quarta-feira, maio 05, 2010

DORA KRAMER

A Justiça é o limite 
Dora Kramer 


O Estado de S.Paulo - 05/05/2010


O termo "judicialização" - sobre o qual Antonio Houaiss não registra sinônimo nem definição em seu dicionário - frequenta o noticiário político desde que o Judiciário passou a ter um papel mais ativo na interpretação das leis e na imposição dos limites, por vezes constitucionais, a determinadas condutas.


Foi uma reação quase imediata. O Judiciário atuava no vácuo das omissões do Legislativo, e do Parlamento a tese ia ganhando adeptos, sendo repetida em vários setores até que se restabeleceu agora no cenário da eleição presidencial por causa da série de ações judiciais recíprocas entre PT e PSDB.

A expressão tem caráter pejorativo. Como que aponta interferência indevida da Justiça em assuntos da alçada exclusiva dos políticos e partidos.

Há quem veja no recurso à Justiça um fenômeno malsão. Uma deformação, algo a ser evitado. O presidente do PT, José Eduardo Dutra, se orgulha de seu partido até agora nunca ter recorrido à Justiça contra o adversário.

Diz que só decidiu fazê-lo como forma de represália. "Eles (os tucanos) já entraram com mais de dez (ações) contra Lula e Dilma. Agora tudo o que eles fizerem conosco, vamos fazer também."

Vejamos se ficou bem entendido. Até agora o PT tinha motivos para reclamar de infrações do PSDB à lei e não o fez. Por que? Fidalguia? Suposição de que assim poderia transgredir valendo-se da gentileza ao molde de contrapartida?

Ou não havia motivo relevante, continua não havendo e o PT agora entrará na Justiça ainda que a ação seja inconsistente?

Seja como for, a argumentação de José Eduardo Dutra não obedece aos ditames republicanos que políticos tanto gostam de invocar.

Ademais, convenhamos: reclama da "judicialização" quem se sente prejudicado. Enxerga desvantagem quem infringe a lei com frequência e gravidade, ficando mais vulnerável a punições.

Os indignados com o fato de conflitos se decidirem na Justiça queriam o quê? Que políticos e demais setores da sociedade resolvessem suas questões sem a arbitragem judicial?

Descontada a hipótese de se dirimir conflitos no braço, sobram os tribunais como o único foro civilizado em que se garantem condições de igualdade independentemente do peso das armas à disposição dos oponentes.

As críticas à chamada "judicialização" da política, ao menos nos termos em que se apresentam, são puro sofisma.

Seja no Parlamento, seja em ambiente de campanha eleitoral, o que se esconde por trás delas é mal disfarçada vontade de transgredir livremente sem a Justiça no meio para atrapalhar.

Exatamente o que aconteceria se ninguém recorrer à arbitragem do tribunal para assegurar a aplicação da lei.

Pois se com a aplicação de multas do TSE o presidente Luiz Inácio da Silva faz o que faz; se agora o PSDB foi acusado pelo PT por usar dinheiro de governos tucanos em ato de campanha de José Serra; se a realidade mostra a necessidade de vigilância estreita, imagine o caro leitor/eleitor se não houvesse a Justiça como limite.

Essa não. A tal gafe do Nordeste Dilma Rousseff não cometeu. Ela disse que os nordestinos emigraram para o Brasil no sentido de o restante do País. No máximo falhou por não concluir o raciocínio.

Notório saber. Toda eleição é a mesma coisa: famosos de médio porte de diversas áreas são procurados ou procuram partidos para se habilitar à conquista de um mandato.

As legendas querem "puxadores" de voto; as razões das quase celebridades variam da vaidade à suposição de que terão acesso ao poder, mas o traço de união entre todas é o profundo desconhecimento em relação ao mundo em que pretendem entrar.

Tanto é que a grande maioria dos eleitos tem atuação pífia e não prospera no ramo.

No time que se apresenta à eleição deste ano, um rapaz de nome Kleber, codinome Bambam, ex-BBB por profissão, promete se empenhar no aprendizado para se candidatar a deputado.

Seu mestre? O cunhado, experiente veterinário.

ANCELMO GÓIS

Belém de volta 
Ancelmo Góis 

O Globo - 05/05/2010

Veja só. O pessoal de Belém, que perdeu para Manaus a sede da Amazônia na Copa de 2014, já está assanhado de novo para o caso de a Fifa afastar alguma cidade por causa de atrasos no cronograma de obras.

