sábado, setembro 08, 2012

Câncer é cultura - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 08/09

sce o clima de apreensão entre artistas e produtores culturais com o silêncio da Casa Civil de Dilma em relação à MP 563 recém-aprovada.
É aquela que permite que recursos destinados à cultura pela Lei Rouanet possam ser utilizados para projetos de pesquisas médicas, notadamente sobre câncer.

Conflito
O ator e produtor Odilon Wagner espera que Dilma evite "um conflito entre dois setores tão importantes da sociedade disputando o mesmo dinheiro"
Ele argumenta que incentivos para pesquisas médicas se encaixam melhor na área de ciência e tecnologia. Tem razão.

Parto normal

Os ministérios da Saúde e da Educação vão investir suas fichas em um programa de incentivo ao parto normal na rede pública.
Lançam semana que vem um programa nacional de residência para formar enfermeiros especializados em obstetrícia. Eles ganharão uma bolsa mensal no valor de R$ 2.384,82.

Agora é oficial
Triângulo do Sudeste.
Dilma estreia estes dias nos programas eleitorais de Fernando Haddad, Eduardo Paes e Patrus Ananias.

Bênça, padrinho!
Fernando Henrique Cardoso está apadrinhando uma nova frente pela descriminalização do uso de drogas e regulação da maconha medicinal e do autocultivo, que será lançada dia 18 agora.
É a Rede Pense Livre, por uma política de drogas que funcione. Entre os membros, o empresário Carlos Jereissati Filho, a cineasta Júlia Bacha e ajornalista Mônica Cavalcanti.

PENELOPE CHARMOSAPenelope (assim mesmo sem acento) é nome de filme, de perfume e também é uma personagem da série Hanna Barbera. Além de tudo é um gênero de aves craciformes que inclui esta belezura da foto, a jacupemba, que ilustra a coluna porque hoje é sábado. Esta vive numa comunidade de umas 300 jacupembas no Sítio Santo Antônio, na cidade fluminense de Pedro do Rio, onde são tratadas a pão de ló. Que Deus proteja esta jacupemba e a nós não desampare jamais 

Não há dia fácil
Amanhã, o famoso programa de TV "60 minutes’,’ nos EUA, vai entrevistar o líder da tropa de elite americana que, sob o pseudônimo de Mark Owen, revelou detalhes da operação que matou Bin Laden, no livro "Não há dia fácil” primeiro lugar na lista de mais vendidos da Amazon.com.
No Brasil, o livro da Companhia das Letras chega às livrarias terça, nos 11 anos dos atentados às Torres Gêmeas.

Partido pornográfico Teve gente que caiu na gargalhada quarta na Câmara dos Deputados quando o deputado paranaense Fernando Franceschini, líder deste novo Partido Ecológico da Nação (PEN), anunciou solenemente no microfone:
— O PEN entra em obstrução! Em Frei Paulo isto quer dizer... deixa pra lá.

Javanês em francês
A obra do nosso escritor Lima Barreto (1881-1922) está na moda e não somente no Brasil.
Em outubro, sai na França um livro de contos: "L'homme qui parlait javanais & autre contes” ("O homem que sabia javanês e outros contos”). A editora é a Chandeigne. A obra sairá em edição bilíngue, francês-português.
Viva o Lima, viva o Brasil!

Divina Cleo
A imortal Cleonice Berardinelli, de 96 anos, pôs um ponto final em seu novo livro: "Fernando Pessoa — Antologia poética’!
Trata-se da mais completa coletânea de poesias do escritor português já feita no Brasil. A obra chega às lojas no final deste mês, pela Editora Casa da Palavra.

Ponte na Barra
Além do Museu do Amanhã, o premiado arquiteto espanhol Santiago Calatrava fará o projeto de uma ponte do metrô sobre o Canal da Barra, que ligará o túnel à estação do Jardim Oceânico.
O arquiteto virá ao Rio dia 24 para apresentar o projeto a Cabral e Paes.

Arôxa na Mocidade
Jaime Arôxa fará a coreografia da comissão de frente da Mocidade de Padre Miguel, que leva para a Sapucaí enredo sobre o Rock in Rio.

Diário da Justiça
Com base no voto do juiz Paulo Roberto Jangutta, a 3? Turma Recursal dos Juizados Especiais do Rio condenou a Clínica São Silvestre, de São Gonçalo, a indenizar Sandro Pereira em R$ 10 mil.
Em novembro, ele teve que pagar R$ 950 pelo parto de sua mulher pois informaram erradamente que o atendimento não seria coberto pelo SUS.

Capivaras
Quinta, o Aeroporto de Jacarepaguá teve que ficar fechado por um tempo.
Para os pilotos, o controlador avisava que estavam fazendo uma varredura na pista por causa da invasão de... capivaras na pista. A informação é de Genilson Araújo, o querido repórter aéreo.

Em eleição, vaca desconhece bezerro - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 08/09

Na briga por votos, nem amores partidários legítimos resistem. Imagine então os pequenos flertes entre Dilma Rousseff e Fernando Henrique. Era mesmo uma relação fadada ao fracasso


Depois de longos meses de flertes e elogios rasgados, Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso se estranham e jogam para longe o que teóricos e incautos festejaram como um dos períodos mais saudáveis da nossa democracia. Um tempo em que um ex-presidente e uma presidente, de partidos adversários em todas as esferas eleitorais, trocavam gentilezas, em gestos e palavras.

Nada é para sempre, mas nesse caso — ou melhor, nessa relação enviesada entre uma petista e um tucano — havia prazo definido e anunciado para o fim. Um prazo de menos de dois anos, com o início da campanha municipal. Nela, refiro-me à briga por votos, nem amores partidários legítimos são capazes de resistir aos ataques combinados. O que vem a seguir são rancores e xingamentos.

O racha, como se sabe, começou por causa de um artigo escrito por Fernando Henrique e publicado no último domingo com o título Herança pesada. O ex-presidente tucano afirmou que o antecessor de Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva, desperdiçou oportunidades econômicas e promoveu uma crise moral com o mensalão — o melhor mote para atacar e desestabilizar qualquer petista.

“O mensalão é outra dor de cabeça. De tal desvio de conduta a presidenta passou longe e continua se distanciando. Mas seu partido não tem jeito. Invoca a prática de um delito para encobertar outro: o dinheiro desviado seria ‘apenas’ para o caixa 2 eleitoral, como disse Lula em tenebrosa entrevista dada em Paris, versão recém-reiterada ao jornal The New York Times”.

A primeira reação de Dilma veio na segunda-feira, em nota oficial. Num texto duro, ela disse que não reconhecer os avanços do país nos últimos 10 anos “é uma tentativa menor de reescrever a história”. Na quinta-feira, durante pronunciamento no rádio e na TV, outro ataque. Sem citar Fernando Henrique, a presidente atacou as concessões da gestão tucana à iniciativa privada.

Símbolos

Os movimentos de Dilma contra a administração de Fernando Henrique são simbólicos por dois motivos caros ao PT. O primeiro é o mais óbvio e simples de explicar: os candidatos petistas correm cada vez mais o risco de se esborracharem nas urnas, perdendo espaço nas capitais e principalmente no Nordeste, onde — até as eleições passadas — residia grande parte da força de Lula.

Se a estratégia do PSDB e do DEM é levantar o mote do mensalão, é preciso que os petistas — entre eles, a própria Dilma — contra-ataquem. O problema é que, com as condenações confirmadas sessão a sessão no Supremo, defender mensaleiro ficou cada vez mais difícil. Assim, os petistas voltaram a bater nas privatizações tucanas e nos acertos dos programas sociais de Lula.

O segundo motivo é mais intricado. As duas ações da presidente contra Fernando Henrique em menos de uma semana foram oferecidas à plateia petista, dividida entre dilmistas e lulistas. Os ataques entre os dois grupos chegaram ao limite com a ausência de Lula na guerra travada entre o Planalto e os sindicatos e com a distância de Dilma na campanha de Fernando Haddad, em São Paulo.

A guerra entre dilmistas e lulistas ocorre por conta de uma acomodação de poder. Torcedores de Lula perderam acesso ao Palácio do Planalto e começaram a chiar. Com os índices de popularidade de Dilma, a chance de candidatura à reeleição torna-se cada vez mais próxima, o que escantearia ainda mais os lulistas do poder. Um quadro cada vez mais tenso, de vaca desconhecendo bezerro.

O movimento de Dilma é, assim, uma tentativa de acalmar os lulistas. Os camaradas não poderão dizer que ela aceitou calada as provocações de Fernando Henrique. Ao contrário, em vez de pedir a um ministro para bater boca com o tucano, soltou uma nota oficial, deixando claro que a maior autoridade do país defende o ex-presidente Lula. Mexeu com ele, mexeu com ela.

Inveja dos americanos! - TUTTY VASQUES


O Estado de S.Paulo - 08/09

O brasileiro atormentado pela busca de um mísero discurso articulado e convincente no horário de propaganda política na TV acordou ontem morrendo de inveja do eleitor americano. Dá gosto assistir o Obama pedindo voto, né não?

Você pode discordar de suas posições sobre a guerra, o aborto, o casamento gay, a morte do Bin Laden, a reforma do sistema de saúde ou o time de basquete favorito da NBA, mas quando ele fala em mudança, de esperança num "lugar melhor" - essas coisas que todo político arranha mal -, nem precisa saber inglês para sentir firmeza na visão de mundo do candidato.

Não é aquele super-herói todo que há quatro anos se imaginava, mas continua sendo o homem que, como dizia Paulinho da Viola, "vai encontrar um jeito de dar um jeito na situação" do planeta.

Te ocorre outro guia? Pode até existir alguém tão inteligente, gente boa e bem apanhado, porém tudo isso mais aquela família adorável, duvido!

Quase quatro anos governando uma superpotência de doidos, o cara não se deixou contaminar. Sua lucidez de campanha continua contagiante! Os americanos - ô, raça! - reclamam de barriga cheia da propaganda política na TV!


