domingo, fevereiro 21, 2010

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Ecos de Momo

O GLOBO - 21/02/10


Tudo bem, é verdade, confesso. Manda a honestidade reconhecer que já perdi a conta das vezes em que escrevi algo intitulado "Ecos de Momo". Mas tenho argumentos em minha defesa, entre os quais ser do tempo em que os jornais, no sábado de carnaval, publicavam um editorial intitulado "Evoé, Momo!" e, na Quarta-feira de Cinzas, atacavam com os ecos. O primeiro exortava a que se brincasse o carnaval sem excessos e o segundo espinafrava ou elogiava as autoridades, conforme fosse o jornal da oposição ou da situação. Admito também que, encarregado, mais frequentemente do que mereciam meus pecados, de escrever esses editoriais, mandava buscar no arquivo os anteriores, misturava os períodos e parágrafos e compunha a nova peça jornalística - que de qualquer forma ninguém lia, era apenas o cumprimento de um ritual venerável.

Em meu favor, diga-se que qualquer um fica com problemas de concentração, com um trio elétrico na rua, soltando um megawatt de pauleira por segundo e ameaçando estilhaçar as vidraças e fazer voar portas de armários. Além disso, o ambiente na redação ficava meio esquisito. Claro, para quem se acostuma a ver um comentarista político redigir sua nota principal enquanto ajeita a saia de retalhos e passa a mão pela sua peruca de nega maluca, não há problema. Ao contrário do que muita gente pensa, a vida de jornalista é muito estressante.

Isso, contudo, não é suficiente para fazer desistir aqueles, como eu, que se diria terem tinta de impressão correndo nas veias. Nada de pegar colunas anteriores e fazer uma omelete. Em toda parte há uma notícia, como diziam meus mestres de jornalismo na minha primeira redação, e cabe ao faro do bom jornalista encontrá-la onde outros nada veem. E assim foi que, na manhãzinha da quarta-feira, saí à rua logo que clareou e me arrependi quase imediatamente de haver pensado nessa metáfora do faro do jornalista, porque meu faro de todos os dias me mandou uma mensagem fulminante: alguém devia ter aberto um tonel de amoníaco na rua. Mas não tive tempo de procurar onde estaria a fonte daquele odor quase letal, porque ela apareceu, como sempre inesperadamente e me pegando pela manga. Não a via há algum tempo, embora deva admitir que não estava com muita saudade e até agradecia não ter topado com ela por estes dias. Era a simpática senhora minha vizinha de bairro, cujo nome até hoje não sei, mas cujas críticas a meu trabalho conheço muito bem.

- Ah, você está aí! - disse ela. - Trouxe o caderninho?

- Caderninho? Que caderninho?

- Quer dizer que você não carrega um caderninho no bolso? Eu achava que todo mundo que escreve em jornal levava um bloquinho no bolso, para anotar as queixas que fazem a ele.

- Bem, até pode ser, mas eu não uso um bloquinho porque...

- ... porque quer ter a desculpa de não falar num assunto que lhe encomendaram, dizendo que esqueceu! Mas, francamente, é uma decepção, mais uma decepção! Ninguém mais mete o malho nessa corja, é uma vergonha! Então você não está sentindo esse cheiro de xixi velho, parecendo que trancaram a gente no banheiro de uma rodoviária no Surinam?

- Estou, estou, é verdade.

- Então vai lá e desce o porrete! Aqui ainda dá para respirar, mas dois quarteirões acima é a esquina da morte, é câmara de gás ao ar livre! Mais um avanço tecnológico brasileiro, não é? Você não tem cachorro, tem? Se tivesse, nem queria saber de mais nada. Todo dia eu saio com meu cachorro na mesma hora, no mesmo itinerário, que ele já sabe percorrer sozinho. Mas hoje não, coitado, hoje ele endoidou na primeira cheirada aqui no canteiro. O pobre do animal surtou! Você sabe que o cachorro se informa de tudo pelo cheiro, não sabe? Pois é, depois de umas duas fungadas, ele já tinha se inteirado da vida íntima de umas quatrocentas pessoas, não tem cachorro que aguente, é um choque de informação! Tem que baixar o porrete nesse governo!

- Mas a senhora acha que, nesse caso, a culpa é do governo?

- Tudo é culpa do governo! Remexa bem remexido e você descobre que por trás de tudo está o governo. Desde d. Pedro I que eles nos enrolam! A Independência foi pras negas deles! A República foi pras negas deles! E que é que o povo fica fazendo? Fica mijando na rua e jogando no bicho e na megassena, é isso que ele fica fazendo, porque quem tem obrigação não cumpre sua obrigação! Aqui é carnaval mijado e jogatina, é isso o que nós somos, por culpa do governo!

Um pouco atordoado, aproveitei que mais donos de cachorros que ficaram doidões se juntaram para ouvir e aplaudir as denúncias dela e fui saindo disfarçadamente, com o cuidado de evitar a esquina fatal. No caminho da padaria, fui pensando no que ela me pedira, ou melhor, exigira. É, talvez tocando no problema da educação e no número pequeno de banheiros químicos, quem sabe se não seria adequado malhar o governo, como ela queria? E a jogatina patrocinada hipocritamente pelo governo? Mas não tive tempo para ponderações, pois, já na padaria, fui abordado por alguns companheiros de boteco. Que achava eu do caso Arruda? Comecei a falar, mas prontamente me interromperam. Não era nada disso que eu estava pensando, eles queriam era saber se eu entraria no bolão do Arruda, ia dar uma bela grana.

- Ah, sim, claro - disse eu. E aí fiz uma fezinha de vinte reais como quem vai parar na cadeia é o boy que levou o saco onde o Arruda botou o dinheiro. Acho que esse bolo está no papo.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Brasileiras perdem contrato para chinesas


Folha de S. Paulo - 21/02/2010

Desonerações tributárias para equipamentos importados prejudicaram a indústria nacional de máquinas, segundo a Abimaq (associação que reúne os fabricantes).
Em dezembro passado, o governo editou a medida provisória nº 472, que reduziu encargos de produtos importados para a indústria petrolífera nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Três empresas associadas à entidade participaram da concorrência para fornecer descarregador de barcaça para a Companhia Docas de Sergipe, mas perderam a compra porque não conseguiram igualar o preço ao de outra companhia, segundo a Abimaq. A empresa vendia o produto fabricado na China por um preço que era aproximadamente 30% menor, segundo Luiz Aubert Neto, presidente da associação.
O contrato era de cerca de R$ 10 milhões.
Aubert Neto diz que fabricantes nacionais, apesar de terem capacidade de produção, enfrentarão problemas para oferecer equipamentos para novas plantas.
"A indústria brasileira tem condições de oferecer cerca de 80% das máquinas e equipamentos que serão demandadas nessas refinarias", afirma.
"Nosso único problema é [igualar] preço", confirma Walter Lapietra, empresário do setor, ligado à Abimaq.
A Petrobras, por meio da sua assessoria de imprensa, informa que inclui em seus contratos de grandes equipamentos e projetos, como refinarias, navios, sondas de perfuração e plataformas, no mínimo, 65% de conteúdo nacional.
Já estão em andamento as licitações para a refinaria de Pernambuco e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro.