— Já que alguns estados e cidades parecem não estar dando conta, quero disponibilizar o Pará — diz a governadora Ana Júlia.

Jogo que segue...

Segundo Ana Júlia, as obras iniciadas no lançamento da candidatura de Belém estão a todo vapor.

É. Pode ser.

Tudo é marketing Desde que começaram a surgir boatos de que Juliana Paes estava grávida, a Actors & Arts, escritório que representa a atriz, já recebeu umas dez propostas de lojas com ofertas de enxoval para o futuro bebê.

W.C.

A Fiocruz divulga hoje pesquisa que revela a presença de rotavírus e norovírus na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio.

Os dois malvados são a causa de muitos surtos de diarreia.

Senador Régis O secretário Régis Fichtner vai deixar o governo do Rio dia 1º de julho para assumir, por seis meses, o resto do mandato de senador.

Em 2006, quando Sérgio Cabral trocou o Senado pelo governo do Rio, Régis, que era o primeiro suplente, preferiu ser secretário do Gabinete Civil. A vaga ficou, então, com Paulo Duque, segundo suplente.

Arte imita a vida O talentoso Miguel Falabella escreveu para a série “A vida alheia”, da TV Globo, um episódio em que um jogador de futebol é flagrado num motel com um travesti.

Qualquer semelhança com Ronaldo... deixa pra lá.

Prêmio à Transocean A Transocean, americana que opera para a BP a plataforma que causou o desastre ambiental no Golfo do México, tem uma frota de 138 unidades móveis de perfuração offshore no mundo.

No Brasil, são seis plataformas.

Em 2003, a Petrobras deu à Transocean um prêmio “por se destacar na gestão de segurança, saúde e... meio ambiente”.

Óleo no mar...

Aliás, em tempo de tragédia no Golfo do México, a Petrobras simula hoje, às 9h30m, um derramamento de óleo no mar de Cabo Frio, RJ, para avaliar seu pessoal numa emergência e estimar o tempo de reação.

Técnicos deixarão vazar uma substância biodegradável.

Mãe África O Brasil acaba de estabelecer relações diplomáticas com a República Centro-Africana.

Agora, o país tem relações com todas as nações da África.

Memória leiloada O arquivo fotográfico da finada Editora Bloch foi arrematado ontem por R$ 300 mil em leilão no Fórum do Rio. O comprador, Luiz Fernando Fraga Barbosa, disse que sua família, do interior fluminense, tem “interesse pessoal no acervo”.

Como a proposta ficou abaixo da metade do lance mínimo (R$ 1.874.362,30), a venda ainda está condicionada à aprovação da juíza Maria da Penha Nobre.

Na verdade...

Este arquivo, com 20 milhões de fotos, chegou a despertar o interesse do Instituto Moreira Salles, da Abril e do apresentador Luciano Huck.

— O material é fabuloso — reconhece o apresentador. — Mas desisti porque o custo de manutenção é muito alto.

Air Búzios Depois da TAM, a miúda Webjet também pretende voar para Cabo Frio.

Cena carioca Outro dia, por volta de 7h, num ônibus da linha 998 (CharitasGaleão), um jovenzinho gritou de repente na Avenida Brasil: “Mãos na cabeça!” Os demais passageiros, apavorados, obedeceram. E ele, risonho: — Agora todo mundo comigo! “O rebolation, tion, tion! O rebolation, tion, tion!”.

Segue...

Era, como se vê, gaiatice com aquela música do grupo baiano Parangolé, febre Brasil afora.

O jovem, que estava com uns colegas, foi posto para fora do ônibus. Há testemunhas.

O ESGOTO DO BRASIL

MÔNICA BERGAMO

Os papos de Pelé com Dunga e o dia em que o Rei virou tricolor 
Mônica Bergamo 

Folha de S.Paulo - 05/05/2010

"Adivinha o que eu vou te perguntar?", brincou a colunista ao cumprimentar Pelé no jantar que José Victor Oliva ofereceu a ele no Morumbi, em São Paulo, na segunda-feira. "Humm, vou apostar: você quer saber se eu acho que o Dunga vai convocar o Neymar e o Ganso para a Copa." Como será que Pelé adivinhou?