Bronca terapêutica

O torcedor brasileiro que foi ao Morumbi matar saudades da seleção já nem lembrava mais como faz bem ao fígado vaiar o escrete canarinho. Desopila geral!

Acesso ao consumo

O Brasil já é o segundo maior consumidor de cocaína do mundo! Isso quer dizer o seguinte: mal empinou o nariz, a nova classe média brasileira já está cheirando!

'Menos, mano!'

Marqueteiros de Celso Russomanno estão preocupados. Também, pudera! Mandar o Gilberto Kassab "enfiar o rabo entre as pernas", francamente, por muito menos a Marta Suplicy perdeu a eleição para prefeito em 2008.

Outra coisa

Os "bandidos de toga" estão em festa. O novo corregedor do Conselho Nacional de Justiça, ministro Francisco Falcão promete ser mais intolerante com os "vagabundos do Judiciário". São, como se sabe, categorias bem distintas do serviço público.

Última instância

Quando, afinal, o caso de Adriano vai a julgamento no STF? Imagina só um debate sobre o Imperador entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski. Imperdível!

Mau exemplo

A presidente Dilma deu um tapa no penteado para anunciar na TV que a conta de luz do brasileiro vai ficar 16,2% mais barata. Ou seja, já está gastando por conta.

Mulher-Rocha

Com os trabalhos suspensos até as eleições, a CPI do Cachoeira deixa como legado seu "Furacão" na capa da Playboy de setembro. Sobra na ex-assessora parlamentar Denise Rocha o que falta à maioria dos parlamentares no Congresso: peito!

O caso Fox - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 08/09


SÃO PAULO - Meu colega João Pereira Coutinho publicou na terça uma interessante coluna em que criticava o estilo tortuoso de muitos textos das ciências humanas. Como estou convencido de que mesmo ideias sutis podem ser expostas de forma clara, concordo com Coutinho em gênero, número e caso.

Receio, contudo, que ele tenha sido levemente injusto para com as humanidades. Não há dúvida de que elas abusam do jargão e da impenetrabilidade. Prova-o um célebre caso de 1996, em que o físico Alan Sokal, disposto a demonstrar a falta de rigor das ciências humanas, submeteu à revista "Social Text" um artigo-embuste que foi aceito e publicado. O texto era uma coleção de disparates em linguagem empolada, argumentando que a gravidade quântica é uma construção social e linguística. Diga-se em favor da "Social Text" que, à época, ela não contava com sistema de revisão por pares.

O problema é que esse tipo de coisa não é exclusividade das ciências humanas. Num experimento mais antigo e menos famoso, pesquisadores da Universidade da Califórnia criaram o Dr. Myron L. Fox.

Também era um engodo. Não existia nenhum Dr. Fox. Para representá-lo, contrataram um ator, Michael Fox, que deu uma aula sobre teoria dos jogos aplicada à educação médica. A exposição não tinha amparo na lógica. Eram frases de duplo sentido sobrepostas a contradições e palavras difíceis. Mas o ator tinha charme e dizia as bobagens com autoridade.

A plateia, composta por psiquiatras e psicólogos, não percebeu o logro. Na verdade, avaliou o desempenho do Dr. Fox muito positivamente. Vídeos da aula foram exibidos a outros públicos sempre com os mesmos níveis de sucesso.

Hoje, o caso Fox é usado em livros de psicologia para ilustrar as várias formas pelas quais nossos cérebros se deixam seduzir por elementos não racionais. O problema, no fundo, é a arquitetura de nossas mentes.

Verdade conveniente - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 09/08


Quem olhar só os números achará que o governo Barack Obama aumentou o desemprego, o déficit e a dívida. Mas quem sabe o que se passou na história recente americana entende que estourou no colo do presidente uma bomba de efeito retardado. Os republicanos, claro, apresentaram só os números em sua convenção. Os democratas tentaram contextualizar a crise.

Na comparação das duas convenções, um fato salta aos olhos. Os republicanos não levaram o ex-presidente deles. George Bush atrapalharia. Os democratas deram o momento de honra ao ex-presidente deles. Coube a Bill Clinton oficializar a candidatura de Obama num discurso em que esbanjou charme e argumentos. Clinton tem mais popularidade que Obama e sua presença traz a lembrança dos velhos e bons tempos.

Nos anos dourados de Clinton houve quase pleno emprego, a economia aumentou a produtividade, o país teve superávit, a dívida bruta caiu para 54%. Essa herança foi dilapidada por Bush, que teve déficit todos os oito anos, pelos enormes custos das duas guerras que iniciou.

Quem olhar o desemprego e não souber do contexto achará a administração Obama um desastre. A taxa salta de 6% para quase 10% no primeiro ano de governo. Mas isso foi uma crise herdada. Clinton repôs o contexto. Lembrou que nas seis semanas antes de Obama ser eleito o país viveu o pior crash desde a Grande Depressão. E fez outra conta:
— De 1961 para cá, os republicanos governaram o país por 28 anos, e os democratas, por 24 anos. Nesse período, foram criados 66 milhões de empregos: 24 milhões pelos republicanos e 42 milhões pelos democratas.

Ele creditou essa diferença aos valores do Partido Democrata. A diversidade, as oportunidades iguais, a rede social
são, disse Clinton, boas para a economia. O que não disse é que Obama conquistou avanços, mas ficou aquém da revolução
que prometeu ser. Na política é assim. Cada um conta sua verdade conveniente. Lá e cá. A briga entre o ex-presidente Fernando Henrique e a presidente Dilma mostrou isso. FH errou ao tentar separar Lula e Dilma. A presidente não estaria em sua cadeira se não fosse Lula. Ela tem inegáveis méritos, mas sem Lula sequer seria escolhida pelo partido.

Quando respondeu, a presidente desafinou. O país não estava sob intervenção do FMI quando FH entregou o governo. Fora pedido um empréstimo ao Fundo para ser quase todo liberado no governo Lula. Era para ajudar a transição. A fuga de capitais era medo do velho programa econômico do PT, em boa hora abandonado. Não havia risco de apagão em 2003. Houve em 2001. Quando Lula assumiu, o problema estava resolvido.

A nota da presidente ataca FH, mas não rebate seus argumentos. Fernando Henrique, por sua vez, ataca a “crise moral”, mas no caso de Eduardo Azeredo o PSDB o defendeu e, na época, o manteve na presidência do partido. Dilma disse que Lula é “um democrata que não caiu na tentação de mudança constitucional que o beneficiasse”. FH carregará sempre o peso de ter aprovado a reeleição no meio do mandato, mas o PT no poder não a aboliu.

Dilma disse ter recebido “uma economia sólida, com crescimento robusto, inflação sob controle, investimentos consistentes em infraestrutura e reservas cambiais recordes”. As reservas eram recorde, a inflação estava sob controle porque foram mantidas as bases do Plano Real de FH. Os investimentos em infraestrutura foram baixos nos dois governos. Agora, se o crescimento era mesmo “robusto”, a culpa do pibinho dos últimos dois anos recai inteiramente sobre ela. E essa ideia não é conveniente para a governante.

Para além do voo de galinha - VITOR WILHER


O ESTADÃO - 08/09


A economia brasileira dá sinais de retomada, após uma quase estagnação no primeiro semestre do ano. Já não se espera muito da indústria, dado que esta preferiu acomodar a produção, substituindo em larga medida insumos nacionais por importados - situação amplamente divulgada em jornais e revistas e mensurada pela comparação entre volume de produção e faturamento. Ambos caminham em direções distintas. Já o restante da economia vai sendo conduzido pelo consumo das famílias, influenciado diretamente pela renda mais elevada e pela expansão do crédito.

Há 14 trimestres - desde, portanto, a falência do banco Lehman Brothers - a economia brasileira cresce a 3,5% ao ano. O consumo das famílias, nesse mesmo período, cresceu 5,3% no acumulado em 12 meses. Esse descompasso tem custos para o organismo econômico. Um, evidente, é a aceleração inflacionária, toda vez que crescemos um pouco mais que o habitual. Outro, um pouco menos nítido, pode ser visto na comparação entre exportações e importações. Enquanto as primeiras cresceram 1,7% naquela mesma base de comparação, as importações cresceram nada menos do que 12,7%. Quanto maior essa diferença, maior o déficit em transações correntes e, portanto, maior o passivo que o nosso país incorre com o resto do mundo. E isso é apenas amenizado no curto prazo, com o financiamento via Investimento Estrangeiro Direto (IED). No longo prazo, há aumento da remessa líquida de lucros e dividendos, o que agrava ainda mais o nosso déficit estrutural em conta corrente.

Nesse contexto, é decisivo pensar nos condicionantes da oferta agregada. A formação bruta de capital fixo, que aumenta a capacidade produtiva no médio e no longo prazos, cai há três trimestres consecutivos. A indústria cresceu ínfimos 2,3% ao ano nos últimos 14 trimestres, enquanto a agropecuária registrou 2,5%. Neste lado do jogo, só os serviços dão algum respingo de vivacidade, com quase 4% de crescimento no acumulado de 12 meses, influenciados sobremaneira pelo aumento da renda real do trabalhador.

Não há dúvidas de que a política econômica está equivocada, porque foca no consumo, em vez de construir um ambiente de negócios mais produtivo. E aqui é preciso ter cuidado. Não é que o BNDES deva ser usado para alavancar alguns setores privilegiados. Não se trata disso. Em tempos de crise externa, não se espera que o empresário vá aumentar investimentos em capacidade produtiva. O que o governo deve fazer neste momento é uma política econômica anticíclica correta: não aumentar gastos de custeio, mas ampliar gastos de capital. E já aqui é preciso continuar rompendo preconceitos: deve colocar capital privado na infraestrutura.

