quarta-feira, julho 09, 2008

Deus joga boliche com cabeças de bebês em Belém
BLOG DO JOSIAS

Supondo que Deus exista e que somos meras peças do jogo Dele, pode-se concluir: o Todo-Poderoso está de brincadeira com a religiosa cidade de Belém (PA).

Convertidos em peças de um boliche macabro, os bebês que passam pela Santa Casa de Belém são protagonistas involuntários do passatempo do Senhor.

Entre janeiro e junho de 2008, tombaram 262 bebês. Escorregaram dos leitos e das macas para as covas. Eis a contabilidade, mês a mês:

Janeiro: 31
Fevereiro: 42
Março: 39
Abril: 37
Maio: 50
Junho: 54
Julho (até o dia 7): 9

Alguns "incautos" atribuem as mortes ao descaso do Estado. Mas o médico Maurício Bezerra, que acaba de assumir o comando da Santa Casa, nega omissões.

Ou seja: trata-se mesmo, agora não há mais dúvidas, de um mega-strike do Jogador Invisível, que tudo pode.

Dias atrás, o Brasil espantara-se ao saber que haviam morrido 13 bebês na Santa Casa de Belém em escassos dois dias: de 20 a 22 de junho.

Agora, o caso parece caminhar para o esquecimento. As peças do boliche divino são pobres e sem perspectivas.

A morte de gente assim já não emociona o Brasil. Entre nós, Deus pode brincar do que bem entender. Conta com a religiosa cumplicidade dos gestores públicos.
GISELE BUNDCHEN

Gisele numa foto de 1999.

Aqui pra nós, eu já comi coisa bem melhor.
Élio Gaspari
- O teatro do Doutor Cabral custa caro
O Globo
9/7/2008

O que há no Rio de Janeiro não é uma crise da política de enfrentamento do governador Sérgio Cabral, é a crise da marquetagem do doutor Cabral. Montou-se um teatro, como se a política de segurança pública da cidade fosse um seriado de televisão. A bem da justiça, reconheça-se que nessa arte Cabral não é o único diretor de cena. É apenas o de maior desempenho.
Em menos de um mês a cidade teve três crimes chocantes. Todos envolveram agentes da ordem e neles se misturaram elitismo, demofobia e inépcia. O que faltou foi polícia.
Primeiro foi a chacina da Mineira. Um tenente e dez militares do Exército entregaram três cidadãos a uma quadrilha de traficantes e assassinos. À primeira vista, havia no Morro da Providência uma ação federal de segurança. Coisa de Nosso Guia. Muita gente boa parecia viver seu momento Tropa-de-elite: afinal o Exército subira o morro.
Teatro. O Exército dava segurança aos trabalhadores das empreiteiras (em cujo plantel o "movimento" tinha uma cota). Há dezenas de obras sem Exército nos morros do Rio. Se isso fosse nada, o desfile era parte do book do senador Marcelo Crivella.
O Comando do Leste confunde cidadãos com "elementos", mas vá lá. Difícil será entender por que escalava para o Morro da Providência um jovem tenente que morava nas fímbrias das favelas Águia de Ouro e Fazendinha, em Inhaúma. Um primo de sua mulher já estivera preso por tráfico de drogas. Não se deve julgar um oficial saído da Academia das Agulhas Negras pelo seu padrão residencial, muito menos pela parentela. No entanto, uma boa política de recursos humanos recomendaria, em benefício do jovem tenente, que ficasse longe do morro.
Dias depois, o guarda-costas do filho de uma procuradora matou um jovem com um tiro no peito numa briga de porta de boate. O assassino é um PM que trabalha há oito anos na segurança de procuradores do Estado. Ele estava há sete com a família. Nenhum serviço policial sério mantém agentes numa atividade desse tipo durante oito anos. Um guarda-costas com sete anos de casa não é mais um agente policial, é um agregado.
Tanto no Morro da Providência como na porta da boate Baronetti os crimes foram antecedidos por falhas de gente que está em cargos de comando ou chefia.
Os PMs que mataram o menino João Roberto Amorim Soares achavam que estavam numa cena de enfrentamento, na qual só um lado atira.
Decidiram que havia bandidos no carro da família Soares, assim como o tenente da Providência decidiu que a galera da Mineira deveria dar um "susto" na sua carga. O enfrentamento dessa gente não é com os bandidos. É com o "outro", um cidadão que repentinamente perde seus direitos em nome de um estado de emergência produzido pela administração do medo a serviço da marquetagem política.
Nenhuma pessoa de bom senso pode achar que está mais segura numa cidade onde um coronel da PM (Marcus Jardim) disse que 2007 deveria ser "o ano dos três Ps: Pan, PAC e Pau". Esse mesmo representante das forças da ordem presenteou um funcionário da ONU com uma miniatura do "Caveirão". É perigosa qualquer cidade onde o governador diga que uma favela é "fábrica de marginais".
Acreditar que os enfrentamentos da polícia de Sérgio Cabral têm algo a ver com uma política de segurança pública é correr atrás do papel de bobo.
ELIO GASPARI é jornalista.
CONTA CORRENTE




