prefeitura mobilizou mais de 600 servidores e montou oito abrigos. Os abrigos foram diariamente sabotados pelos autodenominados líderes dos sem-teto, que cortavam a água e depredavam os banheiros.

Mentira 4: "Nada foi feito em São Paulo para dar moradia aos desabrigados".

Verdade: O governo do Estado anunciou mais 5.000 moradias populares em São José dos Campos, as quais se somarão às 2.500 construídas nos últimos anos. Também foi oferecido aluguel social de R$ 500 até que os lares definitivos fiquem prontos. Nenhuma família será deixada para trás.

Entre verdades e mentiras, é certa uma profunda diferença entre PT e PSDB no enfrentamento do drama da moradia para famílias de baixa renda. O Minha Casa, Minha Vida só vai sair do papel em São Paulo graças ao complemento de R$ 20 mil por unidade oferecido pelo governador Geraldo Alckmin às famílias de baixa renda. Sem a ajuda de São Paulo, o governo federal levaria 22 anos para atingir sua meta.

O PT flerta com grupelhos que apostam em invasões e que torcem para que a violência leve os miseráveis da terra ao paraíso. Nós, do PSDB, construímos casas. Respeitar sentença judicial é preservar o Estado de Direito. É vital que esse princípio seja defendido pelas mais altas autoridades. Inclusive pela presidente, que cometeu a ligeireza de, sem maior exame, classificar de barbárie o cumprimento de uma ordem judicial cercado de todas as cautelas que a dramaticidade da situação exigia.

Ueba! Mulheres Ricas e Chatas! - JOSÉ SIMÃO


FOLHA DE SP - 01/02/12
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O Esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: "Suspeita de propina derruba presidente da Casa da Moeda".
Tava apenas incentivando a circulação! E a propina era em que moeda?! Ai, ai, ai. Socuerro! Me mate um bode! Essas "Mulheres Ricas" são chatérrimas.
Como diz um amigo: "Prefiro casar com mulher pobre. Rica só com 80 anos e com febre! E testamento assinado com firma reconhecida!". E o site QMerda disse que a Val Marchiori falou 18 "hellos", tomou 18 taças de champanhe e teve uma overdose de vida fútil.
Eu acho que ela teve uma overdose de vida inútil! A Bruxa que se acha Cinderela!
E a Brunete, a Barbie Old Series, Barbie de 60 anos, foi prum sex shop buscar alternativas pra atrair namorados. E sabe o que a vozinha Barbie experimentou? Uma fantasia de bruxinha. Rarará! E saiu voando! E aquela que adora arma de fogo, a atiradora de elite: "Não sei se vou acordar viva". Morta ela não vai conseguir acordar nunca.
E a pele da caminhoneira tá mais esburacada que as estradas brasileiras. Eu tenho medo daquela que atira. Eu tenho medo de todas! Bizarras! Rarará!
E a Dilma? Direto de Cuba pro Haiti. Eu sei o que a Dilma foi fazer no Haiti. Ver se sobrou algum haitiano ou se vieram todos pro Brasil. Rarará!
Ela podia trazer um zumbi pro ministério! E o presidente do Haiti é cantor de lambada! Um Luiz Caldas! Depois da lambança, a lambada! É mole? É mole, mas sobe!
E eu sei o que a Dilma foi fazer em Cuba. Curso de gambiarra. Cuba é uma gambiarra! Eles pegam uma batedeira anos 30 e transformam num Chevrolet anos 60!
E avisaram pra Dilma que blusa tomara que caia em Cuba se chama "Abaja e Chupa"?! Rarará!
E o Fidel fechou uma boite gay em Cuba chamada El Periquitón. E as bibas em represália abriram outra boite gay chamada Che GAYVARA! Rarará!
E eu sempre repito a definição da Revolução Cubana, dada por um repórter da "Newsweek". Três são as causas da vitória da Revolução Cubana: saúde, educação e habitação! E três são as causas do fracasso: café da manhã, almoço e jantar! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

COFRE CHEIO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 01/02/12


O Estado de São Paulo recebeu R$ 113,4 bilhões em impostos, fechando 2011 com receita total de R$ 142,32 bilhões. Essa arrecadação cresceu 9,9% em relação a 2010, sem descontar a inflação. Os números são do relatório de execução orçamentária do governo. O superavit primário (economia para pagar os juros da dívida do Estado) foi de R$ 5,9 bilhões -43,9% acima da meta estabelecida, de R$ 4,1 bilhões para o ano passado.