O fato é que ele logo revelou que Dunga, numa conversa que os dois tiveram por telefone, há dias, afirmou que Ronaldinho Gaúcho voltou a jogar bola no Milan e tem mais chances de ir para a África do Sul do que os garotos do Santos. A notícia, publicada ontem na Folha, logo se espalhou por sites e blogs na internet.

Mas Pelé disse mais. "Como fã", o Rei sempre telefona para Dunga para tentar arrancar dele notícias sobre a seleção. O técnico dá sinais de que, depois de apanhar muito, tem hoje o time na mão. E não pretende abrir mão dele. "O Dunga me disse: "Pelé, quando eu comecei [na seleção], todo mundo dizia que eu não tinha experiência, que eu nunca tinha sido técnico, que não ia dar certo.

Mas eu classifiquei o Brasil em primeiro lugar nas eliminatórias, ganhei todos os campeonatos, ganhei da Argentina, de todo mundo. Estou com o grupo há dois anos. Afastei os cobras [ele retirou Ronaldo e Roberto Carlos do time]'". Se tiver que convocar alguém, portanto, "para o banco de reservas", disse Dunga ao Rei, seria Gaúcho.

Pelé concorda com Dunga. Ele acha que os meninos da Vila têm pouca experiência para a Copa. "O pessoal diz que fui convocado com 17 anos [para a Copa de 1958]. Mas eu já tinha experiência. Fui contratado pelo Santos com 15, estreei contra o Corinthians de Santo André, disputei a Copa Roca na Argentina pela seleção, participei das eliminatórias. Esses meninos nunca jogaram fora do Campeonato Paulista."

Pelé diz que o trabalho de técnico é duro. Revela que, volta e meia, recebe convites de times estrangeiros para a função. "Mas eu não vou. Primeiro, porque eu ia roubar." Como assim, Pelé? "É, porque eu ia ganhar dinheiro fazendo uma coisa de que não gosto, sem o meu coração."

Pelé recebe, das mãos do ministro Orlando Silva, do Esporte, um quadro embrulhado com uma fita preta, branca e vermelha. Ele abre: "Ôpa! Esse eu não vou mostrar...". Suspense. Ele vira o quadro: era uma foto em que vestia o uniforme do São Paulo FC. "Eu sabia que ele é tricolor!", grita o anfitrião. O presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, jura que não é montagem. "O Pelé posou, no estúdio, durante uma campanha da agência F/Nazca, mas essa foto nunca havia sido divulgada. Nós guardamos desde 2008 para entregar a ele."
Quinquênio
O presidente Lula deve enviar ao Congresso nos próximos dias a MP (Medida Provisória) que cria a Autoridade Pública Olímpica, um órgão que reunirá representantes da cidade e do Estado do Rio de Janeiro e do governo federal com a missão de coordenar e fiscalizar os preparativos da Olimpíada de 2016. Orlando Silva, ministro do Esporte, será nomeado para comandar o órgão. Lula quer estabelecer um mandato de cinco anos para ele.
Superbonder
A ideia não é consensual no governo, já que o sucessor de Lula não teria como tirar Orlando do cargo nem que se desentendesse com ele. Mas Lula argumenta que o mandato fixo dará estabilidade ao órgão.
Superpoderes
Já está decidido que a Autoridade Pública Olímpica terá o poder de intervir em caso de atrasos de obras, por exemplo, chamando para si a responsabilidade até de desfazer contratos e realizar novas licitações.
Cristão Novo 
O nome do empresário Ivo Rosset, da Valisère, começou a circular no PT como um possível candidato a vice-governador de SP, na chapa de Aloizio Mercadante (PT-SP). Ele é marido de Eleonora Rosset, amiga de Marta Suplicy.
UTI
A UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) suspendeu as aulas do quinto ano do curso de medicina, aberto em 2006. Humberto Hirakawa, coordenador do curso, diz que a própria instituição tomou a iniciativa por causa do "reduzido número de docentes e de espaços físicos insuficientes". Segundo o MEC, a universidade e a Santa Casa de São Carlos romperam um contrato que previa que os alunos poderiam usar a sua estrutura para estudar. Quando nova parceria com outro hospital da região for firmada, as aulas serão retomadas.
Figurino À Deriva
O grupo Corpo, que viaja amanhã para uma turnê na Espanha, recebeu há poucos dias a notícia de que 20 de seus figurinos foram roubados ao serem enviados por Sedex de SP para Belo Horizonte, sede da companhia. Um funcionário dos Correios informou aos dançarinos que o caminhão que transportava as roupas foi assaltado. Oficialmente, a empresa nega. O Corpo tentava, ontem, reformar antigos figurinos para a viagem à Europa.
Duas Rodas
O padre Marcelo Rossi, que quebrou o pé esquerdo ao cair na esteira ergométrica, na semana passada, precisa de ajuda para celebrar as missas no Santuário do Terço Bizantino. Em cadeira de rodas, ele tem que ser carregado até o altar, que não tem rampa de acesso.
Curto-circuito
O FOTÓGRAFO Cristiano Mascaro participa do lançamento do concurso "Olhar Pampulha", promovido pela Belotur, amanhã, às 19h30, no Museu Abílio Barreto, em Belo Horizonte. Na ocasião, ele autografará dois livros.