A indústria brasileira tem condições de oferecer cerca de 80% das máquinas e equipamentos que serão demandadas nessas refinarias
LUIZ AUBERT NETO
presidente da Abimaq

Direito GV é tema de livro

A Direito GV acaba de lançar um livro comemorativo dos dez anos da criação da escola. A obra "Construção de um Sonho" (editora FGV, 430 págs.), do vice-diretor Antonio Angarita (coordenação), relata a história da faculdade, cujo projeto começou em 1999.
Entre as qualidades que distinguem a faculdade, o diretor Ary Oswaldo Mattos Filho destaca a exigência de tempo integral para professores e alunos.
Docentes que trabalham em escritórios de advocacia dão apenas oficinas.
A possibilidade de estudantes fazerem um semestre em faculdades no exterior e a metodologia de ensino empregada, com maior participação do aluno, são outras iniciativas bem-sucedidas, segundo Mattos Filho.
E o que é preciso para ser um bom advogado?
"Ter conhecimentos adequados à realidade brasileira; ser propositivo e aprender a linguagem, não apenas a do direito. O aluno vai trabalhar com outros profissionais [de áreas diferentes da sua]", diz.

DE CASA NOVA
A Loducca.MPM, agência que resultou da fusão entre as marcas Loducca e MPM, do Grupo ABC, começou a operar oficialmente após o Carnaval, em nova sede em São Paulo. A união das duas agências de perfis diferentes não gerou conflitos culturais, segundo o publicitário Celso Loducca. "São complementares. A MPM tem visão mais institucional, a Loducca, mais de consumo", diz. Para a integração entre as equipes, foram demitidos 30 funcionários e contratados outros dez. "Otimizamos o trabalho e juntamos departamentos. Já conseguimos fundir toda a parte de TI e a inteligência." A antiga Loducca possuía 11 clientes, a atual agência tem 21. A expectativa é que a agência feche 2010 com quase R$ 1 bilhão em compra de mídia.

COELHO DA PÁSCOA
As indústrias de chocolates inovam e apostam em produtos de Páscoa diferenciados neste ano. As novidades vão de ovos com brinquedos a ovos recheados.

SURPRESAS
A Village investiu em produtos com brinquedos dentro dos ovos de Páscoa. "O maior mercado é o do público infantil e adolescente. Está sempre crescendo", disse Reinaldo Bertagnon, diretor de vendas da Village.

MAIS CACAU
A Kopenhagen irá colocar nas prateleiras desta Páscoa chocolates com alto teor de substâncias antioxidantes. "A tendência é ovos com maior concentração de cacau", diz Renata Vichi, vice-presidente do grupo CRM.

RECHEADOS
A Cacau Show vai investir neste ano nos produtos "premium". "Vamos apostar nos ovos recheados", disse Stefenson Soalheiro, executivo da empresa.

com
JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK e VERENA FORNETTI

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

Celso Arnaldo dá um rasante na pista de lançamento de dilmas

21 de fevereiro de 2010

Para melhorar esta noite de domingo, nada melhor que um rasante do grande caçador de cretinices na festa da companheirada. Confiram:

Pra mim sê pré, agora não falta mais nada.

Dei-me ao desfrute de assistir ao vivo ─ via TV PT, que só hoje descobri que existia ─ à sessão do Congresso do PT que consagrou Dilma como pré (até que enfim…)-candidata à sucessão do Lula.

Como sempre, fico na periferia da coisa ─ que, para mim, quase sempre representa o todo. Eu diria que um discurso de Dilma, por exemplo, é a sinédoque da História ─ mas estaria sendo pernóstico e provavelmente impreciso.

E, perifericamente, me permito algumas observações.

1) Em seu discurso de apresentação da companheira Dilma, que gravei, Lula estava mais à vontade do que pinto no lixo. Estando em casa, entre os seus, caprichou no português de porta de fábrica e comeu todas as concordâncias, além de disparar uma saraivada furiosa do seu obsessivo “ou seja” ─ no começo, no meio e no final dos raciocínios.

E, com essa linguagem mais desabrida do que nunca, deixou de lado qualquer traço de verniz de linha de montagem - como o que ele mostrou, por exemplo, na entrevista ao Estadão, onde posou de estadista tão interessado na verdade e na Justiça que prometeu tirar, depois de sair do governo, o primeiro diploma de sua vida: o de detetive particular para investigar o Mensalão.

Que nada: se alguém ainda tinha dúvida sobre o que Lula realmente acha do Mensalão, basta saber como ele definiu hoje a principal das qualidades de Dilma que o levaram a ungi-la como sua sucessora:

“A companheira Dilma, no auge da crise que nós vivemos em 2005, que na verdade foi uma crise que teve como tentativa dar um golpe no governo. Ou seja, essa companheira, em nenhum momento, deixou de demonstrar o compromisso, como diria o João Paulo, o compromisso de classe dela, o compromisso do lado que ela estava, que é a lealdade extraordinária em defender as coisas que o governo fazia”.

Compromisso de classe, João Paulo TVA, lealdade, o lado que ela estava, as coisas que o governo fazia. Nunca antes neste país um presidente cunhou (perdão, João Paulo, pelo trocadilho proposital) uma definição tão realista, tão crua e tão íntima de famiglia, camorra, máfia, república entre amigos.

Tão à vontade estava Lula na sagração da primavera de Dilma que, descrevendo o modo como ela entrou em sua vida, e na nossa, sem querer ele forneceu para a História uma versão mais despudorada de como foi montado o melhor governo da República:

“Eu me dei conta que o companheiro Zé Dirceu, que está aqui presente, tinha feito, viu Temer?, um acordo com o PMDB, naquele tempo uma parte do PMDB, e o Zé Dirceu tinha negociado o Ministério de Minas e Energia. O Zé me telefonou: olha presidente, nós acertamos aqui o Minas e Energia para o PMDB. Eu falei: negativo, Zé. Pode dizer para o PMDB que não tem Ministério, porque eu tenho a ministra de Minas e Energia. Essa pessoa já está escolhida por mim. E aí anunciei a companheira Dilma Rousseff como ministra de Minas e Energia”.

Boa, presidente: então o sr. preferiu pensar mais no Brasil do que no PMDB? Hummm… não foi bem assim:

“Obviamente que o PMDB soube esperar e depois ganhou o Ministério de Minas e Energia, com o companheiro Silas e agora com o companheiro Lobão”.

Lula prossegue em seu sermão da montanha para louvação de Dilma:
“No Ministério de Minas e Energia a Dilma montou um conjunto de pessoas…”

Quem seriam esses luminares, presidente? Cientistas da USP? O professor Cesar Lattes? Não exatamente. Diz Lula:

“Era ela, a Erenice e a Graça”.

Não me estenderei sobre esse “conjunto de pessoas”. Dilma, Erenice e Graça formam um Trio Ternura de quem eu não compraria um conjunto de panelas de ferro usadas.

2) Nunca assisti a um Congresso do PT, onde se vota de tudo. Não conheço, portanto, os métodos utilizados para referendar votações ou escolhas: cédulas, aclamação, assinaturas? Neste, estava em jogo um referendum magno: a indicação de uma candidata a presidente da República.

Sabe como se procedeu à chancela de Dilma? Levantamento de crachás… O presidente do partido, José Eduardo Dutra, até fez galhofa com o assunto. “Companheiros, vamos repetir a votação porque três companheiros esqueceram seus crachás”. Dois deles eram Lula e José Alencar.

E a pantomima foi novamente encenada. Que a História registre: a candidatura de Dilma Vana Rousseff à Presidência da República nasceu numa “crachanchada”.