Reiniciamos o debate com o "PAC das Concessões", mas para avançarmos será preciso definir corretamente as taxas de retorno envolvidas em cada projeto. Não basta licitar pelo menor preço ou pela menor tarifa. Isso só atende à propaganda oficial. É preciso que os projetos sejam economicamente viáveis, algo só possível com um Estado devidamente competente na tarefa de regular. Há muito o que fazer nessa seara, dado o tempo perdido com dogmas e ideologias. Além disso, é preciso alocar os recursos do BNDES onde o mercado falha - inovação e microcrédito -, deixando para os bancos privados a tarefa de financiar o setor produtivo. Isso se tornará factível à medida que as taxas de juros domésticas se ajustem a padrões internacionais, algo que não será alcançado sem a devida diminuição do risco de crédito.

Está mais do que na hora, leitor, de o governo orientar sua política econômica para o caminho da boa teoria macroeconômica. Não é tapando buracos e reavivando pacotes mirabolantes que as coisas entrarão nos eixos. A economia brasileira pode até ensaiar uma recuperação nos próximos trimestres. Mas sem as reformas estruturais, sem o rompimento de dogmas e ideologias, o que teremos é apenas mais um voo de galinha. Talvez um voo um pouco mais duradouro, por causa dos eventos esportivos que estão por vir. Mas a que preço?

GOSTOSA


É ruim. E se for? - RUY CASTRO


FOLHA DE SP - 08/09

RIO DE JANEIRO - O cinema brasileiro já produziu 27 filmes baseados na obra de Nelson Rodrigues, 21, na de Jorge Amado, e sete, na de Lucio Cardoso. Não se sabe onde estão muitos desses filmes nem em que formato ou em que condições. É provável que, de outros, já não exista o negativo ou uma cópia razoável em 35 mm. É parte da cultura brasileira se decompondo, abandonada.

Nelson, Jorge e Lucio estão comemorando centenário em 2012, e há anos que já se sabia disso. Um programa executado com antecedência pelo ministério da cultura teria feito com que tal acervo chegasse reunido e restaurado ao ano desses centenários e permitisse a instituições culturais a realização de mostras, festivais ou retrospectivas. Imagine os ganhos, até políticos. Mas ninguém se mexeu -se é que se teve a ideia.

Nesta quarta-feira, em mesa promovida pelo Sesi-SP no ciclo "Nelson Rodrigues 100 Anos", o cineasta Neville d"Almeida estendeu a situação a todo o patrimônio cinematográfico brasileiro. Seu próprio filme "A Dama do Lotação", de 1978, baseado num conto de Nelson e que arrastou 6,8 milhões de espectadores apenas na estreia, até hoje não está disponível em DVD. E olhe que, por quase 30 anos, foi a segunda maior bilheteria do país.

Dir-se-á que boa parte da filmografia nacional é "ruim". E se for? As chanchadas da Atlântida, em seu tempo, também eram consideradas o fim. Hoje atraem estudiosos que as veem como um tesouro de números musicais e com valor de documentário, por terem sido, quase todas, filmadas nas ruas. Ainda vale o paradigma de Henri Langlois, fundador da cinemateca Francesa, às vésperas da ocupação de Paris pelos alemães, em 1940. Ele decretou que não havia filmes "ruins" -todos mereciam ser protegidos.

Dir-se-á também que restaurar filmes é um processo caro, e que não há dinheiro para isso. Há, sim.

O velho novo mundo - SÉRGIO AUGUSTO


O ESTADÃO - 08/09


Um edifício cinzento, de 34 andares, abriga o Centro de Incubação e Condicionamento. Acima da entrada principal, um escudo com os dizeres "Comunidade, Identidade, Estabilidade". Essa é a divisa do Estado Mundial, a utopia (ou distopia) imaginada por Aldous Huxley em seu romance mais conhecido: Brave New World (Admirável Mundo Novo). No tal centro, na zona central de Londres, chocadeiras eletrônicas geram bebês padronizados que, distribuídos em incubadeiras especiais, são alimentados por uma estranha "secreção pasteurizada" e, na idade oportuna, submetidos a um meticuloso trabalho de lavagem cerebral, graças ao qual se tornam as criaturas mais felizes e conformadas sobre a face da Terra.

Replicantes de um pesadelo cientificista, todos eles crescem condicionados a ter "ódio instintivo" a livros e flores, pois a cultura, a beleza e o amor à natureza podem abalar suas convicções induzidas, arrastá-los para a apostasia, sempre uma ameaça, por contágio, à estabilidade e à segurança da ordem vigente. Para sua diversão, existem esportes com bola, vagamente parecidos com os que conhecemos e praticamos, música sintética e filmes de incríveis efeitos sensoriais, chamados "feelies", precursores do 3-D e do Smell-o-Vision.

O Estado Mundial é a sociedade perfeita: uniformizada, sem atritos, todos sadios, trabalhando como formigas, de forma ordeira e passiva, plenamente satisfeitos com as castas sociais (Alfas, Betas, Gamas, Deltas, Ípsilons), às quais pertencem por obra de uma química genética conhecida como Processo Bokanovsky. Sexo à vontade, sem casamento nem reprodução, sem sentimentos, sem família, sem herdeiros. Os três pilares da revolução burguesa, Liberdade-Igualdade-Fraternidade, há muito perderam sentido na sociedade tecnológica influenciada e abençoada por Ford, o novo Deus dos homens. Ford, de Henry Ford, o inventor do automóvel e da produção em série.

Pelos meus cálculos, o romance começa e termina por volta do ano 2540 da Era Cristã ou, mais precisamente, no ano 632 da Era Ford, iniciada em 1908, quando a fábrica Ford lançou o primeiro Model T (no Brasil batizado de Ford de bigode) e criou a primeira linha de montagem. Há quem ponha o velho Henry no mesmo patamar de Marx e Freud. Huxley não o alçou gratuitamente à categoria de divindade máxima de um mundo dominado pela máquina, deixando Freud de fora até do elenco de nomes e sobrenomes famosos (Lenin, Benito, Hoover, Rothschild, Diesel, Bakunin) que desfilam pelo livro, no qual Marx, ao contrário, empresta seu sobrenome a um dos protagonistas.

Está fazendo 80 anos que Admirável Mundo Novo chegou pela primeira vez às livrarias. Traduzido aqui pela Editora Globo, seu prazo de validade profética parece tão inesgotável quanto o de 1984, de George Orwell. Difícil, se não impossível, dizer qual das duas distopias é a mais terrível, se a opressão vigiada de Orwell ou o bem-estar artificial de Huxley. Não há, no Estado Mundial, um Big Brother permanentemente à espreita nem repressão com o mesmo grau de violência física, mas uma sociedade cuja felicidade depende de um psicotrópico poderoso como o soma (o "Cristianismo sem lágrimas", na definição de uma autoridade local) pode prescindir de qualquer outra forma de brutalidade. Huxley inventou a escravidão satisfeita, o totalitarismo indolor.

Num mundo à parte, batizado Malpaís, vivem os antípodas da civilização cibernética, rotulados "selvagens" porque nascidos e criados como todos nós fomos e ainda somos, a despeito de já estarmos no ano 104 da Era Ford. Um deles é trazido para o "mundo novo" e domina os últimos capítulos, sem no entanto virar herói. Ao contrário dos "civilizados", salvo o grande administrador que esconde num cofre os tesouros da antiga cultura, para que ninguém neles possa pôr os olhos, o Selvagem sabe quem foi e leu Shakespeare, de resto citado em abundância ao longo da narrativa. "Brave new world" saiu de uma exclamação de Miranda, no quinto ato de Rei Lear.

Detalhe irônico: Miranda exalta o "admirável mundo novo" ao seu redor quando se descobre apaixonada. Porque fruto do que os Pavlovs do Estado Mundial qualificariam de "intoxicação hormonal", seu brado de felicidade lá seria considerado um anátema de primeira grandeza, que na certa lhe valeria um desterro para bem longe daquela "pululante mesmice indistinguível", para a Islândia ou algum outro sucedâneo da Sibéria stalinista. O que até seria uma bênção, já que no gulag huxleyniano só há hereges da comunidade de proveta, em grande parte artistas e intelectuais dotados de livre-arbítrio.

Embora tenha escrito Admirável Mundo Novo sob o impacto de uma viagem aos Estados Unidos, onde se assustou com o consumismo desvairado, o gregarismo e as vulgaridades dos americanos, Huxley resume em pouco menos de 300 páginas algumas das ideias e dos modismos em circulação, quando não em prática, na União Soviética e na Europa do seu tempo. A influência de H.G. Wells (A Máquina do Tempo), Zamyatin (Nós) e do filme Metrópolis, de Fritz Lang, era inevitável, como ineludível foi sua influência sobre Orwell e toda uma série de assustadoras fantasias que culmina, mas não se encerra, em Blade Runner, de Ridley Scott, que, aliás, só em julho deste ano cancelou de vez seu velho projeto de adaptar Brave New World ao cinema.

Em Brave New World Revisited, publicado em 1958, Huxley avaliou os acertos de suas predições sobre os efeitos subliminares da propaganda, da lavagem cerebral, da hipnopedia e outras técnicas de manipulação comportamental desenvolvidas nos 27 anos que separavam a escrita do romance de sua revisitação. Hoje, ficaria ainda mais satisfeito. Mas, como em 1958, só consigo mesmo.