O PRÊMIO Carlos Gomes de Ópera e Música Erudita será entregue hoje, às 21h, na Sala São Paulo.

EVA YERBABUENA apresenta o espetáculo de dança"Pasión Flamenca" hoje, às 21h, no teatro Bradesco. Livre.

A GALERIA BRASILIANA abre hoje, a partir das 18h, sua primeira exposição individual de Nilson Pimenta.

A EMPRESÁRIA Fernanda Rolim apresenta a coleção de inverno da grife Left hoje, às 17h, em seu ateliê no Itaim Bibi.

A LOJA Esencial começa a vender, a partir de hoje, peças de joalheiras como Vera Cortez e Miriam Mamber.

ARNALDO JABOR


Dilma está sendo clonada

ARNALDO JABOR
O GLOBO - ONTEM

Dilma Rousseff tem de ser ela mesma. Seu duro passado de militância política lhe deixou um viés de rancor e vingança justificáveis. Ela tem todo o direito de ser uma típica “tarefeira” da VAR-Palmares, em vias de realizar o sonho de sua juventude, se eleita. Ela tem o direito de ser irritadiça, pois o país é irritante mesmo. Ela pode achar que democracia é “papo para enrolar as massas”, desconfiar dos capitalistas e empresários, viver gostosamente a volúpia do poder que conquistou... Ela pode ignorar a queda do muro de Berlim, o fim da Guerra Fria, amar o Lula. Ela pode tudo, mas tem de assumir sua personalidade.
Meu Deus, como eu entendo a cabeça da Dilma, mesmo sem conhecê-la pessoalmente... Conheci muitas dilmas na minha juventude, quando participei da fé revolucionaria de nossa geração. Para as dilmas e dirceus do passado, a democracia é uma instituição burguesa (Lênin: “É verdade que a liberdade é preciosa; tão preciosa que precisa ser racionada cuidadosamente”). Ela se considera membro de uma minoria que está “por dentro” da verdade, da chamada “linha justa”. Ela se julga superior – como outros e outras que conheci –, inclusive eu mesmo.
Mas, só uma dor me devora o coração: Dilma está sendo clonada. Esta frente unida do autodeslumbramento de Lula com a massa sindicalista-pelega quer transformá-la em uma Dilma que não existe. Uma nova pessoa, um clone dela mesma. Isto é muito louco.
É natural que o candidato beije criancinhas, coma bode e puxe o saco de  evangélicos... Tudo bem. Mas, o tratamento a que submetem a pobre da Dilma me lembra uma famosa cena de Brecht, em “Arturo Ui”, em que um velho ator shakespeareano bêbado e decadente é convocado para ensinar a Hitler (Arturo Ui) como se comportar diante das massas, recitando o discurso de Marco Antonio em “Julio César”.  É genial a cena em que, aos poucos, o Hitler vai virando um boneco de engonço, com gestos e falas de robô quebrado.
A finalidade da faxina que marqueteiros e pt-psicólogos fazem na moça é esta: criar alguém que não existe e que nos engane. Afinal, o que querem esconder? Querem uma reedição “Dilminha paz e amor”? Ou querem Lula e ela em um filme tipo “Se eu fosse você 3”, como piou o Agamenon?
Isso é grave. O PT não se envergonha de criar uma pessoa fabricada em quem devemos votar? Será que seguem ainda a máxima de Lênin: “Uma mentira contada mil vezes vira uma verdade”?    
Querem que ela seja uma sorridente democrata, uma porta colorida para a invasão da manada de bolchevistas que planejam mudar o país para trás, na contra mão da tendência da economia global. Eu os conheço bem...
O espantoso é que o país melhorou graças ao Plano Real e uma série de medidas de modernização que abriram caminho para a economia mundial favorecer-nos como um dos países emergentes – e esse raro fenômeno (James Carville, assessor do Clinton contra Bush: “É a economia, estúpido!”) é tratado como se fosse uma política do governo atual, que só fez aumentar despesas públicas e inventar delírios desenvolvimentistas (Stalin: “A gratidão é uma doença de cachorros...”).
O povão do Bolsa Família não pode entender isso. Muitos intelectuais entendem, mas não têm a coragem de explicitar as diferenças – o lobby da velha “boa consciência de esquerda” os intimida. Nesta eleição, não se trata apenas de substituir um nome por outro. Não. O grave é que tramam uma mudança radical na estrutura do governo, uma mutação dentro do Estado democrático. Vamos viver um  pleito pretensamente  “revolucionário”, a tentativa de um Gramsci (filósofo que dizia que os comunistas devem se infiltrar na democracia para mudá-la) vulgar. Querem fazer um capitalismo de Estado, melhor dizendo, um “patrimonialismo de Estado”. Para isso, topam tudo: calúnias, números mentirosos, alianças com a direita mais maléfica (Stalin: “Não deixamos os inimigos ter armas de fogo; por que deixar que tenham  ideias?”).
Não esqueçam que o PT combateu o Plano Real no STF, como fez com a Lei de Responsabilidade Fiscal, como não assinou a Constituição de 1988. Este é o PT que quer ficar na era pós-Lula. Seu lema parece ser: “Em vez de burgueses reacionários mamando na viúva, nós, do povo, nela mamaremos”.
Depois desse “bonapartismo cordial” que o Lula representou, apropriando-se da “herança bendita” de FHC, pode haver o início de uma nova fase: o “chavismo cordial”.