3) Discurso de Dilma? A dama de vermelho começou a falar, muito nervosa, inicialmente dirigindo-se às autoridades, e achei que a coisa prometia quando ela se referiu a José “de” Alencar ─ demonstrando que, depois de sete anos de convivência com o vice, Dilma ainda precisa de aprender a tirar a preposição do meio do José Alencar.

Mas, quando começou a discurseira em si, decepção completa. Conheço o DNA de um texto pela primeira frase. Aquilo veio pronto, é discurso típico de redator de discurso ─ e sei disso porque já redigi muitos. A gente ainda tenta adaptar o fraseado ao estilo e à (in)cultura do orador ─ mas sempre escapa um joguinho de palavras, uma imagem mais requintada, com o qual seu superego quer demonstrar que sabe escrever melhor do que o sujeito merece.

Vários colaboradores argutos desta coluna também detectaram, sem maior dificuldade, o dedo, a mão completa de um ghost writer no discurso de Dilma. Franklin, professor Dulci? Não importa. É alguém que sabe citar Drummond e Quintana.

Dilma tropeçaria feio se, por sua conta, tentasse dizer “No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho”.

Apesar do gestual totalmente dissidente das palavras, não era Dilma que estava ali, lendo o teleprompter, mas já a candidata de encomenda, com sua camarilha de assessores e protetores.

Assim terminou o congresso de seis milhões e meio. Tanta gastança para o lançamento da candidatura de uma Dilma Rousseff. Desperdício é isso aí.

EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO

Farsa nas Malvinas

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/02/10



A DISPUTA de quase dois séculos pela soberania sobre as ilhas Malvinas vive um novo e farsesco capítulo. O que move os ânimos argentinos, desta vez, é a perspectiva de exploração petrolífera nas águas próximas ao arquipélago do Atlântico sul. Sob posse britânica desde 1833, o território é reivindicado pelo país vizinho.
Embora testes indiquem, há mais de uma década, a existência de petróleo na região, só agora uma pequena empresa britânica decidiu instalar ali uma plataforma exploratória, 160 km ao norte das ilhas. As perfurações da Desire Petroleum determinarão se a extração do produto é viável.
A presidente Cristina Kirchner, no entanto, se mostra empenhada em dificultar o empreendimento. Seu governo determinou que navios com destino às Malvinas não poderão deixar os portos argentinos sem expressa autorização. O país também manifestou "o mais enérgico protesto" ante a perspectiva de exploração de petróleo, pelo Reino Unido, no arquipélago.
Em reação, o primeiro-ministro Gordon Brown defendeu a ação da empresa britânica e se disse preparado para defender o território e seus cidadãos. Esse tom beligerante é ainda mais descabido que o adotado pelos dois países em 1982, na escalada que culminou na Guerra das Malvinas.
A ditadura militar argentina, então em crise política, lançou mão da aventura nacionalista na tentativa de estender sua permanência no poder. A frustrada reconquista causou a morte de quase mil pessoas.
O recurso ao patriotismo em momento de crise explica também as ameaças de Cristina, às voltas com baixo crescimento econômico e inflação alta. A mandatária deve pedir a outros presidentes latino-americanos, reunidos amanhã e depois no México, apoio à sua causa. Cabe à diplomacia da região agir com equilíbrio e conter os ânimos.

ARI CUNHA

Meio ambiente

CORREIO BRAZILIENSE - 21/02/10


Muita coisa que ocorre na atualidade é consequência da falta de sintonia com o meio ambiente. Não desconfiem, visto que o que acontece é palpável. Se a natureza se rebela é porque tem razão. Não é sempre que as autoridades acreditam. Ao sentir desejo contrariado, logo encontram os “desvios”. Pior para todos. A decisão sobre meio ambiente é exclusivamente técnica. Em Brasília temos o caso das construções do Setor Noroeste. Passando por lá, vimos a rapidez com que andam os projetos. Ninguém olha para a natureza. Lá mesmo foi detectada falsificação sobre o meio ambiente. Parte da divisa está localizada em terras de defesa. Quem decide a locação muda de sentido a qualquer momento. A pressa da construção vai ofender a natureza. A vingança vem depois.


A frase que não foi pronunciada

“Na política há os espertinhos e os estrategistas espertos.”
» Roberto Jefferson, pensando enquanto lê os jornais



Dengue

» Cento e cinqüenta e sete municípios de Goiás foram atacados pela dengue. O calor faz desenvolver as larvas que se tornam mosquitos. Em Brasília, Itapoã e Paranoá têm número expressivo de focos.

Chuvas

» Há informação de que, desde 8 de dezembro, chove todos os dias em São Paulo. Pelo menos 200 moradores estão desabrigados. Gente de casa sugere um plano de infraestrutura para que o assunto seja tratado com seriedade. Fazer estatísticas ou só registrar vítimas indica que tudo continuará por muito tempo.

Baby Duvalier

» Fundos financeiros de Baby Doc Duvalier estão sob controle do governo suíço. É que a origem mostra dinheiro saqueado. Voltar ao Haiti é difícil. Ocorre que jogada financeira poderá liberar os fundos de Doc Duvalier. Para tanta esperteza sua vida não para.

Gasolina

» Houve época em que autoridades indicavam as empresas que deveriam usar álcool em lugar de gasolina. A situação estava difícil. Empresas que possuíam bombas de gasolina foram obrigadas a trocá-las por álcool. Nessa época foi criada a Via Estrutural. Deviam servir aos ônibus elétricos para não usar gasolina. Tempos depois, não entravam os ônibus elétricos. Hoje os carros formam filas e o trânsito é vagaroso.

Economia

» Raul Velloso reclama que os gastos do setor público caminham para dificultar a economia do Brasil. Sai caro manter o estado das coisas como atualmente.

Carnaval

» Esteve diferente o folguedo de Momo no Rio. As letras são inteligentes. Mantos são jogados entre os personagens. Em segundos aparecem com vestimentas elegantes. Ideia de um quase adolescente. As mágicas surpreenderam os carnavalescos.

Telefônicas

» É comum a todos os estados o que acontece nos telefones. Com a maior falta de cerimônia, ligações são interrompidas. Providências da Nextel não chegam ao conhecimento dos assinantes. Nunca as ligações foram tão ruins.

Entrevista

» Fernando Henrique Cardoso propaga que projeto do presidente Lula da Silva nasceu no governo anterior. Isto é o que se chama cutucar o cão com vara curta, como ensinava o filósofo de Mondubim.

Avião sem tripulante

» Satélite espião americano viaja com combustível altamente tóxico, capaz de prejudicar rios, mar e cidades. Esse míssil detectou que um satélite tomava a direção da Terra e estava sem controle. Viajou 9 mil quilômetros e destruiu o alvo antes que se chocasse com a Terra.

Pré-sal

» O dinheiro do pré-sal entra em campo sem bola. Não se fala em medir o custo para extrair petróleo a tal profundidade. Nem se os recursos gastos darão lucro. A Petrobras faz a propaganda, mesmo conhecendo o assunto em detalhes, mas o tema não sai de suas atividades.