Drogas, a peste do século - KÁTIA ABREU


FOLHA DE SP -08/09


O tema da liberação das drogas, recorrente na mídia, foi acolhido, de maneira surpreendente --e preocupante--, pela comissão de juristas incumbida de elaborar um novo Código Penal para o país.
A deliberação passa agora à responsabilidade do Senado, que certamente terá de revê-lo.
Se não o fizer, estará colaborando para o agravamento de um quadro trágico: são assassinadas, por ano, no Brasil, segundo o Ministério da Justiça, nada menos que 50 mil pessoas, média de 136 mortes por dia, índice de guerra civil.
Ressalte-se que esses números se referem apenas aos que morrem no local do crime. Não há dados a respeito dos que morrem posteriormente, em decorrência das agressões.
São vítimas, na quase totalidade, do crime organizado, que tem no tráfico de drogas o seu epicentro.
Na guerra do Iraque, a média diária era de 35 homicídios de civis por dia, segundo dados divulgados pela ONU (Organização das Nações Unidas) ao final do conflito.
Os dados brasileiros são de 2010, e não são isolados: a média aterradora prevalece há alguns anos.
Confrontem-se (e conectem-se) esses números com os de outra pesquisa, o 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), colhidos pelo Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad), da Universidade Federal de São Paulo (USP).
Eis o que lá está: o Brasil é o segundo maior mercado consumidor mundial de cocaína e derivados, com 20% do mercado global, e o maior mercado de crack.
Nada menos.
A pesquisa traz outros detalhes tenebrosos: 4% dos adultos e 3% dos adolescentes brasileiros já experimentaram cocaína e derivados alguma vez na vida; 1 em cada 100 adultos consumiu crack no último ano; 1 em cada 4 usuários da droga a consome mais de duas vezes por semana; 45% dos consumidores de cocaína experimentaram a droga antes dos 18 anos.
Em meio a tudo isso, duvida-se, nos círculos pensantes --de onde, espantosamente, procedem as campanhas pela liberação--, que a droga seja a grande peste da nossa época. A grande peste, sobretudo, do nosso país, comprometendo nossa juventude e, em decorrência, nosso futuro.
Os defensores da liberação costumam citar, levianamente, países desenvolvidos em que tal prática teria dado certo. Não há nenhum!
A Holanda, sempre citada, jamais liberou as drogas. Tolera, em locais específicos, apenas o consumo da maconha.
Agora, no entanto, diante dos resultados adversos, está revendo esse critério.
Esse país, tão liberal, proibiu --e pôs placas nas fronteiras-- o assim chamado "turismo da maconha" e impôs aos estabelecimentos onde o consumo ainda é tolerado que deixem de vender maconha de alta potência (conhecida como "skunk") --a mais consumida e cujo principal agente químico, o THC, é mais intenso.
São medidas graduais, para chegar onde é preciso: à proibição pura e simples do consumo.
Se, com toda a repressão legal --nem sempre correspondida pela eficácia da ação policial e pela Justiça--, o Brasil é figura de proa no mercado consumidor, imagine-se o que ocorreria com a liberação.
Não creio que seja necessário explicar.
Possivelmente, os lucros provenientes do livre comércio de drogas continuariam sendo auferidos pelas mesmas quadrilhas do crime organizado, que comandam o tráfico até mesmo de dentro dos presídios de segurança máxima.
Para a sociedade, continuaria a sobrar tão somente o imenso ônus social e econômico.
O mais impressionante é que não há qualquer demanda da sociedade no sentido de liberar as drogas. Muito pelo contrário.
Recente pesquisa, coordenada pelo cientista social Antônio Lavareda, por encomenda da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), junto à classe C --a que mais sofre os efeitos da criminalidade--, constatou que nada menos que 90% se opõem à liberação das drogas.
Deduz-se, portanto, que a ideia de liberação das drogas é um delírio, inspirado possivelmente por quem desconhece as estatísticas.

Ueba! A Volta da Marta Viva! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 08/09


E as promessas? Todos vão ter metrô na porta de casa. O buraco já tem, só falta o metrô! Rarará!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Feriadão ou Morte! Ir pra praia de carro? Prefiro a morte! Rarará! Do jeito que andam as estradas no Brasil, os dois! E um outro gritou: "Morte! Já tem 15 kgs de costela na churrasqueira desde às 6h".
E um amigo foi viajar e disse que agora tem pedágio até no Google Maps! Rarará! Pedágio no Google Maps.
E o desfile? Diz que a Dilma foi recebida com 21 tiros de canhão! E continua viva? Continua! Tiro de canhão pra Dilma é bolinha de papel. Empina aquele peito de pombo e rebate, PUMBA!
E ontem um amigo gritou pra mulher: "Serra ou praia?". E ela: "Russomanno!". Dúvida de feriadão: serra, praia ou russomanno!
E outra dúvida: "Sou ateu, posso votar?". Pode, mas não deve! Tá tendo uma suruba religiosa. Serra chora no ombro do padre Marcelo, mas quando é o Haddad o padre manda dizer que tá com dor de dente e que confia no Russsomanno, que agora tem o apoio da Renascer e disputa a Igreja Mundial com o Serra, que perdeu a Universal pro Russomanno, e o Haddad não apoia nenhum mas apoia todos! UFA! Vou votar no diabo! Guerra de Igrejas! Não é mais guerra de partidos!
E as promessas? Todos vão ter metrô na porta de casa. O buraco já tem, só falta o metrô! Rarará!
E atenção! A Volta da Marta Viva! Como ela consegue ler o teleprompter com um olho olhando pra cada lado? Trinta piscadas por segundo. Ela lançou o Pisca Rápido! Rarará! E o laquê? Já pode andar de moto sem capacete!
E adoro quando ela fala: "O presidente Luuuuula". E ela tá parecendo um quindim de padaria. Quindão! Marta Quindão!
E o Serra Vampiro Anêmico? O Serra é o vampiro canguru: pula de cargo em cargo! E diz que está vindo uma equipe da ONU pra resgatar o Serra, missão humanitária!
E eu sei que o Chalita parece pai do Luan Santana. Mas ele tem cara de quem derrubou Ki-Suco no pacote de bolacha Mirabel!
E a Soninha é A Sequelada da Ciclofaixa! Rarará! É mole? É mole, mas sobe
Ereções 2012! A Galera Medonha! A Turma da Tarja Preta! Olha o cúmulo do nepotismo. Direto de Salvador: "Irmã Neta". Não pode, irmã neta é o cúmulo do nepotismo!
E agora não sei se voto no Picão Carroceiro, no Ronaldo Pistola ou naquela candidata de Lagoa Grande do Maranhão: Xota! Simples, assim! Rarará!
A situação está ficando psicodélica. Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Joaquim acusa protelação - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 08/09

O ministro Joaquim Barbosa está enfurecido com o colega Ricardo Lewandowski. Tem dito que o revisor está “enrolando” as sessões para protelar ao máximo o fim do julgamento do mensalão. Reclama que os votos do revisor são mais longos do que os seus, que é o relator, e que, mesmo quando vai concordar, Lewandowski toma mais tempo que ele para se pronunciar.

Crise? Que crise?

O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), envolvido na CPI do Caso Cachoeira, lançou edital para contratar empresa de comunicação capaz de melhorar sua imagem. Um dos itens previstos: "programa de prevenção de crises’! O valor do contrato é de R$ 167,5 mil. Marconi também quer estimular seus servidores, com campanhas de motivação, ao custo de R$ 111,3 mil. Para avaliar sua imagem e fazer sondagens junto à imprensa e outros públicos de relacionamento, está reservando R$ 52,1 mil. O pregão está previsto para 16 de outubro. Vai esperar o fim da CPI para recauchutar a imagem.

O governo está transformando a lei de licitações numa lei de exceção. O Regime Diferenciado de Contratação vale para quase tudo!
Hugo Leal
vice-líder do governo na Câmara

Não abro mão!
O ministro Joaquim Barbosa disse a pessoas próximas que não abrirá mão de relatar o mensalão até o fim, mesmo quando for para a presidência do STF, no lugar de Ayres Britto, que sai em novembro. Já se assegurou de que, juridicamente, a manobra é possível.

Ritmo frenéticoO ex-presidente Lula está bem incomodado com o ritmo do julgamento do mensalão. Ao contrário da opinião geral, tem reclamado a interlocutores que os ministros do STF estão sendo céleres como nunca antes na história desse país e que
politizaram o processo. Sobre os resultados até o momento, fala cobras e lagartos.

Tô fora

O deputado Romário (PSB-RJ) admitiu ter sido convidado por um amigo — e comparecido — a uma casa de jogos de Carlos Cachoeira. Mas garantiu que não conhece o contraventor e que esteve no local para distribuir autógrafos a fãs.

Nada de bengala
Pronta para ser votada pela Câmara, a PEC da Bengala, que aumenta de 70 para 75 a idade para aposentadorias compulsórias, esbarrou na vontade do Planalto. A presidente Dilma não permitiu aos deputados mexerem no assunto, porque quer indicar os substitutos dos ministros Carlos Ayres Britto e Celso de Mello no STF. Ambos se aposentam durante o seu governo.

Cala a boca, Zé
A presidente Dilma pediu ao ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) para ser discreto nas discussões sobre os aspirantes às vagas a ministro do STF. Dilma ficou irritada com os vazamentos e baixou lei do silêncio até o fim do mensalão.

Não é bem assim
A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) faz um apelo para que a MP do Código Florestal não perca a validade, porque a grande maioria dos produtores rurais sairia perdendo. Diz que a questão não se resume a multas e punições.

então tá 
O Ministério do Meio Ambiente diz que nenhum técnico validou qualquer acordo feito na Comissão Mista do Código Florestal.

Para viver um grande amor - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 08/09

Fernanda Young se vestiu de noiva para lançar seu décimo romance, "A Louca Debaixo do Branco". A obra virá com uma mostra de mesmo nome, feita em parceria com Diógenes Moura, que será aberta no MIS (Museu da Imagem e do Som) de São Paulo em 2 de outubro.

Estarão expostos textos, poemas, bordados, diários e fotos da autora sobre a construção do amor e a obsessão pela imagem da dama de branco, personagem do livro. "A noiva representa uma intenção elevada ao máximo, que todos já sentimos, de viver um grande amor."

CANTA, CEBOLINHA

Mauricio de Sousa no mundo dos musicais: sua nova empresa, a Mauricio de Sousa ao Vivo, ganhou autorização do Ministério da Cultura para captar R$ 5,4 milhões e investir no espetáculo "Jornada Musical com a Turma da Mônica". O maestro João Carlos Martins participará do projeto.