GOSTOSA

MERVAL PEREIRA

Sentimentos contraditórios 
Merval Pereira 

O Globo - 05/05/2010

Fora o fato de que, se não fosse Lula, a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República pelo PT jamais existiria, neste momento da campanha eleitoral ela só existe pela expectativa de que o presidente Lula terá a capacidade de levá-la à vitória em outubro.

Mas as notícias não são boas, nem as objetivas nem as de bastidores, que falam de novas pesquisas, depois da saída de Ciro Gomes, que indicariam a ampliação da vantagem do tucano José Serra sobre Dilma.

A campanha de Dilma não passa um dia sem ter sobressaltos, e sempre relacionados com uma maneira nada popular de se comunicar da candidata oficial, o que exacerba o contraste com as virtudes performáticas de seu padrinho, ampliando os defeitos da protegida novata em campanhas eleitorais.

Os movimentos bruscos do presidente nos últimos dias, alternando uma excitação desproporcional com uma emotividade excessiva diante da aproximação do final do seu mandato, indicam que as coisas não estão saindo como ele planejou.

Ele mesmo teve a sinceridade de revelar, chorando, no discurso de 1ode Maio da CUT, numa extravasamento de sentimentos contraditórios que parece estar experimentando, que ser indicado pela revista “Time” como uma das personalidades mais influentes do mundo fez seu ego “engordar” um pouco mais, a ponto de já não caber “dentro das calças”.

Fora o fato de que a metáfora é confusa e de mau gosto, fica o registro de um momento de fragilidade emocional de um presidente extremamente popular que vê se aproximando o fim de seu “reinado” e que quer desesperadamente ter um terceiro mandato indireto através de sua escolhida.

É justamente esse desespero que está chamando a atenção de tantos quanto participam dessa campanha eleitoral.

Colocar como objetivo máximo eleger sua sucessora, depois de literalmente inventála, parece um desafio desnecessário para quem já obteve tanto sucesso.

Mas, mesmo com todo o seu empenho, já paira no ar uma leve desconfiança de que ela é pesada demais mesmo para Lula, e uma indicação clara disso é a neutralidade do PP na corrida presidencial.

Poucos meses atrás, a adesão do partido à candidatura oficial não era questionada, parecia uma decisão automática a acrescentar 80 segundos de tempo à propaganda gratuita no rádio e televisão para a campanha de Dilma.

Ontem, depois de um almoço com a cúpula do PP, a candidata oficial saiu de mãos abanando.

No momento, o máximo que o PP pode prometer é uma neutralidade, que significa na prática um benefício para a oposição.