História de Brasília

Já que se fala nisso, é bom que se ouça o plano do sr. André Levy, de transferência do comércio para a W4 da Asa Norte ou outra avenida qualquer. O que é fato é que mais de 60 blocos estão sendo construídos no Setor Norte, sem que o comércio até agora se tenha deslocado para aquela região. (Publicado em 25/2/1961)

CLÓVIS ROSSI

Lula, Dilma e a "xepa"

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/02/10


SÃO PAULO - Esqueça as propostas supostamente radicais apresentadas no Congresso do PT. Esqueça, aliás, o próprio Congresso. Não passa de "uma feira de produtos ideológicos", em que "as pessoas compram o que querem e vendem o que querem". Não, não é a avaliação de algum subintelectual de direita, para roubar a expressão de Dilma Rousseff/Marco Aurélio Garcia, mas da pessoa que mais entende de PT, por ter sido seu idealizador, por ser seu líder de toda a vida e por ser a única figura verdadeiramente popular de um partido que se pretende popular.
Sim, é de Luiz Inácio Lula da Silva que estou falando. As aspas do primeiro parágrafo correspondem a frases suas em entrevista publicada sexta-feira pelo "Estadão".
Alguma chance de as propostas da feira, digo, do PT, serem incorporadas por um governo Dilma? Zero, sempre segundo Lula: "Não há nenhum crime ou equívoco no fato de um partido ter um programa mais progressista do que o governo. (...) O partido, muitas vezes, defende princípios e coisas que o governo não pode defender".
O governo Dilma será mais do mesmo, deixa claríssimo o presidente que inventou a candidata: "Quero crer que a sabedoria do PT é tão grande que o partido não vai jogar fora a experiência acumulada de ter um governo aprovado por 72% na opinião pública depois de sete anos no poder. Isso é riqueza que nem o mais nervoso trotskista seria capaz de perder".
Nem trotskista nem petista de qualquer coloração. As declarações de Lula, de um meridiano sentido comum, mostram que, menos do que uma "feira", o Congresso do PT é a "xepa", o fim de feira em que o pessoal se diverte, lançando uma pilha de teses a que nem os próprios autores prestam atenção porque sabem que o espetáculo é Lula e que Dilma pouco ou nada comprará da "feira".

PIU-PIU NA TERCEIRA IDADE

CELSO MING

E quem regula o Estado?


O ESTADO DE SÃO PAULO - 21/02/2010


Não era esta a crise dos mercados permissivos demais, desregulados demais e abusados demais? E, no entanto, esta é a mesma crise das dívidas soberanas, dos Estados gastadores demais, endividados demais e abusados demais.

Sim, os Estados precisam colocar um cabresto firme nos bancos e nos mercados. Mas quem, afinal, vai colocar cabresto nos Estados que perderam noção do que podem gastar?

Depois que os governos salvaram os mercados do naufrágio, diversos analistas fizeram uma releitura equivocada da Teoria Geral de John Keynes. E disseram que, finalmente, o sistema havia reconhecido que era preciso devolver ao Estado a importância e a função que lhe cabem no sistema econômico.

Hoje se sabe que a qualidade do resgate que os Estados promoveram é questionável. Despejaram US$ 11 trilhões dos contribuintes na compra de ativos podres e na salvação dos bancos e nem sequer conseguiram diminuir o desemprego.

Os dirigentes políticos parecem mais preocupados em acabar com os "bônus indecentes" dos banqueiros do que em regular a atividade das instituições financeiras. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, por exemplo, esbanjou energia defendendo o fim dos paraísos fiscais (que nada têm a ver com a crise), mas pouco se importou com a disciplina fiscal dos países do seu bloco.

Apenas alguns meses depois do estouro das primeiras bolhas, os Estados estão tão quebrados quanto estavam os bancos, com a diferença de que não há organismos que os supervisionem e que sejam capazes de prover resgates. Tivessem os dirigentes políticos levado mais a sério o chamado Consenso de Washington ao menos na proporção em que, paradoxalmente, os do Brasil e da China estão levando, os Estados nacionais dos países de alta renda não estariam na encalacrada em que estão metidos.

Grécia e Portugal são animais miúdos da selva europeia. Mas sua capacidade de provocar contágios devastadores não é menor do que foi, entre os bancos, a capacidade de arrasto do Northern Rocks ou do Lehman Brothers. É a saúde de toda a área do euro e a do próprio euro que está em jogo com o desastre da Grécia.

Ficha por ficha, a dos Estados Unidos está pior do que a da maioria dos países europeus. Ostenta um déficit fiscal de 10,7% do PIB e uma dívida de 65,2% do PIB ante 6,7% e 57,9%, respectivamente, da área do euro.

No entanto, as nações do euro estão mais vulneráveis. Não se entendem, não conseguem manter políticas macroeconômicas convergentes, não cumprem tratados, estão atoladas em contas de seguro social e welfare state e, agora se vê, não detêm uma moeda inteiramente confiável de reserva internacional.

A China consegue o que quer, consegue defender suas políticas e, a despeito dos índices recordes de desemprego nos países de alta renda do Ocidente, incorpora 20 milhões de pessoas por ano ao mercado de trabalho e de consumo. E por quê? Porque seu sistema financeiro administra uma poupança de 51% do PIB.

Apesar da crise dos mercados de consumo, a saída está em obter o crescimento da poupança. É o que, em última análise, garante a capacidade de executar uma política econômica consistente em tempo de crise.

JOSÉ SIMÃO

Socuerro! A Madonna virou bambu!

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/02/10


E teve trio elétrico em Curitiba? Teve! Era o caminhão da Liquigás tocando "Pour Elise"!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Paris Hilton veio para o Brasil a convite da cerveja DEVASSA! E a Dilma pela cerveja Bagassa! Rarará! E agora que acabou o Carnaval, o que a gente vai fazer até a Copa?
O grande hit do Carnaval: Rebolation! Acabou o reboleixo e começou o trabalheixo. Acabou o rebolation, a fornication, a enrabation! E começou a pentelhation do chefe!
O Rio voltou a ser o Carnaval das Celebridades. A Paris Hilton veio pela cerveja Devassa. Mas disse que não sabe o que é devassa. Eu explico: devassa é aquilo que você é, mas não sabe o nome. Rarará!
E adorei a declaração da Paris: "Adorei o Rio, adorei o Brasil, mas agora tenho que voltar para trabalhar". Rarará! A Paris Hilton parece um chiclé de bola. Um chiclé de bola com cartão de crédito!
E a Madonna? Virou bambu. Já é brasileira! Tão arroz de festa que um amigo encontrou com ela na fila do pãozinho. Do Compre Bem de Itaquera. Rarará! E ela levou um tombo no camarote e o Jesus falou: levanta-te e anda. E like a virgin. A Madonna tá pedindo mais dinheiro que a Universal! A marchinha dela ficou conhecida como A Marcha para Jesus.
LUZ! E a Dilma? A Mandonna! A Dilma RouCHEFE dançou até com os garis. E o site Eramos6 mandou perguntar se a vassoura era pra varrer ou pra voar? Rarará!
E o Serra tava mais animado que um urubu gripado! Ele foi pra Bahia e ficou no camarote com o ACM Neto. Já imaginou! Quando a Ivete viu aquela cara de desânimo, gritou do trio elétrico: Toma um energético! Rarará! Já to com saudades da Ivete!
E teve trio elétrico em Curitiba? Teve! O caminhão da Liquigás tocando "Pour Elise"! E o samba que o Lula cantava pra Dilma? Ai coisinha mais bonitinha do Pac! Rarará! Agora vou cantar a marchinha Arruda na Papuda! "Com o Arruda na prisão/ comecei a acreditar/ que se essa moda pega/ o Brasil pode mudar/ é só construir mais cadeia/ proibir cueca e meia/ e o Gilmar não soltar".
Bem, para aqueles que ainda estão arriados pelo Carnaval, eu só posso sugerir uma barraca no Nordeste. A BANCA DO PAU DEITADO!
E as travecas do Gala Gay? Um monte de silicone com voz de Pato Donald. A Turma de Milaaano. Todas trabalham ou moram em Milão. O Pânico perguntou: você é canhota ou destra? A traveca: eu sou normal. Rarará! Você é canhota ou destra? A traveca: eu sou do Ceará. Rarará! Adorei! Agora, se me perguntam se sou canhoto ou destro, digo: sou do Ceará. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