JOCA NA PISTA
A ideia é contar para o público infantil a história dos grandes compositores do mundo, "de Bach a Beatles, de Bach a Beyoncé", diz Mauro Sousa, filho do desenhista e diretor de produção. Atores fantasiados de Mônica, Cebolinha e amigos vão interagir com bailarinos. João Carlos Martins regerá a orquestra. No palco, o personagem que Mauricio criou para ele: Joca, que ajudará a turminha a contar histórias.

MINHA 'PLINCESA'
Também em 2013 deve sair o musical "Romeu e Julieta", com Cebolinha e Mônica.

MAIS CEDO
E o depoimento que Dilma Rousseff gravou secretamente para apoiar a candidatura de Fernando Haddad (PT-SP) a prefeito pode ir ao ar já nos próximos dias. Ela antecipa, assim, em pelo menos duas semanas sua já prevista entrada na campanha de São Paulo. A fala só iria ao ar lá pelo fim do primeiro turno.

NA GAVETA
Dilma manteve em segredo a gravação que fez para Haddad, há vários dias, em Brasília, para evitar pressão de outros candidatos de todo o país que também querem seu depoimento.

RELÓGIO
E interlocutores de Dilma fizeram circular, até em setores do PT, a versão de que ela resistia a entrar na campanha. Mas isso sempre esteve fora de cogitação. Até mesmo o PSDB de SP trabalhava com a certeza de que Dilma participaria, para quebrar a resistência da classe média aos petistas. A dúvida era quando isso ocorreria.

TUDO A GANHAR
A autobiografia "Nada a Perder", do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal, vendeu 18 mil cópias nas seis primeiras sessões de autógrafos. Aguardado por fiéis, o bispo não compareceu a nenhum dos eventos. Está sempre representado por outros bispos e por Douglas Tavolaro, vice-presidente de jornalismo da Record e coautor do livro.

TRAÇA
A "Revista de História", da Biblioteca Nacional, deu destaque na edição de setembro à reportagem "Patrimônio em Perigo", sobre a Biblioteca Pública Estadual de Manaus, fechada há cinco anos para reformas. O texto fala em "desinteresse pelo patrimônio histórico". A instituição também enfrenta problemas: seu prédio, no Rio, apresentou vazamentos no sistema de ar refrigerado e casos de queda de pedaços de sua fachada.

NÃO PISE NOS JARDINS
As calçadas de parte das ruas Haddock Lobo, Oscar Freire e Sarandi serão interditadas na segunda-feira. Uma passarela será montada para os desfiles do Vogue Fashion's Night Out, quando as butiques ficam abertas até a meia-noite.

SPA GRANDE
O dermatologista Jardis Volpe e Filippo Pedrinola, do Spa Cidade Jardim, foram convidados pelo hotel Casa Grande, do Guarujá, para comandar o Spazíssimo. O espaço de beleza reabre no dia 22, após reforma.

ESQUENTADOS

A festa Javali, de Emmanuel Vilar, teve edição especial de "esquenta" para o VMB, prêmio da MTV que acontece em setembro. A fotógrafa Flávia Palladino e a modista Charliene Ferreira foram à Liberdade.

CURTO-CIRCUITO

Lucélia Santos integra o elenco de "A Falecida" a partir de hoje, no lugar de Maria Luisa Mendonça. No Sesi-SP. 14 anos.

A galeria LOGO inaugura hoje "Marker", com obras de Fabiano Rodrigues, Felipe Yung, Luciana Araujo, Emerson Pingarilho, Alberto Monteiro e Sesper.

Marina Previato toca hoje no Mono Club. 18 anos.

O Instituto Cisne faz leilão beneficente de obras de arte. Às 20h de terça, no Espaço Contraponto.

Bandung-Teerã - PAULO DELGADO


O Estado de S.Paulo - 08/09


A16.ª Conferência dos Países Não Alinhados, em Teerã, na semana passada, terminou mergulhada num passado que insiste em não passar. Serve para muitas reflexões, especialmente diante dessa estranha dificuldade, que inúmeros países cultivam, de ir em direção à paz e à liberdade. Mas a distorção da identidade dos regimes de governo na maioria dos países do mundo não pode ser colocada somente na conta das misérias da política.

"Na origem do pitoresco há muito de preconceito e a repulsa em compreender o diferente... Persiste o aristocrático prazer em contar as distinções: corto meus cabelos, ele trança os dele; sirvo-me de um garfo, ele usa palitos; escrevo letras com meu lápis, ele desenha coisas incompreensíveis com um pincel; tenho ideias diretas e as suas são curvas: você observou que ele tem horror ao movimento retilíneo, ele só é feliz se tudo vai obliquamente... Este homem que vem em nossa direção, você deve saber se verá nele de início um Alemão, um Chinês, um Judeu ou primeiramente um homem. E decidirá o que você é, decidindo o que ele é. Faça deste lavrador chinês um gafanhoto chinês, você se tornará no mesmo instante uma rã francesa". Lembro em retalhos as ideias do filósofo Jean-Paul Sartre diante das fotos tiradas por Henri Cartier-Bresson na China, em 1948. A época era, como hoje, de um mundo de crendices e prevenções, dividido pela política de grupos e suas consequências econômicas e sociais.

Em 1955, Sukarno - nomeado presidente vitalício da Indonésia e que, dez anos antes, a havia declarado livre do colonialismo holandês - recebeu em Bandung líderes da Ásia e da África ávidos por marcar sua independência em relação aos dois polos da guerra fria. Eles se autoproclamariam parte de um terceiro mundo e expandiriam nos anos seguintes suas negociações para estabelecer o que ganharia o nome de Movimento dos Países Não Alinhados. Mais de meio século depois de sua institucionalização, em 1961, em Belgrado, sob as bênçãos de Chu En-lai, da China, Nehru, da Índia, Tito, da Iugoslávia, Nasser, do Egito, e outras figuras amantes da democracia guiada, o movimento continua afirmando sua razão de ser e não aceita ser visto no Ocidente como a festa do nonsense. Formado por 120 países, em que predominam Ásia, África, Oriente Médio e América Latina, a maioria sem poder na Organização das Nações Unidas (ONU), o grupo conseguiu o feito de arrastar para Teerã o prosaico secretário-geral da entidade, sediada em Nova York.

Se não significou mais nada, o evento de Teerã foi uma sorte para o governo iraniano, que se aproveitou da presença de mandatários de uma centena de países para passar uma imagem menos isolada do seu ameaçado regime. O Irã, como se sabe, tem dificuldades de explicar o caráter pacífico de suas instalações nucleares e a linha dura de sua política interna, em especial com relação à liberdade de crença e de opinião. Sua combalida liderança usou o encontro para amealhar certa legitimidade, já que sofre não apenas com sanções econômicas, mas também com a cada vez mais iminente concretização da ameaça de bombardeio por Israel.

Tudo contribuía para a unidade da crítica ao "imperialismo" até que o recém-eleito presidente do Egito irritou o anfitrião iraniano ao prometer apoio a todos os que lutam para "superar o regime opressivo" da Síria. Como o Irã assume a secretaria-geral do movimento, em substituição ao Egito, pelos próximos três anos, esperava que a conferência constituísse numa manifestação de desagravo, da totalidade dos países presentes, pelas críticas que recebe à sua teocracia militar. Com isso previa aumentar o constrangimento internacional e, quem sabe, diminuir as ações que minam o atual regime. Mas o que se viu foi aumentar o embaraço da delegação síria e dos países moderados ali presentes.

O ambiente político regional não é nada bom. O impulso febril pelo movimento, a submissão, a fé e a farda são motores misteriosos da alma dos povos do Oriente Médio. Para boicotar a conferência Israel, cujo direito à existência é negado pelo Irã, valendo-se do controle que tem sobre a fronteira com a Palestina, recusou conceder os vistos de passagem a ministros de Cuba, da Indonésia, da Malásia e de Bangladesh que pretendiam ir a Ramallah, na Cisjordânia, para uma conferência preparatória do Comitê Palestino dos Não Alinhados. Alegou, usando a singeleza da razão prática, que esses países, como não reconhecem Israel, não podem passar por lá.

Para esquentar mais ainda o clima, foi divulgada durante aquela semana a notícia de que os Estados Unidos duplicaram a venda de armas e que o ano passado foi o melhor da história de seu comércio bélico, levando o país ao controle de quase 80% dos contratos mundiais. Como a mais trágica herança da guerra fria é o desequilíbrio regional e a vida em permanente motim, é ali que prosperam os senhores das armas. Assim, a conferência de Teerã teve de engolir o fato que, atualmente, são países do Oriente Médio os maiores compradores de armamentos do mundo: caças, mísseis e helicópteros de fabricação americana suplantam em bilhões de dólares todos os seus concorrentes.

De três em três anos, as Conferências dos Países Não Alinhados são, para seus críticos, um desfile dos excluídos, desajustados, caricatos, contestadores à margem da ordem mundial. Mas tudo o que não são é desalinhados, despretensiosos líderes sem ambições. Alguns dentre eles governam potências incontestáveis e que projetam poder ainda maior no futuro. Se, certamente, não cabe mais a classificação de "terceiro mundo" nesta nova ordem multipolar, certos países ainda mantêm como identificação comum o sentimento de serem de segunda classe no cenário mundial.

O que consola é que da lei de ferro do preconceito ninguém escapa: em algum momento, seja rico, seja pobre, sempre se é o miserável de alguém.