Essa neutralidade do PP pode perfeitamente evoluir até junho para a formalização do apoio à candidatura oposicionista, até mesmo com o senador Francisco Dornelles tornandose o candidato a vice na chapa de Serra.

Movimento similar está acontecendo com o PTB, já em processo mais avançado de apoiar a nível nacional a candidatura de Serra à Presidência da República, tirando outros 40 segundos da propaganda da chapa oficial para acrescentá-los à candidatura oposicionista.

A oposição está também negociando com o PSC e outras pequenas siglas que têm alguns segundos preciosos de propaganda gratuita, graças a uma legislação eleitoral completamente inexplicável.

Se PTB e PP formalizassem o apoio a Dilma, a vantagem dela na propaganda de televisão e rádio seria enorme: a petista teria 11 minutos e 37 segundos em cada bloco de 25 minutos exibido à tarde e à noite.

O tucano José Serra teria menos da metade: 5 minutos e 36 segundos.

Com os rearranjos que estão sendo negociados nos bastidores, a vantagem da candidata oficial ainda se manterá, mas já não haverá o massacre que estava sendo anunciado.

Os dois principais candidatos terão um tempo de propaganda gratuita perfeitamente suficiente para expor seus programas, e a diferença de minutos não será tão grande que represente uma vantagem.

Além do mais, temos o exemplo do próprio presidente Lula, que venceu uma eleição em 2002 com menos tempo de televisão do que o então candidato oficial, José Serra, que àquela altura tinha o apoio do PMDB, como Dilma hoje.

Os especialistas dizem que um mínimo de 5 minutos é suficiente para uma boa campanha, e o que vier acima disso pode ser até prejudicial, dando uma superexposição ao candidato que pode cansar sua imagem diante do eleitorado.

No momento, o presidente Lula gasta sua liderança tentando conter um sentimento de frustração dos partidos que embarcaram na aventura apostando na sua reconhecida sensibilidade política e, mais que isso, na sua popularidade recorde.

O deputado federal Ciro Gomes já disse que Lula “viajou na maionese” na pretensão de ungir sua sucessora.

O fato é que o próprio presidente Lula parece ter embarcado nessa viagem com uma certeza de chegar a porto seguro, que, se vê agora, tinha mais arrogância do que dados de realidade a embasar.

Precisa agora despender toda sua energia política para manter acesa a esperança de seus aliados, e para isso ele não se furtará a frequentar todos os palanques possíveis, e parece disposto a encontrar meios de superar qualquer legislação que se coloque como obstáculo.

Assim, forma-se um círculo vicioso (ou virtuoso?), com o próprio presidente alimentando uma presunção de poder, e os partidos que fazem parte de sua base aliada aguardando sinais de confirmação de que a sua capacidade de transferência de votos se transformará em realidade.

PAINEL DA FOLHA

Fora de negociação 
Renata Lo Prete 
Folha de S.Paulo - 05/05/2010

Assim como Dilma Rousseff não terá o PMDB se o PT insistir em lançar candidatura própria em Minas, José Serra perderá qualquer chance de atrair o PP e seu minuto e meio de televisão se o PSDB não aceitar a coligação com esse partido no Rio Grande do Sul tanto na chapa majoritária, dando-lhe o posto de vice de Yeda Crusius, como na proporcional, vitaminando as chances de seus candidatos a deputado.