JAPA GOSTOSA

GAUDÊNCIO TORQUATO

O último samba de Brasília

O ESTADO DE SÃO PAULO - 21/02/10


A prisão do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, é um marco na História brasileira. Nos nossos ciclos democráticos não há caso de detenção de uma autoridade com tão alto grau de responsabilidade. Seixas Dória, governador de Sergipe, e Miguel Arraes, governador de Pernambuco, foram apeados do poder em 1964 e presos, mas por uma ditadura. Mais recentemente, Jackson Lago, do Maranhão, Marcelo Miranda, do Tocantins, e Cássio Cunha Lima, da Paraíba, tiveram o mandato cassado, mas não foram presos. Se a detenção de Arruda não gerou impacto à altura da magnitude do evento foi porque os tambores do carnaval abafaram este último samba de Brasília. E também porque o desfile de gente importante na entrada de cadeias, seguido da soltura dos detidos após algumas semanas, passou a ser corriqueiro no cotidiano da agenda social e política. Mas a dança que o governador ensaiou - a partir de cenas explícitas de recebimento de dinheiro e corrupção de testemunha - tende a arrastar para o mesmo salão deputados distritais, secretários e assessores, num dos maiores imbróglios de nossa política, e, para complicar, em pleno ano eleitoral, quando o eleitor está mais atento ao comportamento de atores no palco.

O principal mandatário da capital federal é o governador. E o símbolo mais elevado da política nacional é Brasília, cuja estética se finca no sistema cognitivo dos brasileiros pela arquitetura de Niemeyer, que se expressa nas curvas dos palácios do Planalto e da Alvorada e nas cúpulas côncava e convexa do Congresso Nacional. Parcela desse traçado modernista, exibido como cartão-postal do País, se impregna nas vestes do governante da capital federal, também visto como anfitrião. Ora, ao ser trancafiado, o condômino-chefe de Brasília corrobora a ideia de que a velha política não é requisito de grotões e fundões, onde os costumes são regrados pela lei do toma-lá-dá-cá. E assim o governador, envolvido no episódio da violação do painel do Senado, que redundou na renúncia ao mandato de senador em 2001, contribui para expandir a descrença social na representação política. Mas o affaire, sob outra leitura, melhora a percepção de uma das mais repudiadas mazelas nacionais, a impunidade. A tolerância à corrupção e a falta de castigo para os delitos estão por trás das causas da má fama dos políticos. Se a sinalização é de que as mazelas "não são mais passíveis de ser escamoteadas", como lembra o ministro Marco Aurélio Mello, do STF, que rejeitou o pedido de libertação de Arruda, renasce a esperança de que a Justiça finalmente bate à porta de todos os brasileiros.

A verdade é que o Poder Judiciário tem dado sua contribuição para o crescente distanciamento entre sociedade e esfera política. Por aqui, desde o passado mais longínquo, se cultiva a ideia de uma Justiça leve com os ricos e pesada com os pobres, na lição do filósofo Anacaris: "As leis são como as teias de aranha, os pequenos insetos prendem-se nelas e os grandes rasgam-nas com facilidade." Não se trata apenas da incapacidade ou disposição do Estado de fazer cumprir a lei, mas da existência de normas consideradas benevolentes ou inconsequentes para com os crimes. Benevolência, aliás, sempre fez parte de nossa cultura normativa, principalmente quando voltada para assistir os habitantes mais elevados da pirâmide social. Em 1549, para dar exemplo de que a lei chegava para valer, Tomé de Souza, o governador-geral, mandou amarrar um índio na boca de um canhão, que o atirou pelos ares em pedaços. Encheu de pânico os tupinambás, mas as atrocidades eram tantas na época que o perdão acabava chegando aos criminosos - com exceção dos crimes de "heresia, sodomia, traição, moeda falsa e morte de homem cristão". O instituto do perdão, da tradição portuguesa, era usado para fins de povoamento. O velho Tomé chegou a confessar, em carta ao rei, a dificuldade de mandar enforcar pessoas de que necessitava - "e que não me custem dinheiro", escreveu. Precisava delas para os ofícios cotidianos.

Quem se der ao exercício de examinar a balança da Justiça vai perceber que a balbúrdia, o jogo de conveniências e o descumprimento do estatuto legal - que descambam para a insegurança institucional - fertilizaram o solo jurídico desde os tempos idos. Práticas coloniais, regadas com água das fontes do mandonismo, inviabilizaram ou fizeram curvas na aplicação da lei, acompanhando o ritmo do progresso. Códigos como o Criminal e o de Processo Criminal, implantados no Império, resistiram ao tempo, chegando quase incólumes à atualidade. Por mais que o império da lei seja hoje a palavra de ordem, a moldura d"outrora se faz presente no "abandono de princípios, na perda de parâmetros, na inversão de valores, no dito que passa pelo não dito, no certo pelo errado", conforme palavras do ministro Marco Aurélio. Daí a importância, neste momento, do papel do STF, porquanto dele se espera o regramento definitivo que balizará comportamentos e atitudes. Figurões de todos os naipes terão de se curvar diante do altar da Justiça. Só assim será possível quebrar a corrupção banalizada que devasta a gestão pública.

No ano do 50º aniversário de Brasília, a figura do seu governador no xadrez é emblemática. A imagem é a do último fio de um rolo que vem sendo puxado por gente de diferentes calibres partidários - incluindo os mensaleiros do PT - flagrada pela tecnologia a serviço da moralidade. Ao fundo vê-se um corpo cívico que clama por ética na classe política. José Roberto Arruda sai do governo para entrar na História como o primeiro governador preso por corrupção. Em 1860, o viajante suíço Johan Jakob von Tschudi, ao passar por aqui, indagava: "Quantas vezes aconteceu no Brasil de um homem rico e influente sentar-se no banco dos réus a fim de se justificar por seus crimes?"

Se, naquela época, fidalgos fossem condenados à forca, como escravos, índios e peões, hoje seguramente não teríamos episódio tão degradante quanto este que mancha o Palácio do Buriti.