NOTA DE CORTE
O Executivo gastou R$ 43,58 bilhões com pessoal. Investiu 30,15% da arrecadação tributária (R$ 26,4 bilhões) em educação e 12,43% (R$ 10,84 bilhões), em saúde. Anuncia que cumpriu os percentuais mínimos exigidos pela legislação para investimentos nessas áreas, de 30% e 12%, respectivamente.

DIPLOMACIA
O escritor Fernando Morais, que disse no Fórum Social de Porto Alegre que não mexeria "um palito" para ajudar a blogueira cubana Yoani Sánchez a visitar o Brasil porque ela é "contra a revolução", evita criticar o governo Dilma pela concessão de visto de turista para a oposicionista do regime dos irmãos Castro. "Não entro nessas considerações."

PUGILATO
Morais diz que "é sabido que o blog dessa moça é mantido num servidor do dono de uma empresa alemã que contrata pugilistas cubanos que desertam mundo afora" -incluindo os que abandonaram a delegação do país no Pan de 2007, no Rio. "Quem está pagando a conta para traduzir o blog dela para 18 línguas?"

CARA OU COROA
Os fãs do zagueiro corintiano Paulo André poderão escolher a capa de seu livro "O Jogo da Minha Vida - Histórias e Reflexões de um Atleta". A votação acontece nas páginas do jogador e da editora LeYa no Twitter e no Facebook, de hoje até sexta.

LOURA GELADA
A atriz Ellen Rocche será a musa do camarote Bar Brahma, no Sambódromo do Anhembi, em SP. Ela também vai atacar de chopeira e está aprendendo a tirar a bebida.

PINGUIM NA AUGUSTA
O trio norte-americano Penguin Prison, composto por Chris Glover, Ernesto Karolys e Conrad Stern-Ascher, se apresentou no Beco 203, em São Paulo. A DJ Reggie Moraes assistiu ao show.

CHORA, CAVACO
Beth Carvalho fez show em homenagem a Nelson Cavaquinho, no HSBC Brasil, anteontem. Carlinhos Vergueiro e os integrantes do Quinteto em Branco e Preto, como Magnu Sousá e Maurilio de Oliveira, também se apresentaram.

PRIMEIRO GRÃO
O governo federal pagou em janeiro a 685 famílias a primeira parcela, de R$ 1.000, para cadastrados no Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural. São agricultores familiares, pescadores e pequenos criadores de animais, que recebem capacitação e um total de R$ 2.400 para desenvolver suas atividades.

BOLSA DE VIAGEM
E o secretário de Renda de Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social, Luís Henrique Paiva, vai apresentar nesta semana o programa Brasil sem Miséria na ONU. Participa de sessão da comissão das Nações Unidas que trata do tema.

LEVANTAMENTO
A 9ine, agência de marketing esportivo do ex-jogador Ronaldo, fechou contrato com o levantador Bruno Rezende, da seleção de vôlei. O filho do técnico Bernardinho é o primeiro atleta olímpico da empresa.

NO REBOLATION
E Ronaldo Fenômeno desembarcará em Salvador no domingo de Carnaval. Ele estará no camarote Expresso 2222, de Flora e Gilberto Gil, participando de uma ação de marketing das pilhas Duracell. Ele é garoto-propaganda da marca.

CURTO-CIRCUITO
O documentário "Beyond Assignment", sobre as fotógrafas Adriana Zehbrauskas, Mariella Furrer e Gali Tibbon, será exibido no dia 10 de março no Festival Internacional de Miami.

A fisioterapeuta e gerontóloga Betty Gervitz inicia hoje o curso "Dança: Um Projeto de Saúde", no estúdio Anacã, no Jardim Paulistano.

A banda RPM fará sessão de autógrafos de seu novo disco, "Elektra", hoje, a partir das 18h, na Livraria Cultura do shopping Market Place.

com DIÓGENES CAMPANHA (interino), LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

A política da irrelevância - ROLF KUNTZ


O Estado de S.Paulo - 01/02/12


Sem o exotismo rústico de seu antecessor e sem disposição para conduzir uma diplomacia madura, a presidente Dilma Rousseff tende a tornar-se uma figura irrelevante no palco internacional, muito abaixo do papel esperado de quem governa a sexta maior economia do mundo. Ainda terá a vantagem de passar longe de cenas constrangedoras. Não prevenirá o ex-KGB Vladimir Putin para tomar cuidado com os governantes capitalistas, nada confiáveis. Não elogiará uma cidade da África por sua limpeza ("não parece africana", disse Lula). Não insistirá, perante uma plateia na Turquia, em explicar a velha identificação brasileira de "turco" e mascate. Não tendo sido sindicalista, ficará, talvez, livre da propensão, tão ostensiva em seu padrinho político, de agir e falar em qualquer parte do mundo como se estivesse num palanque de Vila Euclides. Mas isso parece menos garantido e talvez a expectativa, nesse caso, seja muito otimista. Se tivesse ido a Davos, disse o chanceler Antonio Patriota, a presidente Dilma poderia ter feito um discurso parecido com a fala de Sharan Burrow. Mas a comparação parece imprópria.