A associação entre crime e política - EDITORIAL O GLOBO


O GLOBO - 08/09


Passadas as primeiras sessões de julgamento do mensalão, ou da Ação Penal 470, é possível que as atenções para o plenário do Supremo Tribunal Federal tenham se reduzido. Mas é provável que o julgamento volte a conquistar audiência quando estiver na pauta a ação do "núcleo político" da "organização criminosa" denunciada pelo Ministério Público Federal, em que se destacam o ex-ministro José Dirceu, além de José Genoino e Delúbio Soares, ex-presidente e ex-tesoureiro do PT. Continua sendo um exercício arriscado prever o destino dos réus ainda não julgados, mas, vencidas as primeiras "fatias" do julgamento, se ainda é temerário arriscar profecias, pode-se, ao menos, identificar um esboço nítido de um caso de fato histórico em que a política e a criminalidade se deram as mãos como poucas vezes visto com tamanha nitidez.

Fora o destino do deputado João Paulo Cunha, de Marcos Valério e sócios, no caso dos R$ 50 mil pagos ao ex-presidente da Câmara - em que houve total divergência entre os ministros Ricardo Lewandowski, revisor do processo, e Dias Toffoli, convencidos da inocência dos acusados, e o resto da Corte, que os condenou -, não ocorreram até agora grandes discrepâncias nos veredictos. A divergência é mais sutil, e só deve ser esclarecida, por maioria de votos, daqui para a frente. Pelos votos dados e exposições feitas, Lewandowski e Toffoli parecem considerar estanques alguns dos grupos denunciados pelo MP. E também não se pode entender a concordância dos dois com condenações defendidas pelo relator, Joaquim Barbosa, como indício de que reconhecem a existência do mensalão.

Por esta visão, Henrique Pizzolato transferiu milhões do Banco do Brasil para Marcos Valério apenas em troca de propina. Houve, sim, fraude nos empréstimos liberados pelo Banco Rural a Marcos Valério - mas em troca da ação deste como lobista em Brasília. Esta interpretação dos fatos será discutida quando surgir de forma direta a tese de que todo aquele movimento de dinheiro sujo serviu "apenas" para abastecer caixa dois de partidos e políticos. E não para a compra de apoio e votos no Congresso. Haja o que houver, o cenário que já emerge do julgamento não deixa bem grupos do PT e partidos aliados. Seja caixa dois ou mensalão, não importa, materializa-se no Pleno do STF um enorme golpe com desvio de dinheiro público e tráfico de influência por interesses político-partidários. Explica-se o destempero do presidente do PT, Rui Falcão. Diante de um início de julgamento pouco promissor para mensaleiros do partido, o dirigente denunciou um risível "golpe" da "direita", com a indefectível inclusão da "mídia conservadora", do qual o STF seria "instrumento". Além de ser um ataque demente a um tribunal que dá constantes demonstrações de seriedade e equilíbrio, o militante tenta ressuscitar uma desculpa hilariante. Se nunca foi levada a sério a tese do "golpe", depois de iniciado o julgamento ela virou de vez piada de salão.

Código Penal - por que tanta pressa? - DOM ODILO P. SCHERER


O Estado de S.Paulo - 08/09



A reforma do Código Penal Brasileiro, confiada a uma comissão em 18 de outubro de 2011, agora já tramita como Projeto de Lei do Senado n.º 236, de 2012, conhecido também como Projeto Sarney. Houve audiências públicas, mas reclama-se de uma escuta desigual do pensamento da sociedade e de uma atenção privilegiada a grupos de interesse e pressão, em detrimento também da comunidade especializada do mundo jurídico, que sente a falta de um tempo mais adequado para a reflexão serena sobre as propostas de mudança.

O calendário fixado pela presidência da Casa para a tramitação do Projeto Sarney no Senado revela uma pressa estranha: de 9 de agosto a 5 de setembro, apresentação de emendas; de 6 a 20 de setembro, relatórios parciais; de 21 a 27 de setembro, relatório do relator-geral; de 28 de setembro a 4 de outubro, parecer final da comissão. E não passa despercebido que tudo isso se passa enquanto o interesse da Nação não está voltado para o Planalto Central, mas para as eleições municipais. Por que tanta pressa?

Entre as propostas mais controvertidas do novo Código Penal estão as revisões penais relativas ao aborto. Além dos casos de aborto "não punível" já previstos - em caso de risco de vida para a mãe, em caso de estupro, em caso de malformação do cérebro -, introduzem-se, agora, casos em que o aborto deixa de ser crime e outros em que, mesmo ainda prevendo penas, na prática estas não se aplicam.

O aborto praticado sem o consentimento da mãe será punido, mas se for praticado com o consentimento da mãe a pena acaba não sendo aplicada. Desse modo se resguarda a decisão de um sujeito adulto e autônomo, mas não se protege o direito à vida de um sujeito inocente e indefeso.

Se o Projeto Sarney for aprovado tal como proposto, a natureza lesiva do aborto ficará radicalmente alterada. Nos artigos 125 e 126, as penas são abrandadas para um mínimo de seis meses e um máximo de dois anos de prisão e o aborto passa a ser um crime de menor potencial ofensivo; assim, poderá ser julgado no âmbito informal e célere da chamada justiça consensual.

Além da redução penal para o aborto consentido, prevêem-se ainda hipóteses em que o aborto deixa de ser crime e sua prática acaba sendo considerada um direito. No caput do artigo 128 proclama-se de forma taxativa: "Não há crime" - no aborto terapêutico, no aborto sentimental, no aborto eugênico e no aborto psicológico. Não só desaparece a pena, como também se estabelece que esses atentados contra a vida do nascituro estão em conformidade com o direito.

Também não há crime de aborto "se a gravidez resulta de violação da dignidade sexual, ou do emprego não consentido de técnica de reprodução assistida" (artigo 128). Essas práticas seriam equiparáveis ao estupro. Resta saber o que se entende por "violação da dignidade sexual", um conceito tão vago quanto abrangente. Nesse caso genérico, bem como na aplicação não consentida de técnicas de reprodução assistida, a pena não será para os autores dessas façanhas, mas para o pequeno indefeso e inocente, que pagará com a vida pela monstruosidade e pela fraude de adultos irresponsáveis. Seria uma pena justa e adequada?

A morte dada a um bebê originado de fecundação não consentida pela mãe não será crime, no entanto, a esterilização de uma mulher sem o seu consentimento é punida com dois a quatro anos de reclusão. O contraste é absurdo. Mata-se o filho e não há censura penal, mas pune-se com rigor o agente da esterilização!

Mais absurda ainda é a "legalização" do aborto psicológico, conforme o artigo 128. "Não há crime de aborto: IV - se por vontade da gestante, até a décima segunda semana da gestação, quando o médico ou psicólogo constatar que a mulher não apresenta condições psicológicas para arcar com a maternidade". Basta que ela tenha o beneplácito do médico ou do psicólogo para decretar a morte do feto. Esse artigo, na prática, legaliza amplamente o aborto, que não consegue aprovação, como projeto de lei, mas entra pela janela dos fundos, via Código Penal...

Custa-me a crer que alguém, em sã consciência, defendesse a pena de morte para uma criança recém-nascida e indefesa. Seria desumano e monstruoso! Mas que diferença faz, entre uma criança de um dia de vida e outra ainda não nascida? Sei que há o argumento falacioso de que a criança não nascida não teria direitos, pois ainda não é um cidadão. Esquecido fica, nesse caso, que o ser humano é anterior ao Estado e seu direito inalienável à vida precede qualquer "direito cidadão" atribuído pelo Estado.

Mais outras questões mereceriam maior discussão no Projeto Sarney, como a disparidade injustificável na aplicação das penas. Matar ou caçar algum animal silvestre sem permissão da autoridade competente será punido com dois a quatro anos de prisão. A pena poderá chegar a 12 anos se o crime for praticado como exercício de caça profissional (artigo 388).

Maus-tratos contra os animais serão punidos com penas de um a quatro anos de prisão, podendo chegar a seis se ocorrer a morte do animal. E matar um animal numa experiência científica leva a uma pena de até seis anos de prisão (artigo 391). No entanto, matar uma criança concebida "por meios ilícitos" não leva a nenhuma penalidade.

O artigo 394 prevê punição com até quatro anos de prisão para quem deixar de prestar assistência ou socorro a um animal que esteja em grave perigo. Estranhamente, a omissão de socorro a uma pessoa nas mesmas condições, criança ou adulto que seja, poderá ter uma pena máxima de seis meses de prisão (artigo 132)! Que estranha justiça é essa que tutela tão bem a vida de animais, enquanto despreza o ser humano, como se nada valesse?!

Mulheres e homens sensatos do Congresso Nacional, não seria melhor amadurecer mais essa reforma do Código Penal?

A bazuca do BCE - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 08/09


Há dois dias, o chefe de governo da Espanha, Mariano Rajoy, lembrava que a disparada dos juros cobrados pelos investidores em títulos de dívida da Espanha não são o resultado da deterioração dos fundamentos da economia espanhola, mas das dúvidas que persistem sobre a consistência do euro. Seguem-se daí duas coisas: (1) não tem cabimento pagar juros tão extorsivos na administração da dívida espanhola; e (2) a área do euro inteira terá de assumir esses estragos, não somente a Espanha.

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, bem que vinha advertindo que os desdobramentos da crise do euro impedem que a política de juros, a mesma para todo o bloco, alcance toda a área do euro uniformemente. Daí porque, concluía ele, seriam necessárias decisões fora de padrão para restabelecer a eficácia da política.

Quinta-feira, Draghi anunciou o início do que vinha a ser denominado como o uso de sua bazuca. São novas emissões de moeda, sem limite definido, cujo objetivo é recomprar no mercado secundário títulos de dívida de até três anos que vêm sendo rejeitados pelo mercado, especialmente os da Espanha e da Itália.

A ideia é criar mercado para esses títulos de dívida para que seus rendimentos (yield) possam cair da faixa dos 6% ou 7% ao ano para níveis suportáveis.