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político e de comunicação

DANUZA LEÃO

É sempre ao contrário

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/02/10

Quem diz ter horror às revistas de fofocas é seu mais fiel leitor, e desconfie das que dizem "jamais me venderia"

AS APARÊNCIAS enganam - já ouviu falar? Muitas vezes as pessoas aparentam ser exatamente o contrário do que são na realidade, e todo mundo acredita.
A que parece mais animada, alegre e divertida talvez seja tímida, até mesmo solitária, por isso finge ser o oposto do que é. Complicado? Pois o mundo é assim mesmo: cheio de complicação.
Num grupo de homens, o mais boêmio e farrista pode surpreender. Quando se casa, esse quase, digamos, devasso, se transforma num marido conservador -"mulher minha não usa biquíni" -e num pai repressor, daqueles que permitem (médio) que a filha durma com o namorado, contanto que ele não veja. Moral da história: nem um único som pode ser emitido, e o velho discurso continua: "filha minha", etc. e tal. Pai é pai.
Os políticos, esses, já se sabe: tudo o que dizem é exatamente o oposto do que estão pensando. Basta ouvir o "não sou candidato" para se ter a certeza de que é candidatíssimo.
Quando um deles anuncia que está deixando a vida pública, a campanha já está na rua; se uma autoridade afirma que a taxa de juros não vai subir, é hora de mexer no investimento; quem jura pela mulher e pelos filhos que não violou o painel do Senado acaba confessando que violou, sim, pedindo perdão a Deus e sobretudo aos eleitores. Já disse um sábio: "Palavras foram inventadas para esconder os pensamentos".
Há quem acredite que milionário é o que tem carro importado, pede champanhe nos restaurantes e convida para um fim de semana em Angra: grande engano.
Esses querem impressionar, para fazer bons negócios. Os ricos de verdade -menos Eike Batista- são incapazes de usar uma etiqueta da moda, os ternos são velhos, o carro, sempre preto, nunca é do ano, e não frequentam nenhum lugar da moda. Para que querem ganhar ainda mais dinheiro? Boa pergunta.
Quem diz ter horror às revistas de fofocas é seu mais fiel leitor, e desconfie das que enchem a boca com um "jamais me venderia". Faça um teste, pergunte se por um milhão de dólares etc. Vai ficar espantado com a resposta de quase todas: "Bom, se for só uma vez, não vai tirar pedaço". As ex-prostitutas zelam mais pela moral da sociedade como um todo do que as mais carolas, e não existe mulher mais fiel do que uma prostituta, vai entender.
É tudo sempre ao contrário, e quem já teve acesso a informações privilegiadas sobre a vida sexual dos moralistas sabe do que estou falando. Quando, em uma festa, entrar a rainha de uma bateria qualquer, rebolando, não se preocupe: elas só querem saber do samba e das fotos. Mas se houver uma mulher de vestidinho preto, sem decote, e com cara de distraída, daquelas que até olham para o chão quando é muito olhada, cuidado; é aí que mora o perigo, porque quando ela resolve encarar, não tem pra mais ninguém.
Pense nas falsas juras de amor eterno que você já ouviu, e não se amargure. Pense também nas que você já fez, e por nada, só porque fazia calor, a cerveja estava gelada, a noite bonita, e você morrendo de vontade de ser feliz, nem que fosse só por umas horas. Mesmo tendo sido tudo mentira, seja sincera: não foi bom? E a vida não é isso?

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Cartas de Dorothy

O ESTADO DE SÇAO PAULO - 21/02/10


Na luta por uma "investigação mais esclarecedora" da morte da freira americana Dorothy Stang, religiosas que com ela trabalharam, nos EUA, decidiram divulgar cartas de sua autoria.

"Ela denunciava tudo. Cada infração. E eram muitas", lembra Rebecca Spires, que esteve ao seu lado por 30 anos.

Um parque no Vale

Começa a tomar corpo, no Vale do Paraíba, o Parque Altos da Mantiqueira. Velho sonho da região, ele depende de cronograma a ser definido entre o Instituto Chico Mendes e a Secretaria do Meio Ambiente paulista.

O que falta? Acertar o destino de moradores e da atividade produtiva ali existente.

Batalha por Sean

Sergio Tostes, advogado da família brasileira de Sean Goldman, está convencido de que a presença do menino nos EUA não é definitiva.

Em sua avaliação, os procedimentos no STF para que ele seja ouvido não estão encerrados. "Pode demorar um mês, dois, ou anos, mas ele voltará ao Brasil", afirma.

Tâmara, a poderosa

Tamara Lowe não é uma educadora comum. Sua lista de aprendizes tem gente do calibre de Margaret Thatcher, Mikhail Gorbachev e Colin Powell, entre tantos outros. Ela narra toda essa experiência no best-seller Supermotivado.

O livro chega por aqui ainda este mês, pela Ediouro.

Turíbio presidente

Turíbio Santos, o violonista, vai dedilhar outras cordas. Assume em março a presidência da Academia Brasileira de Música.

Sua posse será no dia 5, o mesmo do nascimento de Heitor Villa-Lobos, e terá homenagem a Arminda Villa Lobos, mulher do compositor e madrinha da AMB.

Responsabilidade social

Os Mil e Um Livros, iniciativa da Acesso Digital, quer arrecadar 1.001 obras, entre livros e gibis para crianças e adolescentes do Projeto Casulo, da Fundação Dixtal e do CAPS II - Cidade Ademar.

O Hotel Emiliano vai financiar o Projeto Remar do Instituto Brasil Solidário (IBS). Com Associação de Moradores e Amigos de Paraty Mirim, a iniciativa vai construir espaço cultural e para palestras médica e odontológica.

Uma urna foi instalada no Shopping Cidade Jardim, para clientes doarem notas fiscais sem o CPF à instituição Liga Solidária, que atende a crianças em situação de risco. A ideia é repassar à causa créditos da Nota Fiscal Paulista.

O projeto de educação complementar Alquimia Jovem, da Rhodia, está aceitando inscrições. O que ele faz? Desenvolve atividades com adolescentes de baixa renda nas áreas de Campinas e Paulínia.

Em iniciativa destinada a defender o meio ambiente, a Shell alterou a embalagem de seus lubrificantes. Agora eles têm 11% menos de plástico.

Alunos do curso de Design de Moda da Estácio, em parceria com o Instituto Zuzu Angel, puseram a mão na massa. Customizaram camisetas de carnaval das feijoadas cariocas do Caesar Park, Sheraton Barra e do bar São Nunca.

O dinheiro arrecadado com a venda dos ingressos do evento gastronômico Degustar 2010, dia 27, na Vila dos Ipês, será revertido para o Projeto Quixote e o Instituto Ressoar.

A Universidade Anhembi Morumbi inicia, amanhã, a campanha Solidariedade Sem Fronteiras em prol do Haiti. As doações de R$ 2, por meio do Clinton Bush Haiti Fund, serão distribuídas às vítimas do terremoto naquele país.

O ABILOLADO

ELIO GASPARI

A teologia da urucubaca vicia o tucanato

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/02/10

O perigo da inadimplência de uma patuleia desempregada é uma ilusão produzida pelo preconceito

O TUCANATO parece disposto a organizar um comitê pela eleição de Dilma Rousseff. Só isso explica que insista em profetizar catástrofes. No dia 5 passado, o deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas, presidente do Instituto Teotônio Vilela, advertiu para o risco de uma crise de inadimplência na economia, provocada pelos altos custos financeiros do crédito das famílias.
Segundo o noticiário do partido, "os especialistas alertam que o aumento do desemprego no país pode levar a uma onda de calotes". É a teologia da urucubaca, que teve em Lula seu grande devoto quando, durante a campanha de 1998, disse que "como Deus é grande, e ainda não foi privatizado, o desemprego subiu". (Um mês depois, Deus negou-lhe o emprego que pedia.)
A realidade não ajudou os tucanos. Em janeiro deste ano foram criados 181.419 empregos, um recorde na série estatística iniciada em 1992.
Uma coisa é a discussão da festa da banca, bem outra é a urucubaca de uma crise decorrente da expansão de crédito. Quando um cidadão paga uma prestação de R$ 100, na média, só R$ 70 referem-se à mercadoria que adquiriu, mas isso não significa que a patuleia irá ao calote porque não pode pagar o que comprou. Entre 2003 e hoje, o crédito das famílias praticamente dobrou. Compraram-se carros e trocaram-se fogões, equipamentos que identificam uma nova classe média.
Se há brasileiros satisfeitos porque compraram bens que estavam fora do seu alcance, essa é a boa notícia. (Imagina esquentar o jantar no fogão, como acontecia antes da chegada do forno de micro-ondas com sua prestação de R$ 33.)
Em setembro de 2007, um ano antes da crise da banca, a taxa de calotes estava em 7,3%, um índice razoável. Em junho do ano passado a porcentagem subiu para 8,6%. Hoje está em 7,8%.
A crítica de Vellozo Lucas aos custos financeiros dos empréstimos pode sinalizar o início de um novo PSDB. Finalmente, José Serra prevaleceria sobre a ekipekonômica de Fernando Henrique Cardoso. Se, e quando, isso acontecer, em vez de associar a expansão do crédito ao fim do mundo, o tucanato descobrirá que pode defender menos juros para o andar de cima e mais bem-estar para o de baixo.