A australiana Burrow é secretária-geral da Confederação Internacional de Sindicatos, com sede em Bruxelas, e especialista em educação, relações industriais e políticas sociais. É uma figura internacional e age de acordo com suas funções. Convidada para um painel no Fórum Econômico Mundial, foi lá, desceu a lenha nos governos, falou horrores das condições atuais do capitalismo e enfrentou uma discussão dura com pessoas de peso político e intelectual. Deu seu recado num dos mais importantes foros internacionais de debates, onde se tratou, na mesma semana, de alguns dos assuntos mais quentes do momento - a crise europeia, as perspectivas da economia mundial, o drama do desemprego e o futuro do capitalismo. Políticos do primeiro time, tanto de países avançados quanto de emergentes, discutiram propostas, condenaram políticas e expuseram-se publicamente a críticas e pressões. E a presidente Dilma?

Convidada com insistência para ir a Davos e fortalecer a presença brasileira no Fórum Econômico Mundial, preferiu fazer um discurso ridículo no Fórum Social de Porto Alegre, recitando a velha ladainha contra o neoliberalismo e exaltando as maravilhas da América Latina. Como é normal entre os de seu grupo, esqueceu a história: nenhuma economia da região ganhou segurança sem passar por aqueles ajustes combatidos tradicionalmente pelo PT e pelos autointitulados desenvolvimentistas.

A presidente poderia ter ido a Porto Alegre e depois a Davos, como fez Lula há alguns anos. Mas preferiu bater ponto naquele circo esvaziado e muito menos importante que outro evento "paralelo", o Fórum Aberto de Davos, onde empresários, banqueiros e autoridades enfrentam um auditório às vezes agressivo. O megainvestidor George Soros esteve lá, num dos últimos anos, e se expôs a um monte de desaforos.

A presidente Dilma Rousseff escolheu a obscuridade e a omissão. Em Davos, milhares de políticos, empresários e acadêmicos envolveram-se durante cinco dias em intensas discussões sobre a crise e sobre as saídas possíveis. Entre as figuras públicas havia chefes de governo, ministros, presidentes de bancos centrais e dirigentes de instituições multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio. A briga foi pesada. Chefes de governo, como o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, e servidores de primeiro escalão, como o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, pressionaram abertamente o governo alemão e outros da zona do euro para fazer muito mais pela solução da crise das dívidas. Figuras de todo o mundo, como o governador de Hong Kong, Donald Tsang, e o vice primeiro-ministro da Turquia, Ali Babacan, entraram no jogo. Os governos da zona do euro, disse o ministro turco, precisam de um ajuste muito mais sério para ganhar credibilidade. Além disso, devem a qualquer custo evitar a insolvência grega, porque um calote poderá abrir a porteira para um imenso desastre.

Apesar de um duro ajuste orçamentário, a economia turca cresceu 8,2% em 2010 e deve ter crescido uns 7% no ano passado. Babacan foi lá, deu seu recado, participou do jogo e mostrou - sem a arrogância brasiliense - a boa evolução da economia grega. A presidente Dilma Rousseff poderia ter feito algo semelhante. Talvez não o tenha feito por causa de um grave provincianismo ideológico ou por não se sentir à vontade entre interlocutores bem preparados e sem subordinação. Porto Alegre é muito mais confortável. Mas o Brasil não conquistará peso internacional no irrelevante Fórum de Porto Alegre, nem dependerá, para isso, de "movimentos sociais" financiados pelo Tesouro Nacional.

GOSTOSA


Freio de mão - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 01/02/12


Na Europa, comemora-se o que foi evitado, como a crise bancária da Itália, no final do ano passado, pela ação do novo presidente do Banco Central Europeu. No Brasil, o que se lamenta são os obstáculos não removidos, como os que impedem o crescimento da indústria, que há quatro anos tem alta de apenas 0,5% em média. Toda vez que o país cresce um pouco mais, tem que puxar o freio de mão.