Essas compras levam agora o nome de Operações Monetárias Diretas (Outright Monetary Transactions - OMT) e terão quatro características básicas: (1) serão feitas por meio dos fundos europeus de estabilidade; (2) exigirão dos devedores contrapartidas e cumprimento de metas, à semelhança do que acontece com os empréstimos do Fundo Monetário Internacional; (3) não darão ao BCE tratamento privilegiado(em relação aos demais credores) na hipótese de calote ou renegociação de cláusulas contratuais; e (4) correspondem a emissões de moeda que serão imediatamente esterilizadas, ou seja, serão prontamente retiradas do mercado, para que não provoquem inflação.

Essa última característica tem como intenção aplacar a Alemanha, até agora fortemente contrária a esse tipo de solução. Trata-se de operação fora de padrão porque é feita no limite da legalidade, na medida em que o BCE está proibido, por força dos tratados, de cobrir rombos orçamentários de países da área. A presidente Dilma, que se queixou tanto de que os grandes bancos centrais provocam tsunamis monetários com suas emissões de moeda, desta vez não tem do que reclamar.

O primeiro impacto foi de alívio. O rendimento dos títulos da Espanha e da Itália caiu imediatamente nos mercados (veja o Confira) e as bolsas responderam com altas generalizadas.

Mas, ninguém se iluda, o problema principal, que é a inconsistência dos fundamentos do euro, continua sem solução. Ele somente começará a ser equacionado quando o bloco der um Estado para o euro. E isso implica um mínimo de coordenação da execução dos orçamentos, o que, por sua vez, exigirá certa centralização do poder político. Não se vê nenhuma urgência para implantação dessas delegações de soberania. Pior que isso, a saída encontrada pelo BCE pode ser mais um pretexto para que a solução definitiva possa ser postergada mais uma vez.

Novas práticas - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 08/09


O julgamento do mensalão está provocando na opinião pública um debate que até bem pouco não se considerava possível, dentro da tradição brasileira de leniência com a corrupção pública.

É verdade que não houve mobilização para grandes manifestações nas ruas das principais capitais do país, e nem mesmo em Brasília houve a movimentação que se esperava, a ponto de o Supremo Tribunal Federal ter contratado segurança particular reforçada. Mas também o mensalão não virou "piada de salão", como está prestes a descobrir na própria pele o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que fez essa previsão anos atrás, quando se considerava inalcançável pela Justiça brasileira.

A repercussão de suas consequências já se faz sentir tanto nas redes sociais, que escolheram o ministro relator Joaquim Barbosa como seu herói, quanto nas pesquisas eleitorais que estão mostrando a perda de substância política do PT em áreas onde sempre foi bem votado ultimamente, como o Nordeste.

As capitais do país, onde a classe média tem mais peso, estão até o momento rejeitando os candidatos petistas, mesmo que o tema mensalão não tenha entrado com toda força nas campanhas eleitorais e que se saiba que questões locais têm grande influência nas eleições municipais.

O ex-presidente Lula tinha razão quando tentou, ultrapassando todas as margens de segurança e civilidade democrática, adiar o julgamento para depois das eleições. Ele sabia que a combinação dos dois não faria bem à saúde do PT, muito embora os demais partidos também tenham suas culpas parecidas.

O problema do PT é que o julgamento dos políticos do DEM e do PSDB envolvidos em mensalões semelhantes em Brasília e em Minas não está sendo realizado neste momento.

No entanto, a jurisprudência que está sendo criada pelo Supremo Tribunal Federal certamente levará a que os próximos julgamentos desse tipo de crime ocorram sob critérios mais rigorosos do que, por exemplo, aquele que liberou o ex-presidente Collor de Mello.

Além do fato de ele ter sido impedido pelo Congresso, no que parecia ser na ocasião uma punição mais que suficiente por inédita, os hábitos e costumes do país foram se aperfeiçoando, embora estejam longe do ideal.

Uma demonstração clara dessa mudança cultural que vai se forjando no país é a reação generalizada dos advogados criminalistas, e não só os de defesa, e dos petistas ao posicionamento dos juízes do STF. Alguns dos maiores criminalistas do país estão sendo derrotados, uns por unanimidade, porque basearam suas defesas em teses anacrônicas que o plenário do Supremo está se encarregando de destruir. E tudo dentro dos melhores preceitos constitucionais e da jurisprudência da Corte.

Da mesma maneira, seria impensável há poucos anos a aprovação de uma lei como a do Ficha Limpa, que a muito custo estamos implantando. Também é novidade bem recebida a devolução do dinheiro roubado em diversas instâncias, como começou a ser feito agora no país.

O deputado federal Paulo Maluf luta há anos para preservar o dinheiro que jura não ter no exterior, mas mais cedo ou mais tarde terá que devolvê-lo aos cofres públicos. O ex-senador Luiz Estevão vai devolver R$ 468 milhões após acordo com Advocacia Geral da União, parte dos recursos desviados do TRT de São Paulo em um dos maiores escândalos de corrupção no país.

Também com relação ao mesmo escândalo, a Suíça autorizou repatriar US$ 7 milhões de conta de ex-juiz Nicolau, dinheiro que estava retido desde 1999 em conta de um banco suíço.

A surpresa das condenações de réus do mensalão já faz com que a opinião pública fique, em vez de saciada em sua sede de Justiça, mais exigente.

Afinal, se deputados federais e ex-ministros estão prestes a ir para a cadeia, e também banqueiros há muito tempo envolvidos em irregularidades nunca punidas, por que não sonhar mais longe e pensar além?

Se o dinheiro roubado é público, como decidiu a maioria do plenário do STF, quem vai reembolsá-lo ao governo? O PT? Os demais ladrões? O Banco Rural?

Até o momento nenhum juiz tocou nesse assunto, que certamente será abordado, assim como o ministro Cezar Peluso, antes de se aposentar, incluiu na pena do réu João Paulo Cunha a cassação de seu mandato.

Deveria ser uma consequência natural da condenação, mas ainda assim a Câmara dos Deputados reage à punição, tentando transformá-la em um assunto interna corporis, quando se trata de um servidor público que desmereceu o cargo que ocupa.

Lavagem de dinheiro: limites da pena - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SÃO PAULO - 08/09


A amplitude de certas definições pode permitir abusos, ameaçando os inocentes e não os culpados


NOS DIAS que correm tem se falado muito em lavagem de dinheiro, o que provocou diversas perguntas, ante a pluralidade de significados de "lavagem". Sua definição técnica hoje resulta da aplicação do art. 1º da lei nº 12.694/2012. Lavagem é a ação de "ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal".

Ou seja, o delinquente oculta ou dissimula bens, direitos ou vantagens com valor econômico resultantes de um ou mais atos criminais.

O termo "lavagem" define a "limpeza" da origem ilegal. Nas discussões sobre o mensalão, a lavagem surgiu várias vezes no relatório do ministro Joaquim Barbosa, mas a lei nº 12.694 não será aplicável (por ser posterior) na parte do texto que agravou punições previstas para esse caso político-jurídico-criminal. Pode ter aplicação em outros casos.

A cooperação de terceiros na prática mencionada estende a estes coautores a responsabilidade penal (art. 1º, parágrafo 2°). O parágrafo 5º admite a confissão premiada ou a contribuição para realização da justiça, com a cooperação do conivente, cúmplice ou abusador, em face de outros responsáveis, com punições mais brandas. No rumo oposto está o agravamento da pena, quando houver crimes cometidos de forma reiterada ou por intermédio de organização criminosa.

A suspensão dos efeitos do art. 366 do Código de Processo Penal permite o prosseguimento da ação penal contra o acusado que não comparecer nem constituir advogado, citado por edital. O feito prossegue com a nomeação de defensor dativo, embora este evidentemente tenha muita dificuldade para cumprir sua função.

Autoriza o juiz que decrete de ofício, havendo indícios suficientes de infração penal, medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores do investigado ou acusado. A noção de suficiência indiciária é tão variada que ameaça os inocentes e não os culpados.

A amplitude de certas definições pode permitir abusos graves. É o caso do art. 5º, pelo qual, "quando as circunstâncias o aconselharem", o juiz submeterá à administração de estranhos "bens, direitos ou valores sujeitos a medidas assecuratórias". Falta qualificar "estranhos". O inciso XIV do art. 9º foi encarado por entidades da advocacia com justa preocupação. A norma autoriza o processo contra pessoas físicas e jurídicas que tenham, em caráter permanente ou eventual, como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não, e mesmo eventualmente, prestadores de serviços de assessoria, consultoria, aconselhamento ou assistência de qualquer natureza.

Imagino os escândalos que surgirão com o inciso 13 do art. 98, pelo qual serão criminosas "pessoas físicas ou jurídicas que atuem na promoção, intermediação, comercialização, agenciamento ou negociação de direitos de transferência de atletas, artistas ou feiras, exposições ou eventos similares". O legislador extrapolou limites do aceitável com grave ameaça para profissionais sérios.

Nenhum cidadão consciente de seus deveres quer abrir portas pelas quais os malandros escapam. Também não quer que os inocentes, especialmente os pobres, sofram prisões injustas, com danos irreparáveis.

Crescer para dentro - SÉRGIO MAGALHÃES


O GLOBO - 08/09

A formação clássica da família, "casal com filhos", deixou de ser maioria no Brasil, segundo o IBGE. Hoje, outros tipos de família formam a maioria. São famílias pequenas: casais sem filhos, um genitor e filhos, ou unipessoais.

Qual a influência dessa nova constituição familiar em nossas cidades?

Na década de 1930, Frank Lloyd Wright, notável arquiteto americano (autor do projeto do museu Guggenheim, em Nova York), que considerava a vida gregária como escravizadora, concebeu um modelo de cidade onde cada família teria um grande lote, quase meio hectare, para "a formação de uma nação de homens livres e independentes". Tal "urbanismo naturalista" estimulou o subúrbio americano, de baixa densidade, homogêneo e monofuncional, moldado pelo automóvel - de fato, a anticidade. O modelo teve larga repercussão, e também é matriz do hoje conhecido condomínio fechado.