QUIROMANCIA
Dificilmente o DEM (ex-PFL, ex-PDS e ex-Arena) sobreviverá à eleição de outubro.

ETIQUETA PETISTA
A nação petista inventou uma nova moda na etiqueta de Brasília. Quando um "alto companheiro" quer falar com alguém, pede a um sherpa que ligue para a vítima informando que às tantas horas ela receberá um telefonema.
Essa prática é comum entre chefes de Estado e destina-se a permitir que o interlocutor reserve tempo para uma conversa que pode ser demorada. Se a solicitação é feita por uma pessoa que não tem tamanho cacife, fica no ar uma ponta de presunção, mas tudo bem.
A inovação petista está em outro aspecto. Numa amostra de quatro episódios, três "altos companheiros" marcaram a hora e não deram telefonema algum. Nem para pedir desculpas. Caso típico de articulação do caos por meio da simulação de produtividade.

CRISTINA GALTIERI?
O casal Kirchner sinalizou para o mundo que a situação do governo argentino vai de mal a pior e reabriu a encrenca diplomática da possessão inglesa das ilhas Malvinas.
Cristina Kirchner quer limitar a exploração de petróleo nas águas do arquipélago e o primeiro-ministro Gordon Brown já avisou que recorrerá à força militar para garantir seus direitos. Em 1982, o general Leopoldo Galtieri não sabia o que fazer com sua ditadura esfrangalhada e mandou invadir as ilhas. Pensava em trocar de agenda, unindo a Argentina.
Uniu a Inglaterra em torno da primeira-ministra Margaret Thatcher, humilhou suas forças armadas, capitulou, foi deposto e acabou na cadeia.

MADAME NATASHA
Madame Natasha tem horror a diplomas e acredita que ao longo deste ano terá muito trabalho com a ministra Dilma Rousseff. A senhora decidiu conceder mais uma de suas bolsas de estudo à candidata do PT à Presidência da República, pela seguinte pérola: "O Estado terá, inexoravelmente, de reforçar seu segmento executor".
Natasha crê que ela quis dizer o seguinte: "A influência do Estado aumentará".

FALA, ARRUDA
Segundo Durval Barbosa, o James Cameron da política de Brasília, quando José Roberto Arruda soube da existência de sua cinemateca disse-lhe o seguinte: "Se um dia você resolver apresentar essas imagens da minha pessoa, você me avise com cinco dias de antecedência que é para eu sumir ou dar um tiro na minha cabeça ou te matar". Há uma quarta possibilidade. Obrigado a lutar pela liberdade, José Roberto Arruda pode fazer um acordo com o Ministério Público. Conta tudo e fica com direito a um novo capítulo na sua biografia.

RECORDAR É VIVER
Durante a campanha eleitoral de 2002 a casa bancária Goldman Sachs aterrorizou a nação petista ao divulgar uma equação chamada Lulômetro. O sujeito alinhava suas incertezas diante de uma vitória de Nosso Guia e ao final recebia uma estimativa do valor do dólar caso ele vencesse. Na época a moeda americana rondava os R$ 4.
Nada melhor que um dia depois do outro. Agora sabe-se que à mesma época a Goldman Sachs estava maquiando o endividamento do sistema de saúde do povo grego. Faturaram US$ 300 milhões com o golpe.
Alguem deveria criar o Goldômetro.

LENÇÓIS E MISTÉRIOS DE JOHN KENNEDY

Com o aparecimento de um lote de 11 cartas de um namoro chique de John Kennedy com uma sueca, restam poucos segredos de seus lençóis. O maior deles continua guardado por Ben Bradlee, ex-editor do "Washington Post", comandante da operação que desvendou os mistérios do caso Watergate e terminou com a renúncia do presidente Richard Nixon. Aos 88 anos, ele vive em Washington.
Mary Pinchot, irmã da segunda mulher de Bradlee, namorou Kennedy entrando pela porta da frente da Casa Branca (15 registros, o último em agosto de 1963, três meses antes dos tiros de Dallas). Mulher linda e independente, deu maconha ao presidente e teria dito que lhe levaria uma pastilha de LSD.
Ela fora casada com um capa-preta da CIA e mantinha um diário. Em outubro de 1964, Mary saiu para correr num parque e foi encontrada morta com um tiro na cabeça e outro no coração. Na manhã seguinte, James Angleton, o chefe da contraespionagem da "Companhia", foi flagrado duas vezes por Bradlee e sua mulher na casa de Mary. Usava luvas e procurava o diário. O livrinho foi entregue a Angleton, com a recomendação de que o destruísse. Ele o devolveu mais de dez anos depois. O casal leu-o e queimou-o.
Cord, o ex-marido de Mary Meyer, morreu em 2001. Seis semanas antes, com a saúde debilitada por décadas de alcoolismo e depressões, respondeu a um jornalista que lhe perguntou quem matou sua ex-mulher: "Os mesmos f. da p. que mataram Kennedy".

SUELY CALDAS

Lula, Dilma e suas diferenças...


O ESTADO DE SÃO PAULO - 21/02/10


Um projeto de governo mais à esquerda, estatizante e intervencionista, com Dilma Rousseff na Presidência, transpõe fronteiras e começa a ser conhecido mundo afora. Na quarta-feira o jornal espanhol El País publicou reportagem em que afirma que o projeto de Dilma "consagra uma maior e mais decisiva presença do Estado na economia". E observa: "Para Rousseff, o grande desafio, se ganhar as eleições, será superar o peso de 25 anos de estancamento da economia e das políticas econômicas." Nesses 25 anos, analisa o jornal, "ela coloca também os 8 anos do governo Lula, embora seja rápida para notar que com Lula aprendemos o caminho".

Ainda desconhecidas no exterior, as diferenças entre Lula e Dilma - de estilo e de conteúdo mais do que se imagina - acendem um sinal amarelo de desconfiança entre chefes de Estado de países aliados. Afinal, o projeto do socialismo bolivariano de Hugo Chávez seria bem-visto pela candidata? O perfil autoritário e inflexível de Dilma, menos fanfarrão que o de Chávez, mas não menos duro, ajudaria a empurrá-la para o grupo Venezuela-Equador-Bolívia? Ela seria capaz de romper contratos, expropriar empresas privadas, calar emissoras de rádio e de TV?

Hoje a resposta certamente é não. No Brasil não há mais espaço para tanto recuo nem Dilma tem carisma político de liderança populista capaz de manipular a população desinformada como fazem Chávez e companheiros. Mas ela tem, sim, um projeto de governo diferente do de Lula e tudo fará para realizá-lo.