No segundo ponto reside o problema. A cúpula tucana chegou a anunciar que estava tudo resolvido, apenas para ser desmentida, horas depois, pela seção local do partido, que teme ver sua bancada na Câmara desidratada pelo desempenho eleitoral dos pepistas.
E então?
O PP exige a coligação proporcional porque a bancada gaúcha é de longe a mais forte do partido. "Sem isso, pode esquecer Dornelles vice de Serra", resume um dirigente nacional. O candidato tucano, que está no Rio Grande do Sul, discutiria o assunto ontem à noite com Yeda.
No papel 1"A proposta nacional do PMDB: um caminho para o Brasil", primeira versão do programa de governo da sigla, prega o financiamento público de campanha para "tirar o Estado da sombra corruptora do dinheiro".
No papel 2O texto propõe que o governo se comprometa a elevar gastos públicos num patamar 2% inferior ao crescimento do PIB. E defende articulação das esferas nacional, estadual e municipal no combate ao crime.
Segura a ondaO PMDB, que pretendia apresentar a versão final do documento no próximo dia 15, num ato que também aclamaria Michel Temer como vice de Dilma, avalia agora a possibilidade de deixar tudo para 12 de junho, data da convenção nacional.
FasesDo ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), defendendo o desempenho de Dilma no primeiro mês de campanha: "Jogamos de um jeito nas eliminatórias. Quando chegar a Copa, é claro que será diferente".
Resta umUma sucessão de vetos fez de Ricardo Flores o nome mais cotado para assumir a presidência da Previ.
Falou, ouviuAo final de entrevista ontem em Cuiabá, um assessor aconselhou Marina Silva (PV): "Você precisa ser mais objetiva nas respostas". E a candidata: "Com perguntas mais simples, dou respostas mais curtas".
Ado-a-adoDo presidente da Força Sindical, Paulinho, aliado ao PT em São Paulo, sobre o fato de haver na central uma ala pró-Alckmin: "Em eleição a gente não briga. Cada um cuida do seu".
Mapa da guerraO grupo de deputados contrário ao projeto que exige "ficha limpa" dos candidatos chega à votação do tema, prevista para hoje, dividido em duas alas: a que trabalha para derrotar o texto em plenário e a que prefere tentar segurar a votação, impedindo qualquer desfecho definitivo até as eleições.
EquipeA campanha de Serra terá novo coordenador de imprensa: o jornalista Marcio Aith, que vinha trabalhando na Folha como repórter especial.
Visitas à FolhaCandido Botelho Bracher, presidente do Banco Itaú BBA, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava com Jean-Marc Etlin, vice-presidente-executivo, Marcos Caetano, diretor de Comunicação Corporativa, e Marcelo Mota, assessor de Comunicação.

Paulo Skaf (PSB), presidente da Fiesp e pré-candidato ao governo de São Paulo, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Ricardo Viveiros, assessor de imprensa.

Ernesto Tzirulnik, presidente do IBDS (Instituto Brasileiro de Direito do Seguro), visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Rui Santos, assessor de imprensa.
Tiroteio
Finalmente o PSDB reconhece que a verdadeira candidata do pós-Lula é Dilma.
Contraponto
Ficha muito suja
Manifestantes favoráveis ao projeto da "ficha limpa", que barra a candidatura de condenados pela Justiça, faziam ontem uma "faxina" simbólica em frente à rampa do Congresso, com vassouras e baldes, quando perceberam que não tinham levado água para enxaguar o local.

O grupo se pôs então a encher os baldes com água do lago artificial situado na entrada do Legislativo, até que um dos jovens "faxineiros" observou:

-Ih, esta água está mais suja do que a rampa!

E, dirigindo-se aos poucos deputados que aderiram à manifestação, alertou:

-Se essa água respingar aí em vocês...

O ABILOLADO E A MENTIROSA



VINICIUS TORRES FREIRE

"Ó o auê aí, ó"

VINICIUS TORRES FREIRE
Folha de S. Paulo - 05/05/2010
Crise greco-europeia afeta Bolsas, que "desabam", e chama a atenção "pop". Mas o que entendemos disso tudo?