Mas, neste século 21, as cidades se consolidam como lugar do desenvolvimento, do conhecimento e da inovação. A mudança na constituição familiar reflete os avanços sociais, sanitários, culturais, políticos e econômicos que têm a cidade como fonte. Para a nova família, a conexão com os equipamentos e serviços urbanos precisa estar à disposição com maior presteza e intensidade do que se fazia necessário quando a família era extensa. A casa será menor, mas mais equipada, mais bem inserida no contexto urbano. Moradia e cidade formam um só corpo.

Em simultâneo, embora os sistemas eletrônicos absorvam grande parte da comunicação interpessoal, paradoxalmente, o deslocamento físico sofreu grande impulso. A mobilidade tem aumentado no tempo e em proporção ao tamanho das cidades. São mais oportunidades de convívio, mais interesses dispersos, que produzem uma interação mais rica - e que exigem mais deslocamentos. Não apenas casa-trabalho, mas em múltiplas direções; não em linha, mas em rede - tal como nas comunicações eletrônicas. Isto é, um tecido urbano mais complexo.

Com a família menor, a cidade com diversidade urbanística e arquitetônica é ainda mais desejável. A família pequena precisa do apoio das disponibilidades coletivas, para ela torna-se essencial uma cidade bem mantida, bem conservada. Uma cidade mais densa, um espaço público com vitalidade.

A cidade extensa, com território infinito, não se sustenta nesse novo panorama. É ilusório achar que se constrói o futuro quando simultaneamente se permite a perda de densidade demográfica nas cidades. Não se conseguirá dotar esse futuro com os requisitos da sua contemporaneidade. Novos bairros, grandes conjuntos, grandes condomínios, homogêneos socialmente e monofuncionais como os subúrbios de Wright, mesmo que verticalizados, se isolados da cidade, já nascem obsoletos.

Como afirma Renzo Piano, grande arquiteto italiano (coautor do projeto do Centro Pompidou, em Paris): "Uma cidade não acontece construindo mais e mais na periferia. Se você tiver de crescer, cresça dentro."

A família contemporânea, pequena, deseja ainda mais cidade.

Protecionismo e mediocridade - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 08/09


Mais uma vez a mediocridade venceu e o Brasil continuará disputando na retranca o jogo do comércio internacional, como se a sua indústria tivesse voltado à menoridade e fosse irremediavelmente incapaz de enfrentar a concorrência. A decisão de ampliar as barreiras protetoras foi anunciada pelo governo um dia depois de publicados os números da balança comercial. De janeiro a agosto o valor total exportado foi 4,8% menor que o de um ano antes. O importado ficou 0,7% abaixo do registrado em 2011 em igual período. O problema é a crise externa, insistiu o governo, e sua reação, tão simplista quanto o diagnóstico, foi o aumento do protecionismo. A medida foi sacramentada terça-feira em reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex).

Com o novo lance protecionista, as alíquotas de cem produtos, antes na faixa de 12% a 18%, foram elevadas para 25%. Em vários casos a restrição é duplicada, porque a medida vale também para mercadorias já protegidas por medidas antidumping. Até outubro mais uma centena de itens poderá entrar na lista. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, justificou a iniciativa com uma alegação singela: a crise global gerou excesso de oferta, a competição tornou-se mais intensa, os preços caíram e muitos procuram o mercado brasileiro para desencalhar seus produtos. Isso é visto, naturalmente, como grave ameaça às indústrias do Brasil.

É normal a queda de preços num cenário de estagnação. O ministro da Fazenda deve saber disso. Mas nem todo produto exportado para o Brasil chega ao País com preços excepcionalmente baixos. Além disso, a indústria brasileira já era protegida, antes da nova decisão da Camex, por impostos mais altos que os da maior parte dos países concorrentes. O problema é obviamente de outra ordem.

O governo deveria preocupar-se muito mais com os custos e com a produtividade da economia nacional do que com os preços dos concorrentes. Para os casos de concorrência fora das regras internacionais, há os remédios previstos em acordos, como as medidas antidumping, já usadas no País. Para surtos de importação causadores de danos, pode-se recorrer a salvaguardas temporárias, também reguladas internacionalmente.

Fora dos casos de legítima defesa, a adoção de barreiras tem efeitos muito limitados e perigosos para o País. Alíquotas elevadas e outros meios de proteção afetam o jogo no mercado interno, mas são insuficientes para tornar as empresas mais competitivas no exterior. A opção pelo protecionismo é também uma opção pelo passado, quando raras indústrias se aventuravam no mercado internacional.

Quando essa política prevalece, as empresas tendem a se acomodar no ambiente interno, beneficiadas pela reserva de mercado, e abandonam os esforços para se tornar mais produtivas e mais capazes de oferecer produtos de qualidade internacional. O Brasil viveu essa experiência durante muito tempo.

Espetáculo semelhante está em cartaz na Argentina, onde os empresários da indústria há muito tempo decidiram, com o apoio do governo, abandonar os esforços para competir internacionalmente. O Brasil tem suportado boa parte dos custos desse espetáculo, como exportador sujeito a barreiras intermináveis e importador empenhado na política de boa vizinhança.

O governo anunciou também a intenção de retomar, juntamente com o Mercosul, as negociações de um acordo comercial com a União Europeia e de iniciar conversações com o Canadá. As negociações com os europeus emperraram várias vezes. A oposição argentina à redução de barreiras à importação de bens industriais tem sido um dos principais entraves.

Com a recaída protecionista de boa parte da indústria brasileira, fica difícil imaginar como poderão progredir as novas negociações. Curiosamente, os industriais brasileiros conhecem seus principais problemas de competitividade e sabem da responsabilidade do governo por boa parte deles (impostos, logística, burocracia, educação, etc.). Mas preferem acomodar-se atrás das barreiras a pressionar as autoridades para adotar políticas mais sérias a favor da eficiência. As autoridades agradecem.

Vale tudo - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 08/09


Preocupados com o avanço de Celso Russomanno (PRB), adversários fazem um pente-fino em seus mandatos de deputado. Uma das descobertas foi uma votação em que ele se posicionou contra um ponto da Lei da Ficha Limpa que determinava o período pelo qual um político já condenado ficaria inelegível. O intuito de Russomanno seria desfigurar o projeto para blindar o então aliado Paulo Maluf (PP-SP). Em outra frente, os rivais continuarão a associá-lo à Igreja Universal.

Ontem... 
Em sabatina da Folha, em agosto, Russomanno negou ser afilhado político do ex-prefeito de São Paulo e disse que sempre se elegeu sem precisar de votos do PP. Ele trocou o partido pelo PRB em 2011.

...e hoje 
Em 2010, candidato ao governo de São Paulo, ele disse que Paulo Maluf participava de sua campanha como cabo eleitoral e que, apesar de ter "estrela própria", queria os votos ''de todo os malufistas''.

Com lupa 
Especialistas em planejamento urbano integrados ao QG de José Serra vasculham os programas de governo de Fernando Haddad e Gabriel Chalita atrás de "inconsistências".

PowerPoint 
Tucanos já detectaram "falta de lastro técnico e financeiro" para o Arco do Futuro, do petista, e para o projeto do corredor leste de transportes, do peemedebista. Agora, discutem como abordar os problemas identificados na campanha.

Chamada... 
Temendo a ausência de Serra, a Record incluiu cláusula no regulamento que detalha o procedimento da emissora com quem não comparecer ao debate do dia 1º de outubro.

...oral 
Pela regra, o mediador fará menção ao ausente e as câmeras focalizarão o púlpito vazio na abertura de todos os blocos do programa.

Blecaute 1 
Chamou atenção de parlamentares a medida provisória que o governo editou há duas semanas para promover intervenções em empresas do setor elétrico prever que apenas quem as tenha dirigido nos últimos 12 meses fique com os bens indisponíveis. O estranhamento deve-se ao fato de isso tirar a possibilidade de Flávio Decat (Furnas) ser penalizado.

Blecaute 2 
Homem de confiança de Dilma, Decat, que também tem apoio da família Sarney, foi nomeado para a estatal após a eleição da presidente. Até então, ele ocupava a presidência do Grupo Rede, que sofreu intervenção da Aneel semana passada. Por uma diferença de sete meses, livrou-se de ter os bens indisponíveis.

Na área 
Condenado pelos ministros do STF, no julgamento do mensalão, José Roberto Salgado formalmente deixou o comando do banco, onde exerceu a vice-presidência, após o escândalo. Mas mantém o vínculo com a instituição atuando como consultor do banco.

Três dias 
O canal do STF no YouTube postou 45 vídeos com a íntegra das sessões do mensalão. O julgamento já somou 75h18min úteis no plenário, excluído o intervalo de meia hora diária para o lanche dos ministros.

Camarão 
A segurança presidencial das comemorações de Sete de Setembro em Brasília foi tão rigorosa que tentou impedir a entrada de tubo de protetor solar entre os convidados da tribuna de honra de Dilma Rousseff.

Fora do ar 
Com a avaliação em baixa, pela primeira vez em cinco anos o governador Jaques Wagner não participou do desfile em Salvador. O petista viajou com a mulher, Fátima, para Madri.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"No ápice da estiagem era natural que a cachoeira secasse, e as águas rumo ao rio da corrupção ficassem pouco navegáveis."

DO DEPUTADO CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), sobre a suspensão dos trabalhos da CPI que investiga as relações de Carlinhos Cachoeira até a eleição municipal.

contraponto


Negócios à parte

Ao participar de audiência no Senado para discutir o Código Penal, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) foi surpreendido por um longo discurso do senador Magno Malta (PR-ES) denunciando o tráfico de drogas no país. Malta relatou episódio em que desafiou o ministro Alexandre Padilha (Saúde) a combater o uso de crack e deixou um recado:

-Olha que o Padilha é meu amigo, um dos melhores ministros. Vocês dois pelo menos têm educação. Os outros, não, os outros são mais presidentes do que Dilma.

Cardozo deu apenas uma risada discreta.