Ainda com Lula ela conseguiu levar adiante parte desse projeto: o BNDES financiar a incorporação de empresas para criar grandes conglomerados nacionais. O ex-presidente Geisel também fez isso, mas amparado pela ausência de leis e regras que lhe dava a ditadura. Dilma quer fazê-lo na democracia, onde direitos são iguais e a população deve ser o foco principal das ações de governo. Felizes ficam os empresários contemplados; infelizes, os outros não escolhidos e a população que paga preços mais caros com a falta de concorrência.

Em entrevista ao Estadão na sexta-feira, o presidente Lula reafirma a convicção de que o Estado deve ser regulador e indutor de investimentos. O projeto de Dilma Rousseff vai além. Para ela, o Estado precisa controlar a economia e, se as empresas privadas não se submetem, cria-se uma estatal. Foi assim com o setor elétrico quando Dilma era ministra de Minas e Energia.

Na época, os investimentos em energia elétrica ficaram paralisados por mais de um ano, porque não havia entendimento entre os empresários - para ela não passavam de aproveitadores interessados em extrair vantagens do governo - e as regras para regular investimentos que brotavam da cabeça da ministra. Inexperiente e desconhecedora do tema, ela se recusava a ouvi-los. E o que fez? Criou uma estatal, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que usurpou poderes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para preparar leilões com regras que combinassem com o ideário da ministra. "Será uma empresa pequena, com meia dúzia de cabeças pensantes, um boy e uma secretária", disse-me ela na época. Hoje a EPE tem quase duas centenas de funcionários e sua necessidade nunca foi comprovada.

Lula agora quer ressuscitar a Telebrás para levar banda larga a lugares distantes onde empresas privadas não vão. Nada que um programa de governo não resolvesse. Para que mais uma estatal? Para encher de apadrinhados, desviar dinheiro público e ser instrumentos de interesses eleitorais dos políticos? A Telebrás revivida tem a impressão digital de Lula. Mas pode fazer escola com Dilma Rousseff.

As diferenças entre Lula e Dilma vão-se acentuar se ela chegar à Presidência. A imperativa certeza ideológica da ministra não faz parte do perfil político de Lula. Pragmático, ele não vacila em mudar, se sua intuição achar conveniente. Foi assim com a Carta ao Povo Brasileiro, em que ele renegou quase 20 anos de pregações políticas no PT. Lula não é movido por ideologia, mas pelo desejo de ser sempre um aclamado e amado vencedor.

Sua candidata é diferente. As convicções estatizantes, intervencionistas e nacionalistas ela traz da época de militância na VAR-Palmares nos anos 70, quando o ideal do socialismo era uma esperança para os jovens e, ainda erguido, o Muro de Berlim escondia a amarga verdade daquele mundo socialista.

Dilma Rousseff ainda é desconhecida fora do País. A gafe que cometeu em Copenhague não chegou a fazer estragos. Mas agora vai mudar. Ela vai ficar no olho do furacão.

*Suely Caldas, jornalista, é professora de Comunicação da PUC-Rio

PAINEL DA FOLHA

Para entender

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/02/10

Embora a fala de Lula sobre os perigos dos palanques duplos tenha incluído bronca leve no PT de Minas, dividido entre dois pré-candidatos enquanto um peemedebista lidera as pesquisas, o PMDB interpretou as palavras do presidente como um recado aos seus postulantes e sobretudo ao ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), que pretende enfrentar na Bahia Jaques Wagner, um governador não apenas petista como próximo do presidente.
Escaldado, o PMDB enxergou mensagem subliminar também na ameaça de Lula de não ir aonde houver encrenca. Aí, o destinatário seria o queixoso Sérgio Cabral. Mas o governador do Rio não quer exclusividade? Sim, mas neste caso é o Planalto que investe no segundo palanque, de Anthony Garotinho (PR).




Quem manda. A escolha de João Vaccari para comandar a tesouraria do PT foi selada apenas quando Lula bateu o pé. Tanto o antecessor, Paulo Ferreira, quanto Ricardo Berzoini jogaram contra.

Pauleira. Berzoini, aliás, deixa a presidência com o filme bastante queimado. Até o montepio da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara ameaçam lhe negar. De presente, por ora, o fã de rock recebeu apenas um iPod de Gleber Naime, outro que se despediu da direção do PT.

Showtime. De um cardeal petista, sobre o clima do congresso encerrado ontem: "Estava mais para convenção do Partido Democrata nos EUA do que para coisa do PT".

Primo rico. O PT distribuiu os delegados do congresso pelos hotéis de Brasília mais ou menos de acordo com as divisões internas da sigla. Segundo queixa do pessoal da esquerda, só rolou cinco estrelas para os integrantes da Construindo um Novo Brasil, corrente majoritária.

Selado. No consórcio PSDB-DEM, mesmo os descontentes já aceitam o fato de que, exceto se José Serra desistir da Presidência, o candidato ao governo será Geraldo Alckmin. O próprio Aloysio Nunes (Casa Civil), nome dileto de Serra, já se conformou. A exceção é o vice Alberto Goldman, que não pode ouvir falar em Alckmin. Não que isso vá mudar as coisas.

Saideira 1. Dando por perdida a batalha, no STF, pela manutenção da contribuição sindical obrigatória, as centrais passaram a pressionar os ministros da corte para que o desfecho da votação ocorra apenas em abril. Assim, elas assegurariam ao menos o gordo repasse deste ano, que o governo fará em março.

Saideira 2. No ano passado, as seis centrais receberam R$ 64 milhões de imposto sindical. A CUT faturou R$ 21 milhões, e a Força Sindical, R$ 18 milhões. A despeito do lobby, o caso entrou na pauta desta semana no Supremo.

Agora vai? Integrantes da Executiva do DEM esperam que o presidente Rodrigo Maia seja assertivo ao deliberar na quarta-feira pela desfiliação de Paulo Octávio, governador interino do Distrito Federal. Tudo para amenizar o desgaste causado pelo excesso de "paciência" que teve com José Roberto Arruda.

Cadeira. "PO" tem assento na Executiva do DEM. É vice-presidente para assuntos de trabalho e habitação. No Conselho de Ética está Cássio Taniguchi, secretário de Desenvolvimento Urbano de Arruda até estourar o escândalo.

Cifras. Em 2006, quando se tornou vice na chapa de Arruda, Paulo Octávio declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 380 milhões.

Parede. Um agravante do quadro político do governador interino é a composição da comissão especial da Câmara Legislativa, que analisará amanhã os pedidos de impeachment. A estimativa é que pelo menos três dos cinco membros votem contra ele.

com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

José Dirceu reapareceu se sentindo em casa e dizendo que o mensalão foi "apenas" caixa dois eleitoral. Isso é, no mínimo, confissão de culpa.

Do deputado JOSÉ CARLOS ALELUIA (DEM-BA), sobre declarações do ex-ministro e deputado cassado durante o congresso do PT.

Contraponto

Nenhuma das anteriores O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, respondia na sexta-feira uma lista de perguntas distribuída aos delegados do congresso do PT quando se deparou com a seguinte questão de múltipla escolha: "A ação armada, em sua opinião, é...".
Ao ver o deputado marcar com um "x" a última opção disponível ("não tenho opinião formada sobre o tema"), uma repórter resolveu provocá-lo:
-O sr. não vai defender o passado de sua candidata?
Vaccarezza riu e, na dúvida, resolveu marcar mais uma opção: "admissível como meio de defesa da democracia e dos direitos fundamentais do cidadão".