O TUMULTO europeu ficou mais "pop" ontem. Meios de comunicação "pop" puderam tratar da crise de modo "gráfico", para usar o anglicismo e até porque TVs e on-lines puderam publicar aquelas ilustrações com bandeirinhas nacionais e setas para baixo, a indicar a queda de cada mercado, sob o título "Bolsas desabam".
Mas crises do gênero sempre serão incompreensíveis para a maioria dos cidadãos, que mal entendem o que sejam Bolsas, muito menos porque elas "desabaram pelo mundo" devido à pindaíba da obscura Grécia.
Talvez alguns noticiários fossem mais prestantes se dissessem apenas, como o surfista carioca da piada, "ó o auê aí, ó" ("olha o auê aí, olha": "deu confusão"). Ou, como meteorologistas, "frente fria deve provocar chuvas e trovoadas", embora tampouco saibamos bem o que sejam frentes frias. Ou se vai chover.
Foi mais ou menos assim também na crise financeira iniciada em 2008, que passou a causar alguma sensação quando "Bolsas desabaram pelo mundo", crise que no entanto nada tinha a ver, a princípio, com o valor das ações em Bolsas.
E daí? O que isso teria a ver com economia? Não tem a ver. Tem a ver com política. Como habitantes de cidades remotas das Províncias de antigos impérios, apenas sentimos bestificados o efeito de decisões inaudíveis ou incompreensíveis tomadas em Roma, Persépolis, Constantinopla ou Alexandria. A consciência vem tarde, apenas quando as hordas inimigas nos atropelam.
Os governos das Províncias que habitamos -Beócia, Capadócia ou Brasil- reagem como podem, quando podem, e mistificam a patuleia, nós, tentando faturar como obra sua o vento da sorte ou se absolvendo do tsunami de más novas, ambos vindos do exterior. Quando em campanha eleitoral, tratam de tampar a última réstia de luz, furtando o público da discussão das medidas que ainda podem ser tomadas autonomamente pelas Províncias. Sobrou pouco a fazer, e nem isso discutimos.
Mudanças geopolíticas, como a entrada na China na Organização Mundial do Comércio e o "segundo grande salto capitalista adiante" decidido pelo Politburo chinês, acabaram por inflacionar o preço dos nossos recursos naturais e nos permitir alguns anos de largueza de consumo e aumentos de salários.
Aqui, isso aparece como "governo de sicrano criou 10 milhões de empregos", como se nada tivesse dependido das decisões do Império do Oriente, o chinês. E como se, de resto, governos "criassem" empregos.
No Império do Ocidente, os EUA, as elites americanas debatem as liberdades da grande banca de criar intricados produtos financeiros que levaram o mundo à breca em 2008, além da liberdade de manipular mercados com esses monstrengos.
Trata-se do famoso caso dos CDOs do Goldman Sachs, produtos financeiros montados a partir de seguros de crédito cujo valor dependia de pacotes de dívidas imobiliárias securitizadas. Não, não é para entender. Mas é isso que faz o mundo rodar, nos dois sentidos de "rodar".
Podemos saber em "tempo real" de detalhes da crise dos derivativos, da dívida grega ou da política monetária chinesa, que definem mais nossa vida que as "rebolations" de Serra ou de Dilma. Mas não adianta nada

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Viagra pra gay é Viagray!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 05/05/10

E o Viasil é a mistura de Viagra com Plasil, para transar com a esposa sem enjoar


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
Já sairam dois genéricos do Viagra. Viasil: mistura de Viagra com Plasil. Pra transar com a esposa sem enjoar. E estão estudando incluir uma porção de Gardenal. Pra não enlouquecer. E já saiu também um Viagra para gays: o VIAGRAY! E qual o sal que entra na composição do viagra? O salpicão! Rarará!
E uma vez saí com um amigo meu em Salvador e ele comeu lombo de porco, tomou um "uiscão" e engoliu um Viagra. E foi pro saco! Parou no hospital. Rarará! E sabe por que a Grécia tá quebrando? De tanto que eles quebram prato! Rarará!
E essa: "Serra e Dilma se encontram na Expo Zebu!". Aí, quando eles chegaram, a Expo Zebu mudou de nome pra EXPO BELZEBU! Dilma e Serra se encontram na Expo Belzebu! E sabe o que o zebu gritou quando viu os dois? "MUUUUUUito feios! MUUUUito chatos!"
E a Dilma Rouchefe aproveitou para lançar mais um programa social, o Bolsada Família. Cada família tem o direito de levar uma bolsada! Pá pá pá! E o Serra Vampiro lançou o seu Bolsa Família Adams. Cada familia terá direito a um susto. Úuuuuuuuu! Esse é o futuro que nos espera: uma bolsada e um susto. Rarará! O que você prefere? Bolsada ou susto?
E o Eramos6 já lançou o slogan pra Marta: "Botox não é pecado. Marta pro Senado".
E sabe como a Prefeitura de Assis chama aquelas caçambas de entulho de lixo? ECOPONTO! Tucanaram a caçamba! E um amigo meu foi chamado pela empresa para "um embate de deliberações de diretrizes". Tucanaram a reunião. Pior, aqueles brucutus do supermercado Extra com walkie-talkies e colete vermelho escrito: "Prevenção de Perdas". Tucanaram os seguranças! É mole?
É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. É que em São Domingos, no Pará, tem um motel chamado Ninho da Rola. Ueba! Mais direto, impossível. Viva o antitucanês! Viva o Brasil!
E atenção. Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro obvio lulante. "Chávez": aquele seriado do SBT que governa a Venezuela. Rarará! O lulês é mais fácil que o ingrêis.
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!