O autor da avaliação é o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados. Ele continua achando que o ano pode ser melhor do que o que passou, mas lembra que há riscos na Europa e inexplicáveis atrasos no Brasil na área econômica:

- O italiano (Mario Draghi, novo presidente do BCE) conseguiu em dois meses o que o francês (Jean Claude Trichet, antecessor no cargo) não havia conseguido: deter o processo de contágio. No final do ano, o mundo parecia à beira do colapso. Agora, há sinais animadores. Draghi assumiu baixando os juros e aumentando a oferta de capital. Hoje já se sabe que nenhum cliente do BCE vai quebrar por falta de liquidez.

O outro italiano de mesmo nome, o primeiro-ministro Mario Monte, também já fez a diferença, mas não resolveu a crise.

- A Itália está reduzindo o déficit público, mas, se não houver crescimento, o país podem cair num populismo de esquerda ou de direita - disse José Roberto.

Ele acha que a agenda hoje na Europa é de ajuste com crescimento. O ajuste apenas só tornará as economias mais anêmicas; os incentivos ao crescimento não podem ser dados sem o ajuste, do contrário, agrava-se a crise de confiança dos governos endividados. Como resultado das políticas de expansionismo monetário do BCE, a moeda vai se desvalorizar:

- O euro vai se desvalorizar, é inexorável, e isso pode aumentar a competitividade dos países europeus. O problema é que tudo o que foi feito até agora não garante que a moeda está garantida. Se alguém disser que o euro vai quebrar, não tenho muitos argumentos contra. Há pelo menos três a quatro meses de muito desafio pela frente.

No dia 28 de fevereiro haverá a segunda rodada de empréstimos do BCE para os bancos. O Banco vai começar a aceitar papéis de maior risco como garantia para financiar os bancos, na esperança de que eles continuem rolando as dívidas dos países.

- Costumo dizer que o BCE já está quase aceitando como garantia tíquete-refeição e vale-transporte. A grande vantagem é que até agora a maior prioridade de todos os países é manter o euro - disse.

José Roberto define a Grécia como um caso perdido. Acha que ela não sai do euro agora, mas que em algum momento deixará a unidade monetária. Portugal estaria a meio caminho. Está na desconfortável situação de ser o segundo da fila, mas o país tem chances de se recuperar pelos estreitos laços que tem com o resto da Europa, seja em investimentos, mercado de trabalho, relações econômicas.

O Brasil não tem o problema de excessivo endividamento que aflige países europeus, e este ano vai crescer entre 3,3% e 3,5%, mas não está bem, diz José Roberto:

- O PIB da indústria cresceu apenas 0,5%, em média, nos últimos quatro anos e isso porque o país não está conseguindo aumentar a capacidade de competição da indústria. A demanda cresce e os non-tradables (produtos que não podem ser importados) aumentam o preço. Há três ou quatro anos que a inflação de serviços está acima de 7%, e no ano passado ficou em 9%. Na indústria, o aumento da demanda é coberto pela importação de produtos, componentes, peças, máquinas. A economia não está conseguindo aumentar a oferta e isso pelas velhas dificuldades de superar os obstáculos. O Brasil continua com um problema de oferta.

José Roberto está falando dos velhos e conhecidos gargalos - alto custo dos impostos que incidem sobre a folha salarial, logística deficiente, falta de trabalhadores, pesada carga tributária, custo de energia:

- As lideranças empresariais vão a Brasília atrás de caramelos fiscais, em vez de lutar por reformas que vão recriar a competição. Pedem e conseguem a mesma coisa dos anos 1950, como, por exemplo, o conteúdo nacional. O governo ainda não entendeu que a revolução que houve agora foi do software. Um pedacinho do governo faz esforços na direção certa, mas é minoritário. A gente procura quem inova e sempre encontra as mesmas empresas: Natura, Embraer, Petrobras; não sai muito disso. E para todo problema, as empresas pedem uma solução estatal. Estabelece-se, por exemplo, que a Petrobras tem que comprar com 65% de nacionalização. Seus fornecedores não conseguem atender, e a produção de petróleo não cresce.

Os Estados Unidos começam a melhorar lentamente:

- O mercado imobiliário já melhorou em Nova York e em Miami. No segundo, com a ajuda de brasileiros. O crédito voltou a crescer. A McKinsey detectou que na média o endividamento caiu, apesar de algumas famílias terem quebrado irreversivelmente. O desemprego vai cair devagar. Mesmo com o conflito no Congresso, os Estados Unidos vão crescer de 2% a 2,5% - diz José Roberto.