Diogo Mainardi

8 de julho de 2008


Daniel Dantas e Naji Nahas presos
Hoje, terça-feira, bem cedinho, olhei pela janela e vi uma câmara da TV Globo apontada para o prédio vizinho, onde mora Verônica Dantas. Pensei:
- Oba! Daniel Dantas vai ser preso!
Pouco depois, li que Naji Nahas havia sido preso junto com ele. Pensei:
- Oba, oba, oba!
Em setembro de 2005, publiquei meus dois primeiros artigos sobre Daniel Dantas, intitulados "Resumo da Ópera" e "Resumo da Ópera 2". Eu dizia:
"Até 2002, Marcos Valério era um operador local de Dantas, encarregado do abastecimento do bando mineiro do PSDB. Quando Lula foi eleito, Marcos Valério se aproximou de Delúbio Soares e passou a canalizar toda a propina que Dantas era obrigado a pagar ao governo federal, representado pelo bando de José Dirceu".
Depois desse segundo artigo, fui procurado por Daniel Dantas. Ao todo, encontrei-o quatro vezes, em seu escritório, entre setembro de 2005 e maio de 2006.
Desde o primeiro encontro, impressionei-me com sua vergonhosa falta de coragem. Por esse motivo, duvido que ele diga o nome dos políticos que pagou, apesar de estar na cadeia. Pressionado, ele sempre recorre à barganha mais rasteira, distribuindo ameaças. No artigo "A última sobre Dantas", citei alguns dos fatos que podem atemorizar Lula e o PT. Recomendo sua releitura, em particular o trecho sobre o encontro de Lula com a diretoria do Citibank.
Naji Nahas, o parceiro de Dantas, é protagonista de um episódio que, até hoje, ninguém se interessou em apurar. Em fevereiro de 2006, em "Para entender o caso Nahas", denunciei seu envolvimento numa negociata da Telecom Italia. Dois anos depois, em fevereiro de 2008, na coluna "Fantasioso? Sórdido?", finalmente consegui reconstruir o caso, a partir de um documento do diretor-financeiro da própria Telecom Italia. Servindo-se de um doleiro e de um contrato com Nahas, a empresa reuniu 1,3 milhão de dólares em dinheiro vivo. O dinheiro, segundo testemunhas de um inquérito italiano, foi usado para corromper políticos em Brasília, entre abril e maio de 2003, no comecinho do mensalão.
O inquérito italiano cita igualmente os 25 milhões de euros que a Telecom Italia pagou a Naji Nahas. Tratei do tema em "Esperei Godot. E ele apareceu". Um dos diretores internacionais da Telecom Italia declarou à justiça milanesa que Naji Nahas recebeu o dinheiro em virtude de "suas ligações com os aparatos institucionais brasileiros, como o Ministro da Fazenda", Antonio Palocci. Esse depoimento foi disponibilizado na internet. Antes de publicá-lo, conferi sua autenticidade com seu próprio autor, o diretor internacional da Telecom Italia, Giuliano Tavaroli. Alguns pilantras me acusaram de ter recebido o documento de Daniel Dantas. Como assim? Daniel Dantas estaria tentando incriminar seu sócio Nahas?
Foi por tudo isso que, ao acordar, olhei pela janela e pensei:
- Oba!
E pensei também:
- Naji Nahas está me processando. Será que ele vai poder comparecer ao tribunal?
E pensei, por último:
- Onde está Marcos Valério? E Delúbio Soares? E José Dirceu? E Roberto Teixeira, o compadre de Lula, contratado por Dantas? E Duda, contratado por Dantas? E Kakai, contratado por Dantas? E Delfim? E Della Seta? E Lula?
A prisão de Daniel Dantas e de Naji Nahas é a chave para entender o que aconteceu no Brasil nos últimos 10 anos. Vou ficar olhando pela janela à espera de notícias.
SPONHOLZ


QUARTA NOS JORNAIS

- Globo: Daniel Dantas é preso por corrupção e suborno à PF

- Folha: Operação da PF prende Daniel Dantas, Naji Nahas e Celso Pitta

- Estadão: Acusados de corrupção, Dantas, Nahas e Pitta são presos pela PF

- JB: Gestão fraudulenta, corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de quadrilha, suborno, tráfico de influência...

- Correio: PF captura tubarões do dinheiro sujo

- Valor: 3º turno na VW para dar conta dos caminhões

- Gazeta Mercantil: PF desmonta esquema de fraude no setor financeiro

- Estado de Minas: Do mensalão à lavanderia

- Jornal do Commercio: Banqueiro, investidor e ex-prefeito presos